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ALCOOLISMO EM IDOSOS
SILVANA DE ARAÚJO SILVA

Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
 revisar a terminologia utilizada em alcoolismo;
 avaliar a epidemiologia do alcoolismo na terceira idade;
 identificar as particularidades do diagnóstico do alcoolismo no idoso;
 listar as complicações do alcoolismo no idoso;
 sistematizar o atendimento ao paciente idoso com história de alcoolismo.

Esquema conceitual
Introdução
O alcoolismo no idoso é uma condição de grande relevância em função de sua alta
prevalência (ainda que menor do que na fase adulta), do subdiagnóstico e das graves
complicações, afetando a saúde física, psíquica, familiar e social do idoso.
Os desafios presentes no envelhecimento estão bastante implicados no gatilho ou na
intensificação do hábito de beber: solidão, isolamento social, perdas como viuvez,
aposentadoria, dificuldade financeira e frustrações durante todo seu ciclo de vida são
situações comuns que contribuem para o alcoolismo.
As mudanças fisiológicas do próprio processo de envelhecimento aumentam a
sensibilidade do idoso ao álcool, em função da menor reserva hídrica e maior tendência
à desidratação, da redução da massa muscular corporal, da alteração da capacidade de
metabolização hepática e da função renal. Com isso, a interação droga-medicamento
deve ser sempre lembrada, podendo o álcool potencializar o efeito de outras substâncias
em uso pelo paciente.
O diagnóstico do alcoolismo é, com frequência, bastante complexo, começando pela
dificuldade do próprio idoso e dos familiares em reconhecer o problema e procurar
ajuda e em função da atribuição errônea de seus sintomas ao estigma de “serem normais
da idade” ou devido a outras comorbidades presentes.
São frequentes consequências como a incoordenação motora, levando a quedas e
traumatismo — sendo os mais prevalentes, inclusive em unidades de emergência, o
traumatismo craniencefálico e as fraturas,1 além de suicídio, homicídio, déficit
cognitivo, piora do controle ou surgimento de comorbidades como diabetes, hipertensão
arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca, insuficiência hepática, neoplasias,
osteoporose e transtornos do humor.2
Para que o tratamento seja adequadamente proposto ao paciente, de forma
individualizada e interdisciplinar, o rastreamento do alcoolismo durante a anamnese se
torna ponto crucial. Dependendo do padrão e da extensão do uso da substância, os
pacientes idosos podem requerer desde intervenções breves e menos intensivas até
internações prolongadas para sua maior segurança, enfatizando abordagens não
confrontacionais.3

Terminologia
O Quadro 1 apresenta alguns termos utilizados na descrição do alcoolismo.
Quadro 1
TERMOS UTILIZADOS NA DESCRIÇÃO DO ALCOOLISMO
 Uso de quantidade de álcool que coloca o indivíduo
sob risco de consequências à saúde.
 Por definição, esse uso não é tão grave a ponto de
preencher critérios do DSM-5, porém, se o paciente
mantiver o uso, no futuro, preencherá.
 O número e o tamanho das doses variam
internacionalmente, sendo definidos como dose-padrão
14g de etanol.
Uso de risco  Para se ter ideia dessa quantidade, uma lata de cerveja,
por exemplo, tem 17g de álcool; um copo de chope ou
uma taça de vinho têm 10g.
 Para o idoso, é proposto: mais que sete doses-padrão
por semana em média ou mais de três doses-padrão em
algum dia, sendo que quantidades ainda menores de
uso regular de álcool podem resultar em risco,
sobretudo em mulheres.4,5
 Uso de risco que pode resultar ou que já resultou em
Uso insalubre do álcool comprometimento da saúde e presença dos critérios do
DSM-5.
 Beber rápida (dentro de cerca de duas horas) e
compulsivamente grande quantidade de álcool, de tal
maneira que o nível sérico atinja 0,08g/dL.
Binge ou intoxicação  Associa-se com danos agudos, como traumatismo
alcoólica craniencefálico e outras causas externas, assim como
também com risco cardiovascular aumentado.
 É uma síndrome reversível.4,6
 Necessidade de número de doses cada vez maiores de
Tolerância álcool para obter o efeito desejado.
 Termo usado pelo DSM-IV para definir padrão mal-
adaptativo do uso de substâncias, levando a prejuízo ou
Dependência sofrimento clinicamente significativo.
 Diz respeito a sintomas psíquicos, físicos e
comportamentais provocados pelo uso do álcool.6
 Substituição pelo DSM-5 do termo menos abrangente
Transtornos induzidos de “dependência química” presente no DSM-IV, que se
por uso de substância refere mais a fenômenos farmacológicos, nem sempre
(álcool) presente nesses transtornos.6
Abstinência, síndrome  Síndrome específica que ocorre após a interrupção ou
de abstinência ou redução da quantidade de álcool de uso regular durante
síndrome de um período prolongado.
descontinuação
 A síndrome se caracteriza por sinais e sintomas
fisiológicos, além de alterações psicológicas, como
perturbações no pensamento, sentimentos e
comportamento.7

Epidemiologia
Quase 50% dos idosos consomem álcool. Entre estes, 14,5% apresentam consumo de
risco. Do ponto de vista de complicações médicas, 53% de idosos etilistas têm algum
prejuízo, segundo a National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES).8
No Brasil, estudos realizados na comunidade também mostraram taxas altas de
alcoolismo em idosos. Castro-Costa e colaboradores, em pesquisa nacional sobre álcool,
que envolveu 400 pessoas com idade superior a 60 anos, encontraram prevalência de
12% de pessoas classificadas como consumo de risco.9
Blay e colaboradores, em estudo que envolveu 6.961 indivíduos com idade superior a
60 anos do Estado do Rio Grande do Sul, observaram que 10,6% apresentavam
problemas com uso de álcool. Hirata e colaboradores, em estudo em que foram
entrevistados 1.563 idosos, de três regiões da cidade de São Paulo, e aplicado o
questionário CAGE, encontraram prevalência de 9,1% de alcoolismo.9

Em relação ao jovem, na terceira idade há menor prevalência de alcoolismo, muito


provavelmente devido à maior sensibilidade cerebral aos efeitos do álcool, à maior
concentração sérica para a mesma dose de álcool e ao maior número de comorbidades
presentes no idoso. Além disso, grande parte deles iniciou o hábito mais cedo, quando
jovens, e teve óbito mais cedo.

Etiologia
Várias influências genéticas provavelmente se combinam para explicar cerca de 60% da
proporção de risco para alcoolismo, sendo o ambiente responsável pelo restante. Existe
a combinação de uma série de fatores psicológicos, socioculturais e biológicos, entre
outros, por trás do desenvolvimento de problemas graves e repetitivos relacionados ao
álcool.7
Vários fatores de risco têm sido relacionados ao alcoolismo no idoso, como:6,9
 sexo masculino;
 história prévia de consumo de bebidas alcoólicas;
 isolamento social;
 antecedente familiar de alcoolismo;
 depressão;
 ansiedade;
 tabagismo;
 eventos estressantes psicossociais.

Absorção e excreção
Cerca de 10% do álcool consumido são absorvidos pelo estômago, e o restante, pelo
intestino delgado. Após cair na circulação, é distribuído aos tecidos do corpo, sendo
hidrossolúvel. Cerca de 90% do álcool absorvido são metabolizados por meio de
oxidação no fígado; os 10% restantes são excretados inalterados pelos rins e pulmões.7
O álcool é metabolizado por duas enzimas:7
 álcool desidrogenase (ADH), que catalisa sua conversão em acetaldeído (um
composto tóxico);
 aldeído desidrogenase, que catalisa a conversão de acetaldeído em ácido acético.

Quadro clínico e diagnóstico


Por se tratar de doença frequentemente subdiagnosticada (metade dos casos), conforme
discutido, é muito importante pesquisar o hábito em todos os pacientes idosos. Se
presente, deve-se caracterizar a quantidade semanal de álcool ingerida. Com frequência,
esses pacientes procuram assistência médica com sintomas inespecíficos, como:
 quedas repetitivas;
 desnutrição;
 diarreia;
 fraqueza muscular;
 esquecimento;
 labilidade afetiva;
 insônia;
 depressão;
 confusão mental;
 alterações comportamentais;
 HAS de difícil controle;
 hipoglicemia;
 neuropatia periférica.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 5ª edição


(DSM-5), o diagnóstico da intoxicação aguda pelo álcool (embriaguez simples) é feito
quando há ingestão recente associada a comportamento desadaptativo e pelo menos um
dos sintomas: fala arrastada, tontura, incoordenação, instabilidade na marcha, nistagmo,
prejuízo na atenção ou memória, estupor ou coma, visão dupla.10
A intoxicação aguda pode levar a insuficiência respiratória, hipoglicemia grave e
morte.
Outros efeitos frequentes do uso do álcool em longo prazo, que podem levar à alteração
no exame clínico e na propedêutica, são apresentados no Quadro 2.
Quadro 2
COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS E CLÍNICAS DO USO DE ÁLCOOL
 Esteato-hepatite alcoólica, cirrose hepática, varizes esofagianas.
 Esofagite, gastrite, úlceras, pancreatite, insuficiência pancreática.
 Desnutrição, deficiências vitamínicas, sobretudo do complexo B.
 Aumento da pressão arterial, desregulação do metabolismo de lipoproteínas e
triglicerídeos, aumento do risco de miocardiopatia, infarto agudo do miocárdio e
doença cerebrovascular.
 Alteração no sistema hematopoiético.
 Aumento da incidência de câncer (cabeça, pescoço, esôfago, estômago, fígado,
pâncreas, colo, pulmão).
 Delirium, demência, depressão.
// Fonte: Sadock e colaboradores (2017).11
Em homens idosos, o alcoolismo precede a depressão na maior parte dos casos (78%).
Em mulheres idosas, ocorre mais frequentemente o inverso, ou seja, a depressão
precede o desenvolvimento do alcoolismo em 65% dos casos.9
O Quadro 3 apresenta os critérios para diagnóstico do transtorno induzido pelo álcool,
segundo o DSM-5.
Quadro 3
CRITÉRIOS DO DSM-5 PARA O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO INDUZIDO
PELO ÁLCOOL
Um padrão mal-adaptativo de uso de álcool levando a prejuízo ou sofrimento
clinicamente significativo, manifestado por dois (ou mais) dos seguintes critérios,
ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses:
1. O álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período
mais longo do que o pretendido.
2. Desejo persistente ou esforços malsucedidos existem no sentido de reduzir ou
controlar o uso de álcool.
3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção do álcool, na
utilização do álcool ou na recuperação de seus efeitos.
4. Fissura, desejo intenso ou urgência em consumir álcool (craving).
5. Uso recorrente de álcool resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes
relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa.
6. O uso de álcool continua, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes
ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos do álcool.
7. Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou
reduzidas em virtude do uso de álcool.
8. Uso de álcool recorrente em situações nas quais isso representa perigo físico.
9. O uso de álcool continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo
álcool.
10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
a) necessidade de quantidades progressivamente maiores de álcool para adquirir a
intoxicação ou o efeito desejado;
b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de
álcool.
11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
a) síndrome de abstinência característica para a substância (consultar critérios A e
B dos conjuntos de critérios para abstinência do álcool);
b) o álcool (ou uma substância estreitamente relacionada, como
benzodiazepínicos) é consumido para aliviar ou evitar sintomas de abstinência.
A classificação da gravidade baseia-se na quantidade de critérios do DSM-5
preenchidos pelo indivíduo:
 Leve — presença de 2 a 3 sintomas.
 Moderada — presença de 4 a 5 sintomas.
 Grave — presença de 6 ou mais sintomas.
// Fonte: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (2014).12
A síndrome de abstinência pode ser grave, mesmo na ausência de delirium, e inclui:13
 tremores (6 a 8 horas após a interrupção do consumo);
 convulsões (12 a 24 horas após);
 delirium tremens (DT) (durante as primeiras 72 horas até 1 semana);
 sintomas de hiperatividade simpática autonômica (ansiedade, excitação,
sudorese, rubor facial, midríase, taquicardia e HAS leve);
 irritabilidade;
 náusea e vômitos;
 sintomas psicóticos e de percepção (como delírios e alucinações).

Embora o consumo noturno de álcool possa reduzir a latência do sono e levar ao


adormecimento mais rapidamente, há maior fragmentação do sono e alteração de sua
arquitetura, reduzindo o sono da fase de movimentos oculares rápidos (em inglês, rapid
eye movement [REM]) e o sono profundo não REM (estágio 4). O paciente deve ser
orientado em relação a essa situação.
São poucos os instrumentos diagnósticos de alcoolismo validados para a população
idosa. O questionário CAGE é um dos mais estudados e deve ser aplicado. São quatro
perguntas, sendo que o teste é positivo quando há duas respostas positivas.8
Como as perguntas, porém, referem-se ao abuso e à dependência, com baixa
sensibilidade para o uso de risco ou insalubre do álcool (neste caso, sensibilidade de
53% e especificidade de 70%), recomenda-se, quando o questionário CAGE for usado
como rastreio, já considerar como suspeita de alcoolismo (teste positivo) quando há
uma única resposta positiva:8
 C (cut down) — alguma vez o(a) Sr.(a) sentiu que deveria diminuir a quantidade
de bebida ou parar de beber?
 A (annoyed) — as pessoas o(a) aborrecem porque criticam o seu modo de
beber?
 G (guilty) — o(a) Sr.(a) se sente culpado(a) pela maneira com que costuma
beber?
 E (eye-opener) — o(a) Sr.(a) costuma beber pela manhã para diminuir o
nervosismo ou a ressaca?
Outro teste validado é a versão geriátrica do Michigan Alcoholism Screening Test
(MAST-G), que é o único instrumento desenvolvido especificamente para screening de
alcoolismo em idosos. É um teste constituído de 24 questões com resposta do tipo “sim”
e “não”. Uma pontuação maior que 5 é sugestiva de alcoolismo. Apresenta sensibilidade
de 94% e especificidade de 78%.8

O alcoolismo aumenta a incidência e agrava comorbidades no idoso, como HAS,14


doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes,15 cardiopatias, distúrbios gastrintestinais,
entre outras. Também afeta a funcionalidade e a cognição do indivíduo.

ATIVIDADES
1. A necessidade de doses de álcool cada vez maiores para obter o efeito desejado se
refere
a à tolerância.
b à intoxicação alcóolica.
c ao uso de risco.
d à dependência.
Confira aqui a resposta
2. Qual das alternativas a seguir apresenta com mais precisão a média da prevalência de
alcoolismo no idoso?
a 1%.
b 5%.
c 10%.
d 25%.
Confira aqui a resposta
3. Observe as afirmativas sobre as características da ocorrência de alcoolismo no idoso.
I. Cerca de 90% do álcool absorvido são excretados pelos rins.
II. Fatores genéticos estão implicados na etiologia do alcoolismo no idoso.
III. Fatores ambientais estão implicados na etiologia do alcoolismo no idoso.
IV. Fatores psicológicos, socioculturais e biológicos estão relacionados ao alcoolismo
no idoso.
Quais estão corretas?
a Apenas a I e a II.
b Apenas a I, a II e a III.
c Apenas a I, a III e a IV.
d Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
4. Com relação aos instrumentos validados e utilizados para diagnóstico de alcoolismo
na população idosa, observe as alternativas a seguir.
I. Questionário CAGE.
II. MAST-G.
III. Critérios diagnósticos do DSM-5.
IV. Escala de depressão geriátrica.
Quais estão corretas?
a Apenas a I e a II.
b Apenas a I, a II e a III.
c Apenas a I, a III e a IV.
d Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

Prognóstico
Os alcoolistas idosos de início precoce e que sobreviveram até a idade avançada (dois
terços dos casos) apresentam mais alterações psicopatológicas e de personalidade, mais
deterioração física, bem como maior frequência de problemas legais, sociais e
familiares. O tratamento é mais difícil, e o prognóstico, pior. Baseia-se na questão da
dependência.7,9
Os alcoolistas idosos de início tardio (um terço dos casos) se caracterizam por
apresentar início dos problemas com álcool em resposta a eventos estressantes de vida,
como luto, aposentadoria, separação conjugal, entre outros. São pacientes com história
de vida prévia e personalidade bem adaptada. Apresentam menos problemas com
álcool, menos antecedente familiar de alcoolismo e quadro clínico mais leve.7,9

O tratamento dos alcoolistas idosos de início tardio consiste em abordar as questões


psicossociais do envelhecimento. O prognóstico, com isso, é melhor.7,9
O bebedor idoso problemático tem risco de mortalidade, em quatro anos, 2,6 vezes
maior do que os indivíduos abstinentes nessa faixa etária.7,9 O DT não tratado tem
mortalidade de 20%.7

Interações medicamentosas
Algumas interações entre álcool e alguns fármacos podem levar à morte. A interação
com outros depressores do sistema nervoso central (SNC) — sedativos como
benzodiazepínicos, hipnóticos, opioides ou narcóticos — deprime as áreas sensoriais do
córtex cerebral e pode produzir analgesia, sedação, apatia, entorpecimento e sono, sendo
que doses elevadas podem resultar em falência respiratória e morte.7

Como os sedativos e outros fármacos psicotrópicos podem potencializar os efeitos do


álcool, deve-se instruir os pacientes sobre os perigos de se combinar depressores do
SNC e álcool, sobretudo ao dirigir ou operar maquinário.7

Tratamento
Sobre o tratamento do alcoolismo, primeiro deve-se abordar a emergência do paciente,
se houver. Por exemplo, a ideação suicida deve ser abordada com internação
psiquiátrica; as complicações, como encefalopatia hepática, devem ser abordadas com
internações clínicas.
A próxima intervenção consiste no médico persistir em convencer o paciente a
reconhecer as consequências do alcoolismo que já lhe ocorreram e as que estão por vir,
caso o transtorno não seja tratado. Essa fase foca na motivação para o tratamento e a
continuidade da abstinência, que é o principal objetivo.7,16

O tratamento do alcoolismo é complexo, e sua eficácia é maior quanto mais específico e


direcionado às necessidades do paciente, ou seja, individualizado. Apesar da eficácia
permanecer incerta, intervenções breves na atenção primária são recomendadas quando
o paciente é identificado com uso de risco. As recomendações e os conselhos médicos
podem ser tão eficazes quanto os programas de aconselhamento comportamentais para a
redução do uso do álcool.16
Os tratamentos grupais de idosos são mais eficientes do que os grupos mistos, que
incluem jovens. A resposta ao tratamento tende a ser maior quando o paciente é
submetido a programas terapêuticos específicos para o envelhecimento, utilizando
abordagem suportiva, de não confronto, que promova o desenvolvimento de habilidades
para lidar com emoções negativas relacionadas com o envelhecimento.
A terapia cognitivo-comportamental, tão eficaz para idosos quanto para jovens, é
muito útil para o desenvolvimento de habilidades para reagir a eventos estressantes de
vida, frequentes em idosos.9
A prevenção de recaída, uma modalidade terapêutica cognitivo-comportamental
baseada na teoria de aprendizado social, considera que pacientes abstinentes
experimentam sinais internos ou externos que estimulam o desejo de consumir álcool,
levando à recaída. É uma técnica muito utilizada em centros especializados em
dependência, inclusive para população idosa. A terapia de grupo de base suportiva e
a terapia familiar são recursos importantes, e um dos aspectos benéficos de sua ação é
a ênfase no suporte social.9

A família tem papel fundamental no processo de apoio ao paciente, inclusive na


participação em grupos de ajuda, como os alcoólicos anônimos (AA), fortalecendo sua
motivação à desintoxicação e manutenção da abstinência. Deve-se providenciar também
ao paciente descanso, alimentação adequada e reposição de vitaminas, especialmente a
tiamina.
O processo de tratamento ambulatorial ou hospitalar envolve esforços contínuos
para aumentar e manter níveis elevados de motivação para abstinência. Além disso,
deve-se ajudar o paciente a se readaptar a um estilo de vida sem álcool e a prevenir a
recaída.7
Nessa fase de reabilitação, processo contínuo que dura de 6 a 12 meses ou mais, é
muito importante o aconselhamento para o paciente e sua família, bem como:7,17
 entender o que é o alcoolismo;
 aprender a identificar situações de risco;
 desenvolver técnicas de enfrentamento mais apropriadas na prevenção de
recaídas.
Quanto ao tratamento medicamentoso do alcoolismo, poucos estudos foram realizados
em idosos, porém aparentemente os alcoolistas idosos respondem da mesma forma ou
melhor ao tratamento do que adultos/jovens em função da maior aderência, da maior
estabilidade social, familiar e profissional e da menor gravidade, em geral. A medicação
mais segura e mais estudada para o tratamento do alcoolismo no idoso é a naltrexona
(Quadro 4).9
Quadro 4
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DO ALCOOLISMO APROVADO PELA
FOOD AND DRUG ADMINISTRATION
Recomendação no
Dose Mecanismo de ação Efeitos adversos
idoso/precauções
Naltrexona
50–100mg/  Antagonista do  Bem tolerada,  Náusea, dor
dia receptor eficaz e a mais abdominal,
opioide, segura no idoso. constipação,
impede a  Precaução: uso tontura, cefaleia,
liberação de concomitante ansiedade, fadiga.
dopamina com opioide,  Precipita
induzida pelo doença hepática, abstinência grave
álcool, prejuízo renal, se o paciente for
reduzindo o história de dependente de
desejo (fissura) tentativas de opioides (evitar o
suicídio.
 Doses maiores
de opioides
podem ser
uso nessa
de beber. requeridas,
situação).
levando a
depressão
respiratória mais
prolongada.
Dissulfiram
 Não
recomendado
em idosos
devido ao maior
 Inibe a enzima  Sabor metálico,
risco de
aldeído dermatite, náusea,
complicações,
desidrogenase, taquicardia,
sobretudo em
aumentando sudorese,
doença arterial
250– acetaldeído cefaleia, tontura,
coronariana;
500mg/dia (produto hipotensão,
miocardiopatia
por 1–2 tóxico). convulsão,
grave.
semanas  Leva a uma descompensação
 Interação
Manutenção: reação de cardiovascular,
medicamentosa:
250mg/dia rubor, suor, hepatite, neurite
metronidazol,
náusea e óptica, neuropatia
amitriptilina,
taquicardia se o periférica,
varfarina,
paciente ingerir reações
diazepam,
álcool. psicóticas, óbito.
isoniazida,
metronidazol,
fenitoína,
teofilina.
Acamprosato
Dois  Coagonista  Medicamento  Diarreia,
comprimidos parcial dos com potencial flatulência,
de 333mg de receptores para uso em náusea, dor
8 em 8 horas NMDA, que idosos. abdominal,
atuam  Pode ser usado cefaleia, dor nas
normalizando a em hepatopata. costas, infecções,
excitabilidade  Poucos efeitos síndrome de
glutamatérgica colaterais e sem gripe, calafrios,
que ocorre interação sonolência,
precocemente medicamentosa redução da libido,
na abstinência conhecida, amnésia,
alcoólica. porém ainda há confusão,
poucos estudos ansiedade,
em idosos. depressão.
 Precaução na  Raramente:
doença renal suicídio,
crônica, em insuficiência
renal aguda,
insuficiência
cardíaca, oclusão
deprimidos e arterial
com risco de mesentérica,
suicídio. miocardiopatia,
tromboflebite
profunda e
choque.
NMDA: N-metil D-aspartato. // Fonte: Elaborado pela autora.

Não há evidências de que antidepressivos, como inibidores seletivos da recaptação de


serotonina (ISRSs), lítio ou medicamentos antipsicóticos, sejam significativamente
eficazes no tratamento do alcoolismo.7
Apesar do tratamento adequado do alcoolismo ser, em geral, bem-sucedido, até metade
dos pacientes pode recidivar em 1 ano. Recentes pesquisas, realizadas no adulto, sobre a
neurobiologia da dependência mostram que o sistema adrenérgico desempenha papel
importante nesse processo.18
Nesse sentido, um estudo duplo-cego, controlado e randomizado foi realizado com
prazosina. O grupo que recebeu essa medicação não teve maior ocorrência de eventos
adversos e teve maior controle sobre a ingestão semanal de bebidas (menor que três
doses) ao final do estudo. São necessários, porém, estudos em idosos para que possa
haver qualquer recomendação sobre o uso desse fármaco.18
Em revisão sistemática, outra medicação avaliada para tratamento do transtorno
induzido pelo álcool foi o baclofeno. Quando comparado com o acamprosato,
observou-se que o baclofeno aumentou o desejo de beber, não sendo recomendado seu
uso para o tratamento do alcoolismo.19
A seguir, será apresentado o tratamento para as principais complicações provenientes do
alcoolismo no idoso.
Síndrome de abstinência
O melhor tratamento da síndrome de abstinência é a prevenção.7,17

O paciente em abstinência que exibe sintomas de descontinuação deve ser medicado


com benzodiazepínicos (25 a 50mg de clordiazepóxido a cada 2 a 4 horas) até que esteja
fora de risco. No entanto, assim que o DT surge, 50 a 100mg de clordiazepóxido devem
ser ministrados a cada 4 horas por via oral (VO), ou lorazepam deve ser administrado
por via intravenosa (IV) caso a medicação oral não seja possível. Apenas se necessário,
antipsicóticos (haloperidol) podem ser associados.7,17
Alimentação rica em calorias e carboidratos, complementada por multivitamínicos,
também é recomendada a pacientes em abstinência.7,17
Outro ponto importante para desmitificar e orientar os pacientes é que os sintomas da
síndrome de abstinência e seu tratamento não são piores do que as complicações do
abuso do álcool. Além do mais, são absolutamente tratáveis. Em função disso, não se
justifica deixar de lado o objetivo principal do tratamento do transtorno induzido pelo
álcool, que é a abstinência.

Na ausência de comorbidades graves ou abuso combinado de outra substância, é pouco


provável que haja abstinência de álcool grave.7
Sintomas psicóticos fora do quadro de delirium
tremens
Os sintomas psicóticos fora do quadro de DT podem ser tratados de maneira semelhante
ao tratamento do DT.
Transtornos do humor
Assim como praticamente todas as complicações do alcoolismo, quadros de depressão
e ansiedade melhoram muito com a abstinência ao álcool.7
Demência persistente induzida por álcool
Há a tendência de melhora do funcionamento cerebral com a abstinência, mas talvez
metade de todos os pacientes afetados apresente deficiências de longo prazo e até
mesmo permanentes na memória e no pensamento.7,20
Cerca de 50 a 70% desses pacientes apresentam evidências de aumento do tamanho dos
ventrículos encefálicos e diminuição dos sulcos cerebrais, embora essas alterações
pareçam ser parcial ou completamente reversíveis durante o primeiro ano de
abstinência total. Em função do alto potencial de reversibilidade do quadro, é
fundamental objetivar a abstinência no tratamento do alcoolismo no idoso de forma
mais precoce possível.7,20
Transtorno amnéstico persistente induzido pelo álcool
O transtorno amnéstico persistente induzido pelo álcool compreende duas síndromes: a
encefalopatia de Wernicke e a síndrome de Korsakoff.7
A encefalopatia de Wernicke, ou encefalopatia alcoólica, é a primeira a se manifestar.
É um quadro neurológico agudo caracterizado por:7
 ataxia;
 disfunção vestibular;
 confusão;
 anormalidades de motilidade ocular (nistagmo horizontal, paralisia orbital
lateral, paralisia do olhar conjugado);
 reação lenta à luz;
 anisocoria.
A encefalopatia de Wernicke pode desaparecer espontaneamente em alguns dias ou
semanas, ou pode progredir para síndrome de Korsakoff.7

Nos estágios iniciais da encefalopatia de Wernicke, o tratamento com altas doses de


tiamina parenteral (100mg de tiamina em cada litro de solução de glicose) pode prevenir
a progressão para síndrome de Korsakoff.7
A síndrome de Korsakoff é uma síndrome amnéstica crônica com prejuízo de memória
recente e amnésia anterógrada em paciente alerta e responsivo, com ou sem
confabulação.7

O tratamento da síndrome de Korsakoff consiste na correção da deficiência de tiamina


(vitamina B1) — cofator de várias enzimas importantes e envolvida na condução do
potencial de ação ao longo do axônio e na transmissão sináptica — na dose de 100mg
VO 2 a 3 vezes ao dia por 3 a 12 meses.7
Enquanto a encefalopatia de Wernicke é totalmente reversível com o tratamento, apenas
20% dos pacientes com síndrome de Korsakoff se recuperam.7

ATIVIDADES
5. Quanto ao prognóstico do alcoolismo no idoso, analise as alternativas a seguir e
marque V (verdadeiro) ou F (falso).
Os idosos que iniciam quadro de alcoolismo associado a evento estressante de vida têm
melhor prognóstico.
Os alcoolistas idosos de início precoce e que sobreviveram até a idade avançada
apresentam melhor prognóstico que os de início tardio.
O DT não tratado tem mortalidade de 20%.
O bebedor idoso problemático tem risco de mortalidade, em quatro anos, 2,6 vezes
maior do que os indivíduos abstinentes nessa faixa etária.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
aV—F—V—V
bV—V—F—F
cF—V—F—V
dF—F—V—F
Confira aqui a resposta
6. Assinale a alternativa que apresenta o fármaco aprovado pela Food and Drug
Administration (FDA) e mais estudado e seguro em idosos para o tratamento de
alcoolismo.
a Dissulfiram.
b Acamprosato.
c Naltrexona.
d Sertralina.
Confira aqui a resposta
7. Com relação às medicações que podem ser utilizadas no tratamento de todos os casos
de DT, observe as alternativas a seguir.
I. Clordiazepóxido VO.
II. Lorazepam IV.
III. Tiamina.
IV. Antipsicóticos em geral.
Quais estão corretas?
a Apenas a I e a II.
b Apenas a I, a II e a III.
c Apenas a I, a III e a IV.
d Apenas a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

O caso clínico a seguir foi adaptado do livro Geriatria: casos clínicos, de Ulisses Gabriel
de Vasconcelos Cunha e Débora Pereira Thomaz.21
Paciente do sexo feminino, de 72 anos, é encaminhada ao ambulatório de geriatria após
queda em escada, resultando em escoriação facial e traumatismo craniencefálico. A
idosa tem história de depressão maior há vários anos. A medicação antidepressiva foi
retirada gradualmente nos dois anos prévios. No último ano, desde a aposentadoria do
marido, ela passou a ingerir bebida alcoólica em quantidades crescentes, até que, nos
últimos dois meses, ingeria uma garrafa de vodka todos os dias.21
As brigas com o companheiro eram constantes, já que ele tentava persuadi-la a limitar
seu consumo alcoólico. Havia relato, por parte do companheiro, de que a paciente tinha
passado a apresentar períodos de agitação e humor deprimido nos três meses que
antecederam o início do abuso alcoólico.21
A paciente apresenta os seguintes problemas médicos prévios:21
 depressão maior, sem tratamento;
 sem relato de déficit cognitivo;
 parcialmente dependente para atividades de vida diária;
 HAS sem lesão de órgão-alvo documentada em uso de inibidor da enzima
conversora de angiotensina (enalapril);
 hipotireoidismo, em uso de levotiroxina.
O exame físico da paciente mostrou:21
 obesa (índice de massa corporal de 35);
 sistema nervoso sem déficits neurológicos focais;
 miniexame do estado mental de 30/30 (escolaridade menor que oito anos);
 critérios para depressão maior pelo DSM-IV;
 sistema cardiovascular com ritmo cardíaco regular (RCR);
 pressão arterial (PA) de 125x70mmHg;
 frequência cardíaca (FC) de 85bpm;
 sem quedas posturais;
 sistema respiratório com murmúrio vesicular fisiológico sem ruídos adventícios;
 frequência respiratória (FR) de 20irpm;
 sistema digestivo com abdome sem massas, visceromegalias e/ou sinais de
irritação peritoneal.
Os exames complementares da paciente mostraram:21
 rotina básica de sangue (hemoglobina, leucometria, glicemia, colesterol, funções
renal e tireoidiana, íons, vitamina B12, ácido fólico) dentro da normalidade;
 bilirrubinas, albumina, coagulograma e ácido úrico normais;
 volume corpuscular médio (VCM): 102fL (valores normais [VNs]: 76–99);
 plaquetas: 125.000/mm3 (VNs: 150.000–450.000);
 transaminase glutâmica-oxaloacética (TGO): 110U/L (VNs: 12–38);
 transaminase glutâmica-pirúvica (TGP): 54U/L (VNs: 7–41);
 gama-glutamiltransferase (GGT): 112U/L (VNs: 8–41);
 fosfatase alcalina (FA): 120U/L (40–150);
 triglicerídeos (TGs): 302mg/dL (VN: <150);
 urina de rotina: dentro da normalidade;
 radiografia de tórax: dentro da normalidade;
 ultrassonografia abdominal total: colecistopatia calculosa e esteatose hepática
moderada;
 eletrocardiograma: RSR, sem alterações;
 tomografia computadorizada (TC) de crânio: hipotrofia cerebral difusa.

ATIVIDADES
8. Com base no caso clínico, elabore uma lista de impressões diagnósticas, utilizando os
critérios do DSM-5 para transtornos mentais.
Confira aqui a resposta
9. Qual conduta poderia ser proposta à paciente do caso clínico em relação ao(s)
transtorno(s) mental(is) levantado(s) na questão anterior?
Confira aqui a resposta
10. Até 30% dos suicídios em idosos estão relacionados ao abuso de álcool. Embora em
menor proporção que no jovem, o alcoolismo é muito prevalente no idoso. Cite os
principais fatores de risco para o alcoolismo no envelhecimento.
Confira aqui a resposta
11. O abuso alcoólico na idade avançada é comumente sub-reportado e ocultado pelo
paciente e pelos familiares, em comparação aos grupos etários mais jovens. Cite as
razões do subdiagnóstico dessa importante condição no idoso.
Confira aqui a resposta
12. Quais são as alterações em exames complementares encontradas no caso clínico que
podem ser atribuídas ao alcoolismo?
Confira aqui a resposta

Conclusão
O alcoolismo no idoso é uma condição bastante prevalente, associada a fatores
peculiares e frequentes ao processo de envelhecimento, relacionada a complicações
graves nas esferas física, psíquica e social. Exige abordagem individualizada e
interdisciplinar, cujo objetivo principal e mais eficaz é alcançar a abstinência, para a
qual tem tratamento adequado com resposta igual ou melhor do que no jovem.

Atividades: Respostas
Atividade 1 // Resposta: A
Comentário: O conceito de necessidade de doses de álcool cada vez maiores para obter
o efeito desejado se refere à tolerância. Intoxicação alcóolica: beber rápida (dentro de
cerca de duas horas) e compulsivamente muita quantidade de álcool, síndrome
reversível. Uso de risco: utilização de quantidade de álcool que coloca o indivíduo sob
risco de consequências à saúde. Dependência: padrão mal-adaptativo do uso de
substâncias, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo. Diz respeito a
sintomas psíquicos, físicos e comportamentais provocados pelo uso do álcool.
Atividade 2 // Resposta: C
Comentário: Em estudos nacionais e internacionais, a prevalência de alcoolismo no
idoso varia de 9 a 14,5%.
Atividade 3 // Resposta: D
Comentário: Cerca de 10% do álcool consumido são absorvidos pelo estômago, e o
restante, pelo intestino delgado. Após cair na circulação, o álcool é distribuído aos
tecidos do corpo, sendo hidrossolúvel. Cerca de 90% do álcool absorvido são
metabolizados por meio de oxidação no fígado; os 10% restantes são excretados
inalterados pelos rins e pulmões. Provavelmente várias influências genéticas se
combinam para explicar cerca de 60% da proporção de risco para alcoolismo, e o
ambiente é responsável pelo restante. Existe a combinação de uma série de fatores
psicológicos, socioculturais e biológicos, entre outros, por trás do desenvolvimento de
problemas graves e repetitivos relacionados ao álcool.
Atividade 4 // Resposta: B
Comentário: A escala de depressão geriátrica é validada para a população idosa, porém
é utilizada para rastreio de depressão no idoso, e não para alcoolismo. O questionário
CAGE é um dos mais estudados e deve ser aplicado. Outro teste validado é o MAST-G,
que é o único instrumento desenvolvido especificamente para screening de alcoolismo
em idosos. Os critérios do DSM-5, embora não sejam feitos especificamente para o
idoso, são validados e utilizados também no diagnóstico de alcoolismo nessa população.
Atividade 5 // Resposta: A
Comentário: Os alcoolistas idosos de início precoce e que sobreviveram até a idade
avançada (dois terços dos casos) apresentam mais alterações psicopatológicas e de
personalidade, mais deterioração física, bem como maior frequência de problemas
legais, sociais e familiares. O tratamento é mais difícil e o prognóstico pior. Os de início
tardio (um terço dos casos) se caracterizam por apresentarem início dos problemas com
álcool em resposta a eventos estressantes de vida, como luto, aposentadoria, separação
conjugal, entre outros. São pacientes com história de vida prévia e personalidade bem
adaptada. Apresentam menos problemas com álcool, menos antecedente familiar de
alcoolismo e quadro clínico mais leve. O tratamento consiste em abordar as questões
psicossociais do envelhecimento. O prognóstico, com isso, é melhor.
Atividade 6 // Resposta: C
Comentário: Quanto ao tratamento medicamentoso, poucos estudos foram realizados em
idosos. A medicação mais segura e mais estudada para o tratamento do alcoolismo no
idoso é a naltrexona. O dissulfiram não está recomendado pelo alto potencial de
complicações, e o acamprosato é promissor em idosos, mas ainda há poucos estudos.
Esses três fármacos são os aprovados pela FDA para tratamento de alcoolismo no idoso.
A sertralina não está aprovada para essa finalidade.
Atividade 7 // Resposta: B
Comentário: Os antipsicóticos não estão sempre indicados, apenas se estritamente
necessário, sendo a escolha o haloperidol. Assim que o DT surge, 50 a 100mg de
clordiazepóxido devem ser ministrados a cada quatro horas VO, ou o lorazepam deve
ser administrado IV caso a medicação oral não seja possível. Apenas se necessário, os
antipsicóticos (haloperidol) podem ser associados.
Atividade 8
Resposta: As impressões diagnósticas para o caso clínico são:
 transtorno induzido pelo álcool (uso de álcool por 1 ano, quantidades crescentes,
por tempo mais prolongado, recorrente, a despeito de perigo físico);
 depressão maior (diagnóstico prévio);
 possível síndrome metabólica, pois estão presentes três critérios no caso: HAS +
possível obesidade central em função da obesidade grau 2 (moderada), embora
não haja a medida da circunferência abdominal descrita no caso) +
hipertrigliceridemia;
 hipotireoidismo (diagnóstico prévio).
Atividade 9
Resposta: O tratamento, após a avaliação completa da paciente do caso clínico, teria
como principal objetivo a abstinência. A desintoxicação alcoólica ocorreria com
internação hospitalar ou seguimento em ambulatório. O tratamento inclui psicoterapia
individual, grupos de apoio, como AA, e suporte familiar. Caso a abstinência não seja
uma meta possível, recomenda-se limitar os danos potenciais, não prescrevendo
fármacos desnecessários, encorajar boa dieta, prescrever complexos vitamínicos, mudar
o estilo de vida e combater o isolamento social. Deve-se reiniciar antidepressivo para
tratar a depressão maior.
Atividade 10
Resposta: Presença de eventos estressantes de vida, como aposentadoria, depressão,
luto, isolamento social, enfermidade recente, distúrbio paranoide, baixo nível de
escolaridade e sexo masculino são considerados fatores de risco para o alcoolismo no
idoso.
Atividade 11
Resposta: São consideradas razões para o subdiagnóstico do alcoolismo no idoso:
 fatores relacionados ao paciente — vergonha, medo, déficit cognitivo, estilo de
vida e isolamento, sendo que os pacientes comumente não relatam seu consumo
de forma espontânea;
 fatores relacionados ao médico — a falsa impressão de que o alcoolismo é um
problema apenas de jovens, o que leva ao subdiagnóstico;
 apresentação da doença — o alcoolismo pode ocasionar sinais e sintomas
inespecíficos, que podem mimetizar manifestações de outras doenças comuns na
terceira idade, como acidente vascular cerebral, demência, depressão, ansiedade
e insônia.
Atividade 12
Resposta: Os níveis de gama-glutamil transpeptidase são elevados em cerca de 80% dos
indivíduos com transtornos relacionados ao álcool, e o VCM é elevado em cerca de
60%, mais em mulheres do que em homens. Outros valores de testes laboratoriais que
podem ter resultados elevados em associação ao abuso de álcool são os de ácido úrico,
triglicerídeos, aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT).
Trombocitopenia é outro achado. A paciente apresenta esteatose hepática moderada à
ultrassonografia abdominal e hipotrofia cerebral difusa à TC de crânio, alterações que
também podem ser atribuídas ao alcoolismo.

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