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Álcool e Saúde Mental:

da Prevenção ao Tratamento
Unidade 1: Introdução
Unidade 1

O que é consumo nocivo de álcool? O que são padrões de consumo de álcool?


Existe um nível de consumo considerado seguro?
Confira as respostas para esses e demais questionamentos nesta unidade.

Finalidade
Introduzir os conceitos basais e estruturantes das pesquisas e evidências científicas sobre o
consumo de álcool e consequências à saúde. Familiarizar o aluno com a terminologia e prin-
cipais conceitos utilizados, nos contextos clínicos e de pesquisa, sobre o consumo de álcool
e seus efeitos na saúde.

Objetivos pedagógicos
Ao final desta unidade, você estará apto a:

• reconhecer as quantidades de consumo de álcool em termos de uma dose padrão, bem


como os fatores etiológicos relacionados ao consumo nocivo de álcool, dentro da pers-
pectiva biopsicossocial;

• identificar os diferentes padrões de consumo de álcool, em especial, o padrão definido


como Beber Pesado Episódico. No contexto clínico, identificar os diagnósticos de Síndrome
de Dependência de Álcool (F10.2) e uso nocivo de álcool (F10.1) pela CID-10;

• aplicar e incorporar os conceitos de dose padrão e padrões de consumo no contexto da


prática clínica;

• o analisar, tanto no contexto clínico quanto em termos de saúde pública, como as intera-
ções entre consumo total de álcool e padrões de consumo podem causar diferentes situa-
ções de prejuízo e de aumento de risco para diversos transtornos. Conjuntamente, conhecer
a visão do Transtorno de Uso de Álcool dentro da perspectiva dimensional do DSM-5.

• o Avaliar o impacto de intervenções individuais e sociais em termos de alterações no pa-


drão de consumo e na quantidade de doses padrão consumidas, tanto para um paciente
quanto para uma população de interesse, tendo em vista os principais equipamentos do
Sistema Único de Saúde (SUS) responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de transtornos
relacionados ao uso de substâncias, em seus pontos positivos e negativos.

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Unidade 1

Álcool e saúde
Historicamente, o consumo de álcool foi incorporado a tradições culturais e até mesmo re-
ligiosas em diferentes sociedades e contextos. Isso ocorreu, provavelmente, porque alguns
dos efeitos das bebidas alcoólicas, como relaxamento e sensação de bem-estar, presentes
no uso de pequenas quantidades, podem ser considerados potencialmente positivos.

Entretanto, ressalta-se que o uso nocivo dessa substância causa diversos prejuízos
individuais e coletivos — de condições de saúde a questões sociais e econômicas.

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Unidade 1

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 3 milhões de pessoas morrem, por
ano, devido ao uso nocivo de álcool. Isso representa uma a cada vinte mortes, colocando o
álcool como responsável por mais de 5% de todas as mortes no mundo.1

Números do uso nocivo do álcool

+ de 3 milhões de mortes por ano

representa 1 a cada 20 mortes

responsável por + de 5%
de todas as mortes no mundo

Infográfico sobre o impacto do uso nocivo do álcool no mundo, segundo a OMS.

A OMS estabelece como uso nocivo de álcool quando ocorrem consequências


sociais e de saúde – tanto para o consumidor quanto para as pessoas próximas a ele
e para a sociedade em geral – ou quando o padrão de uso está associado a maior
risco de danos à saúde.1,2

Todavia, para definir o que são “consequências sociais e de saúde”, as pesquisas científicas
precisam se alicerçar em definições mais metodológicas, com critérios definidos de maneira
mais precisa. Nesse sentido, apresentaremos o que são padrões de consumo de álcool, bem
como estes são precisamente definidos com base em uma dose padrão.

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Unidade 1

Dose padrão

Você sabia?
A OMS estabelece que uma dose padrão contém, aproximadamente, 10 g de álcool
puro, mas reconhece que essa definição depende do país e da cultura, não havendo
um consenso internacional para essa medida. Por exemplo, no Reino Unido a dose
padrão é de 8 g de álcool puro, enquanto no Japão é de 20 g.2-4

Dose padrão é a unidade de medida que define a quantidade de etanol puro contido nas bebidas
alcoólicas. Uma dose padrão equivale, em geral, a uma determinada quantidade de álcool e, de
acordo com o teor alcoólico das bebidas, equivale a volumes maiores ou menores. Isso significa
que, para uma bebida com maior teor alcoólico, menor o volume de uma dose padrão.

No Brasil, atualmente, não há uma definição oficial para dose padrão de álcool. Neste curso,
adotaremos os volumes e teores alcoólicos mais praticados em nosso país, com a seguinte
relação: 1 dose de bebida corresponde a 14 g de álcool puro, como apresentado abaixo.2
Nota-se que o teor alcoólico de cada tipo de bebida é aproximado, pois há variações entre
bebidas de uma mesma categoria.

Dose padrão praticada no Brasil

Dose padrão = 14 g de álcool puro, o que equivale a:

350 mL de ou 150 mL de ou 45 mL de bebidas


cerveja/chope cerca vinho cerca de destiladas (vodca,
de 5% de álcool 13% de álcool uísque, cachaça, gim,
tequila, entre outros)
cerca de 40% de álcool

Infográfico sobre a dose padrão de álcool praticada no Brasil.

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Unidade 1

O conceito de dose padrão busca equalizar minimamente os volumes e teores alcoólicos,


visando também ao estabelecimento de parâmetros objetivos para avaliar o quanto um indi-
víduo bebe, bem como ao estabelecimento de limites de consumo de baixo ou de alto risco à
saúde.

Padrões de consumo
A elaboração dos padrões de consumo de álcool é realizada a partir de aspectos médicos e
psicossociais, tornando-se um elemento importante para a avaliação dos riscos e prejuízos à
saúde associados ao seu uso. A quantidade e frequência de ingestão de álcool, bem como a
qualidade da bebida, são fatores importantes a serem considerados.

Ressalta-se que, segundo a OMS, não há um nível de consumo de álcool que seja absoluta-
mente seguro.5 Se a pessoa bebe, há risco de problemas de saúde e outros, especialmente
se a pessoa:

• bebe mais de 2 doses por dia;

• não deixa de beber pelo


menos dois dias na semana.

Imagem esquemática sobre o nível de consumo de álcool relacionado à problemas de saúde.

A OMS ainda recomenda que o consumo de bebidas alcoólicas não deve ser feito nos casos
citados no infográfico a seguir.

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Unidade 1

O uso do álcool NÃO deve ser feito se a pessoa:

• fizer uso de medicamento


• for uma criança ou
que interage diretamente
adolescente;
com o álcool;

• estiver grávida ou • não conseguir controlar o


amamentando; seu consumo;

• apresentar problemas de • for dirigir, operar máquinas


saúde que podem ser ou realizar outras atividades
agravados pelo álcool; que envolvam riscos.

Infográfico sobre casos em que o consumo de álcool não deve ser feito.

É importante, ainda, avaliar a quantidade de álcool ingerida em uma única ocasião, por estar
relacionado a diversas consequências prejudiciais, como intoxicação, lesões e violência. Um
padrão de consumo nocivo e que considera esse aspecto, além das diferenças biológicas en-
tre os sexos, é o Beber Pesado Episódico (BPE).

Você sabia?
O BPE, ou binge drinking, compreende o consumo de grandes quantidades de álcool
em curto espaço de tempo (aproximadamente 2 horas), atingindo altos níveis de
concentração alcoólica no sangue (em torno de 0,08 g/dL). Para mulheres, tal
alcoolemia geralmente ocorre após 4 doses e para homens, após cerca de 5 doses.
Este padrão de consumo pode acarretar sérios riscos à saúde e à segurança,
incluindo acidentes de carro e ferimentos. A longo prazo, também pode causar
danos ao fígado e a outros órgãos.6 Para a OMS, esse relevante indicador,
considerado como um uso nocivo, é medido como o consumo de 60 ou mais gramas
(cerca de 4-5 doses) de álcool puro em uma única ocasião, ao menos uma vez no
último mês.1

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Unidade 1

A partir da definição de BPE, um consumo de baixo risco, ou seja, que minimiza os riscos à
saúde, deve considerar o não-engajamento neste comportamento. Assim sendo, o National
Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), referência no tema, estabelece os seguin-
tes limites como sendo de consumo moderado7:

Quadro 1. Limites de consumo moderado de álcool

Homens Até 2 doses por dia.

Mulheres Até 1 dose por dia.

Fonte: Adaptado de NIAAA. Disponível em: https://www.niaaa.nih.gov/alcohol-health/


overview- alcohol-consumption/moderate-binge-drinking. Acesso em: 21 set. 2020.

O NIAAA ainda ressalta que o BPE e o uso pesado de álcool (mais de 4 doses por dia
para homens e mais de 3 doses por dia para mulheres) são padrões de consumo
excessivos, que aumentam o risco de problemas de saúde, incluindo o abuso e
dependência de álcool.

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Unidade 1

Para concluir
Reconhecer o uso nocivo de álcool como sendo aquele que traz prejuízos ao bebedor ou a
terceiros ou que envolve um padrão de consumo arriscado à saúde é um dos pilares para
compreender a abrangência do tema que trataremos neste curso.

O consumo de álcool ocorre de maneira diversa, dependendo de fatores culturais, socioeco-


nômicos e contextos específicos do indivíduo. Contudo, para fins de estudos epidemiológicos
e orientações para a população, essas diversas formas de uso são categorizadas em padrões
de consumo. Assim, é possível estimar o uso de álcool na população e também avaliar a par-
cela que bebe de maneira nociva, com maior risco de desenvolvimento de transtornos, como
abuso e dependência de álcool.

O entendimento dos padrões de consumo, pautados em uma dose padrão, é a base tanto para
a pesquisa científica quanto para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e aborda-
gens de tratamento baseadas em evidências.

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Unidade 1

Níveis e padrões de consumo: dados


populacionais
O consumo de álcool está presente em quase todos os países do mundo, com grandes va-
riações regionais e culturais. Tais diferenças podem ser atribuídas em boa parte à religião, à
implementação de políticas e ao crescimento econômico.8

Cerca de:

55,5%
da população já consumiu bebida alcoólica
mundial alguma vez na vida.
(15+ anos)

43% desta se declarou bebedora atual (ou


população seja, consumiu no último ano).

Infográfico da estimativa mundial de consumo de bebida alcoólica de acordo com o


mais recente relatório da OMS¹.

No Brasil, essas taxas foram de 78,6% e 40,3%, respectivamente – consistente


com dados do III Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas pela População
Brasileira (III LNUD)9, no qual consta que 43,1% da população brasileira de 12 a 65
anos beberam no último ano e que 30,1% beberam no último mês.

Compare os números apresentados a seguir.

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Unidade 1

Tabela 1. Consumo de bebida alcoólica no Brasil e no mundo (em 2016)

Consumo na vida Consumo atual


(experimentação) (no último ano)

Mundo 55,5% 43%

Brasil 78,6% 40,3%

Fonte: Adaptada de NIAAA. Disponível em: https://www.niaaa.nih.gov/alcohol-health/


overview- alcohol-consumption/moderate-binge-drinking. Acesso em: 21 set. 2020.

Desde 2000, a porcentagem de bebedores atuais no mundo diminuiu de 47,6% para 43%,
mais associado ao aumento de pessoas que pararam de beber do que ao aumento de abstê-
mios na vida, segundo a OMS.1

Em termos de consumo de álcool per capita, apesar de ter crescido de 5,5 L para 6,5 L entre
2005 e 2010, esse parâmetro manteve-se estável de 2010 até 2016. Entretanto, há pesqui-
sas que apontam para tendências de aumento na próxima década, especialmente nas regiões
das Américas, do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental3 – com destaque para o Brasil8,
apesar de ter sido observada uma diminuição do consumo per capita de 8,8 L, em 2010, para
7,8 L em 2016.3

Simplificando:

Consumo de álcool per capita

No mundo:

2005 5,5L
2010 6,5L
2016 6,5L

No Brasil:

2010 8,8L
2016 7,8L

Infográfico sobre a tendência de aumento nas Américas, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental.
Fonte: Organizado pelos autores.

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Unidade 1

Com relação ao consumo diário de álcool entre bebedores (com 15 anos ou mais), a média,
em 2016, no Brasil, foi de 41,7 g de álcool puro (cerca de 3 doses por dia), quase 27% maior
do que o índice observado entre os bebedores da região das Américas e da média mundial,
ambas de 32,8 g por dia (cerca de 2,3 doses por dia).3

A distribuição do perfil da população em relação ao consumo de álcool está apresentada


abaixo.1,2

Perfil da população em relação ao consumo de álcool

No Brasil:

21,4% de abstêmios na vida

38,3% de ex-bebedores

40,3% de bebedores atuais

Nas Américas:

16,9% de abstêmios na vida

29,0% de ex-bebedores

54,1% de bebedores atuais

No mundo:

44,5% de abstêmios na vida

12,5% de ex-bebedores

43,0% de bebedores atuais

Infográfico sobre o consumo de álcool (%) na população com 15 anos ou mais, no Brasil, nas Américas e no
mundo, em 2016.

A respeito do BPE, indicador de uso nocivo de álcool, ele foi relatado por 18,2% da população
mundial em 2016, menor do que o observado no ano de 2000, de 22,6%.1 Já o Brasil é um dos
países que apresentam altas porcentagens de BPE: 19,4% da população com 15 anos ou mais
relatou tal comportamento em 2016, índice superior ao do ano de 2010 (12,7%). Segundo o
III LNUD9, a prevalência desse comportamento foi de 16,5%, considerando a população geral.

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Unidade 1

Para concluir
O consumo de álcool é um comportamento de expressividade mundial. O acompanhamen-
to da evolução histórica e tendências nesse comportamento torna-se imprescindível para
a identificação de pontos sensíveis, como é o caso de países das regiões das Américas, do
Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental.

Ainda, os padrões de consumo devem ser levados em consideração. O caso do Brasil merece
atenção, pois apresentou redução do consumo per capita de álcool; porém houve aumento
do BPE, reconhecidamente um padrão nocivo de consumo. Assim, a ingestão de álcool, e os
possíveis problemas a ele associados, devem ser analisados a partir de diversos parâmetros.
Não somente o “quanto” se bebe, mas “como” ou “com qual frequência” também se tornam
aspectos importantes na compreensão do impacto do álcool em uma determinada popula-
ção.

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Unidade 1

Tendências e pontos de atenção


Crianças e adolescentes
O uso de álcool por crianças e adolescentes leva a diversos prejuízos, tanto em nível biológico
quanto social.

Uso do álcool:

• tem consequências no
desenvolvimento do Sistema
Nervoso Central;

• além de estar associado a


problemas como: queda no
rendimento escolar, gravidez
precoce e indesejada,
violência e acidentes.

Imagem esquemática sobre as consequências do uso de álcool por crianças e adolescentes.

É fundamental que crianças e jovens sejam protegidos contra a pressão e possível permissi-
vidade para que consumam bebidas alcoólicas.

Nota-se uma tendência à queda nos episódios de BPE entre 2000 e 2016 para
os jovens no mundo como um todo — exceto no Sul e Leste Asiático e Oeste do
Pacífico.1 Ainda assim, o índice de BPE nessa população é alto (acima de 20%) em
várias regiões, como Europa, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, EUA, Argentina
e Chile. No Brasil, o BPE é relatado por 15% para a população de 15-19 anos (na
população em geral é de 19,4%).1

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Unidade 1

Apesar da existência de uma lei federal (Lei nº 13.106/2015), que proíbe a oferta
de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade, diversos dados alertam
para a necessidade de medidas de prevenção e sensibilização sobre o tema.
Além da alta taxa de BPE relatada pela OMS, outro estudo indicou que 32% dos
estudantes brasileiros com idade entre 14 e 18 anos relataram BPE no último
ano.10 Ademais, há outros indicadores relevantes, obtidos pela Pesquisa Nacional
de Saúde do Escolar 2015 (PeNSE 2015), entre jovens estudantes do 9º ano do
ensino fundamental.11

Atenção aos números destacados a seguir.

Consumo de bebida alcoólica por jovens

12,5 anos é a média de idade de


experimentação do álcool;

55% relataram já ter consumido


álcool alguma vez na vida;

+ de 20% dos jovens que relataram


já ter bebido na vida declararam ter
ficado realmente bêbados ao menos
uma vez na vida.

Infográfico sobre os indicadores obtidos pela PeNSE 2015, entre


jovens estudantes do 9º ano do ensino fundamental.

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Unidade 1

Tais estatísticas refletem que uma parcela significativa dos jovens tem acesso fácil ao álcool.
De fato, pesquisas apontam que o primeiro contato com o álcool se dá, com frequência, nas
próprias casas dos adolescentes, às vezes por oferta dos pais e parentes, e em festas com
fácil acesso às bebidas.12-14 É claramente uma questão de saúde pública a ser prevenida –
principalmente por meio do controle do acesso e atingindo o contexto em que ocorre o uso
nocivo de álcool entre jovens.11

Nesse sentido, ações preventivas e educativas no ambiente familiar, na escola e na comuni-


dade devem ser incentivadas, para que os jovens possam fazer escolhas mais saudáveis ao
refletir sobre as consequências de suas ações.

Outro ponto de atenção a ser monitorado é o acesso e uso de ambientes virtuais, como as
redes sociais.

Você sabia?
Recentemente, evidências científicas têm demonstrado que a exposição a
conteúdos sobre álcool nessas plataformas pode estimular percepções mais
tolerantes em relação ao álcool, promovendo normas sociais equivocadas e
aumentando seu consumo.15

16
Unidade 1

Adultos jovens e universitários


Entre adultos jovens (de 20 a 24 anos), tanto a prevalência de consumo de álcool como a de
BPE é semelhante ou, por vezes, maior do que na população em geral. Com exceção da região
do Mediterrâneo Oriental, todos os índices de prevalência de BPE entre os bebedores são
altos na adolescência e na idade adulta — em torno de 45% a 55%.1

Um grupo dessa faixa etária que merece atenção são os universitários, uma vez que o uso de
álcool é maior entre eles do que em grupos de não universitários da mesma idade.16

Sabe-se que a experiência universitária é peculiar, pois para muitos significa a primeira opor-
tunidade de ser parte de um grande grupo de pares sem supervisão familiar. A nova autono-
mia implica novos limites e responsabilidades, tornando-os mais suscetíveis a experiências
anteriormente proibidas, como o consumo de bebidas.10,17,18

O álcool é a substância mais utilizada pelos universitários, segundo o I Levantamento Na-


cional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais
Brasileiras

17
Unidade 1

Quase 90% deles relatou o consumo pelo menos uma vez na vida, sendo mantido pela maio-
ria no último ano (72%) e também no último mês (60,5%), refletindo um comportamento
frequente e repetido por grande parcela dos universitários.19

Cenário semelhante foi observado em estudo de 2017, com 508 estudantes universitários
paulistas: 43,7% dos participantes responderam ter consumido álcool de 2 a 4 vezes por
mês, sendo que 59,2% relataram a prática de BPE em algum momento.20 Compare os núme-
ros no infográfico a seguir.

Consumo de bebida alcoólica por universitários

Universitários de 27 capitais brasileiras:

90% consumiu álcool


pelo menos 1x na vida

72% manteve o consumo


no último ano

Universitários paulistas:

43,7% consumiu álcool


de 2 a 4x por mês

59,2% relataram a prática


de BPE em algum momento

Infográfico sobre o consumo de bebida alcoólica por universitários no Brasil.

18
Unidade 1

Mulheres
Apesar de os homens apresentarem maior prevalência do consumo de álcool (frequência,
quantidade e episódios de BPE),1 as mulheres têm diminuído essa diferença ao longo dos
anos, com diversas pesquisas mostrando tal convergência entre os gêneros. Dados do III
LNUD, apresentados na tabela abaixo, corroboram que no Brasil há maior proporção de ho-
mens que reportam consumo de bebidas alcoólicas do que mulheres.9

Tabela 2. Consumo de álcool e BPE entre homens e mulheres

Na vida (%) No último ano (%) No último mês (%) BPE (%)

Homens 74,3 51,6 38,8 24,0

Mulheres 59,0 35,0 21,9 9,5

Total 66,4 43,1 30,1 16,5

Fonte: Adaptada de Brasil, 2015. Baseado Baseado em Fundação Oswaldo Cruz.9

Com relação à convergência supracitada, estimada globalmente de maneira progressiva até


2030, observa-se que está associada a vários fatores sociais e econômicos, incluindo o au-
mento da participação das mulheres no mercado de trabalho e mudanças em seu estilo de
vida.8

Nesse cenário, é imprescindível ressaltar que as mulheres são fisiologicamente


mais vulneráveis aos efeitos do álcool do que os homens (possuem menos enzimas
que metabolizam a substância e menor quantidade de água no corpo). Como
consequência, elas apresentam maior probabilidade de ter problemas relacionados
ao álcool com níveis de consumo mais baixos e/ou em idade mais precoce do que
os homens.21

No Brasil, um levantamento do Ministério da Saúde aponta que o BPE pela população geral
adulta e entre homens tem se mantido relativamente estável; porém, entre mulheres houve
crescimento de 7,7% para 11% no período de 2006 a 2018.22

19
Unidade 1

Além disso, já há evidências de importantes consequências negativas associadas ao uso noci-


vo de álcool pelas mulheres brasileiras: quase metade das que reportaram BPE também rela-
taram ter relações sexuais desprotegidas enquanto estavam alcoolizadas; entre as mulheres
jovens (com 20 anos ou menos) que reportaram BPE, mais de 1 em cada 10 ficou ou estava
grávida, e a chance de ter um aborto foi 2 vezes maior do que entre as que não relataram
BPE,23 conforme destaca o esquema abaixo.

Mulheres que reportaram BPE:

• relataram ter relações


sexuais desprotegidas;

• mais de 1 em cada 10 ficou


ou estava grávida;

• a chance de ter um aborto


foi 2 vezes maior.

Imagem esquemática sobre consequências negativas associadas ao uso nocivo de


álcool pelas mulheres brasileiras.

20
Unidade 1

Idosos
As estatísticas do estudo Global Burden of Disease 2010 (GBD 2010) chamam a atenção: o
álcool está entre os dez maiores fatores de risco para a carga total de doenças por idade
em 2010, sendo:24,25

• o 7º no ranking para
indivíduos de 50 a 69 anos; e

• o 10º para indivíduos


maiores de 70 anos.

Imagem esquemática sobre o álcool como fator de risco para idosos.

Várias consequências sociais e fisiológicas do envelhecimento influenciam a relação dos ido-


sos com o álcool, entre elas a tolerância do corpo ao álcool que é diminuída, aumentando
os efeitos da substância. Além disso, outras condições sociais que podem repercutir no uso
nocivo de álcool devem ser consideradas, como viuvez, solidão, perda de amigos, aposenta-
doria e isolamento.

Os prejuízos associados ao uso nocivo de álcool nessa população são amplos, conforme mos-
tra o quadro abaixo.

Quadro 2. Prejuízos associados ao uso nocivo de álcool por idosos

• Déficits no funcionamento cognitivo e intelectual;


• danos no comportamento global;
• aumento do número de comorbidades; e
• piora em outros problemas de saúde comuns à idade.

Fonte: Organizado pelos autores.

Ademais, o álcool os expõe a maior risco de quedas e, consequentemente, a lesões. Além


disso, podem ocorrer efeitos secundários na interação dessa substância com medicamentos
mais comumente utilizados por essa população.26

21
Unidade 1

Bebida e direção
Os efeitos do álcool em indivíduos que assumem a direção de veículos automotores são bem
estabelecidos, aumentando o prejuízo conforme a quantidade consumida. Veja alguns dos
efeitos a seguir.

• Diminuição da atenção;

• falsa percepção de velocidade;

• euforia;

• aumento no tempo de reação;

• sonolência;

• redução da visão periférica; e

• outras alterações neuromotoras27.

Imagem esquemática sobre os efeitos do álcool no indivíduo que está dirigindo.

Assim, o álcool está diretamente relacionado ao maior risco de envolvimento em acidentes


de trânsito e sua gravidade.

Você sabia?
No Brasil, em 2016, estima-se que o álcool esteve associado a 36,7% dos acidentes
de trânsito envolvendo homens e 23% daqueles envolvendo mulheres.1

O autorrelato de condução de veículo motorizado após o consumo de qualquer quantidade


de álcool, em 2018, foi de 5,3%22, sendo 9,1% entre homens e 1,9% entre mulheres, mais
evidente em indivíduos de 25 a 34 anos e com tendência a aumentar conforme o grau de es-
colaridade. Por outro lado, o índice de embriaguez é alto entre vítimas fatais de acidentes de
trânsito.

Estudo na cidade de São Paulo mostrou que, em 2005, 39% das vítimas fatais
apresentavam resíduos de álcool no sangue; em 2015, essa taxa subiu para 43%.28

22
Unidade 1

A implementação da Lei Seca e seu fortalecimento no Brasil foram avanços importantes;


porém, ainda é necessário intensificar a fiscalização e a sensibilização da população para a
causa.

Repercussões da pandemia de Covid-19


A situação epidemiológica do consumo de álcool durante a pandemia de Covid-19 ainda está
sendo avaliada, mas sabe-se que as medidas implementadas pelos governos com o intuito de
impedir a propagação do vírus

– em especial, o isolamento social – além do próprio cenário da pandemia, associados ao


aumento de estresse, ansiedade e incertezas, podem agravar associações ao uso nocivo de
álcool.29

Uma análise recente, feita por pesquisadores proeminentes do Brasil e do mundo30, sugere
dois cenários possíveis de mudança no consumo de álcool devido à pandemia de Covid-19,
conforme apresentado no quadro a seguir.

Quadro 3. Mudanças no consumo de álcool devido à pandemia de Covid-19

Aumento de consumo para algumas populações, notadamente


Primeiro constituídas por homens, devido ao aumento de estresse. Dado que
cenário o estresse é um fator de risco para o consumo nocivo de álcool29,
esse cenário não é uma hipótese distante.

Diminuição de consumo geral, devido à uma redução do poder


Segundo
financeiro das pessoas e diminuição da disponibilidade física de se
cenário
comprar bebidas alcoólicas.

Fonte: Adaptado de Rehm J, Kilian C, Ferreira‐Borges C, Jernigan D, Monteiro M, Parry CDH, et al.30

Dado que as possibilidades de compra e consumo estão drasticamente reduzidas devido às


medidas de redução de circulação, os autores preveem o segundo cenário como sendo uma
consequência imediata. Todavia, conforme o nível e a quantidade de fatores estressores
(como o desemprego) venham a aumentar, a primeira hipótese pode tornar-se possível.30

23
Unidade 1

De fato, uma pesquisa recente realizada pela Fiocruz, em parceria com a Universidade Fe-
deral de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas31, com 44.062 indivíduos, no
período de 24 de abril a 8 de maio de 2020, mostrou que os impactos econômicos da pande-
mia foram consideráveis, assim como as mudanças no estado de ânimo, ambos aspectos que
podem influenciar o consumo de álcool.

Cerca de 55% das pessoas relataram diminuição da renda familiar, 40% se sentiram tristes/
deprimidos e 54% se sentiram ansiosos/nervosos frequentemente (muitas vezes ou sem-
pre). Entre os adultos jovens (18-29 anos), os percentuais para os dois últimos casos são
ainda mais alarmantes: 54% e 70%, respectivamente. Tal aumento do estado depressivo
pode estar relacionado ao crescimento do consumo de álcool relatado: 18% dos entrevista-
dos (18,4% entre homens e 17,7% entre mulheres) afirmaram estar ingerindo mais bebidas
alcoólicas nesse período. O maior índice (26%) foi registrado na faixa etária de 30 a 39 anos
de idade, e o menor, entre idosos (11%). Quanto à motivação para beber mais, quanto maior
a frequência dos sentimentos de tristeza e depressão, maior o aumento do uso de bebidas al-
coólicas, atingindo 24% das pessoas que têm se sentido dessa maneira durante a pandemia.

Atenção aos dados destacados a seguir.

24
Unidade 1

Impactos da pandemia de Covid-19

Sobre a renda da população geral:

Cerca de 55% das pessoas relataram


diminuição da renda familiar.

Entre os adultos jovens (18-29 anos),


Sobre o ânimo da população geral:
os percentuais são ainda mais alarmantes:

40% se sentiram 54% se sentiram


tristes/deprimidos*; tristes/deprimidos*;

54% se sentiram 70% se sentiram


ansiosos/nervosos*. ansiosos/nervosos*.

*Frequentemente (muitas vezes ou sempre).

Tal aumento do estado depressivo pode estar relacionado ao crescimento do


consumo de álcool relatado.

18% dos entrevistados O maior índice (26%)


afirmaram estar ingerindo foi registrado na faixa
mais bebidas alcoólicas etária de 30 a 39 anos;
nesse período:
• 18,4% entre homens;
• 17,7% entre mulheres. e o menor índice
(11%) entre idosos.

Quanto à motivação para beber mais, quanto maior a frequência dos sentimentos
de tristeza e depressão, maior o aumento do uso de bebidas alcoólicas, atingindo
24% das pessoas que têm se sentido dessa maneira durante a pandemia.

Infográfico sobre os impactos da pandemia de Covid-19 no consumo de álcool


Fonte: Organizado pelos autores.

25
Unidade 1

A recomendação dos pesquisadores é que haja uma redução da disponibilidade de


álcool e sensibilização quanto aos perigos do consumo dessa substância em um
período atípico como o que se vive em 2020.29,30 Tal recomendação foi endossada
pela OMS.32

Assim sendo, esse é certamente um ponto de atenção para profissionais de saúde como um
todo, dada a conhecida relação entre padrões nocivos de uso de álcool e sua relação com
mais de 200 tipos de doenças e lesões.1

26
Unidade 1

Para concluir
O consumo de álcool não afeta a todos de maneira homogênea. Como apresentado ao longo
da seção, alguns segmentos da população são mais vulneráveis, seja por um aspecto mais
fisiológico, como é o caso do sexo biológico e da idade, seja pelo contexto em que se encon-
tram, como é o caso dos universitários e de jovens, adultos e idosos durante a pandemia de

Covid-19.

Com relação ao sexo biológico e idade, esses são fatores que influenciam sobremaneira os
efeitos do álcool; pautam desde a diferença de recomendações de consumo moderado até a
recomendação de que crianças e adolescentes não devem consumir álcool.

Além dessas condições amplamente biológicas, existem fatores ambientais que afetam a re-
lação entre o indivíduo e o álcool. Devido ao cenário atual da pandemia de Covid-19, e tam-
bém devido às consequências que permanecerão após a pandemia, a consideração destes
fatores ambientais deve ser ainda mais salientada: com o isolamento social e a redução do
poder econômico de larga parte da população, é esperado um aumento de consumo nocivo
de álcool, especialmente em pessoas com alguns sintomas frequentes nesse cenário, como
depressão e ansiedade.

27
Unidade 1

Transtornos mentais e comportamentais


devido ao uso de álcool (CID-10 F10)
Etiopatogenia
Como de hábito nos transtornos mentais, a etiopatogenia dos transtornos relacionados ao
uso de álcool é multifatorial e pode ser melhor entendida dentro do modelo biopsicosso-
cial.33 No que toca à explicação etiopatogênica, portanto, o modelo agrupa os fatores pre-
disponentes para o aparecimento de um transtorno mental dentro dos campos biológico,
psicológico/comportamental e social, a serem melhor explicados na figura abaixo, toque em
cada fator para conhecê-lo.

28
Unidade 1

Figura 1. A formulação biopsicossocial

Fatores biológicos:

entendidos como predisposições


genéticas e condições físicas, incluindo
modificações em neurocircuitos.

Biológico
• predisposições genéticas
• condições físicas

• temperamento • raça

Saúde
mental

Psicológico Social
• maneiras de • influência dos pares
enfrentamento • mensagens sociais
• habilidades sociais • relações
familiares

Fatores psicológicos/comportamentais: Fatores sociais:

padrões comportamentais, valores valores, influências e tendências


individuais, capacidades cognitivas. encontradas dentro do contexto social
no qual o indivíduo está inserido.

Fonte: Baseado em Campbell W, Rohrbaugh R.33 Retirado de Santana A. 34

29
Unidade 1

O modelo, naturalmente, não é imune a imprecisões e alguns aspectos ficam divididos entre
dois ou mesmo três desses campos, mas, dividindo os polos principais de influência, é uma
ferramenta didática útil.

No que toca à etiopatogenia dos transtornos relacionados ao uso do álcool, temos, portanto,
os fatores detalhados a seguir.

Fatores biológicos
Acredita-se que entre 45-65% da predisposição ao uso nocivo de álcool tenha fundo gené-
tico.35 Os principais genes estudados até o momento seriam o ADH1B e o ALDH2, ambos re-
lacionados à metabolização do álcool. Em populações do Extremo Oriente, variações desses
genes provocariam um comprometimento das enzimas metabolizadoras do álcool, gerando
assim uma diminuição da tolerância da ingesta deste e funcionando como um consequente
fator de proteção ao uso nocivo da substância.35

30
Unidade 1

Fatores psicológicos/comportamentais
Os principais modelos teóricos que explicam a associação entre uso de álcool e característi-
cas psicológicas indicam que essas seriam as da regulação de afeto positivo e regulação de
afeto negativo.36

afeto positivo

Basicamente, o primeiro modelo (afeto positivo) é baseado na busca do indivíduo pelas


sensações positivas desencadeadas pelo uso do álcool, e encontra ressonância em
expressões associadas ao consumo da substância, como “estar alegrinho”, ou no mito do
uso como um “lubrificante social”.

afeto negativo

O segundo modelo (afeto negativo) se baseia no amortecimento de emoções negativas


provocado pelo uso de álcool, e encontra ressonância em expressões como “afogar as
mágoas” ou no mito de “beber para esquecer os problemas”.

Imagem esquemática sobre a regulação de afeto positivo e negativo.

Afora estes modelos, alguns padrões comportamentais como o contato precoce com o ál-
cool37 e o consumo mais intenso ou frequente, também são dignos de nota.

Alguns fatores de personalidade, como a impulsividade38 e a busca por sensações39, tam-


bém são documentados como estando associados ao uso nocivo de álcool.

31
Unidade 1

Fatores sociais
O consumo de álcool é um dos comportamentos cujo fundo social é mais bem estudado.36 A
exposição ao uso de álcool intrafamiliar, na infância, e por pares, na adolescência e no início
da idade adulta, são fatores de risco bem documentados e com forte associação ao uso no-
civo de álcool.

Entre os modelos sociais teóricos estudados, destacam-se a socialização e a causa e sele-


ção.36

socialização

O primeiro (socialização), mais prevalente, constata que comportamentos difundidos em


um grupo (como o uso de álcool) tendem a se disseminar por entre os membros deste
grupo, por influência dos pares, modelação e busca por maior aceitação social.

causa e seleção

O segundo (causa e seleção) é utilizado para explicar a intensificação do uso de álcool entre
indivíduos que já utilizam-no intensamente: isso pode servir como um elemento de
aproximação e identificação entre indivíduos que já possuiriam um comportamento nesse
sentido, destoante do resto do grupo, e que consequentemente estimularia o uso ainda
mais intenso do álcool, como elemento de identificação, e assim por diante.

Imagem esquemática sobre os modelos socialização e causa e seleção.

Do ponto de vista cultural, entende-se que crenças difundidas em determinados grupos cul-
turais40, seja no sentido de “enaltecer” ou “glorificar” (exemplo: atribuir ao mesmo melho-
res resultados sociais ou sexuais) o uso do álcool, seja no sentido de “vilanizá-lo” (exemplo:
classificá-lo como uma substância perigosa; tornar o seu uso um pecado, de acordo com a
religião vigente naquele grupo) também possuem consequências perceptíveis no padrão de
uso daquele grupo.

32
Unidade 1

Modelo holístico (ou a combinação dos fatores biológicos,


psicológicos e sociais)
Como já ressaltado, o modelo bio-psico-social, assim departamentalizado, serve como um
bom ponto de partida para a compreensão dos fatores etiológicos do uso nocivo de álcool,
mas o entendimento mais abrangente destes deve permitir o trânsito entre os referidos
campos, e a consequente compreensão dos fatores biopsicossociais como dentro de um
continuum de influências entre as referidas partes.

Um dos pontos mais importantes, neste sentido, é o fenômeno da tolerância.

O uso frequente de álcool


para se atingir um
determinado estado psíquico
leva à necessidade de
elevação da dose para níveis
cada vez maiores para se
atingir o mesmo estado.41

Imagem esquemática do fenômeno da tolerância.

Temos um padrão comportamental, portanto, gerando alterações biológicas, em nível de


permeabilidade de membrana celular, prontidão da ativação de receptores e epigenética,
cuja explicação extrapolaria o escopo desta aula.

Um segundo ponto, que combina os fatores biológico e comportamental, é o fato de que


após os primeiros momentos de um uso reforçado pelo anteriormente citado afeto positivo,
sintomas de abstinência, conhecidos como “o lado negativo do etilismo”42 levam a um uso,
agora, para cessação dos sintomas associados à abstinência, reforçando assim o ciclo de
dependência química.

33
Unidade 1

Figura 2. Esquema didático do ciclo de uso nocivo de álcool

Tomar outra
dose da droga
Sentir-se bem!
ou consumir
mais álcool.

O efeito da droga
acaba/diminui;
sintomas de retirada;
sentir-se mal.
Quebre
o círculo!

Fonte: Adaptado de Drug detox – how to stop taking drugs safely – detox plus UK. 43

Outros pontos dignos de nota neste movimento translacional relatado dentro do círculo biop-
sicossocial seriam: o fato de, dentro da teoria social “causa e seleção”, termos também
indivíduos com dificuldades sociais utilizando o álcool como ferramenta de identificação e
inserção social, e termos também diversos fatores parentais possuindo correlação estatís-
tica com o consumo nocivo de álcool pelos filhos. Aqui, encontramos tanto fatores de risco,
principalmente relacionados ao uso de álcool pelos pais, quanto de proteção, igualmente
resumíveis em torno de uma parentalidade positiva.44

34
Unidade 1

Diagnóstico
O diagnóstico dos transtornos relacionados ao uso de álcool é clínico e se baseia eminente-
mente no relato do paciente em questão e/ou de seus familiares e acompanhantes.

O exame clínico e exames laboratoriais devem servir basicamente para corroborar


dados que já tenham sido coletados na avaliação.

Dentro do sistema de saúde brasileiro (independentemente de ser na esfera pública ou pri-


vada), a Classificação Internacional de Doenças (CID), atualmente em sua décima atualização
(CID-10)45 é o manual oficial para padronização de diagnósticos.

Como veremos adiante, porém, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais


(DSM), da Associação Americana de Psiquiatria, atualmente em sua quinta versão (DSM-5)46,
é comumente utilizado em pesquisas e como referência técnica nos diagnósticos em saúde
mental.

35
Unidade 1

Uso nocivo e dependência de álcool na CID-10


A CID-10 divide o consumo regular patológico de álcool em dois diagnósticos: o uso nocivo de
álcool (F10.1) e a Síndrome de Dependência de Álcool (F10.2). Observe o esquema a seguir.

Uso nocivo de álcool (F10.1)


• diagnóstico de exclusão
Consumo
regular patológico
de álcool Síndrome de Dependência
de Álcool (F10.2)
• diagnóstico mais grave

Imagem esquemática sobre os possíveis diagnósticos para o


consumo regular patológico de álcool conforme a CID-10.

Distinção sobre o diagnóstico de uso nocivo de álcool (CID-10 F10.1) versus o


conceito de uso nocivo de álcool:
o primeiro representa um diagnóstico de um transtorno que um indivíduo pode
desenvolver a partir do uso pesado e crônico da substância, e corresponde ao
diagnóstico de abuso de álcool do DSM-IV. Já o segundo é um conceito mais amplo
adotado pela OMS para reconhecer o consumo de álcool que é prejudicial não
somente ao bebedor, mas também a terceiros.

Como veremos mais adiante, o diagnóstico de dependência seria mais grave, e o primeiro
(uso nocivo de álcool), um diagnóstico de exclusão para o encaixe de indivíduos que, embora
possuindo uma relação disfuncional com o álcool, não preenchem critérios para a dependên-
cia da substância dentro das especificações deste manual.

36
Unidade 1

Síndrome de Dependência de Álcool na CID-10 (F10.2)

Quadro 4. Critérios para diagnóstico da Síndrome de Dependência de Álcool

A. Três ou mais das seguintes manifestações devem ter ocorrido conjuntamente por pelo menos
1 mês ou, se persistindo por menos de 1 mês, elas devem ter ocorrido em conjunto, repetidamente,
dentro de um período de 12 meses.

1. Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância.


2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, término
ou níveis de consumo.
3. Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado
por: síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância (ou de
uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência.
4. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas
para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas.
5. Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância psicoativa: aumento da
quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos.
6. Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente
nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas e estado de humor
depressivo decorrente de períodos de consumo excessivo.

Resumo didático
3 ou mais dos seguintes sintomas:
• tolerância;
• compulsão;
• perda de controle;
• síndrome de abstinência;
• negligência de atividades/tempo gasto;
• uso apesar do prejuízo.

Fonte: Organizado pelos autores.

37
Unidade 1

Uso nocivo de álcool na CID-10 (F10.1)

A. Evidência clara de que a substância (no caso, o álcool) foi


responsável por (ou contribuiu substancialmente para) dano
físico ou psicológico, aí incluindo prejuízo da capacidade de
julgamento ou comportamento disfuncional.

B. A natureza do dano deve ser claramente identificável (e


especificada).

C. O padrão de uso persistiu por pelo menos 1 mês ou ocorreu


repetidamente dentro do período de 1 mês.

D. O transtorno não preenche critérios para nenhum outro


transtorno mental ou comportamental relacionado à mesma
substância dentro do mesmo período (exceto pela intoxicação
aguda por álcool – F10.0).

Imagem esquemática dos critérios para diagnóstico do uso nocivo de álcool conforme a CID-10.

38
Unidade 1

Raciocínio clínico na elaboração do diagnóstico


Como discutido anteriormente, portanto, recomenda-se que, para indivíduos com uma re-
lação detectada como problemática em qualquer natureza, os critérios diagnósticos da Sín-
drome de Dependência de Álcool (CID-10 F10.2) sejam investigados. Não sendo os mesmos
preenchidos, deve-se proceder à aplicação dos critérios do uso nocivo de álcool (CID-10
F10.1) .

Uma forma didática de entender o papel de ambos os diagnósticos na classificação do uso de


álcool de forma problemática em indivíduos se dá pelo gráfico exposto abaixo.

Gráfico 1. Os chamados “quadrantes de uso”

PROBLEMAS

Uso nocivo
ou abuso

Dois Um

Dependência
CONSUMO
Consumo de
baixo risco

Três Quatro

Não existe uma situação


onde há dependência e
nenhum problema.
Fonte: Adaptado de Alves A.47 Baseado em Gigliotti A, Bessa MA.; 48
Edwards G, Gross MM. 49

39
Unidade 1

O gráfico expõe, portanto, no eixo horizontal, o padrão de consumo, e no eixo vertical, a no-
cividade do uso. O diagnóstico de dependência corresponderia ao denominado Quadrante 1,
de dependência com nocividade, lembrando que o Quadrante 4 seria um quadrante virtual: a
dependência de álcool sendo um transtorno mental, pois não há dependência sem prejuízo.

O Quadrante 3 (baixo consumo, baixa nocividade) meramente designa os indivíduos sem um


consumo patológico de álcool. Resta, portanto, o Quadrante 2: indivíduos que, embora en-
contrando prejuízos significativos no consumo de álcool, não preenchem critérios para um
quadro de dependência dele. São indivíduos que, por exemplo, dirigem embriagados, apre-
sentam comportamento inadequado durante o período de intoxicação, ou que fazem uso de
álcool mesmo com uma condição que deveria vedar o uso (exemplos: gestação, insuficiência
hepática etc.). É para indivíduos neste cenário, portanto, que o diagnóstico de uso nocivo de
álcool se faz necessário.

40
Unidade 1

DSM-5
Aqui, é válido ressaltar, como foi dito, que a CID-10 é a classificação diagnóstica oficial vi-
gente, e que a sua capacidade de aplicação dos critérios diagnósticos basta, ou seja, não é
necessário o conhecimento de outros manuais ou versões.

Entretanto, entende-se, pelo fato de a classificação vigente datar de 1994 e pela previsão
de atualização dos critérios (com a CID-11) estar dentro do próximo quinquênio50, que a dis-
cussão de tendências na compreensão científica do uso prejudicial de álcool seja relevante.

O DSM-5 e o Transtorno por Uso de Álcool


A primeira grande diferença entre a classificação do DSM-5 em relação à CID-10 quanto aos
diagnósticos de uso patológico de álcool se dá na nomenclatura: inexiste, no DSM-5, o diag-
nóstico de dependência de álcool ou uso nocivo do mesmo, e um diagnóstico mais abrangente
(Transtorno por Uso de Álcool) ocupa o nicho dos dois diagnósticos anteriores, de abuso e
dependência de álcool (DMS-IV). Os critérios diagnósticos em si são frequentemente análo-
gos aos encontrados na Síndrome de Dependência de Álcool (F10.2) e no critério A do uso
nocivo de álcool (F10.1).

O Transtorno por Uso de Álcool se propõe a ser um diagnóstico abrangente, e de certa for-
ma espectral, que abarca desde o indivíduo com um grau leve de sintomas até o outro com
uma grave dependência. A gravidade do transtorno é classificada conforme a quantidade de
critérios preenchidos.

Gravidade do transtorno:

• leve: se com 2 a 3 sintomas;

• moderada: se com 4 ou 5
sintomas; e

• grave: se com 6 ou mais


sintomas.

Imagem esquemática sobre os especificadores de gravidade no diagnóstico de transtorno por uso de


álcool no DSM-5

41
Unidade 1

Articulação com o sistema de saúde brasileiro


O Sistema de Saúde Brasileiro pode ser dividido entre o SUS, universal, público e gratuito; e
sistema privado de saúde, compreendido pela saúde suplementar (composta por planos de
saúde, convênios etc.) e os chamados prestadores autônomos.

Considerando que 70% dos brasileiros não possuem acesso a outro sistema de saúde que
não o SUS53, e que os outros 30% se encontrariam pulverizados entre diversas redes, foca-
remos nossa atenção na articulação dos transtornos relacionados ao uso de substâncias no
SUS.

Atenção aos transtornos relacionados ao uso de substâncias no SUS

Dentro dos preceitos teóricos vigentes, o SUS possui uma hierarquização da atenção onde a
maior parte dos casos deve ser atendida na chamada Atenção Primária. Casos que inspirem
maior complexidade podem ter de ser encaminhados para níveis de cuidado cada vez mais
dispendiosos e específicos, seguindo a chamada “pirâmide” de complexidade do SUS, con-
forme apresentada abaixo.

Figura 3. A chamada “pirâmide” da Rede de Atenção à Saúde do SUS

ALTA
COMPLEXIDADE

MÉDIA
COMPLEXIDADE

ATENÇÃO BÁSICA

42
Unidade 1

Os equipamentos de saúde responsáveis pela maior parte dos casos de transtornos relacio-
nados ao uso de álcool devem se situar na Atenção Básica, portanto. No caso do SUS, e para
os referidos transtornos, estes equipamentos seriam as UBS, alinhadas à Estratégia de Saú-
de da Família (ESF), e os CAPS- AD, pertencentes à chamada Rede de Atenção Psicossocial,
também alinhados a uma política de atenção à saúde comunitária, como veremos melhor a
seguir.

Estratégia de Saúde da Família (ESF)


Na esteira de uma longa trajetória histórica de valorização à Atenção Primária e implantada
como ponto estratégico de políticas de saúde pelo Ministério da Saúde em 199456, a Estra-
tégia de Saúde da Família coloca a Unidade Básica de Saúde como ponto fulcral de todo o
sistema de saúde brasileiro.

Pontos positivos: as diretrizes


Traduzindo algumas das diretrizes desta política, ao que toca o assunto em pauta, a Estraté-
gia de Saúde da Família é uma política que defende o foco na Medicina preventiva, integrativa,
longitudinal, focada no ser humano, resolutiva e integrada à comunidade onde se insere55.

43
Unidade 1

A aplicação destes princípios se mostra uma excelente ferramenta para o cuidado com o
uso nocivo de álcool. Sabemos que, com menos de 10% dos pacientes com critérios para
transtorno por uso de álcool recebendo qualquer tipo de tratamento, este seria considerado
o grupo de transtornos mentais com menor índice de população em tratamento57,58. Nesse
sentido, a ESF pode auxiliar enormemente na superação de barreiras.

Alguns dos pontos importantes que podem ser ajudados pela ESF podem ser vistos no quadro
a seguir.

Quadro 5. Pontos importantes que podem ser ajustados pela ESF

• A ausência de consciência do paciente sobre a gravidade do problema.

No contexto da Atenção Primária, pacientes que venham para uma consulta de rotina podem (e devem)
ter o seu padrão de consumo de álcool questionado, e pacientes com queixas clínicas com relação
possível com o uso de álcool podem ter este problema igualmente detectado, se feita uma anamnese
cuidadosa.

• Estigma em relação ao problema.

Sabe-se que a chamada psicofobia (estigma e preconceito em relação a tudo que for relacionado à
saúde mental, notadamente diagnósticos psiquiátricos) ainda é uma barreira importante à procura de
ajuda, e, embora este preconceito esteja vendo avanços em outros campos, no caso do uso nocivo de
álcool essa estigmatização teve avanços muito mais tímidos.59 Neste sentido, o estabelecimento de
um vínculo com um profissional de saúde não especialista focal no assunto e mesmo uma abordagem
indireta (falando sobre os problemas clínicos que circundam o uso de álcool, por exemplo) podem ser
bem bastante eficazes.

• Barreiras na obtenção de ajuda.57

A universalidade do acesso, associada à localização geográfica e mesmo à possibilidade de acolhimento


sem consulta marcada na UBS55 também são facilitadores importantes. Secundariamente, o fato de a
equipe de saúde estar inserida na comunidade pode levar à obtenção de informações que os chamados
“pacientes-índice” poderiam relutar em dar em primeira mão: queixas trazidas por familiares,
observação de comportamentos por parte de agentes comunitárias de saúde etc.

Fonte: Organizado pelos autores.

44
Unidade 1

Pontos de melhoria: alguns dados da realidade


Em que pese, como mencionado, os diversos pontos positivos da atenção ao uso nocivo de
álcool pela Equipe de Saúde da Família, também sabemos que a atenção dada neste sentido
possui, na realidade, algumas deficiências. Na Atenção Primária, a principal deficiência do
tratamento de pacientes com uso nocivo de álcool é, de fato, a capacitação técnica dos pro-
fissionais para lidar com o referido grupo de patologias.

Você sabia?
Estudos europeus mostram, por exemplo, que menos de 6% dos pacientes aos
quais o rastreamento se aplicava fizeram de fato o rastreamento para transtornos
relacionados ao uso de substâncias58, e o diagnóstico, quando feito, muitas vezes
é baseado em observações anedóticas, como chegada do paciente com os olhos
vermelhos, volume de uso de álcool e aumento de enzimas hepáticas, ao invés de
critérios diagnósticos existentes.58

45
Unidade 1

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e os CAPS-AD


Como contraponto ao modelo manicomial vigente no Brasil, entre a década de 1970 e 1980,
se iniciou uma corrente filosófica e política que pensava numa forma diferente de tratar os
pacientes portadores de transtornos mentais: nascia o chamado movimento antimanico-
mial.60

Na carona desse movimento, surgiram centros que buscavam oferecer tratamento a pa-
cientes portadores de transtornos mentais graves a ponto de impedirem uma vida funcional
satisfatória (por exemplo: ter um emprego formal), mas com condições de conviverem em
sociedade, em modelo comunitário: ali surgiam os chamados Centros de Atenção Psicosso-
cial, ou CAPS.61

Um dado importante a ser reiterado em relação aos CAPS é que os mesmos possuem pacien-
tes portadores de “intenso sofrimento psíquico”61: são pacientes portadores de transtornos
mentais graves, não raro com histórias de múltiplas internações psiquiátricas, cujo trata-
mento proposto pelo CAPS costuma se dar de forma intensiva (diária ou algumas vezes por
semana, em horário comercial, na maioria das vezes.).61

Nesse cenário, portanto, em 2002, surgiram os chamados CAPS-AD, voltados para a popula-
ção que faz uso de álcool e outras drogas. Embora esta corrente de pensamento esteja sen-
do objeto de mudanças nos últimos anos (como será visto melhor no módulo 02), os CAPS-AD
são um equipamento de saúde fortemente baseado na política de redução de danos61:

parte do trabalho feito consiste justamente na adesão do paciente à intensa grade


de atividades terapêuticas, para que o mesmo reduza o tempo de uso de álcool e
outras substâncias e, eventualmente, se engaje em atividades mais positivas e sem
relação com esse uso.

Infelizmente, o acúmulo de conhecimento sobre os tratamentos realizados nos CAPS-AD ao


longo desses quase 20 anos não encontraram caminho para uma produção científica objetiva
que permitisse aferir a eficácia dos mesmos: temos poucos estudos quantitativos, a maioria
dos artigos abordando o assunto são de caráter qualitativo. 62,63

46
Unidade 1

Para concluir
Nesta seção, enfim abordamos como a Saúde lida com problemas relacionados ao consumo
de álcool. Por meio de manuais diagnósticos, vimos que é possível obter um corpo de litera-
tura, com ampla consonância.

A complexidade da temática ficou evidente: consideramos desde aspectos moleculares até


tendências culturais que podem afetar o modo como o indivíduo se relaciona com o consumo
de álcool.

Sob esse prisma da complexidade, devemos sempre considerar esses manuais como guias
norteadores, mas que, todavia, não conseguem – e nem tentam – escrutinar cada particula-
ridade do indivíduo diagnosticado. Há sempre características que irão escapar das conside-
rações delineadas nos manuais, mas que, ainda assim, não retiram o imenso valor que essas
padronizações diagnósticas possuem.

47
Unidade 1

Considerações finais
Ao longo desta unidade, abordamos conceitos fundamentais para o entendimento do consu-
mo de álcool em nossa sociedade. Ao longo da construção dos conceitos, fizemos uma linha
semelhante ao funcionamento de uma empreitada científica: partimos do básico e chegamos,
por fim, em questões mais práticas.

Pense no que foi abordado nesta última seção. A consistência entre os estudos que tornaram
possível as categorias diagnósticas relacionadas ao consumo de álcool não seria possível se
não existisse uma concordância, por parte de pesquisadores ao redor do mundo, sobre o que
é uma dose padrão e o que são padrões de consumo. Os conceitos aqui abordados, portanto,
percorrem um enorme caminho de pesquisa, e uma noção básica destas etapas é extrema-
mente salutar para qualquer profissional da Saúde que lide com a temática do consumo de
álcool.

48
Unidade 1

Exercícios de Fixação

Você finalizou o conteúdo multimídia. Que tal testar o seu conhecimento sobre
os assuntos discutidos nessa unidade?

Responda aos exercícios a seguir e, caso julgue necessário, releia o conteúdo.

1. O que é uma dose padrão?

A. É a dose que o indivíduo mede de acordo com seu consumo, sendo relevante para
estabelecer a frequência de uso (semanal ou mensal).

B. É uma quantidade definida de álcool puro, com equivalência entre os diferentes tipos
de bebida. A partir disso, padrões de consumo podem ser objetivamente definidos.

C. Dose padrão é a média do padrão de consumo de uma população, para estabelecer o


uso de álcool na vida, no último ano e no último mês.

D. Dose padrão é a quantidade de álcool puro presente em uma embalagem de bebida,


sem equivalência entre os diferentes tipos de bebida.

2. Quais as principais populações vulneráveis ao consumo ou aos efeitos do álcool?

A. Adultos que não conseguem beber muito.

B. Mulheres idosas.

C. Idosos, mulheres, crianças e adolescentes.

D. São somente aquelas que apresentam dependência.

49
Unidade 1

3. O que é a formulação biopsicossocial? Como ela se relaciona com os transtornos rela-


cionados ao consumo de álcool?

A. É uma ferramenta para a compreensão dos fatores etiológicos do uso nocivo de ál-
cool, considerando aspectos fisiológicos, comportamentais e culturais.

B. É uma formulação que permite determinar comorbidades biológicas, psicológicas e


sociais.

C. É uma forma de entender o consumo de álcool, permitindo a descoberta de novas


categorias diagnósticas.

D. Não se articula com os transtornos relacionados ao uso de álcool, pois estes têm
uma etiopatogenia definida e única: o álcool. Não há outros fatores que influenciam
o uso nocivo dessa substância.

4. De acordo com a CID-10, qual a diferença entre uso nocivo e dependência de álcool?

A. São a mesma categoria diagnóstica, sendo que o “uso nocivo” refere-se ao compor-
tamento e a “dependência” refere-se ao indivíduo.

B. Uso nocivo não está presente na CID-10, apenas dependência. Uso nocivo é uma ca-
tegoria utilizada apenas em estudos.

C. Um é pior que o outro, sendo que a dependência só pode ser diagnosticada a partir
da confirmação do diagnóstico prévio de uso nocivo.

D. O diagnóstico de uso nocivo de álcool abrange indivíduos que apresentam uma rela-
ção disfuncional com o álcool; porém, não preenchem critérios para a dependência
da substância.

50
Unidade 1

5. Quais as principais repercussões da pandemia de Covid-19 no que se refere ao consumo


de álcool?

A. Não há repercussões relacionadas ao álcool.

B. Pesquisadores vislumbram possibilidades tanto de aumento de consumo para algu-


mas populações (associado ao aumento de estresse), como de diminuição de uso
geral (por redução do poder aquisitivo).

C. Com o aumento da depressão e da ansiedade, a pandemia irá reduzir drasticamente


o consumo de álcool em toda a população.

D. Com o aumento da depressão e da ansiedade, a pandemia irá aumentar drasticamen-


te o consumo de álcool em toda a população.

51
Unidade 1

Gabarito
Questão 1:

Alternativa Correta: B
Comentário:
Dose padrão é a unidade de medida que define a quantidade de etanol puro contido nas
bebidas alcoólicas. Uma dose padrão equivale, em geral, a uma determinada quantidade de
álcool e, de acordo com o teor alcoólico das bebidas, pode equivaler a volumes maiores ou
menores. Isso significa que, para uma bebida com maior teor alcoólico, menor o volume de
uma dose padrão.

Questão 2:

Alternativa Correta: C
Comentário:
Como discutido na seção 3 da Unidade 1, o álcool não afeta a todos de maneira homogênea.
Entre os fatores biológicos, a idade e o sexo biológico são muito importantes. Por esse
motivo, crianças, adolescentes, idosos e pessoas do sexo feminino merecem especial
atenção.

Questão 3:

Alternativa Correta: A
Comentário:
Como articulado na seção 4 da unidade 1, a etiopatogenia dos transtornos relacionados ao
uso de álcool é multifatorial, e pode ser melhor entendida dentro do modelo biopsicossocial.
No que toca à explicação etiopatogênica, portanto, o modelo agrupa os fatores
predisponentes para o aparecimento de um transtorno mental dentro do campo biológico
psicológico/comportamental, e social.

52
Unidade 1

Questão 4:

Alternativa Correta: D
Comentário:
Uso nocivo e dependência, enquanto categorias diagnósticas, são essenciais para a prática
dos profissionais de saúde que lidam com a temática, assim como para os pesquisadores
que estudam o tema. A CID-10 divide o consumo regular patológico de álcool em dois
diagnósticos: o uso nocivo de álcool (F10.1) e a Síndrome de Dependência de Álcool (F10.2).

Questão 5:

Alternativa Correta: B
Comentário:
A situação epidemiológica do consumo de álcool durante a pandemia de Covid-19 ainda está
sendo avaliada, mas sabe-se que as medidas implementadas pelos governos com o intuito de
impedir a propagação do vírus – em especial, o isolamento social – além do próprio cenário
da pandemia, associado ao aumento de estresse, ansiedade e incertezas, podem agravar o
uso nocivo de álcool.

53
Unidade 1

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