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PROJETO DE LEI 

Nº  de 2023
(Da equipe CARCARÁS DA JUSTIÇA – ACADEMIA MBL – 2023)

Regulamenta a política nacional de cuidado


específico à pessoa com incongruência de
gênero ou trangênero, e institui o conceito legal
de identidade de gênero; dispõe a respeito da
proteção da primeira infância e da
adolescência; tipifica conduta que atente contra
a dignidade sexual da criança e do adolescente
e dá outras providências.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Capítulo I – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1°. Esta Lei institui a política nacional de cuidado e acompanhamento específico à
pessoa adulta, assim reconhecida com a aquisição da maioridade civil, que se apresente
na condição de incongruência de gênero ou transgênero.
Parágrafo único. A pessoa que se apresentar em condição de incongruência de gênero
ou transgênero, independentemente de qual seja a denominação que melhor enquadre a
situação pessoal dela, terá sua identidade e dignidade pessoal respeitadas pelo Poder
Público e pela sociedade, vedadas quaisquer discriminações e tratamentos díspares
daqueles ofertados à população que não se apresente nestas condições, conforme o
ordenamento perpetrado pelas garantias fundamentais advindo da Constituição Federal,
dos Tratados internacionais de direitos humanos dos quais a República Federativa do
Brasil seja signatária e pelos termos e disposições desta Lei.

Art. 2º. Considera-se trangênero ou incongruência de gênero a não paridade entre a


identidade de gênero e o sexo ao nascimento, incluindo-se neste grupo, mas não se
limitando, as seguintes denominações:
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I – transexuais;
II – travestis;
III – intersexo e/ou gênero misto;
IV – não-binário;
V – outras denominações que venham a ser reconhecidas pela literatura médica.

Art. 3º. Considera-se identidade de gênero o reconhecimento de cada pessoa adulta


sobre seu próprio gênero.
§ 1º. Considera-se homem transexual a pessoa nascida com o sexo feminino e que se
identifica como homem.
§ 2º. Considera-se mulher transexual a pessoa nascida com o sexo masculino e que se
identifica como mulher.
§ 3º. Considera-se travesti a pessoa que nasceu com um sexo, identifica-se e apresenta-
se fenotipicamente no outro gênero, mas aceita sua genitália.
§ 4º. Considera-se intersexo e/ou gênero misto a pessoa que nasceram com
características sexuais de ambos os gêneros, incluindo genitais, padrões cromossômicos
e glândulas, como testículos e ovários, e que não se encaixam nas noções binárias
típicas de corpos masculinos ou femininos.
§ 5º. Considera-se não-binária a pessoa que não se sente ou não se pertence a um gênero
sexual exclusivamente, não se limitando aos conceitos de gêneros masculino e
feminino.

Art. 4º. Considera-se afirmação de gênero o procedimento terapêutico multidisciplinar


para a pessoa adulta que necessita adequar seu corpo à sua identidade de gênero, por
meio de hormonioterapia e/ou cirurgias, de acordo com o procedimento instituído pelo
Capítulo V desta Lei.

CAPÍTULO II – DA VEDAÇÃO DA REALIZAÇÃO DE HORMONIOTERAPIA,


INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS E OUTROS TRATAMENTOS DE
TRANSIÇÃO DE GÊNERO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
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Art. 5. É vedada a realização de hormonioterapia, tanto indutora quanto bloqueadora,


intervenções cirúrgicas e demais tratamentos de transição de gênero em crianças e
adolescentes, ainda que o tratamento seja requisitado ou consentido pelos pais ou
responsáveis legais.
§ 1º. A vedação imposta pelo caput não se aplica aos tratamentos de doenças, síndromes
e condições especiais de saúde ocasionadas por anomalias sexuais cromossômicas
diagnosticadas pela equipe multidisciplinar a que se refere o Capítulo V, com todas as
condutas, procedimentos e protocolos constantes da literatura médica de referência.
§ 2º. Não se incluem, ainda, nas vedações do caput o tratamento ambulatorial e as
condutas de acompanhamento psicológico, psiquiátrico ou terapêutico lato sensu a
criança e ao adolescente que se caracterize como pessoa que se apresente na condição
de incongruência de gênero ou transgênero, quando o tratamento for indicado pela
equipe multidisciplinar prevista no Capítulo V.

Art. 6º. O adolescente que venha a adquirir a maioridade civil, nos termos e condições
da Lei, e que for pessoa que se apresente na condição de incongruência de gênero ou
transgênero, poderá requerer o início da hormonioterapia e da programação dos
procedimentos cirúrgicos e pós-cirurgicos que a pessoa que se apresente na condição de
incongruência de gênero ou transgênero tem direito, quando do atingimento da
maioridade civil.

Capítulo III – DO TRATAMENTO PESSOAL DESTINADO À PESSOA


ADULTA QUE SE APRESENTE NA CONDIÇÃO DE INCONGRUÊNCIA DE
GÊNERO OU TRANSGÊNERO

Art. 7º. Os órgãos da Administração Pública direta e indireta, as autarquias, as empresas


públicas, as entidades paraestatais e toda e qualquer repartição gerida pelo Estado
respeitará, em sua comunicação oficial, a norma culta padrão da língua portuguesa e o
artigo do gênero de tratamento que a pessoa que se apresente na condição de
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incongruência de gênero ou transgênero indicar em suas interações pessoais e
documentais com o respectivo órgão com quem vier a interagir.
Art. 8º. Considera-se norma culta padrão da língua portuguesa aquela disposta em
normas vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, observando-se prioritariamente o
que dispõe o artigo 13, da Constituição Federal, e as disposições do acordo ortográfico
da língua portuguesa, em vigor por força do Decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008.

Art. 9º. O servidor, ou o serviço público que não observar a regra de tratamento do
artigo de gênero requerido pela pessoa que se apresente na condição de incongruência
de gênero ou transgênero, estará sujeito a responsabilização cível e administrativa,
respondendo de acordo com a normatização disciplinar que regulamente sua função
pública.

Art. 10. As pessoas físicas e as pessoas jurídicas de direito privado respeitarão a


identidade de gênero da pessoa que se apresente na condição de incongruência de
gênero ou transgênero, tratando-a pelo artigo de gênero com o qual esta se identifique.

Capítulo IV – DA POLÍTICA DE CIDADANIA DA PESSOA QUE SE


APRESENTE NA CONDIÇÃO DE INCONGRUÊNCIA DE GÊNERO OU
TRANSGÊNERO

Art. 11. Os bancos de dados mantidos pela Administração Pública consignarão as


informações de qualificação e de identificação pessoal de acordo com o que a pessoa
que se apresente na condição de incongruência de gênero ou transgênero tenha
escolhido, sobretudo, mas não se limitando, ao nome social, o artigo do gênero de
opção, ao convívio social integrativo, mormente o acompanhamento pelos serviços de
saúde, educação e assistência social, bem como de todas as outras necessidades que se
apresentem, para a garantia de respeito à sua dignidade da pessoa humana.

Art. 12. Os serviços notariais, de registro da pessoa natural e de identificação adotarão,


em seus registros e bancos de dados, o nome social, o artigo de gênero de opção e as
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demais informações relevantes a qualificação e identificação da pessoa que se apresente
na condição de incongruência de gênero ou transgênero, respeitadas as informações de
filiação que sejam regulamentadas pela Lei civil.
Capítulo V – DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA DESTINADA À
PESSOA QUE SE APRESENTE NA CONDIÇÃO DE INCONGRUÊNCIA DE
GÊNERO OU TRANSGÊNERO

Seção I – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13. Os serviços públicos e privados de saúde instituirão protocolos de atendimento


de acolhimento humanizado e que propicie conforto e dignidade à pessoa que se
apresente na condição de incongruência de gênero ou transgênero, conciliando as
condutas de baixa, média e alta complexidades, de urgência e emergência com as
estratégias de saúde de acompanhamento perenizado, respeitados, se o caso, os
protocolos instituídos pela estratégia de saúde de família, projetos e pesquisas
pertinentes às pessoas que se apresentam na condição de incongruência e gênero ou
transgênero, visando o bem estar e a qualidade de vida de longo prazo desta população.

Art. 14. A assistência médica destinada a promover atenção integral e especializada às


pessoas que se apresentam na condição de incongruência e gênero ou transgênero
incluirá acolhimento, acompanhamento, procedimentos clínicos, hormonioterapia e o
cuidado cirúrgico e pós-cirúrgicos, conforme preconizado em Projeto Terapêutico
Singular norteado por protocolos e diretrizes vigentes.

Art. 15. Os serviços públicos e privados de saúde estarão vinculados a Projeto


Terapêutico Singular, baixado conforme diretrizes que o Conselho Federal de Medicina
dispuser, que deverá ser elaborado mediante propostas de condutas terapêuticas
articuladas, resultado da discussão de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar
com o indivíduo, abrangendo toda a rede assistencial na qual está inserido e
contemplando suas demandas e necessidades independentemente da idade.
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Art. 16. A atenção médica especializada para o cuidado às pessoas que se apresentam na
condição de incongruência e gênero ou transgênero deve ser composta por equipe
mínima formada por psiquiatra, endocrinologista, ginecologista, urologista e cirurgião
plástico, sem prejuízo de outras especialidades médicas que atendam à necessidade do
Projeto Terapêutico Singular.
Parágrafo único. Os serviços de saúde devem disponibilizar o acesso a outros
profissionais da área da saúde, de acordo com o Projeto Terapêutico Singular,
estabelecido em uma rede de cuidados e de acordo com as normatizações do Ministério
da Saúde.

Art. 17. Na atenção médica especializada, à pessoa que se apresente na condição de


incongruência e gênero ou transgênero deverá ser informada e orientada previamente
sobre os procedimentos e intervenções clínicas e cirúrgicas aos quais será submetida,
incluindo seus riscos e benefícios, sendo obrigatório seu consentimento livre,
esclarecido, inequívoco e desembaraçado, tomado nos termos da legislação aplicável.

Art. 18. Os familiares e indivíduos do vínculo social da pessoa que se apresente na


condição de incongruência e gênero ou transgênero poderão ser orientados sobre o
Projeto Terapêutico Singular, mediante autorização expressa do transgênero, em
conformidade com as normas de regência da ética médica.

Art. 19. O acompanhamento dos familiares e indivíduos do vínculo social da pessoa que
se apresente na condição de incongruência e gênero ou transgênero deverá ser articulado
com outros serviços de saúde ou socioassistenciais, com vistas a garantir a assistência
integral caso não seja realizado pela mesma equipe que assiste ao transgênero.

Art. 20. Na atenção médica especializada, é vedado o início da hormonioterapia cruzada


antes da aquisição da maioridade civil da pessoa que se apresente na condição de
incongruência e gênero ou transgênero.
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Art. 21. Os procedimentos cirúrgicos de redesignação de gênero só poderão ser
realizados após acompanhamento prévio mínimo de um ano da pessoa que se apresente
na condição de incongruência e gênero ou transgênero, por equipe multiprofissional e
interdisciplinar e a apenas após a assinatura de termo de consentimento livre e
esclarecido.
Art. 22. É vedada a realização de procedimentos hormonais e cirúrgicos em pessoas
com diagnóstico de transtornos mentais que os contraindiquem.

Seção II – DO PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR (PTS)

Art. 23. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas de condutas


terapêuticas articuladas, resultado da discussão coletiva de equipe multiprofissional e
interdisciplinar a partir da singularidade da pessoa que se apresente na condição de
incongruência e gênero ou transgênero, permitindo, assim, promover atenção em saúde
integral.

Art. 24. O PTS abrangerá a pessoa que se apresente na condição de incongruência e


gênero ou transgênero em todas as etapas de seu acompanhamento, dando-lhe condições
para que participe ativamente do processo terapêutico, sendo corresponsável por seu
cuidado.

Art. 25. O PTS será desenvolvido respeitando as normatizações e diretrizes vigentes das
especialidades médicas e áreas do conhecimento envolvidas nesse cuidado,
considerando-se as seguintes premissas elementares:
a) os profissionais da equipe ambulatorial serão responsáveis pela primeira
etapa do PTS;
b) deve-se assegurar que todos os membros da equipe realizem atendimento
à pessoa com incongruência de gênero ou transgênero, para que
identifiquem as singularidades de cada caso;
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c) o PTS será elaborado em reunião de discussão da equipe
multiprofissional e interdisciplinar, com a participação da pessoa com
incongruência de gênero ou transgênero;
d) o atendimento médico deve constar de anamnese, exame físico e psíquico
completos, incluindo na identificação do indivíduo nome social, nome de
registro, identidade de gênero e sexo ao nascimento;
e) deverá constar a existência do histórico patológico, proporcionando os
devidos encaminhamentos necessários;
f) considerando a fase peculiar do desenvolvimento, as ações sugeridas pelo
PTS deverão ser construídas com crianças, adolescentes e seus pais ou
responsável legal;
g) a assistência disponibilizada para crianças e adolescentes deverá estar
articulada com as escolas e também com as instituições de acolhimento,
quando for o caso, considerando a importante dimensão desses serviços no
desenvolvimento infantil.

Seção III – DA HORMONIOTERAPIA

Art. 26. A hormonioterapia cruzada na pessoa adulta que se apresente na condição de


incongruência e gênero ou transgênero deverá ser prescrita por médico
endocrinologista, ginecologista ou urologista, todos com conhecimento científico
específico, e terá por finalidade induzir características sexuais compatíveis com a
identidade de gênero.

Art. 27. São objetivos da hormonioterapia:


a) reduzir os níveis hormonais endógenos do sexo biológico, induzindo
caracteres sexuais secundários compatíveis com a identidade de gênero;
b) estabelecer hormonioterapia adequada que permita níveis hormonais
fisiológicos compatíveis com a identidade de gênero.
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Art. 28. As doses dos hormônios sexuais a serem adotadas devem seguir os princípios
da terapia de reposição hormonal para indivíduos hipogonádicos de acordo com o
estágio puberal.

Art. 29. Não são necessárias doses elevadas de hormônios sexuais para atingir os
objetivos descritos da hormonioterapia cruzada e os efeitos desejados, além de estarem
associadas a efeitos colaterais. Os hormônios utilizados são:
a) a testosterona, para induzir o desenvolvimento dos caracteres sexuais
secundários masculinos nos homens transexuais;
b) o estrogênio, para induzir o desenvolvimento dos caracteres sexuais
secundários femininos nas mulheres transexuais e travestis;
c) o antiandrógeno, que pode ser utilizado para atenuar o crescimento dos
pelos corporais e as ereções espontâneas até a realização da orquiectomia.

Art. 30. O uso de estrógenos ou testosterona deve ser mantido ao longo da vida do
indivíduo, monitorando-se os fatores de risco.

Art. 31. A pessoa com incongruência de gênero ou transgênero deve demonstrar


esclarecimento e compreensão dos efeitos esperados e colaterais da hormonioterapia
cruzada, assim como capacidade de realizá-la de forma responsável.

Seção IV – DO ACOMPANHAMENTO PSIQUIÁTRICO

Subseção I – DO ACOMPANHAMENTO À CRIANÇA

Art. 32. O envolvimento dos pais, familiares ou responsável legal será obrigatório no
acompanhamento psicológico, psiquiátrico ou terapêutico lato sensu de criança que se
apresente como pessoa com incongruência de gênero ou transgênero, respeitando os
preceitos éticos e específicos de cada área profissional envolvida e vedada a adoção de
hormonioterapia, conforme a previsão do artigo 5º, exceção feita aos §§ 1º e 2º, desta
Lei.
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Parágrafo único. Constatando a equipe multidisciplinar, o médico especialista ou
qualquer interveniente no tratamento que os pais, os familiares ou eventuais
responsáveis legais contribuam para a turbação da livre formação de caráter da criança,
seja por conduta omissiva, seja por conduta comissiva, será comunicado o Conselho
Tutelar para apuração de eventual violação de direitos, conforme previsão do artigo 227,
da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente e desta Lei.

Art. 33. O psiquiatra inserido na equipe multiprofissional e interdisciplinar responsável


por acompanhar a criança que se caracteriza como pessoa com incongruência de gênero
ou transgênero deve se ater a observar, orientar, esclarecer e formular diagnóstico e
psicoterapia – quando indicada – assegurando o desenvolvimento da criança com
diagnóstico de incongruência de gênero.

Subseção I – DO ACOMPANHAMENTO AO ADOLESCENTE

Art. 34. O acompanhamento psiquiátrico, psicológico ou terapêutico lato sensu do


adolescente que se caracteriza como pessoa com incongruência de gênero ou
transgênero será realizado por profissional capacitado e integrante da equipe
multiprofissional e interdisciplinar envolvida no Projeto Terapêutico Singular, visando
o diagnóstico das morbidades, quando existentes, assim como seu tratamento, estando
estabelecido no Projeto Terapêutico Singular.

Art. 35. Cabe ao médico psiquiatra, integrante da equipe de atendimento


multiprofissional e interdisciplinar, elaborar laudos, relatórios ou atestados que se façam
necessários.

Subseção II – DO ACOMPANHAMENTO À PESSOA ADULTA

Art. 36. O acompanhamento psiquiátrico será realizado por médico psiquiatra integrante
de equipe multiprofissional, cabendo ao profissional formular diagnóstico, identificar
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morbidades, realizar diagnósticos diferenciais, prescrever medicamentos e indicar e
executar psicoterapia, se necessário.
Parágrafo único. Após a avaliação psiquiátrica, serão contraindicadas a hormonioterapia
e/ou cirurgia nas seguintes condições:
I – transtornos psicóticos graves;
II – transtornos de personalidade graves;
III – retardo mental e
IV – transtornos globais do desenvolvimento graves.
Art. 37. Cabe ao médico psiquiatra, junto à equipe multiprofissional e interdisciplinar,
avaliar periódica e sequencialmente a evolução do indivíduo, mesmo após o
encaminhamento para a cirurgia de afirmação de gênero e sua realização, pelo período
mínimo de um ano.

Seção V – DOS PROTOCOLOS CIRÚRGICOS

Art. 38. É vedada a realização de procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero em


pacientes que não adquiriram a maioridade civil.

Art. 39. A hormonioterapia é obrigatoriamente utilizada sob supervisão


endocrinológica, ginecológica ou urológica no período pré-operatório, devendo ser
avaliado se as transformações corporais atingiram o estágio adequado para indicar os
procedimentos cirúrgicos. Os procedimentos cirúrgicos para a afirmação de gênero são
os seguintes:
1. Procedimentos de afirmação de gênero do masculino para o feminino:
1.1 Neovulvovaginoplastia
A neovulvovaginoplastia primária compreende: orquiectomia bilateral, penectomia,
neovaginoplastia, neovulvoplastia.
A neovaginoplastia com segmento intestinal só deverá ser realizada quando da falha ou
impossibilidade do procedimento primário.
Deve ser avaliada a condição da pele e prepúcio (balanopostites/fimose) com objetivo
de planejar a técnica cirúrgica de neovaginoplastia e a adequada disponibilidade de
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tecidos saudáveis. Além disso, deve ser realizada depilação definitiva da pele da haste
peniana.
1.2 Mamoplastia de aumento
A mamoplastia de aumento poderá ser realizada nas mulheres transexuais e nas
travestis, de acordo com o Projeto Terapêutico Singular.
2. Procedimentos de afirmação de gênero do feminino para o masculino:
2.1 Mamoplastia bilateral
2.2 Cirurgias pélvicas: histerectomia e ooforectomia bilateral
2.3 Cirurgias genitais
2.3.1 Neovaginoplastia, que pode ser realizada em conjunto com a histerectomia e
ooforectomia bilateral ou em momentos cirúrgicos distintos.
2.3.2 - Faloplastias
a) Metoidoplastia, que compreende retificação e alongamento do clitóris após estímulo
hormonal, sendo considerada o procedimento de eleição para faloplastia.
b) Neofaloplastia com retalho microcirúrgico de antebraço ou retalho de outras regiões.
É considerada experimental, devendo ser realizada somente mediante as normas do
Sistema CEP/Conep.
Para complementar as faloplastias (metoidoplastia e neofaloplastia) são realizadas
uretroplastia em um ou dois tempos com enxertos de mucosa vaginal/bucal ou
enxerto/retalhos genitais, escrotoplastia com pele dos grandes lábios e colocação de
prótese testicular em primeiro ou segundo tempo.
3. Outros procedimentos destinados a adequação corporal para a afirmação de gênero
devem ser avaliados de acordo com o Projeto Terapêutico Singular.
4. Os indivíduos já afirmados em seu gênero, tendo cumprido o PTS (com a devida
comprovação documental), poderão realizar procedimentos complementares para o
gênero afirmado com médicos de sua escolha.
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JUSTIFICATIVA

Este projeto tem como objetivo analisar e proteger com maior critério os procedimentos
e acompanhamento médico, psicológico, social e cirúrgico para pessoas que se
apresentam na condição de incongruência de gênero ou transgênero.

Devendo os procedimentos serem acompanhados por profissionais altamente preparados


e possuam larga experiência em projetos de pesquisa com pessoas em condições de
incongruência de gênero ou transgênero.

Evitar que sejam aplicados procedimentos precoces que tragam prejuízos futuros ao
cidadão que for submetido a intervenções irreversíveis.

Faz-se necessário reduzir o preconceito e assumir que estas pessoas fazem parte da
nossa sociedade. Segundo estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Botucatu
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foram entrevistadas 6.000 pessoas em 129
municípios de todas as regiões do país. O resultado, segunda a autora do artigo
(professora da Faculdade de Medicina de Bocutatu - Maria Cristina Pereira Lima)
mostram a urgência de políticas de saúde voltadas para esse público. Na sua pesquisa
pessoas que se identificam como transgênero representaram 0,69% e pessoas não
binárias 1,19%, que representam 4 milhões de pessoas no Brasil.

São Paulo, 07 de julho de 2023.


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Aprimorar a proteção contra a sexualização infantil, em conformidade com a


Constituição Federal, requer uma série de medidas e políticas que visem garantir o
pleno desenvolvimento e a integridade das crianças. Aqui estão algumas sugestões de
aprimoramento:

1. Fortalecer a legislação: Promover uma revisão e atualização das leis existentes que
tratam da sexualização infantil, de modo a torná-las mais abrangentes e eficazes. Isso
pode incluir a punição mais rigorosa para os responsáveis por práticas de sexualização,
assim como para o consumo e compartilhamento de material pornográfico infantil.

2. Educação ampla e inclusiva: Implementar programas de educação sexual nas escolas,


que promovam a prevenção e a conscientização sobre a sexualização infantil,
abrangendo aspectos relacionados ao consentimento, aos direitos sexuais e à
pornografia. Esses programas devem ser adequados à idade e ao contexto cultural das
crianças.
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3. Capacitação de profissionais: Investir na capacitação de professores, assistentes
sociais, policiais e profissionais de saúde, para identificar, prevenir e combater a
sexualização infantil. Essa capacitação deve abordar não apenas a identificação de sinais
de abuso, mas também a educação a respeito de como lidar com esses casos e como
ajudar as vítimas.

4. Ampliação das políticas públicas: Investir em programas de prevenção e proteção da


infância, que abordem a sexualização infantil como um problema social. Isso pode
incluir a criação de linhas de denúncia e apoio às vítimas, campanhas de
conscientização e programas de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade.

5. Cooperação internacional: Promover a cooperação com organismos internacionais,


como a ONU e a Interpol, para a troca de informações, o combate ao tráfico de crianças
e a facilitação de acordos de extradição para responsáveis por crimes de sexualização
infantil.

6. Acesso à justiça: Garantir que as vítimas de sexualização infantil tenham acesso a um


sistema de justiça que as proteja e puna os agressores. Isso inclui a criação de
mecanismos de denúncia seguros, a implementação de medidas de proteção às vítimas e
a garantia de punição adequada para os responsáveis.

É fundamental que essas medidas sejam implementadas de forma integrada, com a


participação da sociedade civil, das famílias, das escolas e das instituições
governamentais. Somente assim será possível aprimorar a proteção contra a
sexualização infantil, respeitando os princípios e direitos estabelecidos na Constituição
Federal.

DPara analisar possíveis vantagens e desvantagens da proposta de aprimorar a proteção


contra a sexualização infantil, é importante considerar os diferentes pontos de vista e
interesses envolvidos. Abaixo estão algumas possíveis vantagens e desvantagens:
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Vantagens:

1. Proteção das crianças: Uma legislação mais robusta e políticas públicas eficientes
podem oferecer uma maior proteção às crianças, ajudando a prevenir casos de abuso
sexual e exploração infantil.

2. Conscientização e educação: Programas de educação e conscientização podem ajudar


a sensibilizar a sociedade sobre a gravidade da sexualização infantil e a importância da
prevenção, promovendo uma mudança cultural a longo prazo.

3. Cooperação internacional: A cooperação com organismos internacionais pode


facilitar o compartilhamento de informações, o combate ao tráfico de crianças e a
extradição de criminosos, fortalecendo a luta global contra a sexualização infantil.

4. Justiça para as vítimas: O acesso a um sistema de justiça eficiente e proteções


adequadas às vítimas podem ajudar a garantir que os responsáveis sejam
responsabilizados e que as vítimas recebam o apoio necessário para sua recuperação.

Desvantagens:

1. Desafios na aplicação: Implementar uma legislação e políticas eficientes pode


enfrentar desafios na aplicação e fiscalização, especialmente em países com recursos
limitados e burocracia excessiva.

2. Restrições à liberdade de expressão: Em alguns casos, pode haver uma preocupação


com a possível restrição da liberdade de expressão, especialmente quando se trata de
arte, literatura ou outros meios de expressão que expressem uma sexualidade infantil
consensual, mas fictícia.
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3. Violação da privacidade: Medidas de combate à sexualização infantil podem envolver
a coleta e o monitoramento de dados pessoais, o que pode levar a preocupações
legítimas sobre a privacidade e o uso indevido dessas informações.

4. Interceptação de direitos parentais: Em algumas situações, pode haver uma tensão


entre a proteção da criança e o direito dos pais de tomar decisões sobre a educação e a
exposição dos filhos a certos temas, o que pode suscitar questionamentos sobre a
interferência estatal excessiva.

É fundamental encontrar um equilíbrio entre a proteção das crianças e a garantia dos


direitos fundamentais dos indivíduos envolvidos. Portanto, qualquer proposta para
aprimorar a proteção contra a sexualização infantil deve ser cuidadosamente avaliada,
levando em consideração essas vantagens e desvantagens.

Falhas:

1. Lacunas legais: A legislação existente pode ter lacunas que não abordam
adequadamente todos os aspectos da sexualização infantil, como formas de exploração
online, pornografia infantil ou grooming (ação de seduzir uma criança para fins
sexuais). Portanto, é crucial garantir que a nova legislação seja abrangente o suficiente
para abordar todas essas brechas.

2. Implementação ineficiente: Uma legislação forte contra a sexualização infantil pode


ser ineficaz se não houver recursos adequados para sua implementação. Isso inclui a
necessidade de treinamento adequado para os profissionais e autoridades envolvidos,
bem como recursos financeiros para investigação, prevenção e apoio às vítimas.

3. Falta de conscientização: A falta de conscientização e compreensão sobre a gravidade


da sexualização infantil pode levar a uma falta de denúncias e um ambiente de
impunidade. É importante investir em programas de educação e conscientização para
criar uma cultura de denúncia e apoio às vítimas.
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Formas de evitar possíveis falhas:

1. Ampliar o escopo da legislação: A nova proposta de lei deve ser abrangente e


atualizada para abordar as formas mais recentes de sexualização infantil, como
exploração online e grooming. É importante envolver especialistas no desenvolvimento
da legislação para garantir a sua eficácia e abrangência.

2. Investir em recursos e treinamento: Garantir que as autoridades responsáveis pela


aplicação da lei tenham os recursos financeiros, tecnológicos e humanos necessários
para combater efetivamente a sexualização infantil. Além disso, oferecer treinamento
adequado sobre identificação, investigação e proteção de vítimas é fundamental.

3. Campanhas de conscientização: Criar campanhas de conscientização para educar o


público em geral sobre os diferentes aspectos da sexualização infantil, os sinais de alerta
e como denunciar casos suspeitos. Isso pode envolver parcerias com a mídia, escolas e
organizações da sociedade civil.

4. Acesso a serviços de apoio: Além de penas mais rigorosas para os agressores, é


essencial garantir que as vítimas tenham acesso a serviços de apoio, como centros de
atendimento especializados, serviços de saúde mental e programas de reintegração
social.

5. Monitoramento e avaliação contínua: Implementar mecanismos de monitoramento


eficazes para avaliar a eficácia da legislação e medidas de prevenção. Isso pode
envolver a coleta de dados relevantes, a análise regular dos resultados e a adaptação da
legislação com base nessas avaliações.

É importante destacar que nenhuma legislação é perfeita e sempre há margem para


melhorias. Portanto, é necessário revisar, atualizar e aprimorar constantemente a
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legislação e as políticas para combater a sexualização infantil, adaptando-se às
mudanças sociais e tecnológicas.

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