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CAMPINAS
2015
(...) por isso levo
um invisível rio em minhas veias
um invencível canto de crepúsculo
que me estimula o riso e mo congela.
Ela ajuntou à vida que nascia
o estéril ramalhar de vida enferma.
A palidez das mãos de moribunda
amarelou em mim a lua cheia.
T his work is analyzing the issue confluences between educational and urban ideas in the early
years of the twentieth century. It addresses the educational proposals of engineers who founded
the Brazilian Education Association (ABE) in 1924 in the city of Rio de Janeiro. Bibliographical
studies were analyzed for Educational Renewal Movement in Brazil, the work of engineers in the
First Republic and the urban transformations in Rio de Janeiro city. It has been in the First
Republic the city as a reference for the educational project developed by these engineers. T he
research allows us to understand how the relationship between education were established,
political and urban transformations in the context analyzed.
mobilizações que caracterizaram a reação das elites urbanas, especialmente as situadas na Capital
racionalização aplicados à distribuição regrada das populações em espaços mais adequados, bem
como controle do lazer e do trabalho. Nesse contexto, a importância dada à educação, tal qual
expressa pelos diferentes grupos que congregavam a Associação Brasileira de Educação, tanto sob
uma perspectiva política no sentido estrito, como proposta de constituição de uma opinião
pública, quanto como instância modeladora dos costumes citadinos, traduzia-se como mecanismo
do homem brasileiro, meta que se traduzia pelo esforço de reforma dos mecanismos de formação
das elites e, principalmente, pelo intento de disciplinar o povo, adaptando-o ao ideal de sociedade
sociedade (âmbito público e privado), a formação moral e cívica da população voltada para o
noção de saúde pública. Desta forma, engenheiros, médicos e educadores atuaram, inicialmente
em consonância a um projeto comum e foram aos poucos organizando seus locais de atuação e
Capital Federal da República, um surto de mudanças sociais e políticas parecia se impor ao país.
2
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Molde nacional e forma cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da
Associação Brasileira de Educação (1924 -1931) . Bragança Paulista. SP: EDUSF, 1998.
22
trabalho conduzido junto à Seção de Ensino Técnico e Superior, instância promotora de cursos,
afastada de qualquer conotação política, como afirma Carvalho, Labouriau retomava junto ao
Partido Democrático do Distrito Federal, fundado em 1925, do qual era membro da comissão
executiva, elementos do programa do Acção Nacional11, partido político criado pelos fundadores
da ABE, cujo projeto é substituído pela proposta de instituir-se uma associação cívica de
centralidade que a instituição escolar passa a tomar nos projetos educacionais elaborados na
social aos poucos passa a ser constituída a partir de temas urbanos. Ganham espaço nos programas
escolares questões relativas à cidade, notadamente, nos anos finais da década quando a atuação do
poder público sobre o urbano (Plano Agache) e o educacional (Reforma da Instrução Pública)
coincidem.
Não há dúvidas quanto à relevância da realização de uma pesquisa que se debruce sobre
estes projetos. Entretanto, para correspondermos aos objetivos que impulsionaram este estudo,
fez-se necessária uma investigação centrada nas ideias educacionais e urbanas que orientaram os
Lyra da Silva, Francisco Venâncio Filho e Edgar Sussekind de Mendonça, este à época, estudante
de arquitetura na Escola Nacional de Bellas Artes. Estes projetos iniciais exprimem uma noção de
educação que se relaciona mais diretamente com as questões centrais desta pesquisa.
A historiografia sobre o tema aponta para a noção de educação compreendia nos anos
1920 como elemento de um amplo programa de ação social. Este programa buscava dar solução a
questão social, de forma a agregar diferentes ideários no conjunto das ações por ele empreendidas,
entre eles os ideários médico, educacional e urbanístico. Estas ações, diferentemente do que ocorre
nos anos finais da década quando a instituição escolar é tornada lócus privilegiado para a
11
Op. cit., p. 59.
24
aos problemas do pais, a cidade moderna, de certa forma, foi eleita por esses engenheiros como
analisados alguns dos principais trabalhos que se debruçaram sobre a temática do Movimento de
movimento, especialmente aquela elaborada pelos Pioneiros da Educação Nova, para em seguida
analisar trabalhos recentes que apresentam novas interpretações, objetos e abordagens sobre o
tema. T em-se estas leituras como relevantes para o desenvolvimento das questões levantadas por
esta pesquisa, especialmente, porque a partir delas, é possível situar algumas das alterações
ocorridas na atuação relativa à questão educacional entre os anos 1910 e 1920. Considera-se a
importância de demonstrar de que forma o lócus privilegiado para a atuação educacional com
vistas à formação (moral e cívica) do cidadão, desloca-se do espaço da cidade para o da instituição
escolar ao longo do processo de constituição da questão educacional. Assim, a ênfase será dada ao
lugar da educação nos projetos de intervenção no social e sua importância em alguns dos projetos
políticos elaborados para o Brasil na Primeira República. No segundo capítulo centraremos nossa
atenção na história da criação e fundação da ABE, com vistas à participação dos engenheiros que a
fundaram e os principais indícios que revelam a inserção destes profissionais nas discussões
educacionais. Além disso, trataremos das relações institucionais estabelecidas entre esta entidade e
a Escola Politécnica do Rio de Janeiro em seus anos iniciais por intermédio destes profissionais.
importância que estes profissionais adquiriram na atuação sobre o social. O quarto capítulo
abarcará as ideias educacionais dos engenheiros que fundaram a ABE e uma análise das
confluências identificadas entre estas ideias e o ideário urbanístico difundido na cidade carioca.
convidado em 1925 por Tobias Moscoso, à época diretor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
a assumir uma cadeira nesta instituição, mas não aceitou ao pedido, conforme o autor do convite,
por questões de ordem moral128. É possível relacionarmos o fato à prisão de seus colegas e ao
como vimos.
O engenheiro dirigiu ao longo de sua carreira a Revista de Educação fundada por José
dirigida por José Pantoja Leite em seu lançamento em outubro de 1920 129, até 1924. No ano
seguinte seu nome não mais aparece na lista dos engenheiros que compõem o conselho diretor da
Revista, então sob a direção do engenheiro e ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro André
Gustavo Paulo de Fontim130. T ambém colaborou como membro da comissão editorial da revista
Architectura no Brasil de 1921 até sua morte. Heitor Lyra da Silva morreu de complicações
ocasionadas por doença crônica em 18 de dezembro de 1925. Pouco antes de sua morte,
converteu-se católico, evento que, de certa forma, rompe com a unidade de convicções que
Adolpho Backheuser. Como vimos, ambos cursaram engenharia civil na Escola Politécnica e
realizaram juntos muitos dos exames de aprovação para o curso. Backheuser nasceu em 23 de
maio de 1879 na cidade de Niterói. Cursou o ensino primário no colégio particular de sua tia e
em 1889 ingressou o Ginásio Nacional, antiga denominação do Colégio Pedro II, onde formou-
se bacharel em letras em 1896, tendo sido escolhido orador da turma. Ingressou a Escola
Politécnica em 1897 de onde saiu formado engenheiro geógrafo em 1899 e engenheiro civil em
1901. No mesmo ano adquiriu o título de bacharel em ciências físicas e matemáticas e, em 1913
secção de geometria descritiva, arquitetura e higiene. Em 1911 foi nomeado professor efetivo e
128
MOSCOSO, Op. cit., p. 25.
129
REVIST A BRASILEIRA D E ENGENHARIA, T OMO I, Ano I, nº 1, CAPA.
130
REVIST A BRASILEIRA D E ENGENHARIA, T omo IX, nº 1, CAPA.
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mineralogia, geologia e botânica, conquistando após dois anos, lugar definitivo nas duas cátedras.
Atuou como professor suplementar no Colégio Pedro II. Em 1928 foi professor de
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e entre 1944 e 1945, professor de geografia política do
Brasileira de Ciências. Em 1922, fundou a Escola T écnica Fluminense. Foi delegado no VIII
Congresso Brasileiro de Geografia realizado em 1926 na cidade de Vitória. Em 1928, com sua
saída da politécnica e a aproximação com Fernando de Azevedo, sua atuação junto às questões
educacionais é intensificada. Neste ano fundou a Cruzada Pedagógica pela Escola Nova, no
Professores Católicos do Districto Federal, sendo seu primeiro presidente. Em 1933, presidiu a
Primeiro Congresso Católico Brasileiro de Educação. Entre 1936 e 1937 dirigiu o Instituto de
Pesquisas Educacionais.
Brasileira. Entre 1939 e 1941, atuou como consultor técnico do Conselho Nacional de Estatística
Popular do I.B.E.C.
Fundou, foi redator e colaborou com jornais e revistas da capital e de outros Estados,
escrevendo com assiduidade até o final da vida. Além disso, foi presidente da Sociedade de
131
MUSSO, Antonio José de Mattos. Everardo Adolpho Backheuser. In: Revista Brasileira de Geografia. Vultos da
Geografia do Brasil. Jan-Mar de 1955, p. 91.
110
diferentes áreas apontadas, os fundamentos teóricos que as orientaram foram oriundos do campo
médico. Já nos anos 1920, são os engenheiros os profissionais com destacado envolvimento com
as questões sociais. Importa, portanto, entendermos como e porque este profissional passou a
ditar ações no campo do social, com atuação notável na última década da Primeira República.
127
como característica dos estudos preliminares, tal qual a politécnica carioca, uma sólida formação
profissional para a prática imediata51. Assim, os projetos curriculares da Escola Politécnica de São
técnicos (médios e superiores) vistos como necessários para a atuação na indústria, - esta
posicionamento frente a este debate representaria, ao mesmo tempo, consolidar uma resposta ao
desta classe de especialistas. Esta discussão insere-se no contexto de definição sobre o papel do
estiveram fortemente engajados, ao menos no que consistiu aos interesses de criação de uma
permeada pela atuação intelectual de profissionais da engenharia ao longo das três primeiras
pública de forma a considerar em suas produções intelectuais não somente questões diretamente
educacional no país.
51
Idem, ibidem, p. 108.
52
Idem, ibidem, p. 94.
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(...) Que se facilitem os estudos clássicos e literários aos que para eles tiverem
gosto e propensão especial capazes de produzir uma cultura intensa nesse
campo, assim como se deve facilitar os estudos de sciencia pura aos que se
sentirem attrahidos para eles. Uns e outros têm uma alta missão civilizadora a
cumprir. Mas não se deve esquecer que eles serão sempre, e convem que assim
sejam, uma pequena minoria.
A grande maioria precisa porém ser constituida por homens de ação, cuja
educação não despreze a cultura esthetica e litteraria. Elles serão tambem, se a
sua educação tiver sido verdadeiramente integral, idealistas a seu modo, porque
ha em qualquer campo de atividade util, quando harmonicamente concebida e
executada, uma fórma de beleza que vale ás vezes pela de poemas, e que póde
escapar talvez aos sonhadores contemplativos, mas que se impõe a todas as
mentalidades equilibradas.
Se sob o pretexto de que o ensino secundario deve ser desinteressado,
continuarmos a lhe dar feição literaria e classica, e principalmente a empregar os
mesmo methodos, para que ao termino dele o joven escolha sua orientação na
vida, estaremos commentedo uma burla. Q uando o momento dessa pretendida
escolha se apresentar, a mentalidade do estudante terá adquirido uma
conformação determinada e as unicas carreiras que se lhe depararão como
possíveis serão as das profissões liberaes, literárias ou burocráticas.
Nerval de Gouveia, que era unicamente scientista e professor, exprimiu uma vez
de fórma modelar o caracter predominante que é necessario imprimir á
educação nacional: nós não temos, dizia ele, como certos povos do Velho
Mundo, que adestrar nossa mocidade para conquistar colonias, mas temos que
preparal-a para consquistar o Brasil.
Heitor Lyra da Silva. Como se vê, a importância de um ensino prático a ser instituído nos cursos
secundários e superiores do país representava, em sua opinião, cultivar condições para solucionar
frisar que, para este engenheiro, a introdução deste método deveria ser encarada somente como
parte integrante de um amplo plano educacional geral. Por hora, basta compreendermos a
importância que estas novas ideias adquiriram no projeto político de Lyra quando admitidas
71
Op. cit., p. 128 à 131.
138
membros como a mais preparada para executar as mudanças vistas como necessárias ao país.
Assim podemos perceber como questões técnicas se traduziam na fala deste engenheiro em
questões políticas.
Vimos a importância que estes engenheiros atribuíam a formação das elites nacionais.
Porém, como já afirmamos, o projeto educacional que propunham não se restringiu apenas a esta
classe social. É preciso, pois, dimensionarmos o projeto educacional nas suas diferentes
perspectivas. Para tanto, deve-se direcionar o olhar para as propostas elaboradas por estes
As obras realizadas na Capital Federal foram uma constante na Primeira República e, seus
maioria, justificados para a conclusão destas obras. Assim, ações que visavam a resolução de
haja vista as potencialidades da educação para a consolidação de uma cultura nacional, requisito
para a construção do Brasil como uma sociedade moderna. As preocupações com as péssimas
condições de vida da população pobre, como vimos, reclamavam ações sanitárias que dotassem
percebidas à época como fatores potenciais de desestabilização do social. Além disso, as exigências
reforma do social. Como já citado, desde o início do século, ações no campo da medicina e
engenharia social já compunham o leque de mobilizações que dava forma a intervenções desse
tipo na cidade, ao lado de atos de assistência e caridade organizados por entidades filantrópicas
bem-sucedidas, ou seja, nas novas ideias educacionais e urbanas, fontes capazes de responder
157
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ocorridos na cidade do Rio de Janeiro nos anos iniciais do século XX. Vimos como a criação e
inserção destes profissionais nos debates sobre a reorganização do social no país e uma via
poderosa para a divulgação de suas ideias e realização dos projetos políticos que elaboravam e
defendiam no contexto das tensões políticas que caracterizaram a atividade intelectual na última
educacional específico, distinto daqueles veiculados pela entidade na segunda metade da década
de 1920, o qual em muitos aspectos buscou sua legitimidade a partir da alusão a outros discursos,
urbano moderno como orientadores de estratégias modernizadoras para o país. Portanto, emergiu
como produção intelectual que, de forma alguma, prescinde de uma visão da história da cidade e
de inserir o país no contexto das nações civilizadas europeias. T al anseio correspondeu a uma série
governo Federal. T endo como objetivo torná-la um local atrativo, embelezado e saneado, para
178
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Jornais e periódicos:
Boletim da Associação Brasileira de Educação (ABE) , Anno III, n.10, março-abril, 1927.
SILVA FILHO, Roberto Leal Lobo e, ex-reitor da USP e autor do artigo Para que devem ser
formados novos engenheiros?, O Estado de São Paulo, Caderno Educação, 19 de fevereiro de 2012.
O Estado de São Paulo, Caderno Educação, 19 de fevereiro de 2012, Artigo: Para que devem ser
formados os novos engenheiros? http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,artigo-para-que-
devem-ser-formados-os-novos-engenheiros,838027.
Sites consultados:
http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/106/3/01d06t04.pdf
www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/106/3/01d06t04.pdf
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http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/05/usp-muda-curriculo-dos-cursos-de-engenharia-
da-escola-politecnica.html.
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/QuestaoSocial/ReformasEducacionais
http://www.abe1924.org.br/
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