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Guia de Medidas

Gestão de Resíduos de Construção e Demolição

Baseado no II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente


„Economia Circular e Gestão de Resíduos em Cabo Verde”
Ficha Técnica
Edição
Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA)
Av. da Liberdade, 38 – 2º; 1269-039 Lisboa; Portugal
Tel.: +351 213 211 200; Fax: +351 213 467 150
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Web: www.ccila-portugal.com

Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANAS)


Rotunda Braz – Tira Chapéu; Praia C.P. 567; Ilha de Santiago; Cabo Verde
Tel.: +238 261 42 14
E-Mail: anas@anas.gov.cv
Web: www.anas.gov.cv

Data de publicação
29 de maio de 2020

Design e Produção
CCILA e ANAS

Fotografias
SHUTTERSTOCK

Redação
Departamento Consultoria de Mercado (CCILA)
Paulo Azevedo
Tel.: (+351) 213 211 204
Fax: (+351) 213 467 250
E-Mail: paulo-azevedo@ccila-portugal.com
GUIA DE MEDIDAS – II W ORKSHOP GERMANO - CABO-VERDIANO DO AMBIE NTE “G EST ÃO DE RESÍD UOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLI ÇÃO”

Índice
1. Enquadramento ................................................................................................................................... 2

1.1. Objetivo do workshop ..................................................................................................................................................... 2

1.2. Metodologia ..................................................................................................................................................................... 3

1.3. Participantes do Workshop ............................................................................................................................................ 3

2. Identificação dos desafios e áreas de intervenção ................................................................................ 5

2.1. Debate inicial ................................................................................................................................................................... 5

2.2. Identificação dos desafios na gestão de resíduos de construção e demolição (RCD) ..................................................6

2.3. Definição das áreas de intervenção ................................................................................................................................ 7

2.2.1. Legislação e regulamento ....................................................................................................................................... 7

2.2.2. Fiscalização .............................................................................................................................................................8

2.2.3. Articulação sectorial ...............................................................................................................................................8

2.2.4. Tratamento e gestão de RCD..................................................................................................................................8


2.2.5. Logística e transporte .............................................................................................................................................9
2.2.6. Sustentabilidade económica ..................................................................................................................................9

2.2.7. Formação, sensibilização e divulgação ................................................................................................................ 10

3. Definição de medidas concretas ......................................................................................................... 12

3.1. Medidas para os desafios referentes à legislação e regulamentação .......................................................................... 12

3.2. Medidas para os desafios referentes à fiscalização...................................................................................................... 13

3.3. Medidas para os desafios referentes à articulação sectorial ....................................................................................... 14

3.4. Medidas para os desafios referentes ao tratamento e gestão de RCD ........................................................................ 14

3.5. Medidas para os desafios referentes à logística e ao transporte ................................................................................. 15

3.6. Medidas para os desafios referentes à sustentabilidade económica .......................................................................... 15

3.7. Medidas para os desafios referentes à sensibilização, formação e informação ......................................................... 16

3.8. Plano de prevenção e gestão de resíduos de construção e demolição (PPGR) .......................................................... 17

4. Reflexão final e próximos passos ....................................................................................................... 19

5. Anexos ...............................................................................................................................................20

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1. Enquadramento
1.1. Objetivo do workshop

O projeto Roadmap dos Resíduos em Cabo Verde visa construir uma estratégia nacional para a gestão de resíduos em Cabo
Verde, assim como propor e planear a implantação das melhores tecnologias disponíveis para cada um dos Municípios e
das Ilhas, tendo como objetivo a melhoria das condições de vida das populações abrangidas, a proteção do meio ambiente,
bem como a mitigação das alterações climáticas. Neste contexto, o Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Gestão de
Resíduos (PENGeR) para Cabo Verde apresenta, como um dos elementos centrais do projeto Roadmap dos Resíduos em
Cabo Verde, a definição e a implementação de respetivas medidas e metas inerentes aos desafios setoriais. Por sua vez, a
Alemanha apresenta, neste contexto, um vasto conhecimento baseado em décadas de experiência ligada à Economia Cir-
cular, num sentido mais lato, e, em específico, no segmento da gestão de resíduos, capaz de contribuir com soluções e
tecnologias inovadoras.

Neste sentido, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã (CCILA), mandatada pelo Ministério Federal do Ambiente
da Alemanha, realizou, em estreita colaboração com a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANAS) e com a Confede-
ração Alemã Chambers for GreenTech, no dia 11 de abril de 2019, o “I Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente”,
subordinado ao tema “Economia Circular e Gestão de Resíduos em Cabo Verde”. Como elemento fundamental, esta inici-
ativa consistiu na realização de apresentações de enquadramento, por parte das entidades que tutelam o setor de resíduos
em Cabo Verde; de apresentações de especialistas alemães convidados; assim como na realização de dois grupos de trabalho
que abordaram e elaboraram, em conjunto, soluções para os desafios concretos que Cabo Verde e os seus Municípios en-
frentam neste setor. Após a realização do workshop, foi elaborado um Strategic Paper (Documento Estratégico), cujo con-
teúdo traduziu, entre outros, os resultados conclusivos dos elementos do workshop, assim como resumiu sugestões de
medidas a curto e a médio prazo.
Os resultados conclusivos revelaram uma grande necessidade de intervenção mais profunda nesta área, razão pela qual foi
organizado o subsequente II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente subordinado ao tema “Gestão de Resíduos
de Construção e Demolição (RCD)”.
Com esta segunda iniciativa, pretendeu-se dar seguimento ao trabalho desenvolvido durante o I Workshop, focando sobre
um dos subsegmentos dos resíduos com desafios preponderantes, nomeadamente a gestão do fluxo específico de RCD.

O objetivo do “II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente” consistiu na elaboração do presente Guia de


Medidas (baseado num caso prático municipal em Cabo Verde), aplicável posteriormente nos restantes municípios,
e que visa toda a cadeia de valor da gestão do fluxo específico de resíduos de construção e demolição, abrangendo as
seguintes áreas de intervenção:

a) Estruturação dos desafios/tarefas municipais;


b) Modelos de financiamento;
c) Tecnologias a considerar;
d) Regulamentação a adaptar;
e) Campanhas de sensibilização e formação.

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1.2. Metodologia

Para uma preparação específica dos principais tópicos, a serem discutidos no workshop, foi desenvolvido, conjuntamente
a ANAS e os especialistas alemães, um questionário num processo repetitivo. As questões abrangeram as seguintes áreas:
“Gestão de RCD”, “Estrutura do setor de construção”, “Responsabilidades municipais”, “Modelos de financiamento”, “Tec-
nologias aplicadas” e “Medidas de sensibilização”. Em seguida, o questionário foi enviado aos stakeholders cabo-verdianos
previamente analisados e selecionados. Um total de sete questionários preenchidos foram devolvidos, dentro do prazo es-
tabelecido, tendo todas as respostas sido respondidas.
O programa do workshop (ver Anexo I) foi desenvolvido com base nos resultados do questionário e conta com uma breve
introdução ao setor dos resíduos e à gestão de RCD em Cabo Verde. Além disso, inclui também a apresentação dos especi-
alistas convidados da Alemanha e dos participantes do workshop (ver 1.3.). Após o enquadramento feito pelas especialistas
alemães, foram previstos cinco blocos de trabalho em grupo sobre as áreas de intervenção pré-definidas.

No decurso do workshop tornou-se, entretanto, evidente que uma alteração do programa seria benéfica. O programa foi
então adaptado ao input e às necessidades dos participantes, resultando numa nova estrutura do programa. No primeiro
dia, as especialistas alemãs e os participantes recolheram e discutiram os vários desafios existentes no setor, identificaram,
depois, as áreas de intervenção e, no final, recolheram várias medidas para cada uma das áreas de intervenção.

Com base nos resultados do workshop foi desenvolvido o presente “Guia de Medidas” para ser aplicado nos municípios em
Cabo Verde, visando toda a cadeia de valor da gestão do fluxo específico de RCD.

1.3. Participantes do Workshop

No “II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente” participaram as seguintes individualidades, em representação


das respetivas instituições:

SPEAKER
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANAS) Joana Beta de Brito Mendonça
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANAS) Miguel Moura
Black Forest Solutions GmbH Rafaela Craizer
Umweltberatung Gabi Schock Gabi Schock

PARTICIPANTES
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANAS) Natacha Magalhães
Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde (ANMCV) Artemisa Tavares
Câmara Municipal da Praia Claudino Tavares
Câmara Municipal da Praia - Saneamento Isaias Borges
Câmara Municipal do Sal João José Teixeira Delgado
Direção Geral dos Transportes Rodoviários (DGTR) Dina Andrade
Direção Nacional do Ambiente (DNA) Alexandre Nevsky
Direção Nacional do Ambiente (DNA) Águeda Semedo
Direção Nacional do Ambiente (DNA) Floresvindo Furtado
Fundo do Ambiente Mário Moreira
Infraestruturas de Cabo Verde Antonio Nascimento
Infraestruturas de Cabo Verde Gilson Braunine
Inspeção Geral da Construção e da Imobiliária (IGCI) Adlisa Delgado
Inspeção Geral da Construção e da Imobiliária (IGCI) Adriano Soares
Inspeção Geral do Trabalho (IGT) Eduardo Sousa
Inspeção Geral das Atividades Económicas (IGAE) Adylson Benchimol
Instituto de Gestão da Qualidade e da Propriedade Intelectual (IGQPI) Carlos Tancredo
Instituto Nacional de Saúde Pública Júlio Rodrigues
Laboratório de Engenharia Civil Cabo Verde (LEC) Carla Martins

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Loid Engenharia Loide Monteiro


Loid Engenharia Betiana Paz
Ministério da Indústria, Comércio e Energia (MICE) Abrão Lopes
Ordem dos Arquitectos Mara Lima
Ordem dos Engenheiros Águeda Burgo
Plataforma das Organizações Não-governamentais de Cabo Verde Dirce Varela
Universidade de Cabo Verde Luciene Vaz

ORGANIZAÇÃO
Câmara do Comércio e Indústria Luso Alemã (CCILA) Paulo Azevedo
Câmara do Comércio e Indústria Luso Alemã (CCILA) Judita Aleksiejus
Interpretação Luísa Lara Everard
Interpretação Nuno Bon de Sousa

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2. Identificação dos desafios e áreas de intervenção


2.1. Debate inicial

O II Workshop começou com a intervenção do Diretor Executivo Adjunto e Diretor de Consultoria de Mercado da CCILA,
Paulo Azevedo. De seguida, o Presidente do Conselho de Administração da ANAS, Miguel Moura, realçou as oportu-
nidades de negócios que podem surgir com a reutilização dos resíduos, numa perspetiva de promoção da economia circular.

Após a sessão de abertura, a técnica do Departamento de Gestão de Resíduos da ANAS, Joana Mendonça, fez o enqua-
dramento do setor dos resíduos em Cabo Verde, com a apresentação do decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, focando
sobre os aspetos específicos referentes à gestão dos RCD.

De seguida, foram feitos dois enquadramentos pelas especialistas alemãs, Gabi Schock e Rafaela Craizer. Uma breve
síntese das estruturas de responsabilidade no âmbito da gestão dos RCD, com base no exemplo da Alemanha, foi apresen-
tada pela consultora ambiental Gabi Schock, proprietária da empresa consultora Umweltberatung Gabi Schock, existente
há quase 30 anos, e assessora para a política municipal, energética e ambiental na Stadtwerke Düsseldorf AG (empresa
fornecedora de energia). As tecnologias aplicáveis para a reciclagem adequada de RCD foram apresentadas por Rafaela
Craizer, gestora regional para a América Latina da Black Forest Solutions GmbH. A engenheira ambiental e consultora para
tratamento técnico, separação e soluções de reciclagem de resíduos apresentou ainda medidas de demolição seletiva de
edifícios, demolição de estradas com recolha, processamento e transporte de RCD.

O consultor Joachim Stretz, especializado no desenvolvimento de conceitos nacionais e urbanos de gestão de resíduos,
bem como em questões de financiamento sustentável de sistemas de gestão de resíduos, cancelou a sua participação, à
última da hora, por motivos de saúde. A contribuição desse consultor sobre programas de financiamento internacionais
para (grandes) investimentos, que estava prevista para o segundo dia do workshop, foi apresentada por Paulo Azevedo.

Após a apresentação dos temas, abriu-se um espaço para os participantes emitirem as suas opiniões e pontos de vista,
durante o qual foram registadas as seguintes intervenções:
 Alexandre Nevsky Rodrigues, Diretor Nacional do Ambiente
Este fez saber que o investimento na reutilização dos resíduos pode parecer barato, todavia, ele é, à escala nacional,
ainda pouco significativo. Uma das saídas seria a eliminação dos passivos ambientais e aqui o papel dos poderes políti-
cos, a nível central e local, é fundamental. Sugeriu que esses resíduos, depois de tratados, devessem ser usados na cons-
trução de estradas.
 Luciene Vaz, Universidade de Cabo Verde
Esta técnica sugeriu que o foco fosse colocado na formação das pessoas que trabalham nos estaleiros de obras para
terem conhecimento sobre uma eventual contaminação do material, diminuindo, assim, os riscos. Por outro lado, é
preciso realizar a quantificação dos resíduos de construção, pois, só se poderá optar por uma melhor tecnologia, após a
quantificação dos resíduos.
 Àgueda Burgo, Ordem dos Engenheiros de Cabo Verde
Ela afirmou que já existe alguma legislação sobre os RCD, porém, verifica-se ainda uma grande dificuldade no trata-
mento dos mesmos. Os RCD não são ainda considerados perigosos e falta um investimento sério na formação dos tra-
balhadores, mas também dos donos e diretores das obras. A aposta na reutilização é possível e, a título de exemplo, há,
em São Vicente, uma iniciativa, no âmbito da qual se faz uma boa capacitação de trabalhadores para passarem a reuti-
lizar os resíduos.
Acrescentou ainda (i) que é urgente que se pratique a reciclagem e que os materiais de construção, nomeadamente,
tintas e diluentes, estão a ser misturados com os RCD, tratando-se isto de uma questão muito importante a ser tida em
consideração; (ii) que já existe legislação, sendo possível fazer o controlo dos resíduos; (iii) que existem meios para fazer
uma melhor gestão dos resíduos, mas é preciso que a fiscalização funcione; (iv) que é preciso que se faça um plano de
gestão ambiental; e (v) que sejam contratadas pessoas capazes de fazer a separação dos resíduos perigosos.
 Miguel Moura, Presidente do Conselho de Administração da ANAS
O PCA da ANAS realçou que antes de se focar na demolição dos edifícios e das obras, é preciso se pensar sobre o que se
vai colocar na construção e o que irá sobrar dos escombros. O foco deve ser mais amplo, devendo começar na fase de
conceção das obras de engenharia para que, no final da vida dos equipamentos, os materiais utilizados possam ser
reutilizados.
Falou ainda sobre a reintegração dos RCD na cadeia de valor, incentivando melhorias que vão desde a operacionalização
até à parte administrativa.

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 Mara Lima, Ordem dos Arquitetos


Esta participante alegou que uma das lacunas na gestão dos RCD está relacionada com o planeamento e o ordenamento
do território. Sugeriu ainda a adoção de incentivos à deposição e à sensibilização, com vista à reutilização dos materiais
de construção, por intermédio de uma via mais ecológica.
 Eduardo Sousa, DGT
Ele afirmou que, para que se pudesse fazer recolha dos RCD, era necessário conhecer os lugares, onde se encontravam
esses resíduos, bem como a sua quantidade. Acrescentou ainda que não existem pessoas qualificadas para fazer a seleção
e o tratamento dos resíduos. Que havia que se criar parcerias com as Câmaras Municipais, a fim de se saber onde se
encontravam as obras, assim como conhecer a quantidade de resíduos produzidos, para as notificar. Que sem o apoio
das Câmaras Municipais, este tipo de trabalho se afigurava muito difícil.
 Dirce Varela, Plataforma das ONG
Esta responsável das ONGs realçou a dimensão social do problema da gestão de resíduos, sublinhando ainda que as
comunidades têm que ser empoderadas para lidar com a questão dos resíduos. Acrescentou (i) que muitas cidades são
afetadas pela deposição indiscriminada de escombros, não só nas bermas das estradas, mas também ao lado das habi-
tações; (ii) que a sociedade civil deve ser integrada no processo da Economia Circular, permitindo as empresas criadas
criar postos de trabalho para as comunidades; e (iii) que há a necessidade de informar e sensibilizar as comunidades
sobre a problemática dos RCD, uma vez que estes condicionam a qualidade de vida dessas comunidades.

2.2. Identificação dos desafios na gestão de resíduos de construção e demolição (RCD)

Para perceber quais são os desafios na gestão de RCD, existentes em Cabo Verde, as duas especialistas alemãs, Gabi Schock
e Rafaela Craizer, instruíram os participantes a discutirem e refletirem sobre os desafios específicos das suas diversas áreas.
De seguida, baseando-se no conjunto de desafios identificados pelos participantes, as duas moderadoras e Joana Men-
donça, a técnica da ANAS, recolheram, agruparam e fixaram os desafios nos flip charts preparados, para o efeito, resultando
nas seguintes sete áreas de intervenção:

Agrupamento dos desafios na gestão de RCD (fotografia)

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Agrupamento dos desafios na gestão de RCD (ilustração)

 Pôr em prática as soluções que se encontram nas legislações  Implementação e regulação da fiscalização efetiva
existentes  Definir papel de cada entidade em cada etapa
 Normas técnicas para reutilização  Monitorizar e reforçar as ações no terreno
 Rotulagem e embalagem de substâncias e misturas (diploma)  Controlo e fiscalização eficaz da lei
 Regulação económica  Comprometimento e fiscalização dos regulamentos
 Tarifa de centro de valorização  Cumprimento / fiscalização do Decreto Lei No. 64/2010, 27 de
 Taxa de regulação dezembro: Regras gerais para estaleiros de construção
 Sustentabilidade  Informalidade de construção civil
 Gestão sustentável
 Responsabilização  Tratamento RCD
 Recursos financeiros  Separação
 Regulamentação de leis  Valorização dos RCD
 Descontinuidade das ações  Projetar investimento na área de reciclagem
 Alinhamento de políticas públicas  Identificação / localização dos RCD
 Sustentabilidade económica  Locais de deposito / Vazadouros
 Capacidade de acesso aos recursos necessários para a imple-  Quantificação dos RCD de obras que não sejam públicos e
mentação de processos RCD quem é a responsabilidade de os tratar
 Definir as responsabilidades de cada entidade
 Lacunas na legislação quanto a classificação dos RCD
 Sensibilização
 Formação
 Capacitação
 Implementação da lei (com sucesso)
 Comunicação
 Legislação: Adequar as leis clarificando o papel dos municípios
 Divulgação
e entidades
 Boas práticas
 PPGR – exigência em obras particulares sem licenciamento e
 Incentivar e premiar boas práticas
em obras públicas, bem como cumprimento, condicionamento
 Identificação das necessidades
 Conhecer os dados reais dos RCD no país

 Logística criada para funcionamento e operacionalização dos


 Reforço da ação intersectorial RCD entre as ilhas
 Grupos multissetoriais para questões recebidas  Transportes inter ilhas
 Envolvimento das comunidades locais na denúncia de deposi-  Diplomas legais para transporte de resíduos e substâncias peri-
ção não autorizada de RCD gosas

2.3. Definição das áreas de intervenção

Com base nos desafios indicados pelos participantes foram identificadas as seguintes áreas de intervenção.

2.2.1. Legislação e regulamento

O setor da construção civil é o responsável por uma parte fundamental dos resíduos produzidos em Cabo Verde. Além das
quantidades muito significativas que lhe estão associadas, estes resíduos apresentam outras particularidades que dificul-
tam a sua gestão, dentre as quais se destacam a sua constituição heterogénea, com frações de dimensões variadas, e os
diferentes níveis de perigosidade de que são constituídos. Por tal motivo, a gestão de RCD, vulgarmente denominados de
caliças ou entulhos, é regulada, com algum pormenor, pelo decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, compreendendo a sua
prevenção e reutilização e as suas operações de recolha, transporte, armazenagem, tratamento, valorização e eliminação.

Apesar da existência desse normativo legal, constata-se que algumas matérias conexas à gestão de RCD carecem de trata-
mento, pelo que se torna conveniente aprovar normas especiais conexas à gestão destes resíduos, conforme previsto no nº
2 do artigo 171º do citado diploma legal, especialmente, no que tange à responsabilidade da sua gestão, aos requisitos
técnicos das instalações de fragmentação, à fundamentação da não previsão de triagem, ao condicionalismo de construção
e demolição de obras, à verificação do plano interno de prevenção e gestão de RCD na vistoria para a receção de obras nas
empreitadas e concessão de obras públicas, à consideração, no contexto de uma obra, do empreiteiro ou subempreiteiro
como produtor de resíduos, ao cumprimento das disposições legais aplicáveis aos fluxos específicos de resíduos contidos

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nos RCD, à fixação de prazos para o produtor de gestão de resíduos enviar ao produtor o certificado de receção, à deposição
e transporte, e à penalização pelo não envio do certificado de receção, transporte por parte de empresa não cadastrada, a
deposição de resíduo urbano fora dos locais indicados ou em conjunto com os demais resíduos nas áreas de despejo e o
despejo total ou parcial de carga durante o percurso, bem como pela execução incorreta do plano interno de prevenção e
gestão de RCD na contratação pública (empreitadas e concessões de obras públicas).

Importa pontuar que, neste momento, encontra-se em fase de conclusão o Diploma legal que estabelece o aditamento de
normas específicas sobre a gestão de RCD operado pelo decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro.
A Lista Nacional de Resíduos, aprovada pelo decreto-lei nº 65/2018, de 20 de dezembro, define os códigos respeitantes aos
RCD, no capítulo 17, de seu Anexo.

A Portaria nº 3/2020, de 10 de janeiro, regulamenta as normas de execução técnica previstas no artigo 176º do decreto-lei
nº 56/2015, de 17 de outubro, definindo, nomeadamente, códigos respeitantes às operações de gestão de resíduos, requisi-
tos para o licenciamento. Os artigos 6º e 7º do referido diploma legal estabelecem os requisitos técnicos para classes de
aterros, processos de determinação da admissibilidade e critérios de admissão de resíduos em aterro e ainda procedimentos
de acompanhamento e controlo nas fases de exploração e pós-encerramento no seu art.º 8.

Da análise, das discussões sobre a legislação e do regulamento do sector, foram, no entanto, apontados vários desafios que
se prendem com a implementação das leis vigentes, a existência de leis adequadas, a falta de alguns diplomas
legais e com a clarificação do papel dos municípios e de outras entidades, na matéria de gestão dos RCD.

2.2.2. Fiscalização

O artigo 164º do decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, e seguintes, determina quais devem ser os serviços, as entidades
e as autoridades responsáveis pela fiscalização dos vários aspetos concernentes à gestão dos RCD.

Todavia, é necessário estipular as medidas para a sua efetiva implementação. Foram ainda apontados como desafios a
regulação da fiscalização, controlo e fiscalização eficaz da lei, nomeadamente do decreto-lei nº 64/2010, 27
de dezembro: Regras gerais para estaleiros de construção e ainda a questão da informalidade na construção
civil.

2.2.3. Articulação sectorial

Atualmente algumas instituições têm um papel relevante na questão da gestão dos RCD, tais como: a Agência Nacional de
Água e Saneamento (ANAS), as Câmaras Municipais, a Direção Nacional do Ambiente (DNA), a Inspeção Geral do Trabalho
(IGT), a Inspeção Geral da Construção e da Imobiliária (IGCI), Direção Geral dos Transportes Rodoviários (DGTR), a Au-
toridade Reguladora das Aquisições Públicas (ARAP), o Laboratório de Engenharia Civil (LEC), Infraestruturas de Cabo
Verde, bem como o Instituto de Gestão da Qualidade e da Propriedade Intelectual (IGQPI). Para além das ordens profis-
sionais e das ONGs.

Consta ainda que há uma necessidade de articulação entre os vários atores e entidades e de um reforço da
ação multissectorial. Esta articulação deverá igualmente envolver mais entidades e atores e com o enga-
jamento das comunidades locais, visando, assim, uma estratégia integrada de gestão de RCD em toda a
sua cadeia de valor.

2.2.4. Tratamento e gestão de RCD

Os RCD constituem grandes causadores da degradação ambiental, tanto pelo volume gerado, como pelo seu tratamento e
sua destinação inadequados. Sua gestão representa um dos principais problemas a serem resolvidos pelos organismos da
Administração Central e pelas Câmaras Municipais. Atualmente, grande parte dos RCD são depositados nas lixeiras muni-
cipais, registando-se ainda a deposição ilegal nas encostas e bermas das estradas.
Em termos de atividade, em 2017 registaram-se 386 empresas do ramo da construção civil ativas, com um volume de ne-
gócios equivalente a 27,4 mil milhões de ECV (Fonte: INE). Desconhece-se a quantidade dos RCD produzidos no país, bem
como a sua composição e a percentagem de sua reutilização. A nível de documentos estratégicos, o PENGeR, aprovado pelo

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decreto-lei nº 32/2016, de 21 de abril, estipula, como um dos objetivos específicos, a potenciação da recuperação e da
reciclagem dos RCD. O mesmo PENGeR institui também, como meta até 2030, que 50% dos resíduos inertes devam ser
reencaminhados para a reutilização em novas construções ou recuperados em áreas de extração, assim como 20% dos RCD
reencaminhados para a produção para reciclagem. No entanto, não se encontra definida a forma concreta e objetiva em
que estas metas devam ser implementadas.

O decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, estabelece na Sessão IV, artigos 48º e seguintes, normas técnicas da gestão e
das operações de gestão de RCD, estando definidas as metodologias e práticas a adotar no projeto e execução de obras,
condições de reutilização de solos e rochas, utilização de RCD, operações de triagem e fragmentação de RCD. Dispõe o
artigo 50º que a utilização de RCD é feita em observância das normas técnicas aplicáveis. De momento, não existem normas
estabelecendo o citado diploma, diretivas de atuação em caso de ausência de normas.
Conforme estipulado no artigo 50º do decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, sempre que exequível, é obrigatória a
utilização de, pelo menos, 5% em volume de materiais reciclados ou que incorporem materiais reciclados, relativamente à
quantidade total de matérias-primas usadas em obra, no âmbito da contratação de empreitadas de construção e de manu-
tenção de infraestruturas ao abrigo do Código de Contratação Pública.

No capítulo, são ainda impostas condições para as operações de triagem e fragmentação de RCD e ainda referentes à gestão
dos RCD em obra.

No âmbito da área de intervenção em relação ao tratamento e gestão de RCD foram identificados vários desafios relaciona-
dos com a triagem dos resíduos nos estaleiros das obras, com a eliminação dos RCD, com a valorização,
investimentos na reciclagem, com a quantificação dos RCD nas obras que não sejam públicas, bem como
com a responsabilidade pelo seu tratamento.

2.2.5. Logística e transporte

Aplica-se o disposto na portaria nº 18/2016, de 12 de abril, que estabelece o modelo de guia de acompanhamento dos
resíduos, e o decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro. A solução de unidades de tratamento compartilhadas entre as ilhas
(móveis) discutida implica a criação de logística para o funcionamento e a operacionalização das unidades de
valorização de RCD (entre as ilhas). Devido à insularidade do país, a problemática do transporte interilhas
põe-se com alguma acuidade. Foi ainda apontado, como desafio, a melhoria do sistema de recolha e transporte.

2.2.6. Sustentabilidade económica

Tendo em conta a complexidade e a importância da sustentabilidade económica nas medidas a implementar, identificaram-
se 3 subcategorias que pressupuseram respetivas áreas de contextualização inicial (baseadas na experiência do especialista
alemão Joachim Stretz) como ponto de partida do debate:

Contexto 1: “Medidas de demolição”


 Para os operadores comerciais de medidas de demolição, deve ser estabelecido um procedimento de prova para de-
monstrar a eliminação adequada;
 Os custos são suportados pelo operador comercial e a cobrança de uma taxa de entrada pode ser dispensada, se for
necessário. Contudo, os custos do aterro devem ser transferidos para o público em geral, por exemplo, como uma so-
bretaxa sobre a taxa de resíduos. Isto não corresponde ao princípio do poluidor-pagador, mas pode ajudar a evitar as
descargas ilegais;
 Os RCD podem ser armazenados em aterros mais simples ou transformados em materiais de cobertura;
 Alternativamente, já é cobrada uma taxa pelas medidas de construção que financia, pelo menos em parte, toda a infra-
estrutura dos escombros do edifício.

Contexto 2: “Novas medidas de construção”


 Também aqui deve ser aplicado, em princípio, o princípio do poluidor-pagador;
 A taxa, acima referida, que serve para financiar o tratamento dos escombros dos edifícios, por exemplo, em ligação com
a licença de construção;

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 Descontos na taxa, se o edifício for sustentável ou se for eliminado ou reciclado de acordo com o tipo. No entanto, tal
exige o estabelecimento de normas nacionais e o correspondente controlo. Além disso, o financiamento deve ser regu-
lamentado, a médio prazo, de forma diferente (por exemplo, através de subvenções cruzadas).
 A regulamentação sobre a utilização obrigatória de materiais de construção de substituição deve ser cuidadosamente
examinada em relação aos seus efeitos económicos e de mercado.

Contexto 3: “Eficiência económica”


 Apresentam-se, a seguir, as duas dimensões de eficiência:
o Nível do sistema: as instalações, as vias de transporte e as distâncias selecionadas oferecem os custos mais baixos
para a gestão dos escombros do edifício. É aqui tomada uma decisão sobre os sistemas centralizados e descentrali-
zados e também sobre qual a tecnologia a utilizar. Os custos totais do sistema devem corresponder ao desempenho
económico do sector, ou seja, devem ser evitados métodos de tratamento demasiado dispendiosos e que não podem
ser financiados de forma sustentável;
o Nível operacional: trata-se de otimizar o funcionamento das estações de tratamento, a fim de alcançar o melhor
funcionamento possível a custos sustentáveis. Em alguns casos, isto significa despesas mais elevadas, por exemplo,
em manutenção e reparação, a fim de reduzir os custos de substituição e de novos investimentos a longo prazo.
 A rentabilidade também determina a escolha do modelo do operador, ou seja, os operadores privados podem operar
mais eficientemente com as correspondentes expectativas de lucro, mas normalmente têm menos acesso ao financia-
mento;
 O cálculo dos custos totais inclui o transporte, a triagem no local, as instalações de triagem e o processamento, bem
como a deposição dos resíduos em aterros;
 Elementos de custo que devem ser incluídos:
o Custos de investimento e de capital (empréstimos);
o Os custos de pessoal, incluindo os custos sociais (as férias e as baixas por doença devem ser incluídas no planeamento
das necessidades);
o Recursos operacionais (p. ex. combustível, pneus, etc.);
o Manutenção e reparação (geralmente anualmente 5-15% do montante do investimento, para edifícios 1-2%);
o Seguros e impostos;
o Lucro (para operador privado);
o IVA, se não existir isenção;
o Imprevistos.
 No caso de Cabo Verde, devido à situação insular, um compromisso entre instalações centralizadas e descentralizadas
é fortemente influenciado pelos elevados custos de transporte entre as ilhas e deve ser cuidadosamente examinado no
estudo de viabilidade económica. O mesmo aplica-se aos materiais de construção de substituição e aos respetivos mer-
cados.

No âmbito da área de intervenção em relação à sustentabilidade económica colocam-se vários desafios que passam pela
implementação das soluções preconizadas nas legislações vigentes, pela regulação económica para o setor de
resíduos, tarifa de centro de valorização de RCD, taxa de regulação, gestão sustentável, responsabilização,
recursos financeiros, descontinuidade das ações, alinhamento de políticas públicas, capacidade de acesso
aos recursos necessários para a implementação de processos RCD, assim como pela definição de respon-
sabilidades de cada entidade.

2.2.7. Formação, sensibilização e divulgação

Os municípios e a entidade reguladora deverão desenvolver uma estratégia de comunicação e formação, de modo a promo-
ver os RCD como um recurso, divulgar boas práticas, incentivar a incorporação de materiais reciclados e a separação sele-
tiva dos resíduos, através de análises comparativas que evidenciem a viabilidade económica destas opções e, assim, pro-
mover as melhores tecnologias disponíveis para tratamento dos RCD. Desta forma, é fomentada a formação descentrali-
zada, fazendo chegar informação sobre a correta gestão de RCD a todos os intervenientes e responsáveis por este fluxo.
Ações de “formação contínua” devem ser organizadas por todos os intervenientes.

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 Divulgação e campanhas de sensibilização

A ANAS criou, em todos os municípios, redes de comunicação para a mudança de comportamentos em água e sanea-
mento. Existe um manual de comunicação, estando assim criadas as condições para a implementação de ações de In-
formação, Educação e Comunicação (IEC).

 Investigação e desenvolvimento de aplicações

No âmbito deste II Workshop, foram elaborados 2 estudos, de abrangência nacional, sobre a gestão dos RCD. Contudo,
é preciso que haja mais casos de estudo que atestem sobre diferentes estratégias (ou estratégias integradas) de ação,
procurando dar resposta aos desafios elencados para a gestão dos RCD e ao desenvolvimento de aplicações relativas à
matéria.

 SIRES como modelo de levantamento e monitorização


A gestão de resíduos deve estar subordinada a um planeamento integrado e basear-se em princípios da informação e do
conhecimento, na conceção de um sistema credível e transparente que facilite o acesso à informação e incentive a par-
ticipação de todos os intervenientes, conforme o decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro.
Nos termos do referido diploma legal, os produtores de resíduos são obrigados a inscrever e a registar no SIRES cada
um dos seus estabelecimentos, desde que essa obrigatoriedade de inscrição e de registo possa resultar da produção de
qualquer das seguintes tipologias:

a) resíduos urbanos, cuja produção diária, aferida pela média mensal dos últimos três meses, exceda o volume de
1.100 l ou 250 kg;
b) resíduos não urbanos e que empreguem, pelo menos, 6 trabalhadores;
c) resíduos perigosos; e
d) resíduos hospitalares.

Outras entidades e operadores estão igualmente sujeitos a inscrição e registo no SIRES, a saber:

a) As entidades responsáveis pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos;


b) As entidades responsáveis pelos sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos, individuais ou coletivos, de
consignação ou integrados, que tenham licença ou autorização para operar em Cabo Verde;
c) As entidades que operem instalações de qualquer natureza, sujeitas ao regime jurídico da avaliação e do licencia-
mento ambiental;
d) Os operadores que atuem no mercado de resíduos ou que importem resíduos para Cabo Verde;
e) Os operadores que realizem as operações de transporte, armazenagem, triagem, valorização ou eliminação de resí-
duos;
f) Os operadores que realizem operações de descontaminação de solos; e
g) Os departamentos e serviços diretos ou indiretamente integrados na administração central e na administração au-
tárquica.

Os RCD enquadram-se na categoria de resíduos não urbanos.

Após o tratamento dos dados constantes dos mapas de registo, a autoridade nacional dos resíduos disponibiliza, para con-
sulta pública, os elementos de interesse geral, respeitando a legislação aplicável à proteção de dados pessoais.

No âmbito da área de intervenção de formação, sensibilização e divulgação foram frisados desafios que se prendem com a
sensibilização, divulgação das boas práticas e ações de formação e capacitação.

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3. Definição de medidas concretas


Como previamente mencionado, o objetivo do “II Workshop Germano-Cabo-verdiano do Ambiente” consistiu na elabora-
ção do presente “Guia de Medidas” e que visa toda a cadeia de valor da gestão do fluxo específico de RCD, abrangendo as
áreas de intervenção já mencionadas.
Para isso, no segundo dia do workshop, as duas especialistas alemãs, Gabi Schock e Rafaela Craizer, instruíram os partici-
pantes para discutirem e recolherem medidas concretas para abordar os desafios previamente identificados em cada das
sete áreas de intervenção. No final, as duas moderadoras e Joana Mendonça da ANAS recolheram as medidas concretas,
resultando num catálogo de medidas identificadas pelos participantes e devidamente agrupado pelas áreas de intervenção.
As fotografias das medidas por área de intervenção respetiva podem ser consultadas no Anexo II.

3.1. Medidas para os desafios referentes à legislação e regulamentação

A entrada em vigor de um diploma específico concernente à gestão dos RCD, na sequência da regulamentação do artigo
171º do decreto-lei 56/2105, de 17 de outubro, irá potenciar condições para a cabal aplicação do regime sobre as operações
de gestão de RCD, sendo certo que, contudo, urge aprovar a legislação específica referente aos fluxos especiais frequente-
mente contidos nos RCD, tais como resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, os óleos minerais e lubrificantes
usados. Igualmente, deverá ser elaborada uma regulamentação própria sobre o fluxo específico de resíduos, contendo ami-
anto e seus derivados à luz do número 2 do citado artigo.

O decreto-lei nº 56/2015, de 17 de outubro, estabelece vários aspetos respeitantes à gestão dos RCD. Em conjugação, o
Regime Jurídico de Urbanização e Edificação (RJUE), aprovado pela lei nº 60/ VIII/2014, de 23 de abril, nos números 1 e
2 do artigo 76º, determina as práticas que devem ser aplicadas pelos municípios, no sentido de melhorar a gestão dos RCD
nos diversos tipos de obras.
Assim, no sentido de melhorar a aplicação da atual legislação relativa aos RCD, podem os municípios proceder, no exercício
do seu poder regulamentar, à atualização dos seus regulamentos municipais de modo a acomodarem questões relativas aos
RCD, quer no âmbito da sua gestão, quer como entidades licenciadoras e fiscalizadoras de obra.

Medidas especificas referente à legislação e regulamentação:

 Medida 1.1: Socializar Diplomas vigentes (maior apropriação da legislação pelos atores), compilar;
 Medida 1.2: Regulamentar Diplomas vigentes;
 Medida 1.3: Introduzir ferramentas para o cumprimento da obrigatoriedade de apresentação do Plano de
Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição;
 Medida 1.4: Regular o valor da taxa / caução a ser paga no ato de licenciamento de obras particulares;
 Medida 1.5: Aprovar / publicar o Diploma que estabelece normas especiais relativas ao fluxo específico de
resíduos de construção e demolição (ponto 2. Art.º 171 do Dec. Lei 56/2015);
 Medida 1.6: Identificar lacunas na Lei em aspetos que têm a ver com a gestão dos resíduos de construção e
demolição / necessidade da revisão da legislação;
 Medida 1.7: Elaborar diplomas legais incluindo os de outros setores, nomeadamente o de Rotulagem de
substâncias e misturas, transporte de resíduos e de substâncias perigosas (clarificação e harmonizando pro-
cessos de licenciamento do transporte de resíduos) e ainda o Diploma que define limites de toneladas de re-
síduos a transportar;
 Medida 1.8: Definir responsabilidades de cada entidade em matéria de gestão de RCD;
 Medida 1.9: Articular entre legislação da Construção Civil / Obras / Concessão (contratação pública) com
legislação ambiental, nomeadamente com o Decreto-Lei nº 56/2015, de 17 de outubro em matéria de gestão
de RCD;
 Medida 1.10: Criar condições e incentivos para aplicação da Lei;
 Medida 1.11: Assegurar comprometimento e fiscalização dos regulamentos.

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Foi discutida ainda a questão da classificação dos RCD, um aspeto que ficou clarificado como sendo equacionado na Lista
Nacional de Resíduos (decreto-lei nº 65/2018, de 20 de dezembro).
Foi ainda apontada a necessidade de um alinhamento de políticas, a nível nacional, e de uma regulação eficaz. A Srª Gabi
Schock avançou com uma sugestão que consiste em conceder um período de carência, fazendo, na sequência, gradualmente
os necessários ajustes.

3.2. Medidas para os desafios referentes à fiscalização

Caso da Alemanha: Incentivos municipais e estatais e controlo


 As empresas de construção civil são responsáveis pela eliminação dos seus próprios resíduos. Isto só pode ser
bem-sucedido se eles virem a sua vantagem numa eliminação ordenada, por exemplo, custos de eliminação de
resíduos, imagem da empresa e do edifício que foi construído de forma ecológica, bem como recursos/materiais
limitados (por exemplo, areia).
 Quanto mais elevado for o padrão do aterro, mais caro é o aterro, mais económica é a reciclagem.
 O controlo nunca pode ser a 100%, pelo que deve ser feito com base numa verificação in loco e, especialmente,
se houver suspeita de eliminação não sistemática de resíduos.
 Alguns estados federais na Alemanha exigem que as empresas produtoras de mais de 2.000 toneladas de resíduos
que exigem controlo (com exceção da terra, do papel, etc.) ou 2 toneladas de resíduos que exigem controlo especial
(resíduos perigosos), devem elaborar um conceito de gestão de RCD. Aqui, os resíduos que se espera que sejam
produzidos pela empresa nos próximos 5 anos (dependendo das encomendas / desenvolvimento económico), de-
vem ser tidos em conta. Neste conceito, deve ser explicado o que a empresa está a fazer para evitar resíduos,
como os resíduos devem ser recuperados / tratados e em que aterro os resíduos devem ser depositados, ou o que
acontece aos resíduos que exigem um controlo especial. Este conceito de gestão de RCD é submetido à autoridade
que, desta forma, sabe quais e quantos resíduos serão produzidos nos próximos anos e pode planear instalações
de tratamento de resíduos em conformidade. A empresa tem a vantagem de dispor de capacidades de tratamento
e aterros suficientes.
 Uma vez por ano, as empresas devem apresentar um balanço de resíduos. Esta lista enumera os resíduos efeti-
vamente produzidos no ano respetivo e os locais onde se procedeu à reciclagem / ao aterro. A autoridade e a
empresa dispõem assim de um instrumento de controlo e planeamento com o qual os dados do balanço de resíduos
podem ser comparados com os dados do conceito de gestão de resíduos.

Medidas especificas referente à fiscalização:


 Medida 2.1: Integrar órgãos fiscalizadores;
 Medida 2.2: Assegurar fiscalização independente;
 Medida 2.3: Desenvolver planos de ação para a fiscalização;
 Medida 2.4: Aumentar a capacidade de fiscalização criando condições humanas e materiais;
 Medida 2.5: Monitorar e reforçar ações no terreno;
 Medida 2.6: Introduzir procedimentos de fiscalização (check list padronizado);
 Medida 2.7: Criar linhas de denúncia envolvendo comunidades locais na denúncia de deposição ilegal de
RCD;
 Medida 2.8: Assegurar uma fiscalização eficaz;
 Medida 2.9: Aumentar coimas (uma vez que a Lei Geral já prevê coimas foi discutida a sua análise e imple-
mentação);
 Medida 2.10: Definir papel de cada entidade em cada etapa;
 Medida 2.11: Introduzir plataforma digital “gestão resíduos”.

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3.3. Medidas para os desafios referentes à articulação sectorial

A nível nacional, as instituições têm, em matérias diversas, o seu papel bem definido, carecendo, no entanto, de uma ne-
cessária articulação. Para debelar este constrangimento, foram propostas as seguintes medidas.

Medidas especificas referente à articulação sectorial:


 Medida 3.1: Criar formalmente um comité intersectorial para discussão e implementação das ações definidas;
 Medida 3.2: Definir entidades a participar e o número de elementos / entidades, funções do comité / atribuição
de responsabilidades;
 Medida 3.3: Criar grupos multissetoriais.

A cada organização, que faz parte do comité, é atribuída uma responsabilidade especifica, a qual cabe a essa mesma orga-
nização assumi-la. Não compete decidir, pois, cada entidade tem as suas atribuições, sob pena de enfraquecer o papel das
autoridades. A ANAS poderá liderar esse comité, assumindo o papel de elo de ligação entre as instituições.

3.4. Medidas para os desafios referentes ao tratamento e gestão de RCD

Várias tecnologias aplicáveis simplificam ou permitem o tratamento de RCD, podendo aquelas ser derivadas de tecnologias
já usadas em condições semelhantes em Cabo Verde. Tendo em conta que Cabo Verde produz uma quantidade menor de
resíduos, em comparação com muitos outros países, os modelos de negócio e as tecnologias relevantes devem ser adaptadas
às condições prevalecentes. Especialmente nesta área, a experiência e a gama dos fabricantes e das empresas de serviços
alemães desempenham um papel particularmente importante, uma vez que podem fornecer o know-how técnico e o apoio
financeiro necessários e, assim, dar um contributo importante para a procura de soluções.

Caso da Alemanha: Promoção da reciclagem pelos municípios e pelo Estado


 Pode ser criada uma "bolsa de resíduos" numa plataforma online e/ou através de corretores, onde as empresas
podem oferecer os seus resíduos para valorização ou para reciclagem. Isto funciona bem para os resíduos que
não necessitam de monitorização, por exemplo, o solo, se forem produzidos nas proximidades.
 A autoridade / o estado local pode também estipular que pelo menos 5% do material de construção nas obras
(públicas) de construção deve ser constituído por materiais reciclados. Como exemplo, o município / estado pode
escolher uma percentagem mais elevada (até 70%).

Medidas especificas referente ao tratamento e gestão de RCD:


 Medida 4.1: Implementar pesquisa continua;
 Medida 4.2: Diagnosticar a situação em termos de produção de resíduos de construção e demolição, pois, só
conhecendo a quantidade produzida e o tipo de resíduos, se consegue propor tratamento adequado;
 Medida 4.3: Elaborar normas técnicas / especificações técnicas (artº 50º DL 56/2015);
 Medida 4.4: Assegurar triagem e reciclagem;
 Medida 4.5: Localizar centros de tratamento junto a centrais eólicas para baixar custos;
 Medida 4.6: Limitar o número de operadores;
 Medida 4.7: Emitir certificados de conformidade para os reciclados e certificado verde;
 Medida 4.8: Incluir segurança e saúde no trabalho (PSS) (falou-se da questão da proteção dos trabalhadores
das infraestruturas de tratamento de resíduos onde se identificou como problema a fiscalização e pontos a
cumprir. Destacou-se que o importante é explicar as vantagens do uso do material de proteção e como media
sugeriu-se ter um ponto focal);
 Medida 4.9: Depositar resíduos de construção e demolição no aterro (em conformidade com a portaria
03/2020 de 10 de janeiro);
 Medida 4.10: Recuperar áreas degradadas reutilizando solos e rochas (em conformidade com o artº 49º DL
Lei 56/2015) quantificando áreas para deposição.

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3.5. Medidas para os desafios referentes à logística e ao transporte

Foram propostas as seguintes medidas, tanto regulamentares, como operacionais, com o fito de se equacionar os desafios
identificados.

Medidas especificas referente à logística e ao transporte:

 Medida 5.1: Referenciar locais de recolha e caracterizar meios de transporte;


 Medida 5.2: Usar meios de transporte adequados, proteção das equipas de recolha e transporte;
 Medida 5.3: Criar procedimentos - Check list para empresas de transporte;
 Medida 5.4: Criar plataformas (online) de empresas de transporte.

3.6. Medidas para os desafios referentes à sustentabilidade económica

Na intervenção relativa a este tópico, foi referida a existência de várias linhas de financiamento para plataformas locais
voltadas para a sociedade civil. No entanto, o grupo de trabalho apontou, como medidas, (i) as linhas de financiamento
para o mercado de reciclagem e (ii) incentivo à elaboração e criação de projetos inovadores, visando a valorização dos RCD.

A Engª Rafaela apresentou os principais pontos, a serem incluídos nos “modelos de negócio”: serviços, clientes, tecnologia,
formas de receita, incluindo a venda dos produtos reciclados, a fixação (negociações com o Governo) e a cobrança da taxa
de tratamento (valor em toneladas). Existem ainda as seguintes questões a ter em conta, tais como: que tipo e material
serão aceites na planta de tratamento e quais são os riscos associados (mudança política, mudança do mercado, falta de
inputs).
O Dr. Mário Moreira apresentou a distribuição das verbas do Fundo do Ambiente, provenientes da cobrança da Taxa Eco-
lógica, em conformidade com decreto-lei nº 62/2016 de 29 de novembro (alterado pelo Decreto Lei nº 38/2017 de 29 de
agosto), sendo a distribuição feita da seguinte forma:

a) 60% (sessenta por cento) para o financiamento de projetos enquadrados no n.º 4 do artigo 2.º (DL nº 62/2016) e apre-
sentados pelos Municípios;
b) 30% (trinta por cento) para o financiamento de projetos enquadrados no n.º 4 do artigo 2.º (DL nº 62/2016) e apresen-
tados pela Administração Central através do departamento governamental responsável pela área do ambiente; e
c) 10% (dez por cento) para o financiamento de projetos enquadrados no n.º 4 do artigo 2.º (DL nº 62/2016) e apresentados
por empresas e organizações da sociedade civil.

Dr. Mário Moreira apresentou ainda os montantes destinados para o ciclo 2017-2020 aos municípios e à Administração
Central. Frisou também que, dentro dos 30% direcionados para a Administração Central, se inseriu o projeto de melhoria
da gestão de RSU. Das discussões ficou assente que devia ser adotada a alteração da terminologia “RSU” (resíduos urbanos)
na identificação desse projeto para “Resíduos”, de modo a abranger todas as categorias de resíduos.

Caso da Alemanha: Tarefas comunitárias


 Os investimentos em resíduos são muito elevados, mas, a médio prazo, os custos logísticos são decisivos. Por-
tanto, as rotas dos resíduos têm de ser otimizadas, p. ex., onde é criado um centro de tratamento de resíduos com
vários processos de eliminação (compostagem / aterro sanitário). O planeamento, construção e funcionamento
podem ser efetuados pelo município, mediante a adjudicação do contrato a uma empresa privada, uma cooperação
com uma empresa privada ou uma cooperação de vários municípios. É importante que os riscos e os lucros sejam
distribuídos equitativamente.

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Medidas especificas referente à sustentabilidade económica:

 Medida 6.1: Criar incentivos fiscais;


 Medida 6.2: Organizar cooperativas de produção;
 Medida 6.3: Definir a taxa de tratamento;
 Medida 6.4: Analisar/enquadrar parcerias institucionais público privadas e criação de linhas de crédito;
 Medida 6.5: Possibilitar financiamento no âmbito do PEDS (Plano Estratégico do Desenvolvimento Susten-
tável);
 Medida 6.6: Analisar / rever a taxa ecológica;
 Medida 6.7: Instituir a venda do produto reciclado;
 Medida 6.8: Implementar o Estado como comprador (Infraestruturas de Cabo Verde);
 Medida 6.9: Organizar / criar agentes fornecedores locais;
 Medida 6.10: Fidelizar maiores clientes (empresas);
 Medida 6.11: Desenvolver ideias de negócio.

3.7. Medidas para os desafios referentes à sensibilização, formação e informação

Caso da Alemanha: Relações públicas e qualificação


 Para as empresas estrangeiras também é obrigatório que todos os trabalhadores recebam instruções na sua língua
materna sobre como lidar com os resíduos.
 As ONG estão bem organizadas na Alemanha. Assim, podem utilizar as campanhas para conseguir que os políticos
/ maiores aceitem as suas exigências, se recearem perder as próximas eleições.
 Por conseguinte, é importante envolver todos os atores importantes no planeamento da gestão de resíduos. É
importante perguntar aos atores, como se querem envolver (p. ex., as ONG realizam ações de formação nas es-
colas; as lojas de bricolage aceitam lâmpadas / lâmpadas partidas), e depois relatar histórias de sucesso, para que
os outros atores se sintam motivados a agir da mesma forma. Deve ser um “prazer” envolver-se na gestão de
resíduos.
 As brochuras são boas, mas não espere que as pessoas saibam o que está nelas. É melhor, com o apoio das
ONG, ir lá, p. ex., a festas, onde há muitas pessoas, e mostrar concretamente como as pessoas devem separar os
seus resíduos.
 As pessoas querem estar sempre do lado dos vencedores / boas pessoas, por isso façam rifas para uma reciclagem
adequada. Isto pode ser oferecido para crianças, mas também para adultos.
 O aconselhamento às empresas de construção e a formação dos trabalhadores podem ser assegurados por exem-
plo pelas Câmaras de Comércio e Indústria.
 Na formação, é importante perceber que o conhecimento não é suficiente, que agimos de forma diferente! Por
conseguinte, a gestão de resíduos deve ser tão simples que cada pessoa possa integrá-la na sua vida profissional
e privada quotidiana sem quaisquer problemas.

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Medidas especificas referente à sensibilização, formação e informação:

 Medida 7.1: Identificar necessidades;


 Medida 7.2: Formar / socializar Leis nomeadamente com entidades (maior apropriação da legislação vigente
pelos atores);
 Medida 7.3: Realizar campanhas de sensibilização dirigidas aos camionistas e população em geral e ainda
nas escolas;
 Medida 7.4: Introduzir a vertente económica nas ações de IEC;
 Medida 7.5: Publicitar a reutilização dos resíduos de construção e demolição, sua valorização/ vantagens
por exemplo na televisão ou em páginas institucionais;
 Medida 7.6: Elaborar Guias (transporte resíduos e outras matérias que têm a ver com a gestão de RCD);
 Medida 7.7: Operacionalizar Sistema de Informação sobre Resíduos (SIRES);
 Medida 7.8: Criar conexão com as Universidades; incentivar pesquisas voltadas para a Construção Susten-
tável / Gestão de RCD, as boas práticas e divulgá-las;
 Medida 7.9: Formação e Implementação de boas práticas na obra, incentivando e premiando as mesmas;
 Medida 7.10: Certificar formadores em Segurança e Saúde no trabalho;
 Medida 7.11: Formar tutores;
 Medida 7.12 Treinar / capacitar fiscais e Entidades fiscalizadoras em temas que tem a ver com o ambi-
ente;(tratamento de resíduos), segurança e saúde no trabalho;
 Medida 7.13: Assegurar seguimento do trabalho (Plano Segurança e Saúde);
 Medida 7.14: Partilhar informação e desenvolver Linha de Comunicação fácil - conhecer e interagir com atores.

3.8. Plano de prevenção e gestão de resíduos de construção e demolição (PPGR)

O decreto-lei 56/2015, de 17 de outubro, estabelece, nos seus artigos 52º e 53º, (i) a obrigatoriedade de apresentação dos
planos de prevenção e gestão de RCD nas empreitadas e concessões de obras públicas e nas obras sujeitas a licenciamento
ou comunicação prévia e (ii) um modelo-tipo de plano que deverá ser disponibilizado pela autoridade nacional dos resíduos
(ANAS), em conformidade com o disposto no nº 5 do artigo 53º, em termos de conteúdo, mas, de uso facultativo.

O Modelo (draft) do referido plano foi apresentado pela técnica da ANAS, a Engª Joana Mendonça.

Após a apresentação, houve discussões, tendo sido apontada, como medida, a definição do perfil de “Gestor dos Resíduos”.
Aconselhou-se a não deixar as empresas sozinhas com o formulário, promovendo-se programas de formação, logo no início,
e de teste do plano com as empresas. É importante considerar-se os três pilares na gestão dos resíduos, a saber: “Estado”,
“Privados” e “Particulares”.

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Caso da Alemanha: Observações finais


 Em 1972, foi criada a primeira lei uniforme sobre resíduos para toda a Alemanha. Estava em constante mudança
à medida que as condições gerais se alteravam. Por exemplo, a Lei de Gestão da Reciclagem foi discutida durante
cinco anos e quando a lei entrou em vigor, em 1994, houve uma conferência com cerca de 1.000 participantes. Isto
era importante. Mostrou: "Somos demasiado fortes para produzir resíduos". Este entendimento e esta aceitação
devem ser construídos em Cabo Verde, caso contrário a gestão de resíduos, apesar das boas leis, não pode ser
bem-sucedida.
 Os recursos são escassos em todo o mundo. A ONU aprovou, por conseguinte, 17 objetivos de sustentabilidade.
Já não podemos dar-nos ao luxo de produzir resíduos.
 Portanto, sonhe um sonho (com o maior número possível de pessoas!). Neste sonho, não haverá mais resíduos
em 2030. O que é preciso fazer para que este sonho se torne realidade?
 “Por amor aos resíduos”.

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4. Reflexão final e próximos passos


O “II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente”, durante o qual foi exaustivamente debatido o tema “Gestão de
RCD”, constituiu um evento de indiscutível importância. O seu objetivo prático mais imediato terá talvez sido a recolha de
subsídios que permitissem a elaboração de um “Guia de Medidas” que deverá ser aplicado nos municípios de Cabo Verde,
visando toda a cadeia de valor da gestão do fluxo específico de RCD.

Além disso, da reflexão coletiva terão sido extraídas, de uma forma geral, as seguintes conclusões:

1. A reutilização dos resíduos pode, numa perspetiva de promoção da economia circular, gerar boas oportunidades de
negócios;

2. Devido à sua constituição heterogénea, com frações de dimensões variadas, assim como os diferentes níveis de perigo-
sidade, os RCD são recursos de difícil gestão;

3. A forma como os RCD são, neste momento, depositados, nos diferentes municípios do país, é bastante inadequada e
afigura-se como um atentado à preservação do Meio Ambiente, contribuindo, de forma contínua e preocupante, para a
sua degradação;

4. Já existe no país um quadro legal que dá cobertura aos RCD, sobretudo no que tange à sua prevenção, reutilização,
operações de recolha, transporte, armazenagem, tratamento, valorização, bem como à sua eliminação. Porém, é bas-
tante notória ainda a falta de legislação específica referente aos fluxos especiais, frequentemente contidos nos RCD,
nomeadamente, os resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, os óleos minerais e lubrificantes usados, resíduos
contendo amianto e seus derivados;
5. Existe uma urgente necessidade de implementação de uma fiscalização eficaz. Nesta matéria, deve-se dar uma especial
atenção à capacitação dos recursos humanos, mobilização de recursos materiais, assim como à introdução de ferramen-
tas modernas de trabalho;
6. Revela-se necessária uma articulação entre os vários atores / entidades, com vista à conceção de uma estratégia inte-
grada de gestão de RCD em toda a sua cadeia;

7. A componente “formação, sensibilização e divulgação” reveste-se de uma importância crucial e deve ser promovida
pelos municípios e pela administração central, sob pena de comprometer toda e qualquer estratégia nacional de gestão
dos RCD;

8. Para garantir a sustentabilidade económica da gestão dos RCD, urge que o país aprenda com a experiência de países
tecnologicamente mais avançados em matéria de gestão de resíduos. Neste particular, as tecnologias “Made in Ger-
many”, assim como a forma como a Alemanha envolve o Estado, os Municípios, as ONGs e a Sociedade Civil na gestão
dos resíduos, e como é materializada a componente “formação, sensibilização, divulgação”, pode indubitavelmente ser
assaz inspirador.

Perspetivando a implementação das medidas identificadas no presente “Guia de Medidas”, conforme proposta, serão da-
dos, a curto prazo, passos no sentido da criação formal de um Comité Intersectorial. Além disso, preconiza-se também
a implementação de medidas, no quadro de um documento “Protocolo de Gestão de RCD no Pais”, a ser ainda elabo-
rado. O objetivo de um tal protocolo centrar-se-á, não só no processo de gestão dos RCD, mas também na qualidade dos
materiais reciclados. Por outro lado, decorrentes do processo, o compromisso entre algumas instituições e entidades poderá
materializar-se por intermédio de Memorandos de Entendimento.

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5. Anexos
Anexo I: Programa do II Workshop Germano-Cabo-Verdiano do Ambiente

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Anexo II: Medidas para os desafios da gestão dos RCD

Medidas para os desafios referentes à legislação e regulamentação

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Medidas para os desafios referentes à fiscalização

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Medidas para os desafios referentes à articulação sectorial

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Medidas para os desafios referentes ao tratamento e gestão de RCD

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Medidas para os desafios referentes à logística e ao transporte

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Medidas para os desafios referentes à sustentabilidade económica

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Medidas para os desafios referentes à sensibilização, formação e informação

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