Você está na página 1de 8

Congreso Iberoamericano de Ingeniería Mecánica

Congresso Ibero-Americano de EngenhariaMecânica


Cartagena, Colombia

Influência da energia de soldagem e do envelhecimento na


microestrutura e propriedades mecânicas de juntas soldadas do aço
inoxidável AISI 317L

Influence of heat input and aging on microstructure and mechanical


properties of AISI 317L austenitic stainless steel welded joints

Pedro D. Antunes1, Cleiton C. Silva2 e Edmilson O. Correa3

1
Departamento de Formação Geral, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Av. dos Imigrantes,
1000, Jardim Panorama, Varginha, MG, Brasil. Email: antunes.pd@gmail.com
2
Laboratório de Pesquisa e Tecnologia de Soldagem (LPTS), Universidade Federal do Ceará, Av. da Universidade,
2853, Fortaleza,CE, Brasil. Email: cleitonufc@yahoo.com.br
3
Instituto de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Itajuba (UNIFEI), Av. BPS, 1303, Caixa postal. 50,
Pinheirinho, Itajuba, MG, Brasil. Email: ecotoni@unifei.edu.br

Resumo

Neste trabalho foi investigado da energia de soldagem e do envelhecimento térmico sobre a microestrutura e as
propriedades mecânicas de juntas soldadas do aço inoxidável austenítico AISI 317L usado na indústria de petróleo.
O metal de adição usado foi o eletrodo AWS ER317L em dois diferentes níveis de energia (4 e 8 kJ/cm). As
amostras foram envelhecidas à 700°C por 50 e 100 horas. Foram realizadas a quantificação dos precipitados e o
mapeamento microquímico das fases precipitadas após a soldagem e o tratamento térmico de envelhecimento (TTE).
Para avaliar as propriedades mecânicas foram realizados teste de tração e microdureza Vickers. Observou-se que o
envelhecimento promoveu um refinamento da região do metal base e toda ferrita delta foi transformada em fase
sigma. A ferrita delta presente na zona fundida se transformou completamente em fase sigma e fase chi. Nas
amostras tratadas termicamente por 100 horas identificou-se uma menor ocorrência da fase autenita secundária (γ 2) o
que indica que com o aumento do tempo de TTE ocorreu uma dissolução da mesma na fase sigma já precipitada.
Com relação as propiedades mecânicas, foi verificado um aumento considerável da dureza, do limite de escoamento
e do limite de resistência à tração das juntas que sofreram envelhecimento em relação àquelas não envelhecidas, para
todas as condições de soldagem

Palavras chave: Aço inoxidável AISI 317L, Soldagem, microestrutura, propriedades mecânicas

Abstract

This work investigated the effect of aging on the microstructural characteristics and mechanical properties of welded
joints of the AISI 317L austenitic stainless steel used in the petroleum industry. The filler metal used was the AWS
ER317L electrode at two different energy levels (4 and 8 kJ/cm) in order to verify the influence of this parameter on
the precipitation of deleterious phases. The samples were heat treated at 700 °C for two period of times: 50 and 100
hours. Quantification and microchemical mapping of precipitated phases after welding and aging thermal treatment
(ATT) were performed. Vickers hardness and tensile tests were used to evaluate the mechanical properties.It was
observed that aging promoted a refinement of the base metal region and all delta ferrite was transformed into sigma
2
P. Antunes, C. Silva, E. Correa

phase. The delta ferrite present in the fusion zone was completely transformed into sigma and chi phases. In the
thermally treated samples for 100 hours a lower occurrence of the secondary austenite phase (γ2) was identified,
which indicates that with the increase of ATT time the dissolution of γ2occurred in the already precipitated sigma
phase. All welding conditions showed an increase in tensile strength, flow limit and hardness profile with the ATT.

Keywords: AISI 317L Stainless Steel, Similar Welding, Mechanical properties, microstructure

1. Introdução 2. Procedimento experimental

O aço inoxidável austenítico 317L tem como Chapas de aço AISI 317L de 3 mm de espessura
principal característica um baixo teor de carbono bem foram soldadas em junta de topo por meio do processo
como a presença de molibdênio na sua composição GMAW automatizado com corrente pulsada em dois
química, em teores superiores àqueles observados nos níveis de energias: 4 e 8 kJ/cm. Para o preenchimento
aços 316L; conferindo-lhe uma maior resistência da junta utilizou-se o arame-eletrodo AWS ER317L.
mecânica, à sensitização, à corrosão por pites e Na Tabela 1 apresenta-se a composição química
melhores características de fluencia em elevadas nominal (% em peso) das chapas do aço inoxidável
temperaturas quando comparado com o aços 316L [1,2]. AISI 317L e do eletrodo AWS ER317L usado da
Devido à estas características, o aço 317L é soldagem.
largamente utilizado em unidades de refino de petróleo
para fabricação de equipamentos e linhas de transmissão Tabela 1. Composição química do aço inoxidável
de fluido, as quais são compostas por vasos de pressão, austenítico AISI 317L e do eletrodo AWS ER317L
tubos, flanges, e outras conexões.
Uma aplicação de grande importancia do aço 317L Material Composição química (%)
na industria de petróleo é na operação de lining C Cr Ni Mo Mn Si
(revestimento em chapa interno) em torres de AISI 317L 0,01 19,0 13,1 3,1 1,6 0,4
processamento de óleo pesado, de modo a torná-las AWS ER317L 0,01 20,3 12,4 3,7 1,6 0,4
mais resistentes à ação de ácidos contaminantes
presentes no petróleo tais como os ácidos naftênicos Na Tabela 2 são apresentados os principais
(R(CH2)nCOOH), carbônico (H2CO4), sulfídrico (H2S), parâmetros de soldagem usados no processo.
além de elevada concentração de cloretos (Cl-) [3,4].
Cabe ressaltar que na operação de lining para a Tabela 2: Parâmetros de soldagem adotados.
montagem destes sistemas é necessário a soldagem dos Parametros de soldagem
referidos componentes.. Uma das grandes dificuldades Energia de soldagem 4KJ/cm 8KJ/cm
enfrentadas nesta aplicação é desenvolver um I pico 250 A 240 A
procedimento de soldagem que ofereça a produtividade
I base 65 100
esperada e garanta na região soldada uma
tempo de pico 3s 4,5 s
microestrutura estável, em que prevaleça as mesmas
tempo de base 10 s 8s
propriedades quimicas e mecânicas do material base.
Tais dificuldades se apresentam porque o ciclo I eficaz 139 165
térmico no qual estes materiais estão submetidos V 19 26
durante a soldagem, leva a zona térmicamente afetada Velocidade de soldagem 45 35
(ZTA) a experimentar uma faixa de temperatura crítica Velocidade Alim arame 4,5 4,5
(400 a 1000ºC) e, consequentemente, a passar por Vazão gás de proteção (Ar) 25 l/min 25 l/min
transformações metalúrgicas caracterizadas
principalmente pela formação de fases intermetálicas Com o objetivo de se verificar a influência do tempo
tais como sigma (σ), chi (χ) and Laves e precipitados de envelhecimento sobre a microestrutura e as
indesejáveis M23C6 [4]. propiedades mecánicas das juntas soldadas, foram
Neste contexto, o presente trabalho tem como realizados tratamentos térmicos de envelhecimento em
objetivo estudar o efeito do aporte térmico e do forno mufla à temperatura de 700°C por 50 e 100 horas.
envelhecimento sobre a microestrutura e propriedades Para avaliar a microestrutura da região da solda antes e
mecânicas de juntas soldadas do aço inoxidável depois do tratamento de envelhecimento, amostras da
austenítico AISI 317L. seção transversal das juntas soldadas foram lixadas,
polidas e atacadas com ácido oxálico (10%) e acido
nítrico (20%). Em seguida estas amostras foram
analisadas metalograficamente usando microscopio
Influência da energía de soldagem e do envelhecimento na microestrutura e nas propriedades mecânicas de 3
juntas soldadas do aço inoxidável 317L

ótico da marca ZEISS e microscópio de varredura Jeol


JSM 5600.
A avaliação das propriedades mecânicas foi
realizada por meio de ensaios de tração uniaxial em uma
máquina Instron 10T. e microdureza Vickers em
microdurômetro Digital Digimess . A confecção dos
corpos de prova foi realizada de acordo com os
procedimentos padronizados pelas normas ASTM G58 e
ASTM E8. A geometria e as dimensões das amostras
estão representadas na Figura 1.

Figura 2: Microestrutura da zona fundida da junta


soldada usando energia de 8 kJ/cm. Ataque: Água Régia

As Figuras 3 e 4 apresentam as microestruturas da


ZF para as duas condições de TTE.
Os resultados permitiram a identificação de três
regiões distintas, considerando suas diferenças de
intensidade de brilho, devido à diferenças em termos de
concentração de elementos químicos de elevado número
atômico (Z contrast) [5]. Portanto, as regiões mais
escuras correspondem àquelas que possuem a menor
Figura 1: (a) Geometria dos corpos de prova de tração
(unit: mm) and (b) Pontos de medição de dureza Vickers concentração de elementos pesados, a exemplo Mo,
enquanto as zonas de brilho mais intenso correspondem
àquelas enriquecidas em Mo, cuja capacidade de
3. Resultados e Discussão emissão de elétrons retroespalhados aumenta
consideravelmente.
3.1. Microestrutura

Considerando que as modificações microestruturais


mais importantes ocorreram na ZF e foram semelhantes
para ambas as energias de soldagem utilizadas, serão
apresentados os resultados para a condição mais crítica
de energia de soldagem de 8KJ/cm.
A Figura 2 apresenta a microestrutura obtida no
microscópio ótico da zona fundida (ZF) da junta soldada
usando 8 kJ/cm sem TTE. Observa-se a formação de
ferrita delta (fase escura) em ambas as juntas soldadas, Figura 3: Microestrutura da ZF com o eletrodo AWS
apresentando uma certa semelhança na morfologia e ER317L, energia de 8 kJ/cm com 50 horas de TTE.
uma maior incidência na junta soldada com maior Presença das fases (1)γ, ( 2) σ e (3) χ. Sem ataque, MEV-
aporte térmico. Esta morfologia vermicular e laminar, BSE
parcialmente como uma rede de ferrita delta, é
provavelmente devido ao fato de que esta liga solidifica
no Modo FA (ferrítico-austenítico)
4
P. Antunes, C. Silva, E. Correa

modo, a elevada concentração de Mo do ponto 2 é


consistente com a fase χ.
No metal de solda envelhecido por 50h, observa-se
um aumento na precipitação de fases intermetálicas no
interior da fase σ (ponto 3). As an álises do metal de
solda envelhecido por 100h (Figura 3) mostram uma
grande concentração de fases intermetálicas (pontos 2 e
4) bem como a presença da fase χ na interface σ/γ
(ponto 2).
A microestrutura observada no metal de solda
Figura 4: Microestrutura da ZF com o eletrodo AWS envelhecido por 100 horas denota um maior
ER317L, energia de 8 kJ/cm com 100 horas de TTE. crescimento e/ou evolução das fases intermetálicas a
Presença das fases (1) γ (austenita), (2) χ (chi), (3) σ partir da ferrita δ, se comparado ao resultado
(sigma) e (4) γ2 (austenita secundária). Sem ataque, MEV-
apresentado na amostra envelhecida por 50 horas. O
BSE
precipitado austenita secundária γ ( 2) observado na
amostra envelhecida por 100 horas (Figura 3) não foram
Assim, a região de menor brilho correspondente ao observados nas amostras envelhecidas por 50h,
ponto 1, refere-se à matriz austenítica, cuja composição indicando que pode ter havido decomposição da mesma.
química possui a menor concentração de Mo. Por outro O mecanismo de nucleação e crescimento da fase
lado, o brilho mais intenso das regiões correspondentes sigma observado neste estudo é similar ao identificado
aos pontos 2 e 3, indicam haver uma maior para aços inoxidáveis duplex e superduplex, devido à
concentração de Mo em relação a matrizγ. A diferença exposição em faixas de temperatura que propicia a sua
de brilho observada entre os pontos 2 e 3, também formação. Neste caso, a decomposição eutetóide de
denota uma diferença em termos de concentração de ferrita em fase sigma e austenita secundária deu origem
Mo, consistente com a formação das fasesχ (ponto 2) e à uma morfologia aparentemente lamelar. A
σ (ponto 3). Importante notar que ões as regi
d e decomposição lamelar ocorre pelo crescimento
precipitação correspondem à ferrita δ anteriormente cooperativo da fase sigma, originando lamelas das fases
presente. Isso ocorre por que da ferrita possuir maior sigma e austenita dentro da estrutura anterior da ferrita
concentração de Cr e Mo, a difusividade destes [7].
elementos é 100 vezes maior na ferrita que na austenita, Mesmo sendo considerada uma análise semi-
o que acelera a cinética de precipitação [6]. O ponto 4 quantitativa, os resultados de EDS apresentados
possui um tom escuro, semelhante àquele associado à previamente confirmam uma significativa diferença de
matriz γ, indicando se tratar de austenita secundária (γ 2) teor de elementos como Cr e Mo. Isso acarreta em um
decorrente da reação eutetóide responsável pela potencial de emissão de elétrons BSE diferente para
transformação da ferritaδ em fase σ e γ 2 [7]. Análises cada fase, em função da concentração de elementos com
químicas de EDS realizadas sobre cada uma das número atômico alto, notadamente o Mo. Nos dois
referidas regiões são apresentadas na Tabela 5. tempos de TTE foi possível estimar que toda ferritaδ
tenha se transformado nas fases σ e χ, pois nenhuma
Tabela 5: Composição química das correspondentes às amostra que foi submetida ao TTE apresentou alguma
fases γ, σ e χ na ZF com o eletrodo AWS ER317L usando 8 propriedade magnética quando sujeitas ao ferritoscópio.
kJ/cm e 50 horas de TTE Sabe-se que a fase σ é uma das fases intermetálicas
mais estudadas, no que tange à degradação dos aços
Regiões Si Cr Fe Ni Mo inoxidáveis. Quando se aborda a sua formação em aços
1- (γ) 0,4 19,1 62,9 14,4 3,1 inoxidáveis comerciais, evidencia-se a interação
2- (σ) 0,4 27,5 57,9 6,1 8,0 conjunta dos vários elementos de liga e das segregações
e microssegregações na microestrutura do material. O
3-(χ) 0,7 26,0 53,5 4,0 15,7
enriquecimento local de cromo e formação de ferrita δ
em condições de aquecimento, resfriamento e/ou
solidificação são os principais fenômenos que
Os resultados indicam um aumento significativo das favorecem a precipitação da fase σ nos aços inoxidáveis
concentrações de Cr e Mo e redução de Ni, confirmando austeníticos. Outros fatores de grande importância são a
o observado pela análise de BSE. O teor de 27,5% de precipitação de outras fases intermetálicas que,
cromo com o valor intermediário de Mo (8.0%) é conforme o caso pode favorecer ou não a formação da
consistente com o reportado para a fase σ. Do mesmo
fase σ [2].
Influência da energía de soldagem e do envelhecimento na microestrutura e nas propriedades mecânicas de 5
juntas soldadas do aço inoxidável 317L

SegundoVillanueva et al. [8], quando o material com energía de 4KJ/cm (aproximadamente 8%),
alcança temperaturas superiores a 550 °C ocorre a verificada através de ferritoscopia
formação da fase σ em um mecanismo diferente do
apresentado em microestruturas totalmente austeníticas.
Toda a ferrita δ se decompõe através de uma reação Tabela 6: Propriedades mecânicas das juntas soldadas
eutetóide (ferrita δ→ fase σ+ γ secundária) e não por
uma precipitação contínua. Tempo Energia
LE LRT Alongamento
Isso ocorre porque a ferrita δ é rica em elementos de TTE soldagem
(MPa) (MPa) (%)
facilitadores da formação da fase σ como Cr, Mo e Si, e (horas) (kJ/cm)
a composição química da fase σ formada a partir da
ferrita é mais rica nesses elementos do que a formada a 4 353 ±14 579 ±27 10± 4
partir da γ nos contornos de grão. 0
Além disso, como já mencionado anteriormente, a 8 296±16 663±31 11±2
difusão de elementos formadores da fase σ,
particularmente o cromo, é 100 vezes mais rápida na
ferrita do que na austenita [9], facilitando sua formação. 4 357±14 612±3 15±3
Padilha et al. [10] destacam que a cinética da 50
precipitação da fase σ, em aços inoxidáveis com 8 340±19 632±16 21±5
estrutura totalmente austenítica, é muito lenta, sendo
necessárias centenas ou milhares de horas, para que 4 384±2 607±50 9±6
ocorra a formação destes precipitados. Os autores 100
apontam que a cinética lenta se deve a três causas: a
insolubilidade do carbono e do nitrogênio na fase σ, 8 366±14 674±23 17±6
acarretando na precipitação desta fase após a
precipitação de carbonetos e/ou nitretos; a
complexidade da estrutura cristalina da fase σ, com 30
De acordo com Padilha et al [11], as propriedades
átomos na célula unitária e o fato de ser formada por
mecânicas como limite de resistência, limite de
elementos de solução sólida substitucional, o que requer
escoamento, alongamento e estricção variam com o
longos tempos de difusão.
percentual de ferrita δ presente no material. O
Ainda de acordo com análises de fração volumétrica
das fases, as juntas soldadas com maior aporte térmico endurecimento causado pela presença de ferrita δ não
(8 kJ/cm) e tratadas termicamente por 50 horas, pode ser considerado do tipo dispersão de partículas
incoerentes, uma vez que a ferrita também se deforma
apresentaram menor concentração de fase σ
plasticamente.
(aproximadamente 5,3%) em relação àquelas tratadas a
Além de influenciar no limite de escoamento,
100 horas (6,7%) e maior quantidade da fase χ (0,3%
limite de ruptura, percentagem de alongamento e
contra 0,1% para 100 horas.
percentagem de estricção, a percentagem de ferrita δ
pode ser significativa na fragilização induzida por
3.2. Propriedades mecânicas
hidrogênio. As soldas em aços inoxidáveis austeníticos
3.2.1. Teste de tração apresentam quantidades significativas de ferrita δ, sendo
que esta ajuda a prevenir a formação de trincas a quente,
A princípio é importante registrar que todos os CPs porém proporciona um caminho preferencial para a
de tração romperam na zona de transição ZTA/ZF. A propagação de trinca induzidas por hidrogênio [12].
Tabela 6 apresenta os resultados dos testes de tração Luppo et al [13], verificaram que há uma
realizados para as condições de soldagem e de TTE. diminuição da ductilidade com o aumento da quantidade
Nota-se que apesar das amostras sem TTE soldadas com de ferrita em um aço AISI 347 soldado. Eles também
menor energia (4 kJ/cm) apresentarem um menor limite apontaram que o efeito da quantidade de ferrita δ, acima
de resistência à tração e alongamento, estas de 12%, sobre a absorção de hidrogênio não é bem clara
apresentaram uma maior tensão de escoamento com para este tipo de aço.
relação à junta soldada com maior energía de soldagem. Observa-se também na Tabela 6 que a influência do
Isso pode ser explicado pela maior fração de ferrita δ na aporte térmico no comportamento mecânico das juntas
ZF da junta soldada com energia de 8 kJ/cm tratadas termicamente por 50 horas não foi significativa.
(aproximadamente 10%), em relação às juntas soldadas Porém nas amostras tratadas termicamente por 100
horas ficou evidente que as juntas soldadas com maior
6
P. Antunes, C. Silva, E. Correa

energia apresentaram maior resistência à tração e maior Energia (kJ/cm)


ductilidade.
Com o aumento no tempo de TTE é possível 4,0 8,0
perceber que as juntas soldadas adquirem maior Região
resistência à tração e maior limite de escoamento, o que
Microdureza Microdureza
por conseguinte, produz uma diminuição na ductilidade
das amostras. Pode-se justificar esse comportamento (HV1) (HV1)
com base nos resultados obtidos na quantificação das
MB 193±3 196±3
fases. Os resultados mostraram que com o aumento do
tempo de TTE produz um aumento na precipitação da ZTA 193±18 188±5
fases σ sendo sua fração de 5,9% com tempo de TTE
ZF 215±7 210±5
de 50 h e de aproximadamente 7,0% para o tempo de
TTE de 100 horas; o que pode influenciar diretamente
na resistência à tração e na dureza do material, devido à
dispersão das partículas de fase σ dentro dos grãos Os valores de dureza encontrados no MB das juntas
ferríticos [14]. De fato a presença de fases duras como tratadas termicamente por 50 e 100 horas praticamente
as fases σ e χ no interior da ferrita δ, a qual encontra-se não sofreram influência do tempo de TTE. Esta região
associada aos grãos de austenita, implica no aumento da apresentou valores em torno de 195 HV1, evidenciando
resistência da zona fundida, tanto pelo bloqueio de um aumento significativo na dureza com relação aos
discordâncias na interface precipitado/matriz quanto por CPs sem TTE, que apresentaram valores em torno de
um efeito de imobilização que impede a deformação da 180 HV1.
austenita quando submetida aos esforços de tração. Na ZTA dos CPs submetidos a 50 e 100 horas de
Conforme verificou Kwietniewski [14], a fase σ, TTE nota-se que os valores de microdureza para todas
assim como as fases χ e M23C6, são responsáveis pela as condições de soldagem não apresentaram diferenças
diminuição da tenacidade em aços austeníticos como o significativas. Tais medidas ficaram em torno de 190
AISI 316 que apresenta uma considerável semelhança HV1, o que corrobora no sentido de que com o TTE
na composição química com o aço inoxidável AISI houve um realinhamento do perfil de dureza das regiões
317L. do MB e da ZTA.
Em conformidade com os resultados apresentados
anteriormente, novamente é possível notar que para
3.2.2. Dureza todas as condições de soldagem os valores de
microdureza mais elevados foram encontrados na ZF.
As Tabelas 7 e 8 apresentam os resultados de Não foi possível observar variações significativas na
microdureza das amostras soldadas com o eletrodo microdureza da ZF em função do aporte térmico.
AWS ER317L e tratadas termicamente por 50 e 100 De acordo Nunes et al. [15], em soldagens de
horas. simples deposição, os resultados de microdureza não
mostram grande variação (em função da energia) em
Tabela 7: Dureza da junta soldada do AISI 317L soldado decorrência da variação da razão austenita/ferrita, pois
usando energias de 4 e 8 kJ/cm, após 50 horas de TTE não há diferença significante na composição destas
fases. Isto se explica porque os elementos
Energia (kJ/cm) substitucionais não tem tempo para se separarem
durante a soldagem.
4,0 8,0 O aumento da microdureza observado em função do
Região tempo de TTE justifica-se principalmente pela
precipitação da fase σ que ocorreu a partir da ferrita δ.
Microdureza Microdureza De acordo com a literatura [16-18], a presença da fase σ
(HV1) (HV1) é largamente estudada devido ao seu efeito prejudicial
na tenacidade, na ductilidade e geralmente na
MB 193±2 197±3 intolerância à deformação na temperatura ambiente nas
ZTA 191±5 190±6 ligas, efeitos causados principalmente por sua elevada
dureza. A redução drástica da resistência ao impacto à
ZF 206±2 214±5 temperatura ambiente também é evidenciada por
Tabela 8: Dureza da junta soldada do AISI 317L soldado Folkhard [19]. Este fato leva a crer que o efeito
usando energias de 4 e 8 kJ/cm, após 100 horas de TTE fragilizante da fase σ é mais evidenciado em
solicitações na temperatura ambiente [20].
Influência da energía de soldagem e do envelhecimento na microestrutura e nas propriedades mecânicas de 7
juntas soldadas do aço inoxidável 317L

[5] Miná, M. E.; Cruz, S. Y.; Ferreira, M. M.; Miranda,


H. C.; Dille, J.; Silva, C. C. Electron detection modes
4. Conclusões comparison for quantification of secondary phases of
Inconel 686 weld metal. Materials Characterization, v.
A partir das análises da influência do aporte térmico 133, p. 10-16, 2017
e do tempo de TTE sobre a microestrutura e sobre as
propriedades mecânicas de juntas soldadas do aço AISI [6] Langeborg, R. The physical metalurgy of stainless
317L, pode-se concluir que: steels. INOX'90 (seminário), Chiba, Japan, p. 11-24,
junho 1991.
- Após o TTE, observou-se que grande parte da
ferrita delta presente na ZF da junta soldada do aço [7] Pohl, M.; Storz, O.; Glogowski, T.: Effect of
317L se transformou em fase sigma e fase chi. intermetallic precipitations on the of duplex stainless
- Nas amostras tratadas termicamente por 100 horas steel. MaterialsCharacterization, [S.l.], v. 58, (2007), p.
identificou-se uma menor ocorrência da fase 65-71
austenita secundária (γ2) o que indica que com o
aumento do tempo de TTE ocorreu uma dissolução [8] Villanueva, D. et al. Comparative study on sigma
da mesma na fase sigma. phase precipitation of three types of stainless steels:
- Nos ensaios de tração, todas as juntas soldadas austenitic, superferritic and duplex. Materials Science
apresentaram aumento na resistência à tração e no and Technology, v. 22, n. 9, p. 1098-1104, 2006
limite de escoamento depois do tratamento térmico
de envelhecimento; [9] Lagneborg, R. The physical metalurgy of stainless
- Nos ensaios de microdureza, todas as juntas steels. Proceedings of international conference on
soldadas apresentaram aumento no perfil de dureza stainless steels, 1991, Chiba, Japan jun. 1991. p. 11-24
depois do tratamento térmico de envelhecimento
[10] Padilha, A. et al. Precipitation in AISI 316L(N)
during creep tests at 550 and 600°C up to 10 years.
5. Agradecimentos Journal Nuclear Materials, v. 1, n. 362, p. 132-138,
2007
Os autores agradecem à Fapemig, CNPq e CAPES pelo
apoio financeiro para a realização da pesquisa [11] Padilha, A.; Guedes, L. Aços Inoxidáveis
Austeníticos: Microestrutura e propriedades. São Paulo:
Hemus, 1994
6. Referencias
[12] Bouchouicha, B. et al. Inuence of the ferrite rate on
the tenacity of a welded joint in austenitic stainless
[1] Carbó, H. M. AcosInoxidaveis: Aplicacoes e steel: Experimental study and numerical modelling.
especificacoes. 2001. 48p. Apostila. Acesita S/A Computational Materials Science, p. 336-341, 2009

[2] Ferreira, R. C. Estudo da Formação da Fase Sigma [13] Luppo, M. I.; Hazarabedian, A.; Ovejero-Garcia, J.
em aços Inoxidáveis Austeníticos: Foco nas ligas 317, Effects of delta ferrite on hydrogen embrittlement of
317L e 317LN. 2009. 72p. Dissertação (Mestrado) - austenitic stainless steel welds. Corrosion Science, p.
PPGEM/UFRS, Porto Alegre, RS 87-103, 1999

[3] Silva, C. C.; Miranda, H. C.; de Sant’Ana, H. B.; [14] Kwietniewski, C. E. F. Avaliação de Alteração
Farias, J.P. Austenitic and ferritic stainless steel Microestrutural em um Aço AISI 316 que Operou em
dissimilar weld metal evaluation for the applications as- Elevada Temperatura. Dissertação de Mestrado.
coating in the petroleum processing equipment. PPGEMM, Porto Alegre - RS, 1996.
Materials and Design 47 (2013) 1–8.
[15] Nunes, E. B. et. al. Influência dos Parâmetros de
[4] Silva, C. C.; Miranda, H. C.; de Sant’Ana, H. B.; Soldagem na Microestrutura e na Microdureza na
Farias, J.P. Microstructure, hardness and petroleum Deposição de Aço Inoxidável Duplex. In: 64º
corrosion evaluation of 316L/AWS E309MoL-16 weld Congresso da ABM, 2009, Belo Horizonte, 2009
metal. Materials Characterization. (2009) 346–352 [16] Hau, J.; Seijas, A. Sigma phase embrittlement of
stainless steel in FCC service. Corrosion, p. 06578,
2006.
8
P. Antunes, C. Silva, E. Correa

[17] Tavares, S. S M.; Feijó, G. F.; Farneze, H. N.;


Sandim, M. J. R.; Souza, I. R. Filho. Influence of
Microstructure on the Corrosion Resistance of AISI
317L (UNS S31703). Mat. Res. vol.20 supl.2 São
Carlos 2017 Epub May 15, 2017

[18] Farneze, H. N.; Tavares, S. S M.; Pardal, J. M.;


Barbosa, C.; Pereira, O. C.; Cunha, R. P. C. Effects of
Aging at 450°C on the Pitting Corrosion Resistance and
Toughness of AISI 317L Steel Welded by GTAW and
FSW. Mat. Res. vol.20 supl.2 São Carlos 2017 Epub
Nov 17, 2017

[19] Folkhard, E. Welding Metallurgy of Stainless


Steels. Vienna: Springer, 1988.

[20] Shargay, A. C.; Singh, A. Thick wall stainless


steels piping in hydroprocessing units - heat treatment
issues. Corrosion, p. 02478, 2002

Você também pode gostar