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v.1, n. 1, p. 01-19.

Agosto/2020

Prejuízo nas Funções Executivas Relacionadas ao Uso Abusivo de


Álcool: uma revisão integrativa
________________________________________
João Paulo Moreira Di Vellasco ¹
Rejane Soares Ferreira 2
Resumo
O consumo de álcool torna-se nocivo quando gera complicações clínicas e psicossociais ao sujeito, sendo este,
um grande preditor para dependência, gerada principalmente pela desregulação do sistema de recompensa do
cérebro. Este estudo teve como objetivo averiguar o impacto do uso abusivo de álcool nas funções executivas,
além de explicitar quais as funções executivas comprometidas e os principais instrumentos neuropsicológicos
para sua avaliação. Foi realizado uma revisão integrativa, através da base de dados da BVS-Salud, Scielo,
CAPES e Repositório da PUC/RS, onde foram selecionados 10 estudos sobre o assunto com publicação a partir
de 2004. Os estudos foram organizados em tabela em ordem de publicação, onde ainda foi descrito os testes
utilizados ou indicados por cada estudo, para averiguação das funções executivas em alcoolistas, assim como,
quais funções executivas comprometidas e relatadas em cada estudo. Averiguou-se que o álcool impacta no
desempenho das funções executivas, principalmente no que tange a memória operacional, o controle inibitório
e a flexibilidade mental. Apurou-se ainda, a necessidade de novos estudos longitudinais, levando em
consideração o tempo de uso e de abstinência no uso abusivo e crônico de álcool, para melhor compreensão
do efeito da abstinência na melhora dos escores na avaliação neuropsicológica e em usuários com faixa etária
menor de 18 anos, por não serem contempladas pelo estudo. Torna-se necessário o aprimoramento dos
instrumentos de avaliação e sua realização de forma ecológica, para maior compreensão do real efeito do álcool
nas funções executivas.

Palavras chave: Neuropsicologia; Álcool; Funções Executivas.

Abstract
Alcohol consumption becomes harmful when it generates clinical and psychosocial complications for the
subject, which is a great predictor of dependence, generated mainly by the deregulation of the brain's reward
system. This study aimed to investigate the impact of alcohol abuse on executive functions, in addition to
explaining which executive functions are compromise and the main neuropsychological instruments for their
assessment. An integrative review was carried out through the database of the VHL-Salud, Scielo, CAPES and
PUC / RS Repository, where 10 studies on the subject were published with publication from 2004. The studies
were organized in a table in order of publication, where the tests used or indicated by each study were also
described, to ascertain the executive functions in alcoholics, as well as which executive functions were
compromised and reported in each study. It was found that alcohol impacts the performance of executive
functions, especially with regard to working memory, inhibitory control and mental flexibility. There was also
a need for further longitudinal studies, taking into account the time of use and abstinence in the abusive and
chronic use of alcohol, for a better understanding of the effect of abstinence on improving scores in
neuropsychological assessment and in users with an age group under 18, as they are not covered by the study.
It is necessary to improve the assessment instruments and carry them out in an ecological way, in order to
better understand the real effect of alcohol on executive functions.

Keywords: Neuropsychology; Alcohol; Executive functions.


_________________________________________
1
Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Especialista em Neuropsicologia (PUC-GO).
Professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Alves Faria (UNIALFA). E-mail: joaovellasco50@gmail.com
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Graduada em Psicologia pela Universidade de Brasília. Mestra em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em
Neuropsicologia (PUC-GO). E-mail: rejanef07@gmail.com

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Para Bertoni (2003), há tempos o Nesse sentido, este artigo tem como
homem busca maneiras de aliviar a dor ou objetivo geral identificar o impacto do álcool
vivenciar sensações de prazer inesgotáveis e nas funções executivas.
por esta ótica o consumo abusivo de álcool é Os objetivos específicos são:1 –
visto na sociedade, desde relatos bíblicos como Identificar alterações na flexibilidade
a embriagues de Noé citada no Gênesis, que ao cognitiva, no controle inibitório, na abstração,
plantar sua vinha embriagou-se e, na solução de problemas, no julgamento, no
posteriormente, foi encontrado nu por seu senso crítico, na memória operacional e no
filho. Antes mesmo dos relatos bíblicos, o foco atencional em decorrência do uso de
homem primitivo já observava a reação de álcool; 2 – Listar os instrumentos utilizados
animais após ingerir certos tipos de frutas onde nas avaliações neuropsicológicas para avaliar
sua ingestão após fermentação promoveria o as funções executivas no Alcoolismo.
contato com o álcool e traria reações de
relaxamento.
Com o advento da industrialização e a Alcoolismo: definição
produção de álcool em grande escala, o acesso Já no ano de 1849, Magnos Hus
passa a ser mais facilitado e generalizado, introduz o termo Alcoolismo para definir as
sendo seu comércio estimulado principalmente alterações patológicas do Sistema Nervoso
por ações midiáticas associando a bebida a esfera psíquica e da condição motora e
contextos de lazer e vivencias hedonistas, o sensitiva, então relacionadas ao consumo de
que eleva os riscos à saúde, incluindo os danos álcool e mais tarde, já na década de 40, Morton
neurológicos. (Bertoni, 2003). Como apontado Jellinek classifica o Alcoolismo como doença
por Garcia (2014), as funções executivas (FE) baseado na quantidade de álcool consumido
são amplamente atingidas pelo consumo pelo sujeito (Andrade & Silveira, 2009).
eventual ou crônico de álcool e sendo estas Andrade & Silveira, 2009, revelam que
funções tão essenciais para o ser humano, os fatores de risco relacionados à dependência
torna-se importante relacionar os estudos que e entrada no diagnóstico incluem
apontam os níveis de prejuízos às FE características psicológicas, traços de
relacionados ao uso de álcool, uma vez que o personalidade e os efeitos psicodinâmicos
conhecimento acerca deste levantamento nos como alegrar-se e sentir-se mais sociável e que
orientará para real implicância do tema através podem levar ao acometimento de diversas
dos estudos neuropsicológicos na área e suas outras doenças de âmbito físico como câncer,
nuances. problemas hepáticos, cardiopatias, entre
Tendo em vista um acréscimo do outros, até problemas de ordem neurológica
consumo de álcool na população brasileira, e/ou psiquiátrica. A fronteira de risco para a
poderia seu uso abusivo comprometer a dependência alcoólica baseia-se no consumo
qualidade de vida e a funcionalidade dos de 60g álcool puro/dia para homens e 40g
sujeitos através das alterações neuro funcionais álcool puro/dia para mulheres, surgindo a
provocadas por seu consumo? dependência em média após quatro a seis anos
A Neuropsicologia se compromete a de consumo regular para adolescentes e seis a
descrever as funções cognitivas em quadro de oito anos de consumo regular para adultos.
alterações cerebrais. Deste modo, cabe à Segundo Soibelman e Von Diemen
avaliação neuropsicológica melhor se (2004), a recomendação de consumo de álcool
capacitar e compreender as substâncias que pela OMS é de 21 unidades para os homens por
possam comprometer o funcionamento do semana e 14 unidades para as mulheres, onde
cérebro. cada unidade é equivalente acerca de 10g de
álcool sendo variável o nível de concentração

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por tipo de bebida. Sendo assim, um homem do Álcool Grave. A abstinência incluída nos
teria condição de consumir, dentro das critérios diagnósticos se caracteriza por
recomendações da OMS, cerca de 4,3L de sintomas de abstinência desenvolvidos de 4 a
cerveja por semana, 360ml de destilados e 1,7L 12 horas após redução do consumo de álcool
de vinho. Já as mulheres o consumo deve ser prolongado, já a fissura indica um desejo
menor, sendo 2,8L de cerveja por semana, intenso de beber, sendo difícil manter outro
240ml de destilados e 1,1L de vinho. tipo de pensamento, o que chega a influenciar
O consumo pode ser caracterizado o desempenho em diversas atividades do dia a
como nocivo quando as complicações clínicas dia (DSM-V, 2013).
e/ou psicossociais advindas do uso de álcool Segundo dados do II Levantamento
são restritas ao período de consumo, Domiciliar Sobre o Uso de Drogas
compreendida como uso abusivo através do Psicotrópicas no Brasil de 2005, realizado pela
DSM-IV e detectada principalmente em Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) em
usuários recentes, havendo importante risco de parceria com a Universidade Federal de São
evolução para dependência (Ribeiro & Paulo (UNIFESP) através do Centro Brasileiro
Rezende, 2013) de Informações sobre Drogas Psicotrópicas
Já a dependência química é (CEBRID), o uso de Álcool mostra-se
caracterizada pela compulsão na busca da extremamente superior quando comparado ao
droga, pela dificuldade de controle em seu uso, uso de outras 16 substancias psicotrópicas
pela interligação de emoções negativas e abordadas no levantamento, sendo este
estado de privação e por recaídas, descrito por consumo mais elevado tanto quando declarado
Koob e Le Moal (1997, apud Garcia et al. que já consumido em algum momento da vida,
2014) como um crescente ciclo de do ano ou do mês.
desregulação do sistema de recompensa do Quando abordado a questão de
cérebro através da via mesolímbica. dependência em relação à substância
Principalmente pelo estriado ventral e nucleus psicotrópica o álcool também aparece em
acumbens, que através da elevada ativação primeiro lugar em 12,3% da população
dopaminérgica nesta área o indivíduo passa a investigada, seguido de 10,1% de dependência
ter necessidade de ingerir quantidades cada vez do tabaco, 1,2% da maconha e menos de 1% de
mais elevadas das drogas, gerando sintomas de dependentes dos demais psicotrópicos. Sendo
abstinência, fissura, vulnerabilidade a dependência alcoólica mais frequente no
persistente e recaídas. sexo masculino entre a faixa etária de 18 a 24
Conforme Araújo e Neto (2014) o anos (27,4%) e se comparado a prevalência
diagnóstico de Transtornos Relacionados ao geral da dependência alcoólica entre os
Álcool sofre mudança a partir da publicação do gêneros é observado uma prevalência maior,
DSM V - Manual Diagnóstico e Estatístico dos de 19,5% no sexo masculino, em comparação
Transtornos Mentais, onde esta nova versão a prevalência de 6,9% no sexo feminino.
não mais separa os diagnósticos de Abuso e Ao comparar os dados do levantamento
Dependência como era feito no DSM-IV, realizado pelo CEBRID em 2001 com o
unificando-os ao Transtorno por uso do realizado em 2005, nota-se a elevação da
Álcool. prevalência tanto no consumo de álcool na vida
A quantidade de critérios preenchidos quanto de dependência do mesmo, sendo que
pelo diagnóstico sinalizará sua gravidade, no ano de 2001 a prevalência de consumo na
sendo que a presença de dois ou três sintomas vida atingiu 68,7% dos entrevistados, passando
especifica-se gravidade leve, quatro ou cinco, este percentual para 74,6% em 2005 e em
gravidade moderada e quando acima de seis relação a dependência de álcool, em 2001,
sintomas caracterizara-se Transtorno por Uso 11,2% dos entrevistados apresentavam

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características de dependência e em 2005 este potencializar a motivação na busca da


índice passou para 12,3%. Observa-se ainda abordagem que traga maiores ganhos em prol
um importante acréscimo no consumo de da superação do vício, mesmo que o sucesso
álcool pelo sexo feminino em todas as faixas não seja obtido nas primeiras tentativas.
etárias, assim como o nível de dependência, Mesmo em indivíduos que passam por
sendo os aumentos de consumo na vida mais tratamento da dependência alcoólica o risco de
significativo encontrados na faixa etária de 12 recaída ainda é alto, como aponta estudo feito
a 17 anos, de 44,7% em 2001 para 50,8% em por Alvarez (2007), que identificou que os
2005 e na faixa etária acima de 35 anos onde o fatores envolvidos na recaída soma-se até 20
índice de 59,5% em 2001 saltou para 67,6% justificativas descritas nos questionários
em 2005 e tratando-se de dependência aplicados em usuários de álcool, sendo as mais
alcoólica é observado o maior acréscimo na frequentes a pressão social, a necessidade de
faixa etária de 12 a 17 anos, onde o índice de beber, os conflitos interpessoais e os estados e
3,5% de mulheres dependentes de álcool em emocionais negativos, muitas vezes supridos
2001 saltou para 6% em 2005. pelos efeitos psicodinâmicos ocasionados pelo
Vários são os fatores etiológicos do uso uso da bebida, aliados a outros fatores de risco.
abusivo de álcool, desde a presença de No levantamento do CEBRID (2005)
transtornos ainda na infância como TDAH, quando investigados sinais/sintomas
Transtorno de Conduta, de Personalidade equivalente a comportamento de risco após uso
antissocial, entre outros, até favorecimento por de álcool, como pilotar carro, moto, utilizar
questões genéticas, onde a literatura aponta máquinas, nadar, etc., 7,3% da população geral
frequência quatro vezes maior da incidência de menciona já ter assumido estes riscos após
problemas com álcool em filhos de alcoolistas beber, o que se estima uma população de
do que na população não consumidora, há 3.706.000, sendo a maior prevalência entre o
ainda as questões psicológicas de alívio de sexo masculino (12,2%) na faixa etária de 18 a
tensões estabelecidos por uma aprendizagem 24 anos (17,8%). Quando o sintoma
comportamental frente ao enfrentamento de investigado é a desadaptação social, 7,9% da
contextos dramáticos, além de questões população investigada relata ter tido conflitos
culturais de incentivo ou restrição ao uso de com familiares, no trabalho, com amigos ou
álcool (Fontana, 2006). com polícia em decorrência do uso de álcool,
McCrady (2016) aponta que o com prevalência maior do sexo masculino
tratamento do uso abusivo de álcool deve ser (12,2%) em ralação ao feminino (4,8%).
planejado de forma multidimensional, pois Nota-se que diversos estudos apontam
diversas são as abordagens com eficácia para uma série de alterações cognitivas após o
científica de melhora estabelecida. Este uso crônico ou eventual de álcool. No caso do
mesmo autor ainda aponta seis tipos de uso crônico as alterações mais comuns afetam
intervenções mais comumente utilizadas, as FE, particularmente o controle inibitório e
sendo elas: 1) intervenções breve e baseadas na memória de trabalho, bem como a memória
motivação; 2) tratamento cognitivo- episódica verbal, processamento visuo-
comportamental; 3) tratamento de facilitação espacial e as habilidades sociais. Já no uso
em 12 passos; 4) terapia comportamental de eventual as funções cognitivas mais afetadas
casal; 5) tratamento por exposição a gatilhos e são as FE, particularmente o controle
6) abordagem de reforço comunitária. O inibitório, além da memória episódica verbal.
terapeuta, no entanto, exercerá a Em ambos os tipos de uso nota-se interferência
responsabilidade de orientar o dependente a nas FE, as quais serão descritas a seguir
procurar o método interventivo que lhe traga (Garcia, Moreira & Assumpção, 2014).
maior conforto no enfrentamento, assim como

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Funções Executivas lobo frontal, especificamente à região pré-


frontal.
Luria (1981) em sua obra clássica, Esta não é a única região cerebral
Fundamentos da Neuropsicologia, já tratava a envolvida com os processos de FE, pois como
terceira unidade funcional do cérebro, apontam diversos estudos, há uma correlação
envolvendo o lobo frontal, como a responsável nos circuitos que ligam áreas corticais
pela programação, regulação e verificação da ipsilaterais e contralaterais através do corpo
atividade humana, exercendo ainda importante caloso, observado na figura 5, com aferencia a
influência na regulação da vigília, do regiões subcorticais, através do sistema
comportamento motor e nos processos límbico, reticular, hipotálamo e sistema
mnemônicos e intelectuais, sendo esta unidade neurotransmissores, ficando evidente uma
a responsável pelas formas mais complexas da comunicação do cortéx pré-frontal com as
atividade humana dirigida a metas. demais regiões do cérebro que envolve uma
Sendo assim, entre as diversas funções participação ampla de todo o córtex nas FE
cognitivas existem aquelas que exercem papel (Santos,2004).
primordial na regulação do comportamento Ganazzinga et al. (2006) ainda afirmam
humano, as funções executivas (FE) como que o cortéx pré-frontal localiza-se em região
atribuídas primeiramente por Lezak apud estratégica do cérebro o que o possibilita
Malloy-Diniz (2014) ao se referir a quatro coordenar tal processamento o que lhe dá
domínios cognitivos, entre eles a volição, maior atribuição às Funções Executivas.
planejamento, ação intencional e desempenho Estes mesmos autores ainda salientam
afetivo. os aspectos neuroquímicos relacionados aos
Nesse intuito a FE permite ao sujeito déficits em Funções Executivas, observado
direcionar o comportamento a metas, verificar principalmente em pacientes com
suas estratégias e possibilitar a reorganização Esquizofrenia e TDAH, onde a deficiência
das mesmas, direcionar o foco da atenção, dopaminérgica ocasiona perdas substanciais
resolver problemas e regular o processamento em memória operacional, atenção, controle
de informação no cérebro, impactando os inibitório, planejamento, flexibilidade
aspectos afetivo-emocionais, motivacionais, cognitiva e tomada de decisão, já a deficiência
comportamentais e sociais do indivíduo nas vias serotonérgicas propicia perdas no
(Uehara, Charchat-Fichman & Laderira, 2013) controle inibitório e tomada de decisão afetiva.
Malloy-Diniz (2014) ressalta que Em relação às alterações
diversos são os modelos teóricos que abordam neurofuncionais interligadas a lesões no lobo
as FE, uma vez que elas são apontadas desde frontal, Gil (2002) aponta que quando áreas
um construto único, até um processo como dorsolateral e orbitofrontal são atingidas
independente de suas funções, ou por um nota-se alterações de personalidade, entre elas
processo composto por etapas sucessivas e apatia, abulia, inércia, distraibilidade, euforia,
interdependentes, ou ainda como funções desinibição e impulsividade.
separadas conforme os circuitos cerebrais a Em lesão pré-frontal ficam evidentes
elas relacionadas. alterações na organização dinâmica de atos
Malloy-Diniz (2014) e Santos (2004) motores, onde a perseveração torna-se a
anunciam seu processo de amadurecimento a principal característica. Nota-se ainda o
partir dos seis e sete anos de idade até o fim da distúrbio das atividades perceptivas visuais,
adolescência, onde alcança sua estabilidade, na onde o déficit de programação visual não
velhice, passa a sofrer perdas de desempenho permite ao indivíduo analisar as diversas
natural. Outra característica essencial é sobre frações de uma figura em um todo, gerando
sua correlação neuro-anatômica relacionada ao

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uma repetição estereotipada de detalhes. (Gil, O etanol age no sistema nervoso


2002) através da interação com determinadas
A atenção concentrada, dividida e proteínas existentes na membrana neuronal,
seletiva também pode sofrer alterações especificamente a proteína G e proteína
importante de desempenho, quando quinase que provocam mudanças nas
principalmente a região dorsolateral do lobo atividades de outras proteínas contidas na
frontal é lesionada. Síndromes amnésicas membrana. A interação com os receptores
também são notadas em pacientes com lesão GABA, inibidor no SNC e NMDA de
frontal, especificamente a memória de trabalho glutamato, na qual tem ação excitatória no
e a metamemória (Gil, 2002). Sistema Nervoso Central (SNC) provoca um
Seruca (2013) ressalta as alterações das efeito depressor do mesmo, caracterizando os
FE relacionadas ao comportamento criminal efeitos de intoxicação etílica, perdas de
como consequência de disfunção pré-frontal, memória, tolerância e hiperexitabilidade
observando que a inflexibilidade cognitiva (Ayesta, 2002).
favorece níveis elevados de expressão da ira e Outro efeito ao SNC que se deve
agressividade, como também traços de considerar em decorrência do uso de álcool são
personalidade impulsivo. os traumatismos cranioencefálico (TCE),
Almeida et al. (2009) também provocados por acidentes automobilísticos
relacionam o uso de álcool com envolvendo condutores embriagados. Além
comportamento violento através de alterações desta consequência ainda se inúmera uma série
neuroquímicas e de funções cognitivas, tanto de outras adversidades ligada ao consumo
em bebedores regulares quanto eventuais e abusivo de álcool como: síndrome de
aponta uma diferença entre os sexos, sendo que abstinência, crises convulsivas, delirium
nos homens a violência é manifestada tremens, degeneração hepatocerebral
primordialmente através de agressões adquirida, Encefalopatia de Wernicke,
domesticas e no sexo feminino é frequente a degeneração cerebelar alcoólica,
presença da autoagressão, manifestada mielinólisepontina central, miopatia alcoólica
principalmente por tentativas de suicídio. e demência alcoólica (Haes, 2010).
Rigoni et al. (2012) em sua revisão Cabe ainda ressaltar a ligação entre o
literária sobre o alcoolismo e avaliação das FE, consumo de álcool e a predisposição para o
destaca que dentre as diversas alterações Acidente Vascular Encefálico, como apontado
cognitivas ocasionadas pelo uso de álcool, um por Pires (2004) em seu levantamento em
aspecto importante a ser considerado é a perda população idosa onde 35% dos casos de AVE
da capacidade de resolução de problemas e evidenciaram histórico de etilismo, sendo este
tomada de decisão, que pode influenciar na um fator de risco.
própria decisão do usuário em manter o Em experimentos com animais
consumo ou tornar-se abstinente, uma vez que realizados por Oliveira (2013) onde os mesmos
a reflexão das consequências de seus próprios foram expostos ao etanol a partir da
atos fica comprometidas. adolescência, visando constatar as alterações
Além das alterações neurofisiológicas provocadas pelo álcool no SNC, foi observado
aqui apresentadas existem os acometimentos redução volumétrica e perdas neuronal e glial
neurológicos e cognitivos provocados pelo uso na formação hipocampal após exposição
de álcool no qual será tratado no próximo crônica ao álcool.
tópico. Uma das consequências mais graves do
alcoolismo é o desenvolvimento da Síndrome
Alterações cognitivas no consumo abusivo de Wernicke-Korsakoff que tem como tríade
do álcool. clínica os sintomas de oftalmoplegia, ataxia e

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distúrbios mentais e de consciência, onde há levantamento levavam em conta


um déficit de absorção de tiamina pelo primordialmente aspectos psiquiátricos,
organismo, agravado com o surgimento de sociodemográficos e etiológicos, não
infecções pulmonares, septicemia, doença condizendo com o objetivo deste estudo.
hepática e estado irreversível de deficiência de Os portais de pesquisa de publicações
tiamina o que leva a uma mortalidade de 10 a científicas utilizados foram: BVS-SALUD,
20% dos casos e a um prognóstico pobre onde CAPES, Scielo e Repositório PUC/RS. E os
cerca de 80% dos pacientes desenvolvem descritores usados para pesquisa foram:
desordem crônica de memória (Zubaran, Neuropsicologia, Alcoolismo, cognição,
1996). demência e funções executivas.
No entanto, o tratamento relacionado às A revisão contou com duas
deficiências cognitivas em decorrência ao uso dissertações de mestrado, uma tese de
de álcool é indicado 300mg/dia de tiamina até doutorado contendo dois estudos, quatro
12 meses, sem, contudo, garantir a reversão artigos empíricos, um artigo de estudo
completa do quadro (Fonseca & Lemos, 2011). observacional e um de estudo descritivo,
publicados a partir de 2004, sendo uma
Método publicação em inglês, mesmo produzida no
Brasil e outras nove em língua portuguesa.
Foi realizada neste trabalho uma
revisão bibliográfica de natureza quantitativa e
Resultados
qualitativa no intuito de reunir publicações que
evidenciassem estudos relacionados aos Os artigos pesquisados nesta
déficits de FE ocasionados pelo uso de álcool, monografia foram agrupados na Tabela 1,
com levantamento de estudos na esfera da seguindo a ordem crescente do ano de
Neuropsicologia. publicação, com especificação dos autores, do
Inicialmente foram obtidos 18 artigos e tipo de publicação, dos testes utilizados e as FE
após análise de conteúdo foram selecionados comprovadamente prejudicadas e apontadas
10 estudos com especificação de achados que nos estudos. Posteriormente serão retratados
envolveram investigações de alterações nas FE detalhadamente as formas de investigação e
relacionadas ao uso e dependência de álcool. resultados alcançados de cada estudo.
Os outros oito artigos excluídos do

Tabela 1. Déficits de Função Executiva relacionadas ao uso de álcool.


Autores Ano Tipo Testes utilizados FE prejudicadas
publicação publicação
Cunha & Novaes 2004 Artigo Bateria de Controle inibitório
Avaliação Abstração
Frontal (FAB) Resolução de
problemas
Fluência verbal
Memória operacional
Tomada de decisão

Kolling, Silva, 2007 Artigo Digitos Capacidade inibitória


Carvalho, Cunha Aritmética Flexibilidade mental
& Kristensen. SNL Memória operacional
COWAT Fluência verbal

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Trail Making
Teste de Stroop
FAB

Carvalho, Kolling, 2008 Artigo Repetição de Processos inibitórios


Silva, Cunha & dígitos Alternância de
Kristensen Teste D2 estímulos
Trail Making
Teste de Stroop

Salgado, Malloy- 2008 Artigo Continuous Controle inibitório


Diniz, Campos, Performance Atenção
Abrantes, Fuentes, Task Planejamento
Bechara & Correa Iowa Gambling
Test
Wisconsin
Card Sorting
Test

Feldens 2009 Dissertação de Questionário Planejamento


mestrado SADD Resolução de
Vocabulario, problemas
cubos e códigos Flexibilidade mental
– WAIS III Controle inibitório
Figuras Memória operacional
Complexas de
Rey
WCST
Inventários
BECK

Rigoni 2009 Tese de Vocabulário, Flexibilidade mental


Doutorado cubos e códigos Memória operacional
Seção 2 – WAIS III Tomada de decisão
WCST
Figuras
Complexas de
Rey
Questionário
SADD
URICA
(University of
Rhode Island
Change
Assessment

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Rigoni 2009 Tese de Questionário


Doutorado SADD Memória operacional
Adult Self Tomada de decisão
Report (ASR) Flexibilidade mental
BAI e BDI-II Inibição de respostas
Screenig
cognitivo do
WAIS-III
WSCT
Figuras de Rey

Matumoto & 2013 Artigo Teste Wisconsin Flexibilidade mental


Rossini (WCST) Memória operacional
Teste de
desempenho
contínuo (TDC)

Levone, Elias, 2013 Artigo Questionário Dependentes graves


Pedrini, Rosário, SADD pontuaram abaixo do
Guimarães & Mini-Exame do ponto de corte do
Parcias Estado Mental MEEM, sugerindo
(MEEM) importantes perdas
cognitivas.

Guidolin 2016 Dissertação de M.I.N.I O estudo não


mestrado (International encontrou
Neuropsychiatric equivalência
Interview associativa entre a
QAGI dependência de álcool
(Questionário de e transtornos
Avaliação Global cognitivos.
do Idoso)
Avaliação
Neuropsicológic
a do CERAD

Cunha e Novaes (2004) elaboraram um pior desempenho em tarefas de


artigo descritivo tratando das implicações para reconhecimento espacial e memória de curto
o tratamento de alcoolistas através da prazo. Em estudo que verificou o desempenho
avaliação neurocognitiva dos mesmos e cognitivo após uma noite de uso abusivo, os
subdividiu o estudo em seis tópicos. abusadores ainda revelaram deficiência de
Demonstraram primeiramente os efeitos memória tardia. Nos efeitos crônicos do álcool
agudos do álcool, onde estudos apontam que são apontados estudos que levantam déficits
abusadores ou binge-drinkers, demonstram nas funções executivas, principalmente

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memória de trabalho, controle inibitório, período de abstinência de 7 a 32 dias, fator este


abstração, resolução de problemas, análise e que não influenciou em correlação
síntese visuo-espacial, além de outros aspectos significativa nos escore dos testes
cognitivos como velocidade psicomotora e neuropsicológicos, assim como o fator idade.
velocidade de processamento. Outros Os resultados obtidos através dos
apontamentos também abordam disfunções instrumentos de avaliação Digitos, Aritmética,
relacionadas ao córtex pré-frontal (CPF) em Sequência de Números e Letras (SNL), Teste
indivíduos assintomáticos e que pode acarretar de Associação de Palavras Controladas
prejuízos nos processos de tomada de decisão (COWAT), Trail Making, Teste de Stroop e
e controle inibitório, podendo ainda chegar em FAB, apontaram maior prejuízo na atenção,
esferas mais severas como a Demência controle inibitório e flexibilidade mental em
Persistente Induzida pelo Álcool e a Síndrome etilistas comparados aos dependentes de
de Korsakoff. cocaína, o que pode ter sido influenciado pela
As implicações no tratamento advindas discrepância de idade entre os dois grupos. Os
dos prejuízos cognitivos adquiridos por baixos escores obtidos também apontaram para
usuários de álcool demonstram que percas de prejuízos de fluência verbal e memória de curta
memória operacional e controle inibitório duração (Koling et al., 2007).
persistem mesmo após um tempo de Carvalho et al. (2008) realizou estudo
abstinência, influenciando principalmente em de investigação das funções atencionais em
eventos de recaída do indivíduo. A reavaliação alcoolistas mediante as variáveis de presença
neuropsicológica e a reabilitação cognitiva são de Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH)
apontadas como importantes meios de analisar e de tempo de abstinência, avaliando 38
sistematicamente as mudanças cognitivas indivíduos com diagnóstico de dependência
ocorridas e a evolução do estado neuropsíquico alcoólica em tratamento hospitalar para
mediante o tratamento, sendo que a dependência química na cidade de Porto
reabilitação neuropsicológica pode auxiliar no Alegre – RS, estando a mais de uma semana de
reconhecimento das alterações cognitivas abstinência. A amostra conteve idade entre 20
sofridas, bem como sua recuperação, e 59 anos, predominantemente masculina
contribuindo para o sucesso do tratamento (94%), com escolaridade em sua maioria de
(Cunha & Novaes, 2004) nível fundamental, 73,6%, seguida de 15,7%
Os autores concluem o artigo de nível médio e 10,7% de nível superior. 68%
apresentando como ferramenta de auxílio e da amostra encontrava-se em internação
rastreio de comprometimento das funções hospitalar e o restante em tratamento
executivas, a FAB (Bateria de Avaliação ambulatorial. Além do Alcoolismo e TDAH,
Frontal), mencionando que a comprovação de 28,9% da amostra apresentavam Transtorno de
uma disfunção executiva deverá ser apenas Humor como comorbidade e 26,3% utilizaram
comprovada por profissional neuropsicólogo medicamentos psiquiátricos.
através de testagens específicas. A pesquisa utilizou como instrumentos
Kolling et al. (2007) compararam o de coleta de dados a entrevista estruturada do
funcionamento cognitivo em uma amostra de DSM-IV para TDAH, questionário de
12 alcoolistas e 12 dependentes de cocaína, comportamentos típicos de adultos com
acompanhados por centro de tratamento de TDAH, repetição de dígitos de ordem direta e
Porto Alegre-RS, sendo que 50% da amostra inversa, teste D2 de atenção concentrada e
cursaram ensino fundamental e a faixa etária Trail Making partes A e B. No que condiz aos
dos dependentes de cocaína era menor, 29,7 resultados, a idade e escolaridade não
anos, em comparação com os alcoolistas de interferiram nas avaliações, por outro lado, os
44,6 anos. Os internos apresentavam um 18,4% da amostra que preencheram os critérios

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diagnósticos para TDAH apresentaram No estudo de Feldens (2009) foi


rendimento inferior de desempenho nos testes realizado um estudo quantitativo, transversal
neuropsicológicos, sem no entanto, com 90 pacientes do sexo masculino
significância estatística. Outro preditor de internados em centro de recuperação, com
influência no desempenho dos testes realizados objetivo geral de avaliar as funções executivas
foi o tempo de abstinência, que quanto maior, na Síndrome de Dependência do Álcool,
melhor se observava o desempenho nos testes utilizando para isso, os testes Vocabulários,
(Carvalho et al., 2008). Cubos e Códigos da WAIS III, Figura
O principal achado deste estudo, Complexa de Rey, Teste Wisconsin de
segundo seus autores, revela que alcoolistas Classificação de Cartas (WCST), além dos
com diagnóstico de TDAH demonstram pior Inventários de Beck para Depressão e
desempenho na avaliação neuropsicológica no Ansiedade (BDI e BAI).
que condiz a exigência de controle inibitório. A discussão sobre os resultados aponta
Já em pacientes com maior tempo de para o comprometimento das funções
abstinência observou-se melhora da executivas, principalmente em questão ao
velocidade visual e interferência cognitiva, controle inibitório, além de terem sido ainda
sem, contudo, demonstrar melhora em demais observados déficits de planejamento, de
aspectos cognitivos. resolução de problemas, de flexibilidade
O estudo de Salgado et al. (2008) visou mental e memória operacional.
analisar o perfil neuropsicológico de Rigoni (2009) em sua tese de doutorado
alcoolistas relacionando as dimensões de realizou quatro estudos comparativos entre
impulsividade motora, de atenção e por falta de alcoolistas e a população geral, objetivando
planejamento, comparando o desempenho em traçar os prejuízos neuropsicológicos
grupo controle de 31 pacientes dependentes de decorrentes do uso de álcool. Os resultados
álcool entre 18 e 60 anos, com nível de aqui apresentados se restringirão a dois estudos
escolaridade acima de sete anos de educação apresentados na tese, por terem este, maior
formal e tempo de abstinência entre 15 e 120 conexão com o objetivo desta monografia,
dias, inseridos no serviço de hospital-dia de um sendo que os estudos excluídos se tratam de
hospital público de Belo Horizonte - MG e levantamento bibliográfico e aspectos
mais 30 indivíduos saudáveis recrutados por influenciadores de recaída que não cognitivos.
anúncios locais. Foram utilizados os seguintes A pesquisa realizada por Rigoni (2009)
instrumentos: Continuous Performance Task, e apresentada na sessão dois de sua tese,
Iowa Gambling Test e Wisconsin CardSorting objetivou demonstrar o declínio das funções
Test (WSCT). executivas e sua correlação com a prontidão
Os achados deste estudo demonstraram para mudança de comportamento em
que dependentes de álcool tiveram mais erros alcoolistas, correlacionando os dados dos
de omissão no Continuos Performance Task, testes WSCT, Vocabulário, Cubos e Códigos
realizaram escolhas menos vantajosas no Iowa da WAIS III e Figuras Complexas de Rey com
Gambling Teste apresentaram mais erros os dados da University of Rhode Island Change
perseverativos no WSCT, não havendo Assessment (URICA). Participaram do estudo,
correlação do desempenho com o tempo de 61 sujeitos do sexo masculino com idade
abstinência, o que contraria diversos outros média de 41 anos, abstinentes em períodos de
estudos. No entanto, concluiu-se que 7 a 15 dias, internados em centro de tratamento
dependentes de álcool revelam déficits de dependência química de Porto Alegre - RS.
relacionados à impulsividade imediatamente Os resultados apontaram que 72,81% da
após a fase aguda de retirada do álcool amostra apresentavam dependência grave,
(Salgado et al., 2008). denotando prejuízos na capacidade de

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percepção visual, memória imediata e sujeitos demonstraram declínio na capacidade


flexibilidade mental. Em sujeitos com menor de flexibilização mental e inibição de
motivação para mudança foi observado respostas, sugerindo tendência a impulsividade
prejuízos no processo de tomada de decisão (Rigoni, 2009).
através do teste WSCT, assim como prejuízos Mattumoto e Rossini (2013) realizaram
na recuperação de memória e memória verbal pesquisa envolvendo dependentes químicos,
que influenciam na tomada de consciência sendo que o consumo de álcool também era
sobre o problema com a bebida. associado ao consumo de outras drogas como
Já no segundo estudo de sua tese, maconha e cocaína e objetivaram investigar
Rigoni (2009) objetivou identificar as possíveis alterações cognitivas,
diferenças de desempenho cognitivo em primordialmente a focalização atentiva e a
alcoolistas sem comorbidades do sexo flexibilidade mental. A amostra contou com
masculino internados em unidade de dois grupos, um controle com 20 sujeitos de
desintoxicação, em comparação a sujeitos idade média de 37,5 anos, tendo em sua
masculinos não dependentes de álcool da maioria cursado nível superior (80%) e
população geral. Foram investigados um total nenhum diagnóstico relacionado à
de 141 sujeitos na faixa etária de 18 a 59 anos, dependência de alguma substância psicoativa
sendo 101 alcoolistas sem comorbidades e 40 ou uso abusivo de álcool, acima do
sujeitos sem dependência de álcool. Dentre os recomendando pela OMS. Já o segundo grupo
instrumentos utilizados, foram aplicados, o continha amostra de 20 dependentes químicos
Questionário Short Alcohol Dependence Data com idade média de 43,5 anos, com
(SADD), o Adult Self Report (ASR), os escolaridade em sua maioria superior (40%),
Inventários Beck para depressão e ansiedade, o onde 100% afirmavam consumo de álcool e
Wisconsin Card Sorting Test (WSCT), o teste 40% associavam o consumo deste com outras
Figura Complexa de Rey e os testes drogas.
Vocabulários, Cubos e Códigos da bateria Os testes utilizados para averiguação
WAIS III. das alterações cognitivas foram o Teste de
A autora encontrou resultados Classificação de Cartas de Wisconsin (WSCT)
apontando que 50% dos sujeitos do grupo de e o Teste de Desempenho Contínuo (TDC),
alcoolistas declaram estado civil casado e a sua além da Escala Fatorial de Ajustamento
maioria são pertencentes as classes B e C. Os Emocional/Neuroticismo. Os resultados
sujeitos foram classificados em dependência apontaram que o grupo diagnosticado em
grave relacionada ao álcool, com idade mínima dependência química revelou menor
de consumo de 15 anos e idade da primeira flexibilidade mental na resolução de problemas
embriagues de 17 anos. A pesquisa ainda e funcionamento executivo rebaixado, quando
aponta que 92,1% dos sujeitos relatam haver comparado ao grupo controle, além de ter
na família algum componente com historio de demonstrado estado de desantenção
abuso de álcool, principalmente o pai e que significativamente maior do que o grupo
mais da metade do grupo fazem uso de tabaco. controle. Um dado interessante apontado pelo
Em termos de prejuízos cognitivos, a estudo foi que nos dois grupos investigados
amostra de alcoolistas apresentou lentificação não houve diferença de controle inibitório
psicomotora, declínio da percepção visual e frente a estímulos imperativos, mas que podem
prejuízo na memória imediata. O desempenho ter sofrido influência de fatores como tempo de
no teste WSCT revelou dificuldade em adotar abstinência, aspectos de personalidade e a
estratégias eficientes para resolução de neutralidade dos estímulos apresentados
problemas o que condiz a prejuízos no (Mattumoto & Rossini, 2013).
processo de tomada de decisão. Além disso, os

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Levone et al. (2013) em um estudo MiniInternational Neuropsychiatric interview


observacional e descritivo, objetivou avaliar e (MINI) Plus Brazilian Version5.0.0 e os
relacionar o nível cognitivo e o grau de Questionários de Avaliação Global do Idoso
severidade da dependência alcoólica. Para (QAGI), e da Avaliação Neuropsicológica do
isso, foram investigados 51 pacientes do sexo Consortium to Establish a Registry for
masculino com idades entre 27 e 64 anos com Alzheimer Disease (CERAD).
mais de sete dias de internação em unidades do Do total da amostra, 4,2% eram
Serviço de Dependência Química de São José dependentes atuais de álcool e 14,6%
– SC. A amostra era contida de sujeitos em sua apresentaram dependência durante a vida onde
maioria com 5 a 12 anos de estudo (82,4%), o sexo masculino revelou prevalência 9,35
com idade média de início do uso abusivo de vezes maior para dependência atual e 12,81
28,8 anos e tempo médio de uso de 15,8 anos, vezes para dependência na vida. O estudo
recebendo o diagnóstico por volta dos 38,4 concluiu que transtornos cognitivos não
anos, sendo realizadas cerca de 5,5 internações tiveram relevância estatística significativa com
em média, variando de 7 a 81 dias, além disso, a dependência alcoólica, o que deve ser
64,7% dos entrevistados declaravam-se significativo em futuros estudos levando em
solteiros ou separados. Foram utilizados como conta o crescimento da população idosa. Por
instrumentos de coleta de dados o Questionário outro lado, transtornos psiquiátricos como
Padronizado para Avaliação de Severidade da episódios maníacos/hipomaníacos e
Síndrome de Dependência do álcool (SADD) e transtornos de ansiedade se mostraram
o Mine Exame do Estado Mental (MEEM). relevantes para propiciar a dependência
Os resultados revelaram que 84,4% da alcoólica. Associado a estes fatores, outros
amostra apresentavam grave nível de como idade entre 60 e 69 anos, ter baixa
dependência do álcool, conforme o SADD. Já escolaridade, ser casado e de baixa renda
no MEEM os sujeitos tiveram pontuação também demonstram maior propensão ao
média de 25,06 pontos, sendo que 35,3% da desenvolvimento de dependência ao álcool
amostra pontuaram abaixo do ponto de corte de (Guidolin, 2016).
24 pontos e quando correlacionada com o grau
de severidade de dependência alcoólica, 100% Discussão
dos indivíduos com nível grave de
dependência apresentaram pontuação abaixo Entre os dez estudos abordados nesta
do ponto de corte, sugerindo que o uso crônico revisão integrativa, duas publicações não
de álcool parece estar associado a prejuízos utilizaram instrumentos de investigação mais
cognitivos. No entanto, o instrumento utilizado específicos da avaliação neuropsicológica,
para averiguação da condição cognitiva sendo eles o artigo de Levone et al. (2013) e a
mostra-se pouco sensível para variações sutis, dissertação de mestrado de Guidolin (2016)
sendo indicado uma avaliação que priorizaram em suas investigações
neuropsicológica mais completa para instrumentos de rastreio como MEEM
levantamento aprofundado das funções associado ao SADD e o MINI em conjunto
comprometidas (Levone, 2013). com o QAGI e a ANP do CERAD,
No último levantamento desta respectivamente.
pesquisa, Guidolin (2016) aponta um estudo Ambos estudos não trouxeram
em sua dissertação com 580 idosos na cidade alterações das funções executivas de forma
de Porto Alegre – RS, no intuito de investigar específica, inclusive no estudo de Guidolin
a associação entre dependência de álcool atual (2016), alterações cognitivas não tiveram
e na vida com transtornos cognitivos e mentais. correlação com a dependência de álcool atual e
Para isso utilizou como instrumentos o na vida do público idoso investigado, ao

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contrário do apontado por Levone et al (2013), dependência à droga (Koob & Le Moal, 1997,
onde afirma que quanto mais grave o nível de apud Garcia et al., 2014).
dependência alcoólica mais importante são as A gravidade da dependência de álcool
perdas cognitivas sofridas pelos sujeitos, e a relação com o maior grau de
conforme desempenho obtido no MEEM, mas comprometimento cognitivo apontado por
que somente a avaliação neuropsicológica Levone et al. (2013), pode ser bem explicada
detalharia quais funções estariam mais pelo maior comprometimento de vias
comprometidas. dopaminérgicas e mesolímbica (Malloy-Diniz,
Outra característica do estudo de 2014; Santos, 2009; Koob & Le Moal, 1997,
Guidolin (2016) a ser levado em conta foi a apud Garcia et al., 2014), passando o indivíduo
amostra utilizada no estudo, onde apenas 4,2% a revelar importantes déficits nas FE, incluindo
declararam ser dependentes atuais e 14,6%, ter memória operacional, flexibilidade mental e
tido dependência do álcool na vida, portanto controle inibitório, não mais correspondendo
mais de 95% da amostra não demonstrou de forma efetiva nas tarefas que exigem maior
consumo atual de álcool e mais de 85% nunca empenho cognitivo, que ainda incluem tomada
demonstraram dependência na vida, onde o de decisão, resolução de problemas,
autor salienta que estudos futuros, haja visto o planejamento, foco atentivo, análise espacial e
aumento da população idosa e o crescente abstração, que também foram citadas nos
consumo de álcool, podem indicar esta estudos contidos nesta pesquisa (Cunha &
correlação. Novaes, 2004; Feldens, 2009; Rigoni, 2009;
Ademais, todos os outros estudos Carvalho et al., 2008; Salgado et al., 2008).
apontam déficits de FE relacionadas ao uso de O comprometimento nas FE de tomada
álcool, corroborando com os diversos autores de decisão, resolução de problemas,
na literatura (Garcia et al., 2014; Almeida et al, planejamento e foco atencional, controle
2009; Rigoni et al., 2012; Zubaran, 1996), inibitório e memória operacional apontados
cumprindo assim com o objetivo geral deste nas pesquisas, reforçam a tese de que os efeitos
estudo de identificar o impacto do uso de do álcool são preditores às recaídas e
álcool nas FE. manutenção da dependência, que se revelam
Apenas a publicação de Cunha e frequentes mesmo durante o tratamento
Novaes (2004) não apresentou seus resultados (Cunha & Novaes, 2004). Onde o indivíduo
baseando-se em pesquisa de campo, como os não é auxiliado por uma tomada de consciência
demais, mas correlaciona as alterações sobre sua própria problemática, não cria
neuropsicológicas, incluindo as de FE, ao uso estratégia eficientes de superação e não
de álcool através de estudo descritivo. direciona o foco de sua própria adaptação
Entre as FE mais citadas com prejuízos (Alvarez, 2007; Garcia et al., 2014; Uheara et
em decorrência do uso de álcool estão a al., 2013).
memória operacional, a flexibilidade mental e Para isso, conforme exposto por Cunha
o controle inibitório (Cunha & Novaes, 2004; e Novaes (2004), a reabilitação
Feldes, 2009; Rigoni, 2009; Kolling et al., neuropsicológica faz-se necessária e urgente
2007; Carvalho et al, 2008; Mattumoto & no processo de reconhecimento das perdas
Rosini, 2013) evidenciando perdas cognitivas sofridas, assim como sua
principalmente nas vias dopaminérgicas recuperação, favorecendo o tratamento da
(Malloy-Diniz, 2014; Santos, 2009) e dependência alcoólica.
mesolímbica, desregulando o sistema de Essas alterações neuropsicológicas
recompensa do cérebro e gerando sintomas de associadas ao álcool e que atingem as FE,
abstinência, fissura, vulnerabilidade contanto com os enunciados literários de
persistente e recaídas, o que caracteriza a Malloy-Diniz (2014), Santos (2009) e Garcia

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(2014), corroborado pelos estudos de Cunha e Desta forma, no estudo realizado por
Novaes (2004), Feldens (2009), Rigoni (2009), Carvalho et al. (2008), foi revelado que
Carvalho et al. (2008) e Salgado et al. (2008), alcoolistas com TDAH demonstram pior
apontam ainda para uma correlação desempenho em FE no que condiz ao controle
neuroanatômica com o córtex pré-frontal, de inibitório, o que corrobora com os achados da
forma específicas as regiões dorso lateral e literatura e nos leva a refletir sobre um possível
orbitofrontal que quando atingidas levam a fator de risco crescente ao alcoolismo, tendo
sintomas de distraibilidade, euforia, em vista o aumento do diagnóstico de TDAH
desinibição e impulsividade (Gil, 2002). na infância, o que gera a necessidade de
Comportamentos violentos também estudos longitudinais.
são coligados ao uso de álcool, associado a Nos estudos apresentados nesta revisão
inflexibilidade cognitiva que leva à irá, a integrativa que levaram em conta o tempo de
agressividade e a comportamentos impulsivos abstinência, observou-se discordância no que
(Seruca, 2013; Almeida et al., 2009). Diversos condiz a interferência dessa no desempenho
autores nesta pesquisa (Kolling et al., 2007; das funções executivas. Estudos de Kolling et
Feldens, 2009; Rigoni, 2009; Mattumoto & al. (2007) e Salgado et al. (2008) revelam que
Rossini, 2013) apontam déficit da flexibilidade o tempo de abstinência não influenciaram
mental como consequência do uso de álcool, significativamente no desempenho
corroborando com os achados literários. neuropsicológico apresentados nos testes. Já
Conforme apontado por Almeida nos estudos de Carvalho et al. (2008), a
(2009) existem diferenças na manifestação do correlação do tempo de abstinência com o
comportamento agressivo entre os sexos desempenho neuropsicológico teve
masculino e feminino, onde homens significância positiva, ou seja, indivíduos com
geralmente demonstram episódios de agressão maior tempo de abstinência tendiam a
doméstica e mulheres uma maior tendência ao apresentar melhores escores nas avaliações
suicídio. neuropsicológicas.
Ao ser observado o crescente índice de Desta forma, mesmo abstinente, o
consumo de álcool na sociedade atual, assim indivíduo não demonstra melhora gradual da
como revelado nos dados do CEBRID (2005), cognição como apontado em dois estudos.
ocorre a preocupação de também haver Sendo assim, os efeitos do álcool poderiam ter
elevação dos casos de violência, tanto características de irreversibilidade a curto e
doméstica como autodirigidas, em decorrência médio prazo? Novos estudos se fazem
do consumo abusivo de álcool, uma vez que a necessário para melhor compreensão do
função cognitiva responsável pelo controle da fenômeno.
ira, da agressividade e da impulsividade ficará Nos estudos Kolling et al. (2007) e
comprometida a partir do consumo abusivo Salgado et al. (2008), onde a abstinência não
desta substância. influencia na melhoria dos escores cognitivos,
Entre os fatores etiológicos do o tempo de abstinência dos usuários variavam
alcoolismo apontados por Fontana (2006) está de 7 a 32 dias no primeiro estudo e de 15 a 120
a presença do TDAH na infância, além dos dias no segundo, já no estudo de Carvalho et
aspectos neuroquímicos relacionados aos al. (2008) onde a abstinência influencia na
déficits em FE encontrados em pacientes com melhora dos escores cognitivos, o tempo de
TDAH que são relacionadas à deficiência nas abstinência citado foi maior que uma semana,
vias dopaminérgicas que ocasiona importante não especificando os dias exatos como os
déficit de controle inibitório (Gazzaniga et al., outros dois estudos.
2006). Os dados da amostra parecem não
divergir significativamente nos quesitos idade,

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sexo e escolaridade, já os períodos de utilizada pelos autores. Dentre os mais


abstinência variam de uma semana a quatro utilizados, com três citações cada estão o
meses. Sugere-se que estudos em períodos Wisconsin CardSorting Test (WCST),
mais específicos de tempo de abstinência Vocabulários, Cubos e Códigos. Os segundos
sejam realizados para melhor averiguação da mais utilizados, com duas citações cada, estão
influência da mesma na recuperação das os testes Trail Making, Teste de Stroope Figura
funções executivas prejudicadas, levando em Complexa de Rey. Os demais testes tiveram
conta, principalmente, a gravidade do nível de uma citação cada, sendo eles o Digitos,
dependência alcoólica, observando ainda, que Aritmética, Sequência Números e Letras, Teste
o fator tempo de uso, nível de dependência e de Associação de Palavras Controladas
tempo de abstinência podem ser fatores (COWAT), Repetição de Dígitos, Teste D2 de
importantes para delineamento de programas Atenção Concentrada, Continuous
de reabilitação neuropsicológica de Performance Taske e Iowa Gambling Test.
dependentes químicos. Além dos testes neuropsicológicos
Observa-se ainda que o público citados, ainda foram referenciados outros
investigado nas pesquisas aqui apresentadas testes de rastreio como o Mine Exame do
estão todos acima da faixa etária de 18 anos e Estado Mental (MEEM), Bateria de Avaliação
são predominantemente do sexo masculino. Frontal (FAB), Internacional
Dados do CEBRID (2005) revelam um Neuropsychiatric Interview (MINI) e o
aumento significativo de uso de álcool na vida Consortium to Establish a Registry for
no sexo feminino na faixa etária de 12 a 17 Alzheimer’s Disease (CERAD). Além disso,
anos. O estudo de Feldens (2009) aponta a foram ainda utilizados pelas pesquisas os
média da primeira embriaguez corresponde a Inventários de Beck para ansiedade e
faixa de 15 anos de idade, corroborando com depressão (BAI / BDI) para correlações
este dado. Assim, os estudos aqui apresentados emocionais e os Questionários de Avaliação
não averiguam os prejuízos em FE nesta faixa Global do Idoso (QAGI), University of Rhode
crescente de abuso, observando-se ainda, ser Island Change Assessment (URICA), Adult
este um importante período de Self Report (ASR) e o Short Alcohol
amadurecimento do córtex pré-frontal e Dependence Data (SADD).
desenvolvimento das FE como apontado por
Malloy-Diniz (2014) e Santos (2004). Considerações Finais
Questiona-se que os prejuízos nesta
faixa etária inferior aos 18 anos teriam efeitos Há tempos se tem relatos sobre os
mais devastadores e permanentes do que na efeitos do álcool na cognição humana, mas
faze adulta, haja vista seu processo pleno de somente na década de 40 o Alcoolismo tornou-
desenvolvimento? No sexo feminino, funções se doença. A Organização Mundial de Saúde
como tomada de decisão, julgamento e senso orienta os níveis de ingestão toleráveis para
crítico demandariam formas comportamentais ambos os sexos, porém observa-se que na
diferentes do que no sexo masculino, uma vez atualidade é crescente o consumo abusivo,
apontadas as diferentes manifestações da tanto entre os homens quanto nas mulheres.
violência devido ao abuso de álcool já aqui Este consumo abusivo é tido como um
mencionadas? Ressalta-se novo empenho de prenúncio da dependência, o que acarreta
pesquisa para melhor delineamento do assunto. perdas cognitivas ainda mais acentuadas.
Acerca dos testes utilizados para Nota-se que o uso nocivo de álcool gera
avaliação de FE em alcoolistas, sendo o um importante comprometimento cognitivo,
levantamento destes um dos objetivos desta destacando-se a diminuição da capacidade de
monografia, ressalta-se uma extensa lista resolução de problemas, de tomada de decisão,

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do controle inibitório, da memória de trabalho, os efeitos futuros de comprometimento


da memória episódica verbal, do cognitivo, em específico, das funções
processamento visuo-espacial e das executivas em nossa população.
habilidades sociais. E este estudo reafirmou
que o álcool impacta o desempenho das FE, Referências
principalmente, em relação à memória
operacional, ao controle inibitório e a Almeida, R. M. M.; Pasa, G. G., & Scheffer,
flexibilidade mental. Além destas três M. (2009). Álcool e violência em homens
principais funções mais afetadas, ainda se e mulheres. Psicologia Reflexão e Crítica,
observa comprometimento em tomada de 22(2), pp. 252-260.
decisão, resolução de problemas, Álvarez, A. M. A. (2007). Fatores de risco que
planejamento, foco atentivo e abstração. favorecem a recaída no alcoolismo. Jornal
Funções como julgamento, senso Brasileiro de Psiquiatria, 56(3), pp. 188-
crítico, volição, autoregulação, reconstituição, 193, 2007.
fala internalizada e fluência não foram citadas
nos estudos levantados por esta revisão Andrade, A. G; Anthony, J. C; & Silveira, C.
integrativa, apesar da mesma ter revelado um M. (2009). Álcool e suas consequências:
aparato de 17 testes e subtestes para avaliação uma abordagem multiconceitual. Barueri,
das FE, além de mais quatro baterias de SP: Minha Editora.
rastreio. Porém, torna-se importante que a Araujo, A. C. & Lotufo Neto, F. (2014). A
avaliação neuropsicológica se aproprie de nova classificação Americana para os
ferramentas que favoreçam a mensuração mais Transtornos Mentais: o DSM-5. Revista.
abrangente, assim como de avaliações Brasileira de Terapias Comportamentais
ecológicas das FE e traga à luz do Cognitivas,16(1), pp. 67-82.
conhecimento o nível de seu real
comprometimento, e qual sua influência no Ayesta, F. J. (2002). Bases bioquímicas y
comportamento humano. neurobiológicas de la adicción al alcohol.
Favorecendo, ainda, o aprimoramento Adicciones, 14(1), 63-78.
das técnicas de reabilitação na dependência
Bertoni, L. M. (2003). Reflexões sobre a
química do álcool, uma vez observada a
História do Alcoolismo. Bebedouro-SP:
incidência cada vez maior na sociedade e os
Faculdades Integradas FAFIBE.
prejuízos aliados às disfunções cognitivas e
comportamentais, que vão desde o Carlini, E. A. (2006). Epidemiologia do uso de
esquecimento diário até o comportamento álcool no Brasil. Arquivos médicos do
violento. ABC, 31, pp. 4-7.
Espera-se que esta revisão integrativa
auxilie no processo de melhor identificação Fonseca, V. A. da S. & Lemos, T. (2011).
dos prejuízos cognitivo relacionados ao álcool Farmacologia da dependência química. In
e inspire novos estudos na continuidade dos Diehl, A., Cordeiro, D. C. & Laranjeira, R.
questionamentos levantados na discussão desta (orgs). Dependência química: prevenção,
monografia. Além disso, ressalta-se que a tratamento e políticas públicas (pp. 25 –
conscientização social sobre os efeitos do 34) Porto Alegre: Artmed.
álcool através de um maior controle midiático Fontana, A. M. (2006). Manual de clínica em
e restrição ao uso abusivo, se fazem psiquiatria — São Paulo: Editora Atheneu.
extremamente necessários para barrar a curva
ascendente dos casos de dependência alcoólica Garcia, F., Moreira, L. & Assumpção, A.
na atualidade e, consequentemente, minimizar (2014). Neuropsicologia das dependências

17
v.1, n. 1, p. 01-19. Agosto/2020

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