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WATCHMAN NEE

CONHECEREIS
A VERDADE

EDIÇÕES PAROUSIA

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EDIÇÕES PAROUSIA

Título do original em inglês

GOSPEL DIALOGUE

Copyright © 1975 por

Christian Fellowship Publishers, Inc

Copyright © 1990 por

EDIÇÕES PAROUSIA LTDA

Traduzido por:

Délcio Meireles

Publicado no Brasil com a devida

autorização e com todos os direitos

reservados por

EDIÇÕES PAROUSIA LTDA

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Belo Horizonte — Minas Gerais

Fone: (031) 444-9727

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ÍNDICE
Pergunta .......................................................................................................... Pagina

1 Graça ............................................................................................................ 5

2 Transgressão Vs. Iniquidade ........................................................................ 10

3 “Abençoado em Romanos 4:7 e o “Abençoado” em Romanos 4:8. .............. 11

4 Nossos Pecados: “Cobertos” ou “Tirados”? ................................................. 11

5 Purificação dos Pecados — Uma ou Muitas Vezes? .................................... 12

6 Sangue Aspergido Diante de Deus e o Sangue Aspergido Sobre o Homem . 13

7 Pecado e Pecados .......................................................................................... 14

8 A Graça de Deus e a Justiça de Deus na Salvação ......................................... 19

9 A Justiça de Deus Vs. A Justiça de Cristo .................................................... 21

10 A Justiça de Cristo Vs. Cristo Como Justiça .............................................. 21

11 A Perseguição do Senhor e a Morte do Senhor ........................................... 22

12 Por Que Cristo Deve Ser o Deus-Homem ................................................... 22

13 O Um Só Ato e Um Só Homem de Romanos 5:18,19 ................................ 23

14 A Guarda da Lei Por Cristo e Sua Relação Com a nossa Salvação ............. 25

15 O Crente e a Lei ......................................................................................... 26

16 Cristo Cumpre a Lei e os Profetas ............................................................. 29

17 A Vida, a Justiça e a Lei em Gálatas 3:21 .................................................. 33

18 De Que Somos Redimidos? ........................................................................ 34

19 O Pecador, a Perdição e Romanos 2:12 ...................................................... 35

20 Devemos Crer na Morte e na Ressurreição Para Sermos Salvos ................ 35

21 Crer na Ressurreição de Cristo, Continuação ............................................. 36

22 Sua Ressurreição Nos Dá Uma Nova Vida ................................................. 37

23 Crer no Filho de Deus e no Filho do Homem ............................................. 39

24 A História de Jonas e Seu Significado ........................................................ 40

25 O Cristão: Nascido de Deus ou Criado Por Deus? ...................................... 41

3
Pergunta .......................................................................................................... Página

26 Justificação: Pelo Sangue e Pela Ressurreição ........................................... 41

27 Os Dois Lados da Crucificação de Cristo: Pelos Homens e Por Deus. ........ 44

28 “Está Consumado” Vs. “O Que Resta das Aflições de Cristo” ................... 47

29 Cristo Morreu: Por Nós e Por Nossos Pecados ........................................... 48

30 Na Redenção os Cristãos Trocam de Posição Com Cristo? ........................ 49

31 Quando a nossa União Com Cristo É Realizada? ....................................... 50

32 Pôr Que Nunca Estamos “em Jesus” ou “em Jesus Cristo?” ....................... 51

33 Quando Fomos Crucificados Com Cristo? .................................................. 52

34 O Sangue e a Cruz : Significado e Resultados ............................................ 53

35 Qualquer Que Não Crê Perecerá? ............................................................... 56

36 A Vontade de Deus Vs. a Vontade do Homem na Salvação ....................... 57

37 A Vida Eterna é Obtida Pelas Obras? .......................................................... 58

38 O Homem Rico e Lázaro - Lucas ................................................................ 59

39 Justificação Pela Fé Vs. Justificação Pelas Obras ....................................... 60

40 Como Deus Trata o Perdido: As Três Parábolas de Lucas .......................... 65

41 A Morte do Senhor, a Descida do Espírito e o Andar do Crente .... ............ 67

42 Reconciliação ............................................................................................. 69

43 Salvação: Pela Graça Através da Fé e Nada Mais ....................................... 70

44 O Pecado Imperdoável ............................................................................... 75

45 Cair da Graça ............................................................................................. 76

46 Os Mencionados em Hebreus 6:4-8 Perecerão? ......................................... 78

47 “Não Resta Mais Sacrifício Pelos Pecados” (Gl 10:26)............................... 81

48 Os Cinco Tipos de Perdão .......................................................................... 84

49 Os Seis Tipos de Salvação .......................................................................... 93

50 Santificação ................................................................................................ 98

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PERGUNTA No 1

Visto que a Bíblia declara que “pela graça sois salvos” (Ef 2:8), devemos então
fazer as seguintes perguntas: A graça.

a) é dada a quem merece, isto é, Deus exige que o homem seja bom a fim de ser
salvo?

b) é dada para completar o que está faltando, isto é, Deus exige que o homem
faça o melhor que pode antes de ser salvo?

c) é negada por causa da falta de mérito, isto é, Deus pode recusar salvar uma
pessoa porque ela não é boa?

d) é menos dada ao que menos merece, isto é, pode Deus recusar salvar um
homem porque ele não é tão bom quanto outro?

e) faz daquele que recebe um devedor, quer dizer, é próprio usar a palavra
“recompensa” aqui?

f) absolve diretamente o pecado do pecador, isto é, pode Deus perdoar


livremente alguém por causa de compaixão pelo pecador?

g) absolve diretamente o pecado do crente, isto é, pode Deus perdoar


livremente alguém por causa do amor pelo crente?

Nós, seres humanos, possuímos o maior dos defeitos que é: nossa tendência é medir o
coração de Deus pelo nosso. Nosso coração humano é um coração de lei, não de graça. Sempre
imaginamos Deus como tendo um coração como o nosso, por isso, frequentemente O entendemos
mal.

a) A graça não é dada a qualquer que mereça. Devemos entender claramente o que é a
graça: “Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como divida”
(Rm 4:4). Colocado ao contrário seria: àquele que não merece e todavia a ele é dado, isto é graça.
Se é merecido, a própria ideia de graça é cancelada. A graça é o que é porque não há o menor
elemento de merecimento nela. “Porque pela graça sois salvos” (Ef 2:8). Salvar o que não
merece é graça. “Sendo justificados gratuitamente pela sua (de Deus) graça” (Rm 3:24). O que
significa “gratuitamente”? No original Grego, a palavra “gratuitamente” é a mesma traduzida
como “sem causa” em João 15:25, onde o Senhor foi mencionado dizendo: “Aborreceram-me
sem causa”, que é uma citação do Antigo Testamento. Dizer que a graça de Deus nos justifica
gratuitamente, significa simplesmente que Deus nos justifica sem qualquer causa ou razão. “Mas
a Escritura encenou tudo debaixo do pecado” (Gl 3:22), e “Porque Deus encerrou a todos
debaixo de desobediência” (Rm 11:32). Deus colocou todos os homens no mesmo nível para que
ninguém seja salvo por obras (isto é, por fazer o bem), mas para que todos sejam salvos pela
graça. Se você perguntasse a Paulo como ele foi salvo, ele certamente responderia que foi pela
graça de Deus. Se você perguntasse a todos os santos a mesma coisa, todos eles dariam a você a

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mesma resposta: salvos pela graça. Deus nos salva sem uma causa e isto é graça.

b) A graça não é dada para completar o que está faltando no homem. “Não vem das
obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:9). Isto não significa que não haja necessidade de haver
boas obras depois de ser salvo; indica apenas que o homem não é salvo pelas obras. Se o homem
fosse salvo pelas obras, ele teria por certo algo de que se gloriar. Se ele fosse salvo com apenas
dez por cento de obras, o homem teria dez por cento de jactância, mas Deus perderia dez por cento
de glória. Porém, Deus não repartirá Sua glória com o homem. Ele detesta a auto exaltação do
homem, pois Seu propósito é que Ele mesmo seja glorificado. Por isso, a graça de Deus não é
suplementar ao que está faltando no homem.

A graça não é dada àquele que merece nem como gratificação ao merecedor. Não é nem
uma recompensa justa nem tampouco uma recompensa superabundante. A questão de
“merecimento” ou dignidade de alguém, não tem absolutamente base comum com a graça.
Receber a graça é colocar de lado completamente este assunto de mérito. A ideia de alguém ser
mais ou menos digno de ser salvo, é totalmente sem fundamento. Com respeito à salvação,
ninguém é capaz de obter a graça de Deus por quaisquer de suas obras pessoais.

As pessoas pensam que se elas se esforçarem em fazer o bem e guardar a lei, poderão
depender da graça de Deus para aquilo que não podem fazer. Isto é claramente depender das obras
numa certa percentagem e da graça noutra. Ouviu-se um homem dizer numa certa ocasião:
“Devemos guardar os Dez Mandamentos, ou então não poderemos ser salvos.” Perguntaram-lhe:
“Você já violou os mandamentos?” Ao que ele respondeu: “Sim, já.” “O que então você faz?”
Ele disse: “Para o que não posso fazer, eu conto com a graça de Deus.” Tal pensamento mostra a
ignorância do que seja a graça.

O jovem de Mateus 19 perguntou ao Senhor Jesus: “Que bem farei para conseguir a vida
eterna?” E o Senhor lhe disse: “Guarda os mandamentos.” Tendo ouvido que o jovem tinha
observado todas estas coisas, o Senhor disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e
dá-o aos pobres.” Ouvindo isto, o jovem retirou-se triste, porque não podia fazê-lo (vs. 16-22).
Realmente, se alguém deseja ser salvo por guardar a lei, ele deve fazê-lo no “todo”. Ele não deve
apenas amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua mente e de toda a sua
força, mas deve dar tudo o que possui sem exceção. Mas se ele depende da graça de Deus, deve
depender dela totalmente. Ela nunca é feita em parte pelo homem e em parte por Deus, pois a
graça de Deus não é complemento para a insuficiência do homem. É uma questão de ser
puramente a graça de Deus, ou então totalmente as obras do homem. Não pode ser em parte do
homem e em parte de Deus.

Por que isto é assim? Porque o Senhor Jesus já morreu. Visto Deus ter colocado todos os
pecadores no mesmo nível, logo, quando o Senhor Jesus foi crucificado, Deus “Fez cair sobre ele
a iniquidade de todos nós” (Is 53:6). O problema do pecado é assim resolvido de uma vez por
todas. Por esta razão, o homem não pode confiar em seu próprio mérito diante de Deus; senão, a
obra de Cristo seria subvertida como se Ele tivesse morrido em vão.

c) A graça não é negada por falta de mérito. (Este é bem semelhante ao primeiro ponto
desta pergunta; só que aqui o assunto é abordado negativamente.) Pelo contrário, a graça é dada
por causa da indignidade do homem. Só na ocasião em que o homem conhece seu total
desamparo, é que ele clamará pela graça. É neste momento que Deus também dispensará graça.
Se o homem mesmo tem a força, ele não pensará em pedir por graça e, assim, Deus não precisa

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dar graça. Consequentemente, a falta de mérito não impedirá de modo nenhum que Deus conceda
graça; pelo contrário, é a única condição para Deus conceder Sua graça.

“Graça é misericórdia ilimitada, mostrada em bondade ilimitada,” disse um irmão. O que é


graça? Graça é aquilo que flui do alto para baixo. O que é amor? Amor é o tratar como igual. O
que é respeito? Respeito é aquilo que é mostrado àqueles que estão acima de você. Mas a graça
flui de cima para baixo. A graça só tem esta direção. A fim de obter a graça de Deus, você deve
reconhecer-se como um pecador desamparado. Somente isto lhe dá a qualificação para receber a
graça de Deus.

Muitos têm aversão à graça porque ela requer um ato humilde da parte Deles. A graça
constrange você a concordar que é a pior pessoa. Pois, assim como nenhum copo de boca para
baixo pode receber água, assim nenhuma pessoa orgulhosa é capaz ou está desejosa de aceitai a
salvação de Deus. Precisamos admitir nossa inutilidade antes que possamos receber a graça de
Deus.

d) A graça não é menos dada ao que menos merece. (Este é o oposto do segundo ponto
desta pergunta.) Deus não faz vista grossa ao problema do pecado do homem. Na verdade, Ele é
bastante rigoroso, definido e perfeito em Seu trato com o pecado do homem. Através do Seu
Filho, Ele tratou com este problema de forma completa. Por isso, como pode ser suscitada a
questão de merecer ou não, de ser mais ou menos digno? A graça de Deus nunca questiona a
“Indignidade” do homem. Diante de Deus todos os homens são iguais e todos podem ter Sua
graça.

Visto que Deus não retém Sua graça por causa da indignidade do homem (pelo contrário,
Ele concede graça por esta própria razão), como pode Ele fazer qualquer distinçáo entre os que
são pouco dignos e aqueles que são menos dignos ainda da graça que Ele dispensa?

Deus não dará menos graça àqueles que pecarem mais, e mais graça aos que pecarem
menos. Porque a graça não é usada para remendar as falhas dos pecadores. Na esfera da graça, o
pecador e suas obras são totalmente postas de lado.

Visto que a graça não tem preço, ela não é de modo algum condicional ao estado do
recipiente. Este por seu lado, não ganha a graça por nenhuma razão, seja ela qual for. A graça não
é retida por causa da falta de mérito. Ela não tem absolutamente nenhum relacionamento com a
condição do recipiente. Ela não será dada em menor medida àquele que é comparativamente
menos digno, senão, a graça seria condicional ao estado do recipiente. Por isso, a graça não é
dada, nem de acordo com o homem em si, nem segundo sua posição relativa aos outros homens. A
graça de Deus é tão vasta e sem medida, que é destinada para todos os tipos de pecadores. Aqueles
que se consideram razoavelmente bons, precisam da graça de Deus tanto quanto aqueles que são
vistos como os principais dos pecadores.

Alguém pode talvez especular que os melhores certamente merecem um pouco mais. Mas,
segundo Deus, todos são iguais. Por exemplo: muitos cálices caem ao chão e se quebram. Alguns
podem quebrar-se em dois pedaços; outros em cinco e ainda outros em cacos. Embora a condição
Deles como cálices quebrados varie, não obstante, todos são cálices quebrados. Se você é um
pecador “um pouco melhor”, ou se você é "o pior” dos pecadores, não importa; apesar disso, você
é um pecador. A Bíblia dedara que todos pecaram. Ao enviar o Senhor Jesus ao mundo para
morrer pelos pecadores, Deus dá oportunidade a todos eles de serem salvos. Mesmo que houvesse

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apenas um homem no mundo inteiro que predsasse ser salvo, Deus ainda desejaria enviar Seu
Filho para morrer por ele. A parábola do pastor buscando a ovelha perdida não nos diz que ele
deixa as noventa e nove e vai buscar a única perdida? (Lc 15:3,4). Visto que você é uma ovelha
perdida, a despeito de pecar muito ou pouco, você precisa do Senhor Jesus para morrer por você.

e) A graça não faz daquele que recebe um devedor. Quando alguém lhe adianta uma
certa quantia em dinheiro e permite que você desfrute dela temporariamente, mas exige que a
mesma quantia seja devolvida depois, isto é chamado de débito. O salário é dado a você na base
das suas obras. A graça não é dada, nem como salário segundo suas obras, nem emprestada
temporariamente como débito, a ser pago depois Deus nos salva pela graça; nossa salvação não é
algo que Deus nos empresta. Se é emprestada, deverá ser paga por nós mais tarde; mas então não
pode ser considerada como graça. A graça não significa que, vendo nossa atual falta de mérito em
obras, Deus nos empresta a salvação, no inicio, mas exige que a guardemos acrescentando a ela
posteriormente nosso mérito. Porque a graça não exige nada, seja no passado, no presente ou no
futuro. Se Deus nos desse algo agora, mas exigisse que pagássemos no futuro, isto seria, então,
um débito e não graça. Mas a graça de Deus é dada livremente a todos os que não merecem, sem
exigir nada em qualquer tempo.

As pessoas concebem uma ideia incorreta: sim, somos salvos pela graça, mas dali em diante
devemos manter esta salvação por nós mesmos. Isto é um erro. A Bíblia nunca nos diz que a graça
de Deus nos fez devedores. “O dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso
Senhor” (Rm 6:23). Qual é a natureza da vida eterna? É uma dádiva. Em outras palavras, é algo
que Deus concede como presente. Ela deve ser reembolsada? Sejamos esclarecidos nisso: por não
ser uma dívida, a graça não precisa de reembolso, nem agora nem muitos dias depois. Com isto,
naturalmente, não queremos sugerir que o cristão não precisa ter boas obras, ou servir a Deus com
fidelidade. Depois que alguém é salvo, deve realizar boas obras e servir a Deus fielmente.
Todavia, o motivo por trás de tais ações é o amor de Cristo, e o poder para fazer estas coisas é o
Espírito Santo. Devemos ter boas obras e serviço fiel, mas não visam ganhar a salvação nem
tampouco mantê-la. As obras de um cristão não são usadas para pagar a dívida da salvação que
Deus deu. Assim como Deus nos salva por causa do Seu amor por nós, assim também devemos
servir a Deus por causa do nosso amor por Ele. Assim como Deus não dá a salvação como um
empréstimo, assim não devemos servi-lo fielmente como uma forma de pagamento.

Quantos há que não compreendem claramente a graça de Deus! Eles entendem que, antes de
alguém ser salvo, embora sendo indigno, Deus ainda deseja salvá-lo; mas depois de salvo precisa
fazer o bem, senão Deus retira Sua salvação. Isto é como uma compra feita na base de prestações.
A mercadoria primeiro é entregue e posteriormente os pagamentos são feitos em prestações; a
falta de pagamento na ocasião devida resultará na confiscação da mercadoria pelo vendedor. Tal
conceito distorce plenamente a graça de Deus. Quando somos salvos, Deus nos dá vida eterna;
entretanto, Ele nunca nos pede para pagar em prestações, nem tomará de volta Sua salvação, caso
não realizemos boas ações depois.

Além do mais, visto que a vida eterna é dádiva, como alguém pode falar em reembolso? Tal
palavra é certamente errada. Nós servimos a Deus por amor. Por exemplo: suponhamos que meu
pai me dê um presente; eu todavia, digo que vou reembolsá-lo. Economizo durante meses e anos
para ajuntar bastante dinheiro para pagá-lo. Agindo assim, não parece que eu estou na verdade
comprando aquele presente? A graça nunca exige nada, senão ela não seria graça de modo
nenhum.

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f) A graça não absolve diretamente o pecado do pecador. Este assunto é frequentemente mal
interpretado por muitos crentes. Eles supõem que Deus perdoa os pecados de um pecador por
causa da Sua liberalidade. De modo nenhum. Ao perdoar um pecador, Deus não está se
comprometendo, nem tampouco pretende fazer-Se de surdo ou passar por cima de qualquer coisa.
Isto a Bíblia, claramente, nunca diz. “Para que, assim como o pecado veio a reinar na morte,
assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso
Senhor” (Rm 5:21). O pecado reina por si mesmo, mas a graça reina através da justiça. Ela não
reina por si mesma. Saiba-se que Deus não tem apenas graça mas justiça também. Ele Deleita-Se
em salvar os homens, mas também tem prazer em proteger a salvação Deles com jutiça. Ele nos
concede graça, não por causa da Sua negligência, mas porque Ele resolveu o problema do nosso
pecado.

Se confundirmos a graça de Deus como sendo Sua liberalidade, então a cruz de Cristo é
tanto desnecessária como sem sentido. É verdade, não pode haver a cruz de Cristo sem o amor de
Deus. Entretanto, só o amor de Deus, na falta da Sua justiça, nunca exigirá a cruz de Cristo. Deus
está bem consciente dos nossos pecados; Ele não pode passar por cima Deles. E desde que nós não
temos como resolver o problema dos nossos pecados, Deus induz Seu Filho a levá-los em Seu
corpo sobre a cruz, a fim de solucionar o problema do pecado para sempre. Isto é a graça de Deus.
A graça de Deus soluciona primeiro o problema do pecado antes de absolver o pecador. O Senhor
precisa morrer como nosso Substituto, para que possamos ser salvos.

Um pecador é considerado como tal por que: (1) sua conduta é má; (2) sua natureza é
corrompida; (3) Ajusta lei de Deus assim decretou. Ao salvar um pecador, Deus precisa: (1)
perdoar os pecados da sua má conduta; (2) regenerá-lo, dando-lhe uma nova vida; (3) justificá-lo.
Ora, o Senhor Jesus já sofreu a penalidade do pecado e morreu por nós, portanto, Deus não pode
deixar de nos perdoar. Existe um conceito errado entre algumas pessoas, de que nós precisamos
mudar o coração de Deus pelo muito suplicar. Não é assim. Somos perdoados porque a ira de
Deus sobre o pecado já foi descarregada sobre o Senhor Jesus. Podemos, portanto, louvar e
agradecer a Deus porque, visto que o Senhor Jesus já foi julgado e a justiça só pode exigir a
punição uma vez, nós não mais seremos punidos.

g) A graça não absolve diretamente o pecado do pecador. O principio aqui envolvido é o


mesmo do anterior. Depois que alguém é salvo, se ele incidentalmente for vencido pelo pecado e
mais tarde arrepender-se do seu pecado, ele não obtém o perdão pela súplica constante. Não é pelo
pedir a Deus para fazer provisão para o perdão hoje, mas sim, crendo que Cristo já o fez na cruz.
Deus é justo; Ele não pode senão perdoar aqueles que aceitaram a salvação, visto que o Senhor
Jesus já morreu. Por isso, se um cristão pecar inadvertidamente, ele precisa estar claro quanto aos
quatro pontos seguintes: (1) que ele recebe o perdão pela confissão do seu próprio pecado (1Jo
1:9); (2) que o perdão é válido para todo pecado (1Jo 1:7,9 — observe principalmente “nos
purifica de todo pecado” e “nos purifica de toda a injustiça”); (3) que Deus já deseja perdoá-lo
antes que ele ore, porque o Senhor Jesus atua como o Advogado do crente junto ao Pai (1Jo 2:1,2);
e (4) que, de um lado, Deus nos perdoa e purifica por causa de Sua fidelidade e justiça, e de outro
por Jesus Cristo o Justo.

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PERGUNTA No 2

Existe alguma diferença entre “transgressão” e “iniquidade” na Bíblia?

“Transgressão” e “iniquidade” são dois termos do Antigo Testamento. Estas duas palavras
revelam os dois aspectos do conceito de pecado no Antigo Testamento. A transgressão é
subjetiva, enquanto que a iniquidade é objetiva. A transgressão aponta para nossa conduta,
enquanto que a iniquidade aponta para nossa condição diante de Deus. No mundo nós cometemos
transgressão; diante de Deus cometemos iniquidade. “Dizia eu: confessarei ao Senhor as minhas
transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl 32:5). “E os purificarei de toda a
sua iniquidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniquidades com que
pecaram contra mim” (Jr 33:8). Podemos ver prontamente destes versos que a iniquidade é a
condição do homem diante de Deus depois que pecou ou transgrediu. Quando o homem peca, ele
transgride a lei de Deus, ofende a Deus e aos Seus olhos cometeu iniquidade. Nos livros de Êxodo
e Levítico é mencionado frequentemente como os sacerdotes que servem no santuário devem
levar suas iniquidades em certas situações. A palavra Hebraica é avon, traduzida como iniquidade
e não a palavra pesha, traduzida como transgressão (veja Ex. 28:38,43; Lv. 5:1,17). A iniquidade
é uma coisa diante de Deus, aquilo que é levado e redimido no santuário. Por esta razão, quando
Daniel fala de “transgressão” e “pecados” (9:24), ele diz “extinguir” e “dar fim”; mas quando fala
de “iniquidade” no mesmo verso, ele diz “fazer expiação por”, mostrando, assim, que a
iniquidade é uma questão diante de Deus. Vemos também que a destruição de Sodoma foi por
causa da iniquidade da cidade (Gn. 19:15; Conf. 15:16).

Quando a “transgressão” é mencionada no Antigo Testamento, ela está sempre relacionada


com ação e conduta. Observe, por exemplo, o seguinte verso: “Então lhes faz saber as obras
Deles e as suas transgressões, porquanto prevaleceram nelas” (Jó 36:9); “O laço do ímpio está
na transgressão dos lábios” (Pv 12:13); “O que rouba a seu pai ou a sua mãe, e diz: Não há
transgressão, companheiro é do destruidor” (Pv 28:24); “Tudo isto por causa da transgressão de
Jacó, e dos pecados da casa de Israel. Qual é a transgressão de Jacó? Não é Samaria? e quais os
altos de Judá? não é Jerusalém?” (Mq 1:5). Coisas como orgulho, roubo e idolatria, são todas
vistas como transgressões.

Observe também estes versos: “Portanto, eu vos julgarei, a cada um conforme os seus
caminhos, ó casa de Israel, diz o Senhor Jeová; vinde, e convertei-vos de todas as vossas
transgressões, e a iniquidade não vos servirá de tropeço. Lançai de vós as vossas transgressões
com que transgredistes e criai em vós um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão
morreríeis, ó casa de Israel?” (Ez 18:30,31). “Assim diz o Senhor: Por três transgressões de
Damasco, e por quatro, não retirarei o castigo” (Am 1:3). A transgressão é tão séria porque pode
produzir a iniquidade. Mas, graças a Deus, todos os problemas da nossa transgressão e iniquidade
já foram resolvidos através da obra redentora de Cristo: “Mas ele foi ferido pelas nossas
transgressões, e moído pelas nossas iniquidades” (Is 53:5).

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PERGUNTA No 3

Existe alguma diferença entre o “bem-aventurado” de Romanos 4:7 e o


“bem-aventurado” de Romanos 4:8? Se existe, qual é?

Existe uma diferença entre o perdão do pecado e a justificação. O bem-aventurado do verso


7 é negativo, enquanto que o bem-aventurado do verso 8 é positivo. O verso 7 mostra como Deus
perdoa as iniquidades e cobre o pecado; o verso 8 mostra como Deus opera num homem para
fazê-lo ser visto como alguém que nunca pecou — “não imputa pecado” significa ser justificado.

Qual é a diferença entre perdão e justificação? Perdão é dizer que você pecou mas Deus
perdoa seu pecado. Justificação é dizer que você é um homem justo e que nunca pecou. Por
exemplo: uma pessoa que é julgada e condenada pela corte para ser punida com a prisão, é solta
pela mesma corte na época da anistia ou do indulto. De modo que, tal atitude legal para com o
homem, pode ser comparada com o perdão por ele recebido. Mas se ele é declarado inocente, após
ter sido julgado pela corte, isto para ele, é justificação.

Ao nos salvar, o Senhor não apenas nos perdoa mas também nos justifica. Isto é graça!
Visto que o Senhor soluciona o problema dos nossos pecados tão completamente pelo
derramamento do Seu sangue pelo fato de sermos ressuscitados com Ele em Sua ressurreição,
Deus nos vê como se nunca tivéssemos pecado. Deus nos fez tão perfeitos quanto Cristo, por
causa do que Ele já fez em Cristo. “Estais completos Nele (Cristo)” (Cl 2:10, Darby). Agora, da
mesma forma como Deus vê a Cristo e ama a Cristo, assim Ele nos vê e nos ama. Ele nos vê como
sendo já completos em Cristo.

PERGUNTA No 4

Nossos pecados são “cobertos” (Rm 4:7) ou “aniquiladas” (Hb 9:26)? Onde
está a diferença?

Nossos pecados são “aniquilados”, e não “cobertos”. Pois a palavra em Hebreus 9:26
claramente afirma que, “na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para
aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”.

Por que Romanos 4:7 diz “cobertos”? Devemos saber que esta é uma citação do Salmo 32:1.
Fora deste único lugar onde a palavra é citada nos Salmos, em nenhum outro lugar no Novo
Testamento pode ser encontrado um verso bíblico que afirme que nossos pecados são cobertos
diante de Deus. Portanto, o “cobertos” aqui deve ter referência aos pecados das pessoas da época
do Antigo Testamento. Na verdade, todo pecado cometido durante o período do Antigo
Testamento, foi apenas coberto até ser aniquilado na morte do Senhor Jesus. Observe este verso
do Novo Testamento: “(Ele) é mediador de um novo pacto... para remissão das transgressões
cometidas debaixo do primeiro pacto” (Hb 9:15).

Lembremos, em primeiro lugar, que a palavra Hebraica para “expiação” (kafar) no Antigo
Testamento significa “cobrir”. A não ser em Romanos 4:7 (onde o Antigo Testamento é citado)
esta palavra nunca é usada no Novo Testamento. Segundo, a palavra “expiação” está muitíssimo
relacionada com a oferta pelo pecado, isto é, um sacrifício oferecido por causa do pecado. Jesus

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Cristo é a nossa propriação, porque Ele ofereceu-Se por nosso pecado. Nossos pecados não são
apenas cobertos por Ele.

Reconheçamos que o Senhor Jesus veio para tirar nosso pecado e não para cobri-lo. “Eis o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).

PERGUNTA No 5

Quantas vezes os pecados devem ser purificados: uma ou muitas vezes?

A purificação dos pecados é feita apenas uma vez “Havendo ele mesmo (Cristo) feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade nas alturas” (Hb 1:3). Isto indica
que Sua obra de purificação já foi realizada. “Porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se
ofereceu a si mesmo” (Hb 7:27). “Por seu próprio sangue, (Cristo) entrou uma vez por todas no
santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção” (Hb 9:12). “Nem também para se oferecer
muitas vezes ... mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou para
aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9:25, 26). “É nessa vontade Dele que temos
sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre ... Mas este,
havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, assentou-se para sempre à direita de
Deus” (Hb 10:10, 12). Todas estas passagens mostram que os pecados são purificados uma vez.

A preciosidade do sangue de Cristo jaz na sua eficácia. Uma vez derramado, ele purifica os
pecados para sempre. O mesmo não acontece com o sangue de bezerros e bodes, os quais “nunca”
pelos “mesmos sacrifícios, ano após ano” oferecidos “continuamente”, podem “aperfeiçoar os
que se chegam a Deus ... Pois tendo sido uma vez purificados os que prestavam o culto, nunca
mais teriam consciência de pecado. Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação dos
pecados, parque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire os pecados” (Hb 10:1-4).
Esta passagem não nos diz claramente que o sangue dos bezerros e bodes lembravam às pessoas
anualmente seus pecados, e que portanto o sacrifício deve ser oferecido continuamente? Porque o
sangue de bezerros e bodes não pode tirar os pecados. Só a obra da cruz é realizada de uma vez
para sempre; e nada mais pode ser acrescentado.

Como podemos, então, explicar a palavra em 1João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como
ele na luz está, temos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de
todo pecado”? A purificação aqui contém a ideia de continuidade. Continuidade é diferente de
repetição. Repetição é fazer algo uma e outra vez, enquanto que continuação é fazer algo sem
interrupção. O sangue do Senhor tem valor permanente diante de Deus e é continuamente eficaz.
Ele não purifica intermitentemente. O sangue precioso nos dá a máxima liberdade diante de Deus.
Nós não veremos a diferença entre o sangue do Senhor e o sangue de bezerros, se não soubermos
quão poderosamente eficaz é o sangue do Senhor Jesus diante de Deus. Um crente recobra a paz
após ter pecado, não porque o purifica mais uma vez, mas sim porque ao confessar seu pecado ele
crê que o sangue já o purificou.

Por exemplo: um pecador precisa ser salvo. Ele é salvo por crer que Cristo já morreu por
ele, ou por pedir a Cristo que venha morrer por ele novamente hoje? Sabemos sem qualquer
dúvida que um pecador é salvo por crer simplesmente em Cristo que morreu por ele.
Semelhantemente, precisamos perguntar o seguinte: Um crente ganha paz por crer no sangue de

12
Cristo que purificou seu pecado, ou por pedir a Cristo que venha e derrame Seu sangue mais uma
vez a fim de purificar seu pecado? Naturalmente que ele obtém a paz crendo no sangue de Cristo
que já purificou seu pecado.

PERGUNTA No 6

Por que o sangue da oferta pelo pecado em Levítico 4:1-7 é levado para a tenda
da congregação e espargido sete vezes, diante de Deus, perante o véu do santuário,
enquanto que, segundo a lei do leproso no dia da sua purificação, o sangue é
espargido sobre ele sete vezes?

A primeira coisa que devemos observar nesta questão é: em toda a Bíblia, quem faz
exigência do sangue? Deus mesmo. Por que ele exige o sangue? Por que Ele não perdoou o
pecado dos filhos de Israel por misericórdia? Se Ele tivesse feito assim, teria sido injusto. Mas,
você pode dizer: não era bastante para o publicano mencionado em Lucas 18 clamar por
misericórdia? Não, porque o que ele realmente pediu a Deus foi isto: “Deus, sê propício a mim, o
pecador” (v.13). O pecado deve ser julgado e punido. Deus só pode perdoar quando alguém vem a
Ele com o sangue, porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Isto é a
justiça de Deus.

Algumas pessoas podem orar desta maneira: “Ó Deus, se Te agrada perdoar, perdoa, por
favor; se é Tua vontade perdoar, então perdoa.” Sabemos, entretanto, que o perdão não é uma
questão de gosto ou desgosto de Deus, nem tampouco da Sua vontade. Embora Deus seja
misericordioso e gracioso e tenha prazer em perdoar, Ele, não obstante, não pode perdoar sem o
sangue. O sangue é absolutamente necessário para o perdão de Deus, pois Ele é um Deus justo.

O sangue espargido sete vezes diante de Deus é para satisfazer ou propiciar a justa
exigência de Deus, e assim Ele é capaz de perdoar o pecado do homem. Onde há pecado, há a
necessidade do sangue. Esta é a justa exigência de Deus. Ilustremos desta maneira: suponhamos
que alguém cometa o crime de assassinato e suplique por misericórdia na corte e seja então,
perdoado por misericórdia pelo juiz. Mais tarde, uma segunda e terceira pessoas cometerão o
mesmo crime, suplicarão pela mesma misericórdia e receberão o mesmo perdão. Mesmo que isto
acontecesse apenas três vezes em seguida, o país seria lançado no caos, pois as pessoas não
temeriam assassinar por saberem que seriam perdoadas apenas pedindo misericórdia. Se o pecado
ficasse sem punição, isto seria considerado injusto.

A lei de Deus exige morte ou derramamento de sangue com respeito àqueles que pecam. O
Senhor Jesus derramou Seu piedoso sangue para propiciar a exigência da lei de Deus. Portanto,
somos salvos não só porque Deus tem graça mas também porque Ele tem justiça. O sangue da
oferta pelo pecado deve ser levado diante de Deus. Sem o sangue, Deus não pode perdoar o
pecado do homem, embora Ele tenha o coração para perdoar. Sua justiça não permite que Ele
perdoe um pecador sem o “sangue”.

Mas o que significa espargir o sangue sete vezes sobre o leproso? Observemos que Levítico
4:1-7 não fala da cura através do espargir o sangue; pelo contrário, fala do espargir que ocorre
depois que o leproso é curado. Por que, então, o sangue, deve ser espargido? Isto é para nos dizer
que, embora o leproso esteja curado, ele está purificado apenas diante dos homens. Ser purificado

13
diante de Deus exige a aplicação do sangue. A exigência de Deus é o sangue. Depois que o
leproso é curado, ele será aceitável ao homem; mas permanece imundo diante de Deus até que o
sangue seja espargido Nele.

Em Mateus 8:1-4 nós vemos que, depois de o Senhor Jesus curar um leproso, Ele ordenou
que ele oferecesse a oferta que Moisés exigiu (pois naquela ocasião o Senhor ainda não havia sido
crucificado, e portanto mandou que o leproso agisse conforme a ordenança do Antigo
Testamento). Embora o Senhor o tivesse ajudado a ser purificado diante do homem, diante de
Deus ele ainda necessitava do sangue. Isto nos mostra que a despeito de quão bom e respeitável
alguém possa ser, aos olhos de Deus ele não está purificado sem o sangue.

O sangue é para satisfazer a exigência de Deus. O sangue é derramado, não apenas para
purificar nossa consciência, mas também para cumprir a justa exigência de Deus. Nós somos
pecadores e sem o sangue não podemos ser salvos. Somos salvos, não por sermos dignos, mas
porque o Senhor derramou Seu sangue. Somos aceitos por Deus só porque existe o sangue.
Ousamos nos aproximar de Deus, não em nosso próprio mérito, mas no mérito do sangue
derramado do Senhor Jesus. Só o sangue dá satisfação a Deus e nos concede purificação diante
Dele.

PERGUNTA No 7

Como os termos “pecado” e “pecados” são usados diferentemente?

A diferença entre pecado e pecados é aquela entre o pecado no singular e o pecado no


plural. No Antigo Testamento não existe distinção entre o pecado no singular e o pecado no
plural. Somente o Novo Testamento expressa esta diferença e é uma diferença muito significativa.

Façamos uma lista de todos os lugares no Novo Testamento, onde o termo pecado (Grego:
hamartia) é usado, tanto no singular como no plural.

“Pecado” no singular: Mt 12:31; Jo 1:29; 8:34 (2 vezes), 46; 9:41 (2 vezes); 15:22 (2
vezes), 24; 16:8,9; 19:11; At 7:60; Rm 3:9,20; 4:8; 5:12 (2 vezes). 13 (2 vezes), 20, 21;
6:1,2,6 (2 vezes), 7, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23; 7:7 (2 vezes), 8 (2 vezes), 9, 11,
13 (3 vezes), 14, 17, 20, 23, 25; 8:2, 3 (margem. 3 vezes), 10; 14:23; 1Co. 15:56 (2 vezes);
2Co. 5:21 (2 vezes); 11:7; Gl 2:17; 3:22; 2Ts 2:3; Hb 3:13; 4:15; 9:26,28 (o segundo
“pecado”); 10:6, 8, 18; 11:25; 12:1,4; 13:11; Tg 1:15 (2 vezes); 2:9; 4:17; 1Pd. 2:22;4:1;
2Pd 2:14; 1Jo 1:7,8; 3:4 (2 vezes), 5 (o segundo “pecado”); 8,9; 5:16 (2 vezes), 17 (2 vezes).

“Pecados” no plural: Mt 1:21; 3:6; 9:2,5,6; 26:28; Mc 1:4,5; 2:5, 7, 9, 10; Lc 1:77; 3:3;
5:20, 21, 23, 24; 7:47, 48, 49; 11:4; 24:47; Jo 8:21, 24 (2 vezes); 9:34; 20:23; At 2:38; 3:19;
5:31; 10:43; 13:38; 22:16; 26:18; Rm 4:7; 7:5; 11:27; 1Co 15:3,17; Gl 1:4; Ef 2:1; Cl 1:14;
1Ts. 2:16; lTm 5:22, 24; 2Tm 3:6; Hb 1:3; 2:17; 5:1,3; 7:27; 8:12; 9:28 (o primeiro
“pecados”); 10:2, 3, 4, 11, 12, 17, 26; Tg. 5:15, 20; 1Pd 2:24 (2 vezes); 3:18; 4:8; 2Pd 1:9; 1Jo
1:9 (2 vezes); 2:2,12; 3:5 (o primeiro “pecados”); 4:10; Ap 1:5; 18:4,5.

Após ler este muitos versos da Escritura, podemos ver quão sábio Deus é em escrever a
Bíblia. Devemos verdadeiramente dizer a Ele: “Ó Deus, nós Te adoramos!”

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Os usos distintos de “pecado” e “pecados” são estes: sempre que a Bíblia se refere à
conduta exterior pecaminosa do homem, tal como orgulho, inveja, mentira e assim por diante, a
palavra “pecado” no plural é usada. “O termo pecado” no singular nunca é usado na Bíblia para se
referir ao pecado exterior; pelo contrário, ele é empregado de duas maneira diferentes:

(1) Indicando o pecado que reina interiormente, seu poder ou domínio. Isto é comumente
conhecido também pelos termos: a raiz do pecado ou o denominador do pecado. Na verdade estes
termos não são biblicarnente preciosos; eles são simplesmente adotados por causa da
conveniência. A Bíblia nunca usa nenhum Deles, mas, ao invés disso, fala do pecado reinando
como um rei ou tendo domínio como um senhor. O termo “pecado” no singular geralmente é
empregado para especificar o poder que reina sobre nós e que nos leva a cometer » pecados.

(2) Como um termo coletivo, algumas vezes ele se refere ao problema total do pecado
(conforme encontrado em Jo 1:29 e 1 Jo 1:7, que vamos discutir depois). Sempre que a Bíblia fala
de Deus perdoando pecado, ela sempre usa o plural “pecados”; o perdão que precisamos receber é
dos pecados que cometemos na conduta exterior. Com respeito à natureza pecaminosa dentro de
nós, esta não pode ser solucionada pelo perdão. Seria um erro dizer que Deus perdoa “pecado” e
usar o singular.

Porque Deus só perdoa “pecados”. Visto que o “pecado” no singular é um senhor, um poder, ele é
algo pelo qual não somos diretamente responsáveis e não deve ser resolvido por meio do perdão.
Mas os “pecados” no plural precisam de perdão, porque estes são nossa conduta, pela qual somos
responsáveis, e provocarão uma penalidade a ser cobrada contra nós se não forem perdoados. Por
esta razão, sempre que a Bíblia menciona a questão de confessar nossos pecados, tal deve ser
expresso como “confessar nossos pecados” (1Jo 1:9), usando o plural e não o singular.

O “pecado” não se refere à conduta do homem e, portanto, não requer confissão; mas o termo
“pecados” significa a conduta do homem, exigindo confissão a ser feita. A morte de Cristo é para
salvar-nos dos “pecados” no plural. “E chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu
povo dos seus pecados” (Mt 1:21). Isto quer dizer que o Senhor Jesus nos salva de todos os
pecados em nossa conduta.

O Senhor Jesus declarou aos Judeus: “Morrereis em vossos pecados” (Jo 8:24). Outra vez
isto se refere ao pecado no plural e não no singular. Nem mesmo uma só vez a Bíblia diz que
Cristo morreu por nosso pecado no singular; ela sempre diz que Cristo morreu por nossos pecados
no plural.

“Estando vós mortos em delitos e pecados” (Ef 2:1). Observe que a palavra “pecado” aqui
está no plural e não no singular. Quer dizer que passamos nossas vidas em pecados tais como
orgulho, impureza, inveja, e assim por diante. Estávamos mortos em “pecados” no plural e não
em “pecado” no singular. Outros dois exemplos são estes: (1) “tire os pecados” em Hebreus 10:4
é tirar os pecados no plural; (2) “não mais teriam consciência de pecado” no 10:2, é também uma
expressão do pecado no plural.

Por que não temos mais consciência dos pecados depois que o sangue do Senhor purificou
nossa consciência? Porque o pecado de que nossa consciência nos acusa diante de Deus é o
pecado no plural; isto é, um pecado após outro, tal como mau gênio, orgulho, etc. Visto que o
sangue do Senhor Jesus já obteve o perdão para estes nossos pecados, naturalmente nossa
consciência não mais estará consciente Deles. Os pecados mui certamente existem, mas o sangue

15
tratou com eles.

Se o sangue do Senhor tivesse purificado o pecado no singular, ninguém teria tido


condições de pessoalmente experimentar tal purificação; parque a purificação do pecado no
singular, significaria que nós nunca mais teríamos consciência do poder do pecado, aquele poder
que nos leva a pecar. Mas sabemos que de modo algum este é o caso. O sangue do Senhor Jesus
nos purificou para que nossa consciência não mais nos acuse dos nossos pecados passados.
Todavia, isto não quer dizer que nós não temos mais pecado; o que se declara é que não há mais
consciência dos pecados.

Por meio da purificação do sangue, não somos mais condenados por nossa consciência.
Como, então, podemos ser livrados do pecado que nos domina, o pecado do qual estivemos
falando no singular? “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o
corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6:6). Aqui temos três
pontos: (1) o corpo do pecado, (2) o velho homem, e (3) o pecado. O corpo serve como testa de
feno, pois o que leva o corpo a pecar por meio do velho homem é o pecado. O pecado opera no
corpo, de modo que este corpo é chamado de corpo do pecado. O velho homem fica entre o
pecado e o corpo. Ele aceita a sugestão do pecado, por um lado, e conduz o corpo a pecar, por
outro. O velho homem é a nossa personalidade. O pecado tenta, o velho homem concorda e
consequentemente o corpo age. Algumas pessoas têm sugerido que a morte do Senhor Jesus
erradicou a raiz do pecado. Tal não é verdade. O pecado ainda está aqui, o corpo do pecado
também está aqui; só o velho homem intermediário é que foi posto fora. O homem como pessoa
ainda permanece, porém, o pecado agora não tem condições de impelir o novo homem, porque o
pecado nunca pode dirigir o novo homem. O pecado no singular ainda está aqui, embora não
estejamos mais em escravidão a ele. For que não somos mais escravos do pecado? Porque o velho
homem que manda o corpo pecar já está crucificado. E quanto ao corpo? No presente está
desempregado.

“O qual (o Senhor Jesus), havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos
pecados” (Hb 1:3). O pecado aqui é novamente colocado no plural, pois a passagem aponta
para a penalidade e não para a raiz do pecado que é purificada.

Mas, e quanto à passagem em João 1:29: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo”? Visto que o pecado do mundo que é tirado está no singular aqui, não indica que a
raiz do pecado foi realmente erradicada? Se for assim, então não apenas a raiz do pecado do
salvo foi erradicada, mas a do mundo inteiro também. Obviamente, tal não pode ser o
significado. O sentido aqui é que o Cordeiro de Deus resolveu todo o problema do pecado do
mundo. Isto concorda com as palavras “por um homem entrou o pecado no mundo” de
Romanos 5:12. Assim como o pecado entrou no mundo através de um homem, assim ele é
tirado por outro homem. O Senhor já resolveu o problema do pecado do mundo.

Como tratamos com o pecado no singular? “Assim também vós considerai-vos como
mortos para o pecado” (Rm 6:11). O pecado no plural é solucionado pela morte de Cristo; o
pecado no singular é resolvido pela morte junto com Cristo. Esta morte junto com Cristo é um
considerar como morto. Se nos considerarmos como mortos para o pecado, nós não mais
estaremos sob o domínio do pecado.

“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus Cristo seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1:7). Mais uma vez a

16
palavra pecado está no singular Entretanto, isto certamente não pode significar que o sangue
do Senhor Jesus nos purifica da raiz do pecado em nós, porque a purificação aqui referida tem
como condição o nosso andar na luz, como Ele está na luz, a fim de termos comunhão uns com
os outros. Se este verso se referisse à nossa natureza pecaminosa, como teríamos o pecado em
nós a ser purificado pelo sangue do Senhor Jesus, visto que já podemos andar na luz como
Deus está na luz? A verdade é esta: à medida em que andamos na luz do evangelho como Deus
está na luz da revelação, começamos a reconhecer que o sangue do Senhor Jesus já resolveu
todo o nosso problema do pecado. O versículo nove usa a palavra pecado no plural mostrando
que nós ainda temos pecados. For isso, chegamos a esta conclusão: o pecado no singular
refere -se ao pecado como senhor em nós, e o pecado no plural refere-se às várias expressões
da nossa conduta exterior. O pecado no singular aponta para o problema total do pecado,
enquanto que o pecado no plural aponta para o pecado como atos individuais.

“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós” (2Co 5:21). A palavra
pecado aqui está no singular. O Senhor foi feito pecado por nós, não pecados (plural) por nós.
Por que o pecado é usado no singular aqui? Forque Deus fez Jesus, o qual não conheceu
pecado (isto é, nunca conheceu o que era o pecado, nunca o serviu, nem conheceu o seu
poder), ser feito pecado por nós; isto é, ser feito todo o problema do pecado para que Deus,
julgando-O, pudesse julgar o pecado. Ser Ele feito pecado significa simplesmente que Deus
tratou com Ele como trataria com o nosso próprio problema do pecado. Se o Senhor tivesse
sido feito pecados, Ele teria conhecido a conduta pecaminosa e, assim, teria sido alguém que
também cometera pecados e teria conhecido pecados tais como: orgulho, inveja, impureza e
assim por diante. Graças a Deus, Ele não fez Jesus pecados; Ele apenas tratou com o Senhor
Jesus como trataria com o problema do pecado. For isso, quando o Senhor Jesus morreu, o
problema do pecado do mundo inteiro foi resolvido.

Finalmente, vamos concluir a discussão desta pergunta consultando o livro dos


Romanos. Seus primeiros oito capítulos tratam especificamente com a questão do pecado. A
primeira divisão é d e l : l a 5 : l l , e trata com o problema do pecado no plural e não no
singular. De 5:12 a 8:39, temos a segunda divisão que trata com o problema do pecado no
singular (por favor, observe que na segunda divisão, à parte do único exemplo no capítulo 7:5
onde o pecado é mencionado no plural, todo o resto desta divisão fala do pecado no singular).
A primeira trata do pecado como atos individuais, isto é, as expressões exteriores da conduta
pecaminosa. Estes casos pecaminosos e suas penalidades devem ser tirados e eliminados. Por
isso, o Senhor Jesus veio para levar nossos pecados e tirá-los. A segunda mostra como Deus
nos livra do pecado que reina sobre nós, exatamente como Ele tem perdoado todos os nossos
muitos pecados. Ele não só perdoa nossos pecados e remove sua condenação, mas também
nos livra do poder do pecado para que não pequemos. A primeira divisão trata com o sangue
precioso, enquanto que a segunda trata com a cruz. A ressurreição na primeira parte aponta
para o Senhor sendo ressuscitado por nós; a ressurreição na segunda parte, é a nossa
ressurreição com Ele. A primeira enfoca o Senhor Jesus sendo crucificado e derramando Seu
sangue por nós; a segunda enfoca a nossa crucificação com o Senhor. A primeira parte trata
com o perdão; a segunda, com o livramento. A primeira trata com a justificação, e a segunda,
com a santificação. A primeira resolve a penalidade do pecado e a segunda dissolve o poder
do pecado. Precisamos examinar estas duas seções.

No início, quando crê no Senhor, você se preocupa com os muitos pecados que cometeu.
Um pecado após outro é colocado diante de você e você reconhece que não existe bem algum

17
dentro e fora de você. Você começa a imaginar por que um Deus tão justo poderia perdoar
seus pecados. Mas quando vem a saber que o Senhor Jesus carregou seus pecados, que Seu
sangue purificou você de todos os seus pecados e que Ele lhe perdoou todos os pecados
cometidos, você se regozija Nele. Por seus pecados terem sido perdoados, você agora
permanece na graça de Deus, esperando alegremente a glória de Deus. Você está plenamente
persuadido de que agora pode fazer o bem.

Porém, dia após dia você descobre que, por exemplo, ainda pode mentir como antes. O
que deveria ser feito? Você vai ao Senhor e pede perdão. O Senhor ainda está desejoso de
perdoar e o Seu sangue é sempre eficaz. Você toma a decisão de nunca mais mentir.
Posteriormente, você parece fazer tudo bem durante os primeiros dias, mas, depois, começa a
se relaxar, vindo a mentir novamente. Você pede ao Senhor outra vez para perdoar seu pecado
e diz que não pecará de novo. Após pouco tempo, você mente de novo e cai. Uma e outra vez,
você pede ao Senhor para lhe perdoar e continua a pecar repetidas vezes. Antes, você sentia a
pecaminosidade dos pecados exteriores, mas, agora, após ter se tornado um cristão, você tem
consciência de que o pecado reina em seu interior, como também dos pecados cometidos
exteriormente. Para ilustrar melhor, consideremos alguém que gosta de jogar. Antes, ele
considerava isto um defeito em sua conduta, mas, depois de crer no Senhor, ele começa a
sentir que existe um senhor severo Nele, que possui o poder de forçá-lo a fazer o que não
deseja e que não consegue deixar de obedecê-lo.

Cada um de nós tem seu pecado peculiar que o embaraça. Você pode se lembrar da
ocasião em que foi salvo, da sua felicidade, mas agora você se sente mais miserável do que
antes de ser salvo. Como vencer estes pecados? Você pergunta a Deus se Ele tem uma maior
salvação. O que temos descrito em Romanos 5:12 a 8:31 é esta maior salvação. Se o sangue é
tudo o que Deus requer, então Ele poderia ter levado o Senhor Jesus a derramar Seu sangue de
forma diferente. Por que Cristo deve morrer na cruz? É porque Deus quer te mostrar que,
como uma pessoa, você foi levado à cruz para ser crucificado com Cristo, assim como a
penalidade dos seus atos pecaminosos de conduta foram perdoados por meio de Jesus, o
Salvador. O Senhor Jesus Cristo foi crucificado por seus pecados, mas ao mesmo tempo Ele
levou você à cruz com Ele. Não apenas os pecados do pecador, mas o próprio pecador; não
apenas nossos pecados, mas também todos nós em Cristo, estávamos na cruz. Assim como o
Senhor Jesus Cristo derramou Seu sangue para purificar seus pecados, assim Deus reconhece a
morte de Cristo há mais de 1900 anos como sendo a sua morte.

No início, você creu que o Senhor morreu por você; hoje você reconhece a morte Dele
como sendo a sua. Visto que o Senhor morreu, você também morreu. Como você crê na morte
Dele, assim também você crê na morte Dele como sendo a sua. Embora o pecado ainda esteja
vivo, ele não pode tentar uma pessoa morta, pois o que está morto, está liberto do pecado. Estando
morto, o pecado não pode mais frustrá-lo. Deus pode perdoar os atos pecaminosos da nossa
conduta exterior, mas Ele não pode perdoar nossa natureza pecaminosa interior. Ao invés disso,
Ele crucifícou nosso velho homem a fim de que o pecado não mais tenha poder para nos arrastar.
Devemos crer, portanto, que morremos. Creia que já morremos e não que vamos morrer. Creia
que morremos e não que devemos morrer. Tendo consdênda de sua fraqueza e impureza, você
deve saber que a cruz já tratou com estas coisas. Se você olhar para Cristo com os olhos da fé e
crer que foi crucificado com Ele, você verá o poder de Cristo salvando-o e o libertando do poder
do pecado.

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O primeiro passo na salvação dá-nos paz e satisfação e nos leva a experimentar muita
alegria. O segundo passo na salvação dá-nos poder para vencer o pecado e andar em Seu caminho.
Você sente o poder do pecado oprimindo-o por dentro? É apropriado que você experimente a
vitória sobre ele. Vencer o poder do pecado em você é livramento e emancipação e não perdão.
Visto que o senhor dentro mudou, você não está mais sob o governo do antigo senhor. Todos
devemos seguir este caminho.

PERGUNTA No 8

Somos salvos pela graça de Deus ou pela justiça de Deus? Que parte da
salvação é realizada para nós pela graça de Deus e que parte é realizada pela justiça
de Deus?

“Pela graça sois salvos” (Ef 2:8), o que indica que somos salvos pela graça.

“Cristo Jesus: ao qual Deus propôs como propiciação (literalmente, propiciatório), pela
fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça; para demonstração da sua justiça neste
tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm
3:24-26), o que indica que somos também salvos pela justiça de Deus.

A graça de Deus provê para nós o Salvador para que possamos ser salvos (Jo 3:16). A
justiça de Deus faz com que a salvação venha sobre nós, porque Ele não pode senão nos salvar.
Aquela parte da provisão de Deus, que se estende desde o nascimento do Senhor Jesus até Sua
morte e ressurreição, é feita para nós por meio da graça de Deus. E a parte da ascensão do Senhor
Jesus até o presente momento, é feita para nós por meio da justiça de Deus.

A graça pode ser dada ou negada conforme o prazer de Deus; mas a justiça deve ser
dispensada sem favor. Visto que Cristo morreu e ressuscitou dos mortos, Deus não pode senão
salvar-me se eu creio. De outra forma Deus seria considerado injusto. Como está escrito em 1
João 1:9? “Se confessarmos nossos pecados, ele é misericordioso e amoroso para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda a injustiça”. É assim? Não; lá diz que “ele é fiel e justo...” O
sangue do Filho de Deus já nos purificou de todos os nossos pecados. Quando nós cremos, Ele
deve salvar-nos. Deus não pode ser infiel, pois Sua palavra já foi proferida. Ele não pode ser
injusto, pois o sangue do Seu Filho já foi derramado. Agradecemos e louvamos a Deus, pois Ele
não pode senão salvar-nos!

Tudo o que é injusto é pecado. Deus não pode ser injusto, portanto, Ele não pode senão
salvar-nos. Suponhamos que alguém diga que Deus pode ou não perdoar-nos. Isto seria quase o
mesmo que dizer que Ele é infiel e injusto. Vamos reter a justiça de Deus. Como Deus fica
satisfeito quando agarramos Sua justiça! Porque segurar Sua justiça é verdadeiramente honrá-Lo.

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PERGUNTA No 9

Qual justiça nos salva: a de Deus (veja Rm 3:21 -26), ou a de Cristo? Qual é o
significado e diferença entre elas?

É a justiça de Deus que Nos salva.

O que é a justiça de Deus? “Ao qual (isto é, Cristo Jesus) Deus propôs para propiciação
pela fé No seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes
cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente,
para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:25,26). O propiciatório
ficava sobre a Arca e é onde Deus se encontrava com o homem. Deus estabeleceu Jesus como o
Nosso propiciatório, o que quer dizer que Ele só se comunica com o homem em Cristo. Se não
houvesse o propiciatório sobre a Arca, a lei dentro dela teria condenado o pecado do homem.

Mas, com o sangue sobre o propiciatório, a lei não poderia mais condenar o pecado do homem,
pois sua exigência já fora satisfeita. Assim a justiça de Deus é manifesta, o que significa que Deus
é justo.

Segundo a lei, aquele que peca deve morrer. Visto que o Senhor Jesus morreu por nós, nós
não precisamos morrer. Portanto, o perdão é dado segundo a justiça de Deus. Suponhamos, por
exemplo, que alguém lhe deve cem cruzados e lhe dá um vale. Tão logo os cem cruzados são
pagos, você devolve o vale para findar a divida. Mas, se você recusar devolver o vale e ainda
pressioná-lo a pagar, você é uma pessoa injusta. Eu pequei e mereço morrer, porém, eu utilizo do
sangue de Cristo para pagar meu débito pecaminoso. Deus não pode exigir nada mais de mim. Por
esta razão, o perdão dos pecados é segundo a justiça de Deus. Sob todas as circunstâncias, então,
Deus deve perdoar-nos porque o Senhor Jesus morreu por nós.

“Se confessarmos os Nossos pecados, ele é fiel e justo para Nos perdoar os pecados e Nos
purificar de toda a injustiça” (1Jo 1:9). O ser Deus “fiel” aqui é em relação à Sua própria palavra:
tudo o que Deus diz está firmemente estabelecido. O ser “justo” é em relação à obra consumada
de Cristo: tendo Cristo satisfeito por nós todas as exigências de Deus, Este não pode exigir nada
mais de nós. Sua palavra dedara que aquele que crê é perdoado; nós cremos, portanto, Deus deve
Nos perdoar. Cristo morreu e a exigência de Deus é plenamente satisfeita, por isso, Ele deve
perdoar. No passar por cima dos pecados dantes cometidos e no justificar — No tempo presente
— todos os que creem, Deus manifesta-Se como justo.

Deus não apenas nos justificou, Ele também nos convenceu de que é justo. Ele é justo ao
tratar-nos da forma como tratou. Jesus é um homem, nós também somos seres humanos. Ora,
assim como o pecado entrou No mundo por meio de um homem, assim também ele deve ser tirado
por meio de um homem. Quando Adão pecou, foi mais do que uma questão pessoal; tomou-se
uma preocupação para toda a humanidade, pois Adão é a cabeça e todos nós somos parte Dele.
Mas da mesma forma somos nós em Cristo: quando Cristo morreu, todos nós morremos; e quando
Cristo ressuscitou a vida fluiu para dentro de nós. Não há necessidade de implorarmos a Deus

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lamentosamente pelo perdão. Cristo já morreu por nós, por isso, Deus não pode senão
perdoar-nos. Se crermos, seremos salvos.

Em lugar algum do Novo Testamento, um único versículo pode ser encontrado afirmando
que a justiça de Cristo nos salva. Pois a justiça de Cristo é usada somente para qualificá-Lo para
ser o Salvador. A justiça de Cristo refere-se à Sua boa conduta. Ele nos salva por Sua morte e não
por Sua justiça. Sua morte cumpre a justiça de Deus. Sua justiça é como o véu no tabernáculo,
feito de quatro cores diferentes. Somente Ele pode ver a Deus; todos os outros são mantidos do
lado de fora do véu. Quando o véu é rasgado (isto é, quando Cristo morreu), um caminho Novo e
vivo é aberto para nós para que possamos Nos achegar a Deus (Hb 10:20,22).

Como explicar então 1Coríntios 1:30, que diz que Cristo Jesus “foi feito para nós por
Deus... justiça”, e 1Pedro 3:18, que menciona “o justo pelos injustos”? A justiça de Cristo está
sendo realmente mencionada nestes dois lugares? De modo nenhum. Porque em 1Coríntios é
Cristo mesmo quem é feito Nossa justiça e em 1Pedro 3 é Cristo mesmo sendo justo que é
qualificado para ser um substituto para nós que somos injustos.

Com respeito a 2Pedro 1:1, onde lemos: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo,
aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça de Nosso Deus e Salvador Jesus
Cristo” — a “justiça” aqui pode ser traduzida como “imparcialidade” ou “equidade”,
significando assim que Ele não é parcial com ninguém, visto que Ele dá a mesma fé preciosa aos
que chegaram por último, como também aos que chegaram primeiro, aos gentios e também aos
judeus (veja At 10:34,35; 15:8,9,11).

PERGUNTA No 10

Qual é a diferença entre a justiça de Cristo e Cristo como justiça?

Cristo é apresentado como justiça em 1 Coríntios 1:30: “Mas vós sois Dele (de Deus) em
Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”;
este verso diz que Deus tem feito Cristo ser a Nossa justiça.

A justiça de Cristo é a Sua boa conduta enquanto estava na terra como homem. É a sua
virtude terrena pessoal. Mas Cristo como justiça significa que Deus O deu para ser a Nossa
justiça. A justiça de Cristo refere-se à Sua própria bondade, enquanto que Cristo como justiça
refere-se ao que Ele foi feito.

A justiça de Cristo é comparada à oferta de cereais relacionada entre as cinco ofertas. Nela
não existe sangue porque tipifica a vida terrena — com suas boas ações e virtudes — de Nosso
Senhor Jesus. Mas Cristo como justiça pode ser comparado com o holocausto. Visto ser uma
oferta de cheiro suave a Deus, ele tipifica Cristo como sendo aceito por Deus. Tendo Cristo como
Nossa justiça, nós O oferecemos quando nos aproximamos de Deus, sendo assim aceitos por Ele
como Cristo é aceito. Deus nos vê como sendo perfeitos como Cristo. Por outro lado, a oferta pelo
pecado mostra como Cristo é oferecido para expiar o pecado da nossa vida inteira e a oferta pela
transgressão é feita para expirar Nossos pecados diários. Ambas tratam com a questão do pecado.
O holocausto, entretanto, é para que Deus possa nos ver como sendo tio bons quanto Cristo. No
Antigo Testamento, existe uma expressão assim: “Jeová, Nossa Justiça" (Jr 33:16). Isto é para
dizer que Deus mesmo é Nosso. Tendo Cristo como Nossa Justiça, podemos atender todas as

21
exigências de Deus que foram postas sobre nós.

PERGUNTA No 11

O que significa a perseguição que o Senhor Jesus sofreu? E o que significa a


morte do Senhor Jesus?

A perseguição do Senhor Jesus expressa o amor de Deus, e a morte do Senhor Jesus


expressa a justiça de Deus.

Se a vida terrena do Senhor Jesus tivesse manifestado apenas a justiça, Ele não teria
encontrado tanta oposição. Precisamos ver que ao receber os pubiicanos e pecadores, Ele mostrou
amor e não justiça. Por isto, os fariseus O criticaram (Mt 9:11). Por ter curado o doente no sábado,
os fariseus tomaram conselho contra Ele para destruí-Lo (Mt 12:10-14). Observe Sua resposta aos
discípulos de João: “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem, e os coxos
andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é
anunciado o evangelho. E “bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim” (Mt
11:4-6). Tudo o que o Senhor fez aqui era graça. Todavia, Ele temia que o povo tropeçasse em tal
abundante graça e por isso acrescentou: “Bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em
mim.”

Uma vez Ele falou ao povo em Nazaré, dizendo: “Muitas viúvas existiam em Israel nos dias
de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve
grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidon, a uma mulher
viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum Deles foi
purificado senão Naamã, o siro” (Lc 4:25-27). Isto também expressa o amor, pois uma viúva é
digna de dó e os gentios são desprezados pelos judeus. Quando ouviram estas coisas, os que
estavam na sinagoga encheram-se de ira. Eles se levantaram e O lançaram para fora da cidade.
Conduziram-no até o cume do monte para dali O precipitarem. Pode-se dizer, portanto, que o
Senhor sofreu imensa perseguição em toda a Sua vida. A razão disso era porque tudo quanto Ele
fazia manifestava o amor de Deus.

A morte do Senhor, entretanto, expressa a justiça de Deus. Porque lá na cruz o Senhor levou
o pecado do mundo inteiro e sofreu o julgamento de Deus, a fim de cumprir todas as exigências da
lei.

Quão grande é a nossa gratidão por ter o Senhor se tornado o amigo do pecador, antes de Se
fazer o Salvador do pecador. Primeiro, Ele Nos ama e assim opera em nós, para que possamos crer
e receber a redenção que Ele realizou na cruz.

PERGUNTA No 12

Por que é que, No plano da redenção de Deus, Cristo deve ser simultaneamente
Deus e homem?

Suponhamos que haja três pessoas: A, B e C. A pessoa C pecou e a pessoa A pede à pessoa

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B para morrer pela C. Fazendo assim, a pessoa A pode expressar seu amor pela C, e C pode
também responder a exigência da lei, mas tudo isso será injusto para a pessoa B. Eu pequei e Deus
leva Cristo a morrer por mim. Dessa forma, o amor de Deus é manifesto para comigo e além disso
eu satisfaço a exigência da lei. Todavia, não será isto bastante injusto para com Cristo? Só quando
Cristo é homem e Deus ao mesmo tempo, é que isto pode ser verdadeiramente justo.

Antes de tudo, precisamos saber o que é perdão. O perdão pressupõe uma perda para o
perdoador por meio da ofensa do perdoado. Por exemplo: se alguém lhe deve dez dólares e você o
perdoa, isto significa que, automaticamente, você sofre a perda de dez dólares.

No plano de redenção de Deus, Cristo não deveria ser uma terceira parte. Se Ele fosse uma
terceira parte, Deus estaria sendo injusto para com Cristo, visto que Cristo não tem pecado e,
como tal, não está sujeito à morte. A Bíblia Nos diz que o homem pecou e Deus foi ofendido. Por
isso, o que está envolvido é a relação entre Deus e o homem. Pedir a uma terceira parte para
morrer como substituto pode, talvez, cumprir a exigência da lei sobre o homem, como também
cumprir a justiça de Deus, mas tal será bastante injusto para com a terceira parte. Só porque Cristo
é simultaneamente Deus e homem, è que esta substituição pode ser qualificada de justa.

“Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante
ele com holocaustos? Com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de
carneiros? De dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O
fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?” (Mq 6:6,7). A declaração aqui é que, se
pecarmos contra Deus, é fútil oferecer bezerros e carneiros. Todos os tipos de ofertas não têm
valor, nem mesmo os primogênitos dos nossos corpos. Cristo, portanto, deve ser Deus, o qual está
sendo ofendido. Só dessa forma, Ele não será uma terceira parte. Porque Cristo é Deus, a obra da
redenção é justificada. Invertendo a ordem, fica assim: visto que a obra da redenção é justa, Cristo
deve ser Deus, pois somente o ofendido pode perdoar o ofenãor. Quem pode jamais dizer que o
perdão é injusto? Porque Cristo é Deus e o pecado cometido é contra Ele, por isso pode nos
perdoar.

Considere estes dois versículos: “E o mandamento que era para vida, achei eu que me era
para morte” (Rm 7:10); “O salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Estas passagens nos levam
a ver que, a menos que uma pessoa guarde todas as leis perfeitamente, ela deve morrer. A fim de
nos fazer viver, o Senhor mesmo precisa sofrer a penalidade do pecado que é a morte. Todavia, é
dito em 1Timóteo 6:16 que Deus (somente Ele) “tem a imortalidade”; e, por isso, para Cristo
morrer como nosso substituto Ele deve simultaneamente ser homem. E em Seu corpo como
homem Ele morreu por nós. De modo que, com razão, podemos dizer isto: Ele é Deus, e, portanto,
tem a possibilidade de salvar os homens.

PERGUNTA No 13

Por que Romanos 5:18 diz “um (ato)” e o 5:19 diz “um (homem)”?

Primeiro vamos dissecar Romanos 5:12-21. Os versos 13 a 17 servem como nota de rodapé
ou uma espécie de explicação parentética do versículo 12, e, por isso, o versículo 18 deve seguir
bem de perto o 12. Vamos começar portanto, com o verísulo 12.

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado No mundo, e pelo pecado a

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morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5:12).
Adão é como um canal através do qual o pecado nele flui para dentro do mundo, e a morte segue
após o pecado. A morte assim passa, não somente a um homem, mas a todos os homens poque
todos pecaram. Porém, depois de ter escrito este versículo, Paulo temeu que alguém pudesse
levantar as seguintes questões: Visto que no tempo de Adão não havia lei, de onde veio o pecado?
E se não havia pecado, como poderia haver morte? Por essa razão, Paulo, coloca uma explicação
parentética nos versículos de 13 a 17, os quais podem ser subdivididos em três secções.

“Porque antes da lei já estava o pecado No mundo, mas onde não há lei o pecado não é
levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que
não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir”
(vs. 13,14). O que Paulo quer dizer é que realmente o pecado não é imputado quando não existe
lei, todavia isto não significa que por não haver lei o pecado não exista. Paulo trata com o fato, isto
é, embora não houvesse lei, o pecado já estava no mundo. Pois desde que havia morte no mundo,
também devia haver pecado no mundo. Visto que todos morreram, a morte passou a todos os
homens, pois todos tinham pecado. E embora nem todos tenham pecado à semelhança da
transgressão de Adão, ainda assim todos foram postos sob a autoridade da morte. Paulo procura
provar uma coisa que é: embora seja algo realizado por este único homem, Adão, o resultado,
entretanto, afeta toda a humanidade. Não apenas Adão recebe a consequência Dele, mas todo o
resto da humanidade também. E assim como isto é verdadeiro com respeito à Adão, da mesma
forma com respeito a Cristo. O que Cristo fez influência o mundo todo, visto que Adão é uma
figura de Cristo.

“Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram
muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou
para com muitos” (v. 15). Este versículo compara a natureza da transgressão com o dom da graça.
A transgressão não é como o dom gratuito. A razão dada por Paulo é que se a transgressão de
Adão levou todos a morrer, a dádiva da graça de Deus não abundará para com muitos? Que
espécie de graça é a graça de Deus? A graça de Deus que vem livremente através de um homem,
Jesus Cristo, certamente abundará para com muitos.

“Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo
veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas
para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os
que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus
Cristo” (vs. 16,17). Estes dois versículos fazem uma comparação entre a consequência (ou
recompensa) da transgressão e a consequência do dom gratuito. Com respeito à consequência, a
transgressão não é como o dom gratuito. Por causa da transgressão de um homem, Deus, segundo
a justiça, julga não apenas um único homem mas sim todos. Uma única transgressão resulta na
condenação de todos. E quanto ao dom gratuito? Ele perdoa muitas transgressões e não apenas
uma. Por isso a consequência do dom gratuito ultrapassa em muito a transgressão. Se uma
transgressão pode afetar tantas pessoas, qual seria o grau de condenação se houvessem dez ou
cem transgressões? Ainda assim o dom de Deus pode perdoar tudo isso ou mais Seu resultado é
verdadeiramente mais excelente. O versículo 17 reforça o 16 declarando que, tendo tanto a graça
como a justiça, nós podemos por certo, reinar em vida.

“Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para

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justificação e vida” (v. 18). Este versículo, conforme indicado antes, segue de perto o versículo
12, Lá foi dito que pela transgressai de um só homem, Adão, a morte passa a todos os homens
visto que todos pecaram. Aqui No versículo 18 continua dizendo: “portanto, assim como por uma
só ofensa ... todos os homens para condenação ; assim também por um só ato de justiça ... todos
os homens para justificação e vida”. Por uma transgressão de Adão todos são condenados;
semelhantemente, por um único ato de justiça de Cristo (tendo cumprido a justiça sendo
crucificado uma vez na cruz), todos são justificados para a vida.

Se alguém não aceita este ensinamento, será difícil para ele reconhecer-se como pecador.
Porque a Bíblia não diz que alguém se torna pecador depois que peca; pelo contrário, ela diz que
todos são pecadores por natureza. Se você é humano, você é pecador. A razão de sermos
pecadores está No fato de Adão ter pecado. Muitos não estão claros com respeito à salvação de
Cristo por lhes faltar o entendimento sobre Adão. Se você pode ver que em Adão todos são
condenados, você não terá dificuldade para ver que em Cristo todos são justificados para a vida.

Graças e louvores sejam dados a Deus, porque o que obtemos em Cristo é muito mais do
que aquilo que perdemos em Adão. Somos pecadores por causa de uma transgressão de Adão;
podemos ser salvos por causa de um ato de justiça de Cristo. Uma única transgressão de Adão
produz tal consequência, todavia quão melhor consequência é introduzida por um só ato de justiça
de Cristo.

“Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos


pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão constituídos justos” (v. 19). Este
versículo explica que a razão dessa consequência ser melhor está no fato de que este Homem é
melhor do que o outro (Adão). Em outras palavras, o primeiro exemplo não é como o segundo,
porque o primeiro homem não é como o segundo. Por exemplo: A e B estão limpando o chão. A
não limpa tão bem quanto B, porque A como pessoa é inferior a B como pessoa. O versículo 18
declara que o que Adão fez é bem menos do que o que Cristo fez O versículo 19 Nos oferece a
razão para tal contraste: Adão como pessoa é muitíssimo inferior a Cristo como homem. Adão
desobedeceu, porém, Cristo obedeceu. Assim como pela transgressão de um só homem, Adão,
muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um só homem, Cristo,
muitos serão constituídos justos.

“Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou,
superabundou a graça” (v. 20). A lei não leva a transgressão a abundar; ela apenas manifesta
mais transgressões. Ela não conduz as pessoas a pecar, mas apenas expõe os pecados dos homens,
como um espelho que revela o sujo No meu rosto sem todavia acrescentar qualquer outra sujeira à
ele. A lei é introduzida para mostrar-nos quão grandes pecadores somos. Logo que começamos a
Nos conhecer, Deus, graciosamente Nos mostra como Sua graça ultrapassa o pecado.

“Para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a
graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo Nosso Senhor” (v. 21). Adão passou e
agora o evangelho está presente. Graças a Deus, nossa salvação não depende de nós. Isto é o
evangelho.

PERGUNTA No 14

Cristo guardou a lei por nós? Existe algum relacionamento direto entre a nossa

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salvação e o cumprimento da lei par Cristo?

O cumprimento da lei por Cristo dá a Ele a justiça que O qualifica para ser o Salvador.
Consequentemente, o cumprimento da lei por Cristo tem apenas um relacionamento indireto com
a nossa salvação.

Cristo Nos salva por Sua morte — Ele sofreu por nós a penalidade imposta pela lei. Ele não
nos salva pelo Seu próprio cumprimento da lei. É a morte de Cristo que nos salva; é a justiça que
Ele cumpre por Sua morte e não a justiça que Ele tem em vida. Sua justiça pessoal é toda para Ele
mesmo.

PERGUNTA No 15

Como estabelecemos a lei pela fé (Rm, 3:31)? Por que os crentes não estão sob
a lei (Rm 6:14)? O que significa não estar sob a lei? Por que Cristo é o fim da lei (Rm
10:4)?

“Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei” (Rm 3:31).
Este é um julgamento feito por Paulo. Visto ter declarado antes que “concluímos pois que o
homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (v. 28), a seguinte pergunta poderia ser
legitimamente feita a ele: “Tornamos a lei então sem nenhum efeito por meio da fé?” Sua resposta
é enfaticamente Não. Aqui ele emprega uma figura de linguagem grega: Deus proíba! Ele quer
dizer que até mesmo Deus Nos proíbe dizer que tornamos a lei sem nenhum efeito por meio da fé.

Nos primeiros três capítulos de Romanos, Paulo Nos mostra que assim como os gentios que
Deus não escolheu são pecadores, do mesmo modo o são os judeus que Deus escolheu; que até
mesmo aqueles que servem a Deus e têm a lei de Deus são também pecadores. Portanto, ninguém
é justificado pelas obras da lei, porque, “pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante
Dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado” (3:20).

“Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e
pelos profetas” (3:21). Louvado e bendito seja Deus, porque há um “mas agora”. Agora existe
uma salvação.

“(Cristo Jesus) ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, No seu sangue, para
demonstração da sua justiça, por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora
cometidos; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e
também justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:25,26). Com relação às pessoas na
dispensação do Antigo Testamento Deus mostra paciência; com relação às pessoas nesta atual
dispensação ele justifica. Durante a antiga dispensação o Senhor ainda tinha que morrer e o
pecado não havia sido tirado, por isso Deus é paciente com os homens. Hoje Deus Nos
justifica e não apenas tem paciência conosco. Ser justificado significa mais do que ser
perdoado ou não reconhecido como pecaminoso; significa ser contado como justo. E Deus
Nos dá esta justiça em Cristo Jesus. Por causa da morte e ressurreição de Cristo nós entramos
na posse dessa justiça. Por esta razão, diz Paulo, “concluímos pois que o homem é justificado
pela fé sem as obras da lei” (v. 28). Ainda temendo que alguns possam concluir disso que a fé

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anula a lei, Paulo imediatamente acrescenta: “Deus proíba”.

Como, então, estabelecemos a lei pela fé? A lei fez apenas duas exigências:

(1) a lei ordena que todos façam o bem, e

(2) a lei condena a todos os que não fazem o bem.

A lei deve ser cumprida nelas. Se você não guarda a lei, sofrerá a penalidade da lei. Se
você falha em estabelecer a lei observando-a, terá que receber sua penalidade para
estabelece-la. À parte do Senhor não existe nem sequer uma pessoa que possa guardar a lei.
Até Moisés, o doador da lei, não a guardou totalmente. A lei ordena a morte para todos os que
não a guardam. Nós confessamos que não guardamos a lei e que pecamos, mas declaramos
que já morremos. Visto que em Cristo já fomos julgados e amaldiçoados pela lei, nós não
destruímos a lei, mas antes, pela fé a estabelecemos. Embora não possamos estabelecê-la
guardando-a e portanto, devemos morrer, graças a Deus, em Cristo já morremos! “Mas vós
sois Dele, em Cristo Jesus” (1Co 1:30). É Deus quem nos coloca em Cristo. Quando Cristo
morreu, nós também morremos em Sua morte. Consequentemente a fé não destruiu a lei, pelo
contrário, a estabeleceu.

Por que os crentes não estão sob a lei? Os crentes não estão sob a lei porque (1) já morreram, e
(2) já ressuscitaram. Isto é provado em Romanos 7:1-6. Paulo escolhe a parábola de uma
mulher com seu marido. Vamos, logo no inicio, esclarecer quem é o “marido” nesta passagem.
Alguns dizem que é a lei e outros que é a nossa carne. Estas duas escolas de opinião tem suas
respectivas razões. Lendo a passagem cuidadosamente podemos ver que os dois pensamentos
estão incluídos. No versículo 2 nos é mostrado primeiro que o marido é a lei, mas depois nos é
mostrado também que o marido é diferente da lei. Portanto, o marido nesta passagem
representa tanto a lei como a carne. Se o marido representasse simplesmente a lei então a
expressão “se ele morrer“ seria o mesmo que “se a lei morrer”. Mas como pode a lei morrer?
Por este motivo concluímos que o marido aqui pode indicar a carne ou a lei.

Antes que alguém creia no Senhor ele está ligado pela lei. Como pode ser libertado? Só
através da morte. Se ele morrer fica livre. Uma vez morto está livre da lei. Deus já condenou o
pecado na carne de Cristo. Visto que morremos em Cristo estamos livres da lei. Você é como uma
mulher e sua carne é como o marido. Quando você morre fica livre da carne. O máximo que a lei
pode exigir é a morte. Não importa quantos pecados um criminoso tenha cometido, o máximo de
condenação que a lei pode exigir Dele é morrer uma vez Uma vez morto o caso é concluído.
Quando morremos somos libertados da lei.

Por outro lado é dito que “se ele morrer, ela está livre da lei do marido”. Isto põe fim ao seu
relacionamento com a lei. Você fica desobrigado da lei como se através da morte. A primeira
metade da sentença enfatiza a morte, enquanto que a segunda metade da sentença enfatiza o
livramento.

Esta mesma passagem mostra-nos dois quadros: um indica que por meio do corpo de Cristo
eu estou morto para a lei, sendo totalmente livrado da lei. Naquele dia quando Cristo morreu, eu
também morri. Por isso posso dizer à lei: não estou sob a lei. O outro quadro indica que eu agora
posso casar de Novo. Anteriormente a carne era meu marido, mas agora estou casado de Novo
com Cristo que foi ressuscitado dentre os mortos, a fim de que eu possa produzir fruto para Deus.

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Por isso nenhum cristão está hoje sob a lei.

Se alguém lhe disser: “Você deve guardar a lei, deve guardar o dia de Sábado”, você deve
saber que se tentar guardar um só ponto do livro da lei, involuntariamente você declara que Cristo
não morreu por você e dessa forma lança fora a obra de Cristo. Comparemos as palavras em
Romanos 6:14 com 3:19: “Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais
debaixo da lei, mas debaixo da graça.” Isto indica que os crentes não estão sob a lei. Mas a quem
as coisas da lei falam? “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o
diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus.” As coisas da lei
falam àqueles que estão sob a lei. Visto que nós cristãos não estamos sob a lei, estas coisas da lei
não falam a nós.

Por que Paulo escreveu a carta aos Gálatas depois de ter escrito a carta aos Romanos?
Romanos Nos informa que nenhum pecador pode ser justificado por guardar a lei; Gálatas Nos
ensina que nenhum santo pode ser santificado pelas obras da lei. Não somente um pecador não
pode ser salvo pelas obras, até mesmo um santo não pode ser santificado pelas obras. Assim como
alguém começa na graça, assim ele será aperfeiçoado por meio da graça. Como pode aquele que é
justificado pela fé jamais pensar em ser santificado por guardar a lei? Se a justificação é pelo
Espírito Santo, a santificação também deve ser pelo Espírito Santo, O caminho da perfeição é o
caminho da entrada, pois Deus só possui um princípio de operação. Por que é proibido tecer a lã e
o linho juntos (Dt. 22:11)? Porque a lã é adquirida por meio do derramamento de sangue,
enquanto que o linho vem do plantio do homem. Qualquer coisa que é feita por Deus é obra de
Deus; qualquer coisa que é feita pelo homem é obra do homem. Deus não misturará Sua obra com
a obra do homem.

O que quer dizer não estar sob a lei? Não estar sob a lei não significa ilegalidade. A
Bíblia diz: “O pecado não terá domínio sobre vós porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça” (Rm 6:14). Você não está sob a lei porque está debaixo da graça. Estando sob a
graça você não será governado pelo pecado. Precisamos prestar atenção especial a esta palavra. O
não estar debaixo da lei não permite a licenciosidade; significa apenas que o pecado não terá
domínio sobre você.

O que significa estar debaixo da graça? “Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de
outra maneira a graça já não é graça” (Rm 11:6). Estar debaixo da graça significa simplesmente
que você não precisa ter suas próprias obras. O que quer dizer então estar debaixo da lei? Quer
dizer que você mesmo deve fazer as obras mesmo trabalhando mais e se tornando pior. Estar
debaixo da graça quer dizer que o Senhor Jesus está fazendo tudo; estar debaixo da lei é você
fazendo tudo. Estando debaixo da graça Deus opera em você de tal modo que o pecado não terá
domínio sobre você; estando debaixo da lei, você está sob o domínio do pecado porque você não
pode vencer. Se você está debaixo da graça, a graça de Deus operará em você. É o pecado, então,
páreo para a graça de Deus? Certamente que não.

Assim como o Senhor Jesus morreu por você na cruz, assim Ele vive hoje em você. Assim
como Ele levou seus pecados na cruz, assim Ele habita agora em você para te dar a vitória sobre o
pecado. A lei é apenas o mandamento de Deus; mas a graça é o poder de Deus. A lei te ordena
fazer, mas a graça te dá o poder para fazê-lo. Não estar debaixo da lei mas estar debaixo da graça
significa que o Cristo ressurreto vive em você e te leva a vencer.

Por que Cristo é o fim da lei? Porque Ele satisfez todas as exigências da lei colocadas sobre

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os homens.

Devemos ver antes de tudo, que Cristo em Sua vida resume a lei. Deixando totalmente à
parte o aspecto do Senhor Jesus como Deus, fiquemos por um momento No Seu aspecto como
homem. Existe apenas um ser humano em todo o mundo que guardou a lei completamente, e este
é o Senhor Jesus. Não existe nenhum antes Dele ou depois Dele. Somente Ele possui a
qualificação, Ele é portanto, o resumo da lei.

Em segundo lugar, a morte de Cristo conclui a lei. A última e mais elevada das suas
exigências é a morte. Imagine, por exemplo, que uma pessoa tenha pecado contra a lei de um país
e seja condenada a ser fuzilada. Depois de fuzilada a lei do país nada mais pode fazer a ela. A lei
só pode exigir a morte e com a morte tudo é solucionado. A lei diz que qualquer que não guarda a
lei deve morrer. Mas o Senhor Jesus morreu e por aquela morte Ele conclui a lei.

“Fim” significa aquilo que é “final”. O que pode ser acrescentado depois que a coisa final
foi alcançada? O que mais pode ser feito? Consequentemente, que cada cristão dê louvores a
Deus, sabendo que Cristo já concluiu a lei.

PERGUNTA No 16

Como Cristo cumpre a lei e os profetas (Mt 5:17)?

A fim de responder esta pergunta, leiamos cuidadosamente Mateus 5:17-20.

Consideremos primeiro as palavras: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas;
não vim destruir, mas cumprir” (v. 17). Por que o Senhor diz isso? Porque existe a possibilidade
de tal entendimento e talvez alguns dos Seus ouvintes estivessem pensando dessa forma. O
Senhor anunciou as Nove bem-aventuranças, mas depois Ele fala de mais dois assuntos: (1) Vós
sois o sal da terra, e (2) vós sois a luz do mundo. Quando as pessoas ouvem estas coisas,
provavelmente pensam em quão completamente contrário é o que o Senhor diz ser abençoado,
com respeito ao conceito do que é ser abençoado No Antigo Testamento. Segundo a Antiga
Aliança, Deus faz a nação de Israel grande e a leva a destruir seus inimigos. Mas hoje o Senhor
fala de humildade, mansidão, perseguição e assim por diante; coisas que são totalmente estranhas
ao conceito do Antigo Testamento. Veio pois, o Senhor para destruir a lei? Anteriormente Deus
havia colocado Israel na terra para ser um testemunho, mas agora Ele transfere este testemunho
para alguns dos filhos de Israel e os chama de sal e luz. Ele não veio então realmente para destruir
a lei? Por essa razão, ao acabar de dizer “vós sois o sal da terra e a luz do mundo”, Ele continua
dizendo: “Não penseis”. Ele esclarece ainda mais dizendo: “Não vim para destruir, mas cumprir”.
A palavra “destruir” No original grego traz em si a figura de demolir uma parede pedaço por
pedaço, enquanto que a palavra “cumprir” No original significa encher completamente.

Com respeito à atitude do Senhor Jesus para com a lei, existem dois pontos de vista antigos.
Um Deles é sustentado por aqueles que afirmam que para cumprir a lei o Senhor a destrói. Eles
argumentam que o que o Senhor diz aqui difere grandemente daquilo que Moisés falou. Moisés
declarou, por exemplo, que “quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio”, mas o Senhor
dedara que “todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz
adúltera” (Mt 5:31, 32). O entendimento Deles é que o Senhor se opõe a Moisés. O outro ponto
de vista aceita que o Senhor vem para preservar a pureza da lei, destruindo tudo aquilo que os

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judeus acrescentaram à lei de Moisés durante os 1500 anos que precederam ao Senhor Jesus.
Cremos, entretanto, que cumprir significa o que está escrito: encher completamente; e que,
portanto, não pode ser explicado por nenhuma das duas interpretações. Vamos tentar agora
explicar qual é realmente a atitude do Senhor para com a lei.

Primeiro de tudo, o Senhor reconhece que a lei e os profetas vêm de Deus. Ao dizer “porque
assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós” (5:12), Ele reconhece os profetas como
sendo de Deus. Além disso, ao mencionar a oferta sobre o altar, Ele não demonstra nenhuma
oposição ao altar. E ainda mais, após ter terminado o ensino No monte, Ele desceu e encontrou um
leproso a quem purificou. Após isto ordenou ao leproso que havia sido purificado que se
mostrasse ao sacerdote e oferecesse o que fora prescrito por Moisés (Mt 8:1-4). Todos estes
exemplos mostram que o Senhor reconhece que tudo o que Moisés ordenou deve ser feito.

Segundo, embora o Senhor reconheça que a lei e os profetas vêm realmente de Deus, Ele, não
obstante, também Nos informa que a lei não é completa. No quinto capítulo de Mateus lemos uma
e outra vez estas palavras: “Ouvistes o que foi dito...eu, porém, vos digo”. O que o Senhor queria
dizer é que embora esteja certo Moisés dizer “não matarás” e “não cometerás adultério”, ele
precisa Nos dizer que está incompleto, pois é errado até mesmo ficar irado sem causa e cobiçar
uma mulher. Entendamos claramente que dizer que algo é incompleto não é o mesmo que dizer
que é ruim. Por exemplo: quando uma criança começa a aprender a simples adição de dois mais
dois é igual a quatro, o que ela aprendeu não está errado, embora no tocante ao conhecimento seja
algo incompleto.

Terceiro, o Senhor vem para preencher aquilo que falta à lei. “Cumprir” indica o
preenchimento do Senhor como Mestre, não como Salvador. Isto quer dizer que onde a lei está
faltando naquele exato ponto, o Senhor preenche plenamente. A lei ensina um olho por um olho e
um dente por um dente, que é o principio de imparcialidade ou justiça. O Senhor no entanto, nos
instrui a amar os nossos inimigos e orar por aqueles que nos perseguem, e este é o princípio da
graça. A lei manifesta o modo como Deus opera no aspecto da justiça, mas a graça e a
misericórdia expressam a própria natureza de Deus. Segundo Sua graça, Deus faz com que Seu
sol se levante sobre bons e maus e envia Sua chuva sobre o justo e o injusto. “Porque a lei foi
dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Moisés nos
fala do modo de Deus fazer as coisas, enquanto que o Senhor nos fala da própria natureza de
Deus.

Visto que o Senhor já sofreu a maldição da lei na cruz em nosso lugar, nós que aceitamos a
obra do Senhor na cruz e assim recebemos vida, devemos viver na terra conforme tudo quanto Ele
No monte nos ordenou fazer. Alguns pensam que o que o Senhor falou no monte é lei e não graça;
portanto, o ensino no monte é dirigido aos judeus. Existem muitas provas para demonstrar o erro
de tal ponto de vista.

(1) Segundo o raciocínio apropriado, não devemos empurrar todas as coisas difíceis para
os judeus e deixar as fáceis para nós. Consideremos por um momento quão ilógica é tal
posição: Iria Deus requerer mais dos judeus a quem Ele concedeu menos poder e graça e exigir
menos de nós que recebemos mais poder e graça?

(2) Está declarado distintamente em Mateus 5:1,2 que neste evento No monte o Senhor
estava Se dirigindo aos discípulos. Se os discípulos aqui indicam os judeus, conforme alguns
afirmam, existe pelo menos um versículo na Bíblia que declara que os discípulos são cristãos

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(Atos 11:26), mas em nenhum lugar da Bíblia se diz que “os discípulos são judeus”, nem
tampouco pode ser encontrado nas Escrituras um termo tal como “discípulo judeu”. Tio logo
alguém se torna discípulo, a distinção entre judeu e gentio passa a não mais existir.

(3) Está escrito em Mateus 28: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em Nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas
as coisas que eu vos tenho mandado” (vs. 19,20). Quando pregamos o evangelho devemos ao
mesmo tempo ensinar as pessoas a observarem os ensinos do Senhor que, sem dúvida, incluem
o ensino no monte. Sem dúvida o ensino no monte é difícil, mas não podemos arbitrariamente
empurrar o que é difícil para os judeus. “Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai
enviará em seu Nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos
tenho dito” (Jo 14:26). Observe a cláusula: “Tudo quanto vos tenho dito”, indicando não
apenas o crer para a vida eterna, mas incluindo todos os mandamentos do Senhor. A obra que o
Espírito Santo vem realizar é levar as pessoas a observarem tudo quanto o Senhor ensinou e
ordenou. Os apóstolos são encarregados da responsabilidade de ensinar as pessoas a
observarem os ensinos do Senhor e da pregação do evangelho.

“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará
da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido” (Mt 5:18). O i é a menor letra do alfabeto
Hebraico e o til pelo qual uma letra difere de outra semelhante a ela. Dizer que cada i ou til será
cumprido é o mesmo que dizer que todas as coisas serão cumpridas. O céu e a terra não passarão
até que todos os is e todos os tils da lei sejam cumpridos.

No versículo 17 temos a lei e os profetas, mas no 18 temos apenas a lei. Por que? Porque a lei fala
no máximo até o milênio, enquanto que alguns profetas profetizam para a eternidade (Isaías, por
exemplo, menciona o Novo céu e a Nova terra). Se o céu e a terra passassem antes que todas as
coisas que os profetas disseram se cumprissem, então os assuntos mencionados No livro do
Apocalipse virariam de cabeça para baixo. Como Nosso Senhor pesa cada palavra; nem mais nem
menos! Ele disse que o céu e a terra de modo nenhum passarão até que cada i ou til da lei seja
cumprido. Quão solene e cheia de dignidade é a lei.

Uma vez Jesus disse a um doutor dos fariseus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. E o segundo semelhante a este é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22:37-40). Ele também disse
aos fariseus: “Misericórdia quero, e não sacrifícios” (9:13). O Senhor aqui Nos mostra que a lei
moral é mais importante do que todas as outras leis “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!
porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais
importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem
omitir aquelas” (Mt 23:23). Aqui o Senhor indica o que é mais ou menos importante na lei.
Alguns podem ter observado de modo bem completo tudo o que estava do lado cerimonial da
lei, mas o Senhor ainda os reprova. O dízimo da hortelã, do endro e do cominho, o não tecer lã
e linho juntos, não cozinhar o cordeiro em seu leite e outros, pertencem aos mandamentos da lei
que eram de segunda importância.

Nós, cristãos, devemos aguardar a lei? Não, porque não estamos debaixo da lei mas sim
da graça (Rm 6:14). Durante a era apostólica, alguns ensinavam aos irmãos dizendo: A menos
que vos circuncideis conforme a lei de Moisés não podereis ser salvos (At, 15:5). Pedro
respondeu: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo

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que nem Nossos pais nem nós pudemos suportar” (v. 10). Finalmente, os apóstolos e anciãos
em Jerusalém escreveram uma carta aos irmãos que eram dos gentios, admoestando-os a se
absterem da contaminação dos ídolos, da fornicação, daquilo que era sufocado e do sangue,
sem exigir Deles que fossem circuncidados (At. 15:22-29).

Por outro lado, enquanto o Senhor esteve na terra antes de Sua morte e ressureição e embora
fosse o significado de todas essas leis cerimoniais, Ele e os Seus discípulos, não obstante,
guardaram a lei (relembre, por exemplo, como Pedro e o Senhor pagaram o imposto do templo
(Mt 17:24-27). A lei continuou em força até à morte do Senhor. Mas na morte do Senhor todas
estas leis cerimoniais foram cumpridas e passaram. Devemos observar o relacionamento
dispensacional aqui.

Após a vinda do Espírito Santo e o estabelecimento da igreja, Pedro ainda desejava


guardar a lei cerimonial deixando de comer as criaturas imundas mencionadas em Levítico 11.
Como Deus o instruiu? “Não chames tu comum ao que Deus purificou” (At. 10:9-15). Existe
portanto, uma mudança sob a Nova Aliança. Na carta aos Gálatas, Paulo, ao falar sobre a
circuncisão (que era a lei mais importante para os judeus), declara com ardor: “Eis que eu,
Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.” “E de
Novo testifico a todo homem que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei”
(5:2,3). Paulo aqui Nos mostra, a lei inteira. Pois, a menos que você guarde toda a lei, você não
guarda lei nenhuma. Você não pode guardar apenas aquilo que deseja e rejeitar o que não
deseja. Aqui podemos ficar bem esclarecidos que não estamos debaixo da lei.

O “reino” em Mateus 5:19 não se refere à igreja; refere -se à época da segunda vinda do
Senhor, quando reinaremos No reino milenar.

Agora, alguns podem concluir que embora os cristãos não precisem guardar a lei
cerimonial, talvez ainda devam guardar a lei moral. Depois que alguém é salvo pela fé, ele tem o
poder para fazer o bem e guardar a lei para que seja santificada. Todavia, devemos lembrar que
assim como guardar a lei não é uma condição para a salvação, assim também guardar a lei não é
um principio ou regra da nossa vida cristã.

“Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo
nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20). Um fariseu obtém sua justiça guardando a lei
moral. Pode um cristão entrar no reino do céu por ter a justiça de um fariseu? O Senhor diz
enfaticamente: Não! Nesta passagem (vs. 17-20), o Senhor diz duas vezes: “Eu vos digo”. No
versículo 18 Ele afirma aos discípulos que a lei não passará, até que todas as coisas nela sejam
cumpridas. No versículo 20 Ele indica que existe necessidade de preencher o que nela está
faltando. O versículo 17 Nos diz que, negativamente, a lei não deve ser destruída, mas,
positivamente, deve ser cumprida. Portanto, os versículos 18 e 19 Nos mostram que a atitude do
Senhor para com a lei é, negativamente, não destruí-la; enquanto que o versículo 20 nos diz qual é
Sua atitude para com a lei positivamente, isto é, cumpri-la plenamente. Por causa desses dois
lados Ele usa a frase: “Eu vos digo” duas vezes.

“Vossa justiça” no versículo 20 é diferente do ser justificado diante da lei. Ser justificado
por Deus é algo que Ele nos dá gratuitamente e é recebido pela fé. “Vossa justiça” refere-se à
nossa conduta, que é o resultado da obra do Espírito Santo em nós. Se fosse uma questão de
justificação, teria sido falado aos pecadores. Mas aqui as palavras são dirigidas aos discípulos.
Consequentemente a justiça aqui mencionada não é a justiça dada por Deus, mas sim a justiça dos

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santos.

Não importa quão bem os escribas e fariseus possam se conduzir; o máximo que eles têm é
a justiça segundo a lei. Mas os discípulos não estão debaixo da lei e, por isso, a justiça Deles deve
exceder a justiça segundo a lei. O padrão Deles deve ser mais alto do que o dos escribas e fariseus.
Nenhum cristão pode entrar no reino do céu apenas por guardar a lei. Ele tem os ensinamentos de
Mateus 5,6 e 7. A menos que ele siga estes ensinos, não poderá entrar.

Outro ponto que devemos entender daramente é este: Todo crente tem a vida eterna, mas
nem todos os crentes entrarão no reino do céu. Porque a vida eterna é obtida por meio da justiça
dada por Deus, enquanto que a entrada No reino do céu é por meio da justiça própiia de alguém. A
vida eterna é obtida pela fé e nunca será perdida; mas o reino do céu está preparado para os
vencedores. A vida eterna é para ser possuída nesta era; o reino do céu será estabeleddo na
segunda vinda do Senhor. O evangelho segundo João menciona Nove vezes que a vida eterna é
obtida pela fé; todavia em Mateus 11 está escrito que o reino do céu “é tomado à força e os
violentos o tomam de assalto” (v. 12). Uma vez que alguém crê, ele tem a vida eterna; mas é
necessário uma busca diária para se entrar no reino do céu. A posse da vida eterna refere-se a
como Deus escolhe pessoas deste mundo; entrar no reino do céu tem a ver com a escolha de Deus
dentre os que possuem a vida eterna. A vida eterna é concedida igualmente a todos, mas no reino
do céu existe o grande e o menor. Agora que fomos salvos, precisamos reproduzir por meio do
Espirito Santo nossa própria justiça, se esperamos reinar com Cristo em Sua volta. Como
podemos descrer da palavra falada pelo próprio Senhor?

PERGUNTA No 17

Alguns cristãos têm a tendência de fazer com que Gálatas 3:21 seja lido assim:
“É a lei então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum;porque, se dada
fosse uma lei que pudesse operar a justiça, a vida, na verdade, teria sido a lei.”
Existe algum erro nesta citação? E se há, onde está ele?

O que Gálatas 3:21 realmente diz é: “Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De
nenhuma sorte; porque se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria
sido pela lei.” O erro na questão é inverter a ordem de vida e justiça. Devemos entender o que
Paulo diz aqui. Ele está dizendo que a lei e as promessas de Deus não são opostas uma à outra. Os
Gálatas consideravam a promessa como tendo vindo depois da lei, mas Paulo lhes dá a prova de
que a promessa foi feita antes da lei. Deus havia feito uma promessa a Abraão, muito tempo antes
de dar a lei a Moisés. Deus deu Sua promessa a Abraão 430 anos antes de dar a lei.

Um erro comumente partilhado pelos cristãos é o de que Deus usa a graça para salvar as
pessoas, após ter falhado em usar a lei. Deus não fez nada dessa espécie. Ele fez Sua promessa a
Abraão a despeito do que ele faria e realmente fez Abraão recebeu a promessa só pelo crer. Visto
que os israelitas não estimaram a preciosidade da graça, Deus lhe deu a lei. Seu propósito em
dar-lhes a lei era fazê-los reconhecer seus pecados na quebra da lei, a fim de que pudessem
apreciar melhor a promessa de Deus. De modo que, mesmo depois de Deus ter dado a lei, Ele
ainda salva pela graça. A lei é dada visando o autoconhecimento, depois que alguém conhece a si
mesmo, ele estimará a graça. Quando alguém está com fome, ele pensa em comer. Se não desejar
comer, ele precisa estimular seu apetite tomando algum remédio. Da mesma forma, a lei Nos
conduz à graça.

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O significado de Gálatas 3:21 é que, se fosse dada uma lei que pudesse dar vida, então ela
teria dado a justiça também. A lei concede vida primeiro ou justiça? Um cristão alcança vida
primeiro ou justiça? Paulo argumenta este ponto através de toda a Carta aos Gálatas. Ele indica
que, se a lei pudesse Nos dar vida, então ela poderia Nos dar a justiça também. Em nossa salvação,
nós obtemos primeiro a justiça antes de receber vida. Por que uma pessoa deve parecer? Porque
ela pecou. Qual ocorre primeiro: o pecar ou o perecer? Obviamente, o pecar vem primeiro e
depois o perecer. Então, como uma pessoa é salva? Por causa da justiça. Qual vem primeiro: a
justiça ou a vida? Sem dúvida, a justiça precede a vida. Podemos provar citando as Escrituras:
“Muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por
um só — Jesus Cristo” (Rm 5:17). Neste versículo, vemos que a justiça é colocada antes da vida.
“ ... também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo Nosso Senhor” (v.
21). Aqui também, a justiça vem primeiro e depois a vida. E outro verso em Romanos: “O espírito
é vida por causa da justiça” (8:10). Mais uma vez, a ordem é justiça primeiro e depois a vida.

Devemos estar bem claros nisso: a razão por que não temos vida é porque não temos justiça.
Sem justiça, deveríamos ser punidos e deveríamos morrer segundo a justiça de Deus. Observe que
o Senhor Jesus não veio primeiro para ser ressuscitado por nós, mas para morrer primeiro e depois
ser ressuscitado. Crendo Nele, nós nos apropriamos da justiça que Ele realizou, a qual, por sua
vez, se torna nossa vida. O espírito é vida por causa da justiça, diz Romanos 8:10. Por causa da
morte e ressurreição do Senhor Jesus em Nosso favor, nós agora temos vida. O Senhor Jesus já
morreu e, segundo a justiça de Deus, Nossos pecados não podem deixar de ser perdoados por Ele,
pois o preço foi pago e Sua justa exigência foi satisfeita. Somos, portanto, salvos pela justiça que
Cristo realizou em Sua morte. O que Paulo realmente quer dizer é que, se eu dissesse que a lei
pode dar vida, então eu teria que dizer também que a lei pode conceder a justiça; mas eu não disse
isto, porque a justiça não é baseada na lei. Deus, ainda assim, salva as pessoas segundo o princípio
da lei, pois, visto que a lei afirma claramente que qualquer que é justo viverá (veja Rm 10:5; Cf.
Lv. 18:5), a graça Nos dá primeiro a justiça e depois a vida. Assim, está provado que as promessas
de Deus não são opostas à lei.

PERGUNTA No 18

Qual é o significado de “redenção”? De que somos redimidos?

A palavra “redenção” quer dizer comprar, isto é, resgatar aquilo que foi empenhado a
outros.

Porém, para dizer que somos redimidos, precisamos perguntar: de quem ou de que estamos
sendo redimidos? Conforme o ensino tradicional, nós somos redimidos das mãos do diabo porque
havíamos Nos tornado seus escravos, mas o Senhor Jesus derramou Seu sangue para nos resgatar
das suas mãos. Se todavia é assim, seria verdade que Deus tivesse admitido a legalidade de
estarmos sob as mãos do diabo? Ilustremos nosso raciocínio assim. Suponhamos que alguém lhe
roube algo e você saiba quem é o ladrão; ainda assim, você paga um resgate para readquirir o que
foi roubado. Tal forma de resgatar, tacitamente reconheceria a legalidade do roubo praticado
contra você, o que não faz sentido. Da mesma forma, se dissermos que o Senhor Jesus pagou o
preço do Seu sangue para redimir-nos das mãos do diabo, isto será equivalente a dizer que Deus
admite a legalidade da queda do homem nas mãos do diabo. Tal interpretação é, sem dúvida,
incorreta. Não se pode dizer que fomos redimidos das mãos do diabo.

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Pode-se dizer, então, que somos redimidos das mãos de Deus? Não! Isto também é
impossível. Porque dizendo isso, o amor de Deus, em primeiro lugar, será apagado. Não se
esqueça de que foi Deus quem enviou o Senhor Jesus a este mundo. A Bíblia diz uma e outra vez
o quanto Deus Nos ama. (Como contraste, o Novo Testamento inteiro só menciona “o amor de
Cristo” três vezes. Agora, naturalmente o Senhor Jesus Nos ama e por isso está disposto a vir e
salvar-nos segundo a vontade de Deus.) Por Nos amar, Deus estabeleceu o plano de enviar Seu
único Filho para Nos salvar. Por isso, nunca devemos fazer juízo errado da natureza de Deus.
Mas, em segundo lugar, dizer que somos redimidos das mãos de Deus Nos força a perguntar: A
quem então, pertencemos? Pois, se somos redimidos das Suas mãos, como ainda podemos ser
Dele?

Podemos dizer que somos redimidos do pecado? Aqui também a resposta deve ser negativa,
porque, se somos em verdade redimidos do pecado, quem, então, recebe o dinheiro do resgate?
Verdadeiramente o Senhor pagou o preço, mas o pecado não pode, de modo algum, reoeber o
resgate.

Só existe um lugar na Bíblia que pode solucionar este problema. Tomemos Nota de um
versículo em Gálatas: “Cristo Nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós”
(3:13a). Consequentemente, concluímos que somos redimidos da maldição da lei. Por sermos
pecadores diante de Deus, entramos debaixo da maldição da lei. Agora, entretanto, Q Senhor
Jesus morreu por nós e, assim, Nos redimiu da maldição da lei. Observemos, cuidadosamente, que
nós não somos redimidos da lei, mas sim, da maldição da lei. Sermos redimidos da maldição da lei
significa sermos redimidos das suas consequências. Não é, portanto, uma questão de sermos
livrados de alguns artigos da lei, mas de sermos livrados da maldição da lei, porque o sangue do
Senhor Jesus cumpriu sua exigência, a qual, requer punição para todos os que pecam. Isto,
portanto, é o que a Bíblia diz e é tudo quanto vamos dizer. Se dissermos mais, ou menos,
cometeremos um erro.

PERGUNTA No 19

Romanos 2:12 advoga que sem a lei (isto é, se Deus não der a lei) alguém não
perecerá mesmo que tenha pecado? Ou que, se um pecador nunca ouvir o
evangelho, seu destino será a perdição?

O perecer e o pecado estão intimamente relacionados. Perecer ou não perecer não tem como
base o haver ou não a lei. Romanos 2 declara que “todos os que sem lei pecaram, sem lei também
perecerão” (v. 12). Deus tem Sua maneira de tratar com pessoas que não receberam a lei ou que
nunca ouviram o evangelho (Rm 2:6-16). Primeiro: um Deus justo não fará nada injusto.
Segundo: não é nem dever nem obrigação de Deus salvar os homens, porque perecer por meio do
pecado é uma consequência que os homens trazem a si mesmos; e por isso, Deus não seria injusto
por não salvá-los. Os homens são salvos, não porque Deus seja obrigado a salvá-los, mas porque
Deus concede graça especial.

Portanto, para responder a esta pergunta, devemos prestar atenção, primeiro, à graça de
Deus e, segundo, à justiça de Deus. A graça de Deus levou o Salvador a morrer e ressuscitar por
nós. Hoje somos salvos pela justiça de Deus porque o Senhor Jesus já morreu e Deus não pode
senão salvar-nos. Se o Senhor não tivesse vindo e morrido em nosso lugar, Deus ainda não seria
injusto se não nos salvasse. A graça deve vir primeiro e depois a justiça. Entretanto, embora a

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salvação seja proclamada pela graça, ela, no entanto, é estabelecida em justiça. Deus salva um
pecador enviando (por Sua graça) o Senhor Jesus para ser o Salvador dos pecadores. Se no futuro
houver pessoas que irão para o lago de fogo, lá só haverá gemidos de dor, mas não de
murmurações e queixas, porque o lago de fogo é a punição mais do que justa de Deus. No
julgamento do grande Tronco Branco, mencionado em Apocalipse 20, ninguém se levantará e
reclamará que Deus não é justo.

PERGUNTA No 20

Visto que a salvação é baseada na morte de Cristo, por que a Bíblia nos diz
para crer na ressurreição de Cristo e não apenas em Sua morte?

Os apóstolos eram testemunhas da ressurreição do Senhor Jesus (At. 1:22). O livro de Atos
está cheio de palavras testemunhando da ressurreição do Senhor. A morte é apenas um processo,
mas a ressurreição é o cumprimento. Por esta razão, a Bíblia fala da ressurreição do Senhor
sempre que Sua morte é mencionada. O Senhor mesmo falou aos discípulos repetidas vezes que
Ele seria morto, mas nunca parou ali. Ele continuou acrescentando que ao terceiro dia
ressuscitaria dos mortos. A ressurreição é a sequência da morte; na ressurreição a obra na morte é
concluída. O Senhor Jesus morreu na cruz por Nossos pecados. Como sabemos que Ele realizou
aquilo pelo que morreu? Como podemos saber se Deus aceitou o que Ele fez? Porque sabemos
que Ele ressuscitou dos mortos. Suponhamos que um criminoso seja condenado a servir certo
número de anos na cadeia. Como sabemos que sua pena foi cumprida? Quando ele sai da prisão.
A ressurreição, portanto, conclui a morte. Sem morte não pode haver ressurreição, porém, com a
ressurreição a morte é tirada. “E disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos” (At.
17:31). O Senhor quer que creiamos na Sua ressurreição.

Crer somente na morte do Senhor Jesus não resultará em salvação. Alguém deve crer em
Sua ressurreição a fim de ser salvo. “E em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos,
serás salvo” (Rm 10:9).

A ressurreição é um ato de Deus: os judeus mataram “o Príncipe da vida, ao qual Deus


ressuscitou dos mortos” (At 3:15). O que o homem pode ver é a morte. Se o Senhor não tivesse
ressuscitado dos mortos, então as pessoas teriam-No visto como simplesmente um homem a
quem mataram. Mas Deus ressuscitou o Senhor Jesus dos mortos, mostrando assim, que “não era
possível que fosse retido por ela (a morte)” (At. 2:24). Porque “Deus, com a sua destra o elevou
a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados” (At. 5:31).
“Ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos... todos os que Nele ctêem
receberão o perdão dos pecados pelo seu Nome” (At. 10:42,43).

Crer na ressurreição é algo além da capacidade humana. A menos que alguém seja movido
pelo Espírito Santo, não pode crer que o Senhor Jesus foi ressuscitado dos mortos. Dizer isto sem
qualquer convicção de coração está totalmente fora de questão. Para que alguém possa crer de
coração, exige-se a obra do Espírito Santo. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto
não vem de vós; é o dom de Deus” (Ef 2:8). Os apóstolos deram testemunho da ressurreição do
Senhor Jesus No poder do Espírito Santo. “E todos foram cheios do Espírito Santo... E os
apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (At 4:31, 33).

A obra da redenção é realizada por meio da morte de Cristo. Nossa salvação está baseada
em Sua morte. Entretanto, devemos crer na ressurreição de Cristo como também em Sua morte.

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PERGUNTA No 21

Na cruz Cristo declarou: “Está consumado”, Indicando que a obra da cruz é


completa. Por que é que não podemos ser salvos se Ele não for ressuscitado?

A declaração de Cristo na cruz “Está consumado”, trata-se da realização da redenção e não


que a salvação estava completada. A redenção é realizada por Cristo e é objetiva para nós, mas a
salvação não é completada até que sejamos salvos e, portanto, é algo subjetivo para nós. Nossa
união com Cristo, em seu aspecto subjetivo, é sermos unidos com Sua ressurreição e, por isso, não
podemos ser salvos a menos que Cristo seja ressuscitado.

“A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm
8:2). Observemos que este versículo fala da libertação de duas leis: a lei do pecado e a lei da
morte. A morte de Cristo trata com o pecado; a ressurreição de Cristo trata com a morte. Por Sua
morte, Ele tira o pecado; por Sua ressurreição, Ele anula a morte. Sua morte soluciona o problema
do pecado, mas Sua ressurreição soluciona o problema da morte. Não somos apenas pecadores
mas também pessoas mortas (Ef 2:1). Morrendo na cruz, o Senhor Jesus Nos salva da posição de
pecadores; ressuscitando dos mortos, Ele Nos livra da posição de pessoas mortas.

Se o Senhor não tivesse morrido na cruz, nós ainda seríamos pecadores. Se Ele não tivesse
sido ressuscitado, poderíamos não ser mais pecadores, todavia, seríamos homens mortos.
Somente a ressurreição quebra o poder da morte. Sua morte satisfaz a lei de Deus, cumprindo,
assim, a necessidade objetiva. Sua ressurreição Nos dá vida e cumpre, portanto, a necessidade
subjetiva. Pregamos meio evangelho se pregamos somente que Cristo morreu por nós e não
acrescentamos que Ele ressuscitou por nós. Lendo o livro de Atos, podemos ver como os
apóstolos enfatizavam a ressurreição do Nosso Senhor.

A Bíblia menciona o “sangue” mais de 400 vezes. Porque o sangue deve ser levado diante
de Deus para Sua satisfação. Isto, entretanto, acontece depois da ressurreição (veja Hb 9:12).
Devemos prestar atenção à morte do Senhor, todavia, não podemos separá-la da ressurreição.
Sem a ressurreição não pode haver salvação, porque Deus Nos gera pela ressurreição de Jesus
Cristo dentre os mortos (lPd 1:3).

A Bíblia está cheia da verdade da ressurreição. Não apenas o Novo Testamento está repleto
dessa verdade, mas o Antigo Testamento também. Abraão ofereceu Isaque porque cria na
ressurreição. O cruzamento do rio Jordão pelos filhos de Israel é um tipo da ressurreição. A vara
de Aarão que brotou também é um tipo dela. “Cristo morreu por nós segundo as Escrituras...
ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras” (1Co 15:3,4). A frase “segundo as Escrituras”
refere-se ao Antigo Testamento e, assim, indica que a ressurreição de Cristo e também Sua morte
são segundo o que o Antigo Testamento disse.

Louvamos e agradecemos a Deus porque Seu Filho não apenas morreu por nós, mas foi
também ressuscitado dos mortos por nós. Ele trata com a lei da morte como também com a lei do
pecado. Ele Nos salva da posição de pecadores e Nos livra do lugar de homens mortos.

PERGUNTA No 22

Por que 1Coríntios 15:3 depois de dizer que “Cristo morreu por Nossos

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pecados”, acrescenta No v. 17: “Se Cristo não ressuscitou... ainda permaneceis Nos
vossos pecados”?

O versículo 3 fala da relação entre a morte de Cristo e o pecado, enquanto que o versículo
17 fala da relação da Sua ressurreição com o pecado. Por que o problema do pecado é solucionado
pela morte de Cristo no verso 3 e por Sua ressurreição no verso 17? Os que pregam o evangelho
hoje tendem a enfatizar bastante a morte de Cristo e quase nada a sua ressurreição. Podemos ouvir
frequentemente como a morte de Cristo nos salva do pecado, mas raramente ouvimos as pessoas
dizerem que Sua ressurreição nos liberta do pecado.

A morte de Cristo nos salva da culpa do pecado e anula nossa situação criminal diante de
Deus; mas, para se ser libertado do poder do pecado, deve-se depender da ressurreição de Cristo.
Quando lemos o livro de Atos, sobre qual das duas os apóstolos falam mais: morte ou
ressurreição? Veja 1Coríntios 15 também. Paulo aqui está tentando provar a morte ou a
ressurreição de Cristo? Sabemos que os apóstolos enfatizaram a Sua ressurreição. O mundo crê
que Jesus morreu, mas o mundo acha difícil crer que Ele morreu por Nossos pecados. Como
sabemos que Ele realmente morreu por nossos pecados? Esta difícil questão é resolvida por Sua
ressurreição. Sua ressurreição prova que Ele morreu com o propósito de levar nossos pecados.
Agora que o problema do pecado está solucionado, Ele é ressuscitado dos mortos. Quando você
diz às pessoas que o Senhor Jesus morreu por nossos pecados, elas crerão se o Espírito Santo
revelar a elas o Cristo ressurreto. A ressurreição de Cristo só pode provar que Sua morte é para
levar nossos pecados.

A ressurreição de Cristo não prova apenas que Sua morte foi para levar os pecados do
mundo; ela Nos dá Nova Vida também. Cristo deve morrer e ser ressuscitado por nós. Eu sou
alguém que pecou, mas o Senhor Jesus morreu por mim e expiou meus pecados. Todavia, eu
posso viver diante de Deus por minha carne? Posso voltar ao pecado? É verdade, a morte de
Cristo removeu meus débitos antigos, mas Sua morte não me dá garantia de não contrair novas
dívidas. Cristo deve ressuscitar e uma Nova Vida deve ser colocada em mim a fim de que eu possa
viver uma vida diferente da anterior. A morte quita minha situação pecaminosa; a ressurreição me
leva a não mais pecar. Consequentemente, o Senhor Jesus não apenas morreu e expiou Nossos
pecados diante de Deus, mas também ressuscitou para viver dentro de nós, para carregar Nossos
problemas e Nos capacitar a vencer as tentações e pecados. Se Ele não fosse ressuscitado dos
mortos, ainda Nos faltaria o poder para não contrairmos Novas dívidas, embora os débitos antigos
estivessem todos pagos. Isto explica porque Cristo deve ser ressuscitado dos mortos visando
solucionar Nosso problema futuro. Devemos crer que o Senhor Jesus ressuscitou e que habita em
nós, como também crer que Ele carregou nossos pecados em Sua morte. Somos regenerados
através da ressurreição do Senhor Jesus (1Pd. 1:3). Deus colocou uma Nova Vida em nós, e esta
vida é vida de ressurreição — uma vida que não conhece limites — para que possamos viver
como Cristo vive.

Muitas pessoas admitem um erro básico em seu pensamento: elas só aceitam a morte do
Senhor Jesus sem aceitar também Sua obra de ressurreição. Alguns cristãos reclamam
frequentemente por serem tão adversas suas circunstâncias e difíceis suas famílias. Eles não
podem vencer porque suas tentações são simplesmente reais demais nossa tendência é esquecer
que, assim como as tentações são reais, assim o Cristo que habita em nós é igualmente real. Deus
Nos coloca numa situação difícil por duas razões: primeiro para Nos provar quão real é o Cristo
que habita em nós; e segundo, para Nos levar a declarar com satisfação que o Cristo de habitação

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é verdadeiramente mui real. Devemos vencer o pecado pelo Cristo de habitação não apenas uma,
duas ou três vezes, mas muitas e muitas vezes. Muitos dos filhos de Deus prestam atenção ao
Salvador que vive fora Deles e esquecem do mesmo Salvador que vive dentro Deles. Olham para
o Salvador No Calvário, mas fazem vistas grossas ao mesmo Salvador dentro Deles. Por causa da
realidade dessa vida dentro de nós é que podemos vencer cada e toda tentação.

Devemos estar cientes agora que a morte soluciona o problema do pecado, enquanto que a
ressurreição Nos dá uma Nova Vida a fim de que não pequemos.

PERGUNTA No 23

Por que a Bíblia Nos exorta a crer No Filho de Deus? O que significa crer No
Filho de Deus? O crer No Filho de Deus corresponde a que parte das muitas obras
que Cristo realizou por nós? Se alguém crê apenas No Filho do Homem ainda assim
será salvo?

Por ser levantado na capacidade de Filho do Homem (Jo 8:28) Cristo inclui toda a
humanidade Nele. Visto que Cristo morreu por todos, logo todos morreram (2Co. 5:14). Assim
como a ação de um único homem envolveu toda a humanidade em Adão, assim a obra de um
homem, Cristo, inclui toda a humanidade Nele também. Devemos ver como Cristo inclui toda a
humanidade, antes de compreender o que é a redenção.

Hebreus 7:4-10 Nos mostra que o ministério sacerdotal de Melquizedeque é maior do que o
dos Levitas porque ele recebeu dízimos de Abraão e também o abençoou. Melquizedeque,
portanto, era maior do que os Levitas. Mas, como era isso? Levi “ainda estava Nos lombos do seu
pai quando Melquizedeque lhe saiu ao encontro” (v. 10). Sabemos que Abraão gerou a Isaque,
Isaque a Jacó e Jacóa Levi — e este veio a ser bisneto de Abraão. Quando Abraão ofereceu o
dízimo e recebeu a bênção, Levi não havia nascido, nem tampouco seu pai e seu avô. Mas a Bíblia
reconhece a oferta do dízimo e o recebimento da bênção por Abraão como sendo a oferta do
dízimo e recebimento da bênção por Levi. Visto que Abraão era inferior a Melquizedeque,
naturalmente Levi também era. Tudo isso nos mostra que, quando Adão pecou, toda a
humanidade estava Nele também; por isso, todos pecaram. Da mesma forma, quando Cristo
morreu, todos estavam Nele e, portanto, todos morreram.

Cristo como Filho do Homem é a conclusão de tudo o que descende de Adão; mas Cristo
como o Filho de Deus inicia uma Nova criação. Cristo é o Último Adão, e por Sua morte Ele
termina com a velha criação. Mas, por Sua ressurreição, Cristo inicia uma Nova Criação. Por Sua
morte, Ele trata com o pecado; por Sua ressurreição Ele concede-nos vida. Consequentemente, a
Bíblia Nos exorta a crer No Filho de Deus.

Crer No Filho de Deus significa crer na ressurreição do Senhor. Pois o Senhor foi
“declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos
mortos” (Rm 1:4). Além do mais, o Salmo 2 diz: “Tu és meu Filho; eu hoje te gerei” (v. 7). E
Atos 13:33 Nos diz que a ressurreição do Senhor Jesus foi o cumprimento desta palavra No Salmo
2:7.

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Crer No Filho de Deus está relacionado com a ressurreição que Cristo realizou por nós.

Ninguém pode ser salvo por crer apenas em Cristo como o Filho do Homem e não como o
Filho de Deus também. Para ser salvo, alguém precisa crer Nele como o Filho do Homem e como
o Filho de Deus. Porque Ele não só morreu mas também ressuscitou. Ele não levou apenas Nossos
pecados mas aboliu a morte também. Ele nos dá vida eterna como também nos livra de
perecermos.

PERGUNTA No 24

Qual é o milagre mais importante No Antigo Testamento? Para o que este


milagre aponta?

O milagre mais importante No Antigo Testamento é com relação a Jonas e este milagre
aponta para a ressurreição do Senhor Jesus dentre os mortos.

Alguns podem colocar uma ênfase errada neste milagre. Eles consideram os três dias e três
noites em que Jonas passou No ventre do peixe como um milagre que tipifica os três dias e as três
noites que o Senhor passou No coração da terra. Ora, ser enterrado por três dias e três noites na
terra após a morte não é um milagre, pois o sepultamento após a morte é um acontecimento muito
normal. Alguém saltar No mar e ser engolido por um grande peixe também não está além da
esfera da possibilidade. Ficar no ventre do peixe durante três dias e três noites não é um milagre,
nem tampouco ficar lá cinquenta dias e cinquenta noites. O que é miraculoso é sair do ventre do
peixe após três dias e três noites. Estar na sepultura por três dias e três noites não é nada
extraordinário para Cristo, mas ser ressuscitado do túmulo, depois dos três dias e três noites, isto é
extraordinário e, portanto, um milagre. De modo que, a morte não é um milagre; porém, a
ressurreição é um milagre.

Jonas havia tomado uma decisão e não voltaria para Nínive até que tivesse sofrido, estando
tão cheio de preconceito racial. Deus havia ordenado que ele fosse para Nínive, mas ele escolheu
ir para Társis Desobedeceu, portanto, a Deus e Deus não o deixaria livre. Por isso, levantou uma
grande tempestade No mar e o navio estava quase para quebrar-se. Finalmente, Jonas reconheceu
em seu coração que ele era a causa desse desastre. Foi forçado, por fim, a pedir aos marinheiros
para lançá-lo ao mar, com o que a tempestade se acalmou. Deus ordenou, então, que um grande
peixe o engolisse e Jonas permaneceu No seu ventre por três dias e três noites. Depois disso, Deus
falou ao peixe e este vomitou Jonas na terra seca. Só aí é que Jonas obedeceu a ordem de Deus
para ir a Nínive e pregar o evangelho. Se você busca paz interior, este seu velho homem — este
Jonas — deve ser lançado ao mar.

Jonas era alguém que se rebelou e fugiu da vontade de Deus. Foi lançado ao mar por causa
do seu próprio pecado. Mas, com Nosso Senhor não foi assim, pois Ele foi crucificado por causa
dos pecados dos outros. Depois que Jonas foi lançado ao mar, a tempestade acalmou-se. Mas é
verdade também que, uma vez que o Senhor Jesus morreu, os homens são reconciliados com
Deus. Sempre que aceitamos aposição a nós dada pelo Senhor Jesus, nós obtemos paz. Jonas deve
ser lançado ao mar; Nosso Senhor Jesus deve morrer. E nós também devemos morrer, isto é, ser
participantes da Sua morte.

Jonas ser lançado ao mar e engolido e levado para o ventre do peixe significa sepultamento.
O único significado do sepultamento é este: tirar o morto da nossa vista. Depois que sua esposa

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Sara morreu, Abraão falou aos filhos de Hete dizendo: “Dai-me possessão de sepultura convosco,
para que eu sepulte o meu morto de diante da minha face” (Gn 23:4). No batismo, nós
reconhecemos que a morte do Senhor Jesus é real e o Nosso morrer com Ele também. Nós
morremos com Ele e, assim, fomos também sepultados com Ele. Por outro lado, Jonas ser
vomitado na terra seca tipifica ressurreição. O Senhor Jesus foi ressuscitado da sepultura, mas nós
também fomos ressuscitados com Ele.

A ressurreição do Senhor Jesus é o coração de todos os milagres. A ressurreição é mais do


que um fato objetivo; ela é também uma experiência subjetiva. Antes de Jonas ser lançado ao mar,
ele preferiria morrer do que ir para Nínive; mas, após ser vomitado pelo peixe na terra, ele foi para
Nínive sem resistência. A mudança básica operada Nele foi por causa da obra da ressurreição.
Depois que você é salvo e experimenta a ressurreição, seu desejo é fazer aquilo que antes o levaria
a querer a morte primeiro antes de fazê-lo. Antes você sofria derrotas em muitas coisas e
simplesmente não podia vencer, mas agora, após receber Sua vida de ressurreição, você sofre uma
mudança drástica.

PERGUNTA No 25

Adão é criado por Deus e não nascido de Deus; Cristo é gerado de Deus não
criado por Deus. Nós cristãos, somos nascidos de Deus ou criados por Deus?

Algumas pessoas professam crer em toda a Bíblia, porém, não crêem na regeneração de um
cristão. Elas até afirmam que a regeneração pertence aos Judeus, pois os cristãos são criados de
Novo e não regenerados. Entretanto, a Bíblia tanto ensina que os cristãos são nascidos de Deus
como também Nova criação de Deus: “Aquele que é nascido da carne é carne; e aquele que é
nascido do Espírito é espírito” (Jo 3:6); “Nos gerou de novo ... pela ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos” (lPd. 1:3). As Escrituras Nos lembram que, assim como existe o gerar da carne,
assim existe o gerar do Espírito. “Se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas velhas
passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co. 5:17). Ao mencionar a regeneração, a Bíblia Nos faz
lembrar que uma vez tivemos uma vida adâmica;ao mencionar a Nova criação a Bíblia Nos
manda pensar em Cristo e não na velha criação.

Somos criados de Novo em Cristo. Isto trata não só da posição, mas também inclui a
experiência. Posição e experiência são diferentes, mas não podem ser separadas. Segundo a
posição, os crentes de Corinto já são santificados e justificados; mas segundo a experiência suas
vidas são caracterizadas por ciúme e contenda. Podemos distinguir estas duas questões desta
forma, porém, separá-las completamente tende a fazer-nos esquecer da obra consumada de Cristo
e nos concentrar em nossa própria experiência. Quanto mais olharmos para nossa experiência,
menos experiência teremos. Se Nossos olhos voltarem-se para Cristo, seremos transformados em
Sua imagem. Não devemos olhar para nós mesmos, mas para Cristo somente e então teremos
experiência real.

O que significa viver em nós mesmos? Significa voltar a pensar em nós mesmos
constantemente. Voltando a pensar em nós mesmos, imediatamente começamos a viver em nós
mesmos. Humildade, portanto, não é pensar em si nem tampouco pensar menos de si, pois, pensar
menos, ainda é pensar em si. Nossa união com Cristo é mais do que uma união de posição; ela é,
também, uma união de vida (assim foi o Nosso estar em Adão, nesse sentido). Todos os que
olhavam para a serpente de bronze, recebiam Neles o resultado da cura (Nm. 21:9). Por isso,

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somente tirando os olhos de nós e olhando para Cristo é que temos a vitória.

PERGUNTA No 26

O que significa “sendo agora justificados pelo seu sangue” (Rm 5:9)? E qual
o sentido de “foi ressuscitado para a nossa justificação” (Rm 4:25)?

Como vamos ligar o “sendo agora justificados pelo seu sangue” (Rm 5:9) com o “foi
ressuscitado para a nossa justificação” (Rm 4:25)? Examinemos primeiro o que significa
“justificados pelo seu sangue” e “ressuscitado para a nossa justificação”, e quão ampla é a esfera
da justificação pelo sangue e a da justificação pela ressurreição.

A justificação, segundo a Bíblia, tem dois significados: (1) que você não tem pecado, e (2)
que Deus te vê como sendo justo, como sendo perfeito. Antes de pecar Adão e Eva não eram
pecadores, mas também não eram justificados por Deus. Cristo, todavia, é justo e totalmente
perfeito aos olhos de Deus. A todo cristão que vem diante Dele, Deus lhe dirá que ele é não apenas
um pecador perdoado mas que também é justo. Ele não apenas não tem nenhuma sujeira do
pecado e também está vestido com as vestes de justiça. Todo aquele que vem a Deus em Cristo é
aceito por Deus, assim como Cristo é aceito.

Qual é a diferença entre justificação pelo sangue e justificação pela ressurreição? Nosso
caso criminal diante de Deus é concluído pelo sangue do Senhor Jesus, porque Ele derramou Seu
sangue para anular Nosso caso. Mas somos aceitos por Deus através da ressurreição do Senhor
Jesus. Muitos cristãos compartilham de um erro comum ao pensar que o perdão dos pecados é
tudo. Na verdade devemos Nos regozijar pelo perdão dos pecados; entretanto, o que Deus Nos dá
em Cristo é muito mais do que apenas perdão. Devemos compreender que o perdão não é o todo
da salvação. Alguns têm expressado o pensamento de que se apenas puderem subir ao céu ficarão
satisfeitos; outros creem que se tão somente puderem ficar de pé, do lado de dentro da entrada do
céu, ficarão contentes. Pensando dessa forma, revelamos nossa grande ignorância com respeito à
graça de Deus.

As Escrituras Nos dizem que a graça de Deus obteve para nós não apenas o perdão dos
Nossos pecados mas também uma posição gloriosa, que é sermos aceitos aos olhos de Deus
quando chegamos diante Dele. “Para o louvor da glória da sua graça, na qual Nos tem aceito em
favor (ou aceitação) no Amado” (Ef 1:6-Darby). Somos aceitos e também perdoados. O ladrão
moribundo na cruz é aceito por Deus tanto quanto os apóstolos João, Pedro e Paulo. Aos olhos de
Deus, aquele que está em Cristo é imaculado e também inculpável. O que significa imaculado?
Suponhamos que minha mão seja cortada. Depois que o corte é sarado ainda permanece uma
cicatriz. Embora não haja mais perigo hoje, a cicatriz é prova de que uma vez um acidente
aconteceu. Mas a Bíblia Nos diz que Deus é capaz de Nos salvar até ao ponto de não haver
mácula. Isto é, Deus pode Nos salvar até ao ponto de não lembrarmos da nossa vida pecaminosa
passada, e não Nos sentiremos incomodados. A obra de Deus é sempre tão perfeita. Ele não
apenas perdoa Nossos pecados mas também Nos torna justos.

O sangue faz expiação pelos nossos pecados diante de Deus e este é o lado objetivo. O
sangue também purifica a nossa consciência (Hb, 9:14). Cada vez que você pensa no pecado Você
se lembra de como tem sido purificado dos seus pecados pelo sangue e seu coração tem paz. Este
é o lado subjetivo do sangue. O Senhor Jesus derramou Seu sangue para expiar Nossos pecados

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diante de Deus, resolvendo assim, o problema do pecado. Ao mesmo tempo Seu sangue purifica a
nossa consciência. O que é a consciência? Sempre que pecamos existe dentro de nós aquela
palavra que aponta para o Nosso pecado e Nos incomoda. O sangue do Senhor pode purificar a
nossa consciência e tomá-la sem ofensa (Atos 24:16). Se um cristão experimenta acusação
frequentemente em sua consciência, isto não indica humildade da sua parte; pelo contrário, indica
incredulidade na palavra de Deus e desprezo pela obra de Cristo. Nossa consciência não deve
estar sob constante acusação pelos Nossos antigos pecados; devemos crer que o sangue já os
lavou.

Havia uma mulher que tinha mais de cinquenta anos. Há uns vinte anos atrás ela cometeu
um terrível pecado e continuou Nele durante muitos meses. Embora tivesse se arrependido há
muito tempo, sempre havia uma voz de acusação dizendo que tinha cometido um pecado
imperdoável. Ela, consequentemente, não tinha paz. Um dia encontrou um pregador a quem
revelou sua história, tristeza e inquietação. O pregador lhe perguntou se ela já havia lido 1 João
1:7. Ela disse que sim. Então ele sugeriu que os dois o lessem Novamente principalmente a última
parte do versículo: “e o sangue de Jesus seu Filho Nos purifica de todo pecado”. Depois lhe
perguntou: “A parte daquele pecado particular, você tem cometido quaisquer outros pecados?”
“Sim, tenho cometido outros pecados, mas todos eles foram purificados pelo sangue, enquanto
que este permanece sem purificação” respondeu a mulher. “Mas minha Bíblia diz: purifica de
todo pecado”, e não “purifica-nos de outros pecados” continuou o pregador.

Ele também pediu a ela que lesse o versículo Nove com ele: “Se confessarmos os Nossos
pecados, ele é fiel e justo para Nos perdoar os pecados e Nos purificar de toda injustiça”. Depois
de ler perguntou: “Como o Deus fiel e justo perdoaria e purificaria você?” Ela respondeu:
“Confessando meus pecados”. “Você já confessou?” “Já confessei centenas de vezes.” “Bem,
Deus diz que se você confessar seu pecado, Ele perdoará e purificará você. Você confessou e Ele
já te perdoou e purificou.” Ao que ela respondeu: “Mas eu não sinto isto”. “Tem alguma
importância como você se sente, se Deus No céu já perdoou e purificou você?” “Não, realmente
não importa,” respondeu ela.

Mais tarde eles oraram juntos. Mas antes de orar o pregador disse a ela: “A oração só é
eficaz se você crer naquilo que a Bíblia diz; a oração é inútil se você não crê.” Em palavras
simples ele a encomendou a Deus, pedindo a Ele que a fizesse crer que seu pecado tinha sido
perdoado e purificado. Então ela orou dizendo: “Ó Deus, minha falta anterior foi não crer na obra
de Cristo. Agora eu creio em Sua obra, eu creio em Tua palavra. Portanto, meu pecado já havia
sido perdoado e purificado bem antes.” Alguém encontrou esta irmã mais tarde e perguntou como
ela estava. Ela prontamente respondeu: “Bem, muito bem!”

Muitos não estão claros neste ponto, e, consequente, veem diariamente seus pecados e não o
Salvador do pecador; veem seus pecados e não a graça de Deus; veem seus pecados e não a obra
de Cristo. A ironia de tudo isto é: qualquer que pensa mais Nos seus pecados, peca mais. Se
alguém olha para o Senhor Jesus e crê em Sua obra consumada, logo esquecerá do seu pecado
particular. Somos salvos olhando para o Senhor e não lembrando sempre de nós mesmos. Quanto
mais alguém dá atenção a um pecado particular, mais difícil se tornará para ele se livrar daquele
pecado. Mas se olhar para o Senhor, será transformado de glória em glória, segundo a imagem do
Senhor (2Co. 3:18).

Somos justificados pela ressurreição, e este é o aspecto positivo. Sendo ressuscitado dos
mortos Ele Nos comunica a Nova vida. Esta vida em nós é tão justa quanto o Senhor é justo; ela

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não pode pecar. De modo que, quando Deus vê esta vida em nós Ele Nos considera justos. A
ressurreição de Cristo não apenas Nos dá Nova vida, mas faz com que nossa vida esteja escondida
com Cristo em Deus (Cl 3:3). Subjetivamente falando, Cristo é a nossa vida; Ele habita em nós. A
vida que obtemos na ocasião da regeneração é uma vida de ressurreição. Objetivamente falando,
entretanto, nós aparecemos diante de Deus em Cristo. Temos uma Nova posição que leva a Deus
olhar para nós como se estivesse olhando para Cristo. Por isso não precisamos tremer com medo
ao Nos aproximarmos de Deus; podemos, ao invés disso, dizer: Aleluia! Podemos Nos aproximar
de Deus com ousadia e em plenitude de fé. Podemos dizer a Ele: Tu és Nosso Pai e nós somos
Teus filhos. Quem pode então Nos condenar, pois Deus é quem Nos justifica? Quando
comparecemos diante Dele em Cristo, não existe nada que possa ser mais lindo. Num hino escrito
por Catesby Paget, encontramos estas palavras:

Tão perto, tão perto de Deus,

Não posso mais perto estar;

Pois na Pessoa do Seu Filho

Estou tão perto quanto Ele.

Tão querido, tão querido de Deus,

Mais querido não posso ser;

Com o amor com que Ele ama o Filho,

Tal é o Seu amor por mim.

A vida dentro de nós é dada por Cristo, mas a nossa posição diante de Deus também é dada
por Cristo. A razão porque muitos cristãos não crescem devidamente é porque a consciência
Deles está sob acusação e assim não têm liberdade diante de Deus. Quando existe um buraco na
consciência, logo a fé vaza. Se nossa consciência está sob acusação, nossa fé na oração é
sobremaneira enfraquecida.

Sendo justificados pelo sangue, Nosso problema com respeito ao pecado é resolvido; Deus
olha para nós como se não tivéssemos pecado. Sendo justificados pela ressurreição, temos Cristo
em nós como nossa vida e isto Nos dá uma Nova posição diante de Deus; Nosso relacionamento
com Deus é tal qual o relacionamento entre Cristo e Deus.

PERGUNTA No 27

Existem dois lados da crucificação de Cristo: pelos homens e por Deus. Os


versículos em Atos 2:23,36 e 3:15 falam dos homens crucificando-O, enquanto que
Isaías 53:6,10 falam de Deus crucificando-O. Que parte da Sua crucificação é feita
pelos homens e que parte é feita por Deus?

Estudando as Escrituras podemos ver claramente que a crucificação de Cristo tem tanto o
aspecto dos homens, quanto o aspecto de Deus. Considerando as sete palavras que o Senhor falou

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da cruz, podemos saber que parte da Sua crucificação foi feita pelos homens e que parte feita por
Deus. Segundo a nossa estimativa humana, Sua crucificação durou seis horas. Durante as três
primeiras horas Ele falou três palavras; durante as três últimas horas Ele pronunciou quatro
palavras. Por que Ele não disse mais nem menos durante as três primeiras horas? Após estudo
cuidadoso saberemos que as três primeiras horas da Sua crucificação é o período da obra dos
homens, enquanto que as três últimas é o período da obra de Deus.

As três primeiras horas duraram de nove da manhã ao meio-dia (Mc. 15:25), quando o
Senhor foi crucificado, debochado, repreendido e escarnecido pelos homens. Todos os Seus
sofrimentos foram colocados sobre Ele pelos homens.

Mas as três últimas horas, que se estenderam do meio-dia às três da tarde, foram as horas em
que Ele sofreu nas mãos de Deus. Pois, durante estas três horas as trevas cobriram toda a terra, um
acontecimento que certamente não vinha dos homens. O véu No templo foi rasgado
repentinamente de alto a baixo; isto também estava além da capacidade humana. A terra tremeu,
as rochas se fenderam e as sepulturas se abriram. Obviamente nada disso foi obra dos homens.
Tudo isso foi feito por Deus.

Durante a primeira parte da crucificação de Cristo, os homens fizeram a Ele tudo o que
podiam; na segunda parte da Sua crucificação, Deus também fez tudo o que Ele possivelmente
podia fazer. A primeira parte expressa todo o ódio dos homens para com Deus; a segunda parte
revela todo o amor de Deus para com os

homens. Por isso a cruz, como algumas pessoas dizem, tomou-se o ponto de encontro do amor e
do ódio.

Examinemos primeiro as três palavras pronunciadas durante as três horas iniciaIs

A primeira declaração foi: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc
23:34). Como poderia Deus perdoar aqueles que assassinaram uma pessoa inocente? Como podia
o Senhor orar dessa forma? Se Deus respondesse esta oração não seria culpado de injustiça? Ao
responder estas perguntas precisamos entender daramente que o Senhor Jesus foi crucificado para
levar o pecado do mundo. O Deus justo só podia perdoar Nossos pecados na cruz, porque “sem
derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). E o Senhor Jesus só podia fazer tal oração
na base da cruz. De outra forma o perdão de Deus e a oração do Senhor seriam injustas.

A segunda declaração foi: “Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás
comigo No Paraíso” (Lc 23:43). Como podia um malfeitor entrar No Paraíso? Ora, se todos os
malfeitores tivessem permissão para entrar No Paraíso como poderia ser ainda um jardim de
prazer? Entretanto, todas estas considerações são raciocínios humanos. Aos olhos de Deus, não
apenas os malfeitores não podem entrar No Paraíso, porque até mesmo as assim chamadas
“pessoas-boas” não podem entrar lá, porque todos pecaram em Adão (Rm 5:12). O Senhor Jesus
podia dizer tal palavra ao malfeitor arrependido, porque Ele é o único mediador entre Deus e os
homens (1 Tm. 2:5), como também o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Por meio do Espírito eterno Ele
se ofereceu imaculado a Deus, a fim de que Seu sangue pudesse purificar nossa consciência das
obras mortas (Hb 9:14). O malfeitor No Paraíso não é mais um malfeitor, mas alguém cuja
consciência foi purificada das obras mortas. Todos os que recebem ao Senhor, isto é, todos os que
crêem No Seu Nome, provam a mesma experiência.

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A terceira declaração foi: “Disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Então disse ao
discípulo: Eis aí tua mãe” (Jo 19:26, 27). Aqui nos é mostrado que, devido àquilo que o Senhor
fez na cruz, nós agora temos um novo relacionamento com Deus e com os homens; agora somos
concidadãos dos santos e da família de Deus. Podemos ter comunhão não apenas com Deus mas
também uns com os outros. Não somente João recebeu Maria como a sua mãe naquela ocasião,
segundo a palavra do Senhor, mas até mesmo Paulo (veja Rm 16:13) e todo o restante dos santos
através dos séculos, podem ter o mesmo sentimento. Quão maravilhoso é isto. Partilhar da mesma
vida dá a todos os santos um Novo relacionamento.

Depois que o Senhor Jesus terminou de pronunciar estas três palavras a terra se cobriu de
trevas. Deus tinha ouvido sua oração e pôs sobre Ele todos os pecados do mundo. Aquele que não
conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós. Deus portanto agora nos salva não apenas na base
da graça mas também na base da Sua justiça. Ele Nos concedeu misericórdia, mas também Nos
deu Um que pagou o preço por todos nós e retribuiu cada centavo que devíamos.

E assim, por volta das três horas da tarde, o Senhor começou a pronunciar mais quatro
palavras.

A quarta declaração foi: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46)
Muitos mártires que sofreram perseguições e punições severas, sentiram a proximidade de Deus e
passaram por seus sofrimentos com dignidade. Entretanto quão mais próximo Deus teria estado
do Nosso Senhor (cuja vida havia sido gasta em obediência a Deus) se Ele estivesse sendo
crucificado meramente pela perseguição vinda dos homens! Como poderia Deus abandoná-Lo
quando os homens O abandonaram? Louvores e graças sejam dadas a Deus porque na cruz Nosso
Senhor não sofreu a morte de um mártir; antes, Ele morreu carregando os pecados de toda a
humanidade, pois Deus pôs nossos pecados sobre Ele e foi Deus mesmo quem O crucificou. Após
ter pronunciado as três primeiras palavras, Ele sabia que Deus tinha ouvido Sua oração e que
havia colocado sobre Ele todos os pecados da humanidade. Sabia também, que Deus O havia
abandonado.

A quinta declaração foi: “Tenho sede” (Jo 19:28). A sede é uma condição no inferno; sede
é a característica dos sofrimentos No inferno. O homem rico de Lucas 16 estava no fogo no Hades
e não tinha nem mesmo uma gota de água para refrescar sua língua. Não existe lugar onde haja
mais sede do que no inferno. Neste momento particular o Senhor sofreu a penalidade do inferno
no lugar dos homens e provou a morte por cada homem (Hb 2:9).

A sexta declaração foi: “Está consumado” (Jo 19:30). Isto indica que a obra da redenção
está consumada, pois o Senhor a esta altura havia carregado o pecado do mundo e recebido a
penalidade do pecado pelo mundo.

A sétima declaração foi: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23:46).
Momentos antes o Senhor havia clamado: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Assim foi porque Ele estava na posição de quem carrega os nossos pecados. Mas agora Ele
pronuncia a palavra “Pai” para indicar que a obra da redenção foi realizada e que a Sua comunhão
com o Pai é agora instantaneamente restaurada. O Senhor deu Sua vida voluntariamente e
entregou-a a Deus: “Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar,
e tenho poder para retomá-la” (Jo 10:18). Se assim não fosse, então nem mesmo uma centena de
cruzes poderiam tirar a vida do Nosso Senhor.

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Nossos pecados são assim tirados pelo mais do que justo Senhor. Segundo Sua justiça Deus
deve Nos perdoar, porque Cristo já morreu e Se tomou uma oferta pelo pecado.

Entretanto, algumas pessoas podem perguntar: Visto que o Senhor realiza a obra da
redenção por Sua morte na cruz, como podia perdoar os pecados das pessoas antes de Sua morte?
Isto é porque, mesmo antes Dele morrer, Deus já havia reconhecido a cruz como um fato
consumado: “Todo aquele que Nele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16); “Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (6:54). Estas passagens Nos
mostram que mesmo quando o Senhor estava na terra todos os que criam Nele tinham a vida
eterna. Além do mais, lemos No Apocalipse sobre o “livro da vida do Cordeiro que foi morto
desde a fundação do mundo” (13:8; lPd. 1:19,20). O Senhor é verdadeiramente o Cordeiro que foi
morto antes da fundação do mundo. Consequentemente, a igreja não é limitada pelo espaço (pois
o corpo de Cristo é um), e a cruz não está restrita pelo tempo. (Pois até mesmo no período do
Antigo Testamento Deus podia perdoar as pessoas. Sob a Antiga Aliança (veja Nm 35:25-28), se
qualquer pessoa matasse outra acidentalmente, podia fugir para uma cidade de refúgio onde
ninguém poderia lançar mão da sua vida e onde se tornaria livre após a morte do sumo-sacerdote.
Isto na Tipologia mostra que mesmo antes da morte de Cristo, se alguém se escondesse em Cristo,
estaria salvo e se tornaria livre depois da morte de Cristo que é o sumo-sacerdote de Deus.

PERGUNTA No 28

João 19:30 diz: “Está consumado” enquanto que Paulo diz em Colossenses:
“cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo” (1:24). O que está
consumado e o que ainda resta?

À primeira vista estas duas passagens podem parecer contraditórias, mas, por meio de
leitura cuidadosa, a particularidade de cada uma pode ser vista.

“Está consumado” aponta para a propiciação do Senhor Jesus. Refere-se à penalidade que o
Senhor recebeu na cruz; fala dos sofrimentos pelos pecados que Ele recebeu das mãos de Deus.

“Aflições” é algumas vezes traduzida como “tribulações” ou “angústias”. As “aflições”


aqui referem-se àquelas advindas das mãos humanas. Das aflições que Cristo recebeu das mãos de
Deus, ninguém mais poderia compartilhar; tudo foi cumprido somente no Senhor. Mas ao mesmo
tempo ainda existe um resto daquelas aflições de Cristo, que Ele sofreu das mãos humanas. E esta
é a parte à qual todo cristão é chamado a partilhar e cumprir.

A obra da redenção foi realizada. Mas, infelizmente, muitos cristãos parecem não
compreendê-la claramente. Alguns ainda estão pensando que se a conduta Deles for boa, eles, de
alguma forma, estarão em melhores condições de ir para o céu e gozarão de maior confiança para
entrar Nele; mas se não se conduzirem bem, não terão ousadia para entrar no céu com intrepidez,
mas se sentirão como que entrando no céu engatinhando. Nada poderia estar mais longe da
realidade. Suponhamos que o malfeitor que foi crucificado com Cristo tenha continuado a viver
depois de crer no Senhor. Suponhamos que ele tenha descido da cruz e continuado a viver por
muitas décadas mais Suponhamos ainda mais que durante este anos sua obra tenha sido dez vezes
mais que a de Paulo, e seu amor foi dez vezes mais que o amor de João e que ele tenha salvo dez
vezes mais pessoas do que Pedro. Isto faria qualquer diferença se ele fosse para o céu depois ou

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No dia em que foi crucificado? Isto o tornaria mais digno depois de todos aqueles anos? Todos os
que conhecem a graça de Deus reconhecem que ele não seria nem um pouco mais digno do que
No primeiro dia. Por que? Porque a qualificação para se entrar No céu tem como base o Senhor e
Sua obra. Se alguém crê, jamais é desqualificado para o céu, e ninguém é jamais digno de entrar
No céu. A obra da redenção foi realizada por Cristo e ninguém pode acrescentar nada a ela.
Mesmo que alguém se tome No que comumente o mundo reconhece como sábio, sua qualificação
para o céu ainda tem como base o “Está consumado” de Cristo.

Entretanto não interpretemos erradamente pensando que os crentes têm permissão para
pecar. Longe de nós tal pensamento. Se um crente salvo não procede bem, ele não poderá entrar
No reino, embora não seja barrado de entrar no céu. Qualquer que seja a nossa conduta, ela não
altera nossa entrada no céu. Até mesmo Deus não pode mudar a situação, porque quando o Senhor
Jesus foi crucificado eu fui julgado e portanto estou morto. Como pode então Deus ser injusto?
Visto já ter aceito a morte de Cristo como minha morte, Ele não mais me julgará e condenará. Está
consumado; e isto é imutável. Todavia, se continuarmos pecando, seremos colocados fora do
reino, isto é, fora da glória do reino.

Existem dois lugares em Romanos que referem-se especialmente à glória de Deus. Um é:


“Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23);o outro é: “Por quem obtivemos
também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança
da glória de Deus” (5:2). Carecer da glória de Deus é devido aos pecados; regozijar na esperança
da glória de Deus é devido ao sangue. Qualquer perda que o pecado tenha contraído, o sangue não
somente repôs mas acrescentou muito mais Por causa da morte de Cristo nós podemos regozijar
na esperança da glória de Deus.

A obra redentora de Cristo está consumada, mas as aflições de Cristo permanecem para
serem preenchidas. Ele já realizou a redenção; porém, todos conhecem o que Ele fez?
Provavelmente muitos não conhecem. For esta razão devemos ir e dizer ao mundo o que Cristo
realizou. Cristo mesmo só pregou o evangelho àqueles que tiveram contato direto com Ele e, por
isso, esteve limitado às pessoas da Sua geração. Suas aflições entre os homens ainda restam ser
cumpridas; por isso devemos aceitar a responsabilidade de pregar o evangelho. Na pregação do
evangelho as aflições são inevitáveis Pregar o evangelho pode parecer tolice para o mundo;
distribuir um folheto pode provocar rubor na face. Entretanto, estas aflições e outras mais é o que
devemos aceitar. Pois, o que Cristo realizou é apenas a obra da redenção; ainda resta algo nas
tribulações, angústias e aflições envolvidas na divulgação das novas desta obra redentora. Por isso
devemos ir e espalhá-la.

PERGUNTA No 29

Qual é a diferença entre “Cristo morreu por nós” (Rm 5:8) e “Cristo morreu
por Nossos pecados” (1 Co. 15:3)?

“Cristo morreu por nós” significa que Cristo morreu por nós pecadores. O propósito da
Sua morte é salvar a nós pecadores. O que Ele realizou é para nós; isto é, para nos ganhar e nos
livrar de nós mesmos.

“Cristo morreu por nossos pecados” significa que Ele morreu pelos pecados cometidos por
nós pecadores. O propósito é tirar nossos pecados para que possam ser perdoados e nos salvar da

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penalidade e poder do pecado, afim de que não estejamos mais sob o seu domínio.

PERGUNTA No 30

No plano redentor de Deus os cristãos trocam de posição com Cristo? Em


outras palavras, Aquele que é justo se torna injusto e nós que somos injustos Nos
tornamos justos (2Co 5:21)?

No plano redentor de Deus o cristão e Cristo não trocam de lugar, mas existe uma união
envolvida: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que Nele
fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5:21).

Em parte alguma das Escrituras somos ensinados que os cristãos e Cristo trocaram de
posições. For que então dizemos frequentemente: Sou salvo porque, embora tenha cometido
pecados, Cristo morreu por mim? Precisamos compreender que tal modo de falar se refere
exclusivamente ao Nosso bem estar pessoal. A pergunta aqui feita, entretanto, tem a ver com a
questão da posição do plano redentor de Deus. Do ponto de vista do nosso ganho pessoal é
verdade que Cristo morreu por nós; mas no plano redentor de Deus se eu disser que Cristo
permaneceu em meu lugar de pecador e morreu por mim, isto torna Deus injusto. Pois como pode
Deus condenar Cristo como injusto sabendo muito bem que Cristo é justo? Mas também como
pode Deus justificar a mim sabendo que sou um pecador? Por isso no plano redentor de Deus o
cristão e Cristo não trocam de posições; ao invés disso eles entram numa união.

Leiamos Novamente 2Coríntios 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez
pecado por nós; para que Nele fôssemos feitos justiça de Deus”; Deus fez Aquele que nunca
pecou e que não sabia o que era o pecado, ser pecado por nós. A frase “fez pecado” não significa
apenas levar ou carregar nossos pecados. Porque se for apenas levar, então existe sempre a
possibilidade de não levar; se for carregar pode ser simplesmente carregar No corpo. Todavia, na
cruz Cristo não apenas levou ou carregou nossos pecados; Ele foi feito pecado por nós. O Senhor
Jesus estava a tal ponto unido a nós que foi feito pecado como também levou e carregou os Nossos
pecados. Portanto, quando Deus O julgou, Ele julgou ao pecado; quando Deus O puniu, Ele puniu
ao pecado.

Existem três coisas que devemos saber sobre o plano redentor de Deus e três frases que
podem resumi-las: a primeira é “Deus e eu”; a segunda “Deus por mim”; e a terceira “Deus em
mim”. “Deus e eu” enfatiza o fundamento para o sucesso do plano redentor de Deus. “Deus por
mim” realiza a redenção de Deus para mim. E “Deus em mim” opera em mim o que Deus
realizou. Pois, em a Palavra se tornando carne, Deus e o homem são unidos em um No Senhor
Jesus. Isto é “Deus e eu”. Porque o Senhor é Deus e homem, Ele pode morrer e ressuscitar por
nós, tornando-Se assim o poderoso Salvador. Para Deus habitar em mim Ele precisa enviar do céu
Seu Espirito Santo. Quando o Senhor estava na terra Ele estava vestido de carne; mas habitando
em nós hoje Ele está vestido com o Espirito. Por isso alguns dizem que o Espírito Santo é o
segundo Ego do Senhor Jesus Cristo. O Espirito Santo vem operar em nós e realizar tudo aquilo

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que Deus havia realizado em Cristo. Se não houver “Deus e eu”, não pode haver “Deus por mim”
nem tampouco “Deus em mim”. Se o Senhor Jesus não tivesse nascido e Se tornado um homem
Ele nunca poderia morrer. Morrendo na cruz Ele não levou o pecado do mundo na capacidade de
uma terceira pessoa. Não, Ele se tomou pecado por nós e morreu por nós na capacidade de um
homem.

Por um lado, é verdade que Deus colocou todos os nossos pecados sobre o Senhor e assim
Ele os carregou. Por outro lado, No plano redentor de Deus, Ele julgou o Senhor Jesus e fazendo
assim Ele nos julgou e julgou o pecado. Podemos, portanto, agradecer a Deus hoje o fato do
Senhor ter Se tornado pecado por nós na cruz.

Qual é o resultado de Cristo ter sido feito pecado por nós? Nos tornamos justos? Sermos
justos Nele? Não! Mas para que “Nele fossemos feitos justiça de Deus”, conforme diz o Nosso
versículo. Devemos observar não apenas a palavra “Nele” mas também às palavras “justiça de
Deus”. Ao ser feito pecado por nós, Cristo não nos leva a sermos justos nem faz com que não
sejamos mais pecadores; ao invés disso Ele Nos leva a ser a justiça de Deus. Todo cristão salvo se
torna a justiça de Deus. É a justiça de Deus que nos salva. Foi Deus quem fez Cristo ser feito
pecado por nós. Julgando o Senhor Jesus, Deus julgou a nós como também julgou ao pecado. Ele
nos reconhece como justos, mas não porque sejamos justos; esta é uma questão puramente
objetiva.

As pessoas podem, segundo seus pontos de vista, dizer que não somos muito bons. O fato é
que não somos feitos justos em Cristo, mas nos tornamos a justiça de Deus em Cristo, o que prova
que é a justiça de Deus que Nos salva. Se entendermos este ponto, nossos problemas serão
grandemente diminuídos em nosso viver diário. Para o Senhor, o estar na cruz é para que Ele seja
considerado como pecado sobre a cruz. Alí Deus condenou o pecado e resolveu o problema do
pecado. E por isso nós estamos livres.

PERGUNTA No 31

Quando nossa união com Cristo, objetiva e subjetivamente é realizada?

Considerando o lado objetivo, podemos dizer que nossa união com Cristo é realizada na
ocasião da sua morte na cruz. “Um morreu por todos, logo todos morreram” (2Co 5:14). Quando
Cristo morreu, Ele levou todas as pessoas do mundo para a cruz com Ele e, portanto, todos
morreram Nele.

Considerando o lado subjetivo, nossa união com Cristo é realizada no momento em que
nascemos de Novo, isto é, pela virtude da ressurreição do Senhor. Lendo Romanos 6:3-5 e
também o capítulo 8, podemos claramente ver este fato. Nossa união com Cristo no lado subjetivo
é realizada em Sua ressurreição. O que representa então o batismo? Representa morte. Ao sermos
batizados estamos dizendo objetivamente que já morremos, pois somente os mortos são
enterrados. Estamos reconhecendo que a morte é real e por isso aceitamos o sepultamento. Mas a
ressurreição vem depois do enterro: levantar depois de ser sepultado é ressurreição. Em nossa
vida diária não estamos buscando a morte, pois confessamos que já morremos em Cristo; pelo
contrário, estamos permitindo que a vida de ressurreição seja manifestada diariamente através de
nós. Romanos 6 exige que façamos uma coisa que é submeter (ou consagrar). As mentes e

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corações de muitas pessoas são propensas a experimentar a morte, mas elas são incapazes de se
mortificarem a si mesmas. Devemos reconhecer que após crer No Senhor, a primeira coisa que
devemos fazer é sermos enterrados, e não morrer. Devemos reconhecer nossa morte e não
suplicar por ela.

Existe outro ponto a ser levantado nesta discussão. Suponhamos que as pessoas falem sobre
a cruz, declarando que primeiro o Senhor morreu na cruz por mim; segundo, o Senhor morreu na
cruz como sendo eu; e terceiro, o Senhor morreu na cruz comigo. Tal declaração é bíblica?
Deixando de lado os dois primeiros pontos, focalizemos o terceiro. Existe algum erro em dizer “o
Senhor morreu na cruz comigo”? Examinando o Novo Testamento não podemos encontrar tal
declaração em parte alguma. Ao invés disso a Bíblia diz: “Estou crucificado com Cristo” (Gl
2:20). Gálatas 6:14 também diz que pela cruz do Senhor Jesus Cristo você e eu fomos
crucificados para o mundo. Lendo apenas estes dois versículos devemos saber que nós morremos
com Cristo e não Cristo morreu conosco. Isto é porque nossa união com Sua morte é um fato
objetivo. Cristo morreu uma vez e para sempre. Nos já morremos em Sua morte.

Dizer que Ele morreu conosco seria transformar aquilo que é objetivo naquilo que é
subjetivo; e isto significaria que Cristo deve ser oferecido muitas vezes: hoje Cristo deve morrer
com o Sr. Chang e amanhã com o Sr. Yu. Se mil pessoas cressem Nele, Ele teria que morrer de
novo mil vezes. Lembremos bem disso, que as Escrituras só Nos falam esta verdade: “nós
morremos com Cristo” e não que “Cristo morreu conosco”. Não pense que a inversão da ordem
não tenha importância, pois de fato tal inversão desordena a verdade. A palavra do Senhor não
permite inversão.

PERGUNTA No 32

Por que a Bíblia diz que estamos “No Senhor”, “em Cristo”, ou “em Cristo
Jesus”, mas nunca “em Jesus” ou “em Jesus Cristo”?

Primeiramente estejamos inteirados de que a passagem em 1Tessalonicenses 4:14 traduzida


“assim também os que dormiram em Jesus” deveria ser traduzida como “os que dormiram
através de Jesus (ASV, -margem). Em nenhum outro lugar da Bíblia tal frase como “em Jesus” ou
“em Jesus Cristo” pode ser encontrada em ligação com o Nosso relacionamento com Cristo. As
Escrituras sempre dizem “No Senhor” ou “em Cristo” ou “em Cristo Jesus”, porque estas frases
comunicam algo de tremendo significado em relação a nós, como também em relação à expiação.

“Jesus” é o Nome que Lhe foi dado No Seu nascimento. É o Seu humilde Nome como
homem “Cristo” (cujo significado é O Ungido) é o Nome que Lhe foi dado quando ungido por
Deus após Sua ressurreição (veja Atos 2:36). É o Seu Nome glorioso.

“Jesus Cristo” transmite a ideia de que este Jesus humilde deverá ser o Cristo No futuro;
enquanto que “Cristo Jesus” indica que o Cristo que agora existe é o mesmo Jesus de antes.

Por que não “em Jesus” ou "em Jesus Cristo”? Porque nós não somos unidos ao Senhor
enquanto Ele vivia na terra. Não temos nenhuma união com Ele em Seu lado como Filho do
Homem. “Jesus” é o Seu Nome como Filho do Homem. Ele como Filho do Homem está muito
acima de todos os homens em virtude e em beleza. Em tal vida não temos porção nenhuma. O

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significado de “Jesus” é Salvador. Não estamos unidos com Jesus porque, juntos com Ele, não
salvamos as pessoas.

As expressões “No Senhor”, “em Cristo”, ou “em Cristo Jesus” indicam que devido à Sua
ressurreição dentre os mortos, Deus O fez Senhor e Cristo, e neste aspecto nós temos participação
com Ele, pois temos participação na Sua ressurreição. Deus Nos colocou em Sua ressurreição.
Nossa experiência subjetiva é efetivada em Sua ressurreição.

“Jesus” é um Nome pessoal, enquanto que “Cristo” é um Nome coletivo e também pessoal:
“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora
muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo” (1Co. 12:12). Aqui não diz “assim também
é Cristo e a Igreja”; diz simplesmente Cristo. A cabeça é Cristo e o corpo também é Cristo. E este
é o Cristo coletivo. A Bíblia menciona o Nome de “Cristão” — isto é, “Cristo-homem” ou
“Cristo-um” — porém ela nunca diz “Jesus-homem”. Porque o cristão é uma parte de Cristo.
“Jesus” refere-se à Sua experiência na terra como o Filho do Homem. Sua vida é muitíssimo
maravilhosa, porém está fora do toque ou alcance dos homens. Mas nós somos cristãos,
Cristo-homens. A cabeça é Cristo, o corpo também é Cristo. Se compreendermos o que é Cristo,
saberemos quão profunda é a nossa união com Ele. A cabeça é Cristo, por isso o corpo também é
Cristo. Se o pequeno dedo de um homem quebrasse ele teria uma cicatriz ou defeito. Assim
também se um cristão pudesse perecer, então Cristo teria um defeito. Uma vez que estamos em
Cristo, estamos Nele para sempre, pois lemos em Efésios: Cristo para “santificar” a igreja,
purificou-a “com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (2:26,27).

“Jesus” fala da Sua própria experiência pessoal — Deus O envia para ser o Salvador. De
modo que, quando a Bíblia fala Dele como homem, ela O chama de Jesus e nunca de Cristo. Após
Sua ressurreição, entretanto, se a Bíblia não O chama de Cristo, pelo menos ela O identifica como
Senhor. Isto é para enfatizar a Sua ressurreição e soberania. Embora haja referências a Ele Nos
Atos e nas Epístolas como Jesus, o que está em vista principalmente é a Sua humanidade. Por esta
razão, quando Nos dirigimos a Ele hoje não devemos chamá-Lo simplesmente de Jesus, mas de
Senhor Jesus.

PERGUNTA No 33

Em que momento fomos crucificados com Cristo: entre o período em que foi
pregado na cruz até a entrega do Seu espírito, ou foi quando Ele expirou?

Se entendemos a pergunta de número 32, podemos agora concluir que fomos crucificados
com Cristo No momento particular em que Ele expirou. Porque antes disso Ele estava ocupado
com a obra da expiação, carregando os Nossos pecados e morrendo por nós. Se a nossa
crucificação se desse durante estes momentos, então nós estaríamos participando da Sua obra de
expiação e dali em diante Nos tornaríamos salvadores. Isto, entretanto, constituiria um erro grave.
Alguns chegaram ao ponto de explicar o assunto assim: Visto que o Senhor Jesus ficou na cruz
durante seis horas não tendo morrido de uma vez, nossa morte com Ele deve ter demorado aquelas
seis horas. Se tal fosse o caso, nós teríamos participado com o Senhor em Sua obra de expiação.
De modo nenhum! nossa morte com o Senhor ocorreu no momento em que Ele entregou Seu
espírito. Este foi o resultado: o sofrimento foi Dele, mas o resultado é Nosso. Louvamos e

52
agradecemos a Deus!

PERGUNTA No 34

Qual é a diferença entre o significado e o resultado fio sangue e da cruz? Por


que a Bíblia nunca diz que nós derramamos sangue com o Senhor, mas diz apenas
que fomos crucificados com Ele?

Para começar, precisamos perguntar a nós mesmos o seguinte: Se Nossos pecados foram
tirados diante de Deus, por que ainda temos pecado em nós? Precisamos responder qualquer
dúvida que seja levantada por esta pergunta.

A Bíblia mostra em muitos lugares como Nosso Senhor derramou sangue e em muitos
outros como Nosso Senhor foi crucificado. O significado e resultado do sangue é o mesmo que o
da cruz? Eles são permutáveis? Podemos nós, por exemplo, mudar a leitura de Hebreus 9:22:
“Sem derramamento de sangue não há remissão”, para: “Sem ser crucificado na cruz não há
remissão”? Ainda mais, podemos alterar as palavras de Romanos 6:6: “Sabendo isto que o Nosso
homem velho foi crucificado com ele” para: “Sabendo isto, que Nosso homem velho derramou
sangue com ele”? Se seus significados e efeitos são os mesmos, então eles são permutáveis Se não
são permutáveis, devem ser diferentes.

Por isso, qual é o significado e efeito do sangue? E quanto a cruz?

Examinemos primeiro o lado do sangue. A Bíblia menciona bastante sobre o sangue; na


verdade mais de quatrocentas vezes. Por que Deus exige o sangue? Por que Ele mata todos os que
ousam se aproximar Dele sem o sangue? O seguinte versículo ajudará: “A vida da carne está no
sangue; pelo que vô-lo tenha dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas;
porquanto é o sangue que faz expiação, em virtude da vida” (Lv. 17:11). Este versículo mostra
daramente que o sangue é para expiação. Onde ele faz expiação? Sobie o altar. A obra do sangue
é diante de Deus e não é, em primeiro lugar, dirigida a nós. O sangue faz expiação para nós diante
de Deus, a fim de que Ele possa considerar Nossos pecados como tirados; ele não purifica os
pecados em Nosso interior.

Mas, alguns dirão: 1João 1:7 não diz que “o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de tôdo
pecado”? Realmente, tal passagem da Escritura diz isso, mas ainda predsamos lembrar que a
purificação dos pecados pelo sangue sempre se refere à purificação diante de Deus. Quais são as
palavras que precedem este versículo? “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros”; depois prossegue: “e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de
todo pecado”, mostrando assim que a purificação é diante de Deus. O efeito do sangue é
totalmente em direção a Deus. É Deus quem exige o sangue e por isso o sangue é levado diante
Dele.

Entretanto, alguns ainda podem perguntar sobre o versículo em Hebreus 9 que diz: “Quanto
mais o sangue de Cristo ... purificará a vossa consciência” (v. 14). Devemos lembrar que a
purificação aqui se refere à purificação da consciência, e não a purificação da natureza carnal.
Nossa natureza carnal nunca é purificada pelo sangue. A palavra de Deus nunca diz que o sangue
purifica a velha natureza, ou a carne.

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O sangue só Nos purifica dos Nossos pecados diante de Deus. Ele apenas purifica nossa
consciência a fim de que tenhamos ousadia diante Dele. “Sem derramamento de sangue não há
remissão.” Com o sangue os pecados são perdoados e, portanto, temos paz. Pelo sangue do
Senhor Jesus temos ousadia para entrar no lugar santo pelo caminho que Ele nos consagrou,
aquele caminho Novo e Vivo (Hb 10:19, 20). Portanto, o sangue é que é levado para o céu; a cruz
não é levada para o céu. A Bíblia afirma que o Senhor Jesus derramou sangue, mas não que nós
tenhamos derramado sangue com o Senhor. É bom que Nos fixemos neste fato: o sangue Nos
garante o perdão diante de Deus porque ele tira os Nossos pecados.

Muitos não têm liberdade e ousadia diante de Deus porque entendem mal o efeito do
sangue; eles pensam que o sangue os purifica do pecado dentro Deles. A purificação em 1João 1:7
não se aplica ao pecado No interior, como se ele purificasse até mesmo a raiz do pecado. Este
versículo está falando da purificação diante de Deus. Só Ele exige o sangue e só o sangue do
Senhor Jesus é que satisfaz o coração de Deus. Por esta causa podemos Nos aproximar livremente
Dele pelo sangue, em qualquer ocasião. Não importa como Nos sintamos com respeito aos
Nossos pecados: se são grandes ou pequenos, grosseiros ou refinados, perdoáveis ou não
perdoáveis, todos eles foram purificados diante de Deus. “Ainda que os vossos pecados são como
a escarlata”, diz a Bíblia, “eles se tornarão brancos como a neve” (Is 1:18). O que significa isto?
Significa que Deus é capaz de apagar toda cicatriz e traço dos pecados como se você nunca tivesse
cometido pecado. Isto naturálmente aponta para sua condição diante Dele. Embora você não seja
bom No interior, todavia diante de Deus seus pecados são todos tirados de diante dos olhos Dele.

Lendo Números 20:2-9 e 21:4-9 podemos perceber rapidamente quão ruim era a condição
dos filhos de Israel No deserto. Eles pecaram e murmuraram contra Deus. Entretanto, o que
Números 23 diz a respeito Deles? “Ele não observa iniquidade em Jacó, nem vê maldade em
Israel” (v. 21). Isto era uma realidade, pois devemos observar que a questão do pecado é tratada
em duas áreas distintas: uma diante de Deus e a outra em nós. O sangue purifica Nossos pecados
diante de Deus, de modo que Ele não vê nada injusto conosco.

A Bíblia afirma alguma vez que somos justificados pela cruz? Nunca, porque a justificação
é por meio do sangue. Com o sangue diante de Si, Deus pode Nos justificar. O que é esta
justificação, isto é, o que é esta justiça? Esta justiça é a que nos torna idôneos para habitar no céu
junto com Deus. O sangue do Senhor Jesus Nos dá um lugar No céu para que possamos morar
com Deus. Podemos entrar com ousadia No céu pelo sangue. Deus sabe realmente quão valioso é
o sangue!

“Porque nesse dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; de todos os vossos pecados
sereis purificados perante o Senhor” (Lv 16:30). Aqui se diz claramente que todos os nossos
pecados são purificados diante de Deus, não dentro de nós. Em relação a nós, o sangue é limitado
à purificação da nossa consciência, para que não tenhamos mais consciência dos pecados e não
haja distância entre nós e Deus. O sangue limpa nossa consciência da acusação que provém de
todos os pecados que cometemos, mas ele não tira a nossa consciência da raiz do pecado. Em Sua
morte o Senhor levou Nossos pecados diante de Deus; por isso Seu sangue Nos púnica diante de
Deus. O sangue é para expiar Nossos pecados; não visa erradicar a natureza pecaminosa em nós.

Na verdade, na expressão “tira o pecado do mundo” de João 1:29 e na frase “Nos purifica
de todo pecado” de 1João 1:7, a palavra “pecado” em ambos os casos é singular em número. Isto
por ser um termo coletivo e refere-se a todo o problema do pecado (para uma discussão do
assunto, veja a pergunta no 7). Em nenhum dos casos o “tira” ou o “nos purifica” pode ser aplicado

54
à questão de tirar a raiz do pecado, ou nos purificar da raiz do pecado. Os dois versículos mostram
como o sangue do Senhor Jesus resolve Nosso problema do pecado.

Avançando para a segunda parte da pergunta, devemos ver que o significado e efeito da
cruz é bastante diferente do significado e efeito do sangue. O sangue está diante de Deus, a cruz
está em nós. O sangue resolve Nosso problema do pecado, a cruz resolve o problema do velho
homem. Deus não Nos deu apenas liberdade diante Dele por meio do sangue, mas Nos deu
também a cruz para que Nosso eu corrupto eu nossa carne sejam tratados.

A carne é tratada pela cruz: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências” (Gl 5:24). Aqui diz que o sangue purifica a carne? Não! Está escrito
que crucificaram a carne. A purificação aqui não tem qualquer valor. Ilustremos dessa forma:
Uma criança de verdade e uma boneca se sujam. Após ser lavada, a criança está limpa. Mas não
importa o quanto a boneca de barro seja lavada; ela nunca fica limpa porque é feita de barro. A
carne corrompida é como a boneca de barro: ela se tomou tão corrompida no todo que até mesmo
o sangue do Senhor não pode purificá-la. O único modo de tratar com a carne é crucificando-a.

Deus usa o sangue para nos purificar dos nossos pecados, mas usa a cruz para crucificar
nossa carne. Não podemos ter Nossos pecados purificados diante de Deus pela cruz, nem
tampouco podemos purificar nossa carne pelo sangue. “Sabendo isto, que o nosso homem velho
foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais
ao pecado” (Rm 6:6). No original a palavra “desfeito” e a palavra “ocupa” em Lucas 13:7 são
iguais Não significa aniquilar o corpo do pecado, mas sim tomá-lo inútil ou sem poder. Pode ser
traduzido também como “desempregado”. Após Deus crucificar o velho homem, o corpo que tem
estado sempre em sujeição ao pecado é feito sem poder e não é mais escravo do pecado, como se
estivesse desempregado. Nós cristãos não devemos pecar; todavia, o caminho da vitória jaz não
em nosso próprio conceito, mas segundo o que está na Palavra de Deus. Hoje não precisamos
pedir a Ele para realizar a obra de santificação por nós; devemos antes agradece-Lo por já nos ter
crucificado na cruz. Não precisamos crer que Deus o fará, mas sim que Ele já o fez Enquanto que
a promessa é para ser ganha por meio da oração, o fato é ganho por meio da simples fé. A
crucificação do velho homem com o Senhor é um fato consumado. É bom que creiamos nisso.
Creia simplesmente e nenhuma tentação pode nos tocar. O único caminho da vitória é habitar no
Senhor pela fé, permanecendo No fato consumado no Senhor. Qualquer desvio diminuirá o
progresso.

“Estou crucificado com Cristo” (Gl 2:20). Aqui não diz que eu derramei sangue com
Cristo, mas sim que este meu Eu que não é bom, foi crucificado com Cristo. Estejamos
absolutamente esclarecidos: o sangue trata com pecados e a cruz com a carne. O sangue nos dá o
perdão e absolvição; a cruz nos dá a liberação e livramento do poder do pecado, a fim de que não
mais sejamos escravos do pecado. O sangue está relacionado com a salvação, a carne está ligada
com a vitória. O sangue resolve nossos pecados diante de Deus; a cruz dissolve os nossos próprios
egos. Assim como cremos no sangue, creiamos na cruz. E é bom que creiamos em ambos
diariamente.

“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus” (Rm 6:11). “Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como
instrumentos de iniquidade; mas ... vossos membros a Deus como instrumentos de justiça” (v.
13). Agora estamos fazendo duas coisas: uma é permanecer No versículo 11, crendo que
morremos e que o corpo do pecado se tomou desempregado; a outra é apresentar Nossos

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membros como instrumentos de justiça a Deus. Se o Nosso apresentar é inadequado, ainda
cairemos. Se não fizermos o que Deus quer que façamos, ainda poderemos fracassar. Devemos
confiar de um lado e obedecer do outro. Confiar naquilo que já foi realizado e obedecer o que
Deus está pedindo, introduzirá espontaneamente a vitória.

PERGUNTA No 35

A Bíblia declara que o Senhor Jesus morreu por todos. Se uma pessoa não crer
No Senhor Jesus ela perecerá?

“Pois o amor de Cristo Nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos,
logo todos morreram” (2 Cor. 5:14). O “um” aqui é Cristo. O “todos” por quem Ele morreu são
todos os homens. Ora, disso pode parecer que mesmo uma pessoa não crendo No Senhor Jesus,
ela não deve morrer. Todavia, No Evangelho de João lemos que “quem não crê já está julgado;
porquanto não crê no Nome do unigênito Filho de Deus” (3:18). O que pode ser dito a respeito da
justiça de Deus e Seu método de operação? Examinemos este assunto.

“O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em
resgate de muitos” (Mt 20:28). “O qual se deu a si mesmo em resgate por todos” (1 Tm. 2:6).
Qual é a diferença entre o “muitos” e o “todos”? O “muitos” na primeira passagem inclui todos os
que creem e o Senhor Jesus morreu por todos os muitos que creem Nele. O “todos” na segunda
passagem, refere-se a todos os homens, pelos quais o Senhor Jesus preparou resgate. O “para” em
Mateus, traz a ideia de substituição, enquanto que o “para” em 1Timóteo dá a ideia de provisão.
Com respeito aos crentes, o Senhor Jesus morreu para substituir a morte Deles pela Sua, como
também para fazer provisão de um resgate para eles. Tratando-se dos pecadores, entretanto, Sua
morte providenciou um resgate para eles, embora não sirva para substituir a morte Deles. Por isso
a esfera de substituição diante de Deus é limitada.

As palavras “um morreu por todos” em 2Coríntios 5:14, quer dizer que um morreu em
favor de todos. Significa que a morte do Senhor Jesus fez provisão suficiente para utilização de
todos os homens. Com respeito à provisão, a morte do Senhor Jesus é para todos os homens a fim
de que todos possam ter oportunidade de serem salvos. Somente para os crentes a palavra
“substituto” deve ser usada.

“Ele é a propiciação pelos Nossos pecados; e não somente pelos Nossos, mas também
pelos de todo o mundo” (1Jo 2:2). Cristo é a propiciação pelos não crentes como também pelos
crentes. Mas, Novamente o sentido aqui não é o de substituição, e sim, de provisão. A salvação de
Deus já foi preparada. Ao recebê-la, você será reconhecido por Deus como estando entre os
“muitos”. Cristo morreu em favor de todos os homens, por isso Sua morte fez provisão para todos
eles; mas isto não pode ser tomado como significando substituição na morte por todos os homens.
Se alguém não crê, perecerá. Esta é a responsabilidade do homem diante de Deus.*

* Desejo observar de uma vez por todas que, na utilização destas duas palavras, conforme
aplicadas à nossa redenção por Cristo, o todos é a designação objetiva e o muitos a subjetiva
daqueles por quem Cristo morreu.” Henry Alford, The Greek Testament (Chicago: Moddy Press,
1968), Vol. I, pg. 206. — Tradutor.

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PERGUNTA No 36

Como você harmoniza as expressões “não da vontade do homem” (Jo 1:13) e


“aquele que quiser” (Apoc. 22:17), com respeito á vida eterna?

Para esta questão secular, os teólogos sustentam pontos de vista opostos. Alguns afirmam
que a nossa salvação é puramente um assunto da vontade do homem, enquanto que outros
insistem que nossa salvação é um assunto totalmente da vontade de Deus. Entretanto, devemos
reconhecer que a verdade de Deus geralmente tem dois lados. Se não tivermos cuidado, podemos
facilmente perder o equilíbrio. As pessoas geralmente tendem a ir para os extremos.

A salvação é um assunto inteiramente da vontade do homem ou um assunto da vontade de


Deus? Na verdade as duas vontades estão envolvidas. Se não fosse a vontade de Deus salvar,
ninguém poderia ser salvo. Mas ao mesmo tempo, a vontade de Deus não tem valor se o homem
mesmo não quiser. Deus quer, mas o homem deve querer também. “Quantas vezes quis eu
ajuntar os teus filhos”, disse o Senhor Jesus, “como a galinha ajunta a sua ninhada debaixo das
asas, e não o quiseste!” (Lc 13:34). Aqui temos os dois lados da verdade de Deus. Ambos devem
querer; tendo apenas um lado, não haverá sucesso. Se desejamos conhecer a verdade, não
devemos Nos apegar a apenas um dos lados. Ao tentar o Senhor Jesus, Satanás disse-Lhe:
“Porque está escrito”; mas a resposta do Senhor foi: “Também está escrito” (Mt 4:6,7). É verdade
que está escrito, mas deve-se prestar atenção ao “também” está escrito. Não é correto tomar
apenas um versículo ou alguns versículos e tentar provar um lado da verdade, pois existem muitos
outros que provarão o outro lado dela. Por exemplo: dizer que um cristão uma vez salvo está salvo
para sempre, é declarar apenas um lado da verdade. Pois ao mesmo tempo, se um cristão, depois
de salvo, continuar pecando sem exercitar qualquer arrependimento, ele com certeza será punido.
Embora não seja punido com a segunda morte, ele não obstante sofrerá “o dano da segunda
morte” (Apoc. 2:11), conforme Nos diz a Escritura. Devemos reconhecer que isto também é
verdade.

Alguém pode perguntar por que a Bíblia por um lado diz: “E quem quiser, receba de graça a
água da vida” e, “Todo aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna”, e por outro que a
salvação de alguém é predestinada por Deus? Alguém respondeu muito bem a esta pergunta, que
é mais ou menos assim: Do lado de fora da porta do céu estão escritas as palavras: “Todo aquele
que quiser pode vir” (Apoc. 22:17). Daí, todo aquele que assim quiser fazer poderá entrar. Porém,
depois de entrar pela porta do céu, ele olha para trás e vê as seguintes palavras escritas do lado de
dentro da porta: “Escolhidos desde a fundação do mundo” (Ef 1:4). Tal resposta mostra os dois
lados da verdade de Deus, e a nossa própria experiência confirma isso. No momento do crer, tudo
o que se exige é a confiança. Entretanto, depois de crer, alguém recorda porque foi salvo,
enquanto que outros muito melhores do que ele não foram. Reconhece sua igNorância e não tem
como explicar. Só pode dizer que sua salvação foi predestinada por Deus.

Todo aquele que crê será salvo. Esta é a palavra aos não crentes. Mas, a eleição de Deus - a
predestinação de Deus - é a palavra para os crentes. Será imprudente, se não for um erro grave, dar
aos não crentes a palavra que é para os crentes. Por favor, observe por exemplo, que foi aos
discípulos que o Senhor afirmou: “Vós não me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15:16).
Estas palavras, portanto, não devem ser ditas aos não crentes.

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Certa vez, um estudante de teologia foi ver um servo de Deus e lhe perguntou: “Noto que a
Bíblia diz que a salvação do homem é predestinada por Deus. Todavia, enquanto estou pregando,
olho para a face de alguém e concluo que Deus não o predestinou para ser salvo. O que acontecerá
então, se eu persuadi-lo a ser salvo?” O servo de Deus sabiamente respondeu: “Vá e pregue. E se
você persuadir alguém para que seja salvo, então ele deve realmente ter sido predestinado por
Deus.”

Devemos reconhecer que a razão porque Deus diz aos crentes que eles foram predestinados
para serem salvos, tem como propósito despertar Neles um coração de gratidão tal, que possa ser
expresso por algum crente da seguinte forma: “Muitos ainda não são salvos; todavia, aqui estou
eu salvo. Só posso dizer que Deus me escolheu entre os muitos milhares. Aleluia! Estou salvo não
por causa do meu mérito, mas, por causa de Deus mesmo. Nada posso fazer senão agradecer e
louvá-Lo!”

Por isso podemos responder que as palavras em Apocalipse 22:17 são faladas aos não
crentes. Desta forma a verdade será equilibrada.

PERGUNTA No 37

Lucas 10:25-37 não indica que se alguém amar ao Senhor de todo o seu
coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de toda a sua mente e amar
também ao seu próximo, herdará a vida eterna? Se for assim, não é a vida eterna
obtida pelas obras?

A Bíblia Nos diz que a vida eterna é dada segundo a fé e não segundo as obras. Em todo o
Novo Testamento existem mais de quinhentos exemplos onde palavras tais como: “Crê... e serás
salvo”, “Crê... tem a vida eterna”, "Crê... será justificado”, são usadas. O doutor da lei em Lucas
10 perguntou: “Que farei para herdar a vida eterna?” Porém, o Senhor devolveu-lhe a seguinte
pergunta: “Que está escrito na lei? Como lês tu?” (vs. 25, 26). E ele respondeu: “Amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas foiças e de todo o teu
entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (v. 27). Então o Senhor disse: “Respondeste
bem; faze isso e viverás” (v. 28). A lei ensina duas coisas: (1) amar a Deus, e (2) amar as pessoas.
Visto que ambas são obras, não parece que a vida eterna é obtida pelas obras? Se a história
terminasse aqui No versículo 28, a questão da vida eterna seria na verdade um quebra-cabeças.
Mas graças a Deus, a história continua até o versículo 37.

O doutor da lei perguntou: “E quem é o meu próximo?” (v. 29). Com isso ele quis dizer que
conhecia a Deus mas não sabia quem era o seu próximo. Em resposta a esta pergunta, o Senhor
falou sobre um homem que caiu nas mãos dos assaltantes em sua viagem para Jericó. Um
sacerdote passou por perto sem salvá-lo; assim também fez um Levita sem lhe oferecer qualquer
ajuda. Somente um Samaritano veio para salvá-lo e o fez completamente. Aí o Senhor perguntou
ao doutor da lei: “Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos
dos salteadores?” (v. 36) Observemos que a pergunta feita pelo doutor da lei foi: “Quem é o meu
próximo?” A pergunta do Nosso Senhor No versículo 36 foi: “Qual, pois, destes três te parece ter
sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” O que o Senhor queria dizer era:
Você é aquele que caiu nas mãos dos salteadores; agora, qual destes três é o seu próximo?
“Aquele que usou de misericórdia para com ele,” respondeu o doutor da lei. Ao que o Senhor
respondeu: “Vai e faze tu o mesmo”. Aqui Nos é mostrado claramente que o Senhor não pediu ao

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doutor da lei para ir e ser um bom Samaritano; pelo contrário, Ele o levou a conhecer que seu
próximo era o bom Samaritano. Em outras palavras, foi o Samaritano quem o salvou. Resumindo,
este bom Samaritano era o salvador do doutor da lei.

Aquele que caí nas mãos dos salteadores é um pecador. Nem o sacerdote nem o levita
podem salvá-lo. O próximo do pecador é o Salvador do pecador. Amar ao próximo é amar ao
Salvador. Ter vida eterna é confiar No Salvador; ter vida eterna não é confiar em si mesmo como
salvador. Muitos têm interpretado erroneamente esta parábola pensando que ela Nos ensina a
tratar bem as pessoas. Entretanto, o Senhor nunca disse: Aquele que cai nas mãos dos salteadores
seja o seu próprio salvador; pelo contrário, aqui Ele está dizendo que você caiu nas mãos dos
salteadores e o bom Samaritano que te salva é o seu próximo e portanto você deve amá-lo sempre.
Aquele que não conhecemos, veio para Nos salvar. For isso o próximo a ser amado é o próprio
Senhor Jesus.

As pessoas amam ao Senhor porque têm a vida eterna; elas não recebem a vida eterna
porque amam ao Senhor. Existe primeiro o relacionamento do próximo e depois a afeição. Esta
passagem da Escritura Nos mostra muitas coisas: (1) o homem é caído, (2) não pode salvar a si
mesmo, (3) o Salvador já veio, e (4) se alguém aceita Sua salvação será salvo e por sua vez O
amará. O erro que muitos cometem é tentar fazer de si mesmos seu salvador. Eles não conhecem o
evangelho da graça. Devemos reconhecer que o Senhor quer que amemos o bom Samaritano, e
este não é outra pessoa senão o próprio Senhor.

PERGUNTA No 38

Em Lucas 16 temos a estória do homem rico e Lázaro. O homem rico pereceu


porque havia recebido boas coisas durante sua vida enquanto que Lázaro foi salvo
porque recebeu coisas ruins? Ou existe alguma outra causa?

Alguns afirmam que o homem rico pereceu porque havia desfrutado de coisas boas em sua
vida, mas Lázaro foi salvo por ter sofrido. Eles tiram suas conclusões das palavras que Abraão
disse ao homem rico, registradas em Lucas 16:25. Isso está correto? Na verdade, Abraão estava
apenas comparando as respectivas condições do homem rico e Lázaro antes e depois da morte (v.
25). Somente No versículo 29 é que nos é dada a razão básica para perdição ou salvação.
Observêmo-la cuidadosamente: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.” Isto mostra que o
homem rico pereceu porque não dera ouvidos a Moisés e aos Profetas, enquanto que Lázaro foi
salvo porque dera ouvidos a Moisés e os Profetas.

Quais são as palavras de Moisés e dos Profetas? Após Sua ressurreição o Senhor começou a
conversar com aqueles dois discípulos que estavam a caminho para Emaús e Lucas fez este
interessante comentário: “E, começando por Moisés e por todos os profetas.” O Senhor Jesus
“explicou-lhes o que Dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24:27). E na mesma Noite Ele
apareceu aos Seus discípulos em Jerusalém e lhes disse: “São estas as palavras que vos falei,
estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei
de Moisés, Nos Profetas e Nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as
Escrituras; e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse
dentre os mortos” (Lc 24:44-46). Consequentemente, as palavras de Moisés e dos Profetas
significam todas as palavras que são pronunciadas com respeito ao Senhor Jesus. Em outras
palavras, o homem rico pereceu porque não havia recebido o Salvador que morreu e ressuscitou

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de entre os mortos por ele, enquanto que Lázaro foi salvo por ter recebido o Salvador.

Deus já Nos deu a Bíblia e, por isso, tendo as palavras das Escrituras para crermos, Ele não
Nos enviará um homem ressuscitado dentre os mortos para pregar o evangelho (Lc 16:31). Ele
tem Se ocultado a tal ponto que os homens começam a imaginar que não existe Deus. Embora as
pessoas pequem tão terrivelmente, elas não serão instantaneamente feridas de morte por um
relâmpago. Podem continuar a blasfemar de Deus e ainda não receberão julgamento imediato
Dele. Deus não organizou as estrelas No céu para explicar a verdade da Sua existência ou o
pecado da humanidade. Ele não usa métodos espetaculares para provar a Si mesmo; Deus quer
simplesmente que os homens creiam na Sua palavra.

“Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão,
ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31). Aqui nos é dada uma revelação: se
alguém não crê em Moisés e Nos Profetas, não será persuadido mesmo que um dos mortos
ressuscite. Qualquer que não aceita o testemunho da Bíblia não crerá mesmo que alguém
ressuscite dentre os mortos.

PERGUNTA No 39

Romanos 4 diz que Abraão foi justificado pela fé, enquanto que Tiago 2 diz
que Abraão foi justificado pelas obras. Qual é o relacionamento de um com o outro?

Com respeito à justificação, a Bíblia Nos mostra dois tipos diferentes: uma é a justificação
pela fé e a outra a justificação pelas obras. Podemos prová-las com as seguintes passagens das
Escrituras.

“E de todas as coisas que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés, por ele (o Senhor
Jesus) é justificado todo o que crê” (At. 13:39). “Concluímos pois que o homem é justificado pela
fé sem as obras da lei” (Rm 3:28). Nas duas passagens Paulo fala sobre a justificação pela fé.

“Porque, embora em nada me sinto culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me
julga é o Senhor” (1Co. 4:4). O que é dito aqui é basicamente diferente das duas passagens acima,
porque Paulo está falando sobre o ser galardoado No Tribunal de Cristo. O que vem a ser
“justificado” neste versículo de 1Coríntios? Quer dizer ser galardoado através da realização de
boas obras. Assim Paulo menciona a justificação pela fé de um lado e a justificação pelas obras
por outro.

Sabemos que as cartas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas falam da justificação pela fé,
enquanto que Tiago fala da justificação pelas obras. Alguns têm especulado da seguinte forma:
em vista da aparente insuficiência da justificação pela fé explicada por Paulo, Tiago pretendeu
preencher a falta, falando da justificação pelas obras. Mas tal conceito é bastante impreciso, pois
quando Tiago escreveu sua epístola Paulo ainda não havia escrito Romanos e Gálatas.

Em Romanos Paulo Nos diz que somos justificados pela fé. Ele teme que alguns possam
ignorar o que Deus fez por eles, o que Cristo realizou e a eficácia do sangue, vindo a considerar
desse modo, a fé como inadequada em si mesma e advogando a adição das obras do homem a fim
de ser salvo. Para refutar tal conceito errado, Paulo cita a história de Abraão para provar que a
justificação é realmente pela fé. Mas Tiago também cita Abraão, só que falando sobre a
justificação pelas obras. Por isso podemos presumir que existe um íntimo relacionamento entre fé

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e obras na questão da justificação. O que Paulo e Tiago falam é na verdade uma só coisa. Vejamos
agora qual é o relacionamento mais último entre os dois e como ele se dá.

Consideremos primeiro Romanos 4. “Porque se Abraão foi justificado pelas obras, tem de
que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe
foi imputado como justiça” (vs. 2,3). “Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão
somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos: “A Abraão foi imputada a fé como
justiça. Como pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na
circuncisão, mas sim na incircuncisão” (vs. 9, 10). Aqui vemos que Abraão foi justificado antes
de receber a circuncisão. Os judeus consideram a circuncisão como uma das obras importantes da
sua espécie. Eles desprezam os gentios incircuncisos como sendo porcos e cães. Mas antes que o
próprio Abraão fosse circuncidado, ele foi justificado pela fé.

“E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era
circuncidado, para que fosse pai de todos os que creem, estando eles na incircuncisão, a fim de
que a justiça lhes seja imputada” (v. 11). A circuncisão é como um selo gravado por Deus,
declarando que agora existe alguém justificado pela fé e não haverá mudança para sempre. Deus
disse a Abraão que fosse circuncidado, mas não para ser justificado e sim para que houvesse Nele
um selo, mostrando desse modo, quão imutável é a justificação pela fé. Mesmo que mais tarde
Abraão recusasse oferecer Isaque, ele ainda seria justificado peta fé. Descansemos pois em paz,
sabendo que a justificação pela fé é certa e segura.

“bem como fosse pai dos circuncisos, dos que não somente são da circuncisão, mas
também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, antes de ser circuncidado”. (v.
12) Este versículo indica que os circuncisos também devem ter fé, visto que o próprio Abraão foi
justificado pela fé antes de ser circuncidado.

Romanos Nos prova que um pecador não pode ser justificado pelas obras da lei. Gálatas
Nos mostra que um crente não pode ser santificado pelas obras da lei. Somos santificados pela fé
como também somos justificados pela fé. Como podemos começar No Espírito e tentar nos
aperfeiçoar na carne? De qualquer modo o selo já foi colocado sobre nós. Por isso então, os que
são da fé são abençoados com o fiel Abraão.

Voltemo-nos agora para Tiago 2. “Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem
fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo?” (v. 14). Qual é o motivo por detrás
dessas palavras escritas por Tiago? A quem ele se dirige? A razão é que algumas pessoas se
gabam de possuírem fé, todavia não existe obra alguma manifestada em suas vidas. Se não forem
refutadas, a igreja será maliciosamente afetada. A fé deve ser guardada diante de Deus e não ser
vangloriada diante dos homens. A fé precisa ser completada pelas obras. Todos os que dizem ter
fé e ainda não têm obras, não podem ser salvos por seu tipo de fé.

A palavra “salvos” nas Escrituras tem muitos significados. “Forque sei que isto me
resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19).
Paulo já não é salvo? Isto obviamente não se refere à vida eterna que o crente recebe, e sim ao
livramento de Paulo da cadeia. “O qual nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem
esperamos que também ainda nos livrará” (2Co 1:10), declara Paulo Novamente. Alguns pensam
que isto faz alusão a como o Senhor morreu na cruz para Nos livrar da penalidade do pecado e
agora é Nosso Advogado No céu, Nos livrando do poder do pecado e No futuro voltará para salvar
Nosso corpo. Quem sabe com certeza, dizem eles, que estas questões não são realmente o que

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Paulo está falando aqui? Bem, o que se menciona aqui são os livramentos físicos de Paulo e seus
amigos pelo Senhor. Pela leitura de todo o contexto, ficamos sabendo como eles haviam sido
afligidos anteriormente na Ásia, ao ponto de desesperarem até da vida mas que o Senhor os livrou
de tal situação. Por esta razão, Paulo creu que o Senhor o livraria ainda mais de suas aflições,
tanto agora quanto no futuro.

Do mesmo modo a palavra “salvo” usada por Tiago, se refere a ser beneficiado através das
circunstâncias. Isto é claro se lermos os versículos que seguem: “Se um irmão ou uma irmã
estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz,
aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há
nisso?” (2:15,16). A expressão “um de vós” aponta para aqueles que de modo vão se gloriam de
ter fé, Eles não suprem alimento e vestido aos irmãos e irmãs em necessidade, pelo contrário,
pronunciam de modo vão aos necessitados: Ide em paz. O problema aqui envolvido não é o de ir
para o céu, mas o que se relaciona com o aquecimento e sustento do corpo hoje. O que Tiago quer
dizer é que você não pode dizer que tem fé e deixar de suprir as necessidades dos seus irmãos e
irmãs.

“Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (v. 17). Esta é a sentença
dada por Tiago. Ele quer dizer que se você crê que aqueles necessitados serão aquecidos e
alimentados e todavia não estende sua mão para suprir suas necessidades, tal tipo de fé sem obras
não é fé de modo nenhum; está morta. Uma fé viva crê No coração que o Deus da misericórdia
não permitiria que aqueles irmãos necessitados fossem embora com frio e com fome; e ao mesmo
tempo esta fé viva Nos leva a dar vários suprimentos físicos a eles.

“Mas dirá alguém: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te
mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (v. 18) Os que se vangloriam da sua fé serão
desafiados pelos outros, que dirão: Você diz que tem fé, mas onde você a expressa? Você só pode
dizer com sua boca; você não levantará nem mesmo um dedo na ocasião de real necessidade.
Onde então está a sua fé?

Você finge crer para os outros, mas você mesmo não tem fé. Se você tem fé por que não dá tudo
quanto tem? Se seu irmão ou irmã estão nus e necessitando de alimentos diários, por que você não
dá o que você tem a eles já que você está aquecido e bem alimentado? Você diz que tem fé, mas
como você vai provar sua fé? Na verdade, sua fé são palavras vãs; sua fé é morta. Ela não
beneficia os necessitados. Por outro lado, eu tenho obras, e suprindo as necessidades dos irmãos e
irmãs eu provo minha fé. Eu creio que Deus não Nos levaria a passar frio ou fome, por isso
quando vejo as necessidades dos irmãos e irmãs ao meu redor, eu reparto tudo o que tenho com
eles. Minhas obras são baseadas na minha fé. Minhas obras são expressão da minha fé. Por meio
das minhas obras eu mostro minha fé.

“Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem e estremecem” (v.
19). Os filhos de Israel criam num só Deus e isto é correto. Mas os demônios também creem num
Deus só e todavia permanecem sendo demônios. O que Tiago deduz deste fato é que a fé sem as
obras é semelhante aos demônios que permanecem sendo demônios a despeito de crerem em
Deus.

“Mas queres saber, ó homem vão, que a fé sem as obras é estéril?” (v. 20). O termo
“homem vão” é apenas outro Nome para aquele que se vangloria de sua fé. Pode-se dizer que este
realmente não tem fé em seu coração. Somente aquele que supre os outros de modo prático, pode

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demonstrar sua fé às pessoas. Primeiro fé, depois obras. A verdadeira fé produz verdadeiras obras.
Aquele que se gloria da sua fé e ainda não tem provas, prova ter uma fé morta. Visto que seu
coração erra diante de Deus, sua fé também é morta.

“Porventura não foi pelas obras que Nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu
sobre o altar seu filho Isaque?” (v. 21). Se Tiago não tivesse citado a história de Abraão, alguns
leitores de Romanos e Gálatas considerariam imediatamente que Tiago estava errado No que
dizia, pois Paulo não falou sobre a justificação pela fé, e que portanto, a fé é suficiente sem a
necessidade das obras? Entretanto o que Tiago afirma é que Abraão foi justificado pela fé mas foi
também justificado pelas obras. Tiago não subverte a justificação de Abraão pela fé; ele apenas
prova que pela oferta de Isaque, a obra de Abraão manifestou sua fé. De modo que ele não foi
apenas justificado pela fé mas também pelas obras.

Ao invés de subverter a justificação pela fé, Tiago na verdade a fortalece com a justificação
pelas obras, na comprovação do que é a verdadeira fé. A oferta de Isaque por Abraão é uma obra
e esta obra lhe é imputada como justiça. Mas que tipo de obra é esta? É uma obra da fé. “Pela fé
Abraão, sendo provado, ofereceu Isaque; sim, ia oferecendo o seu primogênito, aquele que
recebera as promessas, e a quem se havia dito: Em Isaque será chamada a tua descendência,
julgando que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar; e daí também em figura o
recobrou.” (Hb 11:17-19). Ao citar a oferta de Isaque por Abraão, Tiago nos mostra que a
verdadeira fé deve ser acompanhada pelas obras. Abraão alegremente recebeu as promessas de
Deus. Ele creu No que Deus lhe disse: “Em Isaque será chamada a tua descendência” (v. 18).
Eliezer não era tal herdeiro, nem Ismael, nem qualquer filho que mais tarde pudesse ser gerado de
Sara; somente Isaque seria o herdeiro da herança e das promessas.

Deus provou a Abraão para ver qual era seu coração para com ele e quão real era sua fé.
Deus lhe pediu para oferecer seu único filho sobre o altar, aquele que havia sido divinamente
designado para ser seu herdeiro, para ali ser morto e queimado. Entretanto, como a promessa de
Deus poderia ser cumprida se Abraão amasse a Deus e queimasse Isaque? Se ele quisesse cumprir
a promessa de Deus, não poderia concordar com o pedido de Deus. De acordo com o homem,
estes dois são contraditórios um ao outro. Todavia para uma fé viva eles são unidos e não
contraditórios. É Deus quem promete e é Deus quem pede. Deus nunca Se contradirá. Entre a
promessa e o pedido Ele abrirá um Novo caminho, isto é, o caminho da ressurreição: “julgando
que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar” (v. 19).

A fé de Abraão é assim definida: Embora eu mate Isaque e o ofereça como holocausto,


ainda creio que a palavra prometida — “Em Isaque será chamada a tua descendência” — será
cumprida, porque Tu ressuscitarás a Isaque dentre os mortos. Por isso, quando Abraão partiu para
o lugar designado para oferecer Isaque, ele partiu com um coração determinado. Ele na verdade
amarrou Isaque e levantou bem alto seu cutelo. Seu coração para com Deus era absoluto, não
havendo reserva. Sua fé em Deus era firme e livre da dúvida. E quando o anjo do Senhor clamou
a ele e lhe disse: “Não estendas a tua mão sobre o mancebo e não lhe faças nada” (Gn. 22:12),
“ele também em figura o recobrou” (Hb 11:19). A oferta de Isaque, filho único de Abraão, foi
uma obra de fé. E isto é chamado de justificação pelas obras.

“Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada?” (v. 22).
Aqui temos a continuação do pensamento anterior. Devido ao fato de Abraão ter oferecido Isaque
sobre o altar, ele foi justificado pelas obras; assim reconhecemos que a fé corre paralela com as
obras. Dizendo de outra maneira: a fé e as obras operam juntas. A obra de Abraão foi realizada por

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meio de sua fé e sua fé foi aperfeiçoada pelas obras. Uma fé que não foi provada não é confiável.
Por meio da oferta de Isaque a fé de Abraão é provada e aperfeiçoada.

“E cumpriu-se a Escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputada como
justiça e foi chamado amigo de Deus” (v. 23). “Abraão creu a Deus e isso lhe foi imputado como
justiça”; isto está registrado em Gênesis 15:6. Qual é a relação entre a oferta de Isaque em
Génesis 22 com esta palavra? Por que Tiago a cita em sua epístola, ao sugerir que a oferta de
Isaque é uma justificação pelas obras? E ele até acrescenta dizendo que a Escritura foi cumprida.
A relação é simplesmente esta: a justificação pelas obras cumpre a justificação pela fé. Parece que
a justificação pela fé é uma profecia e a justificação pelas obras o cumprimento daquela profecia.
Aquele que tem fé deve ter obras, pois elas explicam a realidade da fé. Abraão creu em Deus, foi
reconhecido como justo, e também foi chamado amigo de Deus. Por isso, a obra de Abraão ao
oferecer Isaque, é o cumprimento da fé de Abraão em Deus. Resumindo, ao oferecer Isaque ele
Nos mostra sua fé em Deus.

“Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado e não somente péla fé” (v. 24).
Visto que Gênesis 22 é o cumprimento de Gênesis 15, e que as obras são uma expressão da fé,
pois a fé sem as obras é morta mas é aperfeiçoada por elas, então o homem é justificado não
apenas pela fé mas também pelas obras. Observemos que Tiago não disse que o homem é
justificado pelas obras e não pela fé; ele apenas diz que o homem é justificado pelas obras e não
somente pela fé. Com isso ele quer dizer que depois de ser justificado pela fé, o homem precisa
provar na fé e ser aperfeiçoado nela, através da justificação pelas obras, assim como Abraão após
ter sido justificado pela fé, foi provado por Deus e justificado pelas obras.

“E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando
acolheu os espias e os fez sair por outro caminho?” (v. 25). Tiago primeiro Cita uma pessoa
excelente como Abraão para mostrar que ele não foi apenas justificado pela fé, mas também pelas
obras. Todavia depois, ele cita uma mulher má como Raabe, para mostrar que ela também foi
justificada pelas obras. Ela recebeu mensageiros e os enviou por outro caminho. Que tipo de obra
é esta? “Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu com os desobedientes, tendo acolhido em paz os
espias” (Hb 11:31). Esta obra também é uma obra da fé. Fé e obras são inseparáveis; elas são dois
lados de uma coisa. Com respeito a esta única e mesma coisa, ela é chamada de fé em Hebreus e
de obras em Tiago. As obras são a expressão da fé, enquanto que a fé é a fonte das obras. Dizer
que existe fé e não haver manifestação das obras da fé é o mesmo que uma fé morta.
Consequentemente, depois de haver justificação pela fé deve haver também a justificação pelas
obras.

“Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é
morta” (v. 26). No capítulo 2, a partir do versículo 14, Tiago fala do relacionamento entre fé e
obras. Existe um tipo de fé que não tem obras; esta é morta e nada mais é do que uma ostentação
vã. Mas existe outro tipo de fé que tem obras e é viva. As obras provam a fé e a aperfeiçoam.
Tiago usa o que Abraão e Raabe fizeram como evidências para provar este ponto. E, finalmente,
ele usa esta outra ilustração: “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé
sem obras é morta”. A fé viva é sempre acompanhada das obras; de modo que, assim como o
corpo sem o espírito está morto, também a fé sem obras é morta.

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PERGUNTA No 40

Por que Lucas 15 usa três parábolas? Uma só não seria suficiente?

Vemos que em Lucas 15 há três parábolas todas relacionadas com a questão de estar
“perdido”. A primeira parábrola fala da ovelha perdida; a segunda da moeda de prata; e a terceira
do filho perdido. Muitos que lêem este capítulo ficam surpresos com o uso da palavra “perdido”
significando o pecador e confusos pelo fato do Senhor ter contado três parábolas ao invés de uma
só. Devemos saber, entretanto, que o propósito das parábolas aqui mencionadas pelo Senhor
Jesus, não visa descrever o perdido ou a queda do homem; pelo contrário, Sua ênfase está em
como Deus • trata uma alma perdida. Se Ele quisesse falar apenas do perdido, então naturalmente
uma parábola seria suficiente. Mas o Senhor Jesus enfatiza o modo como Deus trata o perdido e,
portanto, nenhuma dessas três parábolas pode se omitida. O Deus Triúno, Pai, Filho e Espírito
Santo, têm Sua respectiva obra para com o perdido. E estas três parábolas realmente revelam os
três lados da obra do Deus Triúno.

A ordem dessas parábolas pode ser mudada? Não, pois o evangelho seria alterado caso
mudássemos sua ordem, porque estas três parábolas Nos dão a ordem do plano da redenção. A
primeira fala da obra do Senhor Jesus como o Bom Pastor. João 10 diz que o bom pastor dá sua
vida pelas ovelhas. Em seguida o Senhor menciona a parábola da mulher que procurou
diligentemente a moeda perdida. O bom pastor busca sua ovelha perdida num lugar diferente
daquele em que a mulher procura a moeda de prata perdida. O bom pastor sai da casa para buscar
a ovelha. Assim também o Senhor Jesus, que deixou a casa do Pai e veio ao mundo para buscar
cada um de nós. A mulher, entretanto, busca sua moeda perdida dentro da casa. Ela acende uma
candeia, varre a casa e procura diligentemente a moeda perdida. Vemos a ordem aqui? Primeiro
vem o Senhor Jesus para realizar a redenção, depois o Espírito Santo ilumina Nosso interior para
que possamos aceitar o que o Senhor Jesus realizou. A Bíblia Nos mostra duas grandes dádivas
Deus e não apenas uma. Ele Nos dá Seu próprio Filho e também o Espírito Santo.

Alguns pregadores cometem um sério engano pregando somente metade do evangelho. Eles
simplesmente dizem às pessoas: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16); eles
falham todavia, em dizer o que o Senhor Jesus declarou: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro Conãolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14:16). Deus não enviou apenas o
Senhor Jesus como o Bom Pastor, o qual vem e nos procura, mas enviou também o Espírito Santo
para nos iluminar. Na primeira parábola não existe lâmpada, mas na segunda, sim. A primeira fala
da busca fora casa; a segunda fala da busca dentro da casa. O Senhor Jesus sai de dentro da casa
— o mundo — para buscar a ovelha perdida; o Espírito Santo está na casa — dentro de nós —
iluminando-nos com a lâmpada da luz e procurando diligentemente pela peça de prata perdida.
Mas, finalmente, a última parábola fala do pai que espera pela volta do seu filho ao lar. O
Salvador tendo vindo buscar e o Espírito para procurar (pois aquilo que o Senhor fez não é em
vão, nem pode a obra do Espírito Santo ser infrutífera), Deus agora está aguardando que o filho
retorne ao lar.

Se a primeira ou segunda parábola faltarem, a terceira não pode ficar de pé. Porque sem a vinda
do Bom Pastor para dar a Sua vida pelas ovelhas, a redenção não será realizada. E sem a

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iluminação do Espírito Santo, ninguém será convencido do pecado, da justiça e do juízo. Embora
alguns possam experimentar convicção parcial dos seus pecados, ninguém pode verdadeiramente
se arrepender sem a iluminação do Espírito Santo.

Se o Bom Pastor não der Sua vida pelas ovelhas, o Pai não pode receber o filho pródigo quando
este volta ao lar. A obra do Espírito Santo é baseada na morte do Senhor. Se o Senhor não tivesse
morrido, o Pai celestial não poderia perdoar os pecados do homem e Deus ainda seria injusto.
Apeguemo-nos ao fato de que o perdão de Deus é a justiça de Deus. Ele nos ama, mas Seu amor
vem através da Sua justiça; de outro modo Ele seria adiado como injusto, fazendo algo contra Sua
natureza justa. Sem o derramamento de sangue não pode haver remissão de pecados. Se fosse
possível receber o perdão sem o derramamento do sangue do Senhor, seria o mesmo que dizer às
pessoas que não precisamos de um Salvador. Como somos salvos? Nós realmente pecamos, mas é
igualmente verdade que o Salvador carregou com Nossos pecados. Podemos nos aproximar de
Deus com ousadia e sermos aceitos. Se não temos um Salvador, nossa consciência nunca ficará
em paz. Visto que o Senhor Jesus morreu e realizou a redenção, o Pai celestial está agora
aguardando para nos receber. Devemos observar que quando o filho pródigo voltou para casa, seu
pai não pronunciou uma só palavra de culpa ou de exortação. Isto é porque o Salvador já realizou
a redenção por ele e o Espírito Santo o iluminou de modo que seus pecados são perdoados e
lavados no sangue.

Mas, precisamos reconhecer também a importância da segunda parábola. Pois embora o Senhor
Jesus venha e morra como o Bom Pastor e o Pai celestial seja visto aguardando em casa, o filho
pródigo não poderá voltar para casa se não houver a iluminação do Espírito Santo. É o Espírito
Santo quem o convence do pecado e também porque não creu no Senhor Antes. É o Espírito Santo
quem o convence da justiça, pois o Senhor já ressuscitou, foi assunto, aceito por Deus e assim o
convence da razão porque não aceita o Senhor Jesus. É o Espírito Santo quem demonstra a ele a
questão do julgamento, visto que Satanás já foi julgado e não é mais o senhor do homem e, por
isso, pergunta porque ele ainda segue a Satanás. Todas estas obras são feitas pelo Espírito Santo.
Por esta razão devemos prestar atenção ao que o Espírito Santo fará e também à questão do crer
naquilo que o Senhor Jesus fez.

Alguns enfatizam aquilo que o Espírito Santo fará, mas desprezam o que Cristo fez; outros
prestam atenção ao que Cristo fez e se esquecem do que o Espírito Santo fará. Aqueles cuja
atenção é focalizada apenas No que Cristo fez, afirmarão que pelo fato de Cristo ter morrido e
ressuscitado e realizado todas as coisas, o Espírito Santo ao nos guiar à toda a verdade,
simplesmente Nos leva a conhecer estes fatos da morte, ressurreição e glorificação de Cristo. Mas
aqueles cujo interesse jaz apenas no que o Espírito Santo fará, afirmarão que com a operação
especial de alguma obra do Espírito em nós é que teremos alguma experiência especial. Estas
duas classes de pessoas estão parcialmente inclinadas. Sabemos que um pássaro tem duas asas. Se
uma delas for arrancada ele não poderá voar. Estas duas classes de homens desejam arrancar uma
das asas da verdade. Se a atenção da pessoa é fixada só naquilo que o Espírito Santo fará, ela
estará sem fundamento ou base, porque a obra do Espírito Santo só pode ser fundada na obra
consumada de Cristo.

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo, seja
com todos vós” (2Co 13:14). O coração de Deus é amor; é Deus quem inicia o plano de nos
salvar. Mas o amor é algo interno; sua expressão exterior é a graça. O amor manifestado é
graça, e a graça interior é o amor. A razão porque a graça do Senhor Jesus é mencionada

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primeiro neste versículo é porque a redenção é realizada por Cristo. É Deus quem nos ama e
este amor tal qual nos é demonstrado em Cristo se torna graça. O Espírito Santo Nos comunica
o que Cristo realizou e por isso é chamado de comunhão do Espírito Santo. O Espírito Santo
mesmo nada tem para dar; Ele simplesmente nos comunica o que Cristo fez Sem o Espírito
Santo não somos capazes de receber a graça do Senhor. Todavia nada podemos também
receber se quisermos apenas o Espírito Santo e não desejarmos aquilo que Cristo realizou. Um
cano é para conduzir água. A água sem o cano e o cano sem a água não são eficazes. Vejamos
então, que as três parábolas de Lucas 15 não são repetições, porque elas manifestam a ordem
do plano da redenção. Cristo realiza a redenção, o Espírito Santo ilumina, e Deus o Pai Nos
recebe com amor. Um entendimento correto dessas três parábolas nos dará uma vida cristã
equilibrada.

PERGUNTA No 41

Qual é o relacionamento entre a morte do Senhor Jesus e a descida do


Espírito Santo?

Esta questão tem grande significado na salvação e no evangelho; portanto, deve ser
investigada.

Grande número de pessoas têm um conceito errôneo sobre o Espírito Santo. Elas pensam
que ser cheio do Espírito Santo custa muito, requer muita negação própria e duras súplicas até
se sentirem estimulada, e, só então terão condições de serem bons cristãos e poder para pregar
o evangelho. Mas a leitura cuidadosa da Bíblia não Nos mostra ser este o caso. Pelo contrário,
a Bíblia Nos diz que o único preço para se ter o Espírito Santo foi pago pelo Senhor Jesus
Cristo. Por causa da morte e ressurreição do Senhor Jesus, Deus deu o Espírito Santo. A
descida do Espírito se deve a morte, sangue e mérito do Senhor Jesus e de modo algum a
qualquer preço ou mérito que pagamos ou obtemos.

Enquanto estava na terra o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos que o Pai daria o Espírito
Santo àqueles que O pedissem (Le. 11:13), porque naquela ocasião o Espírito Santo ainda não
viera. Mas após Sua ressurreição Ele “assoprou sobre” os discípulos “e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo” (Jo 20:22). Daí em diante não é uma questão de pedir o Espírito Santo, mas de
receber o Espírito Santo.

Um servo de Deus uma vez colocou isso dessa forma: “O Espírito Santo já desceu. Agora se o
cano para o Espírito Santo estiver bloqueado, retire a rolha e a água fluirá. Não devemos Nos
consagrar apenas uma vez, mas sim frequentemente.” Na base do sangue, morte, ressurreição e
ascensão do Senhor, o Espírito Santo já veio. O problema hoje é retirar a rolha, consagrando-nos
ao Senhor e assim seremos cheios com o Espírito Santo. Consagração é o caminho para o
enchimento ou transbordamento do Espírito Santo, enquanto que o sangue do Senhor é a base
para o fluir do Espírito Santo. Se desejamos ser cheios com o Espírito, precisamos Nos
consagrar. Quanto mais completa for a nossa consagração, mais pleno será o enchimento do
Espírito Santo. O sangue do Senhor Jesus, por outro lado, é que fornece água ao cano; isto é, ele
Nos dá o Espírito Santo.

Está registrado No Antigo Testamento que enquanto os filhos de Israel estavam No deserto,
Moisés feriu a rocha com a vara e a água fluiu da rocha. 1Coríntios 10 diz que “a pedra era

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Cristo” (v. 4). O fluir do Espírito Santo não é causado por nossa consagração, mas depende sim,
da morte do Senhor Jesus. Em Levítico 14, segundo a lei do leproso No dia da sua purificação,
ele terá o sangue da oferta pela transgressão colocado sobre a ponta da sua orelha direita, do
polegar da mão direita e do polegar do pé direito, antes que o azeite na mão esquerda do
sacerdote seja colocado sobre a ponta da sua orelha direita, do polegar da mão direita e do pé
direito e o restante do azeite seja derramado sobre a sua cabeça. O sangue aqui aponta para a
redenção, enquanto que o azeite aponta para o Espírito Santo. O Espírito Santo vem sobre o
leproso não por declarar que está bem, mas por ser purificado pelo sangue e, só então, é ungido
com o azeite.

Nosso ouvido é para ouvir a voz de Deus, nossa mão para fazer Sua obra e nosso pé para andar
em Seu caminho. Tudo isto deve ser purificado pelo sangue. Na base da obra redentora do
Senhor, temos Nossos pecados lavados por Seu sangue e depois seremos cheios com o Espírito
Santo que Nos dá poder para viver e trabalhar.

O Novo Testamento fala mais claramente sobre este assunto do que o Antigo Testamento:
“Ora, No último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém
tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior
correrão rios de água viva. Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os
que Nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido
glorificado”. (Jo 7:37-39)

Naquela ocasião o Espírito Santo não havia sido dado porque o Senhor Jesus ainda ia
morrer, ser ressuscitado e subir de volta ao céu. O motivo do Espírito Santo não ter vindo não
era por falta de oração e súplica do povo, mas porque o Senhor Jesus não havia sido
glorificado. Mas quando o Senhor Jesus foi glorificado, o Espírito Santo realmente veio: “De
sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (Atos 2:33), O Espírito Santo foi
derramado depois que o Senhor Jesus morreu, ressuscitou e foi exaltado por Deus. Sua
descida se deve ao próprio Senhor e não à nossa súplica.

Temos visto no passado algumas pessoas suplicando e penalizando a si mesmas a fim


de obterem, o poder do Espírito Santo. Sabemos de outras que pensavam que aqueles que
recebem o poder do Espírito Santo devem ser cristãos extraordinários, pois isto certamente
não deve ser para cristãos comuns. Para eles, receber o poder do Espírito Santo é excepcional.
Sem dúvida, o dom do Espírito Santo é muitíssimo especial e verdadeiramente o preço é
muito caro; todavia tal preço já foi pago pelo Senhor Jesus. Foi Ele quem morreu e
ressuscitou, portanto, podemos ter o Espírito Santo. O sangue do Senhor é o preço; o próprio
Senhor Jesus é a origem do Espírito Santo. Naturalmente, do Nosso lado precisamos nos
livrar de todos os empecilhos, senão, a despeito da quantidade de água que possa haver, tudo
será inútil se o cano estiver bloqueado. Se compreendermos a origem do Espírito Santo e
soubermos que outra pessoa (e não qualquer de nós) já pagou o preço, deveremos nós suplicar
lamentosamente por Ele?

“Cristo Nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado No madeiro; para que aos gentios viesse a
bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do
Espírito” (Gl 3:13, 14). Aqui nos é dito que o propósito do Senhor, Jesus ter sido pendurado
no madeiro é para que a bênção de Abraão venha sobre os gentios. O que significa a bênção de

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Abraão vir sobre os gentios? Quer dizer que pela fé podemos ter o Espírito Santo prometido.

Se você se sente fraco, se sua vida espiritual flui e diminui com intermitência, se você
cai frequentemente e não tem o poder do Espírito Santo, Você precisa saber que o Senhor
Jesus já morreu e Seu sangue foi derramado; portanto, você pode vir a Deus e reclamar o
Espirito Santo prometido. Você pode agradecer a Deus pelo preço de sangue já pago por Jesus
Cristo, o qual te concede o poder do Espírito Santo. Você não precisa viver uma vida anormal
de altos e baixos. Uma coisa você precisa ter cuidado e considerar: se algum empecilho em
sua vida permanece sem remoção, ou se sua consagração é menos do que total, você ainda não
terá o poder do Espirito Santo.

Não suplicamos de modo forçado pelo Espírito Santo. Nós simplesmente recebemos
aquilo que o Senhor Jesus já realizou. E para isto nós simplesmente cremos e apropriamos, pois
a declaração da Bíblia é clara: visto que o Senhor Jesus já foi enviado para cumprir a vontade de
Deus, o Espírito Santo é derramado sobre nós.

PERGUNTA No 42

O que a Bíblia ensina sobre a reconciliação? Os homens devem


reconciliar-se com Deus, ou Deus deve reconciliar-Se com os homens?

“Mas todas as coisas provêm de Deus, que Nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e
Nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e Nos encarregou da
palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós
vos exortasse. Rogamos-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5:18-20).
Estes versículos Nos mostram que a Bíblia nunca sustenta o conceito comum e errado de que
temos que implorar a Deus que mude Sua mente a fim de sermos salvos. Deus não é alguém que
odeia o homem, pois, do Seu lado não existe problema. Quão frequentemente imaginamos que
em vista do coração de Deus ser aparentemente muito duro, faz-se necessário milhares de
súplicas para dobrar Seu coração e leva-Lo a ter pena de nós e Nos perdoar. Saiba-se que a
Bíblia não ensina dessa forma.

“Mas todas as coisas provêm de Deus, que Nos reconciliou consigo mesmo por Cristo”
(2Co 5:18a). Deus Nos reconciliou consigo mesmo por Cristo. Isto prova quão errado é supor
que Deus Nos odeia e por isso exige muitíssimas súplicas, confissões, lágrimas e muitas
penitências, a fim de Nos perdoar. O fato é que Deus está realmente Nos reconciliando consigo
mesmo através de Cristo. Quando Cristo estava na terra Ele representava a Deus. Tudo o que
Ele fez pelos homens, sempre o fez para mostrar quem Deus é. O amor de Cristo pelos homens
manifestava o amor de Deus No céu. Finalmente, em Sua morte na cruz como o Salvador
enviado por Deus para ser o Nosso substituto Nos é mostrado como Deus Nos reconciliou
consigo mesmo através de Cristo. O coração de Deus para com os homens é de paz e
absolutamente nada é mantido contra nós. De modo que o Seu tratamento para com os homens
é totalmente diferente do pensamento dos homens para com Ele.

“E Nos confiou o ministério da reconciliação”: o ministério dos apóstolos é persuadir


os homens a se reconciliarem com Deus. As pessoas pensam em como suplicar para que Deus
tenha pena delas e as ame, todavia não reconhecem que Ele já as amou ao máximo. Como

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Deus anseia em tê-las reconciliadas consigo mesmo! Por isso, ao pregar o evangelho os
apóstolos suplicam aos homens que se reconciliem com Deus; eles nunca pedem a Deus para
Se reconciliar com os homens.

Como Deus leva os homens a serem reconciliados com Ele? “Não imputando aos
homens as suas transgressões”. Este é o método de Deus. Deus em Cristo reconcilia o mundo
consigo mesmo, não nos imputando nossas transgressões.

“De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse.
Rogamos-vos, pois, que vos reconcilieis com Deus”: aqui os apóstolos, exortam os homens,
por Cristo, que se reconciliem com Deus; eles não pedem a Deus que Se reconcilie com eles.
As pessoas podem pensar que Deus não quer ser reconciliado a eles, mas na verdade Ele
confiou aos apóstolos a tarefa de exortar os homens a se reconciliarem com Ele. A ordem que
recebemos de Deus é a de suplicarmos que as pessoas se reconciliem com Deus, não pedir a
Deus que se reconcilie a elas. Portanto, ninguém precisa suplicar lamentosamente a Ele; só
precisa crer e aceitar o que Cristo já realizou.

Todavia, você pode perguntar: Deus não odeia o pecado? Sem dúvida, Deus odeia o
pecado. Mas se alguém recebe o Senhor Jesus Cristo, seus pecados são perdoados por Deus.
Devemos ser cuidadosos para não dar uma impressão errada às pessoas de que o coração de
Deus para com elas é um coração de ódio.

PERGUNTA No 43

Qual é a condição para a salvação (isto é, para se receber a vida eterna)?

Segundo a Bíblia só existe uma condição para sermos salvos, e esta é crer. Não existe
absolutamente nenhuma necessidade de se acrescentar qualquer coisa à fé. Infelizmente
muitos não consideram a fé suficiente e, par isso, sempre querem acrescentar algo extra a fim
de serem salvos. Isto é devido ao fato de não entenderem o que é que cremos, o que é a fé
realmente, qual o efeito da fé e como a fé viva é manifestada. Todo aquele que
verdadeiramente crê é salvo; não existe necessidade de se acrescentar outra condição.
Revisemo agora sete pontos que não são condição para a salvação.

(a) Não é fé mais esperança.

Alguns acham que para ser salvo alguém deve crer e depois orar fervorosamente,
esperando que Deus venha a ser misericordioso para com ele e o leve para o céu. Todavia a Bíblia
não diz que devemos esperar que Deus mostre misericórdia; devemos pelo contrário, crer que
Deus já mostrou misericórdia. “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o
testemunho da lei e dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e
sobre todos os que crêem; porque não há diferença” (Rm 3:21,22). Para aquela pessoa que se
considera como alguém que crê e ainda está esperando, sua fé não é digna de confiança e não é
real. Pois fé é crer que já foi feito. Tal pessoa não sabe o que é a fé, nem tampouco compreende o
coração de Deus. Ela considera Deus como alguém que está relutante em perdoar, por isso deve
implorar até que Ele tenha misericórdia dela. Você sabe que Deus já perdoou você? Ao derramar
Seu sangue precioso o Senhor Jesus estava perdoando todos os seus pecados. Este fato já está
estabelecido. Crendo você recebe o perdão. Se você crer, o perdffo que o Senhor Jesus realizou é

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seu. Se Você crer que Jesus Cristo morreu por você, a graça de Deus se manifestará em você.

(b) Não é fé mais confissão.

Alguns dizem que se alguém crê e ainda não confessa a Cristo, não pode ser salvo.
Sem dúvida, alguém que crê deve confessar a Cristo. Mas ele não é salvo por causa da sua
confissão, visto que a confissão não é condição para a salvação.

“Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu
Pai, que está Nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também
diante de meu Pai, que está Nos céus” (Mt 10:32, 33). Esta passagem não se aplica ao
recebimento da vida eterna da nossa parte. Pelo contrário, ela aponta para o lugar de uma pessoa
No reino dos céus que há de vir. Refere-se à salvação da alma de alguém, indicando que se tal
pessoa está disposta a negar a si mesma e confessar o Senhor na terra hoje, ela será reconhecida
pelo Senhor diante do Pai No futuro. Ela não trata com a salvação eterna.

“Portanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e
das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de
seu Pai, com os santos anjos” (Mc. 8:38). Aqui também se refere à época do reino. Antes em
Marcos é mencionado que “qualquer que salvar a sua vida perdê-la-á, mas, qualquer que perder a
sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará” (v. 35). “Vida” No original grego é
“alma”. O que significa perder a alma na terra? Significa perder na terra todos os prazeres dentro
da

alma por amor ao Senhor. Aquele que tem medo de ser envergonhado ou tem vergonha do
Senhor hoje, certamente se envergonhará e será envergonhado No futuro. Qualquer que não
esteja com medo de ser envergonhado hoje por amor do Senhor ou que não tem vergonha do
Senhor, defimitivamente receberá glória No futuro. Qualquer que não esteja disposto a sofrer
com o Senhor agora, não ganhará a glória do reino depois Quantos perderão a glória quando o
Senhor Jesus Cristo estabelecer Seu reino na terra!

Mateus 10:33, 33 e Marcos 8:35, 38 falam sobre o reino e não sobre a vida eterna. A
entrada No reino está diretamente relacionada com a conduta do crente na terra. Se um crente
não confessa o Senhor como deve, ele não terá parte No reino, embora tenha a vida eterna.

“Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a
salvação” (Rm 10:10). Aqui se declara claramente que com a boca se faz confissão para a
salvação. Mas, para se entender o que significa isto precisamos examinar o contexto. O tema
de Romanos 10 é a justiça que é pela fé. “O fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que
crê” (v. 4). Fé é a condição para se ter justiça. O que dizer sobre esta fé? “A palavra está junto
de ti, na tua boca e No teu coração ... Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor e
em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos serás salvo” (vs. 8,9).

A fé portanto, inclui dois lados: um lado é feito pela boca e o outro pelo coração. Os
dois são ações da fé, sendo os dois lados de uma coisa, assim como a justificação e a salvação
são apenas dois lados da mesma coisa. Confessar com a boca é uma expressão da fé e portanto
está incluído na fé. É por isso que na observação final somente a fé é mencionada sem a
confissão: “Todo aquele que Nele crer não será confundido” (v. 11). Não se diz que todo
aquele que crê Nele e O confessa não será envergonhado. “Como pois invocarão aquele em

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quem não creram?” (v. 14); “Quem creu na nossa pregação?” (v. 16); “De sorte que a fé é pelo
ouvir” (v. 17) — em nenhum destes lugares a confissão é mencionada. Por isso a confissão
não permanece por si mesma; ela é apenas a expressão natural da fé. Por que então ela é
mencionada aqui? Porque não se refere ao ficarmos de pé para testificar; é antes como o grito
em voz alta de “mamãe!”, quando a criança reconhece sua mãe. Assim também, tão logo
alguém crê em seu coração, sua boca naturalmente clamara “Abba, Pai” (Rm 8:15; Gl 4:6).
Consequentemente, a confissão não é outra condição para a salvação. Crê somente e serás
salvo.

(c) Não é fé mais boas obras.

Alguém pode pensar que, por ser um pecador, ele deve ter boas obras. É uma coisa
muito insignificante ser salvo simplesmente por crer em Jesus; ele deve fazer o bem como
também crer em Jesus; somente desta maneira sua salvação será garantida. Mas este não o
ensinamento da Bíblia. Sem dúvida alguma, o propósito de Deus em Nos salvar é para que
façamos o bem em seguida; pois não foi declarado que somos “criados em Cristo Jesus para as
boas obras” e que somos “preparados para toda a boa obra” (Ef 2:10; 2Tm 2:21)? Lembremos
que o ensinamento da Bíblia é que as boas obras seguem a salvação. Não é boas obras para a
salvação, nem tampouco é fé mais boas obras. Considere que um bebê não pode andar antes
que nasça. Do mesmo modo, devemos nascer de Novo antes de podermos fazer boas obras. Se
alguém espera ser bom antes mesmo de nascer, deve ser-lhe mostrado que não existe tal
possibilidade em lugar nenhum No mundo inteiro.

“Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como
justiça; assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem
as obras” (Rm 4:4-6). O que trabalha ganha o salário e seu salário não pode ser reconhecido como
graça e sim como seu direito. Mas aquele que não trabalha e ainda crê — sublinhemos a palavra
“crê” — em Deus que justifica o pecador, tem sua fé imputada a ele como justiça. Aqui não é
obra, mas somente fé — não é fé mais alguma coisa. Guarde bem na mente que só a fé é
suficiente. Por isso Davi pronuncia a bênção sobre o homem a quem Deus reconhece como justo,
à parte das obras.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não
vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-10). Os
versículos 8 e 9 Nos dizem que somos salvos pela graça e por meio da fé que Deus Nos dá, e de
modo algum pelas nossas obras. Depois o versículo 10 diz que Deus Nos salvou para que
pudéssemos fazer boas obras, as quais Ele Nos preparou de antemão. De modo que somos salvos
pela graça por meio da fé; mas, depois de sermos salvos devemos fazer boas obras, as quais que
Deus anteriormente preparou para nós.

(d) Não é fé mais oração.

Alguns podem considerar a oração como sendo uma condição para a salvação, não
sabendo que somos salvos pela fé e não pela oração. Visto que o Senhor Jesus Cristo já levou
Nossos pecados e foi julgado por Deus, tudo o que precisamos fazer é crer; nem mesmo
precisamos de orar. Oração é pedir a Deus para fazer, mas fé é crer que Ele já fez Devemos crer
Deus julgou a Jesus Cristo em Nosso lugar. A cruz já completou a obra da redenção, de modo que

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qualquer que crê No que Deus fez é salvo.

Alguém pode levantar a questão: Romanos 10:13 não diz que “todo aquele que invocar o
Nome do Senhor será salvo”? Isto não parece indicar que ninguém poderá ser salvo sem oração?
Todavia, vemos que este versículo é seguido imediatamente por outro que declara: “Como pois
invocarão aquele em quem não creram” (v. 14a)? A ordem correta é: primeiro crer, depois
invocar. Invocar depois que houver fé. De sorte que o invocar é uma expressão da fé; não é uma
condição independente e adicional. A fé inclui o pedir e conduz ao pedir espontaneamente. Mas, o
pedir aqui não é No sentido de oração comum e antes a invocação do Nome do Senhor. É o
mesmo que confessar “com a tua boca a Jesus como Senhor”, na passagem precedente. É
semelhante ao invocar o Nome do Senhor conforme encontramos em 1Coríntios: “E ninguém
pode dizer: Jesus Cristo é o Senhor! senão pelo Espirito Santo” (1Co 12:3). O Nome do Senhor é
salvação para nós. Qualquer que invocar o Seu Nome, isto é, disser que Jesus é Senhor, será salvo.
Como alguém pode dizer que Jesus é Senhor se já não crê que Ele é realmente Senhor? Como
alguém pode crer que Jesus é Senhor e deixar de invocar o Seu Nome? Portanto, a oração não é
uma condição para a salvação. Fé é a única condição.

(e) Não é fé mais batismo.

Alguém pode sugerir que embora a salvação não dependa da esperança, confissão,
obras ou oração, somente aquele que crer e for batizado será salvo. Tal conceito também está
errado. Sim, Marcos 16:16 na verdade afirma que “aquele que crer e for batizado será salvo”,
porém, devemos observar a que se refere a palavra “salvo”. A Bíblica menciona vários tipos de
salvação tais como: salvação eterna, a salvação diária do crente, salvação da aflição, do
livramento físico e a salvação da alma. A salvação relacionada com o batismo refere-se
principalmente ao ser salvo deste mundo pecaminoso. Isto é diferente de ter a vida eterna. Ter
vida eterna é uma aceitação pessoal da vida eterna, porém, o batismo é para ser salvo do sistema
maligno do mundo. Alguém que crê e ainda não é batizado tem a vida eterna Nele, mas será
considerado pelo mundo como uma pessoa não salva. Ele deve se levantar e ser batizado,
declarando desse modo que cortou sua relação com o mundo maligno antes que seja reconhecido
pelos outros como uma pessoa salva.

Quanto a ter a vida eterna, isto é, escapar do julgamento e ser eternamente salvo, tudo o que
ele precisa fazer é crer e nada mais Devemos observar que a segunda parte de Marcos 16:16
continua dizendo: “mas aquele que não crê será condenado”, e não aquele que não crer e não for
batizado será condenado. Por outro lado, para se ser salvo do sistema maligno deste mundo é
necessário fé e batismo, enquanto que só a incredulidade é suficiente para condenação. Em outras
palavras, a condição para não se ser condenado é simplesmente “crer”; não é “crer e ser batizado”.
O malfeitor na cruz não foi batizado, todavia o Senhor lhe disse: “Hoje mesmo estarás comigo no
paraíso” (Lc 23:40-44). Ele havia crido e por isso não foi condenado. Ele foi salvo e recebeu a
vida eterna. Consequentemente o batismo não é uma condição para a vida eterna.

(f) Não é fé mais confissão de pecado.

Alguém pode imaginar que seus pecados são como rolos pendurados na cruz. Cada
vez que confessa seu pecado um rolo é tirado, e qualquer pecado não confessado permanece lá. A
Bíblia nunca ensina desse modo. Isto não quer dizer, entretanto, que não precisamos confessar
nossos pecados. Muito pelo contrário, os cristãos devem confessá-los. Todavia a confissão de
pecado não é uma confissão para a salvação.

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Mas, não está escrito em 1João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”? Isto não indica que devemos
confessar Nossos pecados? É verdade que existe tal versículo na Bíblia, entretanto, devemos
saber que 1João não é endereçada aos não crentes. O “nós” No versículo se refere aos cristãos,
porque esta carta foi escrita a eles. Nela três classes de cristãos são continuamente mencionados:
(1) os filhinhos que têm vida, (2) os jovens que têm poder, e (3) os pais que têm experiência.
1João fala de comunhão. Se um cristão peca, ele deve confessar seu pecado; de outro modo sua
comunhão com Deus será impedida. Para ter sua comunhão com Deus restaurada, ele deve
confessar seu pecado.

É muito errado dizer a um cristão que ele deve confessar seus pecados a fim de ser salvo.
Como pecador convencido do pecado, da justiça e do juízo pelo Espírito Santo, ele crê na obra
consumada do Filho de Deus e todos os seus pecados são perdoados diante de Deus. A condição
para um pecador ser perdoado por Deus é fé. Não se pode encontrar em nenhum lugar da Bíblia
que um pecador para ser salvo precisa confessar seus pecados além de crer. Jesus Cristo já
realizou a obra da redenção e qualquer que crê no testemunho que Deus dá concernente ao Seu
Filho será salvo.

(g) Não é fé mais arrependimento.

Muitos afirmam que a salvação depende do arrependimento. O livro de Romanos


apresenta muito claramente a salvação de Deus, mas nem mesmo uma vez menciona a salvação
pelas obras. O Evangelho segundo João se expressa de forma bem definida sobre o evangelho,
mas nem uma vez diz que a salvação seja através do arrependimento. A salvação depende da fé e
não do arrependimento.

Isto quer dizer que o arrependimento é desnecessário? De acordo com as Escrituras, aqueles
que creem devem primeiro se arrepender; mas até mesmo os crentes precisam se arrepender.
Antes do exercício da fé inicial há o arrependimento, e depois de crer existe também a
necessidade de arrependimento. A menos que alguém mude seu ponto de vista para com o
pecado, não existe possibilidade para ele ser salvo. O próprio significado da palavra
“arrependimento” traz o sentido de “mudança de mente.” Aquilo que alguém considera como
precioso antes da salvação, agoraé considerado como lixo. O arrependimento, portanto, não é uma
condição para a salvação; antes, é um elemento ligado à fé e assim à salvação.

O que é fé? Fé não é crerem algumas doutrinas teológicas. Ouvimos as doutrinas mas cremos
em Cristo. “No qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação e tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13).
Ouvir é ouvir a palavra, ouvir o evangelho; mas o crer é crer em Cristo. Alguns admitem que
creram, mas na verdade podem ter apenas concordado com certas doutrinas sem terem crido em
Cristo. Ou, alguns podem professar crer por alguma razão remota, mas nunca conheceram
realmente a Cristo. Tais pessoas não são salvas. Por isso a pregação de doutrinas nunca serve
como Nosso alvo que é levar as pessoas a crerem em Cristo.

O que vem a ser crer em Cristo? Considere o que 1João 5 diz: “Se recebemos o testemunho
dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de seu Filho
testificou: quem crê No Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê,
mentiroso o fez, porquanto não creu No testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é
este: que Deus Nos deu a vida eterna e esta vida está em Seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida;

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quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (vs. 9-12).

A fé nada mais é do que receber o testemunho que Deus deu concernente ao Seu Filho.
Quem crê No Filho de Deus tem a vida eterna.

Hoje Nos regozijamos porque somos salvos pela fé e não por qualquer outra exigência.
Devemos ter boas obras, confessar a Cristo diante dos homens, Nos arrepender e confessar
Nossos pecados, sermos batizados e orar muito, para que Deus tenha prazer em nós. Mas não
dependemos destas coisas para sermos salvos. Somos salvos somente pela fé.

PERGUNTA No 44

O que é o pecado imperdoável? Todo aquele que comete tal pecado não
poderá ser salvo? Qual é o significado desse pecado?

O pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Sempre que o Espírito


Santo opera, o diabo também opera; ele nunca é preguiçoso. Algumas vezes o diabo estenderá
a verdade da Bíblia um pouco mais, a fim de atormentar as pessoas. Quando o Espírito Santo
está convencendo alguém dos seus pecados o diabo dirá ao homem: Você é um pecador, o
principal, você é um pecador especial que cometeu o pecado da blasfêmia contra o Espírito
Santo; portanto, você nunca será perdoado. Muito temem ter cometido o pecado de blasfêmia
contra o Espírito Santo. Por isso, devemos explicar primeiro o significado desse pecado e
depois tiraremos a seguinte conclusão: hoje ninguém pode cometer tal pecado. Leiamos
Marcos 3:28-30: “Em verdade vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos
homens, bem como todas as blasfêmias que proferirem” (v. 28). Isto soa como música!

Todos os pecados e blasfêmias do mundo podem ser perdoadas. Que grande declaração do
evangelho! Todos os pecados inclui pecados grandes, pequenos, refinados, grosseiros, pecados
que humanamente são oonsiderados como imperdoáveis e também aqueles que são perdoáveis;
pecados de ontem, de hoje e até de amanhã. Aleluia! Todos os pecados são perdoados! Palavrasde
blafemias contra Deus são perdoadas!, injúrias contra o Senhor também são perdoadas. Todos os
pecados, isto é, todas as nossas atitudes de conduta e Todas as palavras proferidas contra Deus
enquanto ainda éramos pecadores; tudo é perdoado. Não existe nem um pecado que não possa ser
perdoado, mesmo palavras blasfemas contra Deus são perdoadas. Isto é o que o Senhor diz aqui.

Uma vez um irmão recém-salvo perguntou a um irmão mais velho: “Cometi o pecado de
blasfêmia contra o Espirito Santo?” A resposta a ele dada foi excelente: “Se você ainda pode se
entristecer pelos seus pecados, isto prova que Você não cometeu o pecado de blasfêmia contra o
Espírito Santo”. Esta resposta está cheia de verdade. Podemos acrescentar mais uma palavra
dizendo que até mesmo com relação a alguém que não esteja consciente dos seus pecados,
também não pode ser descrito como tendo cometido o pecado de blasfêmia contra o Espírito
Santo.

Vejamos como Mateus registra a discussão dessa questão: “Se alguém disser alguma
palavra contra o Filho do homem, isto lhe será perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito
Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem No vindouro” (12:32). Estas são palavras
do Senhor Jesus ditas aos judeus que cometeram o pecado conforme registrado neste capítulo.
Eles viram claramente como o Senhor expulsou demônios pelo Espírito Santo e, ainda assim,
teimosamente, declararam que Ele expulsava tais demônios por Belzebu, o príncipe dos

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demônios. Como a Bíblia descreve estes judeus? “E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz:
Ouvindo, ouvireis e de maneira nenhuma entendereis; e. vendo, vereis, e de maneira alguma
percebereis Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardiamente, e
fecharam os olhos, para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam
com o coração, nem se convertam e eu os cure” (Mt 13:14,15). Assim nos é mostrado que se uma
pessoa comete o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo, ela de modo algum será sensível ao
pecado; nem será salva porque seu coração se endureceu, seus ouvidos estão entorpecidos e seus
olhos fechados.

Existem palavras em duas outras passagens da Escritura que são significativas com respeito
a este assunto. Uma delas é encontrada em Lucas: “Os que estão á beira do caminho são os que
ouvem; mas logo vem o Diabo e tira-lhes do coração a palavra, para que não suceda que, crendo,
sejam salvos” (8:12). Não só o Senhor sabe mas o Diabo também, que logo que alguém crê ele é
salvo; e por isso, ele teme que alguém creia e seja salvo. A outra passagem é: “Respondeu-lhes
Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado
..,. Por isso lhes falo por parábolas... para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os
ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam e eu os cure” (Mt 13:11-15). Com
respeito aos que blasfemaram contra o Espírito Santo, Deus teme que eles possam vir a ser salvos.
Por esta razão o Senhor fala em parábolas para que não se convertam realmente e sejam curados.
Aleluia! Quão maravilhosas são as palavras: “crer e ser salvo”.

Qualquer que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado, pois “é culpado de
pecado eterno” (Mc. 3:29). Segundo a opinião de alguns eruditos da Bíblia, pode-se traduzir este
versículo também assim: “ele está de posse de uma eterna transgressão”. Bem, alguém ainda pode
perguntar por que se diz que ele não será perdoado nem neste mundo nem no vindouro (Mt
12:32)? Simplesmente porque ele pecará para sempre. Mas, como pode ele pecar no inferno, pois
o que mais o atormenta No inferno sito os vermes e o fogo. Devemos ver que no inferno existe
sofrimento não só por falta de água suficiente para molhar a ponta do dedo a fim de refrescar a
língua, mas existe também o ardor do fogo da concupiscência. O inferno é o lugar onde o pecado
e as concupiscências nunca podem ser satisfeitas. É um lugar por demais miserável. Mas podemos
dar graças e louvores a Deus porque, se desejamos crer, não existe pecado que possa Nos impedir
de sermos salvos. O próprio Senhor diz: “Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos
homens, bem como todas as blasfêmias que proferirem” (Mc. 3:28). Por essa razão podemos ficar
em paz.

Embora hoje não possamos cometer o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo,
devemos todavia, ser cuidadosos ao dizer que isto e aquilo é obra do Espírito Santo e que isso e
aquilo é obra do espírito maligno.

PERGUNTA No 45

O que vem a ser a expressão “da graça tendes caído” (Gl 5:4)? Uma pessoa que
caiu da graça será salva?

Existem muitos livros No Novo Testamento que apresentam íntima semelhança um com o
outro quando lidos. Tais livros são: Efésios, Colossenses, Gálatas e Romanos. Por que têm eles tal
semelhança? Porque um faz uma declaração positiva enquanto que o outro discute o assunto de
modo negativo ou em termos positivos. Efésios Nos diz que a igreja é o corpo de Cristo;

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Colossenses, porém, declara que Cristo é a cabeça da Igreja. Romanos apresenta do lado positivo
que a justificação é pela graça de Deus, baseada na justiça de Deus e obtida pela fé do homem;
Gálatas parte do lado negativo para dizer que ninguém é justificado pelas obras nem tampouco
salvo pela lei. Romanos adianta o que é a verdade e Gálatas declara o que não é a verdade.
Sabendo o que não é verdade, o conhecimento da verdade é ampliado.

Os crentes na Galácia tiveram um bom início, pois foram claramente salvos por meio da fé,
mas, depois, desenvolveu-se um perigo entre eles, porque alguns afirmavam que o início da
salvação vinha por meio da fé em Cristo, pela operação do Espírito Santo e pela graça de Deus;
porém, uma vez salva, a pessoa devia guardar a lei de Deus e fazer o melhor que pudesse caso
desejasse merecer o agrado de Deus.

Se você perguntasse a alguém como ele foi salvo, sua resposta seria: pela fé. Mas se você
lhe perguntasse como poderia obter a satisfação de Deus, ele responderia: fazendo o bem. Esta é
precisamente a situação dos crentes da Galácia. Eles sabiam que eram salvos pela fé, mas deviam
manter esta salvação guardando a lei: primeiro devem ser circuncidados e depois observar as
muitas ordenanças do Antigo Testamento. Diante de tudo isso, Paulo precisou repreender estas
pessoas dizendo: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes
caído” (5:4).

O que significa “cair da graça”? Lendo Gálatas 5:1, sabemos que tais pessoas já haviam
entrado na graça. “Estai pois firmes na liberdade com que Cristo Nos libertou e não tomeis a
meter-vos debaixo do jugo da servidão.” Cristo os havia libertado; portanto, deviam permanecer
nesta liberdade e não se colocar Novamente sob o jugo da servidão. Portanto, o que vem a ser
“cair da graça”? Bem, se alguém se move do lugar da liberdade No qual originalmente estava, ele
faz para si mesmo um jugo para carregar. Isto é visto como sendo o “cair da graça”. Entretanto, tal
coisa basicamente nada tem a ver com o ser ou não ser salvo. Pelo contrário, somente aquele que
foi salvo é que pode cair da graça.

Todo cristão obtém uma nova posição no dia em que é salvo e também uma liberdade que é
sua como filho de Deus. Liberdade não é licenciosidade. É ter um espírito livre para chegar diante
de Deus. Não se exige de nós que trabalhemos duramente, nem que guardemos dias, nem mesmo
que sejamos circuncidados.

Qual é a diferença entre um cristão que é livre e outro que não é? Quando um cristão que é
livre chega diante de Deus, tudo o que ele lembra é que foi aceito por Ele através do Senhor Jesus.
Ele esquece de si e nem mesmo se contempla, pois sabe que tem ousadia para entrar No
Santíssimo pelo sangue de Jesus. Entretanto, um cristão que não é livre, será muito cauteloso de
manhã até à Noite. Se durante o dia ele trata bem as pessoas, lê a Bíblia com alegria e ora mais
longamente, ele se mostrará mais ousado quando participar da reunião da igreja e seu amém será
pronunciado com voz mais forte do que o normal. Mas, se num dia particular ele não fizer o bem,
então imaginará que Deus está descontente com ele. Tal tipo de cristão sempre volta seus olhos
para o interior, esquecendo dessa forma aquilo que Cristo já realizou. Ele presume que Deus
ficará contente com ele se agir bem e descontente se não agir bem. Do amanhecer ao anoitecer ele
se ocupa fazendo um jugo de ferro para si mesmo, um jugo feito das leis mais estritas para ele
mesmo guardar.

Devemos compreender que a liberdade à qual Paulo se refere não tem nada a ver com a
posição nem com a salvação, mas sim com a liberdade que Deus deu ao cristão e da qual ele deve

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desfrutar diariamente. Tal liberdade não é licenciosidade, nem tampouco uma permissividade
irrestrita para alguém fazer qualquer coisa que queira. Esta liberdade é diante de Deus, e nos foi
dada através de Jesus Cristo. Se alguém vai dainte de Deus, se esquece do sangue e olha a si
mesmo, está cometendo um grande pecado, porque está negligenciando o sangue que é de grande
valor para Deus. Hebreus 10:29 diz que qualquer que considera o sangue da aliança como algo
profano, comete grave pecado. O sangue é tão valioso aos olhos de Deus que a Bíblia o chama de
“sangue precioso”. Qualquer que falha em ver o sangue precioso diante de Deus, não poderá
desfrutar da graça nesta vida.

“Separados estais de Cristo” em Gálatas 5:4, significa não ter as bênçãos desta vida. Se
alguém é salvo, naturalmente terá as bênçãos da vida em seguida; porém, se não sabe como viver
diariamente por meio daquilo que Cristo realizou, não estará em condições de desfrutar das
bênçãos que Ele dá dia a dia. Um cristão acorrentado faz um jugo para ele mesmo carregar, vive
como um escravo e não como um homem livre diante de Deus.

A Bíblia coloca grande ênfase na obra de Cristo. Ela Nos diz que Deus Nos aceita por causa
da obra de Cristo e não por causa das nossas próprias obras. Cada vez que chegamos a Deus, a
base está naquilo que Cristo é diante de Deus e não naquilo que somos diante Dele, porque Ele
valoriza a Cristo altamente e não a nós. Mesmo que alguém proceda melhor do que Pedro, João e
Paulo, ainda assim ele vai a Deus por meio de Cristo. É Cristo quem leva a pessoa a Deus e não
suas próprias boas obras.

Todavia, tendo dito que chegamos a Deus por aquilo que Cristo realizou, precisamos dizer
algo sobre Nosso ir diante dos homens. Podemos dizer que não precisamos de boas obras diante
dos homens, visto que o que Cristo realizou é tudo o que precisamos para ir a Deus? Devemos
compreender que a nossa luz deve brilhar diante dos homens, para que vejam nossas boas obras e
glorifiquem a Nosso Pai que está no céu (Mt 5:16). Se nossa conduta é má, quem No mundo Nos
reconhecerá como cristãos?

A posição que Cristo nos deu diante de Deus é muitíssimo segura. Cada dia e cada vez que
chegamos a Deus, devemos fazê-lo com uma consciência destituída de ofensa. Entretanto, alguns
cristãos sempre se sentem culpados quando chegam diante de Deus. Mas Hebreus 10:2 não Nos
declara que “tendo sido uma vez purificados os que prestavam culto, nunca mais teriam
consciência de pecado”? Com nossa consciência uma vez purificada pelo sangue, somos livres
para sempre diante de Deus.

PERGUNTA No 46

A classe de pessoas mencionada em Hebreus 6:4-8 perecerá?

Leiamos os versículos de 1 a 8 de Hebreus, capítulo 8:

“Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos


levar para o que é perfeito, não lançando de Novo a base do arrependimento de obras moitas e da
fé em Deus, e o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo
etemo. Isso faremos se Deus permitir. É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram
iluminados e provaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e
provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vinduouro, E CAÍRAM, SIM, É

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IMPOSSÍVEL OUTRA VEZ RENOVÁ-LOS PARA ARREPENDIMENTO VISTO QUE DE NOVO
ESTÃO CRUCIFICANDO PARA SI MESMOS O FILHO DE DEUS, E EXPONDO-O À
IGNOMINIA. Porque a teria que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela, e produz
erva útil para aqueles por quem é cultivada, recebe bênção da parte de Deus; MAS SE PRODUZ
ESPINHOS E ABROLHOS, É REJEITADA E PERTO ESTÁ DA MALDIÇÁO; E O SEU FIM É
SER QUEIMADA.”

Alguns depois de ler os versículos 6 e 8 (em negrito acima) concluem que os que estão nesta
classe não podem ser salvos. Quem são eles? De acordo com os versículos 4 e 5 são aqueles que
abandonam a verdade após experimentarem quatro coisas: (1) uma vez foram iluminados, (2)
provaram o dom celestial, (3) se tornaram participantes do Espírito Santo, (4) provaram a boa
palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. O resultado seiá: rejeitados e perto da
maldição, cujo fim é ser queimado (v. 8). Tirando sua conclusão deste último versículo, alguns
julgam que esta classe de pessoas não é salva. “Se tal é realmente o caso, então uma pessoa que
possui a vida eterna pode perdé-la; isto é, aquele que é salvo pode se tornar perdido”. Como
podemos explicar isto?

Devemos compreender primeiro qual é o assunto tratado No livro de Hebreus. Hebreus Nos
fala de prosseguir” e Nosso progresso neste prosseguir é duplo: (1) Os cristãos devem crescer, e
(2) os que ensinam aos outros devem crescer também. Os crentes devem conhecer o Senhor
progressivamente e cada vez mais em suas vidas; os que ensinam aos outros também devem
ensinar a verdade mais avançada; isto é, não devem ensinar apenas sobre a salvação do princípio
ao fim do aNo, mas também a verdade mais profunda.

O ápice com respeito ao progresso mencionado em Hebreus é alcançado em Hebreus 5 e 6.


O capítulo 5 fala de Melquisedeque, sobre quem o autor diz: “De quem temos muitas coisas que
dizer, e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir” (v. 11). Vocês
deviam ter crescido plenamente, mas lamentavelmente ainda são bebês velhos. Vocês deviam ser
capazes de receber o alimento sólido da palavra da justiça mas, é triste dizer, ainda necessitam de
leite. Depois No capítulo a palavra é endereçada aos que ensinam. Deve haver progresso no
ensino Deles não se limitando aos seis pontos da doutrina elementar que são: arrependimento de
obras mortas, fé para com Deus, ensino de batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos
e juízo eterno. Assim podemos ver claramente que Hebreus 6:1-8 não trata com o problema da
salvação inicial e sim com o problema do progresso. O alvo da epistola aos Hebreus é apontar
para o progresso e não para a salvação. Estaremos seriamente errados se confundirmos o tema.

Muitos cristãos não prestam atenção à verdade da igreja ou á verdade do reino; seus olhos
estão fixos exclusivamente na salvação, como se isto fosse tudo. Mas a Bíblia não se destina só ao
assunto da salvação; ela Nos fala de muitas outras coisas.

Portanto, vamos Nos apegar primeiro ao tema da epístola, antes de entrar nesta passagem
particular de Hebreus. A passagem diante de nós pode ser dividida em três partes: (a) versículos
1-3, “não de Novo”; (b) versículos 4-6, “impossível”; (c) versículos 7 e 8, que podem ser
intitulados “não devem”. Vamos examinar cada um em sua ordem.

(a) Não de Novo.

“Não de novo” refere-se a seis coisas: arrependimento de obras mortas, fé para com
Deus, ensino de batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e juízo eterno. Somos

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informados a “não lançar de novo o fundamento”. Estes seis pontos são verdades fundamentais
Visto que o fundamento já foi lançado, não há necessidade de lançá-lo novamente. Quem jamais
construirá uma casa lançando o fundamento o tempo todo? Depois que o fundamento é lançado a
obra deve prosseguir.

(b) Impossível.

“Uma vez”, no versículo 4, refere-se a um fato histórico “Novamente”, No versículo 6 é


a mesma palavra “Novamente” do versículo 1. A conjugação coordenada “e” nesta parte, engloba
4 coisas: uma vez iluminados, provaram o dom celestial, se tornaram participantes do Espírito
Santo, provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. De modo que, o que se
diz aqui é que se alguém experimentou estas quatro coisas, é impossível que ele seja renovado
Novamente para o arrependimento, se cair. Porque ele apenas caiu mas não deixou o curso que
seguia. Visto que sua direção ainda está correta, como pode renovar seu arrependimento,
crucificar de novo o Filho de Deus e expô-Lo á ignomínia?

O escritor desta carta declarou aos Hebreus que eles não necessitavam lançar de Novo o
fundamento (vs. 1-3). Mas, alguém pode perguntar: e se a pessoa se encaixar na descrição dada
Nos versículos 4 a 6? Não deverá lançar o fundamento Novamente se cair? Não deveria ser
renovada Novamente para arrependimento? A resposta do escritor foi: embora alguém possa estar
nas condições dos versículos 4-6, isto é, numa situação em que realmente pecou, é impossível ser
renovado para arrependimento.

Podemos nascer de novo e depois retornar à situação anterior? Podemos ser renovados para
arrependimento e nascer outra vez? O arrependimento do versículo 6 é o mesmo arrependimento
do versículo 1, portanto trata-se do arrependimento como fundamento. Isto não indica que não se
deve se arrepender de Novo; a afirmação é que ninguém pode retornar à posição do fundamento e
ser renovado para arrependimento. Esta então, é a grande diferença. Preste bastante atenção na
palavra “Novamente” — renovar outra vez para arrependimento, lançando novamente o
fundamento do arrependimento. Não de novo porque é impossível.

Esta passagem, portanto, não Nos ensina que se alguém cair depois de ter recebido tantos
benefícios espirituais, deve renovar seu arrependimento original e lançar de Novo o fundamento.
A regeneração só acontece uma vez Quem vai começar tudo de Novo por ter simplesmente caído
No caminho? Mesmo assim muitas pessoas abrigam conceito tão errado como este.

(c) Não Devem.

Embora os versículos de 1 a 3 Nos falem sobre “não de Novo” e os versículos 4 a 6


mencionem o “impossível”, os versículos 7 e 8 Nos falam que “não devemos”. O significado é
que não devemos continuar a cair, nem a pecar sempre, para não parecer que estamos crucificando
de Novo o Filho de Deus e expondo-O à ignomínia. Se assim fizermos, seremos por certo
disciplinados. Por isso não devemos fazê-lo.

Alguns afirmam que se alguém pecar depois de ser salvo, perde a salvação. Outros creem
que depois que alguém é salvo não será punido a despeito de qualquer pecado que cometa. Os dois
pontos de vista estão errados. Deus espera que uma pessoa salva cresça e faça progresso. Assim
como ninguém pode retornar ao ventre da mãe e nascer de Novo, após ter vivido uma vida má
durante décadas, assim também espiritualmente ninguém pode voltar para lançar o fundamento,

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se vier a cair. Mas, o que acontecerá com ele se continuar fazendo coisas más? Serão três as
consequências, a saber: (1) rejeitado, (2) perto da maldição, e (3) ser queimado.

(1) Rejeitado. Esta é a mesma palavra encontrada em 1Coríntios 9:27. Lá Paulo descreve
como esmurra seu corpo e o reduz á servidão para que de modo algum seja rejeitado, depois de ter
pregado aos outros. Naturalmente todo cristão sabe que Paulo não está em perigo de se tornar um
não salvo; o que ele teme é perder a coroa e o reino.

O que significa ser rejeitado por Deus? Por exemplo: você tem uma bicicleta que
originalmente estava em boa forma e em condições de ser usada, porém, agora está quebrada,
enferrujada e não pode ser usada. Isso não significa que a bicicleta desapareceu; ela está apenas
sendo rejeitada e posta de lado como algo inútil. Ser rejeitado por Deus não significa que uma
pessoa perdeu a vida eterna ou não seja salva; Deus apenas a põe de lado e, desse modo, torna-se
sem utilidade. Deus disciplina os crentes que continuam Nos pecados, deixando-os fora da glória,
nas trevas exteriores, sem qualquer parte do reino. Este é o significado de Mateus 25:30.

(2) Perto da Maldição. Aqui diz perto da maldição e não a maldição em si mesma. Perto
da maldição se assemelha a maldição e todavia não quer dizer ser amaldiçoado. O que é
enfatizado aqui não é tanto a questão do grau de punição, mas sim a punição em si mesma. Não
apenas os não crentes serão punidos, mas os cristãos também. Por isso diz “perto da maldição.”

Tenhamos cuidado para não condescendermos com a ideia de que o cristão não será punido,
não importa o que venha a fazer. Lembre-se de que "perto da maldição” implica na existência de
punição.

(3) Ser queimado. Isto se encaixa bem com 1Coríntios 3:15 ,onde se diz que o fogo
queimará a obra de alguém. Tal pessoa é como uma lata de lixo viva, onde muitas coisas impuras
estão colocadas e que serão purificadas pelo fogo.

Devemos regozijar por um lado e sermos advertidos por outro. Nossa salvação está
garantida por um lado, mas, do outro, receberemos punição se não procedermos bem. Embora tal
punição não seja permanente, parte do reino milenar não haveremos de ter.

Resumindo: Hebreus 6:1-3 afirma que o fundamento não deve ser lançado de novo; os
versículos de 4 a 6 explicam que é impossível lançar de Novo o fundamento de onde o crente caiu,
mas que ele deve se levantar, pois não é possível retornar ao princípio e renovar seu primeiro
arrependimento; e os versículos 7 e 8 concluem que ninguém deve comportar-se mal porque
certamente haverá punição se ele persistir.

PERGUNTA No 47

Qual é o significado das palavras: "já não resta mais sacrifício pelos pecados”
(Hb 10:26)?

“Se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno


conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados” (Hb 10:26). O que vem a
ser “não resta mais sacrifício pelos pecados”? Alguns dirão: “Se eu pecar voluntariamente depois
de ter conhecido a verdade, não serei salvo. É verdade que Deus fez Seu Filho carregar meus

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pecados e morrer por mim, para que eu pudesse ser salvo crendo Nele; mas, se eu pecar
voluntariamente, então segundo Hebreus 10:26 não resta mais sacrifício pelos pecados, e,
consequentemente, não serei salvo. Mais ainda, o versículo seguinte diz que resta uma expectação
terrível de juízo, e um ardor de fogo há de devorar os adversários (v. 27).

De modo que, se eu pecar voluntariamente, só posso esperar por duas coisas: uma é juízo, e a
outra é o fogo que há de devorar os adversários, que é o inferno ou perdição. Segundo o ponto de
vista dessas pessoas, esta passagem das Escrituras d dirigida aos cristãos; portanto, se um cristão
pecar voluntariamente, não poderá ser salvo. Vejamos se o “pecar voluntariamente” faz
referência aos cristãos ou se a outra classe de pessoas. Queremos ver também se este “pecar
voluntariamente” indica um pecado comum, ou se a algum tipo específico de pecado.

Segundo a declaração da Bíblia, as pessoas que pecam voluntariamente depois de terem


recebido o pleno conhecimento da verdade têm “uma expectação terrível de juízo e um ardor de
fogo que há de devorar os adversários”. Portanto, elas não podem ser aquela classe de pessoas
mencionadas em Hebreus 6 “que uma fez foram iluminados e provaram o dom celestial”. Tais
pessoas conhecem a morte do Senhor, Seu sangue derramado e Seu corpo partido. Elas sabem que
podem entrar no Santo dos Santos com ousadia pelo sangue do Senhor Jesus e serem aceitas por
Deus, que o sacrifício pelos pecados foi oferecido de uma vez para sempre, e que, portanto, a obra
da redenção foi completada para sempre. Agora, se tais pessoas pecarem voluntariamente após
terem tido conhecimento da verdade tal como este, então não resta mais sacrifício pelos pecados.

Precisamos ver o seguinte: se os versículos acima podem ser aplicados a um cristão, isto é,
se um cristão for tentado a mentir e roubar, a frequentar lugares onde não deveria ir, ou fazer
coisas que sabe não deveria fazer, será por isto é considerado como estando pecando
voluntariamente e portanto não é salvo? Quem então será salvo? Até mesmo Paulo e Pedro não
estariam qualificados para serem salvos! Paulo não confessou: “Porque o que quero, isso não
pratico; mas o que aborreço, isso faço ... Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero, esse pratico... Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm
7:15, 19, 24). Paulo não pratica o mal que ele sabia que não devia praticar? E o crente Pedro não
negou o Senhor três vezes diante de uma serva? Não sabe ele que está mentindo e que mentir é
pecado? De tudo isso ficamos sabendo que a frase “pecar voluntariamente” deve significar algo
especial e não apenas cometer um pecado que alguém conhece.

Entretanto, isto ainda pode ser provado de outra forma. Para tanto, precisamos ler todo o
texto desta passagem da Escritura de um só fôlego: “Porque se voluntariamente continuarmos No
pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício
pelos pecados, mas uma certa expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar
os adversários. Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra
de duas ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele
que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e
ultrajar ao Espírito da graça” (Hb 10:26-29)?

Qual é realmente o significado de “pecar voluntariamente“ no versículo 26? Ele aponta para
as três coisas do versículo 29: (1) pisar o Filho de Deus, (2) tiver por profano o sangue do pacto
com que foi santificado, e, (3) ultrajar ao Espírito da graça. Em resumo, quer dizer rejeitar o
evangelho da salvação. Tal pessoa ouviu a palavra de Deus que afirma que Jesus é o Filho de
Deus, mas responde dizendo que Jesus é um bastardo; ouviu a palavra de Deus que diz que Jesus
derramou Seu sangue pela remissão dos pecados e que Seu sangue é muitíssimo precioso, como o

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sangue de um cordeiro puro e sem mancha, mas responde dizendo que a morte de Jesus é a morte
de um mártir e que Seu sangue derramado é comum como o de qualquer outro; ouviu a palavra de
Deus que diz que o Espírito Santo produz arrependimento e dá vida eterna, porém replica
declarando que não crê que Deus vá comunicar a ele o que Jesus realizou e que não crê também
No Novo nascimento. Por causa desse tipo de reação, a Bíblia declara que não resta mais
sacrifício pelos pecados.

O que significa “não resta mais sacrifício pelos pecados”? “Não resta mais” indica que
antes havia. Devemos prestar atenção a esta palavra “mais”. Com relação a isso, observe por favor
as seguintes passagens das Escrituras:

“Que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios,
primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez
por todas, quando se ofereceu a si mesmo” (Hb 7:27).

“Não pelo sangue de bodes e Novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por
todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção” (Hb 9:12)

“Nem também para se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote de ano em ano entra
no santo lugar com sangue alheio; doutra forma necessário lhe fora padecer muitas vezes desde
a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou,
para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9:25-28).

“Doutra maneira, não teriam deixado de ser oferecidos? pois, tendo sido uma vez
purificado os que prestavam o culto, nunca mais teriam consciência de pecado” (Hb 10:2).

“É nessa vontade Dele que temos sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo,
feita uma vez para sempre. Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia, ministrando e
oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este,
havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, assentou-se para sempre à direita de
Deus” (Hb 10:10-12).

Por que todas estas passagens indicam que o Senhor Jesus não se ofereceu muitas vezes
mas apenas uma: É porque, começando com o capítulo 7, o livro de Hebreus faz uma comparação
entre o sacrifício que o Senhor Jesus ofereceu e os sacrifícios oferecidos No tempo do Antigo
Testamento. O Senhor Jesus Cristo ofereceu a si mesmo apenas uma vez e para sempre efetuou
eterna redenção; enquanto que os sacrifícios mencionados No Antigo Testamento eram na forma
de Novilhos e bodes os quais eram oferecidos ano após ano. Individualmente falando, todos os
que viviam na dispensação do Antigo Testamento tinham que trazer e oferecer um bezerro, um
bode ou um par de rolinhas ou pombinhos como sacrifício pelo pecado cada vez que pecavam.
Coletivamente falando, a congregação inteira de Israel tinha que oferecer anualmente, No dia da
expiação, a oferta pelo pecado.

“Por que devem oferecer novilhos e bodes como sacrifícios ano após ano? Porque o
sangue de touros e bodes nunca podiam tirar os pecados. As pessoas tinham que oferecer
sacrifícios pelos pecados deste ano e também do ano passado. Só Jesus Cristo, por meio do
Espirito eterno, ofereceu-Se a Si mesmo a Deus, e fazendo isto obteve eterna redenção, e assim,
aperfeiçoou para sempre os que são santificados”. (Hb 9:14,12; 10:14).

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Consequentemente, Hebreus 10 leva isso avante dizendo que se alguém que ouviu a
verdade e ainda peca voluntariamente, rejeitou ao Espírito Santo e também o sangue do Filho de
Deus. Para tal pessoa que desprezou o Filho de Deus não resta mais sacrifício pelos pecados. As
pessoas No Antigo Testamento, se perdessem a oportunidade da expiação num determinado ano,
ainda poderiam tê-la No ano seguinte. Mas hoje, se alguém rejeitar a Jesus Cristo, não resta mais
sacrifício pelos pecados, visto que a oferta pelo pecado na dispensação do Antigo Testamento
passou e não é mais eficaz. Qualquer que tenha o conhecimento da verdade mas o rejeita, não tem
mais o sacrifício pelos pecados à sua disposição. Porque “em nenhum outro há salvação” (At.
4:12). Deus fez tudo quando enviou o Senhor Jesus Cristo a este mundo para realizar a obra da
redenção, para que pudéssemos ser salvos. Portanto, não há nada mais que Ele possa acrescentar.
Por isso a Bíblia Nos diz que se alguém pecar voluntariamente, isto é, rejeitar o evangelho que
ouviu e conheceu, tudo está terminado e concluído para ele. Seu fim é nada mais que certa
expectação de juízo e um ardor de fogo que há de devorar os adversários.

Hebreus 6:1-8 diz que o fim da classe de pessoas lá mencionada é “perto da maldição”; mas
Hebreus 10:26-29 diz que o resultado deste grupo de pessoas é serem queimados com o “fogo que
há de devorar os adversários”; como pode este último grupo apontar para os cristãos? Esta
passagem quer dizer nada mais que isso: para os que intencionalmente rejeitam o evangelho, não
existe mais salvação. De outro modo, por que a palavra “mais” deveria ser usada ao dizer: “Não
resta mais sacrifício pelos pecados”? Por que a palavra “uma vez” seria usada repetidamente Nos
versículos precedentes? Ajuntando estas palavras dentro do seu contexto, podemos facilmente
discernir o significado das palavras “não resta mais sacrifício pelos pecados”.

PERGUNTA No 48

Quantos tipos diferentes de perdão provenientes de Deus são mencionados na


Bíblia? E quais são os seus respectivos significados?

Lembremos deste único fato: o tipo de consequência do pecado determinará o tipo do


perdão envolvido. Ora, as consequências dos pecados são em número de cinco:

(a) Perdição eterna.

(b) Separação do povo de Deus. (Nos dias do Antigo Testamento, se um israelita pecasse,
ele seria oortado da congregação dos filhos de Israel. Do Novo Testamento para frente, existe
também uma palavra tal como esta: “Tirai esse iníquo do meio de vós” (1Co. 5:13).

(c) Interrupção na comunhão com Deus.

(d) Se o pecado não for abandonado, haverá disciplina da parte de Deus.

(e) Se o pecado não for abandonado, ele adversamente afetará No reino vindouro a pessoa
que pecou, quando o Senhor há de reinar e de tratar com tal problema.

(O quarto tipo de consequência é a disciplina nesta era, enquanto que o quinto indica
disciplina na era vindoura. A Bíblia menciona, em outro contexto que, “não lhe será perdoado,
nem neste mundo, nem No vindouro”. A palavra “mundo” aqui quer dizer “era”. Isto traz luz
sobre a verdade de que alguns pecados são perdoados nesta era, enquanto que outros são
perdoados na era vindoura.)

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Visto que os pecados têm estes cinco diferentes tipos de consequência, o perdão deles
também será de cinco espécies diferentes. Se houvessem apenas três tipos de perdão, o que
aconteceria às outras duas consequências restantes? Muitos ficam confusos nesta questão, como
aqueles que pensam haver apenas um julgamento. Se não estivermos claros com respeito a estes
cinco diferentes tipos de perdão, poderemos algumas vezes ficar perdidos num quebra-cabeças.

Quais são estes cinco tipos de perdão? Vamos mencioná-los todos, antes de tentarmos
explicar um por um.

(a) O perdão eterno de Deus. (Este se relaciona com a salvação eterna.)

(b) O perdão através do povo de Deus. (Este se relaciona com a comunhão dos filhos de
Deus. Podemos chamá-lo também de perdão emprestado ou de perdão da igreja.)

(c) Perdão na restauração da comunhão. (Este se relaciona com a comunhão de alguém com
Deus.)

(d) Perdão com disciplina. (Este se relaciona com o tratamento de Deus com Seus filhos.)

(e) Perdão no Reino. (Este se relaciona com o perdão durante o Reino Milenar.)

Agora vamos explicá-los separadamente:

(a) O Perdão Eterno de Deus

O perdão eterno tem a ver com a salvação eterna do homem. Embora tal perdão seja para a
eternidade, ele todavia, é dado hoje ao pecador. Sobre que base tal perdão é concedido? “E sem
derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). “Isto é o meu sangue, o sangue do pacto,
o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26:28). Estes versículos nos
dizem que o perdão eterno está fundamentado no sangue do Senhor Jesus. Não importa quão
grande ou grosseiro possa ser o pecado; ele pode ser perdoado por meio do Seu sangue. Tal
perdão não é sem preço, visto que Deus não pode perdoar livremente; porque “sem derramamento
não há remissão“, diz Sua palavra. Ao perdoar nossos pecados Deus não fez vista grossa porque
Ele condenou o pecado. Ele sô pode nos perdoar porque já julgou nossos pecados na carne de
Cristo. O Senhor Jesus morreu, derramou Seu precioso sangue e pagou o preço. Por isso Deus
pode ser muitíssimo justo em Nos perdoar, pois como poderá Ele não nos perdoar visto termos um
Salvador que morreu por nós?

A razão porque nossos pecados são perdoados é porque o Cordeiro de Deus tirou nossos
pecados; porque o sangue de Jesus o Filho de Deus purificou Nossos pecados. A base para o nosso
perdão é o Seu sangue; e por meio da fé nós recebemos este perdão (At 10:43; 13:39). Não pense
vãmente que somos perdoados porque nos arrependemos dos nossos antigos pecados e
determinamos não mais pecar no futuro. Á palavra de Deus nos diz que nossos pecados são
perdoados por causa do sangue do Senhor Jesus e somente por ele. Todo aquele que crê em Seu
sangue verá que seus pecados, tendo sido postos sobre o Senhor Jesus, estão todos perdoados.

Quando recebemos o perdão dos Nossos pecados: agora ou No futuro? “Filhinhos, eu vos
escrevo, porque os vossos pecados são perdoados por amor do seu Nome” (1Jo 2:12). Observe as
palavras “são perdoados”. Não diz “esperando ser perdoados” mas “são perdoados”. Aleluia! Tão
logo alguém crê No Senhor Jesus todos os seus pecados são perdoados. A palavra de Deus diz

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claramente: “Filhinhos ... os vossos pecados são perdoados por amor do seu Nome”; se Deus diz
que eles “estão perdoados”, eles estão perdoados, pois Ele nunca mente.

(b) O Perdão Através do Povo de Deus

“Aqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados ; e àqueles a quem os


retiverdes, são-lhes retidos” (Jo 20:23). O perdão aqui mencionado não é bem estranho? Isto
significa que os apóstolos têm na terra autoridade para perdoar? A resposta a esta pergunta é
muito importante, pois se não compreendermos o sentido deste versículo, não estaremos em
condições de refutar a suposta autoridade que o papa declara possuir. A autoridade para perdoar,
com relação à nossa salvação, está nas mãos de Deus. Suponhamos, por exemplo, que você vá ver
Pedro e ele se recuse a perdoá-lo. Isto quer dizer que você não pode ser salvo? De modo algum,
pois a salvação ou perdão dos pecados tem como base a nossa aceitação do sangue precioso do
Senhor Jesus.

A que se refere então o perdão mencionado em João 20:23? Ele refere-se à declaração feita
pela igreja, após ter sido instruída pelo Espírito Santo e conhecido o perdão de Deus dado a um
indivíduo. Devemos observar que o versículo diz “àqueles a quem vós perdoardes os pecados”,
com o pronome no plural, e não “Você” No singular. É coletivo e não pessoal; é a igreja e não um
indivíduo. “Àqueles a quem perdoardes os pecados” significa que, quando a igreja declara que os
pecados da pessoa ou pessoas são perdoados, elas já eram salvas. Suponhamos que alguém venha
à igreja e diga: “Eu ouvi o evangelho e cri. Por favor, recebam-me no batismo e no partir do pão a
fim de que eu seja como os demais discípulos. Para ser recebido, os irmãos precisam saber que
seus pecados foram perdoados por Deus. Se os irmãos sabem disso e que ele já é filho de Deus,
então declararão que ele foi realmente perdoado e salvo e deve, portanto, ser recebido na
comunhão da igreja. Se os irmãos não estiverem seguros interiormente e não puderem testificar
por ele, não poderão recebê-lo. O perdão da igreja tem como base o perdão de Deus. A igreja
simplesmente declara aquilo que Deus já fez, e, por meio da igreja, Deus anuncia qual é a
condição da pessoa diante Dele.

Devemos prestar atenção ao versículo que precede o 23, visto que este é apenas uma
sequência do versículo 22: “E havendo dito isto, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo” (v. 22). O julgamento que a igreja faz com respeito ao perdão de uma pessoa,
depende do poder do Espírito Santo. Ela decide segundo o ensino do Espírito Santo e não segundo
o sentimento pessoal. Mesmo que alguém verdadeiramente salvo tenha que esperar, caso a igreja
não esteja segura, isto de modo nenhum afetará seu perdão diante de Deus. Tome o exemplo de
Paulo, o qual depois de ser salvo foi a Jerusalém à busca de comunhão com os discípulos; mas
eles estavam com medo dele e não creram que ele havia realmente confiado no Senhor e se
tornado um discípulo de Cristo. Tal não aconteceu até que Barnabé deu testemunho Dele, de que
ele podia entrar e sair com os discípulos em Jerusalém (At 9:26:28). De modo que, a igreja não
perdoa ou retém diretamente os pecados de alguém; ela simplesmente declara se os seus pecados
estão perdoados diante de Deus ou não, decidindo assim se pode ter comunhão entre os
discípulos.

(c) Perdão Para Restaurar a Comunhão

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; mas, se alguém pecar,
temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos Nossos
pecados, e não somente pelos Nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1Jo 2:l,2). “Se

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confessarmos os Nossos pecados, ele é fiel e justo para Nos perdoar os pecados e Nos purificar
de toda injustiça” (1Jo 1:9). Estejamos claros com respeito à ênfase do Evangelho Segundo João
e da sua Primeira Epístola. O Evangelho descortina as Boas Novas entre os homens, enquanto que
a Primeira Epístola revela o evangelho No coração de Deus. O Evangelho segue duas linhas de
pensamento: graça e verdade. Quando fala sobre a graça ele fala também sobre a verdade. A
Primeira Epistola também segue duas Unhas de pensamento: Deus é amor e Deus é luz; ele fala de
amor por um lado e de luz por outro. Qual é o relacionamento de graça e verdade com amor e luz?
Aquilo que está no coração de Deus é amor; aquilo que é manifestado entre os homens é graça. O
que está no coração de Deus é luz; o que é manifestado entre os homens é verdade.

O Evangelho Segundo João traz Deus ao povo; a Primeira Epístola de João leva o povo a
Deus. O Evangelho fala de vida, salvação, vida eterna e outros assuntos semelhantes; a Primeira
Epístola fala de comunhão, aproximação de Deus e entrada em Sua presença. O Evangelho trata
com a questão da salvação; a Primeira Epístola trata com a questão da comunhão com Deus. A
Epístola inicia com a questão da comunhão e os dois primeiros capítulos tratam com o perdão na
comunhão.

O Nosso relacionamento com Deus é duplo. O primeiro é o relacionamento de parentesco


que temos com Deus: somos salvos e assim nos tornamos Seus filhos. Tal relacionamento nunca
pode ser quebrado. Pergunta no 1: Um filho deixará de ser filho se for mau? Não, impossível.
Pergunta no 2: Um filho deixará de ser filho do seu pai se ele não quiser ser tal filho? Não, não
pode. Pergunta no 3: Um filho deixará de ser filho do seu pai se este o negar? Não, ele não deixará
de ser. Pergunta no 4: Suponhamos que você seja filho de um certo homem; outras pessoas ou
mesmo o Diabo poderão se opor dizendo que você não seja tal filho? Não, não podem.
Declaremos com reverência que nem mesmo Deus pode negar este relacionamento. Depois que
alguém é salvo e se torna filho de Deus, este relacionamento nunca pode ser destruído, porque
está eternamente garantido.

Entretanto, existe um tipo de relacionamento que pode ser interrompido de vez em quando:
a comunhão. Por exemplo: você é filho do seu pai. Mas um dia você faz algo errado e por isso
teme vê-lo a fim de não ser castigado. E quanto maior for sua falta, maior o seu temor de vê-lo.
Embora seu relacionamento como parente permaneça inquebrável, sua comunicação com ele
todavia está interrompida. Assim também é o nosso relacionamento com Deus. Ainda existe a
possibilidade de pecar após sermos salvos. Quando pecamos nossa comunhão com Deus é
imediatamente cortada. Tal comunhão não é restaurada até que Nossos pecados sejam perdoados.
Se pecamos, devemos confessar Nossos pecados conforme 1João 1:9, reconhecendo que agimos
errado em determinada questão e pedindo a Deus para Nos perdoar. Por meio de tal confissão a
nossa comunhão com Ele será restaurada.

Por qual meio são os pecados purificados? Pelo sangue. Entretanto, muitos cristãos tentam
purificar seus pecados através do tempo e não pelo sangue. Como assim? Bem, alguém que peca
hoje poderia continuar lamentando por muitos dias por pensar que Deus não pode perdoá-lo assim
tão rapidamente. Depois de cinco ou dez dias seu coração começa a sentir paz e por isso, conclui
que não há mais pecado. Não é esta uma tentativa de purificar os pecados esperando cinco ou dez
dias do que pelo sangue? Estejamos claros que Nossos pecados são perdoados por causa do
sangue e não por causa do esquecimento. Não é porque esquecemos Nossos pecados que eles são
perdoados; é somente porque o sangue de Jesus o Filho de Deus Nos purificou de todos os Nossos
pecados. Deus só pode perdoar os pecados que estão debaixo do sangue.

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Há uma estória mais ou menos assim: Alguém perguntou a um menino o que ele faria se
pecasse. Ele respondeu que faria duas coisas: primeiro, se entristeceria por alguns dias; depois
receberia o perdão. A teologia desse menino parece ser a mesma de muitas pessoas. Aos seus
olhos parece haver necessidade de bastante pesar e tempo antes que possa ser perdoado. Irmãos e
irmãs, não importa quantos dias vocês passem se lamentando; isto não lhes ajudará a conseguir
nem mesmo um centésimo do seu perdão. É correto que nos sintamos tristes por nossos pecados,
todavia nosso perdão não vem do nosso lamento, mas somente pelo sangue do Senhor Jesus. E
assim, nossa comunhão com Ele será restaurada.

(d) Perdão Com Disciplina

Este diz respeito ao método de Deus tratar com Seus filhos. Qual é o Seu tratamento? É o
modo pelo qual Ele tratará com as pessoas. Vamos ler primeiro algumas passagens na Bíblia.

“Para com o benigno te mostras benigno; para com o perfeito te mostras perfeito; para
com o puro te mostras puro; mas para com o perverso te mostras avesso” (2Sm 22:26,27). Esta é
uma descrição da maneira de Deus tratar. Ele trata com você de acordo com aquilo que Você é.
“Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também
ceifará. Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia No
Espirito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl 6:7,8). Estes versículos também mostram a
maneira de Deus lidar com as pessoas. Aquele que semeia na carne, da carne ceifará a corrupção;
mas aquele que semeia No Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. Em Nosso pecar não existe
apenas um crime cometido diante de Deus, mas há igualmente um sofrimento que é um
acompanhamento ou consequência do pecado. O crime pode ser perdoado, mas o sofrimento não
pode ser evitado. Um filho desobedece sua mãe roubando doces para comer. Se ele se arrepender,
o crime de ter roubado os doces pode ser perdoado, porém, seus dentes em breve terão cáries. Os
filhos de Deus frequentemente têm seus pecados perdoados, todavia devem colher o resultado
Deles. O perdão eterno é dado tão logo alguém crê; o perdão para restauração da comunhão é
concedido imediatamente após a confissão, mas o tratamento de Deus relacionado com tal perdão
é algo bastante doloroso.

Tomemos Sansão como exemplo. Ele era um líder e juiz sobre o povo de Deus. Depois caiu
em pecado e foi maltratado pelos Filisteus. Embora tenha feito um último pedido a Jeová dizendo:
“Ó Senhor Deus! lembra-te de mim e fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que duma só
vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos” (Jz 16:28), e embora tenha matado mais na sua
morte do que em toda a sua vida, ainda assim seus olhos nunca foram restaurados. Seu cabelo
pode crescer de Novo, sua comunhão com Deus pode ser restaurada, mas seu ofício como juiz
não.

Em 2Samuel 11 encontramos o registro dos dois tipos de pecado mais grosseiros que Davi
cometeu: adultério e assassinato. Deus enviou o profeta Natã para reprová-lo e julgou de modo
bem severo seus pecados: “Agora, pois, a espada jamais se apartará da tua casa, porquanto me
desprezaste e tomaste a mulher de Urias, e heteu, para ser tua mulher ... Eis que suscitarei da tua
própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu
próximo, o qual se deitará com tuas mulheres à luz deste sol” (2Sm 12:10-12).

Foi isto que Davi recebeu sob a disciplina de Deus. Embora tivesse confessado seu pecado
e Natã lhe tivesse dito que “o Senhor perdoou o teu pecado”, ele teve que exeprimentar o

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sofrimento sob disciplina. Por confessar a Deus, seu pecado foi perdoado e sua comunhão com
Ele foi restaurada, entretanto a disciplina veio após o perdão. Ele assassinou apenas Urias, mas
quatro dos seus filhos morreram (o primeiro filho de Bate-Seba e também Ammon, Absalão e
Adonias). Esta é a ação justa de Deus. Sabendo disso não ousamos pecar. Deus precisava Se
justificar, para mostrar que estava descontente com o que Davi fizera. Se Deus não disciplinasse a
Davi por seu pecado, o mundo inteiro diria que Deus havia tido prazer na sua conduta. Deus podia
perdoar a Davi, mas devia expressar Sua aversão pelo seu pecado.

“Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja e estes orem sobre ele, ungindo-o
com óleo em Nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente e o Senhor o levantará; e, se
houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg. 5:14, 15). O perdão aqui mencionado é um
perdão que está sob disciplina. Se fosse uma referência ao perdão eterno, como poderia ser obtido
através da oração de fé de outras pessoas? Não pode também ser o perdão para restauração da
comunhão, pois a confissão da pessoa é a condição para ser conseguida. O perdão sob disciplina
deve ser executado solicitando aos anciãos da igreja para virem, e, se o Senhor lhes der a oração
da fé, o doente ficará bom.

“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas
iniquidades; o castigo que Nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados”
(Is 53:5). Este versículo toca em quatro áreas diferentes: (1) com respeito às obras, (2) com
respeito a condição diante de Deus, (3) com respeito ao corpo, (4) com respeito à disciplina de
Deus — pois a cláusula pertinente pode também ser traduzida assim: “ele foi castigado por causa
da nossa paz”. O Senhor já foi castigado por nós; portanto existe este elemento do castigo na obra
da cruz. Consequentemente, podemos pedir a Deus para dispensar Nosso castigo visto que o
Senhor já foi castigado.

“Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo e ele fugirá de vós”. (Tg 4:7)
“Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando
sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios, vigiai. O vosso
adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar;
ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão se cumprindo entre os
vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna
glória, depois de haverdes sofrido por um pouco de tempo, ele mesmo vos há de aperfeiçoar,
confirmar e fortalecer.” (1Pd 5:6-10)

Sempre que formos disciplinados, humilhemo-nos sob a potente mão de Deus. Devemos
dizer a Ele: “Não vou resistir aquilo que Tu me dás; eu mereço o tratamento que me dás.” Todavia
devemos resistir ao diabo, porque, se não tivermos cuidado, ele Nos dará sofrimentos adicionais
os quais são totalmente desautorizados. Quando Deus disciplina, o diabo procura atacar; por isso
devemos resistir ao diabo. Só depois de Nos humilharmos sob a disciplina de Deus, é que estamos
aptos a resistir ao diabo. Por um lado devemos obedecer a Deus; por outro devemos exercitar
nossa vontade diariamente para resistir ao diabo, declarando que recusamos ficar doentes ou
fracos.

(e) O Perdão No Reino

Com respeito ao perdão no reino podemos ler Mateus 18:21-35: “Então Pedro,
aproximando-se Dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e

89
eu lhe hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta
vezes sete. Por isso o reino dos céus é comparado a um rei que quis tomar contas a seus servos; e,
tendo começado a tomá-las, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; mas não tendo
ele com que pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos e tudo o
que tinha, e que se pagasse a dívida. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava dizendo:
Senhor, tem paciência comigo, que tudo te pegarei. O Senhor daquele servo, pois, movido de
compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos
seus conservos, que lhe devia cem denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo: Paga o que me
deves. Então o seu companheiro, caindo-lhe aos pés, rogava-lhe dizendo: Tem paciência comigo,
que te pagarei. Ele, porém, não quis; antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Vendo, pois, os seus conservos o que acontecera, contristaram-se grandemente, e foram revelar
tudo isso ao seu senhor. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo
malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste; não devias tu também ter
compaixão do teu companheiro, assim como eu tive compaixão de ti? E, indignado, o seu senhor
o entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim vos fará meu Pai celestial,
se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão.”

Ao ler a Bíblia seremos confrontados por grande dificuldade se não pudermos distinguir os
vários tipos de perdão. A menos que possamos distinguir qual é o tipo de perdão neste caso
particular, provavelmente iremos especular quanto a possibilidade do Nosso Pai celestial poder
rescindir o perdão eterno e permitir que voltemos à posição de perdidos. Devemos saber que o
perdão aqui mencionado não se encaixa em nenhuma das quatro categorias precedentes, mas
pertence ao perdão No reino. Tal categoria de perdão será recebido de modo semelhante ao
encontrado na parábola acima que começa dizendo: “O reino dos céus é comparado a um rei que
quis tomar contas a seus servos” (v. 23). No tocante à igreja, Deus fala de graça; no tocante ao
reino, Ele fala de responsabilidade. Com respeito a igreja, somos informados sobre o que o
Senhor fez e como Ele nos trata; com respeito ao reino nos é mostrado como somos treinados
diante de Deus, como vivemos hoje, e qual será o julgamento no futuro. Aqui em Mateus 18
vemos qual é a nossa responsabilidade, pois esta passagem se relaciona com o reino dos céus —
com o reinar por mil anos — e não com a questão da salvação eterna.

Existe uma porção de parábolas sobre o reino Nos quatro evangelhos e Mateus 18 é uma
delas. Aqui o reino dos céus é comparado a um certo rei que quis fazer contas com seus servos.
Um servo devia dez mil talentos ao seu senhor e não podia pagá-los. Suplicou-lhe então, que
tivesse paciência, a fim de que pudesse lhe pagar mais tarde. Seu senhor, movido de compaixão,
perdoou-lhe a dívida. Mas, ao sair o servo encontrando um seu conservo que lhe devia apenas cem
denários, não quis perdoá-lo, mas o colocou na prisão até que pagasse tudo quanto lhe devia.
Depois, outro conservo contou o acontecido ao senhor e este disse: “Não devias tu também ter
compaixão do teu companheiro, assim como eu tive compaixão de ti?” (v. 33). Tendo acabado de
relatar esta parábola, o Senhor Jesus começou a explicá-la. Assim disse Ele: “Assim vos fará meu
Pai celestial, se de coração não perdoaste, cada um a seu irmão” (v. 35). Isto é sobre o perdão
No reino. Tal perdão não é a porção de todos os cristãos, pois ele só é dado àqueles que perdoam
os outros.

Façamos uma pausa aqui e recapitulemos o que aprendemos sobre o perdão. O primeiro
tipo de perdão é recebido quando cremos No Senhor Jesus. O segundo tipo é obtido através da
declaração da igreja. O terceiro é dado após confessarmos Nossos pecados a Deus. O quarto é
concedido quando Deus reoonheoe que o tempo da disciplina foi cumprido e então Ele a remove.

90
Mas o quinto tipo de perdão, o que estamos considerando agora, é concedido depois que
perdoamos, dos nossos corações, outras pessoas.

Sabemos que a vida diária e a obra de um cristão na terra serão julgadas no futuro. Depois
do arrebatamento todos os cristãos comparecerão diante do Tribunal de Cristo. Não será para
julgar a salvação de um cristão, mas sim, o julgamento da sua aptidão para o reino e sua posição
Nele. De modo que existem dois perigos com respeito ao nosso comparecimento diante do
Tribunal de Cristo: (1) podemos ser totalmente barrados de entrar no reino; ou, (2) podemos
receber uma posição inferior Nele, se tivermos permissão para entrar.

Como irá Deus julgar? O reino é a recompensa de Deus e a recompensa deve ser
determinada por nossas obras. Embora não possamos ser salvos pelas obras, ainda precisamos
delas para sermos recompensados. nossa salvação é devida a nossa fé; Nosso galardão é devido às
nossas boas obras.

Houve um santo que disse: “Eu peço a Deus para purificar com o sangue do Senhor
minhas lágrimas penitentes derramadas pelos meus pecados! Eu peço a Deus para lavar com o
sangue do Senhor meu triste arrependimento!” Um dia no Tribunal, os olhos do Senhor como
chama de fogo sondará nossas vidas e obras completamente, desde o dia em que fomos salvos
para a frente. Naquela hora de julgamento, talvez haja umas poucas coisas que serão reconhecidas
pelo Senhor como sendo inculpáveIs Pois aquilo que pode ser visto por muitos de nós como sendo
obras excelentes, serão, pelo contrário, julgadas pelo Senhor como sendo imundas, sábias
segundo o mundo e impuras. Muitas das chamadas “boas” obras poderão ser condenadas como
sendo muito más.

Visto que o julgamento deve começar na casa de Deus (1Pd 4:17), quão sério deve ser este
julgamento! E se assim for, quem pode passar por tal julgamento? Como devemos esperar que
Deus seja misericordioso para conosco No Tribunal de Cristo, pois até lá nós precisamos de
graça! É exatamente sobre isso que Mateus 18 está falando. É verdade que Deus Nos julgará com
absoluta justiça; entretanto, existe perdão com Ele e Seu perdão é baseado No perdão que damos
aos outros hoje. Não importa como as pessoas possam tratá-lo, se você perdoa cinco ou dez
pessoas que pecaram contra você e você sempre perdoa, então naquele dia Deus lhe dará um
tratamento justo. Porque você perdoou os outros, é mais do que justo que Deus lhe perdoe No
Tribunal de Cristo.

“Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a
misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2:13). Se você mostra misericórdia aos outros Deus
também mostrará misericórdia a você. Se você não mostra misericórdia Deus tampouco mostrará
misericórdia a você. Por tratar as pessoas generosamente, sem ser cruel ou implicante, Deus
também perdoará você naquele dia.

Devemos ter cuidado diariamente com duas coisas: uma é Nos examinar a fim de não
cairmos No julgamento de Deus; a outra é sermos misericordiosos e perdoadores, não importando
o quanto as pessoas nos devam a fim de podermos receber o perdão de Deus naquele dia.

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis
julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós” (Mt 7:1, 2). De acordo com a
maneira com que você julga as pessoas assim Deus te julgará. O modo que você usa para julgar
seus irmãos será o modo que Deus julgará você. Suponhamos que você observe algo errado em

91
alguém. Ao invés de persuadi-lo amorosamente, você só lhe faz criticas e julgamentos severos.
Naquele dia Deus julgará você da mesma forma. Por isso, o modo de Deus julgar você naquele dia
do juízo depende de como você trata hoje as outras pessoas. Este é igualmente o significado dos
primeiros versículos de Romanos 2: “Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas,
quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas,
praticas o mesmo. E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade, contra os que tais
coisas praticam. E tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu,
escaparás ao juízo de Deus?” (vs. 1-3).

“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordante vos deitarão No
regaço; porque com a mesma medida com que medis, vos medirão a vós” (Lc 6:38). Estas
palavras em Lucas são bastante claras. Se damos, Deus retribuirá abundantemente, sacudindo e
transbordando. A medida não é somente boa e recalcada, mas também sacudida e transbordante.
Na medida da graça que você dá aos outros, assim também Deus dará a você. É absolutamente
impossível esperar que Deus te trate graciosamente No futuro, se você trata severamente as
pessoas hoje. Que todos os cristãos, em vista disso, aprendam a não julgar. Não se considere como
sendo justo e correto o bastante para julgar. Se não perdoamos aos outros, receberemos severa
punição nos mil anos do reino. Não há dúvida para nós que a vida eterna é certa e segura, porque
a salvação eterna é algo que recebemos; se, contudo, não perdoamos nossos devedores nesta vida,
então no reino futuro Deus também não nos perdoará.

Como uma nação é destruída? Como cai uma casa? Não é devido à contenda interna? Por
esta razão Deus não permitirá qualquer contenda entre os Seus, nem que exista qualquer ódio.
Como pode Ele tolerar qualquer inimizade entre duas pessoas que hão de governar, cada uma,
cinco cidades? Ele não pode permitir que os divergentes governem cidades. Ele só pode
entregá-los aos atormentadores, até que paguem tudo o que devem. Como será feito o pagamento?
De nenhum outro modo senão dando o perdão de coração. Neste caso, por que deveríamos adiar o
perdão até aquele dia, visto que, eventualmente, teremos que perdoar de qualquer forma?

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos perdoará a
vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas” (Mt
6:14, 15). Mateus 5, 6 e 7 fala sobre o reino do céu. Qualquer que não perdoar os homens não será
perdoado por Deus. Tal perdão afetará seu lugar no reino. Se ele perdoa ou não hoje, terá relação
com o ser ele perdoado ou não no reino.

Nosso Deus está nos testando agora para ver se somos idôneos para ser reis e se somos
dignos de servir em Seu reino. Não pense que servir na igreja seja grande; o serviço no reino é
ainda maior. No reino futuro Deus nos confiará coisas mais elevadas e mais gloriosas para
administrarmos. Qualquer que seja incapaz de administrar coisas pequenas agora não será idôneo
para administrar coisas maiores depois Se não sabemos como lidar com as coisas desta vida,
como nos poderá ser confiado o julgamento dos anjos no futuro (veja 1Co 6:1-8)? Por amor
àquele dia aprendamos a perdoar os outros em nosso próprio dia.

92
PERGUNTA No 49

Quantos tipos de salvação são mencionados na Bíblia? Como podem ser


explicados?

A Bíblia menciona pelo menos seis tipos diferentes de salvação.

a) Eternamente salvo diante de Deus.

Este primeiro tipo de salvação é a salvação eterna diante de Deus. Nós a recebemos No
momento em que cremos No Senhor Jesus. É ser livrado do julgamento dos pecados, da maldição
da lei, da ameaça da morte, da punição do inferno e do poder de Satanás. É também ser
justificado, santificado e reconciliado com Deus, recebendo o perdão dos pecados e a purificação
das iniquidades. Quer dizer também que agora nascemos de Novo, possuindo a vida eterna do
Senhor, a vivificação do Nosso espirito e o Espírito Santo habitando em nós. Somos assim
maravilhosamente salvos puramente pela graça de Deus, não tendo absolutamente nada a ver com
as nossas obras. “Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;
não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8,9). “Deus... que nos salvou, e chamou
com uma santa vocação não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e
graça” (2Tm 1:9a). “Não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo
a sua misericórdia, Nos salvou” (Tt 3:5a). “Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor
Jesus” (At 15:11).

Esta salvação eterna é realizada por nós, pelo Senhor Jesus. Ele é o Nosso Salvador e veio
para morrer por nós, tendo levado Nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro (1Pd 2:24), a
fim de Nos redimir da maldição da lei (Gl 3:13), Nos livrar da ira vindoura (1Ts 1:10), derrotar o
diabo que tem o poder da morte (Hb 2:14), Nos livrar do poder das trevas (Cl 1:13), Nos levar e
escapar do juízo e passar da morte para a vida (Jo 5:24), Pela ressurreição do Senhor Jesus dentre
os mortos, nós nascemos de Novo e recebemos vida eterna para podermos ser filhos de Deus (1Pd
1:3; 1:12), Por meio da Sua ascensão somos levados a Deus o Pai, com o Qual temos agora
comunhão No Santo dos Santos (Hb9:12; 10:19-22), muito acima de todos os poderes das trevas
(Ef 1:21). Tudo isso é feito completamente pelo Senhor; nós apenas recebemos, isto é, cremos
Nele: “A todos quantos o receberam, aos que creem No seu Nome, deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus” (Jo 1:12). O evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê” (Rm 1:16). “Crê No Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa” (At. 16:31).

Tal espécie de salvação é eterna. Uma vez salvo, salvo para sempre. “E, tendo sido
aperfeiçoado, veio a ser autor de eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb 5:9). A
salvação que o Senhor realizou para nós é eterna, portanto a nossa salvação também é eterna.

Com respeito à segurança da nossa salvação, ou seja, que nunca pereceremos uma vez
salvos, podemos encontrar pelo menos doze áreas de evidência diferentes nas Escrituras:

(1) Segundo a vontade de Deus.

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Deus pré-ordenou que fossemos Seus filhos e recebêssemos a filiação, não segundo nossas
condições, mas segundo o beneplácito da Sua vontade (Ef 1:5). Ele nos salva e nos chama
com uma santa vocação, não segundo as nossas obras e sim segundo Seu próprio propósito
(2Tm 1:9). Porque nossas condições podem mudar, mas a vontade de Deus nunca muda
(Hb 6:17). Na eternidade Ele deu origem a uma vontade que é a de nos salvar, para que
nenhum de nós se perca (Jo 6:39). Como podemos então ser salvos e mais tarde nos
tornarmos perdidos? Nossa salvação está garantida para sempre na imutável vontade de
Deus.

(2) Segundo a eleição de Deus.

Sermos escolhidos por Deus não é algo acidental nem temporário. Ele Nos escolheu em
Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Sua eleição não é segundo nossas obras, mas
segundo Sua vontade (Rm 9:11). Porque nós não escolhemos o Senhor; foi Ele quem nos
escolheu (Jo 15:16). Assim como o Senhor nunca muda, assim também Sua eleição não
conhece arrependimento (Rm 11:29). Por isso nossa salvação está eternamente garantida e
nunca será balançada.

(3) Segundo o amor de Deus.

Nossa salvação está baseada No amor de Deus por nós e não no nosso amor por Ele (1Jo
4:10). Nosso amor muda facilmente, mas o amor de Deus é mais profundo do que o amor de
uma mãe (Is 49:15). Ele é eterno (Jr 31:1), vai até o fim (Jo 13:1) e é imutável. Este amor
eterno de Deus tomou a nossa salvação eternamente garantida.

(4) Segundo a graça de Deus.

Somos salvos não por nós mesmos, nem tampouco por nossas obras, mas sim pela graça de
Deus (Ef 2:8,9). Nós mesmos, com nossas obras, mudamos frequentemente, mas a graça de
Deus é firme e segura. Por esta razão nossa salvação está eternamente garantida. Além do
mais, esta salvação Nos é dada em Cristo Jesus antes mesmo da fundação do mundo (2Tm
1:9), e temos a nossa redenção segundo as riquezas da graça de Deus (Ef 1:7). Sua graça é
sempre suficiente e mais do que suficiente. Sua graça é capaz de levar todas as nossas
cargas, suprir todas as nossas necessidades e nos salvar completamente.

(5) Segundo a justiça de Deus.

Deus Nos salvou não apenas por Seu amor e graça, mas também segundo Sua justiça, Ele
não pode deixar de Nos salvar porque o Senhor Jesus já sofreu por nós na cruz o justo
julgamento de Deus e satisfez as suas justas exigências. Portanto, se Deus não nos salvar,
Ele cairá em injustiça. Ao nos salvar, Ele revela que é justo (Rm 1:16,17), pois a justiça é a
base do Seu trono (Sl 89:14). Sua justiça é imutável. Visto que a nossa justificação está
fundada na justiça de Deus, ela é eterna e imutável.

(6) Segundo a aliança de Deus.

Deus fez uma aliança conosco para Nos salvar (Mt 26:28; Hb 8:8-12), e uma aliança não
pode sofrer alteração (Sl, 89:34). Por isso nossa salvação não pode ser mudada.

(7) Segundo o poder de Deus.

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“Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu
Pai” (Jo 10:29). Deus é supremo e Seu poder é o maior; ninguém pode Nos arrancar da Sua
mão poderosa. De modo que, segundo Seu poder a nossa salvação também está assegurada.

(8) Segundo a vida de Deus.

A vida de Deus é eterna. Deus Nos deu esta vida eterna para que Nos tomemos Seus filhos e
tenhamos um relacionamento de vida que dure para sempre com Ele (Jo 3:16, 1Jo 3:1). O
relacionamento da vida nunca pode ser dissolvido. Sua vida eterna em nós não permitirá
que pereçamos (Jo 10:28).

(9) Segundo Deus mesmo.

Não existe mudança nem sombra de variação em Deus (Tg 1:17; Mq 3:6). Como nossa
salvação poderá vacilar, visto que ela vem de tal Deus?

(10) Segundo a redenção de Cristo.

O Senhor se tomou para nós autor de eterna salvação (Hb 5:9). Somos santificados pela
oferta do corpo de Jesus Cristo de uma vez por todas (Hb 10:14). O que o Senhor fez é
eterno, portanto nossa salvação também deve ser eterna. Por causa disso “quem os
condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual
está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8:34). Ninguém pode anular a
redenção que o Senhor realizou por nós por meio de Sua morte e ressurreição. Ninguém
pode nos condenar por nossos pecados. Por isso a nossa salvação está eternamente
assegurada.

(11) Segundo o poder de Cristo.

“Ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10:28). O Senhor Jesus e Deus são um. Ele é
igual a Deus, portanto Sua mão é tão forte quanto a mão de Deus. Ninguém pode Nos
arrebatar da Sua mão. Sua mão poderosa faz com que nossa salvação esteja eternamente
assegurada.

(12) Segundo a promessa de Cristo.

“Aquele que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37). O Senhor tem
prometido que nunca lançará fora qualquer que for a Ele. Tal promessa feita por Ele
garante, da mesma forma, a nossa salvação eterna.

b) Salvo diante dos homens.

“Aquele que crer e for batizado será salvo” (Mc 16:16). A palavra “salvo” aqui não se
refere á salvação eterna, visto que a última parte do versículo diz: “Mas aquele que não crer será
condenado”. Por que a última parte não diz: “aquele que não crer e não for batizado” conforme
está na parte anterior que diz: “aquele que crer e for batizado será salvo”? Omitindo o batismo ao
falar sobre condenação, o escritor indicou que a palavra “salvo” na primeira parte não se refere à
mesma coisa que as palavras “será condenado” na segunda parte. Não ser condenado é totalmente
uma questão de fé, mas, neste caso, ser salvo requer fé e batismo. Consequentemente a salvação
em Marcos 16:16 não pode se referir á salvação eterna e o não ser condenado. A que ela se refere

95
então? À nossa salvação diante dos homens. Se alguém simplesmente crê sem ser batizado,
embora possa ter Nele a vida eterna, o mundo não saberá que ele é salvo. Ele precisa se levantar e
ser batizado, declarando assim ao mundo que seus pecados foram perdoados e que agora está
separado Dele. Por isso a salvação no batismo indica a salvação diante dos homens.

c) Salvo diariamente.

“Efetuai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2:12). Somos salvos não por aquilo
que tenhamos feito, mas pela graça de Deus a nós dada livremente. Mas aqui diz que devemos
efetuar nossa própria salvação. Já somos salvos; portanto, devemos, em nossas vidas, manifestar a
salvação que já recebemos. Tão logo cremos no Senhor recebemos a vida de Deus e Ele passa a
habitar em nós pelo Espírito Santo. “Pois é Deus quem opera em nós o querer e o efetuar,
segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:13). Deste modo manifestaremos a vida de Deus e viveremos
diariamente em obediência á Sua operação em nós. Tal espécie de vida não será alcançada
instantaneamente, mas exigirá um viver diário com temor e tremor.

“Portanto, pode salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive
sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). Aqui aprendemos como o Senhor nos salvará
diariamente em nossas vidas. Hoje Ele está intercedendo por nós diante de Deus para que
possamos ser preservados e livrados até o dia da Sua vinda.

Existe ainda uma coisa que devemos observar com respeito a esta salvação diária. O Senhor
quer que oremos diariamente, pedindo a Deus para nos livrar do maligno (Mt 6:13). Visto que
Satanás procura diária e frequentemente nos tentar, nos seduzir, nos atacar e nos prejudicar,
devemos diária e frequentemente buscar ao Senhor para sermos livrados.

d) Salvo das Aflições.

Este tipo de salvação pertence ao livramento que Deus Nos dá nas aflições. “O qual nos
livrou de tão horrível morte e livrará; em quem esperamos que também nos livrará” (2Co 1:10).
A salvação aqui mencionada não se refere à salvação eterna diante de Deus; ela segue a linha de
pensamento dos versículos 8 e 9. Paulo está falando sobre como ele e seus obreiros foram
afligidos na Ásia, oprimidos muito além do seu poder, de tal forma que desesperaram até da
própria vida. Eles tinham a sentença de morte dentro Deles, todavia Deus os livrou de tão grande
aflição e morte. Ele os havia livrado No passado e agora os está livrando e ainda os livrará No
futuro. Deus os livrará de todas as suas aflições.

“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34:7). Deus
ordenará que Seus anjos acampem ao redor daqueles que O temem e os livrará de suas aflições.

“Porque sei que isto me resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do
Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19). “Fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda
má obra” (2Tm 4:17b, 18a). Todas estas passagens referem-se ao sermos salvos das aflições e
males.

e) Salvo No Corpo.

Na segunda vinda do Senhor, Nosso corpo será redimido, transformado e feito conforme
Seu corpo glorioso (Fp 3:21). Isto também é chamado de salvação na Bíblia, mas aqui trata-se da
salvação do corpo. “Mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós

96
mesmos, aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do Nosso corpo” (Rm 8:23). Isto vem
imediatamente após as palavras “porque na esperança fomos salvos” (v. 24). A palavra “salvos”
no versículo 24 refere-se á “redenção do Nosso corpo” No versículo 23. Visto que a redenção do
corpo deve acontecer na segunda vinda do Senhor, devemos consequentemente, esperar por ela,
Quando cremos no Senhor No início, recebemos a salvação eterna e nosso espírito foi vivificado;
mesmo assim nosso corpo está gemendo e com dores de parto na velha criação, porque ainda está
sujeito á escravidão da corrupção e às dores da doença e da idade. Quando o Senhor voltar Ele
redimirá este Nosso corpo, o qual, como parte da velha criação, está sujeito à escravidão, o
transformará e conduzirá para dentro da gloriosa libertação da Nova Criação.

“Porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando nos tornamos
crentes” (Rm 13:11). Tais palavras apontam também para a salvação do corpo. nosso espírito é
salvo quando cremos No princípio; mas Nosso corpo deve ser salvo no futuro. Uma vez que
cremos, o tempo da salvação do Nosso corpo fica cada vez mais próximo de nós.

f) Salvo na Alma.

Nós, como seres humanos, somos feitos de três partes: espírito, alma e corpo (1Ts 5:23).
Nossa salvação, portanto, penetra cada uma dessas áreas. A salvação do espírito é recebida
através da regeneração do Espírito Santo, na ocasião em que cremos No Senhor. Deus perdoa
todos os Nossos pecados e o Espirito Santo entra em nós e vivifica nosso espírito morto. A
salvação do Nosso corpo acontecerá na vinda do Nosso Senhor, “o qual transformará o nosso
corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele
tem de até subordinar a si todas as cousas” (Fp 3:21). Mas além destas duas partes do nosso ser,
nossa alma também precisa ser salva; e sua salvação tem relação principalmente com a entrada No
reino milenar e o reinar com o Senhor, o Qual Nos recompensará e levará nossa alma a desfrutar
com Ele da alegria do reino.

“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida (alma), perdê-la-á; e quem perder a vida
(alma) por minha causa, achá-la-á” (Mt 16:25). A palavra “salvar” aqui não aponta para a
salvação eterna, visto que esta salvação não é algo dado livremente segundo a fé. A salvação aqui
diante de nós exige um preço: a alma será salva se perdendo e sacrificando-se a si mesma. Uma
pessoa salva que está disposta a negar a si mesma, tomar a cruz, seguir ao Senhor e a sacrificar sua
própria alma, entrará No reino milenar e se regozijará com o Senhor (Mt 25:21,23). A alma é o
lugar de sentimento do homem, seja alegria ou dor. Se alguém suporta a dor e sacrifica o prazer
temporário por amor do Senhor, ele desfrutará da alegria do Senhor na Sua vinda. A alma do
homem é o ego do homem. Aquele que está disposto a perder o seu próprio ego por amor do
Senhor, receberá o que é verdadeiramente seu No futuro (Lc 16:11,12).

“Quem quiser, pois, salvar a sua vida (alma), perdê-la-á; e quem perder a vida (alma) por
causa de mim e do evangelho, salvá-la-á” (Mc. 8:35). A causa do Senhor e a do evangelho estão
frequentemente unidas na palavra de Deus e são, portanto, inseparáveIs Se hoje sacrificamos a
alma e seu prazer por amor do Senhor ou do evangelho, nossa alma receberá alegria especial No
reino futuro, porque reinaremos com o Senhor e desfrutaremos da Sua alegria em glória.

“Quem quiser preservar a sua vida (alma), perdê-la-á;e quem a perder, de fato a salvará”
(Lc 17:33). Os crentes que procuram ganhar suas almas com seus prazeres nesta vida, perderão
todos os prazeres durante o reino. Mas todos os que perdem suas almas e seus prazeres neste
mundo por amor do Senhor, terão suas almas salvas e se alegrarão grandemente no reino.

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“Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10:22). “É na vossa
perseverança que ganhareis as vossas almas” (Lc 21:19). Os crentes que suportarem a
perseguição até ao fim serão recompensados pelo Senhor No dia futuro. Suas almas não sofrerão,
antes terão alegria.

“Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé,
para a conservação da alma” (Hb 10:39). A “fé” aqui mencionadaéa que exercitamos depois que
cremos No Senhor Jesus. Não é fé para entrar, mas a fé para andar; não é a fé para a vida, mas a fé
para viver. Se depois de salvos andamos No caminho do Senhor por fé e vivemos uma vida
vitoriosa, nossas almas serão salvas No futuro e teremos parte na glória e alegria do reino.

“Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas” (1Pd. 1:9). A “fé” aqui é a que
exercitamos depois que somos salvos; é a fé para se viver. Tal fé Nos preservará através das
dificuldades e provas e preparará nossas almas para receber a salvação que se manifestará na
segunda vinda do Senhor, isto é, o livramento de todas as tristezas e o prazer da alegria gloriosa do
reino.

“Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei com


mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg.
1:21). A salvação da alma é diferente da salvação do espírito. Nada é exigido de nós a não ser crer
e receber para termos a salvação do Nosso espírito. No caso da alma, entretanto, Nos é solicitado
despojar de toda a impureza e acúmulo de maldade e acolher com mansidão a palavra implantada.

“O Senhor... me levará salvo para o seu reino celestial” (2Tm. 4:18). “Porquanto,
procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será
amplamente suprida a entrada no reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pd.
1:10, 11). A salvação da alma significa ser transferido para dentro do reino do céu, que é o reino
eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

PERGUNTA No 50

Qual é o significado da santificação? Como somos santificados?

Com respeito à santificação, observemos os três pontos seguintes:

(a) O Significado da Santificação.

Do Antigo ao Novo Testamento, do Gênesis ao Apocalipse, sempre que a palavra


“Santificar” (ou suas correlatas) é mencionada, o sentido é sempre de “separar”, isto é, separar a
fim de pertencer a outro.

“Então o Senhor falou a Moisés, dizendo: Santifica-me todo primogênito, “ Então o Senhor
falou a Moisés, dizendo: Santifica-me todo primogênito, todo o que abrir a madre de sua mãe
entre os filhos de Israel, assim de homens como de animais; porque meu é” (Ex. 13:1,2). Todos
os primogênitos entre os filhos de Israel pertencem a Deus visto terem sido separados para Ele.
Eles são santos e pertencem a Ele. De modo que o significado de santificação é separar para Deus.
As coisas também podem ser santificadas a Ele (Lv. 27:14; 2Sm 8:11). O Senhor Jesus é

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santificado pelo pai (Jo 10:36). Ele é o “santo” (Lc 1:35). Ele é diferente de todos os outros
homens por ser “o Filho unigênito, que está no seio do Pai” (Jo 1:18) e é santo. Nós que cremos
No Senhor, somos chamados santos (At 9:13), e o significado da palavra é que somos santificados
para sermos santos para Deus.

Enquanto estava na terra o Senhor Jesus perguntou aos fariseus: “Qual é o maior: a oferta
ou o altar que santifica a oferta” (Mt 23:19)? Não é a oferta que santifica o altar, antes é o altar
que santifica a oferta. Colocando-a sobre o altar a pessoa está declarando que a oferta agora
pertence a Deus. Antes de ser oferecida sobre o altar ela pertence á própria pessoa; porém, depois
de ofertada, ela pertence a Deus. Isto não quer dizer que a oferta em si mudou; entretanto ela
proclama que agora tomou-se inteiramente de Deus. Por isso é santa. No Antigo Testamento o
tabernáculo com todos os seus muitos objetos são ungidos a fim de serem santificados. Isto não
quer dizer que estes objetos, intrinsecarnente, tiveram uma mudança; mas indica que estas coisas
agora pertencem totalmente a Deus para Seu uso e portanto são santas. O Novo Testamento
declara que o marido não crente é santificado através da esposa crente, que a esposa não crente é
santificada pelo marido crente e que os filhos não crentes são feitos santos através dos pais crentes
(1Co. 7:14). Isto também mostra que, embora nada nestas pessoas tenha mudado, elas agora são
santificadas através do marido, esposa ou pais crentes.

Visto que Deus Nos comprou com o precioso sangue do Senhor Jesus, não podemos mais
pertencer a outra pessoa. Somos separados para Deus e pertencemos só a Ele.

(b) A Posição de Santificados Diante de Deus.

Todo cristão, na ocasião que recebe o Senhor, tem não somente o perdão dos seus pecados e
d justificado, mas também é santificado diante de Deus. Deus é santo; sem santidade ninguém
pode vê-Lo, comungar com Ele ou orar diante Dele. Assim como a justiça é o Seu modo de fazer
as coisas, assim também a santidade é Sua natureza. Os pecados são perdoados segundo a justiça.
Sem perdão dos pecados ninguém pode ser salvo e sem santidade ninguém pode ver a Deus (Hb
12:14). A santidade não é um assunto relacionado com pecados e sim com a nossa separação para
Deus. Visto que todo cristão é santificado em Cristo, ele pode, portanto, chegar a Deus.

A carta aos Romanos trata com a justificação, mas Hebreus com a santificação. Romanos
fala da justiça, enquanto que Hebreus fala da santidade. Romanos se centraliza no trono, enquanto
que Hebreus se centraliza No Santo dos Santos. Romanos mostra como um homem é culpado
diante de Deus; Hebreus mostra como um homem é impuro diante Dele. Embora o perdão e a
justificação tirem a culpabilidade do cristão e o capacitem a permanecer diante de Deus, ainda
assim, sem santidade ele não pode desfrutar da Sua presença e ter comunhão com Ele No
Santíssimo.

Romanos nos informa que somos pecadores mas que Deus perdoou nossos pecados e nos
justificou por meio da morte do Seu Filho. Hebreus nos ensina que nosso corpo é impuro, mas que
o sangue do Filho de Deus nos lavou a fim de que, por meio do Seu sangue, possamos entrar no
Santíssimo lugar e ter comunhão com Deus. Temos santidade para entrar no Santíssimo pelo
sangue do Senhor Jesus.

Quão inclusiva é a santificação? O evangelho de Deus sempre provoca aleluias! Deus é


santo e a santidade é a Sua mais elevada glória. Em Cristo nós somos tão santo quanto Ele é. Isto
é o mais elevado. Qualquer coisa menos do que isso nos impedirá de ir a Deus. Mas porque em

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Cristo somos santos como Cristo é santo, nós podemos, portanto, chegar diante de Deus que Nos
contempla como se contemplasse a Cristo. Graças a Deus, quão perfeita e duradoura é a redenção
de Jesus Cristo. Se ela não fosse perfeita, a justiça de Deus não viria sobre nós. Se não fosse
duradoura não seríamos santificados para sempre para Deus. Porque a redenção do Senhor Jesus é
perfeita e duradoura, podemos receber o perdão eterno e sermos santificados para sempre para
Deus.

“A igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para
serem santos, com todos os que em todo o lugar invocam o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor Deles e Nosso” (1Co 1:2). Paulo escreveu aos coríntios que eram santificados em Cristo
Jesus e chamados para serem santos. A expressão “chamados para serem santos” No original é
“chamados santos”. Não somos chamados para sermos santos; somos santos por chamada, quer
dizer, já somos santificados para Deus. Logo que somos chamados, somos salvos, santificados em
Cristo e chamados santos.

Não podemos então, legitimamente perguntar que espécie de crentes eram os Coríntios?
Alguns consumiam seu próprio alimento e bebida antes de participarem da mesa do Senhor, de
modo que, enquanto estes estavam bastante cheios ou bêbados, outros na igreja estavam com
fome. Todavia, No início desta carta Paulo admitiu que eles eram santificados em Cristo Jesus e
chamados santos. Além do mais, alguém entre eles cometeu o pecado grosseiro de possuir a
própria esposa do pai; ainda assim Paulo disse que eles eram santificados em Cristo Jesus. Eles
eram arrogantes e presunçosos em seu comportamento, mas Paulo os reconheceu como sendo
santificados em Cristo Jesus. Concluímos assim que a santificação na Bíblia não se refere às obras
exteriores. É diferente daquilo que Romanos 5 a 8 diz, porque lá é apresentado o fruto da
santificação e não a santificação em si; lá é mostrado como cada pessoa não deve ser escrava do
pecado, mas como deve apresentar seus membros como instrumentos de justiça a fim de poder
produzir o fruto da santificação.

Nossa santificação vem a nós por meio da nossa união com o Senhor Jesus Cristo em Sua
morte. A árvore é diferente do fruto. A árvore é uma árvore e o fruto é fruto. Semelhantemente, a
santificação e o fruto da santificação são diferentes. A santificação é uma coisa e o fruto é outra.
Os crentes em Corinto possuíam a posição de santificados, mas não produziam o fruto da
santificação. E foi por esta razão que Paulo escreveu sua carta repreendendo-os e mostrando como
deviam produzir o fruto da santificação e ter também sua posição de santificação (2Co 7:1).

“Mas vós sois Dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e
justiça, e santificação e redenção” (1Co 1:30). Este versículo revela como Cristo Jesus Se tomou
nossa justiça, santificação e redenção. Assim como Cristo Jesus é justo e santo diante de Deus,
assim somos nós justos e santos em Cristo. Nossa santidade diante de Deus não é menos do que a
de Cristo. Louvado seja Deus, nossa santidade diante Dele não é baseada No nosso agir com
justiça. Santidade não é experimentar Cristo; santidade é Cristo. A santidade de Cristo é a nossa
santidade.

“E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes
justificados em Nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do Nosso Deus” (1Co 6:11). Segundo
a ordem dada aqui, parece que a santificação vem antes da justificação. Paulo diz aos seus leitores
que eles já são santificados e justificados. Nós já fomos santificados e justificados? Se você
perguntasse a um cristão se ele está justificado sua resposta seria um ousado sim. Você pode até
perguntar se ele é um homem justo e ele ainda ousaria responder afirmativamente. Mas

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suponhamos que você lhe pergunte se ele é um santo; provavelmente ele não ousaria admitir ser
um santo. Entretanto, a Bíblia diz que já somos santos e que já fomos santificados. Graças ao
Senhor Jesus Cristo, Deus não somente perdoa Nossos pecados e Nos justifica, mas também Nos
reconhece como dignos, como sendo santos. Esta dignidade é o que está diante dos olhos de Deus.
Sempre que vemos a nós mesmos, somos incapazes de desfrutar deste relacionamento.

“É nessa vontade Dele que temos sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo,
feita uma vez para sempre” (Hb 10:10).

Nossa santificação é baseada na oferta que Jesus Cristo fez do Seu próprio corpo. Ele fez
isso uma vez e está feito para sempre: “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os
que são santificados” (v. 14). Graças a Deus, nossa santificação é devida somente a Cristo e,
portanto, é eterna e perfeita. Algumas pessoas têm medo de se aproximarem de Deus porque estão
sempre conscientes da sua impureza. Nós, na verdade, somos impuros e podemos ser facilmente
maculados e nos tornar infiéis; todavia, somos santos por causa de Cristo e não por causa das
nossas próprias obras. Pela única oferta de Cristo somos santificados para sempre. Nossa posição
diante de Deus é santa. Sempre que ficamos firmes nessa posição e chegamos a Ele através de
Cristo, Ele Nos verá como sendo santos em Cristo e nos aceitará assim como aceitou a Cristo.

(c) Produza o Fruto da Santificação.

“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso
procedimento” (1Pd. 1:15). O Senhor é santo e nós somos chamados para uma santa posição; por
isso, devemos ser santos em todo o Nosso modo de vida. Como podemos reclamar ser santos
diante de Deus e profanos diante dos homens? Devemos mostrar em nosso viver que somos
pessoas santas, que fomos separados para Deus.

“Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação e por fim a vida eterna” (Rm 6:22). Louvado seja Deus, tendo sido libertos do
pecado e santificados para sermos servos de Deus, devemos ter o fruto da santificação. Não
devemos apresentar Nossos membros para a ilegalidade e injustiça; devemos antes, apresentar
Nossos membros para a justiça a fim de pertencermos inteiramente a Deus e produzir o fruto da
santidade como Seus servos.

“Visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do


espírito, de todas as coisas que não são de Deus, a fim de produzir o fruto da santificação No
temor de Deus.”

“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Ser santificado pela
verdade é produzir o fruto da santificação diariamente, pois a verdade é a palavra de Deus.
Devemos examinar diariamente nossas obras com a verdade de Deus e Nos livrar de tudo aquilo
que é desonroso para Deus a fim de sermos purificados. Isso deve ser uma questão progressiva dia
a dia e não algo que possa ser realizado No todo de uma só vez Esta é a obra do Espírito Santo, a
qual Ele opera diariamente em nós pela verdade.

Alguns sustentam a ideia de que a santificação é instantânea e que podemos ser santificados
repentinamente. Nada disso. Podemos experimentar vitória sobre o pecado repentinamente, mas
não podemos chamar isso de santificação. Santificação é ser separado para Deus; a vitória
instantânea sobre o pecado chama-se livramento. Uma interpretação errada produzirá um efeito

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errado.

“Mas este (O Pai dos espíritos), (Nos disciplina) para nosso proveito, para sermos
participantes da sua santidade” (Hb 12:10). A disciplina é também uma maneira de produzirmos
o fruto da santificação. Quando Nossos pés desviam, somos trazidos de volta para o caminho da
santidade de Deus por Sua disciplina, a fim de podermos ser participantes da Sua santidade e
sermos inteiramente Seus.

Devemos ver, finalmente, que o fruto da santificação não é só uma questão da nossa
conduta, mas também uma questão da nossa intimidade e comunhão com Deus. “Segui a paz e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14). Sem dúvida somos santificados
posicionalmente e podemos entrar com ousadia No Santíssimo a fim de termos íntima comunhão
com Deus, mas se não permanecermos na posição de santificados com um coração verdadeiro em
inteira certeza de fé (Hb 10:22), provavelmente não poderemos tocá-Lo. Por isso devemos seguir
a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.

“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo
sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é
o que vos chama, e ele também o fará” (1Ts 5:23,24).

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