Você está na página 1de 2

O assassinato do livreiro de Cabul

(versão censurada)

O fim da tarde já podia ser identificado ao olhar para o céu alaranjado da cidade de Cabul, aquele era o
14° dia em que o povo afegão celebrava o Ramadã. Toda a família havia se juntado pela manhã para orar
e, após isso, saíram de casa para realizar seus afazeres diários. Sonya e Sharifa permaneceram em casa já
que as esposas tinham muito trabalho a fazer naquele dia.
Antes de amanhecer a família se reuniu para o café da manhã, no qual foi decidido que Sonya se
encarregaria de realizar as tarefas mais pesadas e exaustivas com o intuito de aprender ou aprimorar suas
habilidades como esposa, ocasionando em um dia cheio de ocupações e afazeres para si. Já Sharifa, que
tinha seus olhos cansados, faria tarefas mais simples durante o dia.
Perto das 16:30 Sultan volta para casa após um dia cheio em uma de suas livrarias. O tempo
estava excepcionalmente quente, tornando ainda mais sofrida a realização do jejum durante o dia. Tudo
que se passava pela cabeça de Sultan era a imagem de sua cama, que no momento parecia muito mais
confortável e macia do que realmente era. O homem de cabelos grisalhos pediu as duas esposas que não o
incomodassem até a hora do jantar e, pesarosamente, caminhou sem preocupações até o quarto que
dividia com Sonya.
Perto do cair da noite, as esposas Sharifa e Sonya já tinham terminado seus afazeres do dia.

Por volta das 17:50 as duas esposas se encontram para preparar o jantar especial da celebração.
Elas já estavam arrumadas, vestidas com roupas dos mais finos tecidos, o rosto maquiado suavemente e
os fios do cabelo perfeitamente penteados e alinhados. Também usavam acessórios delicados como
pulseiras e brincos.
O resto da família chega ao mesmo tempo, perto desse mesmo horário. A maioria se encontrava
exausta e cansada, ansiando pela sagrada refeição pós jejum.
- Onde está meu pai? – Questiona Mansur, o filho mais velho, para as esposas que cozinhavam
apressadamente na cozinha.
- Ele está repousando no quarto, querido. Disse que não gostaria de ser incomodado. – Respondeu
Sharifa calmamente para o filho. – Vá para seu quarto e se arrume, o jantar logo estará pronto!
O jovem, ainda que desconfiado, acena rapidamente com a cabeça aceitando a ordem que lhe foi
dada e caminha em direção aos quartos, seguido pelos outros integrantes da casa.

Finalmente o tão esperado jantar estava pronto! Todos se sentaram na mesa conversando alto e de
forma animada, ansiosos para poder saborear a refeição. Só uma pessoa não estava na mesa ainda. Sultan
Khan estava em seu quarto desde a hora que chegara e não saíra de lá desde então.
- Eu irei chamá-lo. Ele provavelmente dormiu de tão cansado. – Disse Sonya quase num sussurro,
como se pedisse permissão para os demais integrantes da casa.
Ela se levantou da mesa, foi calmamente para o quarto, bateu na porta de forma suave e chamou
pelo marido.
Nenhuma resposta.
Repetiu o ato anterior, dizendo que o jantar estava servido.
Nenhuma resposta novamente.
Intrigada abriu a porta e entrou dentro do cômodo que dividia com Sultan. Ao observar o local,
seus olhos se abriram em sinal de espanto e um grito estridente escapou pela garganta, seguido por outros
gritos pedindo, até implorando por ajuda.
Com os gritos de Sonya a esposa, os filhos e os irmãos de Sultan correram em direção ao quarto do
casal e cena que encontraram ao chegar era devastadora.
Sultan estava deitado na cama, seus olhos estavam fechados, sua expressão estava serena e até um livro
estava repousado sobre seu peito. Parecia estar dormindo.
Porém os cortes em seu pulso esquerdo, o grande rasgo em seu pescoço, a enorme mancha de sangue na
cama e a faca em suas mãos demonstravam que ele teria ido para sempre.
Mais tarde a polícia havia cercado a casa da família Khan. Viaturas lotavam as ruas, faixas rondavam a
casa e vizinhos intrometidos comentavam sobre o ocorrido.
Depois de uma vistoria pela casa encontraram uma carta entre um dos livros de Sultan. Seu conteúdo
indicava um longa e sofrida despedida, uma carta de suicídio. Tudo indicava que esse era o motivo da
tragédia.
Porém, a morte do famoso livreiro de Cabul foi dada como homicídio doloso, tendo como principal
suspeita Sharifa, a primeira esposa. A mesma seria julgada duas semanas depois da morte do marido,
onde seria julgada como culpada ou inocente.

Você também pode gostar