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Cuidado integral na Covid-19

AROMATERAPIA: O PODER
DAS PLANTAS E DOS ÓLEOS
ESSENCIAIS
Alexsandra Nascimento
Ana Carla Koetz Prade

Publicação do ObservaPICS | Nº 2 - 2020


FICHA TÉCNICA

Especial Cuidado integral na Covid-19 ObservaPICS


Número 2 - Aromaterapia Observatório Nacional de Saberes e Práticas
Tradicionais, Integrativas e Complementares
Aromaterapia para o autocuidado em em Saúde
tempos de coronavírus
Alexsandra Nascimento Coordenação geral: Islândia Carvalho
Professora da Faculdade de Enfermagem Nossa Roteiro e revisão do conteúdo: Gisléa Ferreira
Senhora das Graças da Universidade de Pernam- Revisão nal: Fabíola Tavares e Veronica Almeida
buco. Diagramação: Bruno Leite
Imagens: Freepik, Pixabay e Unsplash
As plantas aromáticas na pandemia de
Covid-19: um olhar nos preparos ancestrais
Ana Carla Koetz Prade
Farmacêutica e ftoterapeuta clínica. Coordenadora
do Programa Farmácia Viva e do Centro de Práticas
Integrativas e Complementares de São Bento do Sul
(SC).

Recife
Fiocruz PE
2020
Apresentação

A coleção Cuidado integral na Covid-19 apresenta seu segundo número, abordando


uma prática integrativa e complementar em saúde com mais de seis milênios de história: a
aromaterapia. Diferentes culturas, inclusive no Brasil, adotam experiências com plantas aro-
máticas, seja inalando o vapor para desobstrução de vias respiratórias, fazendo escalda-pés
para ativar a circulação ou aproveitando óleos essenciais em massagens relaxantes.

Promover o autocuidado e reexões em torno do potencial das PICS são os objetivos da


coletânea, elaborada em parceria do Observatório com pesquisadores de universidades bra-
sileiras e responsáveis técnicos desse campo no SUS. Trata-se de mais uma iniciativa para
divulgar inormações seguras acerca das práticas tradicionais, integrativas e complementares,
promovendo educação em saúde para que o uso seja feito de forma adequada e com qualidade.

Não há evidências de que a aromaterapia previna a inecção pelo novo coronavírus,


nem que atue na cura da doença. É apresentada como um suporte complementar, com efeito
benéco para o autocuidado se utilizado de modo criterioso. A leitura pode auxiliar prossio-
nais de saúde e a comunidade em geral, nesse momento de pandemia e isolamento social, a
vencerem a fase de adoecimento coletivo cuidando melhor de si e dos outros, numa perspec-
tiva integrativa.

Neste segundo suplemento da coleção foram reunidos dois textos, um da professo-


ra Alexsandra Nascimento, da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Pernambuco
(UPE), no Recife, que trata mais profundamente de óleos essenciais, e outro da farmacêutica
Ana Carla Prade, coordenadora do Programa Farmácia Viva de São Bento do Sul, em Santa
Catarina, sobre plantas aromáticas e diversos usos.

As autoras mostram que a pele e o olfato são receptores importantes, funcionam como
canais condutores de mensagens a diferentes órgãos. Os componentes liberados de plantas
aromáticas, seja por meio de infusão ou da extração de óleos, têm efeito medicinal, auxiliando
bem-estar ísico e psíquico, tão importante no enrentamento da pandemia de Covid-19.

OBSERVAP I C S
AROMATERAPIA PARA O
AUTOCUIDADO EM TEMPOS
DE CORONAVÍRUS

Alexsandra Nascimento
Cuidado integral na Covid-19

A aromaterapia diante da Covid-19

A aromaterapia pode ser oferecida


como suporte terapêutico aos prossionais de
saúde que cuidam de pessoas com Covid-19
e à comunidade em geral, acometida ou não
pela doença, em quarentena domiciliar ou só
em isolamento social. Difusores aromáticos
ambientais nos postos de enfermagem ou no
repouso podem ser utilizados para garantir um
clima de tranquilidade, equilíbrio emocional,
além do fortalecimento de alguns sistemas,
como o respiratório e o imunológico. Utiliza-
dos nas residências, esses difusores podem
ainda proporcionar um ambiente mais agra-
dável, apresentando-se como uma prática
simples de ser realizada. Por exemplo, óleo
de laranja doce, eucalipto glóbulos e o tea
tree podem ser utilizados como estratégia de
ortalecimento para os prossionais da saúde
ou em casa como contribuição para o corpo e
para a saúde mental.

Todavia, vale salientar que no momento


não há estudos comprovando a ecácia dos
óleos essenciais contra a Covid-19. As reco-
mendações apresentadas estão undamenta-
das em estudos prévios, frente a outras con-
dições de saúde e epidemias. Nesse sentido, Da antiguidade ao contemporâneo
pesquisadores em todo o mundo, vinculados
O uso de ervas aromáticas em rituais
às mais diversas racionalidades, estão se de-
e com nalidades terapêuticas é conhecido
bruçando para descobrir terapêuticas ecazes.
desde a antiguidade. Florence Nigthingale
A grande potencialidade desse cuidado é o
aplicou o óleo essencial de lavanda na testa
fortalecimento humano e nisso todos estão de
dos soldados para acalmá-los na guerra da
acordo que, quanto mais equilibrados em sua
Crimeia, em 1853 (GNATTA, 2016). A aroma-
integralidade, corpo e mente, melhor será a re-
terapia ganhou status de ciência em 1910,
siliência do indivíduo diante da crise que vive-
com o trabalho realizado pelo perfumista e
mos neste momento. No entanto, os estudos
engenheiro químico René Maurice Gatteos-
preliminares trazem contribuições importantes
sé (1881-1950), considerado o pai da aro-
para o enfrentamento do contexto atual.

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materapia. Ele pesquisou as propriedades A aromaterapia é uma prática tera-


terapêuticas dos óleos essenciais. Ao tratar pêutica que utiliza as propriedades dos óle-
uma queimadura, adquirida num aciden- os essenciais para recuperar o equilíbrio e a
te de trabalho no laboratório de perfuma- harmonia do organismo, visando à promoção
ria familiar, acabou experimentando a ação da saúde ísica e mental (LAVABRE, 2018).
antisséptica do óleo essencial de lavanda. Dessa prática destacamos a aromacologia,
Posteriormente, em 1918, criou o antissép- ciência que estuda a inuência dos aromas
tico “Le salvol”, usado em ambiente hospi- sobre o bem-estar ísico, mental e emocional,
talar com eciência excepcional durante a e a aromatologia, dedicada aos efeitos e às
gripe espanhola. características ísico-químicas e botânicas
dos óleos essenciais com interesse no uso
Destaca-se também o trabalho do
terapêutico (BRASIL, 2018a).
médico Jean Valnet (1920-1995), que obte-
ve resultados bastante promissores ao tratar Inserida no Sistema Único de Saúde
soldados eridos na Segunda Guerra Mundial (SUS) por meio da Portaria Nº 702, de 21 de
com os óleos essenciais (TISSERRAND, 2017; março de 2018, a aromaterapia compõe o rol
LAVABRE, 2018). Na Inglaterra, Marguerite de 29 modalidades terapêuticas institucio-
Maury desenvolveu a aromaterapia holística nalizadas com a Política Nacional de Práti-
com base nas teorias de enfermagem (GNAT- cas Integrativas e Complementares - PNPIC
TA, 2016). Ela pesquisou sobre as inuências (BRASIL, 2018 b). A inclusão das PICS no
dos óleos essenciais no sistema límbico, de- SUS, como política, posicionou o Brasil na
senvolveu a ideia da prescrição individual e vanguarda mundial da inserção das Medici-
abriu a primeira clínica de aromaterapia em nas Tradicionais, Complementares e Integra-
Londres (GNATTA, 2016; BUCKLE, 2019). tivas (MTCI) no sistema nacional de saúde
(BRASIL, 2018b).

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Como atuam os óleos essenciais Cada uma dessas áreas apresenta co-
nhecimentos acumulados, antigos e novos,
A ação dos óleos essenciais pode ser que oferecem caminhos de aprofundamento
explicada por seus aspectos químicos, botâ- e fundamentação para o uso dos óleos es-
nicos e energéticos/vitalistas. Registros de senciais pelos mais diversos campos da eco-
60 mil anos atrás dão conta do uso de ervas nomia e da saúde (BRASIL, 2018b).
aromáticas desde as antigas civilizações, tais
como Egito, Índia, China, Grécia, nas medi-
cinas tradicionais, com nalidades terapêu- Aspectos químicos
ticas, ou em rituais religiosos (ERICHSEN-
-BROWN, 1979). Os óleos essenciais são substâncias
não gordurosas, voláteis, produzidas pelo
A aromacologia se ana com uma aro- metabolismo secundário das plantas. São
materapia vitalista e integrativa, preocupada classicados segundo a sua estrutura mo-
com o ortalecimento e equilíbrio vital, estando lecular em monoterpenos, sesquiterpenos,
presente em várias medicinas tradicionais e álcoois, aldeídos, ésteres, enóis, éteres e
terapias integrativas. A aromatologia se apro- óxidos, peróxidos, furanos, lactonas e áci-
xima da aromaterapia clínica, voltada ao tra- dos, e, por sua atividade bioquímica, em
tamento das doenças. Apesar dos diferentes grupos uncionais. Esses princípios ativos
paradigmas, elas podem se complementar, são bem conhecidos pela indústria alimen-
pois não são excludentes (GIRAUD, 2018). tícia, na intensicação sensorial dos sabo-

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res, na produção de inseticidas e de tintas, ção de princípios ativos. Uma gota de óleo
na cosmética e na perumaria (KUMAR, essencial equivale a mais de 20 xícaras de
2012). A análise dos componentes dos óle- chá. Para produzir um litro de óleo essencial
os essenciais é realizada pela cromatogra- é necessário, por vezes, toneladas de uma
a gasosa, teste capaz de identicar os óle- planta. Trata-se de uma terapia muito ecaz,
os, avaliar seus componentes e denir sua mas também poderá ser deletéria, causan-
pureza (WOLFFENBUTTEL, 2016). do alergias, irritações e intoxicações, exigin-
do dos terapeutas conhecimento dos óleos,
Cada óleo essencial pode apresentar
concentração de uso e melhor via de atuação
até 300 componentes, razão da sua grande
(TISSERAND, 2017). Na França, a aromatera-
abrangência terapêutica, atuando em diversos
pia sempre investiu nos estudos dos aspec-
sistemas no corpo, como também na psique
tos químicos dos óleos essenciais e na sua
(LOIZZO, 2008; WOLFFENBUTTEL,2016). São
utilização por via endógena, por isso é mais
constituintes de óleos essenciais, por exem-
praticada por médicos nesse país.
plo, o limoneno, pineno, mentol, terpinen-4-ol,
linalol, cinamaldeído, cetonas, verbenona, pi-
peritona, acetato linalílico, eugenol, timol, car- Aspectos vitalistas e energéticos
vacrol, 1,8-cineol (eucaliptol), miristicina, men-
tofurano e o bergapteno. Na Inglaterra, a aromaterapia nasce
com uma concepção holística idealizada
Geralmente, atribui-se como função por Marguerite Maury, enermeira e bioquí-
do óleo essencial a ação do seu componen- mica, considerada a “mãe da aromaterapia”.
te majoritário. No entanto, essa realidade às Ela estudou a via inalatória e dermatológi-
vezes não se repete. Estudos mostram que ca como vias possíveis, não somente para
os efeitos nem sempre ocorrem por essa via, a cosmetologia, mas também com ns te-
mas por uma sinergia dos componentes, pro- rapêuticos. Propôs ainda o uso de diversos
duzindo uma nova atividade (WOLFFENBUT- óleos, uma sinergia aromática como prescri-
TEL, 2016). ção para o cuidado dos pacientes (BUCKLE,
2019). Escreveu e participou de conerên-
Outra questão interessante nos óleos
cias, conquistando prêmios internacionais
essenciais deve-se às mudanças na mesma
pelo seu extraordinário trabalho (GNATTA,
espécie de planta, produzindo variações nos
2016). Armava que os óleos eram a mais
percentuais dos compostos, gerando novos
pura forma de energia viva e que seu uso na
quimiotipos, ou seja, óleos com diferentes
pele e por inalação poderia ser terapêutico
propriedades terapêuticas. Fatores como o
(MAURY, 2017).
solo e horário de colheita também interferem,
assim como a região de origem e os métodos Essa visão corrobora com a antropo-
de extração. soa, considerando o óleo essencial uma
manifestação das forças cósmicas do fogo,
Deve-se primar pelo uso racional dos
produzida pelo eu cósmico da planta, maté-
óleos essenciais em razão da alta concentra-

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ria dissolvendo-se em calor e atuando sobre A atividade vibracional dos óleos es-
a alma humana e com outras racionalidades senciais se dá pela informação contida ne-
vitalistas (PELIKAN, 2018). les, sua energia entra em ressonância com
o campo bioelétrico humano, a exemplo das
A intuição e a preferência olfativa do
ações da homeopatia e da terapia oral. Em
paciente são outros caminhos para a esco-
1920, o cientista Royal Raymond Rie, re-
lha dos óleos essenciais. Para isso, é ne-
conhecido inventor no campo da medicina
cessário o conhecimento sobre os aromas,
bioelétrica, criou um equipamento capaz de
suas fragrâncias e a experimentação para
medir a frequência em hertz das substân-
compreensão da inuência dos óleos es-
cias, o que possibilitou, posteriormente, afe-
senciais (GÜMBEL, 2016). A interação dos
rir a requência humana de indivíduos sau-
óleos essenciais produz respostas psíqui-
dáveis numa variação de 62 a 68 megahertz
cas (MOSS, 2008) e sutis nos indivíduos,
(MHz). Observou-se também que no indiví-
com resultados também em nível espiritual
duo adoecido ocorre uma redução da frequ-
(GNATTA, 2016).
ência para algo menor que 62 MHz (CLARK,

O aroma é uma das principais caracte- 2000). Nos tempos atuais, constata-se que

rísticas dos óleos essenciais. O olato capta cada óleo essencial tem seu próprio padrão

as inormações a partir dele, produzindo sen- vibracional, em geral bem alto, e que, ao

sação de bem-estar, tonicando, harmoni- entrar em contato com o ser humano, eleva

zando e relaxando, estimulando memórias e sua frequência. O corpo humano entra em

emoções (BAUDOUX, 2018). ressonância, equilibrando-se em todas as

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suas dimensões, ísica, psíquica e espiritual ylang ylang, bergamota, laranja, limão e tan-
(CLARK, 2000). Medições dos óleos essen- gerina têm inuência na cabeça,e, por m, os
ciais por meio da espectrocopia Raman de- óleos da raiz e sementes, como gengibre e a
monstram a existência de faixas como uma gramínia vetiver, relacionam-se com a parte
assinatura energética (BARANSKA, 2005). inerior do corpo (GÜMBEL, 2016).

As amílias botânicas também nos oe-


recem inormações sobre as ações dos óleos Efeitos no sistema respiratório
essenciais, suas características gerais, onde
e como nascem, crescem e se desenvolvem. A aromaterapia fortalece o sistema
Nesse sentido, a planta passa a ser compre- respiratório melhorando as trocas gasosas,
endida numa relação ecológica e dialógica promovendo uma assepsia respiratória, rela-
com a humanidade (GÜMBEL, 2016). Alguns xando a musculatura brônquica, aliviando a
exemplos das amílias botânicas das plantas tosse e auxiliando nas expectorações.
aromáticas: rutáceas (cítricas), burseráceas
Tais efeitos foram descritos na literatu-
(resinas), cupressáceas (cipreste), pináceas
ra através do estudo do eucaliptol, presente
(pinheiro), piperáceas (pimenta), lamiáceas
no óleo essencial de eucalipto glóbulos. Sua
maior número de óleos essenciais (lavanda,
atividade está relacionada ao seu agonismo
hortelã), mirtáceas (eucalipto, tea tree) zingi-
bráceas (gengibre), poáceas (capim limão),
oleáceas (jasmim) e rosaceae (rosas). As pro-
priedades terapêuticas ainda podem variar
de acordo com as partes da planta de onde
oi extraído o óleo essencial: raízes, caule, o-
lhas, rutas e ores (HOARE, 2010; GUMBEL,
2016).

Na antroposoa, apresenta-se a ima-


gem do homem como uma planta invertida.
Nessa perspectiva, de uma maneira geral, os
óleos obtidos da raiz da planta beneciarão o
Sistema Neurossensorial (SNS), enquanto os
da olha terão ação no Sistema Rítmico (SR)
e as ores/rutos no Sistema Metabólico Mo-
tor (SMM) (PELIKAN, 2018). Para Gümbel, a
relação se dá na mesma posição. Assim, os
óleos essenciais obtidos das ervas e folhas
como coníeras, eucalipto, hortelã e tea tree
inuenciam o sistema respiratório; os óle-
os de ores e rutos como camomilas, rosa,

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proteína TRPM8, produzindo reações neu- Ação no sistema imunológico


rossensoriais de refrescância e analgesia nos
processos inamatórios (TAKAISHI, 2012; No sistema imunológico, seus efeitos
KUMAR, 2012; CERMELLI, 2008), e horte- estão relacionados ao aumento das células
lã pimenta (BUCKLE, 2019; WILLEN, 2018). imunológicas, e/ou sua atividade antisséptica
A via inalatória é a via preferencial para essa frente aos agentes etiológicos. Eles agem na
nalidade, já que o óleo essencial percorre o membrana celular osolipídica danicando-a,
trato respiratório com efeito tópico imediato causando um desequilíbrio iônico no interior
e por absorção na corrente sanguínea poste- da célula (WOLFFENBUTTEL, 2016). O óleo
riormente (TAKAISHI, 2012). essencial de tea tree inibe a replicação do ví-

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rus da gripe H1N1 (GAROZZO, 2011; HAM- gistrados pelo eletroencefalograma (EEG):
MER, 2015), o eugenol presente nos óleos os aromas produzem respostas na atividade
essenciais de canela do ceilão e cravo possui cortical das ondas cerebrais (GNATTA, 2016;
grande potencial de ligação com proteínas DAMIAN, 2018).
responsáveis pela penetração e pela multi-
plicação do vírus (LANE, 2019; TALLEI, 2020;
OVADIA, 2009), assim como o louro (LOIZ- A via olfativa
ZO, 2008) e o eucalipto glóbulos (CERMELLI,
O sentido olfativo é muito primitivo e
2008; WU, 2010).
ao mesmo tempo sosticado. O bulbo olati-
vo situado no alto das narinas contém cerca
de dez milhões de células olativas. Trata-se
Na saúde mental
da única parte do sistema nervoso que está
A aromaterapia proporciona o equilíbrio em contato direto com o ambiente. Dessa
das emoções, tranquilidade, clareza mental, orma recebemos inúmeras inormações so-
reduz o estresse, a ansiedade e eleva o pa- bre o ambiente e sobre os óleos essenciais.
drão vibracional do ambiente, beneciando O sentido do olato atua principalmente a ní-
todos que por ele circulam (DAMIAN, 2018). vel subconsciente sem que o córtex cerebral
Produz uma atmosfera de acolhimento para registre. Os impulsos nervosos captados pe-
os prossionais de saúde e pacientes, poden- los nervos olfativos são enviados para o sis-
do ser utilizada nos domicílios, nos postos de tema límbico (amígdala, tálamo, hipotálamo,
trabalho, nas enfermarias, UTI, entre outros as glândulas pituitárias e a pineal e o hipo-
espaços (MAURY, 2017). O eeito psíquico da campo), local onde se processam as emo-
aromaterapia deve-se à ligação direta dos re- ções como prazer, dor, raiva, medo, tristeza,
ceptores olfatórios ao Sistema Nervoso Cen- sentimentos sexuais e memória (LAVABRE,
tral (DAMIAN, 2018; CHERAGHBEIGI, 2019), 2018).
produzindo alterações na química cerebral.
Essa é a orma mais rápida, ecaz e
O óleo de lavanda francesa apresentou segura para o emprego da aromaterapia,
excelentes resultados para a ansiedade (YAP, pois, se apoia mais na presença do óleo do
2019), comparado com o lorazepan (WOELK, que na quantidade, produzindo resultados
2010) e laranja doce, produz eeito calman- satisfatórios com menores quantidades e
te, auxiliando o relaxamento e o sono repa- com menor risco de intoxicação compara-
rador (WOLFFENBUTTEL, 2018; HOCAYEN, do com outras vias. Por meio da inalação,
2019), enquanto a hortelã pimenta e o alecrim cuida-se das emoções, do sistema respi-
renovam as energias para o turno de traba- ratório, além de proporcionar elevação es-
lho (GÜMBEL, 2016; MONTIBELER, 2018; piritual (DAMIAN, 2018). Assim que as mo-
BUCKLE, 2019; CHERAGHBEIGI, 2019). léculas odoríeras são inaladas, produzem
Os beneícios psicoterapêuticos são melhor resultados antes mesmo da sua absorção,
aproveitados pela inalação e podem ser re- através dos neurônios olfativos que enviam

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A via dermatológica
sinais eletroquímicos para o sistema límbico,
gerando respostas emocionais para o córtex A pele é o principal órgão do corpo vin-
cerebral e respostas mentais nos tecidos e culado ao sistema neurossensorial por sua
órgãos. Nos pulmões, permeiam a mucosa origem embrionária. Absorve os óleos essen-
e estruturas internas do trato respiratório, ciais por meio da sua camada lipídica, através
possibilitando uma assepsia, uma melhor das glândulas sebáceas e olículos pilosos,
expansão dos movimentos relativos à res- possibilitando a ação terapêutica dos óleos
piração e a eliminação de secreções, além essenciais (RHIND, 2019). É a segunda via
de serem absorvidas pela via sanguínea (LA- mais importante a ser eleita na aromaterapia,
VABRE, 2018). no entanto, a maioria dos óleos essenciais

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precisam ser diluídos em óleos vegetais para ser levado em conta, visto que são inúmeras
facilitar a absorção e proteger a pele de even- as possibilidades, inclusive pela pele. Este
tuais irritações. A absorção sanguínea ocorre documento apresenta algumas modalidades
mais rapidamente que a via oral e atravessa a como a automassagem, compressas toráci-
barreira hematoencefálica. cas e escalda-pés (MIGLI, 2010).

Os óleos vegetais são as substâncias Na inalação, não se realiza a diluição,


utilizadas frequentemente para o uso dos diferente da via dermatológica, visto que os

óleos essenciais na pele. São matérias gor- usos dos óleos essenciais puros podem pro-

durosas não voláteis obtidas pela prensagem vocar irritação na pele. A diluição dos óleos
essenciais é necessária para aplicação na
das sementes, nozes e amêndoas, como o
pele e mucosas e pode ser realizada por meio
óleo de gergelim, soja, amêndoas, jojoba,
dos óleos vegetais, manteigas, leite e mel. O
entre outros. Embora tenham propriedades
percentual de diluição vai depender do óleo
terapêuticas, na aromaterapia são utilizados
essencial utilizado, da idade, e da nalidade
como coadjuvantes no processo terapêutico.
terapêutica, de acordo com as orientações
Neles, os óleos essenciais são diluídos propi-
básicas do quadro 1.
ciando seu uso na pele ou mucosas (HOARE,
2010).
Uso pelos prossionais de saúde
Essa via de administração sofre inter-
ferência da temperatura da pele. Por isso, o No atual contexto da Covid-19, vive-
calor pode aumentar a absorção do óleo, ao mos uma situação de preocupação, ansieda-
passo que o rio inuencia inversamente (LA- de e medo diante das incertezas relacionadas
VABRE, 2018). O modo de uso também deve ao comportamento pandemia e de suas con-

Quadro 1: Parâmetros de diluição dos óleos essenciais.

Grupo etário Diluição

Para bebês prematuros Hidrolatos (águas extraídas a partir da


destilação dos óleos essenciais)

Recém-nascidos a 6 meses a 0,25%, (cinco gotas em 100ml)

6 meses a 2 anos a 0,5% (dez gotas em 100 ml)

2 a 5 anos a 1% (20 gotas em 100 ml)

A partir de 10 anos a 1% ou proporção até 5%

Fonte: Adaptado de Buckle (2019).

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sequências, como o aumento da demanda, ser por inalação, massagens, compressas,


a alta exposição dos prossionais de saúde, unguentos, escalda-pés, associada a outras
a falta de EPI, as perdas de familiares e de terapias naturais, como a terapia oral, a ar-
companheiros de trabalho. Acrescentem-se giloterapia ou ainda dentro de outras raciona-
a isso extensas jornadas de trabalho, baixa lidades como a Medicina Tradicional Chinesa
remuneração, escassez de recursos huma- (MTC), ayurveda ou a antroposoa (BRASIL,
nos e logísticos, condições preexistentes nos 2018b; PUGLIESI; GHELMAN, 2015).
serviços de saúde. Esse cenário tem levado
ao agravamento do já combalido estado de
saúde mental dos trabalhadores da saúde
(MONTIBELER, 2018). A aromaterapia apre-
senta-se com uma importante oportunidade
de autocuidado devido a sua ecácia, seu
amplo espectro de ação, da dimensão ísica à
saúde mental, e às diversas possibilidades de
utilização (MALCOLM, 2018; BUCKLE, 2019).
PROTOCOLO DE AUTOCUIDADO
Pode ser utilizada desde o nível domi- PARA USO DA AROMATERAPIA
ciliar, na atenção primária, quanto em nível
hospitalar, beneciando tanto prossionais de
saúde quanto a população em geral, quais- Via de administração inalatória
quer que sejam as sua condições de saúde
(BRASIL, 2018a). Para o uso individual - pingar uma (1)
a três (3) gotas em qualquer um dos recursos
Sua utilização pode ser de forma cole- seguintes: na palma das mãos, num lenço,
tiva e/ou individual, seu exercício tem caráter no travesseiro, em um chumaço de algodão,
multiprossional, ou seja, vem sendo adotada num colar aromático, num inalador pessoal
por prossionais da saúde e terapeutas inte- tipo aromastick, por vaporização úmida com
grativos para o equilíbrio ísico e emocional água quente, entre outros (AMARAL, 2015).
do indivíduo. Tal terapia poderá ser de gran- Realize inalações proundas com o auxílio
de valia devido às diversas possibilidades de das musculaturas diafragmática e abdominal,
uso, quanto ao local do cuidado, a forma de retenha o ar por alguns segundos e expire
administração, além do alcance simultâneo bem lentamente exalando pela boca. Nesse
das dimensões ísicas, psíquicas e espirituais processo, contraia a musculatura abdominal
(MONTIBELER, 2018; BUCKLE, 2019). Quan- para eliminar o máximo de ar. Realize três
to ao local do cuidado, pode ser utilizada repetições. Você pode aliar a inalação aos
desde o nível domiciliar, nas unidades de saú- exercícios respiratórios pré-meditativos. Na
de da amília, nas unidades especializadas inalação úmida, adicione três (3) gotas num
e na assistência hospitalar (GNATTA, 2011). pequeno recipiente (copo ou bacia) e coloque
Em relação ao modo de administração, pode sobre a cabeça uma toalha para aumentar a

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concentração do óleo inalado. Cuidado, não de água utilizada no aparelho. Pode-se pingar
abra os olhos durante a inalação (GOEBEL, uma média de seis (6) a dez (10) gotas do óleo
2016). para cada 150 ml de água. Repita o procedi-
mento duas ou três vezes ao dia, conforme a
Para o uso coletivo - difundir os óleos
aceitação das pessoas presentes no ambiente
por meio de sprays ou difusores ambientais.
(WOLFFENBUTTE, 2016).
No spray, diluir 20 a 100 gotas (dependendo
do óleo essencial ou sinergia na concentração
de 1 a 5%), em 60 ml de álcool de cerais e Via de administração dermatológica
40 ml de água. No difusor elétrico de cerâmica
ou plástico, utilizar sete (7) a dez (10) gotas do Massagem no tórax - pode ser reali-
óleo essencial sem misturas. No difusor ultras- zada de maneira suave na área cardíaca e/
sônico ambiental, a quantidade de gotas do ou através de pequenas percussões entre as
óleo essencial pode variar de acordo com a mamas. Essa via oferece um excelente cami-

Quadro 2: Óleos essenciais e utilização indicada.

Saúde Mental

Medo Ansiedade/Estresse Depressão

Bergamota - inalação Laranja - inalação Bergamota - inalação

Gengibre - escalda-pés Lavanda - inalação ou Sálvia esclareia - inala-


ou compressa nos rins compressa entre as ção
mamas

Sistema Respiratório

Antisséptico Expectorante Asma

Eucalipto glóbulos - Hortelã - inalação Olíbano - inalação


inalação ou compressa
pulmonar

Sistema Imunológico

Tomilho - inalação Louro - inalação Tea tree - inalação ou


bochecho

Fonte: Elaboração própria.

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nho de cuidado nas condições de estagnação 40 a 100 gotas de óleo essencial em 100 ml
e congestão no peito por angústias e ansie- de óleo vegetal. Realizar ricções com movi-
dade, que geram taquicardia e diculdades mentos calmos, com concentração, ou seja,
respiratórias, (MONTIBELER, 2018). Nos pul- totalmente presente e com as mãos quentes.
mões, as compressas poderão ser utilizadas Óleos sugeridos para equilíbrio emocional: la-
nas costas para melhorar a expansão e a oxi- vanda francesa, laranja doce, tangerina e ce-
genação pulmonar e pode ajudar na tosse. Se dro. Para a imunidade e respiração: tea tree,
houver agravamento dos sintomas, procurar eucalipto, niaouli, ravensara e hortelã pimen-
o serviço de saúde. Nas massagens, utilizare- ta (WOLFFENBUTTE, 2016; BUCKLE, 2019).
mos os óleos essenciais diluídos de 2 a 5%,

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Compressas torácicas cardíacas - pre- neciar com substâncias, ervas aromáticas


pare a substância com 2 a 5%, 40 a 100 gotas e temperos de uso doméstico. Quanto aos
de óleo essencial para 100 ml de óleo vege- óleos essenciais, há os relaxantes: lavanda
tal, e espalhe num pano de algodão. Aplique francesa, laranja doce, tangerina, cedro ou
esse tecido sobre a área cardíaca, manten- que ativam o metabolismo, como orégano,
do-o por 30 minutos. Você poderá aquecer tomilho, canela, cravo e anis ou gengibre. O
previamente a compressa entre uma ou duas alecrim traz disposição, energia e coragem, é
bolsas de água quente antes de colocá-la no um excelente óleo para ser utilizado pela ma-
tórax. A duração do procedimento é de 30 nhã, no entanto, hipertensos e epiléticos de-
minutos, podendo permanecer à noite, se de- vem evitá-lo (GOEBEL, 2016; HOARE, 2010).
sejar (GOEBEL, 2016). É importante vericar previamente a tempe-
ratura dos pés. Se estiverem frios, aquecer
Compressas torácicas para o pulmão -
previamente com uma bolsa de água quente
prepare uma compressa contendo 2 a 5% de
para evitar um choque térmico. Despejar a
óleo essencial, 40 a 100 gotas para 100 ml de
água quente no balde, testar a temperatura
óleo vegetal, e espalhe num pano de algodão.
da água, algo próximo a 40 graus, adicionar
Aqueça levemente a compressa, colocando-
o óleo essencial, cinco (5) a dez (10) gotas
-a entre uma ou duas bolsas de água quente
diluídos no óleo vegetal ou no leite (apenas o
antes de aplicar na área pulmonar. Envolva
suciente para diluir o óleo), mergulhar os pés
todo o tórax e a compressa com um lençol ou
até as panturrilhas, envolver com um lençol
toalha, fazendo um invólucro, reduzindo as
toda a cintura até o chão, formando um invó-
perdas voláteis para o ambiente. A duração
lucro de calor por fora do balde. Permanecer
do procedimento é de 30 minutos. Após esse
por 15 minutos. Evitar estímulos audiovisuais
período, retira-se somente a compressa com
durante o processo. Após cinco (5) minutos,
o óleo, podendo o envoltório (lençol) perma-
levantar um pouco os pés para verter cuida-
necer durante toda a noite (GOEBEL, 2016;
dosamente mais água quente para manter a
AMARAL, 2015).
temperatura inicial. Ao término do procedi-

O escalda-pés - manter os pés aque- mento, secar somente o excesso da água,

cidos é fundamental, revitaliza o organismo calçar meias e dormir. Em todo o processo

e equilibra a distribuição de calor no corpo, não poderá haver choque de temperatura, ou

melhorando o metabolismo. Fortalece a nutri- seja, não poderá colocar os pés no chão frio.

ção, atrai e circula os elementos de defesa do Por isso, coloque uma toalha ao lado do bal-

sangue. Aumenta o uxo sanguíneo no me- de para pisar quando estiver nalizando (GO-

tabolismo e músculos, reduzindo, portanto, EBEL, 2016).

a atividade cerebral, a congestão de pensa-


Descontaminação pós plantão - além
mentos que dicultam o descanso e o sono
dos cuidados de desinfecção difundidos lar-
reparador após o trabalho exaustivo.
gamente nas mídias sociais, como descartar

Nessa modalidade, podemos nos be- e/ou retirar batas, aventais, capotes, gorros,
sapatos, luvas e máscaras, e lavar adequa-

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damente as mãos, indica-se a inalação dos servado em frascos de cor escura (âmbar),
óleos essenciais que vão atuar descontami- azul ou verde, para que sejam protegidos da
nando o trato respiratório, como descrito nos ação da luz UV, pois podem sorer perdas se
itens anteriores. Acrescente como parte das expostos a esses raios.
rotinas de higiene o bochecho com duas (2)
Conservar ao abrigo da luz e calor,
gotas de óleo essencial de tea tree, cipreste
em temperatura longe do sol, preferencial-
em um copo com água. O óleo não dilui na
mente em locais mais frescos, arejados e
água, portanto, agite bastante antes de usar.
protegidos.
Não engolir (WOLFFENBUTTE, 2016).

Cuidados no uso dos óleos Recomendações de segurança


essenciais 1. Não é indicado o uso oral dos óleos
essenciais;
É importante certicar-se quanto à
aquisição de óleo essencial puro, 100% na- 2. A prática acompanhada por pro-
tural vegetal, para não levar, por engano, a ssional capacitado é sempre re-
essência sintética. Ela não oferece os mes- comendada, principalmente para o
uso dos óleos essenciais em crian-
mos beneícios do óleo e pode causar eei-
ças, idosos, grávidas e pessoas
tos deletérios à saúde.
com doenças crônicas.

Se for o óleo essencial, é importante 3. Sempre comunicar ao prossional


checar no rótulo, no catálogo da marca ou de saúde que está fazendo uso da
site do ornecedor, as seguintes inormações: aromaterapia, pois alguns óleos
essencais podem promover inte-
» Nome comum;
ração medicamentosa e ou efeitos
» Nome cientíco; adversos se não utilizados adequa-
» Origem do produto (país); damente.
» Parte da planta empregada na ex-
4. Pessoas reconhecidamente hiper-
tração;
sensíveis a óleos essenciais devem
» Prazo de validade; evitá-los. Ocorrendo reação de hi-
» Especicação de quimiotipo ou de persensibilidade, o uso deve ser
teor em princípio ativo quando se suspenso.
trata de óleos essenciais cujas ca-
racterísticas precisam ser conheci-
das ;
» Método de extração (outro ator de
intererência na variação química
dos óleos essenciais).

Além disso, o produto tem que vir con-

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Quadro 3: Óleos essenciais e utilização indicada.

Sintomatologias

Sintomas Óleo essencial Procedimento

Febre Limão inteiro ou óleo Compressas nas


essencial panturrilhas

Cefaléia Óleo essencial, hortelã Fricção nas têmporas com


pimenta, lavanda ou escalda-pés
gengibre, rizoma

Tosse seca Lavandim grosso, anis Inalação úmida e


compressas no tórax

Fadiga Alecrim, pinheiro, hortelã Fricção local ou massagem


pimenta

Obstrução nasal Hortelã, eucalipto glóbulos Inalação úmida

Dor na garganta Louro, cravo, limão Compressa no pescoço

Mialgia Alecrim Fricção local ou massagem

Diarreia Camomila Compressas abdominais ou


massagem

Anosmia e hiposmia Alecrim Inalação

Ansiedade e insônia Lavanda, laranjas Inalação, massagem no


peito ou compressa cardíaca

Fonte: Elaboração própria.

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AS PLANTAS AROMÁTICAS
NA PANDEMIA DE COVID-19:
UM OLHAR NOS PREPAROS
ANCESTRAIS

Ana Carla Koetz Prade


Cuidado integral na Covid-19

A pandemia do novo coronavírus si- em consideração esses aspectos e sintoniza-


lenciou o barulho das ruas, repaginou alguns dos com as Políticas Nacionais de Práticas
biomas, ressignicou prioridades e nos sur- Integrativas e Complementares em Saúde
preendeu com o isolamento social. Muitos (PNPIC) e de Plantas Medicinais e Fitoterá-
de nós, prossionais de saúde, tanto da rede picos, apresentaremos algumas práticas ca-
pública quanto da rede privada, estamos an- seiras úteis no enrentamento à Covid-19,
siosos, tensos e às vezes sem ter uma pala- uma vez que promovem o bem-estar e o sen-
vra de otimismo para transmitir aos nossos timento de conexão energética e espiritual.
familiares e pacientes. Nessa confusão de di-
Saberes acerca de hábitos culturais uti-
retrizes e protocolos criados às pressas sobre
lizando plantas aromáticas muitas vezes não
como proceder nos atendimentos ao público,
estão descritos e sua manutenção se dá pelo
esquecemos de cuidar da nossa própria saú-
conhecimento verbalizado. Nosso apanhado
de mental e espiritual, focando em como de-
permeia a aromaterapia, a toterapia, práti-
veríamos nos proteger do contágio.
cas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
O autocuidado é o foco e o resultado e da antroposoa, com o intuito de resgatar
da promoção da saúde e das intervenções essas ferramentas terapêuticas ancestrais
para gerir a doença que visam melhorar os de cuidar. Essas práticas e terapias podem
problemas de saúde ísica, psicossocial e ser aliadas importantes tanto para que pro-
emocional (PETRONILLO, 2012). Levando ssionais retornem o cuidado para si, quanto

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Cuidado integral na Covid-19

para pacientes que estão em suas casas ou em suas diversas apresentações são utiliza-
mesmo em unidades de saúde, em busca de das desde tempos imemoriais para os mais
alguma forma complementar para aliviar os diversos ns (BAUDOUX, 2018). Há registros
sintomas ísicos, emocionais e espirituais aos do uso de aromas de plantas na forma de de-
quais a pandemia de Covid-19 nos subme- fumação, óleos, incensos, práticas de cura e
te. Nesse sentido, inusões, decocções, es- ritualística em diversos povos e nações (SAAD
calda-pés, aromatização de ambientes entre et al, 2016). Não conseguimos imaginar uma
outros preparos caseiros com plantas aromá- cozinha sem potes de temperos cheirosos:
ticas podem contribuir no processo, além de temperar é um ato de “perfumar” a comida
ser uma excelente experiência sensorial. para aguçar o sabor e promover sensações
agradáveis relacionadas ao alimento. Essas
A Política Nacional de Plantas Medi-
sensações carão armazenadas em nosso
cinais e Fitoterápicos prevê, em sua diretriz
sistema límbico e virão à tona cada vez que
nº10, “promover e reconhecer as práticas
entrarmos em contato com o universo das
populares de uso de plantas medicinais e re-
plantas aromáticas (BAUDOUX, 2018).
médios caseiros” e assegura, dessa forma,
práticas tradicionais de cuidado. Para tanto,
as ações incluem salvaguardar o patrimônio
imaterial relacionado às plantas medicinais
(transmissão do conhecimento tradicional en-
tre gerações) e apoiar as iniciativas comuni-
tárias para a organização e o reconhecimento
dos conhecimentos tradicionais e populares
(BRASIL, 2016).

Preparações caseiras ancestrais, que


fazem parte do grande acervo etnofarmacoló-
gico do nosso país, ainda são utilizadas pela
população e ganham mais espaço, uma vez
que a busca pela saúde integral e holística
tem trazido resultados importantes aos pro-
cessos de cura, indo muito além da resposta
clínica, englobando as questões emocionais,
energéticas e espirituais.

Algumas práticas integrativas institu-


ídas no SUS utilizam plantas aromáticas e
seus derivados como ferramentas terapêu-
ticas, como a aromaterapia, a toterapia, a
MTC e a antroposoa. As plantas aromáticas

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Cuidado integral na Covid-19

Para compreendermos o mecanismo Assim, citaremos plantas aromáticas,


de ação das plantas aromáticas precisa- seus usos caseiros e tradicionais com prepara-
mos nos aproximar de uma amília química ções simples que oerecem muito mais do que
que marca sua presença e caracteriza es- um tratamento complementar: Trazem carinho,
sas espécies: os óleos essenciais ou óleos sensação de aconchego e acolhimento, tão im-
voláteis. Esses óleos são compostos por portantes neste momento em que estamos res-
uma variedade de substâncias, entre elas signicando o cuidado e o autocuidado.
os terpenos (e suas variações), mas des-
Devemos lembrar que até o momento
tacamos aqui os monoterpenos. São aro-
não há estudos validando toterápicos para
máticos e comprovadamente antimicrobia-
tratar a Covid-19. As plantas aqui sugeridas
nos. Quando falamos de antimicrobianos,
estão presentes em compêndios nacionais e
entenda-se que esses compostos comba-
internacionais ou têm seu uso embasado na
tem destruindo ou impedindo a reprodu-
utilização popular. Elas podem provocar efei-
ção de microrganismos diversos, como ví-
tos adversos ou causar alergias em pessoas
rus, bactérias e ungos (SAAD et al, 2016).
sensíveis. A identicação correta das espé-
A presença desses componentes confere
cies é parte importante do tratamento, não
a essas espécies ações terapêuticas que
devendo ser utilizadas quando houver dúvi-
vão além de seu potencial antimicrobiano,
das quanto a identidade e procedência. Inte-
apresentando-se como recursos importan-
rações medicamentosas podem ocorrer com
tes no alívio de sintomas de depressão,
plantas medicinais/aromáticas, portanto, é
ansiedade, tensão, insônia, entre outros
fundamental a informação sobre a possibili-
(BAUDOUX, 2018).
dade desses eventos.

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Cuidado integral na Covid-19

Inalações

A inalação possibilita a absorção, por Nesse preparo não deve haver a decocção
via respiratória, de vapores que contenham do material vegetal, uma vez que as plantas
princípios ativos com eeito terapêutico aromáticas apresentam substâncias volá-
(AGUIAR et al, 2017). A inalação caseira teis que são sensíveis ao calor excessivo,
é uma prática comum para o tratamento podendo assim perder o efeito terapêutico
de sintomas de doenças respiratórias em (BASTOS, 2007). Algumas plantas aromáti-
diversas comunidades e consiste em adi- cas com potencial antimicrobiano são uti-
cionar a planta aromática picada em um lizadas na inalação caseira de forma com-
recipiente com água fervente e inalar os va- plementar aos tratamentos farmacológicos
pores produzidos, geralmente com auxílio prescritos.
de um papel ou pano (SAAD et al, 2016).

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Cuidado integral na Covid-19

Eucalyptus globulus Labill: o eucalip- devido ao seu alto teor de mentol e forte aro-
to é uma planta aromática originária da Aus- ma. Costuma-se esmagar as folhas entre os
trália, cujo cultivo documentado em nosso dedos e aproximá-las das narinas para inalar
país iniciou no século XIX. Está presente na o aroma. Com isso, imediatamente o men-
Farmacopeia Brasileira 1ª ed. (1929), além de tol invade o canal olfativo, promovendo uma
ser recomendada pela OMS e EMA, a Agên- sensação de desobstrução nasal (LORENZI;
cia Europeia de Medicamentos (SAAD et al, MATOS, 2008). A inalação com as espécies
2016). Possui atividade expectorante, uidi- de menta deve ser realizada com os olhos
cante e antisséptica (PEREIRA et al, 2017). É fechados, pois há possibilidade de irritação
amplamente utilizado para tratamento de in- ocular, e o costume popular indica que a ca-
ecções das vias respiratórias, com aplicação beça deve ser coberta com uma toalha.
segura em adultos e crianças acima de 12
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.: Pode se di-
anos. Para fazer a inalação deve-se picar três
zer que a erva cidreira, ou melissa de galho, é
a seis gramas das olhas adultas íntegras, co-
uma planta com multiuso. Extremamente aro-
locar em uma caneca e acrescentar 200 ml de
mática, apresenta propriedades ansiolítica,
água fervente. Inalar o vapor proveniente por
sedativa leve, antiespasmódica e antidispép-
dez a 15 minutos, duas a três vezes ao dia
tica (BRASIL, 2011), além de ser antiviral, mu-
(PEREIRA et al, 2017; SAAD et al, 2016).
colítica e expectorante (PEREIRA et al, 2017).
Mentha sp: As hortelãs são espécies Essas atividades dependem do quimiotipo
ricas em óleos essenciais e o potencial das da espécie, uma vez que a Lippia pode apre-
“mentas” vai muito além da sua indicação sentar composições dierentes de princípios
como carminativa (BRASIL, 2011). Estão pre- ativos (LORENZI; MATOS, 2008). Sua inala-
sentes na 1ª e 5ª edição da Farmacopeia e no ção promove bem-estar devido a seu aroma
Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia e pode ser utilizada para desobstruir as nari-
Brasileira, como também são reconhecidas nas. (GOUVEIA; SIMIONATO, 2019).
pela OMS e EMA. A inalação dos vapores
da mentha sp. liberam óleos essenciais que
podemos auxiliar de forma complementar no Vaporização Ambiental
tratamento de alguns sintomas relacionados
Aromatizar o ambiente é uma técni-
à Covid-19 como dores de cabeça e sinto-
ca antiga e difundida em diversos credos e
mas respiratórios, como broncodilatador e
crenças. Há mais de 40 mil anos os aboríge-
expectorante (PEREIRA et al, 2017). Apre-
nes australianos utilizavam a fumigação das
sentam também efeitos antimicrobianos e
folhas de eucalipto e melaleuca para tratar
analgésicos devido aos constituintes de seu
aecções respiratórias (BAUDOUX, 2018).
óleo essencial (SAAD et al, 2016). A espécie
Essa técnica consiste em aromatizar o am-
de hortelã comumente utilizada em técnicas
biente com vapores liberados da infusão de
de inalação é a Mentha arvensis L., também
plantas aromáticas, promovendo bem-estar
conhecida como menta japonesa ou vique,
durante a inalação. Os vapores liberam os

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aromas e seus princípios ativos, preenchen- de Cymbopogon citratus (capim-limão), com


do o ambiente com moléculas de potencial eeito relaxante e antimicrobiano; cascas de
terapêutico, que podem ser antimicrobianos, Cinnamomum zeylanicum (canela), com efeito
antidepressivos, relaxantes ou estimulantes. estimulante e antimicrobianos; rutos secos de
A aromaterapia utiliza a técnica de difusão de Illicium verum (anis estrelado), com proprieda-
óleos essenciais no ambiente (SECRETARIA des antimicrobianas potentes nas vias respira-
DE SAÚDE DE SANTA CATARINA, 2020). Po- tórias; rutos secos de Syzygium aromaticum
rém, para pessoas sem acesso aos óleos es- (cravo-da-índia), potente antimicrobiano e
senciais, é possível realizar a diusão com as estimulante e ores e olhas secas de Lavan-
plantas aromáticas in natura, lembrando que dula ofcinalis (lavanda), com potencial seda-
o efeito farmacológico será restrito, devido à tivo e relaxante (BAUDOUX, 2018; GOUVEIA;
pequena concentração dos óleos essenciais SIMIONATO, 2019; LORENZI; MATOS, 2008;
na planta. PEREIRA et al, 2017; SAAD et al, 2016).

Algumas plantas aromáticas com po-


tencial antimicrobiano e com excelentes aro- Escalda-pés
mas podem ser utilizadas na vaporização
ambiental e seus efeitos emocionais desper- Prática de autocuidado difundida em
tados durante o processo (BAUDOUX, 2018). todo o mundo e originária da China, o escal-
As espécies aromáticas comumente utilizadas da-pés consiste em imergir os pés em água
nessa técnica são muito variadas. Citamos aquecida com ou sem ervas e sais. Possui
algumas de interesse ao momento atual: fo- efeitos que vão muito além da sua ação lo-
lhas de Eucalyptus g. ou citrodora (eucalipto), cal. Segundo a teoria da MTC, o aquecimento
com eeitos estimulante e antimicrobiano; o- dos pés em água quente promove o equilíbrio
lhas de mentha sp. (hortelãs diversas), com entre as energias yin e yang, devido à descida
eeito estimulantes e antimicrobiano; olhas da energia yang quando imergimos os pés em

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água quente, levando ao alívio dos sintomas Abaixo estão descritas algumas indica-
de ansiedade e agitação consequentes do ções de plantas aromáticas úteis para promo-
excesso da energia yang na porção superior ção do bem-estar de pacientes com Covid-19
do corpo. e para a população em geral que podem ser
utilizadas na técnica de escalda-pés:
Conceitualmente, o escalda-pés tam-
bém pertence às práticas externas da medi- Rosmarinus ofcinalis L.: o alecrim
cina antroposóca (MIGLIO, 2011), com imer- é um dos principais representantes quando
são dos pés em água morna aromatizada com falamos em plantas aromáticas. Utilizado na
plantas e, em alguns casos, sal grosso. Pro- culinária, em ritos religiosos, na indústria cos-
move efeito relaxante e estimula a percepção mética/cosmecêutica e em diversas práticas
e a conexão do paciente com seu processo terapêuticas, seu uso remonta ao Egito Anti-
de cura (MIGLIO, 2010). Para a antroposo- go e a arte de embalsamar múmias (SAAD et
a, o escalda-pés tem uma ação derivativa, al, 2016). Seu aroma característico desperta
ou seja, há um deslocamento dos processos sensações revigorantes e estimulam nossa
de congestão (sejam corporais ou psíquicos) mente e corpo (BAUDOUX, 2018). O alecrim
que estão na região do sistema neurossen- pode ser utilizado de forma complementar
sorial para o sistema metabólico motor, por em escalda-pés, com nalidade de melhorar
intermédio da concentração do calor nos pés a circulação no local, como anti-inamatório
(PUGLIESI; GHELMAN, 2015). A dose para o e analgésico (FARIA, 2005). O aroma libera-
escalda-pés varia conforme a tradicionalida- do durante o escalda-pés pode ter efeito es-
de do uso, mas geralmente utilizam-se dois timulante, assim como seu óleo essencial.
punhados generosos de ervas para cada litro Recomenda-se que esse escalda-pés seja
de água aquecida entre 35º a 40ºC. Adiciona- realizado na parte da manhã, para fornecer
-se também uma colher de sopa cheia de sal um aporte circulatório para os membros in-
grosso. Por ser uma técnica que necessita da feriores e, paralelamente, promover sensação
sensibilidade do paciente quanto ao calor da revigorante e bem-estar (PUGLIESI; GHEL-
água, é contraindicada para diabéticos. MAN, 2015).

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Salvia ofcinalis L.: o nome sálvia verá um efeito relaxante e utilizá-la à noite
deriva do latim salvare, que signica curar, pode favorecer a qualidade do sono (ULRI-
salvar, em referência às suas propriedades CH, 2004).
curativas. Aplicada topicamente, essa planta
aromática apresenta propriedades antissépti-
cas e anti-inamatórias (BAUDOUX, 2018). A Referências
sálvia apresenta uso etnomedicinal no trata-
BASTOS, G. M. Uso de Preparações Ca-
mento da ansiedade, tensão pré-menstrual e
seiras de Plantas Medicinais Utilizadas no
sintomas do climatério (PEREIRA, et al., 2017;
Tratamento de Doenças Infecciosas. 2007.
WALCH et al, 2011). Segundo a medicina
Dissertação (Mestrado em Ciências Farma-
antroposóca, a sálvia “domina e aquece o
cêuticas) - Universidade Federal do Ceará,
organismo onde há liqueação, congurando
Fortaleza, 2007.
e estruturando tecidos”, além de apresentar
propriedades anti-inamatórias, quando va-
BAUDOUX, D. O Grande Manual de Aroma-
porizada ou aplicada topicamente (PUGLIE-
terapia de Dominique Baudoux. 1. ed. Belo
SI, V. GHELMAN, 2015). A inusão de sálvia
Horizonte: Editora Lazslo, 2018.
é considerada tônica do sistema circulatório
(PEREIRA et al, 2017), sendo, portanto, uma
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sa-
planta aromática extremamente útil em tera-
nitária. Formulário Nacional Fitoterápico,
pias de escalda-pés.
2011. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.
Origanum majorana L.: a manjerona é br/ormulario-toterapico.
uma planta aromática extensamente utilizada
na culinária. Porém, quando falamos de man- BRASIL. Ministério da Saúde. Política e Pro-
jerona em aromacologia (estudos dos óleos grama Nacional de Plantas Medicinais e
essenciais e seus efeitos psicológicos e ener- Fitoterápicos. Brasília, DF, 2016.
géticos), referimos aos efeitos antimicrobiano
e sedativo, especialmente para pessoas emo- FARIA, L. R. D. Validação farmacológica do
cionalmente cansadas que tendem a car óleo essencial de Rosmarinus ofcinalis L.
agitadas (BAUDOUX, 2018). As espécies do (Alecrim) - atividades anti-inamatória e
gênero origanum (amília Lamiaceae) têm analgésica. 2005. Dissertação (Mestrado em
sido usadas desde a antiguidade na me- Ciência Animal) - Universidade Federal de Al-
dicina e como especiarias, principalmente enas, Alenas, 2005.
devido aos seus óleos essenciais (LORENZI;
MATOS, 2008). Seu óleo possui quantidades GOUVEIA, G. D. A.; SIMIONATO, C. (Orgs).

signicativas de monoterpenois (em especial Memento toterápico para prática clínica.

terpinen-4-ol) que apresenta atividade anti- Núcleo Telessaúde Estadual de Santa Catari-

bacteriana de amplo espectro e hipotensora. na: UFSC, 2019. Disponível em: https://ares.

Assim, a manjerona em escalda-pés promo- unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/13389

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