Você está na página 1de 34

Esta seleção

de textos foi pensada para


acompanhá-lo ao longo do ano.
São histórias, fábulas, poesias, adivinhas,
contos, lendas — estilos diversos de texto, escritos
por autores diferentes, que vieram de lugares
diferentes. Todos os textos estão acompanhados
de lindas ilustrações, que você também
vai poder apreciar.
Este Meu Livro de Histórias é seu, para uma
leitura prazerosa pessoal ou para que
alguém leia alguma das histórias para você.
Deixe que esses autores e suas histórias
encantadoras façam parte de sua vida
e imaginação.

5o ano

Meu livro - 5.indd 2-3 21/7/09 10:6:56 AM


Parte integrante do Projeto Descobrir. Língua Portuguesa 5 o ano . Não pode ser vendido separadamente.

5 0
ANO

ESTE LIVRO PERTENCE A:

1a edição – São Paulo, 2009


2a reimpressão

1
Miolo-PD-Port5-Meu livro de hist.indd 1 6/17/10 5:57 PM
Gerente editorial: Lauri Cericato
Editora: Rubette R. dos Santos
Editoras assistentes: Debora Missias / Érica Lamas / Andrea De Marco
Revisão: Pedro Cunha Jr. (coord.) / Lilian Semenichin / Renata Fontes
Licenciamento de textos: Stephanie S. Martini
Colaboradores
Seleção de textos: Marta Ferraz e Paula Junqueira
Assistência editorial: Fábio Tomaz Garcia / Camila Marques / Suria Scapin

Gerente de arte: Nair de Medeiros Barbosa


Projeto gráfico e diagramação: Hamilton Olivieri
Capa: Cristina Nogueira da Silva
Assistente de produção: Grace Alves

Visite nosso site: www.atualeditora.com.br


Central de atendimento ao professor: (0xx11) 3613-3030

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e loca-
lizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas, e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de

2
produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

5º ano - Port 2.indd 2 8/8/09 10:53:39 AM


Sumário
A moça tecelã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Conto de fadas – Marina Colasanti

Os músicos de Bremen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Conto clássico – Irmãos Grimm

Infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Poesia – Carlos Drummond de Andrade

Robinson Crusoé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Romance de aventura – Daniel Defoe

Como surgiram os cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18


Lenda indígena – Daniel Munduruku

Naimlap, o homem-pássaro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Lenda peruana

O palácio da verdade e o palácio da mentira . . . . . . . . . . . 24


Conto árabe – Regina Machado

Festa de aniversário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Crônica – Fernando Sabino

Aquele estranho animal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29


Crônica – Mario Quintana

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3
5º ano - Port 2.indd 3 20/7/09 9:16:35 PM
Ilustradores
Patricia Lima – A moça tecelã
Cassio Lima – Os músicos de Bremen
Petra Elster – Infância
Bruna Brito – Robinson Crusoé
Ricardo Costa – Como surgiram os cães
Márcia Széliga – Naimlap, o homem-pássaro
Fábio Sgroi – O palácio da verdade e o palácio da mentira
Alexandre Matos – Festa de aniversário
Luigi Rocco – Aquele estranho animal

4
5º ano - Port 2.indd 4 21/7/09 4:50:2 PM
A moça tecelã
Marina Colasanti
Conto de fadas

cordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás


d beiradas
das b i d da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia
passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã
desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo
tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pediam as pétalas, a moça
colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em
breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em
pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-
la na janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e
espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com belos fios dourados,
para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os
grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado
de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se
sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite,
depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu
sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa
nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe
dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu
emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.

5
5º ano - Port 2.indd 5 20/7/09 9:16:35 PM
Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos,
quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o
chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos
filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em
filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais
pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia
justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de
tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas, pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Para que ter
casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta,
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e
portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não
tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para
arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido
escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — disse. E antes de trancar a
porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos
cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o
palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o
que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu
maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou
como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia
sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu
a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a
lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro,

6
5º ano - Port 2.indd 6 20/7/09 9:16:36 PM
começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as
estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as
maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu
para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou
e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia
o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo
as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o
emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha
clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a
manhã repetiu na linha do horizonte.

7
5º ano - Port 2.indd 7 20/7/09 9:16:37 PM
Os músicos de Bremen
Irmãos Grimm
Conto clássico

ra uma vez um burro que durante anos e anos serviu ao moleiro seu
dono, carregando pesadas sacas de grãos. Nessa faina, foi envelhecendo,
suas forças enfraquecendo, até que um dia o moleiro pensou: “Esse aí não
serve mais pra nada... O melhor é matá-lo, vender sua pele e arranjar um
burrico mais jovem”.
O burro não ficou sabendo disso, mas percebeu que a sua situação
estava perigando e decidiu: “Vou para Bremen. Lá, poderei ganhar a vida
como músico”. E saiu pela estrada, descansando aqui, comendo um
capinzinho ali, até que encontrou um cão de caça estirado no caminho,
ofegando como se tivesse corrido quilômetros e quilômetros.
— Que é isso, companheiro? Por que está assim tão esbaforido?
— Ai! Ai! — gemeu o cão. — Meu dono resolveu acabar comigo,
porque estou velho e não posso mais tomar parte nas caçadas. Fugi e não
sei o que vai ser de mim!
— Venha comigo! Estou indo para Bremen e, lá, vou ser músico. Nós
dois podemos formar uma boa dupla. Eu toco alaúde e você, bumbo.
Gostando da ideia, o cão acompanhou-o. Mais adiante, encontraram
um pobre gato com a cara mais triste que uma semana de chuva.
— Que cara é essa, meu amigo! — exclamou o burro. — Por que está
assim tão sorumbático?
— Que cara queria que eu fizesse? — e o gato contou: Minha dona
resolveu me afogar, porque estou velho, meus dentes estão gastos, e prefiro
ficar ronronando ao pé do fogo em vez de caçar ratos. Então fugi e não sei
mais o que fazer.
— Tenho uma ótima ideia! Venha com a gente. Vamos para Bremen,
onde poderemos ganhar a vida como músicos. Você, que é especialista em
serenatas noturnas, vai ajudar muito.

8
5º ano - Port 2.indd 8 20/7/09 9:16:40 PM
O gato entusiasmou-se e acompanhou-os. Mais adiante, passaram
por um sítio e viram um galo empoleirado na porteira, cantando
desesperadamente com quantas forças tinha.
— Pare com isso! — pediu o burro.
— Seus gritos varam a alma da gente! Por que canta assim?
— É o meu jeito de profetizar bom tempo — explicou o galo. — Hoje
é dia da minha dona lavar as fraldinhas do bebê e tem que ter sol para
secá-las. Mas amanhã... Amanhã é domingo, ela vai receber convidados
para o almoço e, pobre de mim! Vou ser servido assado. Estou cantando
pela última vez porque hoje à noite vou ser degolado!
— Deixe disso, Crista-Vermelha! — e o burro convidou: — Venha
com a gente! Vamos para Bremen, e lá, com sua bela voz, podemos formar
um conjunto musical que vai ser um sucesso!
O galo aceitou a proposta. Agora eram quatro a caminho de Bremen.
Mas não era possível chegar lá num dia. Quando a noite veio, eles se
acharam numa floresta e resolveram acampar ali. O burro e o cão de caça
deitaram-se ao pé de uma grande árvore. O gato e o galo acomodaram-se
nos seus galhos. O galo escolheu um bem alto, onde se sentiu mais seguro.
Antes de dormir, olhou a sua volta em todas as direções e descobriu uma
luzinha brilhando à distância. Todo alvoroçado, avisou os companheiros:
— Estou vendo uma luzinha brilhando ao longe! Só pode ser uma
casa! O burro levantou-se prontamente.

9
5º ano - Port 2.indd 9 20/7/09 9:16:41 PM
— Vamos pra lá, minha gente, que esta pousada é bem ruinzinha!
— Quem sabe se vou encontrar lá um osso com um pouquinho de
carne? — disse o cão.
— E um calorzinho ao pé do fogão — ajuntou o gato.
E, andando em direção à luz, chegaram a uma casa toda iluminada.
O burro, que era o mais alto da turma, aproximou-se da janela e espiou.
— O que você está vendo, Mestre Burro? — perguntou o galo.
— O que estou vendo? Pois uma mesa coberta de deliciosas comidas
e bebidas e, ao redor dela, um bando de ladrões se regalando!
— A gente é que devia estar lá! — observou o gato.
— Já vamos cuidar disso!
Assim dizendo, o burro reuniu os companheiros para discutir a
melhor maneira de expulsar os ladrões. Depois de alguns cochichos e tudo
combinado, entraram em ação. O burro apoiou as patas dianteiras no
peitoril da janela, o cachorro subiu nas costas dele, o gato pulou para as
costas do cachorro e, por último, o galo voou para a cabeça do gato.
Depois, a um sinal, começou a função. Miados, latidos, zurros e cocoricós
irromperam numa barulheira infernal, fazendo tremer a vidraça, que se
abriu de supetão. Os ladrões fugiram de cabelo em pé, acreditando que um
bando de almas penadas tivesse invadido a casa. A pressa foi tanta, que
num piscar de olhos estavam no meio da mata, de olhos arregalados, a
tremer como folhas.
Donos do terreiro, os quatro amigos sentaram-se à mesa e devoraram
tudo o que restou, como se estivessem em jejum há mais de um mês.
Depois apagaram as luzes e foram dormir, cada um de acordo com o seu
gosto. O burro deitou-se numas palhas no pátio, o gato, ao lado das cinzas
do fogão, o cachorro, atrás da porta e o galo empoleirou-se numa viga do
telhado. Cansados de tanta tropelia, adormeceram na hora.
Nesse ínterim, os ladrões perceberam que não havia mais luz na casa
e tudo parecia em paz. O chefe achou que se haviam assustado sem motivo
e mandou um de seus homens ir lá investigar.
Encontrando tudo tranquilo, o enviado foi confiadamente até a
cozinha acender uma luz e aproximou um fósforo de duas brasinhas que
luziam no fogão. Estas, porém, nada mais eram que os olhos chamejantes
do gato, que, não gostando da brincadeira, pulou na cara dele
arranhando-a com fúria. O coitado tratou de fugir pela porta dos fundos,

10
5º ano - Port 2.indd 10 20/7/09 9:16:47 PM
mas não passou por ela sem levar do cachorro uma boa mordida na perna.
E, lá fora, o burro ajudou-o a fugir mais depressa, com um belo coice.
Então, o galo, que acordou com a confusão, voou para o telhado e cantou
muito bem disposto: — Quiquiriqui!
Em desabalada carreira, o ladrão foi parar diante do seu chefe e,
quase num desmaio, contou:
— Ai, meu chefe! Uma bruxa horrorosa está morando lá! Mal entrei,
saltou sobre mim e me arranhou a cara toda! Depois, um homem enorme
saiu de trás da porta e me espetou a faca na perna. Corri para o pátio, e um
monstro negro que lá me esperava me deu uma bordoada que me fez voar
longe. E um juiz, sentado no telhado, começou a gritar: “Peguem esse
patife! Peguem esse patife!”. Nem sei como cheguei aqui!
Depois do que ouviram, os ladrões perderam toda a vontade de
retornar à casa. Preferiram se estabelecer em outras paragens.
Mas os músicos... Ah! Gostaram tanto do lugar que desistiram de ir
para Bremen.
Pelo que eu sei, ainda estão morando lá.

11
5º ano - Port 2.indd 11 20/7/09 9:16:49 PM
Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.


Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.

Eu sozinho menino entre mangueiras


lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acabava mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu


a ninar nos longes da senzala — e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo,


olhando para mim:
— Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava


No mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história


era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

12
5º ano - Port 2.indd 12 20/7/09 9:16:55 PM
13
5º ano - Port 2.indd 13 20/7/09 9:17:0 PM

Você também pode gostar