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VITÓRIA
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
VITÓRIA
2022
GABRIEL DOS REIS DUARTE VERÍSSIMO
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. Renato Nunes de Lima Seixas
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador
________________________________________
Profª. Drª. Ana Carolina Giuberti
Universidade Federal do Espírito Santo
________________________________________
Prof. Dr. Guilherme Armando de Almeida Pereira
Universidade Federal do Espírito Santo
AGRADECIMENTOS
Agradeço minha família que me apoiou em todas as etapas da vida e sei que
continuará apoiando em todos os futuros desafios.
Aos meus amigos, tanto de dentro do curso, quanto de fora, que me possibilitaram
ter uma jornada mais tranquila durante esses anos de graduação.
Ao Éder Luís cujo gol aos 12 minutos do segundo tempo na final da Copa do Brasil
de 2011 possibilitou ao Club de Regatas Vasco da Gama vencer o título daquela edição da
competição.
Por fim, aos colegas e professores que deram vida ao GEPP (Grupo de Estudos em
Políticas Públicas) no ano de 2018. Estar neste grupo me permitiu conhecer muito mais
sobre as ciências econômicas do que qualquer outra atividade que eu havia praticado até
aquele momento. Em especial agradeço à professora Drª. Ana Carolina Giuberti que
auxiliou na idealização desta monografia e ao professor Dr. Renato Nunes de Lima Seixas
que orientou este trabalho e auxiliou nas diversas dificuldades que apareceram no meio do
caminho.
RESUMO
The purpose of this essay is to estimate the impact of the Nota Vitória program on
collection of the tax on services (ISS) by the municipality of Vitória, capital of Espírito Santo.
The estimation is done using the difference-in-differences method, we use the other
municipalities of the state as the control group. Regarding the results, although no robust
impact was found on tax revenue following the introduction of the policy when relating Vitória
to all the other municipalities in the state, a positive impact of the policy was found when
Vitória was compared to the other municipalities in the metropolitan region of the state, which
seem to be a superior control group given their geographical and economic proximity to
Vitória. The magnitude of this impact could not be precisely estimated. These results lead
to discuss and reflect on strategies for the application of policies of the same nature.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 9
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 30
1 INTRODUÇÃO
9
É diagnosticado então o problema da evasão e elisão fiscal no Brasil, que, embora
sejam dados de difícil captura, dada a complexidade tributária do país (BIDERMAN e
ARVATE, 2004), diversas estimativas, como já foram aqui apontadas, indicam elevadas
perdas devido à sonegação. Do diagnóstico surgem políticas que se complementam na
busca por melhores indicadores. Resta, portanto, avaliar estas políticas para saber se estão
empregando de forma eficiente os recursos disponíveis e inferir, através das evidências
empíricas, formas aprimorar as atuais e futuras políticas a serem implementadas.
O trabalho aqui apresentado se propõe a avaliar uma das políticas anti-evasão fiscal
aplicadas no território nacional, a Nota Vitória, que faz parte dos programas que surgiram
inspirados pela pioneira Nota Fiscal Paulista. Partindo de semelhante desenho e princípios
teóricos, o programa está em funcionamento desde a segunda metade do ano de 2014, no
município de Vitória, capital do Espírito Santo. A avaliação deste programa se mostra ainda
mais relevante no presente, pois já foi desenvolvida pela Secretaria de Estado da Fazenda
(SEFAZ) do Espírito Santo a Nota Premiada Capixaba, política muito semelhante à Nota
Vitória, que circula não apenas na capital e sim por todo o território espírito-santense.
A avaliação de programas públicos faz parte da crescente agenda de “políticas ba-
seadas em evidências” (GERTLER, MARTINEZ, et al., 2018), o que se busca dentro dessa
agenda é que, por meio do monitoramento e avaliação das políticas sociais, os entes go-
vernamentais se tornem mais transparentes quanto à prestação de contas à sociedade,
mas também adquiram capacidade de inovação e aprendizado, uma vez que as avaliações
buscam responder perguntas sobre os programas implementados, gerando informações de
uso interno (no mesmo programa) e externo (para outros programas que venham a surgir).
Embora a presente análise seja restrita, ainda busca-se responder a perguntas
chave no processo de avaliação (FILHO, PEIXOTO, et al., 2016), como qual fora a magni-
tude do impacto do programa, além de discutir também a validade das teorias que serviram
como base ao desenho da política, podendo, por fim, fornecer dados que auxiliem no pro-
cesso de formulação de novos programas dessa natureza.
Desta forma, busca-se contribuir para a literatura que discute incentivos fiscais.
Neste caso, buscando saber se estímulos dados aos consumidores para que estes ajam
como “auditores fiscais” são eficientes no sentido de afetar positivamente a arrecadação
tributária. Especificamente busca-se por meio do estudo da Nota Vitória, entender como
esse programa pode produzir efeitos para o Estado do Espirito Santo como um todo, como
está previsto para acontecer com a implementação da já citada Nota Premiada Capixaba.
A partir dos resultados aqui encontrados, pretende-se discutir ênfases ou mudanças
estratégicas na implementação da nova política.
10
Para responder as perguntas levantadas, parte-se da hipótese de que o programa
de incentivo fiscal “Nota Vitória” teve impacto positivo na arrecadação do ISS – Imposto
Sobre Serviços – da capital capixaba quando comparada aos demais municípios do Espírito
Santo. Negar a hipótese do modelo significa indicar que não há qualquer impacto do
programa sobre a arrecadação municipal ou que esse impacto é negativo.
Sendo aceita ou negada a hipótese de partida, o presente estudo busca trazer
evidências que auxiliem as decisões políticas de desenho e implementação de programas
fiscais dessa natureza.
Em conclusão, o presente trabalho trata de temas que são tanto de interesse técnico
quanto público, no cenário atual de crise e reforma. Conhecer com maior proximidade os
pontos fortes e fracos das políticas que se encontram em curso é vital para a superação
dos desafios nacionais.
Este trabalho está dividido em quatro partes além desta introdução. Na seção 2 en-
contra-se uma breve revisão bibliográfica que serviu de fundamentação teórica para esta
pesquisa. A seção 3 conta com apresentação dos dados utilizados e de suas fontes, além
da metodologia utilizada para realizar as estimações econométricas. A seção 4 apresenta
os resultados e, por fim, na seção 5 encontra-se o balanço geral da pesquisa em sua con-
clusão.
11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Fora comentado aqui sobre a importância cada vez maior que vem sendo atribuída
à implementação de políticas públicas baseadas em evidências. É importante, todavia,
salientar que antes do trabalho empírico há o trabalho teórico, pois é vital que exista uma
teoria da mudança por trás de uma política, i.e., uma descrição da lógica causal por trás do
programa e os mecanismos pelos quais se espera que as variáveis interajam entre si
(GERTLER, MARTINEZ, et al., 2018).
No caso da Nota Vitória e de outros programas anti-evasão fiscal uma pergunta que
pode ser tomada de partida é o que leva indivíduos a pagar impostos e como reforçar esse
estímulo. Uma das primeiras teorias que dão base ao pensamento dos motivos para
indivíduos pagarem ou evadirem impostos está na abordagem de economia do crime
proposta por Gary Becker. Dentro dos modelos derivados dessa abordagem, o medo de
detenção é o único motivo para pagamento de tributos: o indivíduo dotado de racionalidade
econômica deve reportar uma renda baixa caso tenha uma possibilidade também baixa de
ser auditado (MATTOS, ROCHA e TOPORCOV, 2013).
Ainda na teoria é possível encontrar em Jon Elster (1989) uma explanação sobre
normais sociais, estas que seriam pensadas como algo além do “homo economicus”, ou
seja, a norma social não é algo aceito considerando apenas um resultado vantajoso,
normas sociais se prendem à mente das pessoas pelas emoções que elas vêm a engatilhar.
O pagamento de impostos, ainda segundo Elster, pode ser visto como uma norma de
cooperação. Tendo isso em mente, o governo pode agir com políticas de conscientização
que levem os indivíduos a enxergar o cumprimento das regras fiscais como uma norma
social, atacando assim a sonegação de impostos (ELSTER, 1989).
Dentre os problemas enfrentados para combater a evasão fiscal ainda está a
possível formação de conluios entre firmas e consumidores. A norma social estabelecida
entre consumidores pode ser justamente a de não se cobrar por notas fiscais de forma a
não “prejudicar” a firma, preferindo talvez ganhar um desconto ao invés de fazer a empresa
pagar impostos corretamente. Esse fenômeno pode ser observado, por exemplo, em
sociedades onde os indivíduos não sentem que as instituições políticas representam seus
interesses e preferências (FREY e TORGLER, 2007). Isto posto, o governo deve buscar
meios de tornar o conluio custoso para a firma e desvantajoso para o consumidor. Conforme
expõe Naritomi (2019), firmas que lidam com alto número de consumidores diferentes estão
mais expostas aos riscos de se firmar um conluio evasivo. Esses riscos se agravam caso
os consumidores possuam canais para denunciar tais práticas à autoridade fiscal. Sendo
12
assim, a criação de tais canais mostra-se relevante para o formulador de políticas. Outra
ferramenta que pode se mostrar relevante é a realização de sorteios. Esse instrumento age
de forma diferente sobre os consumidores, que, seja pelo gosto por apostas, seja por vieses
comportamentais, acabam por inflar o valor percebido dos prêmios sorteados, de forma que
se torna mais custoso para a firma igualar os incentivos do governo por meio de descontos
ou outros mecanismos (NARITOMI, 2019).
Conforme já fora exposto, o Brasil enfrenta problemas históricos referentes à
sonegação fiscal. Por esse motivo políticas incentivando a participação popular no processo
de coleta de impostos já circulam no país há algum tempo, todavia, certamente evoluindo
tanto quanto no que tange à teoria base, mas também nas tecnologias aplicadas para
realização dos programas.
No Espírito Santo, objetivando aumentar a arrecadação do ICM – Imposto sobre Cir-
culação de Mercadorias -, foi instaurada no governo de Eurico Resende (1979-1983) em
novembro de 1980, o programa “Amigos do Jucapixaba”, que tinha como slogan “O ICM é
do povo”. O projeto incentivava o público a juntar notas fiscais de suas compras para trocar
por figurinhas e completar o álbum do personagem “Jucapixaba” (LAVOR, 2003). O pro-
grama rendeu à secretaria da fazenda uma premiação pela Associação dos Dirigentes de
Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) -. Já no ano de 2002, na Bahia, foi criado o programa
Sua Nota é um Show, também estimulando os consumidores a guardarem suas notas fis-
cais, neste caso, para que pudessem ser trocadas por ingressos para eventos culturais
(MATTOS, ROCHA e TOPORCOV, 2013).
Programas buscando conscientizar os consumidores a praticar a chamada “cidada-
nia fiscal”, portanto, já existiam, mas faltava ainda a tecnologia que permitisse melhor fis-
calização e recolhimento das informações de natureza tributável. Conforme pontuam Mat-
tos, Rocha e Toporcov (2013) esse avanço tecnológico surge em 2005, com a implemen-
tação da NF-e – Nota Fiscal Eletrônica – que trouxe uma série de novas possibilidades de
formulação de políticas anti-evasão fiscal. A plataforma da NFe possibilitou a implementa-
ção de duas políticas pioneiras: a Nota Fiscal Paulista e a Nota Fiscal Alagona. A tecnologia
eletrônica difundiu-se ainda por diversas outras regiões, sendo apropriada, inclusive, no
município de Vitória-ES pelo programa Nota Vitória.
Devido ao seu caráter precursor e também à grande disponibilidade de dados
propiciada pela Secretaria da Fazenda e Planejamentos do estado de São Paulo, a Nota
Fiscal Paulista reúne em torno de si as maiores atenções e rendeu estudos empíricos de
impacto. O estudo considerado pioneiro sobre o tema foi o de Mattos, Rocha e Toporcov
(2013). Neste artigo os autores tomam como período de análise janeiro/2005 até abril/2010
13
onde comparam, a partir de um modelo econométrico de diferenças em diferenças, o
impacto da NFP sobre a arrecadação real e no setor terciário do Imposto Sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) ––no Estado de São Paulo em comparação aos demais
estados nacionais. Os resultados encontrados foram de aumento na arrecadação do ICMS
no setor terciário de 5% a 10% (variando de acordo com as especificações do modelo),
entretanto, considerando os custos do programa (benefícios entregues aos participantes) o
aumento é ainda mais tímido, ficando na casa dos 2%.
Já em 2019 foi elaborado por Naritomi um artigo mais abrangente tratando de aferir
o impacto da Nota Fiscal Paulista em diversas variáveis, como comportamento das firmas
e dos consumidores além de também buscar aferir o impacto fiscal da política no estado de
São Paulo. Embora o artigo busque responder diversas perguntas, o que mais interessa
como base ao presente trabalho é a comparação feita pela autora entre firmas de varejo e
atacado, colocando o varejo como grupo de tratamento (aquele que será diretamente mais
afetado pela política) e o atacado como controle (grupo que, embora também englobado
pela política, será bem menos afetado). A aferição do impacto no grupo tratado é aqui
também feita com auxílio do método de diferenças em diferenças. O período de análise foi
de janeiro/2004 até dezembro/2011. Entre os resultados encontrados por Naritomi
destacam-se o de que as receitas reportadas no setor de varejo cresceram em 21% nos
primeiros quatro anos desde a implementação da NFP. Além disso, estimou-se que as
obrigações fiscais reportadas aumentaram em 25,9%, de forma que mesmo considerando
os benefícios dados aos participantes, o impacto líquido foi um aumento na receita fiscal do
governo de 9,3%.
Outros dois dados observados por Naritomi foram que, firmas denunciadas por
consumidores passam a reportar 7% mais notas fiscais e 3% a mais de receita após receber
a primeira reclamação. Outro dado é que consumidores que ganham sorteios passam a
pedir mais notas fiscais, até mesmo após vencer pequenos prêmios. Ambos achados são
consistentes com as teorias que baseiam a política.
Há, portanto, aparente divergência entre os trabalhos citados, com respostas mais
pessimistas ou otimistas quanto ao impacto da NFP. É importante, porém, observar que há
diferença entre os dados utilizados. No primeiro trabalho (MATTOS, ROCHA e TOPORCOV,
2013) as observações são agregadas pelos três tradicionais setores econômicos (grosso
modo: extração, transformação e serviços). Já Naritomi (2019) agrega, de acordo com as
classificações do CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas -, 92 setores
diferentes em varejo e mais 120 setores em atacado, totalizando 212 setores com mais de
600.000 firmas compondo a análise empírica. As estratégias diferentes dos autores e os
14
diferentes níveis de agregação dos dados podem justificar ao menos parte da diferença no
resultado final de ambos. É importante, portanto, ter bastante cuidado ao comparar
resultados de artigos que, embora estudem o mesmo objetivo, são distintos entre si.
O que pode-se observar com a crescente adoção de políticas de fomento à cidadania
fiscal, com seus fundamentos teóricos e com os resultados dos estudos empíricos já
realizados, é que faz sentido adotar a hipótese de que a Nota Vitória tenha efeitos positivos
sobre a arrecadação da capital capixaba, ao mesmo tempo, a bibliografia estudada mostra
que é preciso cautela ao analisar os dados, buscando ter de forma clara as limitações do
estudo.
15
3 ESTRATÉGIA EMPÍRICA
3.1 DADOS
16
3.2 METODOLOGIA E MODELO ECONOMÉTRICO
17
TABELA 1 - ESTIMAÇÃO UTILIZANDO DIFERENÇAS EM DIFERENÇAS
Prevalece, portanto, o que fora antes descrito: para que se faça uma medição
confiável, deve-se levar em conta a trajetória do objeto. Ainda assim o método de diferenças
em diferenças apresenta limitações. Quando se usa DD pressupõe-se que, na ausência da
política, o grupo tratado seguiria a mesma tendência do grupo de controle. Para que seja
possível tomar tal pressuposto, ambos os grupos precisam ter trajetória similar quanto ao
comportamento da variável de interesse antes da implementação da política.
Com auxílio do Gráfico 1 é possível melhor visualizar a aferição do impacto quando
respeitados estes requisitos. Este gráfico, utilizando de dados fictícios, mostra um cenário
ideal. Até o Período 0, que teria sido o momento de implementação da política, os dois
grupos seguiam tendências paralelas, mas a partir deste ponto as tendências divergem.
Neste caso é possível estimar, com bom nível de segurança, que o impacto da política
introduzida no Período 0 foi de 3,5 quando analisado no período 1.
Quando as trajetórias entre os grupos são paralelas, como visto, é possível assumir
que o grupo de comparação é um bom contrafactual para o controle. Por outro lado, caso
não se verifique este pressuposto, a análise utilizando diferenças em diferenças segue
enviesada. O Gráfico 2 demonstra um exemplo onde o impacto de um programa é
superestimado por não se respeitar o pressuposto. Neste caso o impacto calculado é
novamente de 3,5, todavia, uma curva apresenta tendência de queda e outra de subida,
dessa forma não é possível atribuir todo este impacto à política instituída no Período 0.
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GRÁFICO 1 – VARIAÇÃO ENTRE O GRUPO DE CONTROLE E TRATAMENTO
14
13,5
12
11
10 10 10
9 9
8 8
7
14
13,5
11
10,5
10 10 10
9
8
7,5
7
6,5
19
a problemática estudada (programas de incentivo à solicitação de notas fiscais) por meio
da utilização de ferramentas econométricas que objetivam controlar todas as variáveis
importantes para o modelo. É possível então, a partir dos dados anuais, construir um
modelo que estime valores para dois períodos, antes e depois do ano de implementação
da política.
O impacto pode ser estimado utilizando-se o seguinte modelo econométrico:
20
4 RESULTADOS
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA
TABELA 2 – ESTATÍSTICAS
21
A linha tracejada na vertical presente em todas as representações demarca o ano em que
a Nota Vitória entrou em operação.
22
4.2 RESULTADOS ECONOMÉTRICOS
23
TABELA 3 – IMPACTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA NOTA VITÓRIA
***
Notes: Significant at the 1 percent level.
**
Significant at the 5 percent level.
*
Significant at the 10 percent level.
Fonte: Elaboração Própria Erros padrões agrupados por município.
24
TABELA 4 – IMPACTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA NOTA VITÓRIA
(APENAS REGIÃO METROPOLITANA)
***
Notes: Significant at the 1 percent level.
**
Significant at the 5 percent level.
*
Fonte: Elaboração Própria Significant at the 10 percent level.
Erros padrões agrupados por município.
25
ISS per capita da capital capixaba. Em termos brutos, a regressão linear indica um impacto
de cerca de 30 milhões, utilizando dados de população para Vitória coletados no ano de
2017. Este resultado é corroborado ao se estimar a regressão para os valores nominais das
variáveis sem dividir pela população.
Dadas as diferenças nas magnitudes estimadas, não parece seguro afirmar um
impacto tão grande para a política como aquele estimado pela regressão 4, todavia, o fato
de que foi encontrada significância estatística independentemente da forma funcional,
aponta que relacionando Vitória aos seus vizinhos metropolitanos, o programa Nota Vitória
parece ter tido impacto positivo sobre a arrecadação do Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza.
Na Tabela 5 é testada a robustez dos resultados da regressão 4 vista na Tabela 4. O
teste é realizado utilizando como variáveis dependentes o logaritmo de outros impostos que
não são o objeto direto da Nota Vitória. Estes sendo o ITBI per capita (Imposto sobre
transmissão de bens imóveis), IPTU per capita (Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana) e o IRRF per capita (Imposto sobre a renda retido na fonte).
Os resultados obtidos pelas regressões 1, 2 e 3 da Tabela 5 mostram que, como
esperado, não há impacto da variável de interesse em nenhum dos três impostos utilizados
para o teste. Esse achado traz maior credibilidade ao modelo e, consequentemente, aos
seus resultados.
Embora deva-se ter cautela ao aceitar ou recusar a hipótese nula deste trabalho, ou
seja, a de que a Nota Vitória teve impacto positivo na arrecadação do município, a
consistência de resultados estatisticamente significativos e positivos na análise que toma
somente os demais municípios da região metropolitana, estes que são mais próximos de
Vitória tanto geograficamente quanto economicamente, dá um indicativo de que a política
foi sim efetiva, mesmo que não seja possível aqui estimar de forma precisa a magnitude
deste impacto.
Faz-se necessário comentar que futuros trabalhos analisando este tema são muito
importantes para responder de forma cada vez mais solida essa pergunta, sobretudo
pesquisas que usem um horizonte temporal mais amplo.
26
TABELA 5 – IMPACTO DA INTRODUÇÃO DO PROGRAMA NOTA VITÓRIA NA
ARRECADAÇÃO DE OUTROS IMPOSTOS
***
Notes: Significant at the 1 percent level.
**
Significant at the 5 percent level.
*
Significant at the 10 percent level.
Fonte: Elaboração Própria Erros padrões agrupados por município.
Modelos sem covariadas
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5 CONCLUSÃO
Como fora discutido, as tecnologias que possibilitaram políticas como a Nota Vitória
ainda são recentes, a maioria dos ainda escassos trabalhos que avaliam este tipo de
política pública focaram na NFT (Nota Fiscal Paulista) e obtiveram resultados variados.
Como já discutido, Naritomi (2019) e Mattos, Rocha e Toporcov (2013) observaram em
seus trabalhos impactos bastante diferentes da NFT na arrecadação de impostos estaduais
no estado de São Paulo, sendo, respectivamente, em um trabalho de 9,3% e em outro de,
no máximo, 2% quando descontados os valores dados em prêmios aos participantes.
Além desses dois trabalhos, uma outra pesquisa realizada em 2015 encontrou,
também utilizando um modelo de diferenças-em-diferenças, que até o mês de outubro de
2014, a arrecadação real do ICMS no estado de São Paulo haveria aumentado em 12% em
relação à média (SANTOS, MENDONÇA e CASSUECE, 2015). Já em 2019, em trabalho
de Júnior, Machado, Nuncio e Neto, utilizando-se de métodos diferentes daqueles até aqui
apresentados, não foi encontrado qualquer impacto da introdução da NFT no crescimento
nominal do ICMS no estado de São Paulo. Porém as conclusões mais interessantes do
artigo são as de a NFP afeta os repasses do ICMS, prejudicando sobretudo os municípios,
além de ser de caráter regressivo, privilegiando os mais ricos (que compram mais produtos),
não promovendo, dessa forma, a construção de cidadania para todos (JÚNIOR, MACHADO,
et al., 2019).
As conclusões dos estudos expostos acima apontam para o fato de que as
discussões que concernem políticas de incentivo à cidadania fiscal não estão encerradas e
ainda carecem de novas contribuições para consolidação da literatura. Tratando do caso
específico do Espírito Santo, o presente trabalho é o primeiro que explora a Nota Vitória,
política pioneira no estado, sendo assim novos estudos são necessários para que
conclusões mais substanciais possam ser tomadas.
Quanto aos resultados observados neste estudo, pode-se concluir que não há
evidência robusta de que a Nota Vitória tenha aumentado a arrecadação do ISS do
município quando comparado com todos os demais municípios do estado. Por outro lado,
no caso do modelo que considera apenas a região metropolitana, prevalecem os resultados
que apontam para impacto positivo e estatisticamente significante da introdução da política
no município de Vitória. Este segundo resultado é interessante e, embora não permita
afirmações categóricas sobre a magnitude do impacto, parece indicar que, ao utilizar um
grupo de controle mais adequado, a eficácia da política aparece e é consistente entre
diferentes formas funcionais.
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Mesmo encontrando indícios de impacto positivo da Nota Vitória na arrecadação, é
importante discutir sobre sua implementação. O principal ponto a ser ressaltado é a
escassez de informações a respeito do programa; embora a prefeitura de Vitória tenha um
portal dedicado à política, pesquisas em buscadores eletrônicos relacionados à política da
capital capixaba retornam poucos resultados relevantes, sobretudo se comparar com o
caso da Nota Fiscal Paulista, política amplamente divulgada nas mais diversas mídias e
com diversos dados abertos ao público, como o placar de créditos que já soma um total de
R$ 15.579.003.882,00 créditos liberados para milhões de pessoas desde a implementação
da política (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2021). A ausência de maior
divulgação pode ser um dos motivos do porquê, em 2017, apesar de estar mostrando
resultados, a política ainda não estava tendo a adesão esperada pela prefeitura de Vitória
(SILVA, 2017). Para além disso, abertura desse tipo de dados pode permitir uma futura
estimativa da receita líquida de prêmios que a Nota Vitória traz ao município.
Por fim, como já fora antes mencionado, o governo do Espírito Santo lançou
recentemente a Nota Premiada Capixaba. O programa entrou em circulação em dezembro
de 2021 e já contou com dois sorteios. A política estadual ainda é muito jovem para que seu
impacto seja avaliado, todavia, tendo em vista os resultados do presente estudo e também
daqueles que vieram anteriormente, existem evidências que justificam a implementação
desta política e dão motivos para se ter uma expectativa de ganhos de arrecadação após
a implementação. Porém, a literatura de avaliação de tais políticas ainda é incipiente no
Brasil e não possui resultados uniformes. A Nota Premiada Capixaba tem o rastro de outras
políticas de mesma natureza para seguir, e utilizar-se das estratégias que vêm sendo
implementadas por programas como a NFP (como a ampla divulgação de informações
sobre a política) e a própria Nota Vitória (como troca de notas por ingressos de futebol,
sorteios etc.), parece ser um caminho promissor para se alcançar os objetivos traçados.
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