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Tobias Rafael Moreira Coelho

Oceanografia - 415015
11º Semestre

Etnomapeamento da Paisagem Marinha na Plataforma Continental Interior do


Litoral Semiárido Brasileiro

Neste estudo, foi realizado um levantamento com uma comunidade de


pescadores artesanais da comunidade de Tremembé no Ceará, para integrar seu
conhecimento na elaboração de mapas das paisagens marinhas. Os pescadores
discutiram em grupos centrais sobre as paisagens marinhas e sua importância para
a pesca. Com base em seu conhecimento tradicional, eles identificaram sedimentos
e características geográficas relevantes. Os dados coletados foram comparados
com informações científicas existentes e resultaram na criação de um mapa das
paisagens marinhas. Isso destacou a importância da participação das comunidades
locais na conservação e gestão das áreas costeiras. A comunidade de Tremembé
depende da coleta de caranguejos nos manguezais, da agricultura e da pesca no
mar como meios de subsistência. A pesca artesanal ocorre principalmente na
plataforma interna e é uma atividade essencial para a subsistência local. A região de
estudo possui uma plataforma continental com três zonas batimétricas distintas,
com o clima tropical quente e semiárido, com temperaturas variando de 25°C a 32°C
e precipitação anual concentrada entre fevereiro e abril. A região enfrenta ventos
fortes e constantes, essa condição sendo típica da costa favorece atividades como o
kitesurf e a instalação de parques eólicos. O estudo abrangeu a coleta de dados por
meio de grupos de foco, observação e análise de informações geológicas e
oceanográficas, sendo a participação dos pescadores na elaboração dos mapas das
paisagens marinhas foi fundamental para a integração do conhecimento local na
gestão e conservação costeira.
Na discussão, foi observado que a plataforma rasa na área de estudo possui
dois padrões morfológicos distintos, sendo um na direção NW-SE, com declives
mais acentuados, e outro na direção E-W. Os pescadores locais utilizam a Praia de
Almofala como referência para essa divisão geomorfológica. Entre a linha costeira e
a isóbata de 20 m, predomina um relevo de baixo declive com ocorrência ocasional
de topos de cristas planas associados a fundos rochosos. Nessa região, são
encontrados bancos de gramíneas marinhas, principalmente entre o estuário-lagoa
de Guajirú e a isóbata de 5 m, o que está em concordância com o conhecimento
dos pescadores locais. Também foram mapeadas áreas de "areias escuras"
associadas a algas calcárias e foraminíferos. Além disso, foram observados padrões
morfológicos como ripples e pequenas dunas.
A presença de afloramentos rochosos, chamados de "pedras" e "unha do
velho" em Almofala, corresponde aos topos de cristas planas encontrados no mapa
da estrutura bentônica. A sedimentação na praia é caracterizada como mista, com
percentuais equilibrados entre areias siliciclásticas e bioclásticas. Em áreas rasas
próximas à foz do rio Acaraú, foram identificadas areias lito-bioclásticas e bancos de
rodolitos. Também foram observados depósitos de lodo carbonatado e algas
foliáceas em áreas correspondentes à isóbata de 20 metros. A região entre as
profundidades de 10 e 20 m apresenta um relevo mais acidentado, com a presença
de dunas, afloramentos rochosos, escarpas, terraços e depressões no lcal.
Embora os pescadores mencionam uma importância dos fundos rochosos,
chamados também de "buracos" e "canais", para a captura de diversas espécies,
esses atributos não foram representados na participação do mapeamento. A
diversidade de substratos a partir da isóbata de 10 metros está relacionada ao
aumento da diversidade de número de espécies de peixes, principalmente em
fundos de cascalho com a presença de algas carbonatadas. Entretanto, algumas
espécies, como a lagosta espinhosa (Panulirus argus), podem ser encontradas tanto
em áreas próximas à costa quanto em paisagens marinhas mais profundas
associadas a fundos carbonatados.
A comparação das preferências de habitat das espécies listadas no
mapeamento participativo revelou que a maioria delas está associada a fundos
rochosos, seguidos por fundos de cascalho e rocha, e ambientes mistos de areia,
lama e cascalho. A diversidade de habitats e substratos presentes na área de
estudo é fundamental para a segurança alimentar das populações tradicionais. O
mapeamento participativo permitiu uma maior integração do conhecimento local
com os dados científicos, proporcionando uma calibração necessária para a
compreensão da distribuição dos habitats marinhos.
Certos habitats marinhos têm uma relação estreita com a presença e a
abundância de espécies. Por exemplo, quando há uma grande quantidade de
gramíneas marinhas e algas, é comum encontrar cefalópodes, peixes bentônicos e
crustáceos. Reconhecemos agora a importância dos habitats complexos, como
florestas marinhas e gramíneas marinhas, que desempenham um papel
fundamental como provedores de serviços ecossistêmicos.
No nosso estudo, utilizamos um protocolo científico padronizado e contamos
com o conhecimento local para mapear não apenas os habitats, mas também as
espécies associadas a eles. Essa abordagem nos forneceu ferramentas para a
gestão dos recursos marinhos e a elaboração de planos de conservação. Um
exemplo prático disso é o apoio que nosso trabalho oferece para a criação de uma
Área Marinha Protegida, com o objetivo de garantir a segurança alimentar dos
pescadores da comunidade Tremembé, em Almofala e Tapera. Essa abordagem
baseada no conhecimento local permite uma gestão mais eficaz dos recursos
marinhos.
Além disso, a aplicação dessas abordagens de mapeamento que valorizam o
conhecimento local nos permite realizar mapeamentos mais abrangentes em áreas
onde os métodos científicos convencionais podem ser limitados. Isso nos ajuda a
validar as relações entre a presença de espécies e habitats específicos, facilitando a
proteção de espécies e habitats vulneráveis. A participação ativa das comunidades
locais nos processos de conservação e gestão é fundamental para uma abordagem
efetiva e inclusiva.
Em resumo, nosso estudo ressalta a importância dos habitats marinhos
complexos e a relevância do conhecimento local na conservação e gestão dos
recursos marinhos. A integração do conhecimento científico com o conhecimento
local nos permite tomar decisões mais informadas e fortalecer a conexão entre as
comunidades locais e as autoridades responsáveis pela gestão dos recursos
marinhos.

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