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BRASÍLIA/DF
2021
1. A DOCUMENTA 14
2. A ARTISTA
Marta Minujín é nascida em Buenos Aires, no ano de 1943, e é uma das principais
artistas conceituais e de performance da América Latina3.
Conhecida por sua irreverência artística, Minujín sofreu diversas censuras após o golpe
de Estado do General Juan Carlos Onganía, que implantou, na Argentina, um novo regime de
governo, militarizado e autoritário – marca registrada da América do Sul daquela época4.
Em 1966, Minujín mudou-se da Argentina para Nova Iorque, conseguindo uma bolsa
de Guggenheim. Sua imersão na cultura psicodélica, característica dos hippies, contrastava com
o período de ditadura repressiva de seu país de origem5.
1
DOCUMENTA. 16. Juli bis 18. September 1955. Kunst des XX. Jahrhunderts. Internationale Ausstellung.
Disponível em <https://www.documenta.de/de/retrospective/documenta>. Acesso em 26/02/2021.
2
GUIA das Artes. Marta Minujín. Dispoinível em <https://www.guiadasartes.com.br/marta-minujin/obras-e-
biografia>. Acesso em 26/02/2021.
3
Idem.
4
NICOLAI, Joe. Os livros proibidos de Marta Minujín.
5
Idem.
Dez anos depois, Minujín retornou para a Argentina, e então voltou sua atenção para
as noções de monumentos públicos, idealizando a utilização de materiais efêmeros ou
comestíveis para a sua feitura.
Foi assim que, no ano de 1979, Minujín criou uma estrutura de trinta metros de altura
coberta por trinta mil pães doces, que foram entregues ao público, para consumo imediato. “El
Obelisco de Pan Dulce” foi o primeiro maior monumento comestível do mundo6.
Em 1983, com o retorno da democracia à Argentina, Minujín teve a ideia de reconstruir
o templo grego clássico do Parthenon, utilizando-se, em sua estrutura, de mais de vinte mil
livros que foram censurados na ditadura, como os de Sigmund Freud, Karl Marx, Jean-Paul
Sartre, Adam Smith, Ernesto Sábato, Antonio Gramsci, Hegel, Hemingway, Michel Foucalt e
diversos outros.
Dado o tema da Documenta 14, qual seja “Learning from Athens”, Minujín foi
convidada a reproduzir sua obra “O Parthenon de Livros” na cidade de Kassel, Alemanha.
O Parthenon foi construído em Atenas a pedido de Péricles, sob a supervisão do
escultor Phidias, entre 447 e 38 a.C. A finalidade do templo era a de abrigar uma colossal estátua
de ouro da deusa Atena, bem como o tesouro da Liga Delian e as reservas de prata da cidade.
Para além da simbologia do Parthenon guardar, em seu seio, as maiores riquezas e
anseios da cidade de Atenas, tal qual a cultura, representada pelos livros, guarda em si, o
Parthenon tornou-se um símbolo da democracia ocidental, de modo que sua réplica de livros
leva à compreensão de que, sem estes, ou seja, sem a liberdade de pensamento e de manifestação,
não há democracia, pois tais direitos humanos são os pilares de um Estado Democrático de
Direito.
A Segunda Grande Guerra foi o grande exemplo mundial de malbaratamento dos
direitos humanos, o que fez com que a comunidade internacional se unisse organizadamente,
dando origem à Organização das Nações Unidas (ONU). Esta, no ano de 1948, portanto, três
anos após o final da Segunda Guerra Mundial, delineou os direitos humanos básicos em um
documento que, esboçado pelo canadense John Peters Humphrey, foi denominado “Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
6
Ibidem.
Este documento, em seu artigo 19, apregoa que “todo ser humano tem direito à
liberdade de opinião e expressão; esse direito imclui a liberdade de, sem interferência, ter
opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras”7.
Foi neste sentido que Marta Minujín apropriou-se do arquétipo estético e político da
democracia, representado pelo Parthenon, para, através da arte, demonstrar aos seus
conterrâneos que os direitos humanos, mormente a liberdade de pensar e se expressar, haviam
se restabelecido 8 : em 19 de dezembro de 1983, apenas uma semana após a restituição da
democracia no país, o projeto público de Minujín fora inaugurado9. Para além de demonstrar a
importância fundante da cultura/literatura, representada pelos livros funcionando como tijolos,
a obra, seguindo a linha de “El Obelisco de Pan Dulce”, foi desmanchada e entregue à
população10.
A versão da obra para a Documenta 14 foi duplamente icônica, posto que erguida sob
o exato local onde, em 19 de maio, houve uma imensa queima de livros e a destruição de
inúmeras obras do museu Fridericanum. Sigmund Freud, em tom jocoso, disse a um jornalista
que tal fogueira era, em verdade, um avanço na história humana: “Na Idade Média eles teriam
me queimado. Agora se contentam em queimar meus livros (...)”11.
4. CONCLUSÃO
7
In Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-
universal-dos-direitos-humanos>. Acesso em 26/02/2021.
8
TOUCHARTE. Marta Minujin: The Partenon of Books – Documenta 14. Disponível em <
http://www.touchofclass.com.br/index.php/2017/07/04/marta-minujin-the-parthenon-of-books-documenta-
14-kassel/>. Acesso em 26/02/2021.
9
NICOLAI, op. cit.
10
TOUCHARTE, op. cit.
11
BÁEZ, Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2004. p. 181.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÁEZ, Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra
do Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 181.
DOCUMENTA. 16. Juli bis 18. September 1955. Kunst des XX. Jahrhunderts.
Internationale Ausstellung. Disponível em
<https://www.documenta.de/de/retrospective/documenta>. Acesso em 26/02/2021.
TOUCHARTE. Marta Minujin: The Partenon of Books – Documenta 14. Disponível em <
http://www.touchofclass.com.br/index.php/2017/07/04/marta-minujin-the-parthenon-of-
books-documenta-14-kassel/>. Acesso em 26/02/2021.