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Rev Bras Anestesiol

1994; 44: 4: 271 - 282

Artigo de Revisão
Alcoolismo e Anestesia
José Antonio Rodriguez Forero 1; Maristela Bueno Lopes 1;
Douglas Flávio Porsani,TSA 1

Forero JAR, Lopes MB, Porsani DF - Alcoholism and Anesthesia

KEY WORDS: COMPLICATIONS: alcoholism; SURGERY: emergency

reqüentemente, o alcoolismo é considerado A etiologia do alcoolismo permanece


F como um ‘‘vício banal’’, enquanto nos países
desenvolvidos tal conceito tem se modificado,
desconhecida. Mello descreve uma possível
personalidade alcoólica6 ; fatores genéticos
caracterizando-o como ‘‘verdadeira doença’’, mais do que alterações ambientais têm sido
enfatizando sua importância. propostos por Goodman7 ; vizinhanças, locais
O alcoolismo é uma das doenças de de moradia também podem influenciar na gêne-
maior crescimento na população mundial. As se2 . Embora não se tenha um conceito unificado
causas são diversas (desemprego, estresse, é universalmente aceito que o alcoolismo não
problemas pessoais) elevando as taxas de mor- respeita estado cultural, sócio-econômico, raça,
bi-mortalidade decorrentes de acidentes, cri- sexo ou idade, fatos de importância na visita
mes, distúrbios da personalidade que se traduz pré-anestésica.
em aumento das internações hospitalares, in- Segundo a Academia Nacional de Ciên-
tervenções cirúrgicas, especialmente na área cias norte-americana, estimam-se 50.000 a
de emergência, exigindo dos anestesiologistas 200.000 mortes ao ano por abuso do álcool
um profundo conhecimento para o controle decorrentes de complicações hepáticas, gástri-
destes pacientes1 . cas, cardíacas, hematológicas, endócrinas, nu-
Constitui um estado patológico agudo tricionais e distúrbios psiquiátricos, além de
ou crônico, associado a distúrbio de comporta- figurar como causa proeminente de morte por
mento caracterizado por um excessivo consu- suicídio, crime, incêndio, homicídio e acidente
mo de álcool, em dimensão tal que ultrapassa de trânsito. No Brasil calcula-se que 80% dos
os costumes sociais2-5 . acidentes de trânsito envolvem motoristas al-
coolizados, com taxa de mortalidade de
50.000/ano e morbidade de 350.000/ano, cifras
* Trabalho realizado no Hospital Cajuru, Pontifícia Universidade estas que colocam os acidentes automobilísti-
Católica do Paraná, Curitiba - PR. Hospital associado do CET da cos como a 5ª causa de morte no país8 .
Santa Casa de Misericórdia de Curitiba
1 Médico Anestesiologista A classificação do estado de alcoolismo
utilizada pelo Serviço Mundial de Alcoólicos
Correspondência para José Antonio Rodriguez Forero Anônimos alerta o anestesiologista para a pos-
R Angelo Sampaio 2071 Ap 41 sibilidade de intoxicações concomitantes junto
80420-160 Curitiba - PR
a anfetaminas, alcalóides, benzodiazepínicos,
Apresentado em 9 de maio de 1994 barbitúricos, dissulfiram entre outros9 (tabela
Aceito para publicação em 24 de junho de 1994
I).
© 1994, Sociedade Brasileira de Anestesiologia

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derado intoxicação grave, enquanto o alcoolista


Tabela I - Estados de Alcoolismo
crônico é mais tolerante e o limite fatal ocorre
Ativos em Remissão com níveis acima de 500 mg/100 ml. Sua absor-
Não alcoólicos Curto prazo, intermitente ção é facilitada pela água e dificultada pela
sem outras drogas sem outras drogas ingesta de leite e alimentos gordurosos. A per-
com outras drogas com outras drogas centagem de absorção aumenta após gastrec-
Alcoólicos Longo prazo, continuamente tomias atingindo rapidamente altas concen-
sem outras drogas sem outras drogas trações. O álcool também impede a absorção
com outras drogas com outras drogas intestinal de nutrientes como glicose, aminoáci-
dos e vitamina B. É encontrado no liquor, urina
Considera-se como alcoolista social o e ar alveolar de acordo com sua concentração
indivíduo com ingesta de menos de 10 L de sangüínea. Não se acumula no organismo,
etanol/ano ou 0,3 ml/kg/dia de etanol ou 8 g/dia, sendo o metabolismo por oxidação realizado no
que corresponde a aproximadamente 1 a 3 co- fígado. Apenas 10% do etanol ingerido é elimi-
pos de vinho por semana; Alcoolista crônico: nado por oxidação, como CO2 e água através
ingesta aproximada de 45 L de etanol/ano du- da urina, suor e pulmões.
rante pelo menos um ano ou 2,4 - 3,6 ml/kg/dia O álcool induz a formação de enzimas
de álcool ou 70 g/dia correspondendo a 1,25 L necessárias a seu catabolismo. Por isso, o al-
de vinho/dia1,10 . coolista é capaz de metabolizar quantidades
maiores de álcool enquanto seu fígado per-
manece indene. Um grama de álcool fornece 7
I. EFEITOS METABÓLICOS E METABOLISMO DO calorias, o que torna os alcoolistas literalmente
ÁLCOOL ‘‘movidos a álcool’’. Essas calorias ‘‘vazias’’ não
contribuem para a nutrição, fornecendo apenas
O álcool é absorvido no estômago e energia.
intestino delgado. Sua presença é detectada no As vias de metabolização hepática do
sangue cinco minutos após a ingesta, com pico álcool incluem a desidrogenase alcoólica (via
máximo entre 30 e 90 minutos. Existe corre- principal), sistema microssomal para oxidação
lação direta entre a concentração sangüínea e e catalases. A oxidação do etanol processa-se
os efeitos observados11-13 (tabela II). no citosol plasmático através da transformação
inicial em acetaldeído (liberando íons H+ ), me-
Tabela II - Concentração de Álcool no Sangue e seus Efeitos
diado pela enzima desidrogenase alcoólica
Nível (mg/dl) Alcoolistas Sociais Crônicos (ADH). O acetaldeído presente nas mitocôn-
30 euforia sem efeitos drias e no citosol pode ser nocivo, provocando
50 leve descoordenação sem efeitos lesão da membrana e necrose celular. Este
75 fala compulsiva sem efeitos acetaldeído é transformado em acetil coenzima-
100 ataxia sinais mínimos A sob ação da coenzima acetaldeído-desidro-
125 - 150 inquietude euforia genase (ALDH), que por sua vez pode ser
pouco controle desdobrado em acetato, o qual em seguida é
200 - 250 sonolência
motor/emocional oxidado em água e CO2 ou então transformado
300 - 350 estupor/coma sonolência através do ciclo do ácido cítrico em outros com-
400 anestesia profunda estupor postos bioquímicos importantes, como o ácido
acima de 500 fatal coma graxo14 (figura 1).
O álcool é oxidado, i n d e-
Para um indivíduo normal, o nível san- pendentemente de sua concentração, na taxa
güíneo de etanol de 200 mg em 100 ml é consi- constante de aproximadamente 150 mg/kg/hora

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de hipoglicemia.

- Aumento do α-glicerofosfato com acúmulo


de triglicerídeos e inutilização de ácidos
graxos, levando a esteatose hepática.
- Utilização de H+ por parte das mitocôndrias
provenientes do álcool e não dos ácidos
graxos, lentificando o ciclo do ácido
cítrico.

Um aspecto interessante é que o ace-


toaldeído inibe competitivamente a NAD-al-
deído-desidrogenase aumentando a formação
de tetrahidropapaverolina (THP), requisito inter-
mediário na biossíntese da morfina, um al-
calóide com grande poder agonista
Fig 1 - Vias de metabolização hepática do álcool.
ß-adrenérgico, falso neurotransmissor e capaz
de alterar a liberação e a recaptura de aminas
no sistema nervoso central. Portanto, os al-
coolistas usuários de alcalóides estão propen-
(30 ml Whisky/ hora), tornando-se o principal sos a grandes alterações destes sistemas15,16 .
combustível para o fígado, substituindo em até Existem trabalhos mostrando que a pre-
90% os outros substratos que normalmente sença de etanol aumenta os níveis de pro-
utiliza, diferente do acetaldeído que é metabo- staglandina17,18 (principalmente PG. E1 ), as
lizado de acordo com sua concentração nos quais inibem a retroalimentação negativa de
tecidos. liberação de neurotransmissores.
Sabe-se que o NAD (dinucleotídeo da Portanto, em indivíduos que fazem uso
nicotinamida adenina) funciona como co-fator de inibidores de prostaglandinas antes da
aceptor e receptor de hidrogênio sempre que o ingesta de álcool, poder-se-ia esperar menor
álcool for convertido em acetaldeído para ser depressão. Estas descobertas provavelmente
desdobrado em acetil coenzima-A. Isso altera o contribuiriam para a diminuição da reincidência
balanço intracelular na relação oxidação/re- do alcoolista e para terapêutica da síndrome de
dução (redox), levando a várias implicações abstinência alcoólica, porém, ainda estão em
metabólicas14 (figura 1): experimentação.
Estudos in vitro sugerem que o etanol
- Desidrogenação metabólica de hormônios inibe a liberação de transmissores no córtex
esteróides, alterando a síntese das enzi- cerebral na seguinte ordem: acetilcolina, sero-
mas do sistema hipotálamo-hipofisário,
tonina, dopamina, norepinefrina, glutamato e
incluindo encefalinas-endorfinas.
ácido γ-aminobutírico1,19 .
- Alteração da relação lactato/piruvato ele-
O álcool também é metabolizado por
vando o nível de ácido lático sistêmico,
um sistema oxidativo do etanol, o qual se lo-
favorecendo a acidose e diminuindo a
caliza nos microssomos (MEOS). Este sistema
capacidade de excreção de ácido úrico
pelos rins (risco de hiperuricemia). é ativado pelo álcool, fato que talvez explique a
- Diminuição da gliconeogênese a partir de tolerância dos alcoolistas crônicos não apenas
aminoácidos, com maior probabilidade ao álcool mas também em relação a outras

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drogas que são metabolizadas pelas enzimas


microssômicas14 (figura 1). - Esteatose hepática: Clinicamente ob-
serva-se aumento de volume do fígado.
II. ALTERAÇÕES METABÓLICAS Ocorre com a ingesta de 50 - 100 g/dia
de etanol, reversível com 4 a 6 semanas
As principais alterações orgânicas são de abstinência. Geralmente estes
encontradas nos seguintes sistemas: pacientes são internados com quadro
de colicistite, podendo apresentar morte
Sistema Nervoso : Várias síndromes súbita por supressão alcoólica, hipo-
neurológicas têm sido envolvidas com o glicemia, encefalopatia de Wernicke ou
alcoolismo, correlacionadas principal- embolia pulmonar gordurosa14.
mente com o estado nutricional. Os ner- - Hepatite alcoólica: Em resposta à lesão
vos periféricos são os mais hepatocelular pode instalar-se um
estado inflamatório provocado pelo ál-
freqüentemente afetados (alterações
cool. Clinicamente o quadro é semel-
sensitivas e motoras). Perspiração ex-
hante à hepatite viral porém, com
cessiva sugere envolvimento do sistema
pequeno aumento nas transami-
nervoso autônomo. Há boa resposta
nases14. Pode ocorrer com a ingesta de
terapêutica à ingesta de vitamina B. No 80 - 180 g/dia de etanol durante 5 a 10
sistema nervoso central as alterações anos23.
freqüentemente encontradas são a sín- - Cirrose: Os pacientes em geral apre-
drome de Wernicke (nistagmo, paresia sentam perda de peso, anorexia, as-
ou paralisia bilateral do músculo reto lat- tenia, fatigabilidade, alterações
eral, ataxia e distúrbio mental) e psicose gastrointestinais como náuseas, vômi-
de Korsakoff (distúrbio relacionado à tos e diarréia; são freqüentemente ictéri-
memória especialmente a novos aprendi- cos e febris e podem apresentar úlcera
zados) que podem surgir concomitante- péptica, refluxo gastroesofágico e var-
mente20. Estas alterações resultam de izes de esôfago. Ginecomastia e im-
ampla necrose em regiões cerebrais. O potência no homem, amenorréia na
tratamento com tiamina (vit. B1) pode mulher; hiperaldosteronismo
produzir melhora dramática mas a recu- secundário e Diabetes mellitus podem
peração completa é infreqüente2. A ad- se desenvolver durante estágio
ministração parenteral de glicose nestes avançado da doença2. Laboratorial-
pacientes pode precipitar doença de mente ocorre anemia, alteração da co-
Wernicke, sendo importante associar vi- agulação, e albumina abaixo do normal.
tamina B, pois o metabolismo do álcool Ocorre com ingesta crônica de etanol
como o da glicose são dependentes (acima de 20 anos) de 60 g/dia para o
desta vitamina20, 21. homem e 20 g/dia para a mulher (corre-
spondendo a aproximadamente 750 ml
Sistema Hepático : O dano hepático é con- e 250 ml de vinho ao dia respecti-
hecido desde o século XVII. Inicialmente vamente).
era atribuído ao estado de desnutrição do
Sistema Cardiovascular : A cardiomiopatia al-
alcoolista. Somente em 1974 um estudo
coólica apresenta similaridade clínica
mostrou indução de cirrose alcoólica em
com outras doenças cardíacas, às vezes
babuínos bem nutridos e, desde então,
com poucos sinais e sintomas e falta de
postulou-se a hipótese de ação direta do
história acurada sobre o consumo de ál-
álcool sobre o fígado22. As alterações
cool, algumas vezes de difícil recon-
encontradas são geralmente divididas
hecimento. Pequenas doses de álcool
em:
(80 a 100 ml de Whisky) levam a aumento

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da pressão arterial, do débito cardíaco, elementos formadores do sangue. Há su-


da frequência cardíaca, com grande pressão da eritropoiese, com diminuição
aumento da pressão diastólica final do da vida média das hemácias, além do
ventrículo esquerdo e das necessidades aparecimento de megaloblastos no
de oxigênio pelo miocárdio, ocorrendo sangue periférico, que se traduz por um
diminuição da capacidade funcional con- aumento no volume corpuscular médio
trátil (Starling), do fluxo coronariano e das hemácias em mais de 85% dos ca-
aumento da resistência coronariana, com sos, com anemia megaloblástica. Há su-
grave comprometimento da função ven- pressão da leucopoiese com maior
tricular esquerda na intoxicação aguda. facilidade para o desenvolvimento de in-
Cronicamente há depósito de lipídeos fecção27 e da trombopoiese com di-
(por inibição da miofosforilase) no minuição do número de plaquetas
miocárdio, com concomitante alteração circulantes que, em conjunto com a di-
mitocondrial e do retículo sarcoplas- minuição dos fatores dependentes de vi-
mático, levando ao comprometimento da tamina K, favorecem o sangramento3.
função ventricular e posteriormente in- Este efeito supressor pode ser, em parte,
suficiência cardíaca manifesta2. decorrente das alterações na absorção
Estudo em ratos demonstrou depressão de folato2,14.
da função do músculo papilar e do
miocárdio com alterações pressóricas Sistema Endócrino : Há diminuição da re-
rápidas e variáveis24. Observou-se tam- sposta adrenocortical, que pode ser
bém incidência aumentada de morte secundária ao dano hepático ou à perda
súbita decorrente de uma maior vulner- crônica de corticoesteróides decorrente
abilidade elétrica por alterações do da diurese induzida pelo álcool1,28. Ou-
sistema simpático levando à fibrilação tros autores demonstram que a ação é
ventricular25. mediada via neuro-pituitária resultando
em estimulação do eixo ACTH-cortisol29,
Sistema Gastrointestinal : Há maior incidência concluindo-se que, no alcoolista crônico,
de inflamação das mucosas pela ação do a permanente estimulação do córtex ad-
álcool sobre as secreções gástricas com renal se faz via glândula pituitária ou pela
formação de gastrites. Ocorre também estimulação direta, prejudicando a re-
hemorragia digestiva alta por sangra- sposta cortical normal ao estresse30. Os
mento de mucosas gastroduodenal ou níveis de glicose sangüínea são dire-
varizes esofágicas14. tamente dependentes da administração
Sistema Músculo-Esquelético : Há mudanças de etanol sendo parcialmente decorrente
na microestrutura muscular com di- do efeito inibitório do etanol na gli-
minuição da atividade da ATPase, da coneogênese, aumento da resposta da
contratilidade do complexo actino-mios- insulina aos carboidrato e diminuição da
ina e da recaptação de cálcio pelo secreção de hormônios contrarregu-
retículo sarcoplasmático levando à debili- ladores (cortisol, GH, e possivelmente
dade muscular inclusive atrofia. Rubin26 catecolaminas)31.
postulou que tais alterações também são
importantes para o desenvolvimento da III. CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS
cardiomiopatia e podem persistir, mesmo
com a suspensão do álcool. Avaliação Pré-Anestésica
Sistema Hematológico : O consumo crônico Muitas vezes o hábito de beber passa
de etanol tem efeitos deletérios sobre os despercebido durante uma visita pré-an-

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estésica. É fundamental saber o estado de al- ser bons candidatos para anestesia regional
coolismo que o paciente se encontra (tabela I) pelas implicações médico-legais existentes. Os
para permitir uma avaliação mais criteriosa, portadores de cardiomiopatia apresentam
documentando: frequência da ingesta, quanti- maior risco para a anestesia geral com agentes
dade consumida, episódios de abstinência e voláteis e o paciente intoxicado agudo tem alto
qual o motivo, uso concomitante de outras dro- risco à qualquer tipo de anestesia. A medicação
gas, avaliação de fenômenos de retirada (agi- pré-anestésica deve, sempre que possível , ser
tação, convulsão, delírio)2 e h i s t o r i a d e evitada2,3 . Lembrar que estes pacientes podem
tabagismo associado. A alta dependência ao apresentar alterações de conduta durante se-
tabaco aparentemente está relacionada a al- dação33 .
terações no sistema nicotínico cerebral, pos-
sivelmente mediada por fatores genéticos32 . Administração da Anestesia
A entrevista deve ser realizada com
calma, de forma privada e neutra, pois os al- É baseada no conhecimento do mecan-
coolistas possuem sentimentos de profunda ismo de ação dos anestésicos e na fisiopatolo-
vergonha. Há necessidade de uma anamnese gia do alcoolismo2 . Acredita-se que o paciente
detalhada dos sistemas , assim como um exame alcoólico consome mais anestesia quando
físico minucioso2 . Os exames complementares sóbrio e menos quando intoxicado aguda-
devem incluir níveis de concentração san- mente34 . Cuidados especiais devem existir
guínea de álcool, avaliação do sistema de co- mesmo em pacientes com quadro de intoxi-
agulação, uréia, eletrólitos (na ingesta aguda cação leve, pois todo alcoolista apresenta tol-
pode ocorrer desidratação e em períodos de erância diminuída à hipóxia sendo
‘‘ressaca’’, hiperhidratação; a diminuição de imprescindível a pré-oxigenação antes da in-
potássio é comum), glicemia (hipoglicemia é dução35 .
freqüente no período de ‘‘ressaca’’, tempo no A monitorização deve ser completa
qual a cirurgia é realizada e a resposta hiper- (cardiovascular, neuromuscular, débito urinário
glicêmica à anestesia nem sempre compensa e respiratório). A introdução de sonda na-
este déficit). Nos pacientes desnutridos há sogástrica, estetoscópio e termômetro esofági-
maior tendência a hipoglicemia com a ingesta cos são condutas perigosas em pacientes com
concomitante de drogas hipoglicemiantes ou varizes esofágicas. A presença de ascite leva a
após administração anestésica em pacientes alterações da ventilação (hipoxemia-alcalose
com baixa reserva. Também são importantes a respiratória) e geralmente cursa com níveis ele-
gasometria arterial, ECG, radiografia de tórax, vados de aldosterona, sendo importante evitar
provas de função hepática (bilirrubinas, tran- soluções que contenham sódio2 .
saminases, fosfatase alcalina e gama glutamil- O álcool é um potente estímulo para
transpeptidase). secreção ácida gástrica. Sempre considerar
A preparação cirúrgica inclui adminis- estes pacientes de estômago cheio e com risco
tração parenteral de vitaminas (tiamina, piridox- para broncoaspiração, sendo imperativo in-
ina, ácidos nicotínico e pantotênico), correção tubação de seqüência rápida3 . Devido às con-
dos distúrbios hidroeletrolíticos, ácido-básicos trovérsias presentes na literatura, a indução da
e de coagulopatia (vitamina K, plasma fresco e anestesia deve ser feita com cautela e titu-
plaquetas)3 . lada2,3 .
A escolha da anestesia dependerá do Com relação aos barbitúricos não há
tipo de operação, da habilidade do cirurgião e consenso quanto à dose de indução, ponto de
do anestesiologista e desejo do paciente. confusão e controvérsias: autores que acredi-
Pacientes com neuropatia periférica podem não tam na necessidade de maior dose para in-

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dução em alcoolistas justificam através da tol- que aumenta a fixação dos anestésicos22 . O
erância cruzada entre etanol e barbitúricos ou propofol é considerado altamente lipossolúvel
aumento do volume de distribuição por vasodi- (2 a 3 vezes mais do que o tiopental)49 e sua
latação ou aumento da percentagem de elimi- passagem pelo fígado poderia diminuir a quan-
nação hepática por indução enzimática. tidade de droga disponível. Esta hipótese, jun-
Segundo alguns autores, nos alcoolistas crôni- tamente com uma possível alteração da
cos não existe alteração no volume de dis- sensibilidade do sistema nervoso central ao pro-
tribuição. Portanto a farmacocinética não pofol em pacientes alcoolistas ainda necessi-
explicaria a maior necessidade de tiopental tam estudos complementares48 .
para indução. Assim sem suporte farmaco- Tem sido demonstrado o aumento das
cinético, a hipótese de tolerância cruzada entre necessidades de fentanil em até 70% dos al-
álcool e tiopental seria a explicação mais coolistas crônicos41 , especialmente quando se
plausível3,36-41 . utiliza anestesia venosa total, aparentemente
Por outro lado existem vários estudos por um aumento do volume de distribuição in-
demonstrando que não há necessidade de duzido pela vasodilatação generalizada re-
aumento da dose de tiopental para indução de lacionada ao álcool41, 50 .
alcoolistas. Os barbitúricos de ação curta não A succinilcolina é, em nosso meio, o
apresentam tolerância cruzada, seus efeitos bloqueador neuromuscular mais utilizado para
são dependentes da rápida distribuição dentro intubação em seqüência rápida. Na presença
e fora do sistema nervoso central antes do de cirrose, sua ação torna-se mais prolongada
equilíbrio sangue/tecido necessário para a apenas quando há uma diminuição dos níveis
biotransformação. Já entre os barbitúricos de da pseudocolinesterase, o que pode até triplicar
ação prolongada, o metabolismo hepático é o tempo de apnéia2 .
mais importante. Obviamente ocorre indução A importância de ligação protéica dos
enzimática e a tolerância cruzada poderia ser bloqueadores neuromusculares é incerta. Nor-
esperada42-44 . malmente a d-tubocurarina e o pancurônio li-
No entanto, em 1990 demonstrou-se a gam-se mais a gamaglobulina2,51 . A hiper-
inexistência de tolerância cruzada a tiopental45- gamaglobulinemia (presente nos alcoolistas
47
. Portanto, embora os estudos sejam contro- c r ô n i c o s ) d i m i n u i a e f i c á c i a d e s t e s b l o-
versos, devemos considerar que simplesmente queadores, conseqüentemente, menos de 13%
aumentar a dose de barbitúrico para indução de da droga permanece ativa2,52 . Porém, esta
um alcoolista crônico pode ser potencialmente hipótese se torna secundária ao aumento do
perigoso, o que torna necessário o con- volume de distribuição do alcoolista, traduz-
hecimento dos fatores que possam alterar a indo-se clinicamente em elevação da dose ini-
distribuição inicial da droga bem como das con- cial para relaxamento muscular, e da maior meia
siderações hemodinâmicas. vida de eliminação, pelo que desaparece len-
A ação do propofol foi estudada em tamente do plasma2,53,54 .
alcoolistas crônicos e demonstrou necessidade Recentemente demonstrou-se que
de maior dose em comparação com não al- pacientes cirróticos podem ser mais sensíveis
coolistas (4,2 mg/kg x 3,2 mg/kg) para perda da ao mivacúrio, explicado em parte pela menor
consciência, o que poderia ser explicado, den- a t i v i d a d e d e c o l i n e s t e r a s e p l a s m á t i c a 55 .
tro das variáveis farmacocinéticas, apenas por Provavelmente drogas de metabolização tipo
um aumento no volume de distribuição48 . Sabe- Hoffman seriam mais apropriadas3 .
se que a ingesta de álcool resulta em alterações Geralmente a presença de etanol po-
do metabolismo de lipídeos e infiltração gor- tencializa os efeitos dos hipnóticos, tranqüili-
durosa no fígado (mesmo em bem nutridos), o zantes e opióides, mas a interação com os

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anestésicos inalatórios tem sido pouco re- tir. Geralmente os alcoolistas apresentam di-
latada56 . Vários autores relatam aumento das minuição do volume sangüíneo, implicando
necessidades dos anestésicos inalatórios. maior risco de hipotensão e prejuízo do retorno
Sugere-se um aumento metabólico por tran- venoso após instalação do bloqueio2,3 . Há rela-
storno enzimático, hiperexcitabilidade neuronal tos de incidência aumentada de paraplegia por
seguida à retirada de álcool, que aumentaria a hematoma espinhal seguido de anestesia
interação de neurotransmissores no sistema peridural ou espontaneamente devido às al-
nervoso central, como explica--ções ao menos terações no sistema de coagulação65,66 . Tem-
em parte, destas obser- vações10,41,56-60 . se demonstrado experimentalmente
Durante a administração de anestesia diminuições nas necessidades de lidocaína in-
inalatória, a oxigenação é fundamental, tor- tratecal na presença de intoxicação aguda, as-
nando-se importante sua monitorização nos al- sim como necessidade de aumento na dose nos
coolistas. Interação entre hipoxia e halotano alcoolistas crônicos ou estados de retirada67,68 .
aumenta o risco de lesão hepática 3,61 . A Há tendência em se evitar a sedação
cardiomiopatia alcoólica obriga o controle cui- nos alcoolistas durante anestesia regional, pela
dadoso dos anestésicos voláteis depressores grande freqüência de alterações de conduta
do miocárdio62 . que podem ocorrer.
Em pacientes com antecedentes con-
vulsivos o enflurano não seria um escolha ideal. IV. CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
Em portadores de doença pulmonar obstrutiva
crônica com predisposição a broncoespasmo o 1. Síndrome de Abstinência Alcoólica: Sabe-
uso de inalatórios poderia ser uma boa opção. se que após 3 a 8 horas de supressão da
ingesta de álcool iniciam-se os
Entretanto seus conhecidos efeitos sobre o
fenômenos de retirada, os quais se inten-
miocárdio e implicações médico-legais (exem-
sificam após 72 horas, apresentando De-
plo: halotano e fígado) contra-indicam o uso
lirium tremens franco no quinto dia1-3,10.
destes agentes na presença de lesão hepática
Os principais fenômenos iniciais incluem
e/ou cardíaca2,3 . Assim, os agentes voláteis
náuseas, vômitos, tremores e vertigens.
mais novos, menos biotransformados, ainda Quarenta e oito horas após a suspensão
pouco disponíveis em nosso meio, são promis- do álcool aparece sede intensa, com con-
sores. seqüente aumento da ingesta de grandes
A administração crônica de etanol as- volumes de líquido e risco de
sociado à exposição ao óxido nitroso diminui a hiperhidratação. Posteriormente os
atividade da metionina sintetase no organismo. fenômenos se intensificam, surgindo
Felizmente, estes distúrbios apresentam recu- hipotensão, taquicardia, arritmias, hiper-
peração rápida após a exposição, sem maiores reflexia, alucinações, sudorese e convul-
conseqüências63,64 . sões. Na ausência de tratamento
Uma outra opção no manuseio an- evoluem para o Delirium tremens 2,3,10.
estésico do alcoolista são as técnicas regionais, Tremores podem ser prenúncios do
as quais também não são isentas de riscos. A aparecimento de convulsões e/ou Delir-
presença de polineuropatia alcoólica não é um ium, mas também é importante descartar
agravante. No entanto, contra indicações a possibilidade de hipoglicemia e dese-
médico-legais podem existir. Quando impre- quilíbrio hidroeletrolítico69.
scindível a realização desta técnica, são impor- O objetivo do tratamento é produzir se-
tantes anotações detalhadas do exame físico dação sem depressão dos reflexos pro-
neurológico além da advertência de deterio- tetores. Até 1975 o paraldeído era droga
ração do quadro se o consumo de álcool persis- de escolha na síndrome de abstinência.

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ALCOOLISMO E ANESTESIA

Posteriormente, vários estudos demon- descolamento prematuro da placenta,


straram a superioridade do diazepam, sangramento e anemia, com grande risco
iniciando-se com 10 mg EV, seguido de 5 de hipóxia fetal e suas seqüelas. As al-
mg EV cada cinco minutos até se obter terações maternas estão diretamente re-
resposta. Manutenção com 5 a 10 mg EV lacionadas a quantidade e duração da
cada quatro horas2,12,70 . Se o tratamento ingesta de álcool como nos demais al-
convencional fracassar, propranolol EV, coolistas.
administração de magnésio e A neuropatia pode interferir com a anest-
hemodiálise têm sido benéficos71. esia regional para a realização do parto.
A ingesta de álcool tem sido proposta Deve-se limitar o uso de pré-medicação.
durante a síndrome de retirada na ausên- A anestesia geral deve ser cautelosa re-
cia de resposta a sedativos, preparada speitando os mesmos cuidados já referi-
através de 50 ml de álcool 95% (absoluto) dos. Há dificuldade no controle de fluidos
em 500 ml de soro fisiológico ou glico-- e eletrólitos, pois estas parturientes são
sado, com infusão contínua até 60 relativamente hipovolêmicas. Isto, asso-
ml/hora72. ciado à perda sangüínea durante o parto,
A anestesia deveria ser evitada durante poder requerer grandes volumes de re-
a síndrome de abstinência. Se absolu- posição, sendo a albumina uma opção
tamente imprescindível (cirurgias de terapêutica11,73-75 .
emergência), a conduta mais adequada 3. Interações Medicamentosas de Importân-
é o diazepam como agente indutor, a cia: O álcool melhora o efeito anti-hiper-
manutenção à base de benzodiazepíni- tensivo da guanetidina (bloqueia o
cos, óxido nitroso-oxigênio, narcótico e armazenamento e liberação de cateco-
bloquea-- dores neuromusculares não laminas pós-sinápticas) com perigo de
despolarizantes se necessário (ideal, o hipotensão ortostática. Pode ocorrer
vecurônio). Evitar o atracúrio devido a hipotensão grave durante anestesia re-
seu metabólito com atividade convulsi- gional. Com agentes hipoglicemiantes há
vante, assim como halogenados, pela o risco de acidose lática e choque em
possibilidade de grande depressão car- diabéticos tratados com fenformin na pre-
diovascular2. Monitorização da tempera- sença do álcool. As sulfoniluréias pro-
tura, hidratação, glicemia, equilíbrio duzem grandes flutuações da glicemia,
ácido-base e hidroeletrolítico são ne- com valores pouco previsíveis. Podem
cessários. também precipitar reações tipo dissulfi-
2. Gestante Alcoólatra: Nos EUA estima-se ram, especialmente com clorpropramida.
aproximadamente 1 milhão de mulheres Pacientes insulino-dependentes podem
alcoolistas em idade de procriação. A desenvolver hipoglicemia com deterio-
mortalidade perinatal é de aproximada- ração mental permanente.
mente 17% quando comparada a 2% na O disulfiram (utilizado para encorajar a
gestante não alcoólica. O consumo de retirada do álcool) deve ser suspenso
álcool durante os dois primeiros trimes- pelo menos uma semana antes de reali-
tres de gravidez aumenta a incidência de zar qualquer ato anestésico pelo maior
abortamento espontâneo, líquido me- risco de arritmias cardíacas. Foi relatada
conial, baixo Apgar e sintomas de ab- hipotensão significativa durante anest-
stinência durante o parto. O metabolismo esia geral com agentes halogenados em
do etanol aumenta o consumo de pacientes que fazem uso crônico de dis-
oxigênio no fígado em 100%, podendo sulfiram. A conduta imediata consiste na
levar ao colapso da vascularização um- interrupção da administração do halo-
bilical com aumento da incidência de genado, expansão do volume intravascu-

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FORERO, LOPES E COLS

lar e administração de alfa-simpati- quando possível. As drogas de indução


comimético de ação direta2,3,76-79 . devem ser tituladas. A crença de maior
necessidade de doses dos anestésicos
V. PÓS-OPERATÓRIO pode ser perigosa e fatal. O atracúrio é o
bloqueador neuromuscular de escolha.
Monitorização cardiovascular, da tem-
Halogenados de baixo metabolismo são
peratura e do nível de consciência são man-
preferidos. Perigo com bloqueios region-
datórios nas salas de recuperação
ais altos. Evitar sedação durante a anest-
pós-anestésica, assim como oximetria de pulso
esia regional. Realizar monitorização
e cuidadoso balanço de líquidos. Agitação pode constante nas primeiras 24 horas de pós-
ser sinal de fenômeno de retirada, mas também operatório pelo risco no desenvolvimento
de hipoxia cerebral. de síndrome de abstinência.
A analgesia pós-operatória deve ser, de Na Síndrome de Abstinência: O ato an-
preferência, realizada com analgésicos habi- estésico-cirúrgico deve ser feito apenas
tuais e doses de rotina. Procura-se evitar o uso nas situações de emergência. A
de narcóticos, especialmente em pacientes com preferência é pela anestesia venosa à
história de dependência química, pelos riscos base de benzodiazepínicos, óxido ni-
de re-entrada aos hábitos anteriores. troso-oxigênio, narcóticos e blo-
A icterícia pós-operatória é comum em queadores neuromusculares não
alcoolistas crônicos, por comprometimento da despolarizantes (opção pelo vecurônio).
função hepática ou decorrente de transfusões Monitorização rigorosa é imprescindível,
sangüíneas. Cabe ao anestesiologista prevenir com vigilância contínua em unidade de
familiares e pessoal da área médica e advertir terapia intensiva no pós-operatório.
que o quadro não é devido à drogas anestésicas
e que a condição não requer tratamento, pois
há o retorno à normalidade em alguns dias2,3 .
Forero JAR, Lopes MB, Porsani DF - Al-
Pacientes submetidos a cirurgias am- coolismo e Anestesia
bulatoriais deverão ser orientados para não in-
gerir álcool nas primeiras 24 horas de UNITERMOS: COMPLICAÇÕES: alco--
pós-operatório, pelo perigo de interação medi- olismo agudo, crônico; CIRUR-
camentosa. GIA: urgência
Concluindo, pode-se aferir que a
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