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FAROL OPERÁRIO

A liderança revolucionária se consolidou em Cunhal


Ao contrário do que a cultura capitalista busca mostrar, a liderança não é um atributo
subjetivo. Os líderes não são apenas personalidades carismáticas, eles são figuras que
concentram poder e podem, inclusive ser pessoas apagadas como foi Salazar.

Nas empresas, a submissão é material e há uma máquina de opressão fantasiada por


ideologia barata, repleta de gurus empresariais que ensinam “liderar”. No campo dos
trabalhadores, a liderança é produto da união natural dos explorados em um
determinado momento da luta de classes. Desta forma, enquanto a liderança burguesa é
a força, a liderança operária é a razão, que lutando contra a força se solidifica nos
quadros mais preparados.

Em Portugal, o trabalho coletivo e disciplinado do Partido Comunista Português (PCP) fez


se consolidar em Cunhal a liderança política dos explorados após a Revolução dos Cravos
em um breve momento.

O nível de politização e polarização de Portugal, antes um verdadeiro cemitério político,


tornou a burguesia e reação portuguesa conscientes do valor dos trabalhadores do país.
Eles sabiam que a classe operária estava disposta a fazer uma luta real pela libertação do
país, então perceberam que durante a Revolução de Abril seria necessário colocar o PCP
na marginalidade política e fizeram isso com uma ferrenha campanha contra Cunhal e
seu partido. Os ataques são tão grandes, que uma defesa do legado de Cunhal é
colocado pelos burgueses como um ato de idealismo utópico. Este texto não vai
mencionar os atributos de Cunhal, pois será uma perspectiva materialista sobre a
centralidade e a liderança.

As lideranças revolucionárias não se constroem artificialmente, elas surgem de uma


atividade disciplinada e rotineira. Isso ocorre por meio da atividade política dos
explorados, que em um momento se torna consciente através de suas próprias
organizações. Assim, os membros discutem em pé de igualdade o que devem fazer e
designam o mais qualificado para conduzi-los (centralismo democrático). Com esta
forma de atuação impede-se o oportunismo, mas deixa os líderes totalmente expostos
as críticas, que muitas vezes se aproveitam do anarquismo vigente nas fileiras operárias
para descentralizar os esforços que se aglutinam. Algo tão natural em nossa sociedade,
que a atual defesa do legado de Cunhal é colocada apenas como bajulação, uma
artimanha burguesa para separar os trabalhadores.

Assim como aqui, no Brasil a luta de classes se aprofundou e criou uma liderança
operária, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula é um operário metalúrgico do setor industrial
mais avançado da América Latina, que lutou contra a Ditadura Militar nas ruas,
organizando um movimento popular pré-revolucionário nos anos 1980 que retirou o
poder das mãos dos militares e criou o Partido dos Trabalhadores (PT). Em nosso
percurso histórico, não foi possível ter um leninista a frente dos trabalhadores. Apesar
disto, os trabalhadores brasileiros estão buscando se organizar e vão se rebelar.
Cabe aos revolucionários lutar contra esta pressão burguesa, superando as limitações
políticas com a classe operária em movimento e denunciando com clareza que o ataque
a Lula é o prelúdio de uma ditadura, assim como não há democracia sem o PCP. Os
fascistas buscam apagar nossos líderes para iniciar sua campanha de violência
generalizada.

Esta pequena cartilha é uma pequena parte de uma obra que está sendo realizada pelo
Farol Operário dentro das suas reuniões de célula, o principal objetivo deste esboço é
participar da Festa do Avante 2022 e conseguir distribuir 50 mil cartilhas no Brasil na
próxima edição que terá mais páginas. Além disto, melhorar o material gráfico desta
edição, colocando algumas infografias.

A luta de Cunhal é parte de um esforço consciente para levar o leninismo ao maior


número de trabalhadores, assim é uma forma de reforçar a necessária luta intelectual
brasileira a campanha de divulgação de Álvaro Cunhal. Isso reforça também os laços
entre a mais dedicada luta dos trabalhadores de Portugal e do Brasil, colocando aos
brasileiros uma experiência política muito superior.

O Brasil é alvo da demagogia e os partidos não são claros, mesmo aqueles de esquerda.
Isso ocorre por não haver uma defesa do programa, um fator muito desfavorável para a
elevação da consciência dos trabalhadores. Em Portugal, graças a Cunhal há uma divisão
clara: luta do povo organizado (PCP) e demagogia.

Quem somos

Um jornal marxista-leninista criado em 2019 com o intuito de


lutar contra o Golpe e organizar os trabalhadores para o
socialismo .
O que entendemos da revolução e da liberdade em Portugal
Portugal passou pelo século XX marcado por duas ditaduras, uma feita em um
golpe militar em 1926 e outra chamada de Estado Novo, instaurada em 1933 e
derrubada em 1974 por um golpe militar.

Antes de 1974, Portugal era uma potência colonial decadente, que estava
atolada em guerras de libertação nos seus territórios ultramarinos após a
segunda metade do século XX. As condições de vida do povo português eram
péssimas, apesar das grandes riquezas coloniais, isso se devia ao fato do país
não ter se industrializado adequadamente. Assim, uma grande leva de jovens
saía do país rumo à Inglaterra, França, Brasil e demais países para fugir à guerra
e também para obter melhores condições de vida.

Todo o cenário salazarista transformava o país em um grande cemitério


político, onde a ignorância, o analfabetismo, a repressão bárbara e a PIDE
reinavam. Um Estado realmente fascista, disposto inclusive a atirar em seus
cidadãos para proteger sua estrutura, como se soube alguns anos depois por
meio de ordens não cumpridas por uma Fragata para atirar no povo e militares
que estavam no Terreiro do Paço (importante local onde ficavam alguns
ministérios).

Não havia liberdade política, todas as organizações dos trabalhadores eram


reprimidas, o que colocava a atuação política dentro do regime em estado de
clandestinidade. Os partidos de esquerda como o Partido Comunista Português
(PCP) fizeram uma grande luta, levando a organização portuguesa a ser
conhecida por heroicos personagens como Álvaro Cunhal. Também na
clandestinidade um grupo de militares se formou, o Movimento das Forças
Armadas (MFA) para acabar com o Estado Novo. Tal movimento contava com
revoltosos extremamente experimentados nas artes militares e sem aspirações
políticas, sendo um dos raros casos em que gente astuta, valente e armada
deixa para trás todas as glórias do governo para agir tão somente como
libertadores.

Os militares haviam tido muito contato com a realidade da guerra, com a


crueldade da opressão e com a falência colonial. Morriam aos milhares nos
locais mais inóspitos, sendo utilizados como meros peões no tabuleiro político
internacional. Assim, a consciência de que tudo aquilo no Ultra-Mar não iria
avançar, mas que os poderosos não se importavam em mandar o populacho
português morrer aos milhares por uma causa vã deixou uma grande marca
dentro das Forças Armadas. Os militares portugueses sabiam que não iriam sair
da África com ganhos militares, precisavam de uma saída política.

Em 1974, o regime já não tinha condições para se sustentar e um golpe


realizado em 25 de Abril, liderado pelo Capitão Salgueiro Maia dá o golpe final
no moribundo Estado Novo.

Uma iconografia do movimento do povo

A revolta popular, a fraternidade e o


movimento das massas são
retratados nas obras de Cunhal. São
obras muito engajadas e com uma
estética muito parecida aos
modernistas brasileiros, artistas
com uma concepção revolucionária
da arte e da construção de uma
nação.
“Um dia os réus serão vocês”
A frase de Cunhal em seu julgamento é muito empolgante pela coragem que
apresenta, mas ela precisa ser vista pelo ângulo da luta de classes. Não é só
coragem, é uma prova de confiança em seu próprio povo.

Cunhal entendia muito bem o que era o Estado Novo e conhecia


profundamente seu povo, sabia que não havia um problema com os
portugueses. Ao contrário, os portugueses eram vítimas de um regime
opressivo que não se sustentaria para sempre, um dia todos seriam julgados
por estarem a serviço do Salazarismo. Uma visão atípica, já que os
julgamentos da época colocavam os portugueses como submissos e incultos,
ou seja, incapazes de sair da própria miséria política.

O que era difícil de se enxergar, o fim do Salazarismo, foi percebido como


apenas uma etapa do processo histórico português. Os trabalhadores sempre
se revoltam, em Portugal não seria diferente. Assim, mais que aguardar o
tempo até a revolução, seria necessário ter disciplina para não cair no
desânimo e seguir a luta para organizar a natural revolta do povo. Cunhal não
desconfiava do seu povo, não duvidava que Abril chegaria com todo o
esplendor que teve.... E quando isso ocorresse, todos os fascistas seriam
desmascarados como os criminosos que são. E foi assim que ocorreu, não
por acaso, mas pelo esforço.

Sem retroceder, manter-se firme


A imprensa burguesa faz questão de chamar a defesa classista que Cunhal
sempre fez de ortodoxia. Não coloca que há um interesse legítimo e real em
manter firme as bases do marxismo-leninismo, apenas apresenta Cunhal
como um homem teimoso e muito agarrado a ideais.

Os burgueses escondem em todos os ataques a firmeza de Cunhal, uma


forma de atacar sua incorruptibilidade. A heroica defesa dos interesses
operário seria apenas uma forma de pureza moral se não estivesse unida a
uma luta permanente e firme pelo Partido. O Partido o fez importante e sua
luta se confunde a do partido, sendo a imagem pública do Partido Comunista
Português (PCP).

A necessidade de ser flexível, estar aberto a coisas novas, no sentido da


crítica feita a Cunhal é apenas um lamento pelo fato do homem não ter se
corrompido, ter permanecido de pé, mesmo com todas as pancadas sofridas.
Um partido sempre será mais forte que a opressão
O golpe no Brasil retirou o pouco de poder que havia entre os trabalhadores
para implantar um Estado policialesco, que travestido com a bandeira
brasileira pisa em cima dos direitos democráticos em favor de uns poucos
privilegiados. Os partidos de esquerda ainda não estão proibidos, no entanto
são ferozmente perseguidos.

Como podemos ver, o Brasil atual é um rascunho do Estado Novo, onde a


demagogia nacionalista serve como ilusão para toda perversidade contra o
povo indiscriminadamente. O nosso processo político não está totalmente
acabado e um golpe militar se aproxima, sendo os militares do governo
Bolsonaro especialistas em contrarrevolução, todos treinados na missão do
Haiti.

O cenário é de pânico e desalento generalizados como havia em Portugal


durante o Salazarismo, piora muito se a pessoa desconhece a história do
movimento comunista e é tomado pela pressão do sistema, que faz com que
tudo pareça um pesadelo sem fim. Contra este sentimento devemos levar a
luta de Cunhal e do Partido Comunista Português, que nunca desconfiaram
do povo e sabiam que o silêncio era um produto da opressão, sabiam que o
povo se levantaria como ocorreu no histórico 1° de Maio de 1974.

O Brasil passará por um processo político intenso, com o aprofundamento


das perseguições. Vamos precisar manter a tranquilidade, disciplina e
leninismo para enfrentar o fechamento do regime pseudodemocrático que
vigora desde o golpe de 2016, faremos isso por meio do esforço coletivo e da
construção da maior arma dos trabalhadores, o partido operário. Tal clareza
política nos veio da liderança de Cunhal, o arquiteto da libertação dos povos
de língua portuguesa.

Não há outro caminho ao desenvolvimento político do Brasil que não passe


pelo endurecimento do regime golpista, o que significa que tempos sombrios
estão se aproximando.

Sem ceder um passo e construindo um partido


sob a orientação marxista-leninista que
passaremos pelo terror burguês: já foi feito e
será feito novamente.
Não se levar por críticas pessoais, pois na luta de
classes só existe direita e esquerda
A História é escrita pelos vencedores, que a deturpam para confundir e evitar
que os explorados possam tirar conclusões políticas importantes. Assim,
tirando o marxismo, todo o processo histórico que chega até nos parece uma
novela. Vejamos o caso de Cunhal e um dos mais espetaculares momentos de
Roma.

A luta de classes na República Romana em que plebeus reivindicavam


Reforma Agrária contra os patrícios teve seu auge na Guerra Civil com César
contra Pompeu. Ambos eram líderes partidários, mas isso não é relatado, o
que temos é uma história de amor, intrigas e batalhas. Qual conclusão
podemos tirar de um dos mais importantes momentos da história humana?
Nenhum, foi necessário que os marxistas se debruçarem sobre estes
fenômenos para que pudéssemos entende-lo.

Em Portugal, Zita Seabra fez críticas a Cunhal com as seguintes palavras: “ Ele
era terrível como pessoa, mas era um sedutor político que arrastava
multidões”. Uma afirmação estranha, aparentemente sem cunho de classe e
que serve para usar a proximidade de uma antiga militante do Partido
Comunista Português (PCP).

Na luta cotidiana, mesmo dentro dos círculos de esquerda, a novelização é a


norma para explicar os problemas e embates políticos. Não devemos pensar
que a esquerda é pura e boa, isolada de toda a corrupção e controle burguês.
Ao contrário, uma parcela da esquerda é controlada diretamente pela
burguesia, outra é atraída por sua forte influência política e máquina de
propaganda, enquanto há os revolucionários, independentes desta classe por
estarem ligados a um partido operário.

A fragmentação da esquerda é uma característica da luta pelo poder, isso


ocorre dentro da direita também. A luta pelo poder não é moral, nem um
jogo de cartas com regras claras, o que faz dela um covil de cobras. Cada ala
usa as ferramentas que tem para alcançar seus objetivos. A alas direitistas e
oportunistas vão utilizar das intrigas e calúnias para confundir e com isso
progredir dentro do sistema político, enquanto os revolucionários vão
precisar unir o povo por meio do esclarecimento já que não contam com
poder para corromper, simplesmente desnudam a situação de opressão
generalizada para criar um movimento de luta real, popular e classista.
Os movimentos, organizações e atos terão todas as tendências, ou seja, a
esquerda e a direita, mesmo sendo populares e operários. Logo, não se pode
esperar apenas camaradagem deste meio. A concepção de unidade e
irmandade, que não existe dentro de uma sociedade de classes, é utópica e
serve apenas para camuflar a direita. Assim, os revolucionários precisam
mostrar de modo materialista as disputas, saindo do campo individual e
moral. Cabe a eles sair da rasa camada das particularidades para a camada da
política, ensinando ao povo que ele deve pensar antes de tudo em que parte
do espectro tal fenômeno está, se está na direita ou na esquerda, pois o resto
é pura confusão.

Durante os anos 90, com a dissolução de grande parte dos partidos


comunistas importantes do mundo, Cunhal passa a ter sua liderança
questionada. Qual o resultado prático disto? Uma ofensiva para desarticular
por dentro o partido, que permaneceu ativo e organizado mesmo com todos
os problemas que os comunistas enfrentaram após a dissolução da União
Soviética.
Um relato de Cunhal por Jorge Amado

“Sua paixão e sua tarefa: libertar o


povo português da humilhação
salazarista, libertar Portugal dessa já
tão larga noite de desgraça, de
silêncios medrosos, de vozes
comprimidas, de alastrada e
permanente fome do povo, de
corvos clericais comendo o estômago
do país, de tristes inquisidores saídos
dos cantos mal iluminados das
sacristias e da História para oprimir o
povo e vendê-lo à velha cliente
inglesa ou ao novo senhor norte-
americano. Sua paixão e sua tarefa:
fazer de Portugal outra vez um país
independente e do povo português
um povo novamente livre e farto e
dono da sua natural alegria.”

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