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ABORDAGEM DE CÃIBRAS EM IDOSOS

Introdução
Cãibras são contrações musculares dolorosas involuntárias de um ou mais músculos,
com regressão espontânea, que duram de segundos a minutos e afetam principalmente
os idosos.1,2 A incidência sobre a população adulta é de 50 a 60%, apresentando
aumento progressivo com a idade, sem diferenças com relação ao gênero, exceto em
grávidas. As cãibras também são frequentes nos atletas de resistência. Além disso, estão
associadas aos distúrbios do sono e trazem expressivo prejuízo à qualidade de vida.3–5
A primeira evidência científica de cãibra foi publicada em 1908, quando estudiosos
observaram o fenômeno em mineradores expostos a trabalhos forçados, em ambiente de
alta umidade e calor, desenvolvendo-se, assim, a primeira hipótese sobre a depleção
eletrolítica.2
As cãibras ocorrem com mais frequência durante o repouso, principalmente no período
noturno,2,6 e são aliviadas pela contração dos músculos antagonistas.1,2,4,6,7 Após o
evento, o desconforto e a sensibilidade podem persistir por várias horas.1,2,6–8 A região
mais afetada é a panturrilha, principalmente os músculos gastrocnêmio, sóleo e
plantar.3,6,7,9
A etiologia da cãibra é multifatorial, e a fisiopatologia ainda é motivo de muitos debates
e questionamentos.1,2,7,9 O diagnóstico é clínico,1,3,4 mas apenas 40% dos pacientes
relatam esse sintoma a seus médicos,5,8,10 mesmo que o apresentem há muitos anos.11
A melhor estratégia para prevenção de cãibra é a prática regular de atividade física, com
exercícios diários de alongamento.7,12 Não há um tratamento medicamentoso específico
em razão da falta de evidências científicas.1,6,7,13,14

Epidemiologia
Segundo a definição clínica de Layzer,6,14 a cãibra é uma contração espasmódica,
dolorosa e involuntária do músculo esquelético.
Embora cãibras musculares possam ocorrer em qualquer idade, são mais comuns e,
frequentemente, mais graves na vida adulta. Em um estudo observacional envolvendo
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, quase um terço dos 233 participantes
teve cãibras de repouso durante os dois meses anteriores, incluindo metade daqueles
com 80 anos ou mais, ao passo que 40% tiveram cãibras mais de três vezes na semana, e
21% descreveram seus sintomas como muito incômodos.9
Em outro estudo, realizado com 365 indivíduos de 65 anos ou mais, a prevalência de
cãibras nas pernas foi de 50%. Destas, 62% ocorreram durante a noite. Apesar de 20%
dos pacientes participantes apresentarem o sintoma há mais de 10 anos, muitos não o
haviam relatado como queixa aos seus médicos.7,11
Demonstrou-se em pesquisa que cerca de 37% dos idosos apresentaram cãibras, das
quais 83% ocorreram em membros inferiores e 73% no período noturno.7 Em outra
amostra, 80% das cãibras ocorreram em panturrilhas, e 31% das pessoas foram
despertadas pelas cãibras,6 o que demonstra o impacto na qualidade do sono.6,9

Etiologia
A etiologia da cãibra é multifatorial.1,2,7,9 A classificação de Parisi, proposta em 2003,
divide as cãibras do seguinte modo:1,6,14,15
 
 cãibras noturnas idiopáticas — caracterizadas por espasmos musculares
dolorosos que ocorrem durante o período noturno sem uma etiologia clara;
 cãibras secundárias ou sintomáticas — induzidas por tratamento medicamentoso
ou enfermidade;
 cãibras musculares parafisiológicas — associadas a exercícios físicos ou à
gravidez.
O exemplo clássico de cãibras noturnas idiopáticas são as cãibras noturnas nas
pernas (CNPs), que ocorrem principalmente nos idosos.5–7,9 Conforme a última
Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (elaborada em 2014 e ainda não
aceita por todos9), a caracterização das CNPs depende da presença de três critérios
diagnósticos:7,9
 
 contrações repentinas, involuntárias e dolorosas dos músculos, geralmente
envolvendo a panturrilha ou os pequenos músculos do pé;
 contração muscular dolorosa durante o tempo em que o indivíduo estiver na
cama, podendo surgir durante o sono ou a vigília;
 dor aliviada por alongamento vigoroso dos músculos afetados, cessando a
contração.
Ainda não há consenso sobre a etiologia das CNPs.3,5
As cãibras secundárias ocorrem mais comumente em outros horários do dia9 e podem
envolver diferentes partes do corpo.2,9
Vale notar que, em muitos estudos, as cãibras foram mal definidas e podem ter sido
confundidas com outras enfermidades causadoras de sintomas nas pernas. Destarte, a
interpretação da validade de muitas das associações relatadas em pesquisas pode ser
difícil.6,9
As causas secundárias de cãibra incluem:
 
 estilo de vida — consumo de álcool16 e sedentarismo;3,8,12
 causas estruturais/mecânicas:
o pé plano,7,17 genu recurvatum (hiperextensão do joelho) e síndrome da
hipermobilidade (o histórico familiar é comum nesses casos);7
o permanência do indivíduo sentado por tempo prolongado e manutenção
da perna em posição incorreta durante repouso;7
o encurtamento tendinoso na velhice ou causado por imobilidade
prolongada;4,9,12,17,18
o permanência prolongada em posição ereta;8,18
o osteoartrose;3,5,12,13
o estenose do canal vertebral.3,13,19
Apesar de inexistir comprovação, há fortes evidências de que certas substâncias estão
associadas à ocorrência de cãibras (Quadro 1).7,9,20
QUADRO 1
SUBSTÂNCIAS COM FORTE POTENCIAL DESENCADEADOR DE CÃIBRA
CLASSE EXEMPLO
LABAs1,3,5,7,9 Salmeterol*21
Diuréticos1,3,5 Tiazídicos4,7–9,18,20
Poupadores de potássio7–9,18,20 Amilorida*21
LABAs: β-agonistas de longa ação.
*Cãibra como efeito adverso citado em bula do profissional pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).21
O Quadro 2 apresenta outras substâncias com potencial de desencadear cãibra.
QUADRO 2
SUBSTÂNCIAS CITADAS COMO POTENCIALMENTE DESENCADEADORAS
DE CÃIBRA
CLASSE EXEMPLO
Diuréticos de alça 7–9,20

Fenoterol*21
β-agonistas de curta ação7 Salbutamol*21
Terbutalina*21
Inibidor de COMT Tolcapona7
Sinvastatina4,7,9,20,22
Atorvastatina20
Hipocolesterolemiantes Pravastatina20
Rosuvastatina20
Clofibrato7
Nifedipino**7
Bloqueadores dos canais de cálcio8
Anlodipino1,9
Donepezila7
Anticolinesterásicos9 Piridostigmina4
Neostigmina7
Modulador do receptor de estrógeno Raloxifeno7,8,18
Cafeína (por sua ação diurética)9
Inibidor da bomba de prótons8 Rabeprazol*
Esteroides1,9,12 (estrogênios conjugados,18
Hormônios progestágeno8)
Teriparatida7,18
Opiáceo Morfina1,9,12
Estabilizador do humor Lítio1,12
Anti-inflamatório não hormonal7 Naproxeno18
Hidróxido férrico Solução venosa7,18
Antagonistas receptores da
angiotensina II7,8
Benzodiazepínicos7
Inibidor dos receptores H2 da
Cimetidina**1,9
histamina
Neurolépticos9
Antirretrovirais4,9
Antagonista de metais pesados Penicilamina1,9
Metoprolol*21
Betabloqueadores7,8,23 Sotalol*21
Bisoprolol*21
Quimioterápicos Cisplatina7
Vincristina7
Antibiótico Pirazinamida7
Alendronato*21
Bisfosfonatos8
Ibandronato*21
COMT: catecol-O-metiltransferase.
*Cãibra como efeito adverso citado em bula do profissional pela Anvisa.21
**Elevado risco de causar efeitos adversos em idosos.24
Para avaliar se as cãibras seriam um efeito de classes, uma vez que vários autores as
citaram e não as substâncias em si, foi pesquisado, no site da Anvisa,21 nas bulas do
profissional, dos medicamentos de referência, item Reações adversas, se constava o
termo “cãibras”, o que ocorreu em 11 substâncias (ver Quadros 1 e 2). Nas demais 32,
foram procurados termos relacionados com a definição clínica de Layzer (contração
espasmódica, dolorosa, involuntária do músculo esquelético6,14) ou distúrbios
eletrolíticos tidos como principais causadores de cãibras (Quadro 3).
QUADRO 3
AVALIAÇÃO DAS CÃIBRAS COMO UM EFEITO DE CLASSES
PRINC C C E MIA HIPOC HIPOC HIPER HIPOMA HIPON
CLASS NOM
ÍPIO M M M LGI ALCE ALEM CALE GNESEM ATREM
E E
ATIVO s Is s A MIA IA MIA IA IA
Farma
Nevirap
nguinh x
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ARAs II
Olmesar Olmet
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Telmisa Micar
x x x
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Valsarta Diova
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Lorax x
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Bisfosfo Pamidro Pamid
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Risedro Acton x x
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Zoledro Aclast
x x x
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Diurétic
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os de Lasix x x x
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alça
Diurétic
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Espiron Aldact
poupado x x
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potássio
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x x x
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Diurétic
Hidrocl
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tiazídico a
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Quetiap Seroqu
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ARAs II: antagonistas dos receptores da angiotensina II; IBPs: inibidores da bomba de
prótons; LABAs: β-adrenérgicos de longa ação; CMs: contrações musculares; CMIs:
contrações musculares involuntárias; EMs: espasmos musculares. // Fonte: Elaborado
por Hercilio Hoepfner Júnior.
Tratamentos não farmacológicos
Em pacientes em hemodiálise,3,8,9,13,18 ocorrem cãibras na síndrome do desequilíbrio da
diálise.4,7
Distúrbios hidroeletrolíticos
Os distúrbios hidroeletrolíticos são os principais causadores de cãibras secundárias,
destacando-se a hiponatremia. Outros distúrbios expressivos são a hipercalemia,18 a
hipocalemia, a hipocalcemia e a hipomagnesemia.1,3,9,18
Distúrbios metabólicos
As doenças renais crônicas estão entre os distúrbios metabólicos que podem cursar
com cãibras.3,8,9
Quanto ao diabetes melito (DM),1,2,4,7–9,17,18,23 as cãibras ocorrem em cerca de dois terços
dos diabéticos, especialmente no tipo 2 (DM2) e em associação com a neuropatia
diabética.9,25 Nesses pacientes, a neuropatia é o fator mais importante na gênese de
cãibras. Assim como o DM2, é considerada como preditor independente.2,17,23 A
ocorrência de cãibras em DM1 e DM2 é, respectivamente, de 57,5 e 75%.2,17,23
As cãibras podem estar relacionadas a disfunção mitocondrial, hipoglicemia e doença
arterial periférica.17

Os diabéticos podem sentir as cãibras tanto nos membros superiores quanto nos
inferiores e, ainda, no tronco.2
No hipotireoidismo,3,4,7–9,18,25 as cãibras são um dos vários sintomas presentes. No
hiperparatireoidismo, elas afetam a calcemia.8
O alcoolismo7,8,16 pode ocasionar cãibras por causar deficiência vitamínica, cirrose,
desnutrição, neuropatias e miopatias. As miopatias são mais associadas às cãibras em
razão da atrofia seletiva da fibra tipo II.16
A cirrose2,3,8,13,18 também pode estar associada à cãibra, uma vez que a alteração
hepática pode contribuir para o aumento da incidência desse sintoma por causar
disfunção nervosa, bem como alteração eletrolítica e do metabolismo energético.2
Distúrbios neurológicos
A doença de Parkinson3,4,7–9,18 e a esclerose múltipla7–9,18 estão entre os distúrbios
neurológicos capazes de causar cãibras, assim como as miopatias,4,7 que reduzem os
níveis de ATP e podem estar ligadas a alterações da membrana muscular ou disfunção
estrutural intramuscular.4
Também associadas a cãibras, as neuropatias periféricas2,3,5,6 consistem em disfunção
de um ou mais nervos periféricos, englobando várias síndromes, caracterizadas por
distúrbios sensoriais, dor, fraqueza muscular e atrofia, diminuição dos reflexos
tendinosos profundos e sintomas vasomotores, isolados ou em associação.
Nas radiculopatias,3,7,18 caracterizadas por processo compressivo intervertebral, as
cãibras podem ser proximais ou distais e unilaterais ou bilaterais no miótomo afetado.4
Com relação à doença do neurônio motor,3,7,13,18 as cãibras são a principal fonte de dor
na esclerose lateral amiotrófica (ELA).2
Mais de 60% dos pacientes com polineuropatia apresentam cãibras.9
Têm sido relatadas como causas de CNP:
 
 doença vascular periférica;3–5,9,18
 anemia;7
 síndrome de Raynaud;7,18
 diarreia;18
 doença de Addison;18
 hipertireoidismo;18
 cirrose não alcoólica;6,7,9,20
 cirurgia bariátrica.6,7,9,20
Considerava-se a doença venosa crônica como uma possível causa de cãibras.
Entretanto, segundo um amplo, meticuloso e recente estudo, a cãibra não deve mais ser
considerada um sintoma de insuficiência venosa.26 Por outro lado, ela pode configurar
uma manifestação de insuficiência arterial periférica. Dúvidas ainda existem na
interpretação da associação entre cãibras e doenças cardiovasculares, ora observada em
pesquisas, ora não.7,9

Fisiopatologia
A fisiopatologia das cãibras musculares permanece incerta. As mudanças
eletrofisiológicas observadas incluem um aumento da frequência dos potenciais de ação
muscular devido à hiperatividade do neurônio motor, o que gera depleção do
trifosfato de adenosina muscular e acúmulo citosólico de cálcio, impedindo o
relaxamento muscular.7,9
Cãibras, em uma análise resumida, resultam de disparos rápidos e repetitivos de
potenciais de ação da unidade motora a uma taxa muito maior do que nas contrações
involuntárias. As evidências sugerem que isso geralmente surge de descargas
espontâneas dos nervos motores, em vez de ter uma origem central ou muscular.
Fatores que podem contribuir incluem excitabilidade anormal das células do corno
anterior ou das terminações nervosas intramusculares do nervo motor. As fibras
aferentes influenciam a geração de descargas motoras, e perturbações das entradas
sensoriais podem contribuir para desencadear as cãibras.7,9
A perda de neurônios motores relacionada à idade, que é mais pronunciada nas pernas
do que nos braços, é comum no envelhecimento e pode contribuir para uma propensão a
cãibras nas pernas dos idosos.9
Fatores mecânicos, como encurtamento de tendões na vida adulta e durante
imobilidade prolongada, também podem aumentar a excitabilidade do terminal nervoso
e influenciar o desenvolvimento de cãibras.3,9,27
Os medicamentos mais comumente associados à ocorrência de cãibras têm sido
diuréticos, estatinas e β-2 agonistas de longa duração. O efeito estimulador dos β-
agonistas nos neurônios motores, assim como a excitação neuronal devido a mudanças
induzidas por diuréticos nas concentrações eletrolíticas em torno das placas motoras, é
uma possível explicação para as ligações entre cãibras e esses medicamentos.20
As doenças neurológicas centrais, como a doença de Parkinson e a esclerose múltipla,
podem ser associadas à ocorrência de cãibras, possivelmente como resultado da
liberação do trato córtico espinhal ou de imobilidade. Entretanto, as cãibras estão
relacionadas, em especial, a distúrbios que afetam o neurônio motor inferior. Elas são
manifestações comuns nas fases iniciais da doença do neurônio motor e ocorrem em
mais de 60% dos indivíduos com polineuropatia.9

Diagnóstico
O diagnóstico das cãibras é clínico.1,3,4,9,18
A suspeição clínica para a presença de cãibras deve fazer parte da avaliação de rotina
dos idosos, principalmente daqueles com riscos maiores, como os diabéticos tipo
2,2,9,17,25 desnutridos,4 sedentários8 ou em uso de polifarmácia.24
São necessários anamnese detalhada e exame físico minucioso, focados nos sintomas
relatados pelos pacientes. Porém, nem todos sabem o que é cãibra; assim, é necessário,
por vezes, fazer uso de outros termos,4 como contração muscular ou espasmo muscular.
Além disso, a palavra “cãibra” poderá ser referida indevidamente para indicar outras
manifestações musculares.6 Exames laboratoriais e outros estudos normalmente são
dispensáveis quando estão presentes sintomas típicos de CNP.1,3,7,9,28
Os sintomas típicos das CNPs incluem:3,4,11,12
 
 dor intensa;
 duração de segundos a, no máximo, 10 minutos;
 localização na panturrilha ou no pé (raramente coxa ou isquiotibiais);
 ocorrência em período noturno (alguns indivíduos também podem apresentar
sintomas no período diurno);
 desconforto subsequente que persiste por 48 a 72 horas;
 perturbação do sono;
 angústia.
O exame físico deve ser direcionado na tentativa de identificar alterações que possam
sugerir uma causa subjacente ou diagnósticos diferenciais. As pernas e os pés devem ser
avaliados. Um exame neurológico é imprescindível, incluindo avaliação de força,
reflexos tendinosos profundos, sensibilidade, marcha e presença de tremor.7
Exames complementares geralmente não são necessários para o diagnóstico de CNP.
Exceção é feita nos casos em que a anamnese e o exame físico sugiram uma causa
secundária ou diagnósticos diferenciais, bem como em pacientes com quadro recente
de cãibras ou mudança abrupta e inexplicada em seu padrão.7,9 A frequência, a
intensidade e a localização podem ser consideradas para quantificar a gravidade, mas
ainda é necessário o desenvolvimento de uma escala adequada para avaliar as cãibras.4,6
Os exames laboratoriais que podem ser solicitados são:4,7,9,11,15,28
 
 hormônios tireoidianos;
 glicemia;
 ureia;
 creatinina;
 sódio;
 potássio;
 magnésio;
 cálcio;
 creatinofosfoquinase (CPK).

A eletromiografia é indicada se, durante a avaliação física, for detectada redução de


força nos músculos afetados.4 A ressonância magnética do cérebro e da coluna vertebral
pode ser necessária quando houver suspeita de neuropatias centrais ou periféricas,4
sendo a fraqueza muscular difusa um indício importante. A polissonografia é
recomendada quando distúrbios do sono estiverem presentes.7 O eco-Doppler
venoso/arterial dos membros inferiores é útil para avaliar varizes e insuficiência arterial.
A biópsia muscular tem indicação se houver suspeita de miopatias.
Diagnóstico diferencial
Os pacientes podem descrever inúmeros tipos de dor nas pernas como sendo cãibras. O
exame físico (que, comumente, terá resultado normal em caso de cãibra idiopática),
associado a uma cautelosa anamnese, pode excluir a maioria dos diagnósticos
diferenciais.7
Embora as CNPs sejam bem caracterizadas no idoso por localização e demais
particularidades, alerta-se para os transtornos osteomusculares, que, com frequência,
fazem parte do leque de polienfermidades.
Devem ser incluídos no diagnóstico diferencial de cãibras:
 
 condições musculoesqueléticas, como tensão muscular simples1 e contratura
muscular;7
 ELA — apresenta as cãibras como um sintoma inicial, comum e que
eventualmente desaparece à medida que a denervação se agrava;4
 espasmos mioclônicos — são contrações musculares involuntárias breves e
repentinas dos membros, que ocorrem no período de transição ao sono ou logo
após o adormecer. Esse fenômeno autolimitado pode despertar e assustar o
indivíduo;7
 síndrome das pernas inquietas — é uma doença crônica sensório-motora
caracterizada por sensações desagradáveis nos membros e vontade irresistível de
movimentá-los, ocorrendo durante períodos de repouso ou inatividade. Os
sintomas são piores durante o fim de tarde e à noite do que durante o dia e são
aliviados pela movimentação do membro afetado. Indivíduos com essa síndrome
também podem apresentar movimentos periódicos dos membros enquanto
acordados;3,7,18
 transtornos dos movimentos relacionados ao sono;
o síndrome dos movimentos periódicos dos membros — consiste em
movimentos involuntários e bruscos (com duração de 0,5 a 10 segundos)
das pernas durante o sono, sem associação com as dores, as contrações
musculares e a necessidade de alongamento que decorrem das cãibras
nas pernas. Os pacientes apresentam dorsiflexão rítmica dos pés com
extensão dos artelhos, às vezes com flexão dos joelhos e do quadril,
ocorrendo aproximadamente a cada 10 ou 30 segundos. Esse transtorno
pode causar fragmentação do sono e sonolência diurna excessiva.
Acomete 34% dos pacientes idosos e é comum nos que fazem uso de
inibidores seletivos da recaptação de serotonina. O diagnóstico é
realizado por meio de polissonografia;5,7,17,29
o movimentos rítmicos relacionados ao sono — são movimentos
repetitivos, estereotipados ou rítmicos, que interferem no sono e em
funções diurnas, sem que sejam explicados por outro transtorno do
movimento ou epilepsia. O diagnóstico é clínico;29
o mioclonia proprioespinhal do início do sono — são abalos mioclônicos
que ocorrem principalmente no abdome, tronco ou pescoço e
desaparecem com a ativação mental ou a estabilização do sono. Caso
ocorram no período diurno, recomenda-se pesquisar lesão medular. O
diagnóstico é clínico ou realizado por meio de eletroencefalograma ou
eletromiografia;29
 insuficiências arteriais — apresentam como principal manifestação a
claudicação intermitente,1,3,5 desencadeada pela prática de exercícios físicos.
Provoca dores profundas e, eventualmente, cãibras, sendo aliviada pelo repouso.
Entretanto, quando grave, causa dor nas pernas mesmo durante o descanso;17
 radiculopatias — podem causar significativa fraqueza, dormência, disestesia e
dor radicular, além de cãibras uni ou bilaterais, proximais ou distais, no
miótomo afetado;4
 deformidades articulares, alterações da marcha e posturas viciosas — causam
desconfortos, como dor e insônia, que, por interpretação errônea, podem sugerir
cãibras.7,9,30

Tratamento
As cãibras são benignas e comuns em indivíduos saudáveis e, na maioria das vezes, não
exigem tratamento.
As medidas educativas e comportamentais são, muitas vezes, suficientes para
solucionar os casos de cãibras.
Pacientes com cãibra aguda nas pernas devem realizar alongamento vigoroso da
musculatura afetada. Essa é uma abordagem amplamente recomendada e que costuma
promover o alívio rápido da cãibra, reduzindo sua duração e severidade, assim como o
desconforto subsequente.7,12
A manobra mais efetiva é a dorsiflexão ativa do pé. Entretanto, o alongamento ativo
feito em posição ortostática, com os pés pressionados firmemente contra o chão,
também atenua os sintomas.7,12
Outras medidas que podem abrandar o evento agudo são:7,13,14
 
 caminhar ou sacudir as pernas e depois elevá-las;
 fazer massagens;
 realizar aplicação de calor ou frio;
 tomar banho quente com a ducha direcionada para a área afetada;
 tomar banho de banheira com água morna.
A eficácia dos tratamentos não farmacológicos permanece incerta.1,9,13,14,27
Pacientes com anormalidades em seus exames físicos e/ou complementares deverão ser
avaliados e tratados apropriadamente. Nos casos em que medicamentos sejam o fator
desencadeante de cãimbra, é necessário atuar de forma a suspender seu uso ou substituí-
los.
Não há normatização para o tratamento farmacológico de cãibra, mas há algumas
recomendações baseadas em revisão da literatura.7,9 Cumpre lembrar que nenhum dos
tratamentos se mostrou eficaz e seguro.6,14
Em um estudo, constatou-se que 18 tratamentos farmacológicos diferentes haviam sido
usados ao menos uma vez por mais de 60% dos participantes para prevenir cãibras.
Todos, com exceção do quinino, foram, em sua maioria, avaliados como “inúteis” ou
“de pouca ajuda”.14
Existem algumas recomendações, que são descritas a seguir.

É recomendado prescrever suplementação de vitaminas do complexo B (3 vezes por dia,


contendo 30mg de vitamina B6) antes de indicar outras medicações para cãibras.14
A suplementação de magnésio pode trazer benefícios a pacientes com cãibras
relacionadas à gestação7,9 ou à hipomagnesemia.4
Quando a suplementação vitamínica for ineficaz, é possível prescrever, com muita
cautela, difenidramina (anti-histamínico; 12,5 a 50mg à noite)7 ou orfenadrina
(relaxante muscular; 35 a 70mg),7,9 já que ambas apresentam atividades anticolinérgicas
e, por isso, são consideradas como potencialmente inapropriadas para idosos segundo
Critérios de Beers, Lista PRISCUS, Sistema FORTA e Consenso Brasileiro.24
Caso as medidas anteriores não sejam eficazes, poderão ser prescritos bloqueadores dos
canais de cálcio, como diltiazem (30mg)7,18,27 ou verapamil (120 a 180mg)7,18, ingeridos
à noite. Entretanto, as evidências de seus benefícios são muito limitadas.
A gabapentina (600 a 900mg por dia, após o jantar) pode ser usada em pacientes com
cãibras associadas a doenças neurológicas. Contudo, é necessário ter cautela em
indivíduos mais velhos, especialmente naqueles com insuficiência renal, em razão do
maior risco de efeitos colaterais.4,7
A naftidrofurila9,13,14,18 é vasodilatador prescrito para tratamento de distúrbios cerebrais
ou periféricos.
Pregabalina, nortriptilina e duloxetina não demonstraram efeito significativo, mas
podem ser usadas em pacientes com dor neuropática coexistente.4
O quinino, substância que foi muito utilizada no tratamento e na prevenção de cãibras,
é um alcaloide que age no sistema musculoesquelético, reduzindo a excitabilidade nas
placas neuromusculares, e aumenta o período refratário da contração.4,7,14

Apesar de ser a substância mais estudada e ter quantidade expressiva de evidências


favoráveis para cãibra,4,7,14 o quinino possui risco elevado de interações
medicamentosas. Pode, ainda, estar associado a arritmias cardíacas, trombocitopenia e a
reações de hipersensibilidade graves, o que inviabiliza seu uso.7,9,14,29,30
Os canabinoides ainda não contam com evidências de alta qualidade.4,27
O Shakuyaku-kanzo-to (SKT) faz parte da fitoterapia japonesa e pode apresentar
benefícios no tratamento de cãibras em pacientes com cirrose ou estenose de canal
medular. Não obstante, as evidências são insuficientes.19
Um estudo demonstrou que a aplicação de toxina botulínica no músculo gastrocnêmio
lateral e medial foi superior à administração de gabapentina no tratamento de CNP em
pacientes com estenose de canal medular.7
Outros fármacos testados para alívio da cãibra são:
 
 mexiletina;4,27
 levetiracetam;4,27
 baclofeno;4,9
 fenitoína;4,9
 carbamazepina;4,9,27
 tizanidina;4
 clonazepam;4
 lidocaína;4
 carisoprodol;7
 vitamina E.7,13
Quando as medidas (farmacológicas ou não) forem ineficazes e as cãibras noturnas
causarem experiências angustiantes aos pacientes, deve-se considerar o
encaminhamento para um médico especialista do sono visando determinar se existem
desordens do sono subjacentes.7,9
Em razão da falta de evidências para qualquer tratamento eficaz, deve-se objetivar a
segurança do paciente.14

Prevenção
Deve-se sempre preferir medidas não farmacológicas, uma vez que o uso de fármacos
acarreta risco de efeitos adversos, e as evidências de benefícios são limitadas.7,12,13
Para prevenir cãibras recorrentes, é sugerida, como principal estratégia, a realização de
exercícios físicos diários de alongamento, além de outras medidas não farmacológicas e
não invasivas, como:7,12,13
 
 evitar exercícios físicos após as refeições;
 pedalar em bicicleta ergométrica por poucos minutos antes de descansar;
 usar sapatos de cano longo;
 manter as colchas ao pé da cama, soltas e não dobradas;
 evitar desidratação e substâncias conhecidas como potencialmente
desencadeadoras de cãibras.
Para alguns idosos, alongar-se antes de dormir é o suficiente. Exercícios físicos
regulares reduzem e até eliminam as cãibras.7,12,13 Mudanças de posicionamento
enquanto estiver sentado também são recomendadas.13
Dependendo da intensidade e da frequência das queixas, quando as medidas não
farmacológicas forem insuficientes, poderá ser tentado o uso coadjuvante de
medicamentos, apesar de não haver evidências conclusivas que sustentem os seus
benefícios.7,9,13 Nesses casos, é recomendado evitar o uso de quinino, em razão do
elevado risco de efeitos colaterais potencialmente graves em idosos.25

ATIVIDADES
1. Entre as classes terapêuticas a seguir, todas são citadas como causadoras de cãibras
em idosos. Assinale a alternativa na qual são encontradas as que têm o maior potencial
desencadeador.
A) Antirretrovirais, bloqueadores do canal de cálcio, anticolinesterásicos.
B) β-agonistas de longa ação, diuréticos tiazídicos e poupadores de potássio,
hipocolesterolemiantes.
C) Cafeína, β-agonistas de curta ação, neurolépticos.
D) Inibidores da bomba de prótons, betabloqueadores, bisfosfonatos.
Confira aqui a resposta
2. Com relação à fisiopatologia das cãibras, analise as alternativas a seguir e marque V
(verdadeiro) ou F (falso).
A fisiopatologia das cãibras musculares, assim como suas causas e possibilidades
terapêuticas, é bem estabelecida.
Ocorre uma redução dos potenciais de ação muscular por uma hipoatividade do
neurônio motor, levando ao acúmulo citosólico de cálcio.
A perda de neurônios motores é comum na senescência e pode contribuir para a
ocorrência das cãibras em idosos.
Os distúrbios que afetam o neurônio motor, assim como imobilidade prolongada e
doenças neurológicas centrais, podem reduzir a excitabilidade do terminal nervoso e
influenciar o desenvolvimento de cãibras.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — V — F — F
B) V — F — V — V
C) F — V — F — V
D) F — F — V — F
Confira aqui a resposta
3. No que se refere ao tipo de dor nas câimbras em idosos, assinale a alternativa correta.
A) Leve.
B) Moderada.
C) Moderada a alta.
D) Intensa.
Confira aqui a resposta
4. Quanto à principal localização das câimbras em idosos, assinale a alternativa correta.
A) Panturrilhas.
B) Pés.
C) Mãos.
D) Coxas.
Confira aqui a resposta
5. Sobre o período do dia no qual as cãibras ocorrem em idosos e o desconforto
subsequente, assinale a alternativa correta.
A) Período matutino, desconforto subsequente persistente.
B) Período noturno, desconforto subsequente não duradouro.
C) Período vespertino, desconforto subsequente de curta duração.
D) Período noturno, desconforto subsequente persistente.
Confira aqui a resposta
6. Assinale a alternativa que apresenta os exames laboratoriais que devem ser
solicitados quando houver suspeita de cãibras secundárias.
A) Sódio, magnésio, bilirrubinas, zinco, fósforo, potássio, calciúria, ureia, cálcio.
B) Glicemia, potássio, vitamina B12, creatinina, sódio, plaquetas, magnésio, CPK.
C) Hormônios tireoidianos, glicemia, magnésio, sódio, potássio, creatinina, zinco, CPK.
D) Hormônios tireoidianos, glicose sérica, ureia, creatinina, sódio, potássio, magnésio,
cálcio, CPK.
Confira aqui a resposta
7. Com relação aos diagnósticos diferenciais das cãibras, assinale a alternativa correta.
A) Síndrome das pernas inquietas, deformidades articulares, espasmos mioclônicos,
transtornos dos movimentos relacionados ao sono, contratura muscular.
B) Esclerose lateral amiotrófica, posturas viciosas, radiculopatias, depressão, síndrome
das pernas inquietas.
C) Insuficiências arteriais, espasmos mioclônicos, hipotireoidismo, diabetes, síndrome
das pernas inquietas.
D) Síndrome dos movimentos periódicos dos membros, mioclonia proprioespinhal do
início do sono, contratura muscular, hepatites A e B.
Confira aqui a resposta
8. Assinale o medicamento que NÃO é recomendado para tratar as cãibras em idosos,
uma vez que apresenta elevado risco de efeitos colaterais.
A) Reposição de ferro.
B) Vitaminas do complexo B.
C) Quinino.
D) Gabapentina.
Confira aqui a resposta
9. No que se refere às melhores estratégias para a prevenção de cãibras em idosos,
assinale a alternativa correta.
A) Gabapentina + vitamina D3 + quinino.
B) Hidratação + energéticos + magnésio.
C) Repouso + massagem + vitamina B12.
D) Exercícios físicos diários de alongamento muscular + outras medidas não
farmacológicas.
Confira aqui a resposta
10. Quanto às cãibras, analise as alternativas a seguir e marque V (verdadeiro) ou F
(falso).
As cãibras ocorrem em cerca de dois terços dos diabéticos, especialmente no DM2 e em
associação com a neuropatia diabética, sendo a neuropatia o fator mais importante na
gênese.
Cãibras noturnas idiopáticas são espasmos musculares dolorosos que ocorrem durante o
período noturno sem uma etiologia clara.
Não há normatização para o tratamento farmacológico, mas cumpre lembrar que a
maioria dos tratamentos testados se mostrou eficaz e segura.
Os canabinoides já contam com evidências de alta qualidade para o tratamento das
cãibras.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — V — F — F
B) V — F — V — V
C) F — V — F — V
D) F — F — V — F
Confira aqui a resposta

M.C., sexo feminino, 80 anos, pela primeira vez consultando um geriatra, queixa-se de
cãibras frequentes nas pernas, que ocorrem sempre no período noturno. Não apresenta
queixas respiratórias, gastrintestinais ou geniturinárias. É sedentária, tem dois anos de
escolaridade, expõe-se ao sol esporadicamente e está há seis meses sem ingerir carne de
gado.
A paciente apresenta os seguintes antecedentes:
 
 diabetes há pelo menos 15 anos sem controle glicêmico adequado;
 hipertensão arterial sistêmica (HAS);
 dislipidemia;
 insuficiência venosa de membros inferiores.
As medicações em uso são:
 
 rabeprazol 20mg (1x/dia);
 gliclazida 30mg (1x/dia);
 metformina 850mg (2x/dia);
 enalapril 20mg + anlodipino 5mg (1x/dia);
 ácido acetilsalicílico (AAS) 100mg (1x/dia);
 diazepam 5mg “para dormir”;
 sinvastatina 40mg (1x/dia);
 diosmina 450mg + hesperidina 50mg (1 a 2x/dia);
 analgésicos não opioides ou anti-inflamatórios para dor crônica, quando é
“muito forte”.
Também utiliza 25mg de hidroclorotiazida todas as manhãs e, quando as aferições
realizadas com esfigmomanômetro digital apresentam resultados elevados, faz uso de
mais 25mg à noite.
Ao exame físico, a paciente encontrava-se em bom estado geral, hipocorada, hidratada e
eupneica, com:
 
 índice de massa corporal (IMC) de 28;
 pressão arterial (PA) de 110/60mmHg deitada e sentada;
 auscultas cardíaca e pulmonar normais;
 abdome inocente;
 Teste de Lasègue positivo, sem déficit de força, tremores ou rigidez;
 pulsos pediosos filiformes;
 veias varicosas de médio calibre em membros inferiores.

ATIVIDADES
11. Com relação às principais hipóteses diagnósticas para a paciente do caso clínico,
assinale a alternativa correta.
A) CNP, polineuropatia diabética, insuficiência arterial periférica e cãibras secundárias
a medicamentos.
B) Insuficiência venosa periférica, doença de Parkinson, efeito colateral de medicações
e cãibras parafisiológicas.
C) CNP, insuficiência venosa periférica, insuficiência arterial periférica e depressão.
D) Insônia, efeito colateral de medicações, cãibras parafisiológicas e estenose de canal
medular.
Confira aqui a resposta
12. No que se refere às medicações que poderiam ser consideradas inapropriadas para a
paciente do caso clínico em relação às cãibras, assinale a alternativa correta.
A) AAS, sinvastatina, metformina, anlodipino e diazepam.
B) Diazepam, anlodipino, hidroclorotiazida, AAS e gliclazida.
C) Sinvastatina, hidroclorotiazida, anlodipino e rabeprazol.
D) Diosmina/hesperidina, anlodipino, hidroclorotiazida, rabeprazol e AAS.
Confira aqui a resposta

Conclusão
Cãibras são mais comuns em idosos durante o descanso noturno, principalmente nas
pernas, afetando, de forma significativa, a qualidade de vida, em especial a do sono.
Podem se manifestar em indivíduos saudáveis ou decorrer de enfermidades,
desequilíbrio hidroeletrolítico e uso de medicamentos. O diagnóstico é clínico, no
entanto poucos pacientes relatam a cãibra aos médicos. Assim, é necessário incluir nas
consultas de rotina o questionamento ativo sobre sua ocorrência.
A melhor estratégia para a prevenção de cãibras, por enquanto, é a prática regular de
atividade física, com exercícios diários de alongamento. Em razão da falta de evidências
científicas, não há um tratamento medicamentoso específico. O quinino foi a substância
que se mostrou mais eficaz. Todavia, por seu elevado risco de desencadear efeitos
adversos, deve ser evitado.
Estudos sobre cãibras ainda são necessários para melhor conhecimento sobre sua
fisiopatologia, orientação sobre fatores de risco, estabelecimento de critérios adequados
para o diagnóstico, exploração das expectativas dos pacientes sobre os tratamentos e
identificação das medidas que são eficazes.

Atividades: Respostas
Atividade 1 // Resposta: B
Comentário: Segundo as referências utilizadas neste trabalho, β-agonistas de longa
ação, diuréticos tiazídicos e poupadores de potássio e hipocolesterolemiantes são as
classes de substâncias consideradas com maior potencial de provocar cãibras. Deve-se
lembrar, contudo, que não foram realizadas pesquisas específicas para determinar se
realmente há esta relação entre causa e efeito.
Atividade 2 // Resposta: D
Comentário: A fisiopatologia das cãibras musculares, assim como suas causas e
possibilidades terapêuticas, é motivo de estudos, pesquisa, questionamentos e
incertezas. Na fisiopatologia, ocorre um aumento dos potenciais de ação muscular por
uma hiperatividade do neurônio motor, o que gera acúmulo citosólico de cálcio. Os
distúrbios que afetam o neurônio motor, assim como imobilidade prolongada e doenças
neurológicas centrais, podem aumentar a excitabilidade do terminal nervoso e
influenciar o desenvolvimento de cãibras.
Atividade 3 // Resposta: C
Comentário: A dor nas câimbras em idosos é uma dor de intensidade moderada a alta,
com duração de segundos.
Atividade 4 // Resposta: A
Comentário: As cãibras em idosos são localizadas principalmente nas panturrilhas.
Atividade 5 // Resposta: B
Comentário: Em idosos, as cãibras ocorrem no período noturno, com desconforto
subsequente não duradouro e com impacto frequente na qualidade do sono.
Atividade 6 // Resposta: D
Comentário: Os exames laboratoriais que devem ser solicitados quando houver suspeita
de cãibras secundárias consistem em hormônios tireoidianos, glicose sérica, ureia,
creatinina, sódio, potássio, magnésio, cálcio, CPK. Além destes, outros poderão ser
solicitados dependendo da(s) enfermidade(s) investigada(s).
Atividade 7 // Resposta: A
Comentário: Os diagnósticos diferenciais das cãibras consistem em síndrome das pernas
inquietas, deformidades articulares, espasmos mioclônicos, transtornos dos movimentos
relacionados ao sono, contratura muscular. Deve-se lembrar que cada paciente tem sua
história e, por isso, outras situações devem ser consideradas quanto a diagnósticos
diferenciais, por exemplo, esclerose lateral amiotrófica, síndrome dos movimentos
periódicos dos membros, radiculopatias. insuficiências arteriais (claudicação
intermitente), posturas viciosas e alterações da marcha.
Atividade 8 // Resposta: C
Comentário: O quinino, por sua ação no sistema musculoesquelético, onde reduz a
excitabilidade nas placas neuromusculares e aumenta o período refratário da contração,
foi o fármaco mais estudado e utilizado no tratamento das cãibras. Apesar das
evidências favoráveis, possui risco elevado de interações medicamentosas e pode ainda
estar associado a arritmias cardíacas, trombocitopenia e reações de hipersensibilidade
graves, inviabilizando seu uso. Não está disponível no Brasil (Anvisa) para o tratamento
de cãibras, mas, infelizmente, pode ser adquirido nos sites de vendas online, exigindo
assim um olhar crítico do geriatra durante a anamnese medicamentosa.
Atividade 9 // Resposta: D
Comentário: Para prevenir cãibras recorrentes, é sugerida como principal estratégia a
realização de exercícios físicos diários de alongamento, além de outras medidas não
farmacológicas e não invasivas, como evitar exercícios físicos após as refeições, pedalar
em bicicleta ergométrica por poucos minutos antes de descansar, realizar exercícios
físicos regulares não extenuantes, usar sapatos de cano longo, manter as colchas ao pé
da cama soltas, e não dobradas, evitar desidratação e substâncias conhecidas como
potencialmente desencadeadoras de cãibras.
Atividade 10 // Resposta: A
Comentário: Ainda não há normatização para o tratamento farmacológico das cãibras,
apesar de haver algumas recomendações baseadas em revisão da literatura. Deve-se
lembrar que nenhum dos tratamentos se mostrou eficaz e seguro. Entre os tratamentos,
os canabinoides por enquanto não contam com evidências de alta qualidade.
Atividade 11 // Resposta: A
Comentário: A paciente do caso clínico queixa-se de cãibras frequentes no período
noturno, levando à primeira hipótese diagnóstica de CNP. Tem diagnóstico de diabetes
de longa data com glicemias não controladas, o que indica grande probabilidade de
apresentar polineuropatia diabética. As cãibras ocorrem em cerca de dois terços dos
diabéticos, especialmente no DM2 e em associação com a neuropatia diabética. Durante
o exame físico, foi encontrada redução de pulsos pediosos, e, considerando-se os fatores
de risco cardiovasculares que a paciente apresenta (HAS, DM, dislipidemia e
sedentarismo), a insuficiência arterial periférica também é um provável diagnóstico.
Diante da extensa lista de medicamentos com potencial de desencadear cãibras, as
cãibras secundárias a medicamentos também devem ser incluídas na lista de
possibilidades diagnósticas. Como na grande maioria dos casos em pacientes idosos, as
causas das queixas apresentadas são multifatoriais.
Atividade 12 // Resposta: C
Comentário: Conforme evidenciado em estudos citados neste capítulo, algumas classes
de medicamentos podem estar relacionadas às cãibras. Entre as várias substâncias de
que a paciente faz uso, quatro constam dessa relação. São elas: sinvastatina,
hidroclorotiazida, anlodipino e rabeprazol. Podem ser consideradas, nesse caso, várias
alternativas para discutir com a paciente, como:
 
 reavaliar a necessidade do uso dos quatro medicamentos;
 suspender os fármacos e trocá-los por outras classes;
 suspender inicialmente a hidroclorotiazida, pois é a que mais está relacionada às
cãibras, e aguardar que as medidas não medicamentosas sejam efetivas;
 caso a paciente continue a apresentar cãibras, suspender anlodipino, rabeprazol e
sinvastatina.
Poderá ser prescrito, em substituição ao anlodipino, o diltiazem ou o verapamil, pois são
considerados opções de tratamento para cãibras. Também pode ser indicado substituir a
sinvastatina por medidas dietéticas e exercícios físicos. Como a paciente não apresenta
queixas gástricas, o rabeprazol não precisa ser substituído por outra medicação. Com
relação às vastatinas, todas poderão causar cãibras.
Marcar como concluído

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