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POTENCIALIDADES FORMATIVAS DE CIDADE EDUCADORA EM CAIEIRAS:

CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO FORMAL, INFORMAL E NÃO-FORMAL

RESUMO

A Cidade Educadora busca promover a formação integral dos cidadãos e tem


origem na Carta das Cidades Educadoras de Barcelona de 1990. Este modelo se
relaciona com os ideais de Platão e Aristóteles, que enxergavam nas cidades uma
potência educativa para formar cidadãos íntegros. O município de Caieiras-SP
detém potencial educativo com projetos sociais como Redescobrindo Caieiras, a
Catequese Bom Pastor e a Associação Patris – Casa do Pai, que vão ao encontro
do que determina a Carta das Cidades Educadoras. Logo, o objetivo do artigo é
verificar se o projeto Cidade Educadora está alinhado com as potencialidades
educativas de Caieiras e se os ideais platônicos e aristotélicos podem contribuir com
esse debate. A pesquisa foi bibliográfica e documental, de abordagem qualitativa.
Por fim, pode-se concluir que Caieiras contribui para a formação de cidadãos
íntegros, mas o caminho para alcançar os ideais dos velhos gregos ainda é longo.

Palavras-chave: Caieiras; Cidade Educadora; Ensino Não-Formal; Ensino Formal;


Ensino Informal.

TRAINING POTENTIALITIES OF AN EDUCATIONAL CITY IN CAIEIRAS:


CONTRIBUTIONS OF FORMAL, INFORMAL AND NON-FORMAL EDUCATION

ABSTRACT

The Educating City is defined as one that intends to promote the integral formation of
its citizens, being a city project originated in the light of the Charter of Educating
Cities of Barcelona of the year 1990, which is managed by the International
Association of Educating Cities (AICE). This model of society finds dialogue with
Plato and Aristotle, since they are the first to see in cities the educational powers to
form upstanding citizens. This theme constitutes a promising debate at a time guided
by an education fragmented by the systematic process of formal school education,
which often does not prove adequate for the integral formation of citizens. From this
perspective, the human virtues sought in the Educating City are present in the daily
life of the social space, as is the case of the municipality of Caieiras-SP, a city with
immense pedagogical heritage, which empirically holds both formal and formal
educational potential. as non-formal and informal. Its educational potential is shown
through the “Rediscovering Caieiras” project, as well as through social institutions
such as Catequese Bom Pastor and Associação Patris – Casa do Pai. In view of this,
is this municipality in the spotlight the holder of educational potential, in search of
forming upstanding citizens? Therefore, this article has the general objective of
verifying whether the Cidade Educadora project meets the educational potential of
the municipality of Caieiras, and whether the Platonic and Aristotelian ideals can
provide relevant contributions to this debate. The methodology adopted here follows
a bibliographical and documentary research, with a qualitative approach. Therefore, it
can be concluded that Caieiras has educational potential with social projects that go
against what determines the manual of the Charter of Educating Cities, and has been
contributing to the formation of upstanding citizens, but it is still noted that the path is
still far away. to achieve the ideals of the ancient Greeks, and for this model of city to
actually materialize.

Keywords: Caieiras; Educating City; Non-Formal Teaching; Formal Teaching;


Informal Teaching.

1 INTRODUÇÃO

A crise das cidades é, de alguma maneira, uma crise da educação, haja vista
que é uma problemática nos modelos de cidades como espaço social. Portanto, num
futuro próximo, as cidades terão que optar por um modelo urbano de transformação
social para seus cidadãos. É nessa vertente que se formulou um modelo de cidade
que prima pelo vínculo que existe entre o espaço urbano e a educação, a Cidade
Educadora, a qual originou-se no ano de 1990, em Barcelona. Por meio desse
modelo de cidade, é possível que as diversas cidades do mundo passem a
transformar os espaços públicos em “escolas”, em vista de formar cidadãos íntegros
para atuarem de forma ativa na vida pública.
Esse debate relaciona-se com a ideia de cidade e educação idealizada há
séculos na Grécia Clássica (séculos V e IV antes de Cristo), onde Platão e
Aristóteles buscavam transformar a cidade através de um modelo pedagógico-social
em prol do pleno desenvolvimento dos seus cidadãos, posto que tinham como
proposta a formação de um ser humano íntegro, determinando que a educação do
Estado reproduzisse em todos a marca da sua identidade (JAEGER, 2013).
Nesse contexto entra a cidade de Caieiras-SP, que faz parte dos 39 (trinta e
nove) municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo. Apesar de
não ser oficialmente reconhecida como Cidade Educadora, este município possui o
projeto Redescobrindo Caieiras, assim como têm instituições sociais como a
Catequese Bom Pastor e a Associação Patris – Casa do Pai, que fazem com que
esse lugar caminhe ao encontro desse modelo pedagógico e urbano, posto que
possui potencialidades educativas.
Essas ações sociais com projetos e entidades visam à formação integral dos
seus cidadãos, tendo em vista que instruem valores e virtudes, como bem lembram
os ideais platônicos e aristotélicos. Ou melhor, isso se imprime em uma educação
em busca da formação do cidadão capacitado e íntegro para a prática ativa da
cidadania. A máxima dessa educação incide em atribuir ao homem a razão de ser e
de viver, a liberdade moral, as virtudes, impedindo tudo o que é maléfico à alma
(ARISTÓTELES, 1999).
À vista disso, será Caieiras detentora de potencialidades educativas, em
busca de formar cidadãos íntegros? Este texto, logo, parte da hipótese de que o
município de Caieiras, em face de sua vocação pedagógica cidadã, pode projetar-se
como Cidade Educadora e cooperar para formar cidadãos íntegros em prol do bom
convívio no espaço social. O artigo tem como objetivo primordial verificar se o
projeto Cidade Educadora vai ao encontro das potencialidades educativas no
município de Caieiras e se os ideais platônicos e aristotélicos dos velhos gregos
podem fornecer contribuições a esse debate.

2 METODOLOGIA

Este texto baseia-se em uma pesquisa bibliográfica e documental de


abordagem qualitativa, utilizando a hermenêutica de Aristóteles e Platão. Foram
consideradas análises provenientes do projeto Redescobrindo Caieiras e da
Associação Patris - Casa do Pai, situada no terreno do Santuário Virgem dos
Pobres, no bairro de Vila Rosina, em Caieiras. É nesse espaço também, que um
novo modelo pedagógico de formação catequética, baseado no método Montessori,
está sendo implementado, a Catequese Bom Pastor.
Em busca de fundamentar a pesquisa, encontrou-se respostas principalmente
em Maria Montessori (2010), Maria da Glória Gohn (2016, 2006) Morige (2016) e
Werner Jaeger (2013), que são obras contemporâneas, tal como se mostrou
relevante a busca por fundamentação na Grécia Clássica, com Platão (1997) e
Aristóteles (2017, 1999), que foram essenciais para as ideias aqui desenvolvidas.

3 CIDADE EDUCADORA: UMA PROPOSTA PARA CAIEIRAS

Refletimos aqui sobre a Cidade Educadora como sugestão de modelo


pedagógico para o município de Caieiras, um lugar que possui potencialidades
educativas e que pode propor uma pedagogia para formar sujeitos-cidadãos
íntegros. Trata-se de uma discussão que tem em seu bojo uma ríspida crítica aos
modelos urbanos de cidades que se apresentam atualmente, por serem incapazes
de dar respostas

[...] a determinadas realidades de assinalada conflitualidade [...], [...] não


questionam, contudo, a necessidade e o direito das pessoas acederem a
um mínimo de serviços que garantam o seu desenvolvimento humano e
social; pelo contrário, requerem a implementação de alternativas criativas e
inovadoras de ação social (VILLAR, 2007, p. 13).

Fazem-se cogentes meios para garantir o direito constitucional de todos ao


espaço social, à educação, à cidade e à participação, que são fundamentos da
Constituição Federal de 1988, resgatando assim, valores que foram perdidos. Morigi
(2016, p. 8), entende que os municípios tidos como educadores “[...] trabalham para
transformar a utopia de uma cidade educar e ser educada pelos cidadãos em
realidade, através de novas formas de participação nas decisões coletivas”.
Com base nessa ideia, é importante ser repensada a existência humana nas
sociedades, que perpassa esse padrão de civilização urbana, impondo e infligindo
uma ideologia socialmente insustentável, que não propõe o desenvolvimento integral
de seus cidadãos. A cidade precisa ser analisada como modelo educativo em seu
todo, com a competência de incitar e promover condições para o desenvolvimento
da cidadania enquanto expressão da vida efetiva das instituições, dos grupos sociais
e cidadãos compromissados com uma cultura da solidariedade e da emancipação
social.
Nesse contexto que vieram à tona discussões para a implementação da Carta
das Cidades Educadoras, que teve sua primeira versão em Barcelona, no ano de
1990. Essa ação vislumbra a educação como ferramenta norteadora das políticas da
cidade, que deve ser fortalecida com a intencionalidade de se educar em diferentes
espaços sociais.
Caieiras, logo, poderia ser uma Cidade Educadora com materialização desse
modelo pedagógico-educativo para a vida social, considerando que nos tempos
atuais,

A crise da cidade é, de alguma forma, uma crise educativa, porque é uma


crise do modelo de cidade como espaço público. As cidades do futuro
deverão decidir o modelo de vida urbana que desejam para seus cidadãos,
o que passa necessariamente pela educação (GOMÉZ-GRANEL; VILA,
2003, p. 19).
Tais circunstâncias acarretam a urgência de Caieiras se reestruturar,
sobretudo em âmbito educacional, e ainda dão margem à ideia de que somente a
escola já não mais consegue dar conta da realidade social. Isso acabou fomentando
mudanças e fortaleceu uma nova forma de ver a função da escola, com seu ensino
formal. Em contrapartida, deu-se reconhecimento a outras ações educacionais que
vão além dos muros escolares, com os ensinos não-formais e informais, passando a
proporcionar outros modos de se educar, havendo assim a compreensão de que a
cidade também educa.
Estamos de acordo com Morigi, quando afirma (2016, p. 148-149):

[...] os limites tradicionais da escola são questionados e se aponta uma


possível superação do ensino restrito aos espaços escolares, dividindo com
mais atores a responsabilidade pelo ato de educar. […] Trabalha a
educação como emancipadora e libertadora, como ato político que exige
novos personagens, que são os diversos indivíduos espalhados pela cidade,
organizados em espaços como associações de bairro, clubes esportivos,
igrejas e templos das mais variadas religiosidades, organizações não
governamentais, enfim, todas as entidades dispostas a colaborar com o
novo enfoque.

O ser humano, no decorrer de seu percurso de vida, contrai conhecimentos


em espaços de educação não-formais, informais e formais. As “[...] ações educativas
escolares seriam formais e aquelas realizadas fora da escola não formais” e
informais (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p. 133). A educação não-
formal e informal são essenciais para o desenvolvimento de sujeitos-cidadãos. Ou
seja, com a crise das cidades trazendo à baila dúvidas sobre a eficácia da escola,
começam a emergir no âmbito educacional novas propostas pedagógicas e sociais;
são aprendizagens que se dão no dia a dia (GOHN, 2006).
Isso por razão de o ensino não-formal e informal propor nos espaços sociais,
com todas suas potencialidades educativas, melhores meios para que os sujeitos-
cidadãos possam se desenvolver integralmente. Tais modalidades de ensino
proporcionam espaço ao conhecimento, e o relaciona com o mundo que acolhe as
pessoas e seus relacionamentos intersociais (RAMOS, 2014). É nessas relações
que se fundamentam os princípios de justiça e igualdade social, dando
fortalecimento à prática da cidadania.
Para o autor (2014, p. 1):

Essa prática é necessária e importante quando se pensa em [...] atividades


culturais, de criação, esportes, rodas de conversas, relações de trocas de
vivências, entre diversas outras atividades educacionais. [...] educação não-
formal pode desenvolver-se nos mais variados espaços, sendo uma
modalidade crescente no cenário nacional e pouco explorada nos meios
acadêmicos.

Não é apenas a escola, com seu ensino formal, que tem a competência de
sozinha instruir os cidadãos, entretanto é a cidade, projetada em seus espaços, que
pode desenvolver e garantir a transformação necessária para que cada cidadão
possa evoluir enquanto ser social e em prol da cidadania.
Nota-se que em inserir as potencialidades educativas representadas pelo
modelo de Cidade Educadora, por meio da educação ministrada pelos díspares
ambientes urbanos, não há concorrência com a escola, mas sim uma extensão dela,
em razão de que a cidade não está desviando seu papel, mas sendo um
complemento para as práticas educativas urbanas. Essa relação, que se pode
conferir entre a educação efetivada na escola com seu ensino formal, e as práticas
sociais de ensino não-formal e informal, é inerente ao devido reconhecimento das
potencialidades educativas que Caieiras dispõe.
No entender de Morigi (2016, p. 41), “[…] torna-se pertinente repensar o
potencial educativo das cidades promovendo a interação entre as pessoas,
(re)valorizando os espaços comunitários e as instituições”.
Para o autor (2016, p. 151):

A melhoria da qualidade de ensino não deve ser uma responsabilidade


exclusiva dos governos municipais, estaduais e federais, e sim o resultado
de uma ação integrada de organismos ligados à educação, cultura, lazer,
esporte, ciência e tecnologia, assistência social, saúde, governamentais ou
não. É preciso caminharmos na construção de uma concepção de
Sociedade Educadora, em que a tarefa de educar ultrapasse os limites da
escola sem desconsiderar sua importância, oferecendo oportunidades em
todos os espaços da cidade para acesso a atividades em benefício da
população escolar. Todos os entes federativos – municipais, estaduais ou
federais – podem assumir uma dimensão educativa e pedagógica em suas
ações, reconhecendo também o caráter educativo da vida diária de uma
cidade, realizada em igrejas, associações, sindicatos e demais
organizações.

O autor ainda afirma que a partir das definições de Cidade Educadora, esse
modelo social apresenta suas características a partir do momento em que

[…] o espaço urbano deixa de ser somente cenário geográfico e passa a ser
um agente educativo, através de projetos que envolvam as escolas, as
associações de bairro, de profissionais, os sindicatos, as igrejas, enfim,
todos aqueles que desempenhem ou queiram realizar ações educativas. É
uma nova maneira proposta para se entender a educação, mais ampla do
que a tradicional, geralmente confinada aos limites arquitetônicos das
escolas. O reconhecimento e o encontro com novos agentes pedagógicos
criam condições para novas práticas educativas, identificando
oportunidades de organização do espaço urbano para favorecer o potencial
educativo do mesmo (Ibid., 2016, p. 97).

Caieiras, portanto, só será Cidade Educadora se tiver a intencionalidade de


educar, com suas potencialidades educativas, objetivando a formação integral dos
seus cidadãos. Além disso, entendemos como Morigi (2016, p. 40):

Para que uma cidade se transforme em educadora é necessário que


assuma por meio de suas políticas, a intencionalidade formativa “dos” e
“nos’ seus projetos, com vista a apoiar o desenvolvimento integral dos(s)
cidadão(s). A cidade educa, nomeadamente através das instituições e das
propostas culturais que veicula, das políticas ambientais, do tecido
produtivo, do associativismo local etc. É, pois, necessário, que se proponha
objetivamente a trabalhar para o desenvolvimento de comportamentos que
implementem a qualidade de vida de seus cidadãos, constituindo-se com
uma proposta integradora da vida comunitária. Isso implica um
compromisso por parte do poder local, enquanto representante dos seus
habitantes, no sentido de agregar, num projeto político, os princípios de uma
Cidade Educadora. Tal compromisso depende da colaboração de todos,
num esforço organizado de trabalho em rede em prol de objetivos comuns.

Como pode-se observar, para que Caieiras tenha essa classificação, é


preciso oferecer a garantia de empregar projetos direcionados à formação de
cidadãos íntegros, para assim manter a ordem da cidade, com senso de justiça, com
ética e moral, como propunham os velhos gregos. Noutras palavras, a sugestão
objetiva é que as “[...] autoridades locais assumam a intencionalidade educadora e a
responsabilidade de converter todos os espaços da cidade em centros educativos”
(VARÓN, 2013, p. 1). Trata-se de fazer da cidade um espaço escolar, como queria
Platão: “[...] de acordo com o impulso inicial da educação, orienta-se tudo o mais”
(1997, [n.p.]). Pode-se observar, com isso, que

[...] as crianças e os jovens não são mais protagonistas passivos da vida


social e, por consequência, da cidade. [...] A proteção das crianças e jovens
na cidade não consiste somente no privilegiar a sua condição. É preciso
cada vez mais encontrar o lugar que na realidade lhes cabe, ao lado dos
adultos que possuem como cidadã a satisfação que deve presidir a
coexistência entre gerações (CARTA DAS CIDADES EDUCADORAS,
2004).

Na Carta das Cidades Educadoras (2004, [n.p.]): “[...] hoje, mais do que
nunca, as cidades, grandes ou pequenas, dispõem de inúmeras possibilidades
educadoras”, devendo “[...] ocupar-se prioritariamente com as crianças e jovens, [...]
numa formação ao longo da vida”.
Refletimos com Küchler (2004, [n.p.]):

Imagine uma escola sem paredes e sem teto. Nesse espaço, todos os
lugares são salas de aula: rua, parque, praça, praia, rio, favela, shopping e
também as escolas e as universidades. Há espaços para a educação
formal, em que se aplicam conhecimentos sistematizados, e a informal, em
que cabe todo tipo de conhecimento. Ela integra esses tipos de educação,
ensinando todos os cidadãos, do bebê ao avô, por toda a vida.

Numa Cidade Educadora, ou aquelas que estão a caminho, como pode ser o
caso de Caieiras, o Estado necessita garantir os “[...] princípios de igualdade entre
todas as pessoas [...]. O direito a uma cidade educadora é proposto como uma
extensão do direito fundamental de todos os indivíduos à educação” (CARTA DAS
CIDADES EDUCADORAS, 2004, [n.p.]).
Ainda de acordo com as orientações estabelecidas no documento (2004):

Na prática, o governo municipal deve dotar a cidade de espaços,


equipamentos e serviços públicos adequados ao desenvolvimento pessoal,
social, moral e cultural de todos os seus habitantes, prestando uma atenção
especial à infância e à juventude. Deve ocupar-se prioritariamente com as
crianças e jovens, mas com a vontade decidida de incorporar pessoas de
todas as idades, numa formação ao longo da vida (CARTA DAS CIDADES
EDUCADORAS, 2004, [n.p.]).

O modelo de Cidade Educadora não pretende fazer das pessoas simples


zeladoras da sociedade, mas, responsáveis pelas decisões coletivas para o seu bom
funcionamento, com vistas à formação integral de seus cidadãos, como buscavam
os velhos gregos. A seguir, destacaremos contribuições desses pensadores, na
busca por uma cidade que educa.

4 PLATÃO E ARISTÓTELES PARA UMA CIDADE QUE EDUCA

A essência da pedagogia clássica dos velhos gregos, com destaque para


Aristóteles e Platão, é promissora para Caieiras. Antes buscava-se a formação de
cidadãos íntegros e, foi na Grécia Clássica, que a cidade passou a assumir de fato,
a intenção de educar. Platão, idealiza esse modelo de cidade em conjunto com a
educação na sua obra “A República” (1997), assim como o faz Aristóteles, nos
escritos da “Ética a Nicômaco” (2017) e “Política” (1999).
Esses filósofos descortinavam a cidade como aquela que possui espaços
sociais com grandes potencialidades educativas, onde a formação dos cidadãos
deveria ser realizada de forma ética, moral e justa, representando a essência do que
os preparava para o convívio em sociedade. Foram os gregos, os primeiros a verem
as potencialidades educativas da cidade, local em prol do desenvolvimento dos
cidadãos, quando se tinha um sentido abrangente para a educação.
Pela ótica histórico-filosófica, os valores humanos perseguidos a partir desses
filósofos se mostram recorrentes na sociedade atual, como é o caso do município de
Caieiras, uma cidade que apresenta grande patrimônio pedagógico.
Platão (1997), dizia que a educação é o trajeto para que o cidadão tenha
participação social, e que em vista disso deve ser orientado pelas virtudes que o
formam. Em complemento, Aristóteles (1999), afirmava que para as virtudes serem
aperfeiçoadas, logo, devem ser nutridas para o pleno desenvolvimento do caráter. A
educação, portanto, tem o objetivo de formar o cidadão político e ético, e que tenha
a capacidade de viver em uma sociedade dotada do senso de justiça e do bem-
comum. Além do ensino técnico, a educação para os gregos, objetivava uma
formação para a vida pública, para a vida em sociedade.
A educação urbana do município de Caieiras, sob o ponto de vista dos velhos
gregos, deveria então, ir ao encontro de formar cidadãos com capacidade de opinar
e participar quanto aos caminhos/percursos da civilização, na procura por uma
“cidade ideal” (ARISTÓTELES, 2017). Todas as pessoas que vivem no modelo
urbano de sociedade, necessitariam ter uma formação para a vida justa,
consequentemente, teriam uma prática justa (PLATÃO, 1997).
Pode-se analisar que há uma aproximação entre o pensamento dos velhos
gregos e o entendimento do que vem a ser Cidade Educadora, que em sua Carta de
princípios indica (1990):

A cidade será educadora quando reconhecer, exercer e desenvolver, para


além das suas funções tradicionais (econômica, social, política e de
prestação de serviços), uma função educadora, isto é, quando assumir uma
intencionalidade e responsabilidade, cujo objetivo seja de formar, promover
e desenvolver todos os seus habitantes, a começar pelas crianças e pelos
jovens (CARTA DAS CIDADES EDUCADORAS, 1990, [n.p.]).

Em Platão, tem-se o pensamento de que a educação representa colunas de


sustentação das cidades, logo, também das virtudes, o que enfatizava a apreensão
com a formação do político-cidadão. Teixeira (1999, p. 6), nos convida também a
refletir, quando afirma que “[...] sem dúvida, um dos grandes méritos de nosso
século foi o de despertar uma consciência, praticamente universal, a respeito da
educação e sua importância para o desenvolvimento das nações”.
Na contemporaneidade, o conceito de Cidade Educadora parte da
intencionalidade do uso da estrutura física da cidade para oportunizar formação
humana, em face do uso de sua própria identidade com seu repertório histórico e
cultural e com a intenção de favorecer trocas de experiências, além de enriquecer a
vida dos seus cidadãos e assim os educar,

[...] portanto, é deste modo interdependente do território de que faz parte. É


também uma cidade que não está fechada sobre si mesma, mas que
mantém relações com o que a rodeia - outros núcleos urbanos do seu
território e cidades com características semelhantes de outros países [...]
(CARTA DAS CIDADES EDUCADORAS, 1990).

Para Aristóteles (2017), a ética só é adquirida a partir de uma sucessiva


prática da moral direcionada ao bem comum na “pólis” - cidade. Para ele, o cidadão
é um ser político, e só adquire a virtuosidade por meio das suas potências na “pólis”
(BRUGGEMANN, 2021). Assim também era para Aristóteles (2017), que buscava
uma “cidade ideal” em que os cidadãos, a partir do senso de justiça, deveriam
buscar o envolvimento na cidade, de forma a decidirem os rumos a serem tomados.
O autor enfatizava que a virtude só pode ser adquirida com boas ações desde a
tenra idade, para assim a pessoa se tornar um ser dotado de virtuosidade.
Situar essa ideia como força formativa a favor da educação e formar
verdadeiros cidadãos, era uma perspectiva ousada e criativa que só podia adolescer
no espírito daquelas pessoas reflexivas e artistas. Os gregos foram os primeiros a
observarem que a educação é um processo de desenvolvimento consciente
(JAEGER, 2013).

É esta a significação do novo Estado na formação do homem. Platão afirma,


com razão que cada forma do Estado implica a formação de um tipo de
homem definido, e tanto ele como Aristóteles exigem que educação de um
Estado perfeito imprima em todos a marca do seu espírito (JAEGER, 2013,
p. 142).

Caieiras, como espaço com potencialidades educativas, em consonância com


o projeto Cidade Educadora, e de acordo com as contribuições greco-antigas pode
assim caminhar para sua razão máxima, de formar cidadãos eticamente virtuosos e
com valores como moral e ética, a fim de se integrarem na vida na cidade, com toda
sua complexidade. Assim se faz preciso, a esse município, pois com seus projetos
sociais, em conjunto com o que usa como elementos pedagógicos – atribuídos aos
ensinos tanto informais como não-formais, bem como por meio de suas instituições
escolares, com o ensino formal –, esse município possa vir a ser de fato uma Cidade
Educadora.
A seguir trataremos das potencialidades educativas presentes em Caieiras,
como o projeto “Redescobrindo Caieiras”, a Associação Patris – Casa do Pai e a
Catequese Bom Pastor, cujos projetos sociais agem com a perspectiva de propiciar
pleno desenvolvimento do aluno-cidadão, com ações que tragam à luz a
possibilidade de o cidadão poder se formar integralmente.

5 POTENCIALIDADES EDUCATIVAS EM CAIEIRAS

Caieiras, por enquanto, não é uma Cidade Educadora. Porém, esse promissor
município se mostra com grandes potencialidades educativas, isso se justifica
através de projetos e entidades sociais que se inclinam a favor da educação. É o
caso do projeto “Redescobrindo Caieiras”, formulado em 2011, realizado com
discentes da Escola Municipal de Ensino Fundamental – EMEF Aurora Rodrigues de
Moraes, situada no bairro Jardim Vera Tereza, em Caieiras.
Na época, foi pedido para que o docente da UE, discorresse a respeito de
como se originou a “Cidade dos Pinheirais”, como é conhecida Caieiras. Com esse
projeto, os estudantes da EMEF, maiormente do 3º Ano do Ensino Fundamental I,
conheceram na prática, parte da historicidade da cidade. Não o bastante, pois o
projeto visava também novos projetos, sendo a sua continuidade, nos anos
subsequentes, assumida pela nova Secretária da Educação do município, que, logo,
buscou tomar ações pedagógicas que proporcionasse a relação da criança com o
espaço, em um tipo de ensino mais humanizado, em que os ambientes sociais
pudessem ser formativos.
Para Villar (2007, p. 27), para que a concepção de Cidade Educadora seja
aplicada de modo efetivo, “[...] precisa-se de um projeto amplo, integrador e
consensual, fruto do diálogo e da capacidade de escuta e negociação entre todos os
cidadãos e os agentes potencialmente educativos do território”. É nesse viés que se
formulou o projeto Redescobrindo Caieiras, como uma iniciativa dos agentes sociais,
dos cidadãos e do governo local, o que vai ao encontro do modelo de Cidade
Educadora. É um projeto de práticas educativas e integradoras comprometido com a
educação do bem-comum.
A partir de então, esse projeto fomentou outros, a partir da iniciativa da
Secretaria da Educação do Município, que colaborou com ações inovadoras em
Caieiras objetivando suas potencialidades educativas. Assim, com o projeto
Redescobrindo Caieiras, pode-se dizer que o modelo de Cidade Educadora passou
a ser um slogan possível e desejado no município, em direção a uma educação
integral e humanista.
Em referência à Associação Patris – Casa do Pai, é um empreendimento
social que opera nas políticas de assistência, em busca de ajudar as pessoas mais
vulneráveis. Movido por sua fé em Deus, Pe. Jan Hubert Jongen que nasceu na
Holanda, em 22 de fevereiro de 1907, foi o idealizador dessa iniciativa, tendo ajuda
da comunidade local mais carente de Caieiras. Edificado pelo sacerdote por meio da
Igreja Católica, esse instituto social está aparelhado de maneira a suscitar nos
cidadãos o sentimento de resgate de sua identidade, tornando-os integrados à
sociedade e, em busca de melhoria de suas potencialidades e capacidades para o
enfrentamento da vulnerabilidade social (CASA PATRIS, 2022).
A instituição social vem combatendo as desigualdades para ajudar a
comunidade local de Caieiras. Para isso, vem buscando formar cidadãos por meio
de cursos catequéticos, retiros espirituais e qualificação profissional. Ela pretende,
com suas iniciativas educacionais, proporcionar um sentido de vida e de
pertencimento, para os que procuram na instituição religiosa espaço de acolhimento,
formação humana e espiritual.
O legado do Pe. Hubert permaneceu e, a partir de então, a Associação Patris
continua buscando formar cidadãos íntegros e capacitados à vida na cidade. A
Associação permanece, nos tempos atuais, desempenhando ações de
evangelização com os mais carentes e necessitados, coligada às missões
desenvolvidas em diversos locais, dentro e fora do município caieirense, com o
alcance das suas ações sociais ampliadas.
Com isso, pode-se compreender que diante da complexidade em que o ser
humano vive, a religião sempre exerceu uma função importante em busca de
respostas, assim como na transformação e no desenvolvimento das sociedades. A
formação de cidadãos íntegros em conjunto com associações educacionais, se
coaduna com o propósito de promoção e manutenção do bem-estar dos cidadãos
que nela vivem. As religiões são importantes na educação e formação do ser
humano, posto que em conjunto com a cidade sempre estiveram juntas ao longo da
história da civilização. E assim se fundamenta o projeto Patris.
O modelo de Cidade Educadora apresenta intensa harmonia com a educação
tratada na Associação, posto que estão ligadas às complexidades dos grupos e dos
modos de pensar e de agir religiosamente, presentes em Caieiras. É o que entende
Jaeger (2013), ao constatar que a cidade é o lugar da educação. Os seus diversos
templos, edifícios, igrejas, praças e parques, necessitam se transformar em apoios
para a educação, como modo de ensino tanto formal, como informal e não-formal.
Há ainda, no município, um projeto de catequese que vai ao encontro do
formato pedagógico-social de Cidade Educadora, é a Catequese Bom Pastor, que
se apresenta com alto potencial educativo para a vida social e a formação dos
cidadãos de Caieiras. No Brasil, esse projeto se originou em 1997, em São Paulo, e
atualmente já se encontra em 12 municípios, sendo que um deles é Caieiras.
A catequese se mostra como uma base importante para a vida religiosa do
ser humano. Foi idealizada por Maria Tecla Artemisia Montessori, que nasceu em
Chiaravalle, Itália, em 31 de agosto de 1870. A catequese é uma prática que

[...] insere-se no movimento da Escola Nova, uma oposição aos métodos


tradicionais que não respeitavam as necessidades e os mecanismos
evolutivos do desenvolvimento da criança. Ocupa um papel de destaque
neste movimento pelas novas técnicas que apresentou para os jardins de
infância e para as primeiras séries do ensino formal (MONTESSORI, 2010,
p. 201).

Nessa esteira, as escolas que usam o método educacional de alfabetização


montessoriano são instituições educacionais de cunho tradicional, de ensino formal.
Não obstante, a instituição de catequese Bom Pastor oportuniza a convivência
social, estimulando a liberdade da criança “[...] escolher de forma independente as
mesmas atividades em tempos diferentes, individualmente ou em pequenos grupos”,
o que promove a aprendizagem e o desenvolvimento das autonomias individuais dos
sujeitos (LIMA, 2005, p. 70).
Isso condiz com a definição de Cidade Educadora em que a catequese se
insere e está presente, em instituições de cunho social, educacional e religioso.
Nesse cenário que se pode observar o valor atribuído à catequese, cuja prática
almeja à formação de sujeitos moral e eticamente íntegros, a fim de terem uma vida
feliz e solidária ao bem-comum na cidade, como postulavam os velhos gregos.
Esses princípios norteadores da catequese, estão em consonância com o
método de ensino montessoriano, que se destaca por seus pilares: autoeducação,
educação como ciência, educação cósmica, ambiente preparado, criança
equilibrada, no centro do processo educativo e adulto preparado, pretendem
proporcionar aos alunos uma educação que prima pelo bom convívio na sociedade.
Essas noções, de uma educação comprometida com a cultura, podem encontrar
apoio em uma cidade complexa, como é Caieiras, com a parceria do ensino não
formal.
Compartilhamos da ideia de Gohn quando afirma (2016, p. 61):

(...) destaco que é preciso olhar para as possibilidades da educação não


formal até para resolver e potencializar a educação formal. Às vezes,
perguntam-me: “as coisas que preconizo para a educação não formal, a
escola formal não deveria fornecer?”. E eu respondo que sim, pois formar
para a cidadania está na lei maior da educação, na LDB. Mas a educação
formal tem atributos próprios e específicos [...]. Tudo isso é formar o
cidadão. Portanto, jamais um cidadão se forma apenas com a educação não
formal. Mas, justamente a forma como está estruturada a educação formal,
burocratizada e normatizada, com dificuldade de flexibilidade nas agendas,
resulta em dificuldades no processo formativo.

Nesse sentido, pode-se compreender a relevância dessa catequese, em


âmbito do ensino não formal, como coadjuvante significativo do ensino formal, uma
vez que o homem atual vem perdendo o seu sentido de pertencimento. Resgatar a
identidade de tempo e lugar dos sujeitos também é função social da educação,
brecha fundamental para transformar a realidade social.
A cidade, como inscrição espacial da sociedade, e a Carta das Cidades
Educadoras, direcionam um caminho para ouvir as potencialidades educativas no
meio urbano. Como se pode observar através do projeto Redescobrindo Caieiras, da
Associação Patris e da Catequese Bom Pastor, aqui apresentados, a educação não
formal é um lócus importante no espaço social das cidades, como bem nos indica a
constituição e o carisma de Cidade Educadora.
A cidade de Caieiras, com essas iniciativas sociais, passa a representar uma
grande potencialidade educativa, para assim se tornar de fato uma cidade que
educa. São projetos que não divergem do ensino formal regular, mas os
complementam. Compete ao município, portanto, expandir e amplificar a educação
para os mais diversos campos e espaços urbanos com potencialidades educativas.
Caieiras, entremeio aos anos 2009 e 2022, fomenta inúmeros projetos sociais
de educação não formal, embora, ainda não seja de fato, uma Cidade Educadora,
mas ela reúne importantes características desse modelo de sociedade. Entendemos,
pois, que “[...] o direito a uma cidade educadora é proposto como uma extensão do
direito fundamental de todos os indivíduos à educação” (CARTA DAS CIDADES
EDUCADORAS, 2004, [n.p.]).
Para isso, entendemos que “Na prática, o governo municipal deve dotar a
cidade de espaços, equipamentos e serviços públicos adequados ao
desenvolvimento pessoal, social, moral e cultural de todos os seus habitantes,
prestando uma atenção especial à infância e à juventude” (Ibid., 2004, [n.p.]).
Formando cidadãos íntegros em Caieiras, pela ótica dos velhos gregos e
através da Carta das Cidades Educadoras, poderá ser possível contemplar o
horizonte de uma cidade que eduque e que, através dos estabelecimentos
educativos formais ou não formais, possam desenvolver projetos, que sejam
capazes de formar sujeitos sociais, conscientes, responsáveis e participativos.
Assim, o município de Caieiras não é ainda uma Cidade Educadora, mesmo
com projetos que podem impactar nas transformações. Mas, essa posição pode
mudar com a participação comunitária, na elaboração do orçamento participativo, no
envolvimento cidadão de cada sujeito. Esse é o caminho para a materialização e
constituição de uma Cidade Educadora.
No entanto, a falta de engajamento da população nos processos decisórios de
Caieiras, na atualidade, pode ser verificada no tradicionalismo imposto pelos
departamentos de gerenciamento das secretarias de educação, esporte e cultura e
pelo poder executivo, que a quase um século garante o status quo de um município
conservador, o que não facilita a participação comunitária.
Sendo assim, Caieiras só

[...] será educadora quando reconhecer, exercer e desenvolver, para além


das suas funções tradicionais (econômica, social, política e de prestação de
serviços), uma função educadora, isto é, quando assumir uma
intencionalidade e responsabilidade, cujo objetivo seja a formar, promover e
desenvolver todos os seus habitantes, a começar pelas crianças e pelos
jovens (CARTA DAS CIDADES EDUCADORAS, 1990, [n.p.]).

Os projetos articulados em Caieiras evidenciam a responsabilidade adotada


pela cidade, na procura pelo fomento do atendimento às necessidades sociais e,
logo, da educação dos seus cidadãos. Com cada projeto posto em prática, a cidade
pode conquistar, passo a passo, a identidade almejada de Cidade Educadora e,
proporcionar ainda mais, aos seus cidadãos uma formação integral.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutiram-se os interesses que estão por trás das dificuldades em se colocar


em prática o modelo de Cidade Educadora em Caieiras, tendo em vista que o
modelo vigente, há muito tempo, esteve atrelado aos moldes capitalistas e
conservadores. Pode-se entender, com isso, que no contexto atual, de
complexidade e de intensa crise nas cidades modernas, a educação pode
desempenhar uma função essencial para a construção de alternativas, sendo o
modelo de Cidade Educadora um importante mecanismo de transformação.
Uma cidade que educa pode ser o ponto de partida para interferir nessa
complexa realidade, modificando a vida na cidade em busca do desenvolvimento de
cidadãos íntegros e capacitados para a vida pública e a promoção do bem-comum.
Também é possível concluir que Aristóteles e Platão, ainda hoje, são apoios
importantes ao conceito de educação para a cidade que de fato educa, ao buscar
desenvolver e formar seus cidadãos.
O ponto crucial, capaz de transformação, é o projeto político-pedagógico
colocado em prática por institutos sociais, como aquelas aqui apresentadas:
Redescobrindo Caieiras, Associação Patris - Casa do Pai e Catequese Bom Pastor.
A Carta das Cidades Educadoras, de 1990, é o registro oficial que serve como
exemplo a ser implementado por países de todo o mundo. O ponto crucial, capaz de
transformação, é o projeto político-pedagógico colocado em prática pelos institutos
sociais, como os aqui apresentados: o projeto Redescobrindo Caieiras, a
Associação Patris – Casa do Pai e a Catequese Bom Pastor.
É cada vez mais importante que a educação moderna, juntamente com o
conceito de Cidade Educadora, busque seguir os ideais dos antigos gregos e
"ressuscitar" a visão da cidade onde os habitantes são íntegros e aptos à vida
urbana. Isso foi um símbolo do Renascimento, que valorizava a Antiguidade
Clássica. No entanto, essa visão de exclusividade da aprendizagem formal, como as
escolas, é binária e excludente, afastando os indivíduos da construção do
conhecimento.
Esses projetos sociais buscam formar indivíduos íntegros, cuja educação é
contextualizada em seu lugar de pertencimento, levando em conta suas
especificidades culturais e identitárias. Torna-se cada vez mais importante à
educação moderna, em conjunto com a Cidade Educadora irem em direção aos
ideais dos velhos gregos a fim de “ressuscitar” o que anteriormente veio à tona como
símbolo do Renascimento – em que se valorizava a Antiguidade Clássica, o
pensamento de uma cidade onde os seus habitantes fossem íntegros e aptos à vida
urbana – entretanto, que eclodiu com a contemporaneidade, com escolas de ensino
formal, como possibilidade exclusiva de aprendizagem para a vida. Esse é um
pensamento binário e excludente que não inclui, mas que distancia os sujeitos da
construção do conhecimento.
Portanto, concluímos com esperança que Caieiras está resgatando a cultura
clássica de uma educação voltada a formar pessoas íntegras, como propõem os
velhos gregos, fomentando potencialidades educativas por meio de projetos sociais
humanizadores e práticas que dão sentido à vida de seus cidadãos.

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