Você está na página 1de 4

Universidade Estadual de Ponta

Grossa

Alice no país das externalidades

William Schevisbisky, Sergio Augusto Xavier, Lucas Fernando Rodrigues de


Assis - Economia
Alice no país das externalidades
O que é externalidade?

O economista austríaco Fredéric Bastiat foi um dos pioneiros em estudar as


externalidades, principalmente as causadas por ações do governo. Em seu livro The Law,
ele explica como e por que leis criadas com um objetivo (muitas vezes bem
intencionadas) acabam proporcionando resultados completamente diferentes do
esperado.

As externalidades não são restritas ao pobre governo, coitado, sempre acusado de ser
o culpado de tudo que há de ruim no mundo. Todos os indivíduos causam externalidades
a partir de suas ações, isso é inevitável, pois seria impossível ter atitudes
hermeticamente fechadas dentro de um sistema complexo, como a economia.

Existe uma grande divisão entre as externalidades, podemos categoriza-las em:

• Positivas: Quando o terceiro é beneficiado


• Negativa: Quando o terceiro é prejudicado

Exemplo de externalidade:
Um exemplo de externalidade é quando uma nova indústria se instala em uma
determinada cidade e proporciona uma empregabilidade maior para os moradores da
região. Essa alta empregabilidade atrai um fluxo de pessoas maior para residirem e
transitarem por essa cidade em buscas de novas oportunidades, porém, essa cidade não
tem uma estrutura de segurança pública suficientemente ampla para a guarnição da
ordem nessa nova realidade, o que acabando aumentando a criminalidade, pois, onde
há pessoas, há criminalidade.
Aqui nesse cenário, temos duas externalidades opostas:

• Positivas: Aumento na empregabilidade


• Negativa: Aumento no fluxo de pessoas e aumento na criminalidade
Também há um exemplo parecido com o mesmo cenário:
Em determinada cidade, uma nova indústria se instala e proporciona um
aumento na empregabilidade e oportunidades para os moradores da região. Essa alta
empregabilidade aumenta a renda per capita da cidade, fomenta os negócios locais,
aumenta a arrecadação do município; que agora tem recursos para construir belas
creches e até uma pista de ciclismo para os bicicleteiros terem uma passarela para
exibirem suas roupas vibrantes.
Em contrapartida, essa indústria precisa instalar uma linha de transmissão de
energia elétrica que passa por uma reserva indígena, captar agua de um rio que perderá
sua potabilidade e será uma concorrente implacável de uma outra indústria menor de
outro município que fica a 140km de distância e que terá que encerrar suas atividades
após 5 anos tentando sobreviver.
Aqui nesse cenário, temos muito mais externalidades:

• Positivas: aumento na renda, emprego, ordem, progresso, desenvolvimento,


arrecadação...
• Negativa: descontentamento de membros da FUNAI, a agua terá que ser captada
de outro lugar e a outra cidade perderá uma parte de sua indústria.

O que fazer com as externalidades?

Diante dessas possibilidades, alguns se empolgam com as externalidades


positivas pois acreditam que elas aumentam o bem-estar geral, e outros ficam
enraivecidos com as negativas, pois não acreditam que os benefícios concretos superam
os custos relativos da instalação dessa indústria. Essa é a grande questão da
externalidade, é possível tomar diferentes posicionamentos a partir delas, você pode ser
contra ou a favor da pauta em questão, caso seja um simples cidadão, mas se você
detém o monopólio da canetada (governo), provavelmente terá que tomar um lado ou
tentar equiparar as duas forças. Para isso, é possível se utilizar de certas políticas, como;

• Políticas de comando e controle: o governo pode regulamentar determinadas


atividades e exigir contrapartidas dos agentes (no caso da empresa, por exemplo,
obrigar o reflorestamento da mata ciliar)
• Impostos corretivos: Cobrar certos tributos dos agentes econômicos
• Subsídios: Pagar aos agentes para compensar o custo de determinada atividade.

A falsa sensação de estar no controle


Combater ou tentar ampliar as externalidades é algo extremamente complicado,
por ser em parte um desafio de adivinhação do futuro. A teoria do caos nos elucida como
isso é muito difícil (digo “difícil” para preservar o poder da palavra “impossível”).
A teoria do caos foi idealizada algumas centenas de anos atrás por alguns homens
desocupados, mas ganhou pompa de estudo científico nos anos 60, quando um
meteorologista americano estava brincado com um software que simulava fenômenos
meteorológicos e movimentação de massas de ar como habitual. Enquanto ele inseria
os mesmos valores de sempre e esperava os mesmos resultados de sempre, obteve um
retorno caótico de furações, vendavais e outras manifestações meteorológicas dignas
de estarem descritas no apocalipse. Indignado, foi investigar o que havia causado essa
enorme diferença nos resultados, após algumas conversas com seus colegas de estudo,
descobriu que um deles tinha feito uma alteração no programa que mudava as regras
de arredondamento decimal, coisa de dezenas de casas após a virgula, que
aparentemente, resultariam em alterações marginais insignificantes no sistema.
Essa pequena diferença comparável a movimentação de um bater de asas de
uma borboleta causar uma variação tão grande comparável a um tornado no resultado
final fascinou muitos pesquisadores e serve de paralelo para a disciplina de economia,
exemplificando o quanto é difícil mensurar as externalidades e tomar políticas corretivas
ou de incentivo para determinadas atividades.
Tão difícil, que o governo fica perdido entre discursos, narrativas e políticas
públicas ineficientes. Cada uma tentando corrigir as externalidades da ação anterior.
Deslocado e impotente igual a personagem Alice, do livro Alice Adventures in
Wonderland, onde é descrito um mundo confuso que nada funciona como o esperado e
tudo é novo. A pobre personagem, que caiu nesse lugar, não consegue progredir e
enfrenta dificuldades na sua jornada fugitiva desse mundo paralelo por conta dos
motivos supracitados até começar a compreender as regras desse lugar e jogar do jeito
dele, que coincidentemente, é não fazer muita coisa e indo no modo laissez faire laissez
passer, semelhante à economia.
Para finalizar, a opinião de Maurício de Souza:

(OBS: Para políticas anticíclicas, o caso é diferente)

Você também pode gostar