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INDÍGENAS (palavra charrua, colina); Barra da Guarita

DENOMINAÇÕES DE CIDADES (tribo vigilante); Quarai (rio das pedras e


buracos); Boa Vista do Buricá (mato de
palmeiras); Bossoroca (terra fendida); Butiá
(árvore de frutas); Caçapava do Sul
(passagem da mata); Cacequi (água do
O bicho-homem procurou nomear cacique); Cacique Doble (cacique índio);
lugares, pontos geográficos, estrelas, heróis, Caibaté (mata em lugar elevado); Caiçara
reis e dinastias. É uma forma de simplificar, (curral); Camaquã (rio forte); Cambará do
organizar e sistematizar métodos de mapear Sul (folha de casca rugosa); Canela (árvore
e identificar rapidamente locais próximos da casca cheirosa); Canguçú (onça
ou distantes. pequena); Caraá (taquara fina); Carazinho
Por esta razão, é comum encontrar (taquarinha); Catuípe (águas claras);
pessoas homenageadas com nome de Charrua (tribo indígena); Cotiporã (mato
cidades, ruas, praças, rios e prédios pequeno bonito); Erechim (campo
públicos ou privados. Em nosso Estado esta pequeno); Erebanco (campo grande);
“tradição” aponta municípios ligados a Gaurama (planta semelhante ao ingá);
vultos históricos: Getúlio Vargas, Frederico Giruá (=jerivá=passo das pedras); Guabijú
Westphalen, Liberato Salzano, Marcelino (fruta da casca rija); Guaíba ( bahia de todas
Ramos, Garibaldi, Bento Gonçalves, Flores as águas); Guaporé (vale deserto); Guarani
da Cunha, Antônio Prado, Barão de das missões (tribo indígena); Humaitá
Triunfo, etc. A mãe Natureza, às vezes, é (cacique da região- pedra negra); Ibarama
lembrada: Ametista do Sul, Alpestre, (terra das árvores); Ibiaçá (fonte de água
Alvorada, Campestre da Serra, cristalina); Ibiraiaras (tribo
Formigueiro, Herval, Lagoa Vermelha, indígena=senhores da mata); Ibirapuitã (rio
Lageado, Muitos Capões, Palmitinho e por da madeira vermelha); Ibirubá (pitanga do
aí vai. A religiosidade aparece em Cruz mato, fruta); Ijuí (rio das águas divinas);
Alta, Bom Jesus, São Pedro do Sul, Santa Imbé (tipo de cipó das pedras); Inhacorá
Bárbara do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa (tribo indígena); Ipiranga (rio vermelho);
Maria, Santa Rosa, Santa Tereza e distritos Irai (água de mel); Itaara (pedra alta);
entram também nesta geografia “benta”. Itacurubi (pedra de caroço pequeno);
E se alguém pensar detidamente Itapuca (pedra mole ou podre); Itaqui
nestes detalhes com algum mapa dos (pedra de areia); Itati (pedra dágua); Itatiba
Municípios rio-grandenses encontrará o (muitas pedras); Ivorá (rio da pedra
idioma indígena bem visível. formosa); Ivoti (rio florido); Jaboticaba
Surpreendentemente em centenas de (fruta = alimento de jabotis); Jacuizinho
localidades a toponímia é enriquecida com (rio pequeno morada de aves); Jacutinga
o tupi-guarani. Não dá para esconder “esta (ave= jacu branco); Jaguarão (jaguar
história”, não é? grande); Jaguari (água da onça); Jaquirana
A seguir, Municípios que adotaram (cigarra); Jarí (rio pequeno ou rio do
por enquanto, a denominação num idioma Senhor); Maçambará (capim ou erva de
falado pela minoria brasileira....1 pasto); Mampituba (rio de muitas curvas);
Maquiné (gota que pinga); Marau
Aceguá (lugar de descanso eterno); (cacique); Tamanduá (animal); Miraguaí
Ajuricaba (herói indígena amazônico); (cacique caigangue= povo que sorri);
Almirante Tamandaré (fundador do novo); Muçum (peixe cego ou do barro); Nonoai
Anta Gorda (tapir, mamífero); Arambaré (cacique indígena); Nova
(sacerdote que espalha luz); Araricá Araçá (fruta); Novo Xingu (rio fantasma);
(bebedouro do vale dos papagaios); Aratiba Panambi (anteriormente se chamava
(periquito pequeno em quantidade); Bagé Tabapirã = aldeia dos telhados vermelhos;
atualmente, vale das borboletas azuis);
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Em parêntese um significado que em alguns Paraí (água parada); Pareci Novo (índio do
casos é discutível. Tudo depende da “raiz” dos Mato Grosso que mudou-se para a região e
mais variados idiomas, incluindo muitos
descende da tribo dos Perecis); Parobé (rio
desaparecidos totalmente. Aqui não estamos
estudando especificamente o tupi-guarani. todo amargoso, embora fosse em
homenagem ao Engenheiro João José ocorre dia-a-dia sobre este patrimônio cultural e
Pereira Parobé); Paverama (todas as terras); instrumento de trabalho de arqueólogos,
Pejuçara (caminho das palmeiras); Pirapó antropólogos, historiadores, biólogos, etc., na
(salto do peixe); Piratini (peixe barulhento); maior parte das vezes ocorre sem o
conhecimento do poder público e da sociedade
Xaxim (vegetal que recolhe água); Putinga
civil, e o pior é que, em alguns casos, o próprio
(cará ou taquara branca); Quarai (rio dos agente da degradação, por falta de
buracos ou das garças); Taim (muitas conhecimento, não sabe o que está fazendo. E é
lagoas); Sananduva (lugar onde se canta = exatamente por não conhecer este patrimônio
tipo de corticeira); Miraguaia (peixe que ele não valoriza e o relega a destruição.
manso); Inhacorá (tribo indígena); Sapucaia Porém, são esses vestígios que podem nos levar
(ave que grita ou árvore que grita); Sarandi a conhecer mais o nosso próprio modo de ser
(arbusto em terras fracas); Seberi (rio das enquanto espécie; podem nos ajudar a revelar a
pedras preciosas); Tabaí (rio da aldeia); história da ocupação do continente sul-
Tapejara (caminho do Senhor; conhecedor americano e em especial no Brasil; e podem a
dos caminhos); Tapera (toca do coelho); partir de políticas públicas de preservação
estimular mais pesquisas que, inclusive,
Tapes (tribo indígena); Taquara (espécie de
ampliarão e gerarão empregos em diversos
bambu = vara oca); Taquaruçú (taquara setores. A expansão de empreendimentos como
grande do mato); Toropi (caminho do tatu); hidroelétricas, indústrias, loteamentos, lavouras,
Tramandaí (rio sinuoso); Tucunduva (em etc., sobre áreas com vestígios de cultural
homenaem a João Tucunduva que tinha material dos povos ancestrais faz com a criação
mãe indígena da tribo dos Tucunduvas = de parques arqueológicos e a revitalização de
muitos tucanos); Tupanci (caminho ou terra museus sejam cada vez mais necessárias... A
de Deus); Tupanciretã (terra da mãe de inserção deste conhecimento de maneira mais
Deus); Tupandi (caminho de luz divina); ampla nos currículos do ensino fundamental e
Tuparendi (Deus passou por aqui); Turuçú médio é vital para criarmos crianças
conhecedoras da “história antes da história” e
(águas grandes); Ubiterama (terra pátria);
engajadas na necessidade de pesquisá-la para
Uruguaiana (rio do caracol); Viamão preservá-la”2.
(ibiamon = terra dos íbias = pássaros). Por analogia, acrescente-se que é
Portanto, quando a gente vê, urgente incorporar definitivamente a
surgem sinais evidentes da nossa História de todos para todos. Não existe
vinculação com a cultura e história possibilidade racional de continuar com
indígena. As aulas de geografia expressões racistas ou xenófobas em isolar
surpreendem quem pouco conhece o Rio ou desprestigiar histórias que consideramos
Grande do Sul, terra dos gaúchos... “menos importante” ou não relacionada a
Os Dicionários (Aurelião e outros) nossa contemporânea civilidade. Sem
guardam vocábulos, palavras e um esquecer que existe uma confusão de
inventário de heranças lingüísticas conceitos. PROGRESSO = ética + técnica +
infindável. São fontes preciosas para legalidade. O que está sendo imposto, na
descobrir que será difícil alterar nosso jeito prática, é apenas um jogo capitalista que
de falar com a exclusão do termo forja um crescimento desorganizado. É de
“indígena”. certa forma um imperialismo cultural que
Todos os vestígios culturais deste deforma a visão da convivência real em
povo antigo e dito primitivo, sem grupos (tribos) distintos em cultura e
preocupações com as condições projeções para o futuro da humanidade.
civilizatórias correm riscos ameaçadores. OMITINDO-SE PARTE DA HISTÓRIA,
No caso de sítios arqueológicos pré- NEGA-SE A CIDADANIA.
históricos ou contemporâneos a chegada de
levas de imigrantes europeus a preocupação (*) Luiz Antônio Alves, membro do
dos cientistas é muito grande. O IHGRS.
Arqueólogo Rafael Corteletti se desbruça
sobre o problema:
“... o patrimônio arqueológico nacional
vem sofrendo a degradação dos sítios. Os
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Corteletti, Rafael. Patrimônio arqueológico de
ataques a estes sítios não são nenhuma Caxias do Sul. – Porto Alegre: Nova Prova,
novidade; a marcha destrutiva e silenciosa que 2008.

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