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Dicionário da Educação do Campo

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Escola do Campo
Mônica Castagna Molina
Lais Mourão Sá

A concepção de escola do cam- e das práticas de educação dos traba-


po nasce e se desenvolve no bojo do lhadores do e no campo.
movimento da E ducação do C ampo, Sendo assim, ela se coloca numa re-
a partir das experiências de formação lação de antagonismo às concepções
humana desenvolvidas no contexto de escola hegemônicas e ao projeto de
de luta dos movimentos sociais cam- educação proposto para a classe traba-
poneses por terra e educação. Trata- lhadora pelo sistema do capital. O
se, portanto, de uma concepção que movimento histórico de construção
emerge das contradições da luta social da concepção de escola do campo faz

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Escola do Campo

parte do mesmo movimento de cons- a formação integral dos trabalhadores


trução de um projeto de campo e de do campo, para promover simultanea-
sociedade pelas forças sociais da classe mente a transformação do mundo e a
trabalhadora, mobilizadas no momento
atual na disputa contra-hegemônica.
autotransformação humana.
Questão central para a materiali-
E
Assim, a concepção de escola do zação desta condição é a formação da
campo a ser tratada aqui se enraíza no capacidade dirigente da classe trabalha-
processo histórico da luta da classe tra- dora, para que venha a exercer o con-
balhadora pela superação do sistema do trole do processo de reprodução social
capital. O acesso ao conhecimento e a no interesse das necessidades sociais
garantia do direito à escolarização para básicas. Nos termos de Gramsci, esse
os sujeitos do campo fazem parte desta processo formativo está intrinseca-
luta. A especificidade desta inserção se mente vinculado à atividade crítica e
manifesta nas condições concretas em organizativa dos intelectuais orgânicos
que ocorre a luta de classes no campo no conjunto de atividades culturais e
brasileiro, tendo em vista o modo de ideológicas da luta de classes, na dispu-
expansão do Agronegócio e suas de- ta entre os projetos de sociedade. Para
terminações sobre a luta pela terra e a Gramsci (1991), a capacidade intelec-
identidade de classe dos sujeitos coleti- tual não é monopólio de alguns, mas
vos do campo. pertence a toda a coletividade, tanto no
A concepção de escola do campo se sentido do acúmulo de conhecimento
insere também na perspectiva grams- ao longo da história da humanidade
ciana da Escola Unitária, no sentido quanto no sentido da elaboração de
de desenvolver estratégias epistemoló- novos conhecimentos que permitam
gicas e pedagógicas que materializem o compreender e superar as contradições
projeto marxiano da formação huma- do momento presente. O exercício da
nista omnilateral, com sua base unitá- intelectualidade, portanto, é função
ria integradora entre trabalho, ciência e de um “intelectual coletivo”, e, embora
cultura, tendo em vista a formação dos alguns indivíduos desempenhem fun-
intelectuais da classe trabalhadora. ções mais estritamente intelectuais na so-
A intencionalidade de um projeto ciedade, o grau dessa atividade entre seus
de formação de sujeitos que percebam componentes é apenas quantitativo.
criticamente as escolhas e premissas A possibilidade do exercício deste
socialmente aceitas, e que sejam ca- papel fundamental da escola do campo,
pazes de formular alternativas de um contribuindo para a formação desse in-
projeto político, atribui à escola do telectual coletivo, dependerá da forma
campo uma importante contribuição pela qual esta escola estiver conectada
no processo mais amplo de transfor- ao mundo do trabalho e às organiza-
mação social. Ela se coloca o desafio ções políticas e culturais dos trabalha-
de conceber e desenvolver uma for- dores do campo. Isto significa que a
mação contra-hegemônica, ou seja, escolarização em todos os níveis deve
de formular e executar um projeto de promover o conhecimento sobre o
educação integrado a um projeto po- funcionamento da sociedade, sobre
lítico de transformação social liderado os mecanismos de dominação e subor-
pela classe trabalhadora, o que exige dinação que a caracterizam, e sobre o

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Dicionário da Educação do Campo

modo de integração da produção agrí- culação às questões inerentes à


cola neste projeto de sociedade, a par- sua realidade, ancorando-se na
tir do complexo sistema de relações e temporalidade e saberes pró-
de mediações que constitui o processo prios dos estudantes, na memó-
de desenvolvimento rural. ria coletiva que sinaliza futuros,
Por isso, a escola do campo, pen- na rede de ciência e tecnologia
sada como parte de um projeto maior disponível na sociedade e nos
de educação da classe trabalhadora, se movimentos sociais em defesa
propõe a construir uma prática edu- de projetos que associem as so-
cativa que efetivamente fortaleça os luções exigidas por essas ques-
camponeses para as lutas principais, tões à qualidade social da vida
no bojo da constituição histórica dos coletiva no País. (Brasil, 2002)
movimentos de resistência à expansão
Articulada às possibilidades aber-
capitalista em seus territórios.
tas por esta definição, há ainda outro
Uma das importantes vitórias con- dispositivo legal de grande importância
quistadas na luta dos movimentos so- na perspectiva de remover impedimen-
ciais pela construção desta concepção tos para a construção de projetos dos
de escola do campo foi o seu reconhe- movimentos com as escolas e comuni-
cimento em marcos legais, o que se deu dades, em busca de seu desenvolvimento
somente após muitos anos de experiên- a partir das concepções educativas do
cias e práticas concretas de Educação campesinato, organizada em torno dos
do Campo. O primeiro destes marcos a princípios da Educação do Campo. O
reconhecer e utilizar a expressão escola artigo 4º das “Diretrizes operacionais”
do campo, como figura jurídica legal- estabelece que: “a construção dos pro-
mente reconhecida, portanto demar- jetos político-pedagógicos das escolas
cando uma diferenciação em relação à do campo se constituirá num espaço
expressão escola rural, foram as “Dire- público de investigação e articulação
trizes operacionais para educação básica de experiências e estudos direcio-
das escolas do campo”, de abril de 2002 nados para o mundo do trabalho”
(Brasil, 2002), expedidas pelo Conselho (Brasil, 2002). Este dispositivo legitima
Nacional de Educação (CNE). O fato as experiências em curso, e abre espaço
de esta denominação ser incorporada na para projetos a serem propostos pelos
agenda político-jurídica configura avan- movimentos sociais para “ocupar” as
ço e vitória dos que reafirmam a impres- escolas rurais, visando a sua transfor-
cindibilidade do campo na construção de mação em escolas do campo.
um modelo novo de desenvolvimento.
No âmbito das vitórias nos marcos
Consoante com esta interpretação, legais, conquistadas a partir da luta dos
consideramos relevante destacar a de- movimentos sociais, merece registro
finição conquistada naquelas diretrizes também a definição consagrada no de-
sobre a identidade das escolas do cam- creto no 7.352/2010, que institui a Po-
po, como acontece no parágrafo único lítica Nacional de Educação do Cam-
do artigo 2º: po, sobre o que são escolas do campo.
Em seu artigo primeiro, este decreto
[...] a identidade das escolas do estabelece que se compreende por:
campo é definida pela sua vin- “Escola do campo: aquela situada em

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Escola do Campo

área rural, conforme definida pela Fun- A partir destas ideias, faz sentido
dação Instituto Brasileiro de Geografia afirmar que a escola do campo pode
e Estatística – IBGE, ou aquela situa- contribuir para a formação de novas
da em área urbana, desde que atenda
predominantemente a populações do
gerações de intelectuais orgânicos ca-
pazes de conduzir o protagonismo dos E
campo” (Brasil, 2010). trabalhadores do campo em direção à
Mantém-se, neste instrumento legal consolidação de um processo social
que eleva a Educação do Campo à po- contra-hegemônico. Mas esta afirmação
lítica de Estado, não só a demarcação se faz a partir do reconhecimento dos
das escolas do campo neste território, limites que a escola, ainda que trans-
mas também a importante definição de formada em seus aspectos principais,
que sua identidade não se dá somente pode vir a ter nos processos maiores
por sua localização geográfica, se dá de transformação social.
também pela identidade dos espaços Partindo dessa materialidade, a
de reprodução social, portanto, de vida Educação do Campo, nos processos
e trabalho, dos sujeitos que acolhe em educativos escolares, busca cultivar
seus processos educativos, nos diferen- um conjunto de princípios que devem
tes níveis de escolarização ofertados. orientar as práticas educativas que
Nesta tarefa coloca-se também promovem – com a perspectiva de
uma disputa epistemológica por fun- oportunizar a ligação da formação es-
damentos ético-políticos e concei- colar à formação para uma postura na
tuais que garantam a legitimidade da vida, na comunidade – o desenvolvi-
construção do projeto. Como toda a mento do território rural, compreen-
riqueza no sistema do capital, o co- dido este como espaço de vida dos
nhecimento científico também está sujeitos camponeses.
desigualmente distribuído, e a disputa A partir das concepções sobre as
entre projetos de sociedade coloca em possibilidades de atuação das institui-
pauta a necessidade de desconstrução ções educativas na perspectiva contra-
destes privilégios epistemológicos. A hegemônica, além das funções tradi-
escola do campo deve fazer o enfren- cionalmente reservadas à escola, como
tamento da hegemonia epistemológica a socialização das novas gerações e a
do conhecimento inoculado pela ciên- transmissão de conhecimentos, a esco-
cia capitalista. la do campo, que forja esta identida-
O conhecimento científico acumu- de, pode ser uma das protagonistas na
lado pela humanidade não pode ser criação de condições que contribuam
usado com neutralidade; ele deve dialo- para a promoção do desenvolvimento
gar com as contradições vividas na rea- das comunidades camponesas, desde
lidade destes sujeitos, o que envolve a que se promova no seu interior im-
busca de alternativas para as condições portantes transformações, tal como já
materiais e ideológicas do trabalho vem ocorrendo em muitas escolas no
alienado e para as dificuldades de re- território rural brasileiro, que contam
produção social da classe trabalhadora com o protagonismo dos movimentos
do campo, todas elas condições ineren- sociais na elaboração de seus projetos
tes ao antagonismo intrínseco à lógica educativos e na sua forma de organizar
do capital. o trabalho pedagógico.

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Podemos destacar, então, quais são construção de um projeto histórico de


as principais questões que devem ser classe. Portanto, é importante distin-
alteradas na escola do campo, para que guir objetivos formativos de objetivos
possa atuar de acordo com os princí- da educação escolar, para que estes úl-
pios da Educação do Campo. Antes de timos se vinculem à resposta político-
mais nada, é preciso compreender que filosófica que se quer dar à pergunta
não se pode pensar em transformação sobre a construção de um novo projeto
da escola sem pensar na questão da de sociedade e sobre a formação das
transformação das finalidades educati- novas gerações dentro deste projeto.
vas e na revisão do projeto de forma- A partir do projeto formativo rede-
ção do ser humano que fundamenta senhado, outras dimensões importantes
estas finalidades. Qualquer prática edu- e que precisam ser alteradas, para garantir
cativa se fundamenta numa concepção que as escolas tradicionais do meio rural
de ser humano, numa visão de mundo possam vir a se transformar em escolas
e num modo de pensar os processos de do campo, referem-se às relações sociais
humanização e formação do ser huma- vividas na escola, cujas mudanças devem
no (Caldart, 2010). ser dirigidas a: 1) cultivar formas e estra-
No entanto, a colocação político- tégias de trabalho que sejam capazes de
filosófica destas questões tende a emer- reunir a comunidade em torno da escola
gir apenas nos momentos em que a so- para seu interior, enxergando nela uma
ciedade está se colocando o desafio de aliada para enfrentar seus problemas e
vincular a educação à fundação de um construir soluções; 2) promover a supe-
novo projeto histórico. No momento ração da prioridade dada aos indivíduos
atual, em que as contradições do modo isoladamente, tanto no próprio percur-
de produção e da sociabilidade capita- so formativo relacionado à construção
listas enfrentam uma crise estrutural, de conhecimentos quanto nos valores
a questão da formação das novas ge- e estratégias de trabalho, cultivando, no
rações é crucial. E, no caso da Edu- lugar do individualismo, a experiência
cação do Campo, a entrada dos filhos e a vivência da realização de práticas e
da classe trabalhadora do campo na estudos coletivos, bem como instituin-
escola, os mais desiguais entre os de- do a experiência da gestão coletiva da
siguais, representa a explicitação inegá- escola; 3) superar a separação entre tra-
vel da incompetência da ordem educa- balho intelectual e manual, entre teoria
cional vigente para enfrentar o desafio e prática, buscando construir estratégias
de corrigir consequências das desigual- de inserir o trabalho concretamente nos
dades estruturais do próprio avanço do processos formativos vivenciados na es-
sistema do capital no campo. cola (Caldart, 2010).
Assim, torna-se mais necessário do Para que a escola do campo con-
que nunca indagar, a respeito do proje- tribua no fortalecimento das lutas de
to educativo da escola, sobre a especi- resistência dos camponeses, é impres-
ficidade concreta desses sujeitos cam- cindível garantir a articulação político-
poneses e suas necessidades formativas pedagógica entre a escola e a comuni-
específicas; e, consequentemente, su- dade por meio da democratização do
bordinar a discussão sobre a escola em acesso ao conhecimento científico. As
si mesma às necessidades coletivas de estratégias adequadas ao cultivo desta

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Escola do Campo

participação devem promover a cons- ao capital, ou seja: ter o trabalho como


trução de espaços coletivos de decisão um valor central – tanto no sentido on-
sobre os trabalhos a serem executa- tológico quanto no sentido produtivo,
dos e sobre as prioridades da comu-
nidade nas quais a escola pode vir a
como atividade pela qual o ser humano
cria, dá sentido e sustenta a vida; en- E
ter contribuições. sinar a crianças e jovens o sentido de
Outra dimensão significativa nas transformar a natureza para satisfazer
escolas do campo é a lógica do traba- as necessidades humanas, compreen-
lho e da organização coletiva. Ensinar dendo que nos produzimos a partir
os alunos e a própria organização es- do próprio trabalho, e, principalmente,
colar a trabalhar a partir de coletivos ensinando a viver do próprio trabalho
é um relevante mecanismo de forma- e não a viver do trabalho alheio.
ção e aproximação das funções que a Outro aspecto central a ser trans-
escola pode vir a ter nos processos de formado na escola do campo é o fato
transformação social. Esta dimensão de seus processos de ensino e apren-
envolve também as vivências e expe- dizagem não se desenvolverem apar-
riências de resolução e administração tados da realidade de seus educandos.
de conflitos e de diferenças decor- O principal fundamento do trabalho
rentes das práticas coletivas, gerando pedagógico deve ser a materialidade da
aprendizados para posturas e relações vida real dos educandos, a partir da qual
fora da escola. A participação e gestão se abre a possibilidade de ressignificar
por meio de coletivos é mecanismo o conhecimento científico, que já é,
importante na criação de espaços que em si mesmo, produto de um trabalho
cultivem a auto-organização dos edu- coletivo, realizado por centenas de ho-
candos para o aprendizado do conví- mens e mulheres ao longo dos séculos.
vio, da análise, da tomada de decisões Este é um dos maiores desafios e,
e do encaminhamento de deliberações ao mesmo tempo, uma das maiores
coletivas. Com base nessas experiên- possibilidades da escola do campo:
cias, torna-se possível acumular apren- articular os conhecimentos que os
dizados e valores para a construção de educandos têm o direito de acessar,
novas relações sociais fora da escola, a partir do trabalho com a realidade,
com maior protagonismo e autonomia da religação entre educação, cultura e
destes sujeitos. os conhecimentos científicos a serem
No que se refere à pedagogia do apreendidos em cada ciclo da vida e de
trabalho, colocam-se à escola do cam- diferentes áreas do conhecimento. Sur-
po imensos desafios no sentido de ge daí uma grande potencialidade de
contribuir para a transformação das re- dimensões formativas que foram sepa-
lações e ideologias que fundamentam radas pela cultura fragmentada e indi-
as relações sociais na lógica do capi- vidualista do capital, embora, na vida
tal (ver Escola Única do Trabalho e real, estejam articuladas e imbricadas.
Trabalho como princípio educativo). Além de contribuir com a construção
Para uma escola que adote o ponto de da autonomia dos educandos, essas ar-
vista político da emancipação da classe ticulações propiciam a internalização
trabalhadora, trata-se de ressignificar da criticidade necessária à compreen-
os valores da subordinação do trabalho são da inexistência da neutralidade

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Dicionário da Educação do Campo

científica, com a localização da histo- confrontar e derrotar a escola capita-


ricidade dos diferentes conteúdos e lista, não se deixa enredar pelos muros
dos contextos sócio-históricos nos da escola e, muito menos, pelas quatro
quais foram produzidos. paredes da sala de aula.
Experiências ricas neste sentido Esta possibilidade de conduzir tra-
têm sido desenvolvidas em algumas balhos pedagógicos que superem a sala
escolas vinculadas ao Movimento de aula como espaço central de apren-
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra dizagem traz também outro potencial,
(MST), especialmente nas chamadas que é a construção de estratégias que
escolas itinerantes (ver Escola Itineran- visem superar a fragmentação do co-
te), nas quais tem sido possível ado- nhecimento vigente na grande maioria
tar metodologias que historicamente dos processos de ensino-aprendizagem,
foram capazes de trazer contribuições neste caso, sem ser “privilégio” das es-
neste sentido, como, por exemplo, a colas do campo.
experiência desenvolvida a partir do Retomando as colocações iniciais
sistema de complexos, de Pistrak. sobre as potencialidades de construção
Uma das principais características desta escola do campo, em que se afir-
exitosas desta estratégia de vinculação mou que uma das suas possibilidades é
dos processos de ensino-aprendizagem contribuir para a formação de intelec-
com a realidade social, e com as con- tuais orgânicos do campo, explicita-se a
dições de reprodução material dos importância da mudança deste padrão
educandos que frequentam a escola do de relacionamento das escolas do cam-
campo, refere-se à construção de estra- po com a produção do conhecimento,
tégias pedagógicas que sejam capazes e as contribuições que daí podem advir,
de superar os limites da sala de aula, para melhorar as possibilidades de resis-
construindo espaços de aprendizagem tência dos sujeitos do campo aos pro-
que extrapolem este limite, e que per- cessos de desterritorialização que lhes
mitam a apreensão das contradições do têm sido impostos pelo voraz aumento
lado de fora da sala. A escola do cam- das estratégias de acumulação de capital
po, exatamente por querer enfrentar, desenvolvidas pelo agronegócio.

Para saber mais


Brasil. Ministério da Educação (MEC). Conselho Nacional de Educação
(CNE). Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002: institui diretrizes ope-
racionais para a educação básica nas escolas do campo. Diário Oficial da União,
9 abr. 2002.
______. Presidência da República. Decreto no 7.352, de 4 de novembro de 2010:
dispõe sobre a Política Nacional de Educação do Campo e sobre o Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária. Diário Oficial da União, 5 nov. 2010.
Buttigieg, J. A. Educação e hegemonia. In: Coutinho, C. N.; Teixeira, A. P.
(org.). Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

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