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Cuidados na saúde a populações mais vulneráveis

UFCD 6580

- O Alcoolismo -

CU RS O: T ÉCN I CO/A AU X I L IA R DE SAÚ DE 2 2 . 00275


U FCD 6 5 8 0 5 0 HOR A S
FOR MA DOR A: LU Í SA CA R DOS O

1
Problemas associados ao álcool

2
Alcoolismo
O conceito de alcoolismo abrange a globalidade dos
problemas motivados pelo álcool, no indivíduo, nos planos
físico e psíquico, nas perturbações da vida familiar,
profissional e social, e também nas suas implicações
económicas, legais e morais.

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Alcoolismo
❑Em Portugal, apesar dos últimos dados disponíveis indicarem um
ligeiro decréscimo a nível nacional, o consumo de álcool per capita
mantém-se bastante elevado.

❑Por outro lado, tem-se verificado um consumo crescente de álcool


entre jovens e mulheres e alterações significativas nos modos de
ingestão que agravam as situações de risco.

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Alcoolismo
❑Este tópico tem sido tema recorrente nos meios de comunicação e tem determinado
alterações na legislação de modo a tentar controlar este importante problema.

❑Portugal surge de forma sistemática entre os maiores consumidores de bebidas alcoólicas e de


álcool a nível Europeu e Mundial.

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Alcoolismo
❑Num estudo recente, encontraram-se estimativas em maiores de 15 anos para o País, de
58.000 doentes alcoólicos (síndrome de dependência de álcool), isto é, cerca de 7% da
população nacional, e 750.000 bebedores excessivos (síndrome de abuso de álcool), o que
equivale a 9,4% da população nacional.

❑Na população escolar portuguesa, estima-se que a prevalência de problemas ligados ao álcool
se situe entre os 10% e os 20%, em alunos universitários. No que se refere a alunos do ensino
secundário, com idade média de 16 anos, entre 18% e 20% ter-se-ão embriagado pelo menos
uma vez.

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Alcoolismo
❑ Estima-se que o consumo excessivo de álcool ocorra em
cerca de 10% das mulheres e 20% dos homens. Sabe-se
também que o álcool está relacionado com 50% dos casos de
morte em acidentes de automóvel, 50% dos homicídios e 25%
dos suicídios.

❑ O álcool é atualmente, em Portugal, uma droga legal e


comercializada, fazendo parte dos hábitos alimentares de uma
larga maioria da população.

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Alcoolismo
❑ Para além disso o álcool aparece muitas vezes associado a inúmeras formas de
relacionamento social, tanto privado como público, de natureza ritual, comemorativa,
recreativa, para além de fazer parte do estilo de vida ou mesmo da identidade de
muitos grupos sociais.

❑ O alcoolismo é influenciado por fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais


que afetem a resposta e o comportamento do organismo face ao álcool.

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Alcoolismo
❑O processo de dependência em relação ao álcool ocorre de
um modo gradual. O álcool, ao longo do tempo, vai
alterando o normal equilíbrio entre as substâncias químicas
que existem a nível do cérebro associadas com a sensação
de prazer, capacidade de avaliação e controlo do corpo.

❑Esse facto faz que se consuma álcool para recuperar as


boas sensações ou para afastar as negativas.

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Alcoolismo
❑ Eis alguns fatores de risco para o desenvolvimento do alcoolismo:

o Consumo regular: de álcool ao longo do tempo, que vai gerando uma


dependência física.
o Idade: quanto mais cedo se inicia o consumo de álcool, maior o risco de
desenvolvimento de dependência.
o História familiar: o risco é mais elevado quando existem familiares próximos com
problemas relacionados com o álcool.

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Alcoolismo
o Depressão e outros problemas mentais: como a ansiedade ou doença bipolar.
o Fatores sociais e culturais: ter amigos ou pessoas próximas que bebem
regularmente álcool aumenta o risco de consumo e de dependência. As
mensagens que os media veiculam da associação entre o consumo de álcool e o
status social podem ser um fator importante em alguns casos.
o Mistura de medicamentos e álcool: alguns medicamentos interagem com o
álcool, aumentando os seus efeitos tóxicos. Inversamente, o álcool pode aumentar
ou diminuir o efeito de diversos medicamentos, o que se pode revelar perigoso.

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Conceitos básicos sobre bebidas alcoólicas,
consumo nocivo e dependência

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Álcool
❑ O álcool etílico ou etanol, conhecido como álcool,
apesar de ser uma substância utilizada para fins
médicos devido às suas propriedades antissépticas, é
igualmente um componente que define e está sempre
presente nas bebidas alcoólicas.

❑ As bebidas alcoólicas podem ser elaboradas através


de dois tipos de processos: fermentação e destilação.

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Álcool
❑ O processo de fermentação, já conhecido e utilizado nas civilizações antigas, consiste
em adicionar leveduras ou fermentos aos sumos obtidos a partir de vários tipos de
produtos vegetais - é assim que é elaborado o vinho, a cerveja e a sidra.

❑ Por outro lado, a elaboração de aguardentes e licores necessita, para além da


fermentação dos produtos vegetais, da destilação dos sumos fermentados, o que
possibilita, por um lado, a evaporação dos componentes mais voláteis e, por outro
lado, a concentração do álcool.

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Álcool
❑ Embora a aquisição destas bebidas seja legal, o álcool deve ser considerado uma
droga, pois pode provocar uma evidente dependência psíquica e física, tolerância ou
necessidade de aumentar progressivamente as doses, de modo a conseguir os
mesmos efeitos e uma síndrome de abstinência com graves manifestações.

❑ No fundo, o álcool tem, à semelhança de todas as substâncias psicoativas, as


características necessárias para a dependência.

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Álcool
❑ Por outro lado, o álcool é uma substância tóxica. Não só provoca efeitos nocivos em
vários órgãos e tecidos, na medida em que exerce um efeito deletério sobre o sistema
nervoso central, podendo conduzir a uma intoxicação alcoólica aguda, como irrita a
mucosa do tubo digestivo e destrói vários tipos de células, nomeadamente as
nervosas e as hepáticas.

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Álcool
❑ Quando o álcool é consumido com moderação, o organismo pode recuperar dos seus
efeitos nocivos. De qualquer forma, quando é consumido em excesso e de forma
regular, pode provocar a dependência com todas as suas consequências, acabando
os efeitos tóxicos por se manifestar, mais tarde ou mais cedo, sob a forma de várias
doenças hepáticas, do tubo digestivo e neurológicas.

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Álcool

O nome químico do álcool é ETANOL.

ÁLCOOL O álcool é um depressor.


O álcool é uma DROGA.

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O Alcoolismo

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O Alcoolismo

Doença Progressiva e Crónica.


Doente Alcoólico quando assume
ALCOOLISMO dependência.
O consumo assume prejuízo a nível
laboral, familiar, social, individual, etc.

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O Alcoolismo
O conceito de alcoolismo abrange a globalidade dos problemas motivados pelo álcool, no
indivíduo, nos planos físico e psíquico, nas perturbações da vida familiar, profissional e social, e
também nas suas implicações económicas, legais e morais.

«Alcoolismo não constitui uma entidade nosológica definida, mas a totalidade dos problemas
motivados pelo álcool, no indivíduo, estendendo-se em vários planos e causando perturbações
orgânicas e psíquicas, perturbações da vida familiar, profissional e social, com as suas
repercussões económicas, legais e morais;»

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O Alcoolismo
Alcoolismo é um termo amplo para descrever qualquer consumo de álcool que cause problemas
de saúde físicos ou mentais.

Em medicina, o alcoolismo define-se pela presença de duas ou mais das seguintes condições:
✓consumo de grande quantidade de álcool durante um longo período de tempo;

✓dificuldade em consumir poucas quantidades, a aquisição e consumo de álcool ocupam uma parte significativa do
tempo da pessoa;

✓o álcool é intensamente desejado, o consumo causa o incumprimento de responsabilidades e obrigações, o consumo


causa problemas de saúde,

✓o consumo está na origem de comportamentos de risco, ocorrem sintomas de abstinência quando se interrompe o
consumo, ou o corpo já desenvolveu tolerância ao álcool.

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Classificação dos Consumos de bebidas
alcoólicas da OMS
❑ Consumo de risco (Hazardous - perigoso) é definido como um padrão de consumo
que pode vir a implicar dano físico ou mental se este persistir. É um padrão de
consumo de muita importância em saúde pública apesar da ausência de alguma
perturbação evidente no utilizador.

❑ A intervenção no caso das pessoas cujo consumo é de risco pode prevenir o


aparecimento de problemas.

❑ Binge drinking (bebedeira) corresponde ao consumo ocasional de risco ou esporádico


excessivo e diz respeito ao consumo ocasional de mais de cinco unidades (supera 50
g de etanol) de qualquer bebida no homem numa única ocasião e quatro unidades na
mulher (40 g de álcool) numa única ocasião três ou mais vezes no último mês.

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Classificação dos Consumos de bebidas
alcoólicas da OMS
❑Consumo nocivo (Harmful - prejudicial) define-se como um padrão de
consumo que causa danos à saúde quer física quer mental.

❑Todavia o transtorno não satisfaz os critérios de dependência.

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Classificação dos Consumos de bebidas
alcoólicas da OMS
❑ Dependência define-se como um padrão de consumos constituído por um conjunto
de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem desenvolver-se
após repetido uso de álcool.

❑ Inclui um desejo intenso de consumir bebidas, descontrolo sobre o seu uso,


continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta
prioridade dada aos consumos em detrimento de outras atividades e obrigações,
aumento da tolerância ao álcool e sintomas de privação quando o consumo é
descontinuado.

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Os Tipos de embriaguez

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Os Tipos de embriaguez
A embriaguez alcoólica aguda define-se como um conjunto de manifestações
que resultam da intoxicação etílica aguda/imediata de carácter episódico e
passageiro.

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Os Tipos de embriaguez
❑ 1. Não acidental:

o Voluntária: o agente deseja ingerir a substância que lhe causará a embriaguez,


sem qualquer empecilho para isso.
o Culposa: o agente deseja ingerir a substância, mas não pretende embriagar-se. A
embriaguez é derivada de culpa, muito embora o consumo da bebida tenha sido
espontâneo e consciente.
o Preordenada: o agente embriaga-se com fins de cometer uma conduta típica, a
ingestão de bebidas dá-se exatamente em razão da finalidade previamente
planeada.

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Os Tipos de embriaguez
❑ 2. Acidental:

o Fortuita: derivada de um caso fortuito, ocorre quando o agente se embriaga sem o


seu próprio consentimento, sendo que não a previu nem desejou. Aqui ocorre o
erro e a ignorância, pois o sujeito desconhece os efeitos que tal produto pode
causar-lhe ou mesmo a sua própria intolerância orgânica.
o Forçosa: derivada de força maior, acontece quando o agente é impelido a ingerir a
substância que lhe causará a embriaguez, sem que possa resistir. Nessa
circunstância, é do seu conhecimento o efeito que lhe causará o consumo,
entretanto, não é possível esquivar-se.

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Os Tipos de embriaguez
❑ 3 - Patológica ou crónica: o agente embriaga-se ininterruptamente, não conseguindo
voltar ao estado de sobriedade. O seu sistema nervoso é tomado por deformação,
não sendo capaz de voltar ao estado normal. Na medicina, costuma ser equiparada a
doença mental.

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Os Tipos de embriaguez
❑ 4. Habitual: neste estado o sujeito embriaga-se com
habitualidade, mas a interrupção fá-lo voltar ao estado de
sobriedade, isto é, os efeitos da intoxicação desaparecem
com a eliminação do álcool do organismo.

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Processos degenerativos e demências

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Processos degenerativos e demências
❑A Demência Alcoólica é, como o próprio nome sugere, uma forma de Demência provocada pelo
consumo excessivo de álcool. Afeta a memória, aprendizagem e outras funções mentais.

❑A síndrome de Korsakoff e a síndrome de Wernicke-Korsakoff são formas particulares de lesões


cerebrais provocadas pelo álcool e que podem estar relacionadas com a Demência Alcoólica.

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Processos degenerativos e demências
❑O consumo excessivo de álcool pode ter um efeito nocivo nas células nervosas
do cérebro. Quando estas são danificadas, várias capacidades e competências
podem ser afetadas.

❑As deficiências nutricionais que acompanham frequentemente o consumo


excessivo de álcool, regular ou agudo, são também entendidas como um fator
que contribui para esta Demência.

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Processos degenerativos e demências
❑O cérebro pode ficar lesado através de deficiências vitamínicas, incluindo a de
tiamina (vitamina B1).

❑O álcool afeta a absorção e utilização da tiamina e o consumo excessivo pode


levar à carência desta vitamina.

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Processos degenerativos e demências
❑ Os sintomas da Demência alcoólica variam de pessoa para pessoa e podem
incluir:

o Dificuldade na aprendizagem de coisas novas.


o Problemas na memória a curto-prazo.
o Alterações da personalidade.
o Dificuldades no pensamento lógico e em tarefas que requeiram capacidades de
planeamento, organização e discernimento.
o Competências sociais fracas.
o Problemas de equilíbrio.
o Diminuição da iniciativa
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Processos degenerativos e demências
❑ Geralmente, as pessoas conservam as competências que aprenderam durante a vida,
antes de terem desenvolvido a doença, como por exemplo a linguagem, e, por isso,
normalmente conseguem cuidar-se com o suporte apropriado.

❑ Qualquer pessoa que beba quantidades excessivas de álcool durante vários anos
pode desenvolver Demência alcoólica. Esta atinge mais frequentemente homens com
idades entre os 45 e 65 anos, com uma história longa de abuso de álcool, embora
possa afetar homens e mulheres de qualquer idade.

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Processos degenerativos e demências
❑ O risco aumenta consideravelmente nas pessoas que bebem regularmente
quantidades elevadas de álcool.

❑ A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que para reduzir o risco de


problemas de saúde relacionados com o álcool, o consumo deve ser no máximo de
duas bebidas padrão (que corresponde a 20 gr de álcool) por dia para os homens, e
de uma bebida padrão (que corresponde a 10 gr de álcool) por dia para as mulheres,
devendo em ambos os casos ser consumido no máximo cinco dias por semana.

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Processos degenerativos e demências
❑ Algumas pessoas que bebem quantidades elevadas de álcool,
não desenvolvem Demência alcoólica. Apesar de ainda não se
ter esclarecido porque é que algumas pessoas que fazem
consumo excessivo desenvolvem este tipo de Demência e outras
não, pensa-se que esta situação possa estar relacionada com a
alimentação.

❑ Se a pessoa continuar a beber álcool em quantidades elevadas,


os sintomas de Demência irão agravar-se progressivamente.

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Processos degenerativos e demências
❑ A progressão pode ser interrompida se a pessoa se abstiver totalmente de consumir
álcool, adotar uma alimentação saudável e tomar suplementos vitamínicos, incluindo
vitamina B1.

❑ Pode, assim, conseguir-se alguma recuperação ao longo do tempo com a abstinência


do consumo de álcool e mantendo um estilo de vida saudável.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Diagnóstico da dependência alcoólica (DSM IV - Manual de Diagnóstico e
Estatística dos Transtornos Mentais)

o Um forte desejo ou compulsão para consumir álcool.


o Comprometimento da capacidade de controlar o comportamento de uso do álcool
em termos do seu início, término ou níveis de uso.
o Um estado fisiológico de abstinência e quando o uso de álcool é reduzido ou
interrompido.
o Evidência de tolerância.
o Redução ou abandono de prazeres com o uso de álcool.
o Uso persistente com consequências nocivas
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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ O médico de família deve intervir no:

o Consumo de risco.
o Consumo nocivo.
o Dependentes Alcoólicos se:
❑ Sem comorbilidade psiquiátrica.
❑ Sem complicações clinicas.
❑ Sem limitações sociais.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Tratamento da desintoxicação alcoólica ambulatória
o Ausência de complicações graves do ponto de vista orgânico (antecedentes de
delirium, psicopatologia comórbida, estado orgânico comprometido, etc.)
o Compromisso do paciente:
❑ De não beber durante a desintoxicação
❑ De não sair do domicílio familiar e não realizar atividades de risco
o Presença de um familiar sem problemas de adição que seja responsável por
administrar a medicação e supervisionar o tratamento
o Supressão de bebidas alcoólicas no domicílio enquanto durar a desintoxicação
o Vigilância médica com monitorização

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Critérios para tratamento em regime ambulatório:

o Doente com consciência da doença alcoólica.


o Motivado.
o Que aceita a abstinência total definitiva como condição da sua recuperação global.
o Saúde física, psíquica e social aceitáveis.
o Possibilidade de permanecer ligado ao programa terapêutico.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Critérios para tratamento em regime ambulatório:

o Doente com consciência da doença alcoólica.


o Motivado.
o Que aceita a abstinência total definitiva como condição da sua recuperação global.
o Saúde física, psíquica e social aceitáveis.
o Possibilidade de permanecer ligado ao programa terapêutico.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Critérios para tratamento em regime de internamento:

o Complicações médicas/psiquiátricas agudas: relacionadas com a intoxicação


alcoólica ou com a privação.
o Complicações médicas/psiquiátricas crónicas: descompensação de doenças
crónicas.
o Em relação com o programa de tratamento propriamente dito: para lograr a
abstinência com a desintoxicação protegida e como início de desabituação.
o Antecedentes recentes de recaídas em meio ambulatório.
o Ausência de apoio familiar.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Abordagem terapêutica ao doente alcoólico

❑ Objetivo

❑ O objetivo da abordagem dos doentes alcoólicos


tem por fim a sua recuperação integral, no sentido
físico, mental e relacional.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Essa recuperação pressupõe a extinção da conduta dependente e a extinção da
conduta dependente implica a desintoxicação e a manutenção de uma abstinência
total e definitiva.

❑ Deve contemplar as características individuais e de vulnerabilidade de cada doente.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ A abordagem da dependência consiste em três fases:
❑ FASE DE CONTACTO OU PREPARATÓRIA

❑ Para motivar o doente, há que começar por:

o Desculpabilizá-lo.
o Fazer-lhe ver a possibilidade de uma mudança.
o Mostrar-lhe o ganho que advirá dessa mudança.
o Reforçar-lhe a autoestima.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Fase de desintoxicação

❑ Essencialmente farmacológica, para prevenção ou


tratamento da síndrome de privação.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Fase de desabituação ou de estabilização

o Tratamentos farmacológicos da apetência para o álcool.


o Intervenções psicossociais.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Fase de Contacto ou Preparatória

❑ No que se refere à fase inicial da dependência alcoólica é importante motivar o


paciente para que ele aceite as condições do tratamento.

❑ Uma das principais dificuldades que aparece nesta fase é a falta de motivação para
iniciar o tratamento.

❑ Neste sentido é essencial uma adequada avaliação que nos permita saber qual o
estado cognitivo de mudança em que o doente se encontra.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Fase de Desintoxicação

❑ O processo de desintoxicação do paciente alcoólico implica a imediata e total


supressão do álcool, e a prevenção ou tratamento da síndrome de abstinência
alcoólica (SAA).

❑ O objetivo primordial da desintoxicação é evitar os sintomas de privação causados


pela falta do álcool. Esses sintomas de privação resultam da hiperexcitabilidade do
sistema nervoso central (inquietação, agitação e convulsões) da hiperatividade do
sistema nervoso autónomo (náuseas, vómitos, taquicardia, tremores, hipertensão) e
de alterações cognitivas.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Fase de Desabituação ou de Estabilização

❑ Esta fase consiste em manter a situação de abstinência, lograda pela desintoxicação.

❑ Será a altura de atuar sobre múltiplos aspetos do doente e do seu ambiente, com a
finalidade de consolidar o comportamento de não consumo de álcool.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ É um processo complexo que requere um tratamento
estruturado, levado a cabo coordenadamente entre os
CSP e os níveis mais especializados.

❑ O tratamento apoia-se sobre a terapêutica


farmacológica, a psicoterapia, a intervenção social e
os grupos de autoajuda.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Os objetivos do tratamento de desabituação e prevenção de recaídas são a extinção
do comportamento condicionado de procura e consumo de álcool, a aquisição de
consciência de dependência, a manutenção da motivação ao longo de todo o
processo, a reorganização das atividades do doente com procura de alternativas, a
prevenção de recaídas e o tratamento da psicopatologia associada.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Prevenção de recaídas

❑ Uma das técnicas mais utilizadas é a da prevenção da recaída. Nesta modalidade


psicoterapêutica, o tratamento é individualizado, abordando variáveis cognitivas, ou
seja, os pensamentos do sujeito que determinam o seu comportamento.

❑ O sujeito é considerado como o principal agente de mudança, tanto a nível da


abstinência como da vida pessoal.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Assim, deve ser apoiado na motivação, na evicção de situações ou lugares onde haja
consumo, na utilização de suporte de familiares e/ou amigos, na valorização da
mudança de comportamento e no desenvolvimento de comportamentos alternativos.

❑ Neste sentido, podem ser de grande utilidade os programas de treino (assertividade,


competências na comunicação, resistência à pressão do grupo...).

58
As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Terapias Grupais

❑ O objetivo é de promover as relações interpessoais e de apoio mútuo, aumentando a


autoestima e a motivação.

❑ Os aspetos que se abordam no grupo, e que são considerados como terapêuticos são
os seguintes: informação sobre aspetos da doença, desenvolvimento de crença na
possibilidade de mudança, aprendizagem de novas competências sociais.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ A coexistência de doentes em diferentes fases do tratamento oferece um efeito
de modelagem, aumentando o potencial de aprendizagem de estratégias de
consciencialização.

❑ Têm um papel importante na prevenção e deteção de recaídas, permitindo a


troca de experiências.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ Grupos de Autoajuda

❑ Os grupos de auto ajuda (Alcoólicos Anónimos, Al-Anon, Al-Ateen, Alcoólicos


Reabilitados...) exercem a sua função reforçando a decisão de não entrar em contacto
com o álcool.

61
As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑O objetivo principal é a abstinência do
álcool, assim como ajudar outros alcoólicos a
conseguir a sobriedade.

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As dificuldades no tratamento do utente
alcoólico
❑ O trabalho consiste na realização de reuniões em que um membro fala de algum tema
particular ou da sua experiência pessoal com o álcool no sentido de poder partilhar
com o grupo, iniciando um intercâmbio de experiências construtivo.

❑ As finalidades básicas dos grupos de autoajuda seriam as seguintes: motivação para


o tratamento e recuperação do doente alcoólico. colaboração na prevenção,
reabilitação e reinserção deste tipo de doentes. colaboração com os profissionais das
equipas assistenciais a doentes com dependência alcoólica, entre outros.

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A reabilitação e redes de suporte

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Cuidados de Saúde Primários (CSP)

❑ Constituem a porta de entrada do Serviço Nacional de Saúde e dever-se-á, também a


este nível, diagnosticar precocemente e saber intervir junto do consumidor de risco,
com consumo nocivo ou em situação de dependência com fatores de prognóstico
mais favorável (como sejam a ausência de grandes repercussões clínicas, de
comorbilidade psiquiátrica e a existência de bom suporte familiar).

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Para tal, devem ser introduzidos métodos e instrumentos (questionários) de deteção
do problema, utilizando as intervenções breves de base motivacional, cuja evidência
já confirmou a sua eficácia.

❑ A deteção e intervenção devem ser dirigidas aos grupos vulneráveis, em particular as


grávidas e os jovens.

66
A reabilitação e redes de suporte
❑ Os CSP podem ainda proceder a algumas desintoxicações físicas, em ambulatório, na
dependência alcoólica com fatores de prognóstico mais favorável, como se referiu
anteriormente.

❑ O Médico de Família deve adequar este trabalho individual ao contexto familiar e, no


caso se tratar de um doente com dependência alcoólica, estar particularmente atento
aos filhos deste em termos de crescimento e desenvolvimento.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ O Médico de Família deverá também saber identificar critérios de gravidade quando
referenciar utentes com dependência alcoólica para as unidades de intervenção mais
diferenciadas, nomeadamente os Centros de Respostas Integradas (CRI) ou mesmo
as Unidades de Alcoologia, do IDT, IP.

❑ Ao nível dos Cuidados de Saúde Primários, a referenciação deverá fazer-se entre os


médicos de família e as Equipas de Resposta aos PLA dos Cuidados de Saúde
Primários (quando existirem).

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Estas Equipas são estruturas com treino e competências dirigidas para resolver as
situações relacionadas com o consumo de álcool, nomeadamente quando se deteta
consumo nocivo e as situações de dependência de menor gravidade.

❑ A referenciação poderá ainda ser realizada para os Centros de Respostas Integradas


(CRI) – Equipas de Tratamento ou para as Unidades de Alcoologia, do IDT, I.P. ou,
ainda, em função de critérios de gravidade clínica e/ou de comorbilidades, para o
Hospital Geral (Unidades médico - cirúrgicas) ou Saúde Mental.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Serviços de Urgência

❑ São também uma porta frequente de entrada de


doentes na rede de cuidados, justificada por
critérios de urgência ou emergência do ponto de
vista clínico.

❑ Estes serviços devem poder tratar desde


intoxicações agudas até todas as complicações e
intercorrências médicas e cirúrgicas de urgência
associadas ao consumo excessivo de Álcool.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Em circunstâncias que o permitam, poder-se-ão também utilizar as intervenções
breves de base motivacional, após identificação do nível de consumos, caso se trate
de consumo de risco ou nocivo de álcool.

❑ Dos serviços de urgência deve-se orientar para serviços especializados hospitalares,


caso clinicamente se justifique, ou proceder ao envio para as estruturas do IDT, I.P. –
Unidades de Alcoologia ou Equipas de Tratamento dos Centros de Respostas
Integradas (CRI), em função do tipo de continuidade de abordagem terapêutica que
seja considerada adequada.

❑ Será necessário recorrer à psiquiatria, em situações como comportamentos violentos


e ilegais, ideação e/ou tentativa de suicídio, quadros alucinatórios e delirantes.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Unidades de intervenção do IDT, I.P.

❑ Em função da especificidade de cada um dos


organismos seguintes e de acordo com o
regulamento interno, as respostas de cada
uma das seguintes estruturas terá em linha de
conta objetivos concretos em contextos
dirigidos para a prevenção, o tratamento, a
reinserção e a redução de danos, no que se
refere à dependência de álcool ou de
substâncias ilícitas ou mesmo de
policonsumos.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ Estes aspetos vão ao encontro dos objetivos traçados no Plano Nacional para a
Redução dos Problemas Ligados ao Álcool, de modo a construir uma rede
global de respostas integradas e complementares a nível loco-regional, que vise
a redução do consumo de substâncias psicoativas:

o Os Centros de Respostas Integradas.


o As Unidades de Alcoologia.
o As Unidades de Desabituação.
o As Comunidades Terapêuticas.
o Os Centros de Respostas Integradas (CRI).

73
A reabilitação e redes de suporte
❑ As Unidades de Alcoologia (UA)

❑ Prestam cuidados integrados e globais, em regime de ambulatório ou de


internamento, a doentes com síndrome de abuso de álcool ou dependência de álcool,
segundo as modalidades de tratamento mais adequadas a cada situação, assim como
de redução de danos e reinserção, apoiando as atividades de intervenção dos CRI na
área de alcoologia, enquanto unidades especializadas, de referência, com
competências de formação específicas.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ As Unidades de Desabituação (UD)

❑ Realizam o tratamento de síndromes de privação em doentes com policonsumos nas


situações em que a/as substâncias ilícitas forem predominantes.

❑ Esse tratamento ocorrerá em regime de internamento devendo acautelar outras


dimensões, nomeadamente a articulação com outras estruturas de saúde que
desenvolvam uma abordagem mais abrangente que contemple a reabilitação e a
reinserção.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ As Comunidades Terapêuticas (CT)

❑ Prestam cuidados a doentes toxicodependentes e doentes com policonsumos que


necessitem de internamento prolongado, com apoio psicoterapêutico e
socioterapêutico, sob supervisão psiquiátrica, tendo em vista a melhor reabilitação e
reinserção do doente e ainda a prevenção de recaídas, de modo a permitir o
desenvolvimento de projetos de vida responsáveis e responsabilizantes.

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A reabilitação e redes de suporte
❑ As comunidades terapêuticas com camas convencionadas e com programa específico
estão abertas a internamento de doentes com PLA desde que enviados pelos serviços
do IDT, I.P.

❑ Deverão ser definidas as regras que permitam a outros serviços, nomeadamente no


âmbito da saúde mental, a referenciação de doentes para estas comunidades.

77
78
Fases do Processo de
Tratamento

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DUVÍDAS…

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