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Capítulo
RADIODERMATITES:
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Paula Elaine Diniz dos Reis
Elaine Barros Ferreira
Priscila de Souza Maggi Bontempo
INTRODUÇÃO
A pele é um órgão extremamente radiossensível devido às suas características de alta
proliferação e oxigenação tecidual. A exposição à radiação ionizante altera a camada de
células basais epidérmicas e o processo de maturação, proliferação e renovação celular. O
dano tecidual ocorre imediatamente após a primeira sessão de radioterapia e, à medida
que vão ocorrendo as sessões subsequentes, decorrentes do fracionamento da dose, passa
a haver o acúmulo de dose na pele, o que provoca o recrutamento de células inflamatórias,
caracterizando a radiodermatite.1-3
A radiodermatite aguda é caracterizada por hiperproliferação da epiderme, espessa-
mento do estrato córneo, perda de água transepidérmica e inflamação na epiderme e der-
me.4 Geralmente apresenta eritema leve a intenso, descamação seca, descamação úmida
e, em casos mais severos, pode ocorrer hemorragia e necrose tecidual.5,6 A radiodermatite
crônica é caracterizada por sua ocorrência tardia, desenvolvendo-se meses ou anos após
exposição à radiação ionizante.7,8 Caracteriza-se pelo desenvolvimento de atrofia cutânea,
fibrose, alterações pigmentares, telangiectasia, necrose e tumores secundários malignos da
pele.7 Fatores como trauma repetitivo sobre a área irradiada, exposição solar e irradiação
adicional podem favorecer o desenvolvimento e agravar a radiodermatite crônica.8
A radiodermatite interfere na qualidade de vida dos pacientes submetidos à radio-
terapia6,9 e pode gerar estigma social e pessoal, especialmente naqueles que irradiam a
região de cabeça e pescoço, pois esta radiotoxicidade altera a imagem corporal.9 Ademais,
a radiodermatite é uma toxicidade que, a depender de sua severidade, limita a dose tera-
pêutica10,11 ou até mesmo interrompe o tratamento até a melhora da reação,1,6,10,12,13 o que
pode inclusive prejudicar o sucesso terapêutico.
Os avanços tecnológicos relativos aos equipamentos e técnicas de tratamento uti-
lizados para radioterapia tendem a reduzir as toxicidades decorrentes da exposição à
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EPIDEMIOLOGIA
Na literatura internacional, a incidência de radiodermatite é reportada em 95% dos
pacientes submetidos à radioterapia2,4,16,17, sendo que a severidade da reação pode evoluir
de moderada a grave em 87% dos pacientes durante o tratamento.16
Estudo brasileiro, realizado em 2017, identificou que todos (100%) os pacientes
submetidos à radioterapia para câncer de cabeça e pescoço apresentaram algum grau
de radiodermatite ao longo do tratamento, com tempo médio de ocorrência de 11
dias.18 Dentre os pacientes com câncer de mama, 98% desenvolveram radiodermatite
(tempo médio de 11 dias). Já nos pacientes que irradiaram a região da pelve, houve
ocorrência de radiodermatite em 80% das pacientes com câncer de colo uterino (tem-
po médio de 7 dias), 33% das pacientes com câncer de endométrio (tempo médio de
11 dias) e em 52% dos pacientes com câncer de próstata (tempo médio de 18 dias).18
Aproximadamente 10% dos pacientes atendidos necessitou interromper o tratamen-
to, em média por 5 dias, em decorrência do desenvolvimento de radiodermatite em
graduações que impedem a continuidade do tratamento, como, por exemplo, na des-
camação úmida.18
AVALIAÇÃO DA RADIODERMATITE
Embora a radiodermatite comumente apresente regressão entre quatro e cinco se-
manas após o término do tratamento,4,6,11 a identificação e a avaliação da reação pelo
enfermeiro são fundamentais para evitar o desenvolvimento de reações severas que ve-
nham a interferir na continuidade do tratamento. Instrumentos ou escalas de gradua-
ção são aplicados para documentação uniforme da radiodermatite e podem facilitar o
planejamento da assistência de enfermagem na ocorrência dessa radiotoxicidade. Ade-
mais, podem ser úteis para comparação de estratégias terapêuticas e desenvolvimento de
estudos clínicos.19
O eritema é a primeira manifestação visível da radiodermatite, ocorrendo em mais
de 90% dos pacientes2 (Figura 41.1). Seu surgimento pode começar logo após as ses-
sões iniciais de radioterapia, mas, geralmente, é mais intenso após a segunda semana
do tratamento, como resultado da dilatação capilar e do aumento da permeabilidade
vascular.2,4,6,11 A hiperpigmentação está relacionada ao excesso de produção de melanina
decorrente do estímulo da exposição à radiação e do processo inflamatório (Figura 41.2).
Surge a partir de 12 a 20 Gy de dose absorvida.4 A descamação ocorre devido à redução
da lubrificação da pele, resultante dos danos às glândulas sebáceas, as quais podem ser
destruídas de forma permanente ao se atingir 30 Gy de dose absorvida,11 geralmente obti
dos em 15 sessões de radioterapia (Figura 41.3).
Figura 41.1. Eritema.
Figura 41.2. Hiperpigmentação.
Capítulo 41 • RADIODERMATITES: PREVENÇÃO E TRATAMENTO
• Corticosteroides tópicos.28
• Antimicrobianos tópicos, como sulfadiazina de prata (não utilizar como medida profilática).11,29,33
Grau 3 • Curativos específicos, como espuma de silicone, hidrocoloide28 para o manejo da descamação úmida.
Sugere-se que os produtos não sejam adesivos ou sejam de baixa aderência à pele (base de silicone),
para evitar maior traumatismo na área.27
• Oxigenação hiperbárica, enxerto de pele.28
Grau 4
• Abordagem multidisciplinar, envolvendo equipe especialista em tratamento de feridas e manejo da dor.33
Após o término do tratamento
Usar protetor solar de fator de proteção da pele (FPS) 30 ou superior.30
ESTUDOS EM ANDAMENTO
Ao acessar o Portal da International Clinical Trials Registry Platform da Organização
Mundial de Saúde, verifica-se que há 31 registros de ensaios clínicos em radiodermatites
nos últimos 5 anos, dentre os quais 22 estão em fase de recrutamento. Estão sendo testa-
dos intervenções tópicas, tais como: plantas medicinais (camomila, aloe vera), trolamina,
queratina, vitamina E, cremes heparinoides, laser de baixa intensidade, mometasona a
0,1%, hidrocortisona a 1%, gel de atorvastatina e películas protetoras (3M Cavilon®,
Mepitel®, Xonrid gel®).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para o adequado manejo da radiodermatite é de fundamental importância que o
paciente seja adequadamente orientado e siga os cuidados usuais com a pele. Ademais, é
fundamental que a pele seja mantida hidratada e que se apliquem as condutas adequadas
de acordo com o grau de radiodermatite estabelecido.
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