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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais


Curso de Ciências Contábeis

Luiz Henrique Santos do Prado

A AÇÃO DAS LIMITAÇÕES FINANCEIRAS APLICADAS AO PLANEJAMENTO


TRIBUTÁRIO DAS COMPANHIAS NO BRASIL

Belo Horizonte
2021
Luiz Henrique Santos do Prado

A AÇÃO DAS LIMITAÇÕES FINANCEIRAS APLICADAS AO PLANEJAMENTO


TRIBUTÁRIO DAS COMPANHIAS NO BRASIL

Monografia apresentada ao curso de Ciências


Contábeis da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof. José Vuotto Nievas

Área de concentração: Planejamento tributário

Belo Horizonte
2021
Luiz Henrique Santos do Prado

Monografia apresentada ao curso de Ciências Contábeis do Instituto de Ciências


Econômicas e Gerenciais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

A AÇÃO DAS LIMITAÇÕES FINANCEIRAS APLICADAS AO PLANEJAMENTO


TRIBUTÁRIO DAS COMPANHIAS NO BRASIL

RESUMO DAS AVALIAÇÕES:

1. Do professor orientador __________


2. Da apresentação oral __________
3. Nota final __________

CONCEITO __________
Aos meus pais, Heloísa e José.
À minha irmã, Ana.
RESUMO

O planejamento tributário no Brasil e as questões que o abrangem são alvo de debates e estudos
com mais frequência nos últimos anos, devido a grande carga tributária enfrentada pelas com-
panhias atuantes no país. A principal pauta dos estudos mais atuais se trata da busca pelos de-
terminantes da gerência dos tributos e da busca pela elisão fiscal, o que desperta nas companhias
a necessidade de gerenciar seus valores tributários. Nesta pesquisa, analisa-se a ação das limi-
tações financeiras sore os comportamentos de planejamento tributário de uma companhia. O
objetivo geral do estudo se deu por verificar a relação direta entre as limitações financeiras e a
aplicação de mecanismos de planejamento tributário de companhias brasileiras. Para isso, es-
tudou-se o planejamento tributário de companhias do setor varejista e de engenharia presentes
na bolsa de valores B3 nos anos de 2017 a 2020, de forma a verificar valor percentual de des-
pesas tributárias sobre os lucros anuais através da Taxa efetiva de tributos (ETR). Também fo-
ram analisadas as situações financeiras das companhias de maneira a classificar o seu nível de
limitação financeira a partir de índices encontrados em suas demonstrações financeiras e notas
explicativas. Como resultado, descobriu-se relação direta entre a limitação financeira das com-
panhias e o seu planejamento tributário, uma vez que a taxa efetiva de tributos diminuía na
medida em que as organizações se encontravam mais limitadas ou, até mesmo, em crise. Tal
resultado implica que as companhias, quando restringidas financeiramente, buscam métodos de
planejamento tributário e elisão fiscal como forma de reter e poupar seus recursos.

Palavras-chave: Planejamento tributário. Limitação financeira. Taxa efetiva de tributos


ABSTRACT

Tax planning in Brazil and the issues that cover it have been the subject of debates and studies
more frequently in recent years, due to the high tax burden faced by companies operating in the
country. The main agenda of the most current studies is the search for the determinants of tax
management and the search for tax avoidance, which arouses in companies the need to manage
their tax values. In this research, the action of financial limitations on the tax planning behaviors
of a company is analyzed. The general objective of the study was to verify the direct relationship
between financial limitations and the application of tax planning mechanisms for Brazilian
companies. To this end, we studied the tax planning of companies in the retail and engineering
sectors present on the B3 stock exchange in the years 2017 to 2020, in order to verify the per-
centage value of tax expenses on annual profits through the Effective Tax Rate (ETR). The
financial situations of the companies were also analyzed in order to classify their level of finan-
cial limitation based on indices found in their financial statements and explanatory notes. As a
result, a direct relationship was found between companies' financial constraints and their tax
planning, since the effective tax rate decreased as organizations were more limited or even in
crisis. This result implies that companies, when financially restricted, seek methods of tax plan-
ning and tax avoidance as a way of retaining and saving their resources.

Keywords: Tax planning. Financial limitation. Effective tax rate.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura das participações – Magazine Luiza ........................................................ 48


Figura 2 - Estrutura societária – Lojas Americanas .................................................................. 49
Figura 3 - Composição acionária - MRV.................................................................................. 50
Figura 4 - Estrutura acionária – Tenda ..................................................................................... 51
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Ativo total ............................................................................................................... 53


Gráfico 2 – Lucro líquido ......................................................................................................... 55
Gráfico 3 - Dividendos ............................................................................................................. 56
Gráfico 4 – Comprometimento com dividendos ...................................................................... 57
Gráfico 5 – Alavancagem financeira ........................................................................................ 59
Gráfico 6 - ROA ....................................................................................................................... 61
Gráfico 7 - Taxa efetiva de tributação - ETR ........................................................................... 63
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Ativo total ................................................................................................................ 53


Tabela 2 – Lucro líquido ........................................................................................................... 54
Tabela 3 – Pagamento de dividendos ....................................................................................... 55
Tabela 4 – Comprometimento com dividendos ........................................................................ 56
Tabela 5 – Alavancagem financeira .......................................................................................... 59
Tabela 6 - ROA ......................................................................................................................... 61
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 19
1.1 Formulação do problema ................................................................................................. 19
1.2 Metodologia da pesquisa .................................................................................................. 22
1.3 Estrutura do trabalho ...................................................................................................... 25

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 27


2.1 Contabilidade .................................................................................................................... 27
2.2 Contabilidade fiscal e tributária ..................................................................................... 29
2.3 Regimes Tributários ......................................................................................................... 31
2.3.1 Simples Nacional ............................................................................................................. 31
2.3.2 Lucro Presumido.............................................................................................................. 33
2.3.3 Lucro Real ....................................................................................................................... 36
2.4 Planejamento tributário ................................................................................................... 38
2.5 Elisão fiscal ........................................................................................................................ 40
2.6 Limitações financeiras ...................................................................................................... 42
2.7 Identificação do Planejamento Tributário ..................................................................... 44
2.7.1 Taxa Efetiva da Tributação – ETR................................................................................... 45
2.8 Pesquisas anteriores ......................................................................................................... 46

3 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS ......................................................................... 47


3.1 Varejo ................................................................................................................................. 47
3.1.1 Magazine Luiza S.A. ........................................................................................................ 47
3.1.2 Lojas Americanas S.A. ..................................................................................................... 48
3.2 Engenharia ........................................................................................................................ 49
3.2.1 MRV Engenharia e Participações S.A. ............................................................................ 50
3.2.2 Construtora Tenda S.A..................................................................................................... 51

4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA........................................................................... 52
4 .1 Caracterização da limitação financeira ......................................................................... 52
4 .1.1 Tamanho ......................................................................................................................... 52
4 .1.2 Dividendos ...................................................................................................................... 54
4 .1.3 Recompra de ações ......................................................................................................... 57
4 .1.4 Alavancagem financeira ................................................................................................. 58
4 .1.5 Classificação de risco de crédito ................................................................................... 60
4 .1.7 Aspectos de controle ....................................................................................................... 60
4 .1.7.1 Retorno sobre Ativos (ROA) ....................................................................................... 60
4 .1.7.2 Governança Corporativa ............................................................................................ 62
4 .1.7.3 Crise ............................................................................................................................ 62
4 .2 Taxa efetiva de tributos – ETR ....................................................................................... 63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 67
19

1 INTRODUÇÃO

1.1 Formulação do problema

A contabilidade fiscal e tributária é o ramo da contabilidade que objetiva a correta


aplicação prática de conceitos, princípios e normas básicas da contabilidade e da legislação
fiscal, de maneira paralela e consistente (FABRETTI, 2015).
Sendo um ramo da contabilidade, é necessário que demonstre a situação em que o
patrimônio se encontra assim como o resultado do exercício, de forma precisa e clara, atendendo
aos conceitos, princípios, pressupostos e normas básicas da maneira mais rigorosa possível. O
resultado que se apura deve ser economicamente exato (CAMARGO, 2017).
De forma ampla, a contabilidade fiscal e tributária, além de padronizar e direcionar o
tratamento de informações fiscais, ela detém mecanismos que são responsáveis por desenvolver
e aplicar estratégias empresariais que abrangem o setor tributário.
O planejamento tributário se apresenta como uma poderosa ferramenta de gestão
financeira utilizado pelas organizações em todo o mundo, uma vez que é o principal responsável
por diminuir o impacto fiscal na estrutura de despesas das empresas. No Brasil, a realidade
tributária se faz bastante complexa e gera inúmeros custos financeiros às empresas de todos os
portes, além de provocar constante insegurança em administradores e empresários, que muitas
vezes se veem perdidos ao tentar atender as exigências fiscais (CREPALDI, 2017).
Nesta perspectiva, a elisão fiscal, gerada pela boa gestão tributária, tem o objetivo de
descobrir mecanismos e ferramentas que possibilitem diminuir o gasto com tributos, através de
minuciosa averiguação da legislação brasileira vigente, além de simplificar o processo de
apuração de impostos por meio da diminuição de alíquotas ou de bases de cálculo.
Apesar de inúmeros projetos de reforma tributária serem discutidos de tempos em
tempos no congresso brasileiro, o nível fiscal nacional persiste em permanecer alto. Segundo
relatório da Receita Federal do Brasil (2018), o nível da carga tributária no país passou de 20%,
no ano de 1998, para 33,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 média que supera os
países da América Latina e Caribe (22%) (RFB, 2018).
Neste contexto de aumento tributário frequente, aliado à degradação político-econômica
temporária do país, é de se esperar que a arrecadação com tributos aumente exponencialmente,
mas tal ideia não representa a realidade. Apenas entre 2014 e 2015 a queda na arrecadação de
impostos foi de mais de 5%, o que se acredita ser decorrente da busca por uma melhor gestão
tributária feita pelas organizações.
20

Esse fato acaba por chamar a atenção de pesquisadores do setor tributário, que tentam,
através de estudos e pesquisas, identificar as causas geradoras da necessidade da gestão dos
tributos, além de medir a perda relacionada ao governo, na tentativa de instruir administradores
e gerentes públicos em direção à diminuição do problema do problema (POHLMAN &
IUDICIBUS, 2016).
A grande maioria destas pesquisas tem como alicerce a medição das não equivalências
contábeis e também fiscais (Book Taxer Differences – BTD) e das efetivas taxas de tributação
(Effective Tax Rate – ETR), ambas muito aceitas para a avaliação do planejamento tributário
organizacional (HANLON & HEITZMAN, 2015).
Outras características também analisadas pelos estudiosos são as estruturas
organizacionais e econômicas das empresas, isto é, o seu porte, o nivel de endividamento, a
quantidade necessária de recursos para a geração de renda, a presença ou não de conselho fiscal,
dentre outras (SILVA, 2017).
Além das características estruturais das companhias, os níveis de limitações financeiras
das empresas também são indicadores bastante focados pelos estudiosos para promover a
análise do crescimento do nível do planejamento tributário. Law e Mills (2015) basearam sua
pesquisa na quantificação de palavras negativas nas demonstrações apresentadas pelas
empresas americanas daquele ano como representação do valor relativo às limitações das
organizações.
Seguindo o exemplo, Edwards, Schwab e Shelvin (2016) apresentaram um estudo que
promovia a investigação acerca das limitações financeiras e a redução de gastos que a gestão
tributária gerava. Após a coleta de dados e a devida análise, os resultados do estudo indicaram
que existia correlação positiva entre as limitações financeiras e a diminuição dos gastos
provocados pela boa gestão tributária.
Neste sentido, uma parte dos pesquisadores citados chega à mesma conclusão quanto a
origem da relatividade entre a limitação financeira e o exercício do planejamento tributário. Na
parte de limitação de recursos, as ofertas de crédito do mercado se tornam fontes de débitos e
dores de cabeça para os administradores e gestores das companhias. O que instiga a procura de
novas formas de economia e redução de gastos. Sendo assim, o planejamento tributário se
apresenta como uma ferramenta que pode auxiliar a resolver tal necessidade, uma vez que a sua
mecânica principal é baseada em diminuir as bases de cálculo e os lucros tributáveis a fim de
maximizar o crédito fiscal e recolher o mínimo de tributos possível, observando o previsto em
lei.
21

Nesta linha, o presente estudo tem como proposta relacionar as limitações econômico-
financeiras das companhias brasileiras listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) com a procura
por benefícios de economia fiscal através do gerenciamento tributário.
Como relatado anteriormente, ao se depararem com problemas de limitação financeira,
as companhias procuram por soluções alternativas de economia, já que as opções tradicionais
de financiamento se tornam mais onerosas e complexas (EDWARDS, SCHWAB e SHELVIN
2016). Neste sentido, pesquisadores e estudiosos indicam que a economia gerada pelo
planejamento tributário pode também ser vista como uma destas fontes alternativas de
financiamento.
Tal atitude é abertamente estimulada tanto por pesquisadores quanto por gestores
públicos, uma vez que, “...em tempos de crise e limitações financeiras, as empresas tendem a
evadir tributos”, segundo o presidente do Office of Revenue Commissioners (ORC) da Irlanda.
Diante desta situação, a pergunta que direciona a presente pesquisa é: Existe uma relação
direta entre as limitações financeiras das organizações e o exercício do planejamento tributário
das empresas brasileiras listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão)?
O objetivo geral do estudo é examinar as possíveis relações diretas entre as limitações
financeiras e a execução de técnicas de gerenciamento tributário das empresas brasileiras
(exceto financeiras) listadas na B3 entre os anos de 2017 a 2020. Mais especificamente, este
estudo objetiva: comparar e analisar métricas de limitações financeiras, buscando encontrar
fatores comuns e explicitar as diferenças e igualdades dentre as variáveis; calcular a progressão
da taxa de efetividade dos tributos sobre o lucro (Effective Tax Rates – ETR) das empresas
brasileiras (exceto financeiras) listadas na B3 entre 2016 e 2020; e, definir os principais motivos
da diminuição da taxa de efetividade de tributos através da observação dos Demonstrativos
Contábeis e das notas explicativas das companhias.
Esta pesquisa tem a pretensão de contribuir com o emaranhado de pesquisas que
abrangem o planejamento tributário e pretende compreender seus determinantes. Apesar de este
ser o principal objetivo das atuais pesquisas da área, a explicação das desigualdades entre o
nível de gerenciamento tributário das empresas ainda não é tida como definitiva (REZENDE,
2015).
Os conhecimentos da área contábil são de extrema importância para estudos de aspecto
tributário e fiscal, uma vez que contam com os conhecimentos necessários para a correta análise
das demonstrações econômico-financeiras das companhias e que, se fundamentada nos corretos
aspectos contábeis e fiscais, pode trazer ricas contribuições ao longo do tempo (HANLON &
HEITZMAN, 2010).
22

Portanto, tais pesquisas são responsáveis por engrandecer a explicação dos malefícios e
recompensas do gerenciamento tributário e ajudar gestores públicos e governantes a
compreender as formas de gerenciamento de resultados das companhias.
Apesar da maioria das pesquisas sugerirem possíveis características padrão de
companhias empenhadas em planejar seus tributos, não existem muitas evidências de como a
situação financeira das empresas (positiva ou negativa) pode influenciar as suas práticas de
gerenciamento tributário.
Esta pesquisa se faz necessária no atual momento de crise e instabilidade político-
econômica enfrentada pelo país. Cada vez mais empresas se encontram em situação de
comprometimento financeiro e sérias dificuldades para a captação de recursos. Os últimos anos
não foram os melhores para os investidores e empresários brasileiros, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) encontra-
se em decréscimo. No ano de 2015 o país teve crescimento negativo, representando diminuição
de 3,8% em comparação com o ano anterior. Já em 2016, o país retraiu sua atividade econômica
cerca de 4% com relação a 2015. Após período de estabilidade, o índice voltou a cair.
Recentemente, tendo a economia sido impactada pela pandemia do novo Coronavírus, o PIB
registrou queda de 9,7% no segundo trimestre de 2020, colocando o país em situação de
recessão (IBGE, 2020).
Dado que o planejamento tributário é responsável por representar uma fonte de
financiamento e economia para as companhias, enriquecer a literatura acerca do assunto é de
extrema importância quando se trata de auxiliar gestores e administradores a superar suas
limitações financeiras decorrentes de situação econômica adversa.

1.2 Metodologia da pesquisa

Quanto aos objetivos esta pesquisa é classificada como exploratória, explicativa e


descritiva.
A pesquisa exploratória é realizada em áreas nas quais existem poucos conhecimentos
acumulados e sistematizados. De acordo com Gil (2017) ela auxilia na definição de objetivos e
no levantamento de informações sobre o assunto.
Esta pesquisa pode ser classificada como explicativa, pois um dos objetivos é o
aprofundamento do conhecimento de características relacionadas ao Planejamento Tributário,
buscando melhor compreender os seus aspectos intrínsecos.
23

A pesquisa descritiva trata da descrição das características de um determinado fenômeno.


Ela visa estabelecer relações entre variáveis que se manifestam espontaneamente e definir a sua
natureza. Ela não tem o objetivo de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base
para tal explicação (FILHO, 2015).
Esta pesquisa se caracteriza como descritiva uma vez que tem como objetivo a
identificação de uma possível relação entre as limitações financeiras presentes nas
administrações das companhias brasileiras e a utilização dos mecanismos do Planejamento
Tributário.
A presente pesquisa pode ser considerada de cunho qualitativo e quantitativo quanto à
abordagem do problema.
A pesquisa qualitativa, conforme evidenciado por Didio (2014) estuda as
particularidades de um fenômeno em torno de seus significados, aprofundando-se nos conceitos
de determinado assunto. De acordo com os referidos autores a pesquisa qualitativa analisa e
apresenta resultados predominantemente em formato de texto corrido, ideias, observações,
comparações e análise.
A pesquisa quantitativa de acordo com Filho (2015) coleta, quantifica e trata dados
obtidos através do uso de técnicas numéricas e ou estatísticas de amostragem e ou população.
Ela apresenta resultados através de tabelas, gráficos que foram analisados posteriormente.
A definição quantitativa será aplicada à pesquisa porque a estatística descritiva foi
utilizada para a elaboração de gráficos e tabelas.
No que diz respeito aos procedimentos técnicos, a pesquisa pode ser classificada como
bibliográfica, documental e estudo de caso.
A pesquisa bibliográfica segundo Marconi e Lakatos (2014) apresenta um levantamento
da bibliografia publicada, com a finalidade de colocar o pesquisador em contato com o que já
foi dito sobre determinado assunto. Dessa forma, Vergara (2013) conceitua a pesquisa
bibliográfica como o estudo sistematizado desenvolvido com base em livros, revistas, jornais
eletrônicos disponíveis ao público em geral.
Os principais estudos e bibliografias acerca do tema explorado estão compilados nesta
pesquisa, os mesmos foram encontrados em livros, artigos científicos e trabalhos acadêmicos.
A pesquisa documental de acordo com Filho (2015) apresenta como fonte de dados
documentos, eles irão auxiliar o pesquisador a responder as questões da pesquisa, os
documentos serão uma fonte de apoio.
24

São utilizadas neste estudo, as demonstrações contábeis e notas explicativas das


companhias pesquisadas para a devida análise estatística dos dados relacionados às limitações
financeiras e o planejamento tributário.
O estudo de caso conforme Gil (2017) consiste no estudo profundo e exaustivo de um
ou mais objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. É muito utilizado
como delineamento de estudos contemporâneos dentro do contexto real.
Segundo Vergara (2016) na coleta de dados o leitor deve ser informado como pretende
obter os dados de que precisa para responder ao problema. Não se esquecendo de correlacionar
os objetivos aos meios para alcançá-los.
Foram utilizadas informações encontradas nas demonstrações contábeis das companhias
brasileiras da Bolsa de Valores (B3), com o objetivo de identificar os seguintes dados:
a) Lucro Líquido antes dos tributos;
b) Despesas e gastos do período com tributação sobre o lucro e;
c) O número de despesas que foram diferidas a partir da tributação sobre o lucro.

Também foram utilizados dados encontrados no site da Bolsa de Valores (B3) que
identificam a aplicação da governança corporativa nas organizações estudadas, além de suas
notas explicativas.
Para Vergara (2016, p. 59), “o tratamento de dados refere-se àquela seção na qual se
torna explicito para o leitor como se pretende tratar os dados a coletar, justificando por que tal
tratamento é adequado aos propósitos da pesquisa”.
As demonstrações contábeis e as notas explicativas das companhias brasileiras listadas
na bolsa de valores (B3), exceto financeiras, são do período de 2017 a 2020. Delas foram
extraídas informações suficientes para a análise estatística da possível relação entre o nível de
limitação financeira das empresas e a utilização do Planejamento Tributário em suas
administrações.
Os dados extraídos foram submetidos ao cálculo da progressão da taxa de efetividade
dos tributos sobre o lucro (Effective Tax Rates – ETR), o que facilitará a identificação do índice
correspondente à relação entra a limitação financeira e o Planejamento Tributário.
A metodologia proposta para a pesquisa tem possibilidades e limitações. De acordo com
Vergara (2016, p. 61) “o pesquisador deve explicitar quais as limitações que o método escolhido
para a pesquisa oferece, mas que ainda assim o justificam como o método mais adequado aos
propósitos da investigação”.
25

A presente pesquisa apresenta as seguintes limitações: a insuficiência de informações e


detalhamento nas notas explicativas, o que pode gerar a necessidade de interpretação, em alguns
casos; e a neutralidade cientifica, uma vez que a opinião do autor não interferirá nas conclusões
e considerações do resultado estatístico.
De acordo com Filho (2015) a caracterização da organização deverá contemplar
informações sobre o perfil operacional da entidade, ano em que iniciou as atividades, mercado
de atuação, principais clientes, principais fornecedores, missão, visão, valores, metas,
estratégicas de mercado, responsabilidade social e ações de sustentabilidade.
A amostra da pesquisa é constituída por 4 companhias listadas na Bolsa de Valores (B3)
de dois setores distintos, engenharia e varejo, exceto as empresas financeiras. A escolha por
apenas empresas não financeiras se dá pela especificidade da legislação que atua sobre o setor
financeiro, que impactam diretamente os parâmetros fiscais das organizações. Também não
foram consideradas as companhias que apresentaram valores zerados ou negativos referentes
ao Lucro Antes do Imposto de Renda e Contribuição Social no período analisado.
Neste sentido, somente foram utilizadas empresas que apresentem informações
completas e que forneceram os dados necessários para a análise estatística aplicada nessa
pesquisa.

1.3 Estrutura do trabalho

Este projeto de pesquisa foi estruturado em 05 capítulos, no 1º capítulo consta a


introdução do tema no qual foi contextualizado o problema, foram evidenciados os objetivos e
as justificativas da pesquisa. Também foi explicitada a metodologia, nela consta a classificação
da pesquisa, a caracterização da organização/amostra pesquisada, a coleta de dados e o
tratamento dos dados
O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica, que tem como base os conteúdos
investigados por outros autores inerentes a temática proposta, contempla os assuntos relevantes
para a compreensão da pesquisa.
No terceiro capítulo, foi elaborada a caracterização das empresas, nesta parte descreve-
se também a caracterização societária das companhias pesquisadas, bem como o seu breve
histórico, influência no mercado, dentro e fora do seu setor, e a sua situação na bolsa de valores,
B3.
26

O quarto capítulo contém o desenvolvimento da pesquisa em si, apresentando alguns


conceitos adicionais, além da exposição e analises dos dados e informações coletados no estudo,
de modo a proporcionar base para responder os questionamentos propostos na pesquisa.
No quinto capítulo, foram elencadas as conclusões da pesquisa, juntamente com
argumentos de forma a responder os objetivos gerais da pesquisa, a análise das interpretações
dos dados feita em conjunto e recomendações para pesquisas futuras.
Ao final da pesquisa, encontram-se os referenciais bibliográficos estudados e citados ao
longo do estudo.
27

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo da pesquisa está estruturado desta forma: o tópico 2.1 apresenta conceitos
básicos da contabilidade necessários para o entendimento geral do assunto. No tópico 2.2,
assuntos voltados à interpretação fiscal e tributária da contabilidade são explorados, a fim de
promover ligações entre a base teórica e o entendimento específico. Logo após, no tópico 2.3,
são apresentados alguns dos regimes tributários mais recorrentes em empresas brasileiras e a
suas particularidades. Da mesma forma, no tópico 2.4, os conceitos e entendimentos acerca do
planejamento tributário são explicados e aprofundados. No tópico 2.5, a elisão fiscal é
conceituada e relacionada com os instrumentos teóricos da contabilidade tributária. No tópico
2.6, são apresentados os diversos tipos de limitação financeira, como podem afetar as
organizações e as formas de reverter e contornar estas condições. Por fim, o tópico 2.7 tem o
objetivo de relacionar um apanhado de informações e dados adquiridos em pesquisas anteriores
com objetivos similares.

2.1 Contabilidade

A contabilidade é um instrumento social que existe desde a antiguidade, utilizada de


forma rudimentar pelos povos, assim que o ser humano abandonou a vida nômade e aquietou-
se no sedentarismo da agricultura e da pecuária. Fazendeiros, pastores de ovelhas, agricultores,
todos necessitavam de uma ferramenta para quantificar e compreender a grandeza de suas
propriedades e como suas mutações os influenciava. Neste sentido, as bases da contabilidade
como a conhecemos hoje em dia eram estabelecidas.
A partir da aplicação da contabilidade nos meios comerciais e a sua eventual
categorização como uma ciência social aplicada, a profissão do contabilista recebeu relevância
e notoriedade, conforme explicitam Iudícibus e Marion (2017):

O que toda história tem mostrado é que a Contabilidade torna-se importante à medida
que há desenvolvimento econômico. Hoje, por exemplo, a profissão é muito
valorizada nos países do primeiro mundo. No Brasil, até a década de 1960, este
profissional era chamado de “guarda-livros”, a nosso ver, título pejorativo e pouco
indicador. Todavia, com o milagre econômico na década de 1970, essa expressão
desapareceu e observou-se um excelente e valorizado mercado de trabalho para os
contabilistas.
Na Idade Moderna, em torno dos séculos XIV a XVI, principalmente no
Renascimento, diversos acontecimentos no mundo das artes, na economia, nas nações
proporcionaram um impulso espetacular das Ciências Contábeis, sobretudo na Itália.
Em torno desse período tivemos, sem a preocupação de ordem cronológica, Copérnico,
Galileu e Newton, revolucionando a visão da humanidade, o aperfeiçoamento da
Imprensa por Gutenberg (já referido), Colombo iniciando as grandes descobertas, o
28

mercantilismo, o surgimento da burguesia, o protestantismo, a descoberta de diversos


campos de conhecimento etc. (IUDICIBUS & MARION, 2017, p. 8)

Assim como nas demais áreas científicas, a contabilidade se viu engrandecida pela nova
forma de ver o mundo e a geração de valor que ela proporcionava recebeu os tão merecidos
méritos.
No meio comercial e financeiro, a contabilidade almeja colher dados, categorizar,
analisar e compreender sua estrutura e seus padrões. De forma à fornecer o máximo de
informações possíveis para a correta tomada de decisão nos âmbitos empresariais.
Neste sentido, Ribeiro (2017) afirma que:

O objetivo da Contabilidade é o estudo e o controle do patrimônio e de suas variações


visando ao fornecimento de informações que sejam úteis para a tomada de decisões.
Dentre as informações destacam-se aquelas de natureza econômica e financeira. As
de natureza econômica compreendem, principalmente, os fluxos de receitas e de
despesas, que geram lucros ou prejuízos, e são responsáveis pelas variações no
patrimônio líquido. As de natureza financeira abrangem principalmente os fluxos de
caixa e do capital de giro. (RIBEIRO, 2017, p. 4)

Tanto os aspectos qualitativos quanto quantitativos do patrimônio são alvos do estudo


contábil. Sendo o aspecto quantitativo referente aos componentes patrimoniais em termos
monetários que o expressam.
Para a correta mensuração das mutações do patrimônio, vários mecanismos foram
criados pela doutrina contábil, desde métodos que auxiliam o registro das informações, até
ferramentas fundamentais para o entendimento teórico e facilitadores de análise.
São inúmeros os métodos e técnicas de trabalho contábil, Ribeiro (2017) enumera alguns
deles:

• Escrituração: consiste no registro, em livros próprios (Diário, Razão, Caixa e Contas


Correntes), de todos os fatos administrativos, bem como dos atos administrativos
relevantes que ocorrem no dia a dia das empresas;
• Demonstrações Contábeis: são os relatórios (quadros) técnicos que apresentam
dados extraídos dos registros contábeis da empresa. As demonstrações mais
conhecidas são o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado do Exercício;
• Auditoria: é a verificação da exatidão dos dados contidos nas Demonstrações
Contábeis, por meio do exame minucioso dos registros de Contabilidade e dos
documentos que deram origem a eles;
• Análise de balanços (análise das Demonstrações Contábeis): compreende o exame e
a interpretação dos dados contidos nas Demonstrações Contábeis, a fim de
transformar esses dados em informações úteis aos diversos usuários da Contabilidade;
• Consolidação de balanços (consolidação das Demonstrações Contábeis):
corresponde à unificação das Demonstrações Contábeis da empresa controladora e de
suas controladas, visando a apresentar a situação econômica e financeira de todo o
grupo, como se fosse uma única empresa. (RIBEIRO, 2017, p 128)
29

A partir da evolução da área contábil e do mundo como um todo várias foram às novas
funcionalidades da contabilidade. Para atender a demanda criada, várias ramificações foram
desenvolvidas, como a contabilidade do terceiro setor, a contabilidade previdenciária, a
contabilidade pública e a contabilidade fiscal e tributária, esta última que será vista com maior
profundidade a seguir nesta pesquisa.

2.2 Contabilidade fiscal e tributária

Com a crescente interferência e regulação dos entes federados para com as organizações
empresariais, fez se necessária a criação de uma vertente contábil que tivesse como objetivo
criar técnicas e métodos para melhorar a relação entre as duas partes e garantir que as
companhias tirassem o melhor proveito possível no cumprimento das exigências estatais.
Neste contexto, Fabretti (2015), define a Contabilidade Fiscal e Tributária da seguinte
forma:

É o ramo da contabilidade que tem por objetivo aplicar na prática conceitos, princípios
e normas básicas da contabilidade e da legislação tributária, de forma simultânea e
adequada.
Como ramo da contabilidade, deve demonstrar a situação do patrimônio e o resultado
do exercício, de forma clara e precisa, rigorosamente de acordo com conceitos,
princípios, pressupostos e normas básicas de contabilidade. O resultado apurado deve
ser economicamente exato.
Entretanto, a legislação tributária frequentemente atropela os resultados econômicos
para, por imposição legal, adaptá-los a suas exigências e dar-lhes outro valor
(resultado fiscal), que nada tem a ver com o resultado contábil.
Com o objetivo de convergir à contabilidade efetivada no Brasil as Normas
Internacionais de Contabilidade, o CFC, por meio de seu comitê de pronunciamentos
contábeis, emanou durante os anos de 2009 e 2010 novos pronunciamentos, de forma
a estabelecer critérios e procedimentos contábeis alinhados aos procedimentos e
normas internacionais, na busca de se ter uma contabilidade não mais elaborada para
atender às exigências tributárias, mas sim para atender a todas as necessidades dos
diversos usuários da contabilidade. Nesse sentido, a Receita Federal elaborou a MP
449/2008, convertida na Lei no 11.941/2009, com o objetivo de tornar os ajustes
decorrentes da legislação tributária não mais uma obrigatoriedade de tratamento e
registro contábil, mas que possam ser controlados por registros auxiliares ou no Lalur,
dependendo do caso. Referida medida vigorou pelos anos de 2009 e 2010 como
regime transitório, estando a Receita Federal estudando procedimento para ser
adotado permanentemente. (FABRETTI, 2015, p. 35)

A contabilidade fiscal e tributária aplica seus mecanismos e conceitos no dia a dia das
companhias para tornar a influência governamental menos onerosa e custosa para a organização.
O profissional responsável por essa área deve se atentar à legislação tributária e como ela
influencia a aplicação dos tributos e das obrigações que o acompanham.
O Código Tributário Nacional apresenta a seguinte definição da legislação tributária:
30

Art. 96. A expressão legislação tributária compreende as leis, os tratados e convenções


internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em
parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. (BRASIL, 1966, p. 1)

A legislação tributária é complexa e se encontra entre as principais leis na hierarquia das


legislações. Podem ser textos que tratam exclusivamente de tributos e as suas relações jurídicas,
mas também podem ser focadas em outras áreas (comerciais, econômicas, financeiras,
trabalhistas etc.) e ao mesmo tempo dispor os tributos e as relações jurídicas à eles pertencentes.
Assim como na vertente principal da contabilidade, devem-se aplicar as bases e
conceitos contábeis na busca pela aferição da informação.
Dessa forma, Camargo (2017) define como estabelecer os processos para o alcance do
objetivo da contabilidade fiscal e tributária:

O objeto da contabilidade tributária é apurar com exatidão o resultado econômico do


exercício social, demonstrando-o de forma clara e sintética, para, em seguida, atender
de forma extracontábil às exigências das legislações do IRPJ e da CSLL,
determinando a base de cálculo fiscal para formação das provisões destinadas ao
pagamento desses tributos, as quais serão abatidas do resultado econômico (contábil),
para determinação certeira do lucro líquido à disposição dos acionistas, sócios ou
titular de firma individual.
Para atingir plenamente esse objetivo, é preciso estudar, registrar e controlar os atos e
fatos administrativos que produzem mutações patrimoniais, e consequentemente o
resultado econômico positivo ou negativo (lucro ou prejuízo). Isso se faz pela
escrituração contábil. (CAMARGO, 2017, p. 36)

O atendimento das exigências das legislações do IRPJ e da CSLL são objetivos comuns
às organizações e derivam da correta aferição da informação fiscal e tributária, e comumente
pode ser a única aplicação da contabilidade fiscal e tributária em companhias optantes pelo
lucro real que limitam a sua utilização.
De acordo com Fabretti (2015) brevemente estas necessidades devem ser atendidas
tendo em vista os objetivos da contabilidade fiscal e tributária:

As exigências fiscais para a definitiva determinação das bases de cálculo do IRPJ e da


CSLL são demonstradas de forma extracontábil no livro fiscal denominado Livro de
Apuração do Lucro Real (Lalur), hoje elaborado de forma eletrônica.
Determinados os valores das provisões para pagamento do IRPJ e da CSLL, estes são
lançados na contabilidade, abatendo-os do resultado econômico (contábil).
(FABRETTI, 2015, p. 47)

A contabilidade fiscal e tributária tem normas gerais e abrangentes que podem servir
para todo tipo de organização, uma vez que a obrigação dos tributos se faz igual à todos os
empreendimentos. Entretanto, algumas aplicações podem ser específicas para determinados
31

tipos de companhia e, observando a atual vigência, para regimes tributários específicos nos
quais a organização é encaixada ou escolhe se encaixar. A seguir, são relatados os conceitos e
modalidades mais comuns dos regimes tributários.

2.3 Regimes Tributários

As companhias brasileiras inscritas no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ)


podem, via de regra, adotar a opção de três tipos diferentes de tributação, são eles: o Simples
Nacional; o Lucro Presumido e o Lucro Real.
Cada um destes regimes tributários é constituído por uma legislação única e representa
para o agente tributado cargas tributárias distintas, baseadas em suas necessidades e condições.
Tentar definir qual a melhor opção para uma companhia sem antes analisar sua estrutura e
realizar estudos tributários com base em suas informações específicas é impossível.
A seguir, serão apresentados os principais regimes tributários brasileiros e as suas
peculiaridades.

2.3.1 Simples Nacional

O Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e


das Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional) é um tipo de regime tributário que visa
facilitar a apuração e reduzir a carga tributária para empresas de menor porte.
A sua instituição é prevista pela Lei Complementar 123 de 2006:

Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas gerais relativas ao tratamento


diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e as empresas de
pequeno porte no âmbito dos Poderes dos Municípios, do Distrito Federal, dos
Estados e da União, especialmente no que se refere:
I - à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições dos Municípios, do Distrito
Federal, dos Estados e da União, mediante regime único de arrecadação, inclusive
obrigações acessórias;
II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações
acessórias;
III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições
de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras
de inclusão.

IV - ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do


parágrafo único do art. 146, in fine, da Constituição Federal. (Incluído pela
Lei Complementar nº 147, de 2014)
§ 1o Cabe ao Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN) apreciar a necessidade de
revisão, a partir de 1o de janeiro de 2015, dos valores expressos em moeda nesta Lei
Complementar.
§ 2o (VETADO).
32

§ 3o Ressalvado o disposto no Capítulo IV, toda nova obrigação que atinja as


microempresas e empresas de pequeno porte deverá apresentar, no instrumento que a
instituiu, especificação do tratamento diferenciado, simplificado e favorecido para
cumprimento. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

§ 4o Na especificação do tratamento diferenciado, simplificado e favorecido de que


trata o § 3o, deverá constar prazo máximo, quando forem necessários procedimentos
adicionais, para que os órgãos fiscalizadores cumpram as medidas necessárias à
emissão de documentos, realização de vistorias e atendimento das demandas
realizadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte com o objetivo de
cumprir a nova obrigação. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
§ 5o Caso o órgão fiscalizador descumpra os prazos estabelecidos na especificação do
tratamento diferenciado e favorecido, conforme o disposto no § 4o, a nova obrigação
será inexigível até que seja realizada visita para fiscalização orientadora e seja
reiniciado o prazo para regularização. (Incluído pela Lei Complementar nº 147,
de 2014)
§ 6º A ausência de especificação do tratamento diferenciado, simplificado e favorecido
ou da determinação de prazos máximos, de acordo com os §§ 3o e 4o, tornará a nova
obrigação inexigível para as microempresas e empresas de pequeno porte.
(Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
§ 7º A inobservância do disposto nos §§ 3o a 6o resultará em atentado aos direitos e
garantias legais assegurados ao exercício profissional da atividade empresarial.
(BRASIL, 2006, p. 1)

A forma de calcular dos tributos incidentes no simples nacional foi alterada em 2016
pela Lei Complementar 155, mas, apesar das mudanças, manteve os seus objetivos e resoluções
principais.
De forma a descomplicar o processo de apuração de tributos municipais, estaduais e
federais, o Simples Nacional apresenta a unificação de todos eles em uma forma de contribuição
através do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS). Uma série de tributos estão
contemplados nesta declaração, são eles: o PIS/PASEP; a Contribuição ao Financiamento da
Seguridade Social (Cofins); a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); o Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI); o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ); a
Contribuição para a Seguridade Social; o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS);
e o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e sobre Serviços de Transporte interestadual e
intermunicipal e de Comunicação (ICMS).
O valor faturado mensalmente constitui a base de calculo da arrecadação, já a alíquota,
deve ser encontrada através do calculo do acumulo do faturamento dos últimos 12 meses antes
do período de apuração, devendo ser consultada a tabela direcionada a cada faixa de receita.
Apenas microempresas e empresas de pequeno porte podem optar por este tipo de
regime tributário. A definição é dada pelo artigo 3º da mesma lei complementar:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou


empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da
33

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no


Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme
o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou
inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a
R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). (Redação dada
pela Lei Complementar nº 155, de 2016). (BRASIL, 2006, p. 1)

Além de facilitar as relações das microempresas e das empresas de pequeno porte com
o fisco, o Simples Nacional também cumpre objetivos adjacentes.
Neste contexto, Naylor (2008) afirma que:

Tornar eficazes os princípios indicados constitucionais aplicáveis às microempresas e


as empresas de pequeno porte [...]. Comportando-se como um subsistema tributário
especial, que assume um caráter parcialmente substitutivo ao sistema geral, o novo
regime afasta ou limita parcialmente a eficácia efetiva outros, aplicáveis de alguns
princípios para tornar realmente efetivos outros, aplicáveis às micro e pequenas
empresas, empresas de pequeno porte. (NAYLOR, 2008, p. 4)

Apesar de se apresentar como regime próprio, o Simples Nacional nada mais é do que
um subsistema que se utiliza de artifícios fiscais para fornecer vantagens às microempresas e
empresas de pequeno porte, de forma a estimular o empreendedorismo e desonerar as iniciativas
comerciais na sociedade brasileira.

2.3.2 Lucro Presumido

O Lucro Presumido consiste na maneira de apuração de tributos em períodos trimestrais,


isto é, a receita bruta adquirida pela organização, por meio da venda de produtos ou prestação
de serviços, é utilizada aplicando-se sobre ela uma alíquota de presunção que faça jus à
categoria da atividade fim da empresa, que pode ser 1,6%, 8%, 16% ou 32%.
Várias são as situações que impedem as companhias de optarem pelo regime tributário
de Lucro Presumido. A Lei Nº 9.718/98 traz definições sobre os impedimentos e
enquadramentos das pessoas jurídicas:

Art. 14 – [...]
a) cuja receita total, no ano-calendário de 2003, tenha sido superior ao limite de
R$ 48.000.000,00 ou de R$ 4.000.000,00 multiplicado pelo número de meses do
período, quando inferior a doze meses;
b) cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de
desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e
investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretores de títulos,
valores mobiliários câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas
34

de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e


de capitalização e entidades de previdência privada aberta;
c) que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior;
d) que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam os benefícios fiscais relativos
à isenção ou redução do Imposto de Renda (calculados com base no lucro da
exploração);
e) que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal do Imposto
de Renda pelo regime de estimativa; 31
f) que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de
assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos,
administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes
de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring).
g) que exerceram atividades de compra e venda, loteamento, incorporação e
construção de imóveis, caso exista empreendimento para o qual haja registro de custo
orçado. (BRASIL, 1998, p. 1)

Quanto aos requisitos para a adoção do Lucro Presumido, deve-se atentar ao


enquadramento das receitas da organização, que devem obedecer ao disposto na Leis Nº
9.718/98, que define os casos possíveis para a adoção do regime tributário:

Art. 224 - A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de
bens nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado
auferido nas operações de conta alheia. Parágrafo único. Na receita bruta não se
incluem as vendas canceladas, os descontos incondicionais concedidos e os impostos
não cumulativos cobrados destacadamente do comprador ou contratante dos quais o
vendedor dos bens ou o prestador dos serviços seja mero depositário.
a) as receitas da prestação de serviços, da venda de produtos de fabricação própria, da
revenda de mercadorias, do transporte de cargas, da industrialização de produtos em
que a matéria-prima, o produto intermediário e o material de embalagem tenham sido
fornecidos por quem encomendou a industrialização, da atividade rural e de outras
atividades compreendidas nos objetivos sociais da pessoa jurídica;
b) as receitas de quaisquer outras fontes não relacionadas diretamente com os
objetivos da empresa;
c) os ganhos de capital;
d) os rendimentos obtidos em aplicações financeiras de renda fixa; e,
e) os ganhos líquidos obtidos em operações realizadas nos mercados de renda variável
(operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas).
(BRASIL, 1998, p.1)

Uma vez que a companhia faz a opção pelo Lucro Presumido, deve-se aplicar a todo o
ano-calendário a sua apuração, não podendo ser feita a troca ou opção por outro regime
tributário. Isto é, a definição da opção companhia pelo Lucro Presumido limita a organização a
exercer a sua forma tributária, não podendo optar pela mudança até o ano seguinte; exceto no
caso de lucro arbitrado, que garante às companhias o direito de optar pela tributação baseada
no Lucro Presumido em caso de, em qualquer trimestre, ter o seu lucro arbitrado.
A apuração correta do IRPJ e da CSLL no sistema de Lucro Presumido tem sua base de
cálculo obtida através dos percentuais responsáveis por presumir aplicados sobre o lucro no
trimestre do exercício.
35

No caso da apuração da PIS/PASEP e COFINS, uma lista de valores deve ser excluída
da base de cálculo no momento da apuração dos valores:

• Ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), nas empresas contribuintes desse


imposto, quando destacado em separado no documento fiscal.
• Ao imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre as
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicações (ICMS), quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos
serviços na condição de substituto tributário;
• Às vendas canceladas, ás devoluções de clientes e aos descontos concedidos
incondicionalmente, a qualquer título;
• Às reversões de provisões operacionais e recuperação de créditos baixados como
perda, que não representem entrada de novas receitas;
• Ao resultado positivo – Lucro - Obtido em decorrência de avaliação de investimentos
em participações societárias pelo método de equivalência patrimonial - valor do
patrimônio líquido;
• Aos lucros e dividendos recebidos ou a receber em decorrência de investimentos em
participações societárias avaliados pelo custo de aquisição. Que tenham sido
contabilizados como receitas;
• À receita decorrente de venda de itens do ativo permanente;
• À exportação de mercadorias para o exterior; e • Aos serviços prestados a pessoa
física ou jurídica residente ou domiciliada no exterior, cujo pagamento represente
ingresso de divisas. (BRASIL, 1998, p. 1)

Além disso, deve-se perceber que a apuração destas contribuições pode ser realizada
com base nos métodos cumulativos e não cumulativos. Cabe à organização e ao profissional
responsável a análise e o enquadramento da companhia na definição que mais se encaixa com
o disposto pela legislação.
Segundo a Lei Nº 9.718/1998, as companhias optantes pela tributação através do Lucro
Presumido necessitam apurar o PIS/COFINS de acordo com o método cumulativo, utilizando-
se das alíquotas de 0,65% e 3% incidentes na receita bruta, subtraindo-se todas as exclusões
permitidas por lei.
Quanto ao sistema do método não cumulativo, as empresas devem utilizar as alíquotas
de 1,65% e 7,6% para a apuração do PIS/COFINS, respectivamente. Além disso, a receita bruta
utilizada para a aplicação as alíquotas podem ser subtraídas de créditos garantidos por lei.
Camargo (2017) elenca os encargos, custos e despesas que podem ser tomados como base para
a apuração dos créditos:

• Bens adquiridos para revenda - Compras realizadas para revenda, seja empresa
comercial ou industrial, apesar de se aplicar mais comumente para empresas
comerciais.
• Insumos na prestação de serviços e na produção - Os bens e serviços utilizados na
produção ou na prestação de serviço destinados a venda pela empresa.
• Aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos - São permitidos créditos sobre
aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos que são utilizados na atividade fim da
entidade, desde que o aluguel seja realizado junto a pessoa jurídica.
36

• Despesas de arrendamento mercantil - É permitido obter crédito de PIS e COFINS


do montante das contraprestações do arrendamento mercantil. 30
• Depreciação de bens do ativo imobilizado - A empresa pode descontar créditos de
PIS e COFINS relativos ao valor da depreciação de itens do ativo imobilizado, desde
que este ativo seja ligado a atividade principal da empresa.
• Benfeitoria em imóveis próprios ou de terceiros - É permitido descontar créditos de
PIS e COFINS, do valor da amortização de benfeitoria em imóveis próprios ou de
terceiros, desde que os imóveis estejam ligados a atividade fim da empresa.
• Energia Elétrica - É permitido descontar créditos de PIS e COFINS sobre o valor
integral gasto com energia elétrica, observando que a energia elétrica deve ser
adquirida de pessoa jurídica residente no país.
• Armazenagem de mercadoria e Frete - É permitido obter créditos de PIS e COFINS
sobre fretes e armazenagem de mercadoria na operação de venda quando o ônus for
recebido pelo vendedor.
• Crédito Presumido - É permitida a apuração de crédito presumido de PIS e COFINS,
sobre o estoque e todo insumo existente na empresa a partir do momento em que a
empresa começou a apurar seu PIS e COFINS pelo método não cumulativo.

2.3.3 Lucro Real

O regime tributário mais complexo e completo é o Lucro Real, onde, para ser
enquadrada na obrigação do sistema tributário do Lucro Real, a companhia deve seguir uma
série de definições previstas na Lei Nº 9.718/98:

Art. 246 - Estão obrigadas à apuração do lucro real as pessoas jurídicas:


I - cuja receita total, no ano-calendário anterior, seja superior ao limite de vinte e
quatro milhões de reais, ou proporcional ao número de meses do período, quando
inferior a doze meses;
II - cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de
desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e
investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos,
valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas
de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e
de capitalização e entidades de previdência privada aberta;
III - que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior;
IV – que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam benefícios fiscais relativos
à isenção ou redução do imposto; V – que, no decorrer do ano-calendário, tenham
efetuado pagamento mensal pelo regime de estimativa, na forma do art. 222;
VI - que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de
assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração
de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultante de vendas
mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring); Parágrafo único - As
pessoas jurídicas não enquadradas nos incisos deste artigo poderão apurar seus
resultados tributáveis com base nas disposições deste Subtítulo.(BRASIL, 1998, p. 1)

A Lei Nº 10.637/02 aumentou o limite de receita para o enquadramento no regime de


Lucro Real, modificando o art, 14 da referida Lei Nº 9.718/98. Após a mudança, o disposto no
texto da lei foi definido da seguinte forma:
37

Art. 46. O art. 13, caput, e o art. 14, I, da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998,
passam a vigorar com a seguinte redação: Produção de efeito
"Art. 13. A pessoa jurídica cuja receita bruta total, no ano-calendário anterior, tenha
sido igual ou inferior a R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou a
R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) multiplicado pelo número de meses de
atividade do ano-calendário anterior, quando inferior a 12 (doze) meses, poderá optar
pelo regime de tributação com base no lucro presumido.."(NR)
"Art. 14. .......................................................................
I - cuja receita total, no ano-calendário anterior seja superior ao limite de
R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou proporcional ao número de
meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses;."(NR). (BRASIL, 2002, p.1)

As companhias que não se encaixam nas definições legais ainda assim podem optar pela
tributação no regime de Lucro Real, basta que a escolha faça sentido dentro do planejamento
tributário da organização e seja benéfica financeira e economicamente. Caso a empresa não se
enquadre nos requisitos, ela não se torna obrigada a ser tributada no regime tributário de Lucro
Real, podendo assim optar por outra forma qualquer de tributação, uma vez que a sua estrutura
econômica se enquadre nesta.
Assim como no Lucro Presumido, a companhia enquadrada no Lucro Real pode
manifestar a sua escolha através do pagamento, no período de apuração, da primeira parcela ou
parcela única do imposto que é devido. Após isso, a empresa fica enquadrada no regime
tributário pelo período do ano-calendário, podendo optar por outro sistema tributário em
qualquer um dos anos-calendário subsequentes ao primeiro.
Assim como nos demais regimes tributários, o Lucro Real apresenta uma série de
adições e exclusões que devem ser consideradas no ato da apuração do imposto devido.
Neste contexto, Chaves (2015) evidencia algumas das situações em que a companhia
deve considerar adições à base de cálculo:

a) despesas que afetaram o resultado contábil do período, mas não estão autorizadas
pela legislação fiscal como redutoras da base de cálculo do Imposto de
Renda. Exemplos: comissão, multa por infração de trânsito, realização de reserva
de reavaliação etc.;
b) receitas que no período anterior tenham sido excluídas do lucro contábil para definir
o lucro real, por uma condição de deferimento para ser adicionado em períodos
posteriores. Exemplo: venda a prazo de bens ou serviços para órgãos públicos,
para recebimento nos períodos seguintes;
c) despesas que em períodos anteriores foram excluídas do resultado contábil para a
definição do lucro real, em função da antecipação do reconhecimento da despesa fiscal,
mas somente agora está sendo contabilizado. Exemplo: empresa que tenha a
atividade rural e compra equipamentos; o contribuinte considera totalmente
depreciado para fins do Imposto de Renda; contabilmente reconhece a despesa
no prazo da vida útil do bem. (CHAVES, 2015, p. 370)

As exclusões representam valores que podem ser subtraídos ao lucro contábil e são
advindos das seguintes situações também elencadas por Chaves (2015):
38

a) receitas que afetaram o resultado contábil, mas a legislação define como receitas
isentas do Imposto de Renda. Exemplo: receita de equivalência patrimonial;
b) despesas que no período anterior tenham sido adicionadas ao resultado contábil,
por uma condição necessária para a sua dedutibilidade;
c) deduções por incentivos fiscais. Exemplo: depreciação acelerada para fins
fiscais. (CHAVES, 2015, p.170)

As definições legais implicam que o Lucro Real se dê através do lucro líquido apurado
pela companhia somando e subtraindo os ajustes relativos às adições e exclusões. Nesse sentido,
o Imposto de Renda deve ser calculado tomando por base o Lucro Real, que por sua vez, terá a
sua apuração realizada de forma extracontábil, em um livro próprio, o Livro de Apuração do
Lucro Real (LALUR).
O LALUR é constituído por duas partes distintas, A e B. Inseridas na parte A estão as
demonstrações de cálculo dos impostos. Já na parte B é feito o controle dos créditos tributários
de ambos os lados, do fisco e da companhia.
São exemplos destes tipos de crédito segundo Chaves (2015):

Exemplo de crédito da Fazenda: receitas que a legislação autoriza o contribuinte a


excluir do lucro para adicionar em exercícios seguintes.
Exemplo de crédito do contribuinte: valores referentes à provisão de comissão que a
legislação determina que seja adicionada ao lucro na apuração do lucro real para ser
excluída em exercícios seguintes. (CHAVES, 2015, p. 371)

Com a evolução da tecnologia e a adaptação da contabilidade às novas ferramentas


disponíveis, o LALUR passou a ser escriturado de forma virtual, que agrega mais complexidade
ao processo e institui novas obrigações acessórias, como explica Faria (2016):

O LALUR é um livro estritamente fiscal, disciplinado pelo RIR, mais especificamente


em seu artigo 262. Hoje o LALUR está representado pela escrituração contábil fiscal
(ECF),
um dos módulos de cruzamento de informações operado pelo sistema de escrituração
pública digital – SPED, em que foi extinta a antiga declaração de informações
econômico-fiscais da pessoa jurídica (DIPJ), dando lugar a nova obrigação acessória
ECF, cruzando todas as informações no que tange a apuração da base de cálculo do
IRPJ e da CSLL. (FARIA, 2016, p. 134)

2.4 Planejamento tributário

Na sociedade atual, o Estado é o principal organizador e articulador, que visa manter a


justiça e cumprir com o viés social que lhe é atribuído. Para isso, ao Estado é concedido o poder
39

de utilizar ferramentas regulatórias para estabelecer tal equilíbrio. Devido a isso, a competência
de instituir tributos é utilizada como mecanismo e aplicada aos subordinados do Estado.
Segundo Crepaldi (2017, p. 35) “ao exercer a sua soberania, o Estado pode exigir que os
indivíduos forneçam-lhe os recursos necessários para a sua atividade. Institui-se então o tributo”.
Nesta linha, o art. 3º do CTN define o tributo como sendo “toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
Analisando o contexto disposto em lei, é possível notar que a fração do patrimônio
pessoal que será transferida ao Estado é definida pelas leis que vigoram sobre o tema. Entretanto,
mesmo que estas sejam de importância impreterível ao governo, nas ações de instituição e
formação das obrigações tributárias, as leis, na maior parte dos casos, se encontram em via
contrária aos interesses das pessoas e empresas, uma vez que o acumulo de patrimônio é o
objetivo majoritário destes. Tendo em vista esse aspecto, é de fácil compreensão que os
contribuintes busquem procedimentos e artifícios direcionados ao objetivo de diminuir ou
anular o passivo gerado pelas instituições dos tributos (POHLMANN & IUDÍCIBUS, 2016).
Com base nisso, o planejamento tributário tem o dever de adiar, reduzir ou até mesmo
anular, de maneira legal, os custos fiscais. O sistema tributário brasileiro se apresenta complexo
e custoso para as companhias, que necessitam aplicar essas técnicas de gerenciamento tributário
para se manterem ativas e oferecendo concorrência no mercado.
Neste contexto, Fabretti (2015) define a função do planejamento tributário:

A finalidade do planejamento tributário é identificar a maior economia tributária


possível, diminuindo a carga fiscal para o mínimo realmente exigido pela lei [...].
Portanto, deve-se pesquisar e identificar todas as formas alternativas legais aplicáveis
ao caso ou a existência de dualidades na lei, que possibilitem obter a operação
pretendida de maneira menos onerosa possível para o empresário, sem contrariar a
legislação. (FABRETTI, 2015, p. 22)

Dessa forma, Silva (2017) também conceitua e promove a finalidade do planejamento


tributário:

Diante de um sistema tributário complexo, burocrático e de uma alta carga tributária,


chegando em média a 37% do produto interno bruto (PIB), as empresas necessitam de
um planejamento no momento de pagarem um determinado tributo, como forma de
gestão. O planejamento tributário consiste em organizar as operações mercadológicas
da empresa, por meio de ferramentas e mecanismos, de forma estrutural e jurídica.
Com o planejamento, é possível antever e, até mesmo, evitar a incidência tributária;
ou modificá-la pela materialidade ou lapso temporal, fazendo com que determinada
medida de hipótese de incidência seja mais benéfica em tempos propícios. Essa
medida trata de um comportamento técnico formal, como explícita Humberto
40

Bonavides, que visa à redução, ao adiamento ou à exclusão dos respectivos encargos


tributários. (SILVA, 2017, p. 16)

É de extrema importância deixar claro que o âmbito de aplicação do gerenciamento dos


tributos é exclusivo no sentido de obedecer aos parâmetros legais, logo, qualquer tipo de
ferramenta ou técnica que apresente embasamento ilícito deve ser considerada fora dos padrões
do planejamento tributário e deve ser punida como previsto em lei. Neste contexto, Segundo
Silva (2017), evidencia que:

Entende-se como ético o planejamento realizado nos moldes da legislação,


aproveitando as alternativas ofertadas para se elidir tributariamente, podendo
equilibrar com a abertura de áreas de serviço ou maiores condições de trabalho aos
colaboradores já empregados, como maneira de dar uma retribuição à sociedade por
uma forma de planejamento efetuado. (SILVA, 2017, p. 35)

Desta forma, o profissional responsável pelo desenvolvimento do planejamento


tributário na companhia deve ter pleno domínio da legislação vigente e ter o conhecimento
necessário para aplica-lo a fim de selecionar de forma correta e legal as alternativas que melhor
lidem com a onerosidade fiscal e gerem passivos menores para a organização.
Para Crepaldi (2017), o planejamento tributário pode ser aplicado de três formas
distintas:

1) Planejamento, que tem por objetivo a anulação do ônus fiscal: nesse caso, o
planejamento é voltado a impedir a concretização das hipóteses legais de incidências
tributárias, mediante o emprego de estruturas e formas jurídicas, articulando o
empreendimento ou a atividade econômico-mercantil.
2) Planejamento que tem por objetivo a redução do ônus fiscal: o planejamento
tributário deve organizar o empreendimento ou atividade econômico-mercantil, de
modo que possibilite a concretização de hipóteses legais de incidência tributária,
resultando em uma redução do ônus fiscais.
3) Planejamento que tem por objetivo o adiamento do ônus fiscal: esse planejamento
visa que o empreendimento ou a atividade econômico-mercantil se encontre em uma
das seguintes situações: - deslocamento da ocorrência do fato gerador; -
procrastinação do lançamento ou pagamento do imposto.

2.5 Elisão fiscal

A elisão fiscal é um mecanismo gerencial e de planejamento que vem sendo utilizada


com afinco pelas companhias brasileiras, principalmente por aquelas listadas em bolsas de
valores. É utilizada como um artifício do planejamento tributário para atingir os mesmos
objetivos que o gerenciamento almeja. Neste sentido, Silva (2017) define o conceito correto de
elisão fiscal:
41

A elisão fiscal é um ato formal e jurídico, totalmente lícito, para que o contribuinte
possa reduzir sua carga tributária, por meio de um ato para antever o fato gerador.
Pode ser feita através da própria legislação e, também, por lacunas na legislação.
(SILVA, 2017, p. 16)

Como já visto anteriormente, o planejamento tributário funciona como uma atividade


preventiva baseada nas ações que a companhia deseja realizar. O objetivo de economizar o
máximo possível quando se trata de passivos fiscais é baseada nos artifícios encontrados em
brechas na própria lei tributária, representando assim uma forma totalmente legal de
planejamento e gestão econômica.
Tendo em vista o planejamento tributário, Fabretti (2015) conceitua a elisão fiscal:

A economia tributária resultante da adoção da alternativa legal de menor custo ou de


lacuna da lei denomina-se elisão fiscal.
Portanto, a elisão fiscal se faz legítima e lícita, pois é atingida por escolha realizada
de acordo com o disposto jurídico, adotando-se a maneira legal menos custosa ou
utilizando-se de brechas da lei.
É dever de todo gestor maximizar os lucros e diminuir as perdas. Por esse motivo, o
planejamento fiscal é uma ferramenta tão necessária para ele como qualquer outra
forma de planejamento, seja de propaganda, de vendas, de capital humano, de
comércio estrangeiro etc.
Além disso, o planejamento fiscal é a forma que os contribuintes têm de ver respeitado
o seu poder contributivo, que é princípio geral da legislação tributária. (FABRETTI,
2015, p. 32)

Visando aumentar a arrecadação e maximizar as fontes de recurso, o Estado pode, por


vezes, estimular o pensamento errôneo de que a elisão fiscal, de certa forma, tende a prejudicar
o crescimento do país.
Neste contexto, Crepaldi (2017) expressa opinião quanto a esse viés:

A verdade é que as alterações na legislação tributária são feitas quase semanalmente,


de forma torrencial, usando e abusando da edição e reedição de medidas provisórias
(reedição que não é autorizada pela CF, art. 62), uso e abuso que vêm sendo tolerados,
de forma inexplicável, pelo Legislativo e pelo Judiciário.
Essas constantes alterações geram confusão e insegurança jurídica. Além disso, essa
legislação se contradiz, com frequência, em muitos pontos, produzindo diversas
alternativas e abrindo brechas na lei.
No caso de o responsável econômico não ser bem auxiliado na parte jurídica e contábil,
ele não terá condições de cumprir as intermináveis exigências extremamente
detalhadas da lei.
Sem contar com um bom gerenciamento tributário, é muito compilado competir num
espaço tomado pela globalização e possibilitar um considerável retorno para o capital
já investido. (CREPALDI, 2017, p. 28)

A elisão fiscal pode, por vezes, ser confundida por evasão fiscal e ter agregada a sua
imagem um conceito negativo. Nesse sentido, é de extrema importância que os conceitos de
42

evasão e elisão fiscal não sejam confundidos quando o objetivo for traçar um coerente
planejamento tributário com embasamentos legais.
A evasão fiscal não tem caráter lícito e, na maior parte das vezes, é executada após o
acontecimento do fato gerador do tributo e tem o objetivo principal de ocultar ou se desfazer
dele de forma duvidosa.
A Leis de Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de
Consumo – Lei Nº 8.137/90 define a constituição de crimes que atentam contra o sistema
tributário. Podem-se destacar as seguintes definições do texto:

a) esconder informação ou prestar falsa declaração às autoridades fazendárias;


b) fraudar as fiscalizações tributárias, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação
de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
c) falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda ou qualquer outro
documento relativo à operação tributável;
d) elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso
ou inexato;
e) utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo
da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei,
fornecida à Fazenda Pública;
f) fazer, de forma falsa, declaração ou omitir declaração acerca de rendas, bens ou
verdades, ou empregar qualquer tipo de fraude, para excluir-se , total ou parcialmente,
da realização pagamento de tributos.

A Lei Nº 9.249/95 apresenta no art. 34 a correta saída para o não enquadramento criminal
de um planejamento fiscal feito de forma equivocada:

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei no 8.137, de 27 de


dezembro de 1990, e na Lei no 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente
promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes
do recebimento da denúncia. (BRASIL, 1995, p.1)

2.6 Limitações financeiras

Uma companhia pode ser considerada limitada de forma financeira quando os custos ou
a disponibilidade de recursos externos não a permitem adquirir novos investimentos ou
43

empreendimentos que poderiam facilmente ser concretizados se todos os fundos internos


estivessem devidamente disponíveis.
Para Crepaldi (2017), em consonância com Law & Mills (2016), a restrição financeira
pode ser interpretada como sendo todo e qualquer tipo de atrito que impeça a empresa de exercer
todos os empreendimentos planejados. O estudo realizado pelo referido autor indica que as
limitações de crédito ou a incapacidade de solicitar empréstimos, a incapacidade de
comercializar ações, a dependência máxima de empréstimos bancários ou mesmo a baixa
liquidez de ativos podem ser possíveis causas para a limitação financeira.
Neste contexto, Pohlmann & Iudícibus (2016) definem a limitação financeira no
contexto organizacional:

Uma empresa é restrita financeiramente se um crescimento inesperado na


disponibilidade de seus recursos internos provocar um aumento nos gastos com
investimentos, sem que este aumento proporcione qualquer tipo de informação sobre
o potencial de sua lucratividade futura, ou seja, se um aumento inesperado no fluxo
de caixa não gera novas informações sobre oportunidades de investimento da empresa.
(POHLMANN & IUDÍCIBUS, 2016, p. 78)

O aumento no custo do financiamento externo ou a dificuldade excessiva para acessá-


lo também pode ser considerada uma característica de limitação financeira. As restrições podem
surgir de racionamento de recursos, de assunção de risco infundado ou até mesmo de
endividamento perante o fisco por má utilização do planejamento tributário.
Comumente, em pesquisas acerca das limitações financeiras, as empresas são divididas
em grupos para melhor avaliar e enquadrar os dados coletados. A divisão mais recorrente é a
seguinte:

a) Classe 1: dividendo/lucro líquido < 0,1 por, ao menos, 10 anos;


b) Classe 2: dividendo/lucro líquido < 0,2 por, ao menos, 10 anos, mas não contido na
Classe 1;
c) Classe 3: dividendo/lucro líquido < 0,4 por, ao menos, 10 anos, mas não contido nas
Classes 1 e 2;
d) Classe 4: todas as outras situações.

A explanação deste método será melhor compreendida quando forem abordados estudos
prévios realizados em pesquisas anteriores, que enquadram as organizações de modo a julgar
os dados baseando-se entra a razão dos dividendos pelo lucro líquido.
44

2.7 Identificação do Planejamento Tributário

Ao se relatar sobre planejamento tributário, é necessário ter em mente as definições que


geram a sua aplicação, para que assim exista a correta identificação, dentro das demonstrações
econômicas e financeiras, da utilização plena de tal gestão tributária.
Neste sentido, Fabretti (2015) define a aplicação do planejamento tributário e a principal
situação na qual ele pode ser identificado:

O planejamento tributário exige, antes de tudo, bom senso do planejador.


Há alternativas legais válidas para grandes empresas, mas que são inviáveis para as
médias e pequenas, dado o custo que as operações necessárias para execução
desse planejamento podem exigir.
A relação custo/benefício deve ser muito bem avaliada. Não há mágica
em planejamento tributário, apenas alternativas, cujas relações custo/benefício variam
muito em função dos valores envolvidos, da época, do local etc.
A forma preventiva do planejamento tributário (que acontece antes do acontecimento
do fato gerador do tributo) da luz à elisão fiscal, isto é, cria a redução da carga
tributária de forma lícita.

Percebe-se que a plena utilização do planejamento tributário deve se iniciar antes


mesmo do acontecimento do primeiro fato gerador. As implicações deste início preventivo
podem ser captadas e analisadas posteriormente nas demonstrações de resultado do período e
no balanço patrimonial, sempre suportado pelo detalhamento das operações, que constam nas
notas explicativas, observando as peculiaridades de cada companhia.
Quando o estudo se trata de uma medição ou identificação de grau de planejamento
tributário que uma companhia emprega em suas atividades, a ferramenta mais comumente
utilizada pelos pesquisadores é a Taxa Efetiva de Tributo (ETR).
Internacionalmente, a ETR é muito aceita quando se trata de análise da gestão tributária
em companhias no geral. No Brasil, esta medição começa a ser utilizada no início dos anos
2000 e acaba por se tornar referência nas pesquisas da área tributária. Carvalho (2014)
identificou através de sua pesquisa que esta métrica se encontrava presente em 34% dos estudos
no período de 2001 a 2013.
As demonstrações contábeis podem prover e alimentar diversos tipos de ETR,
dependendo de sua estruturação e quantidade de informações disponíveis. As ETR’s mais
comumente utilizadas são a DTAX; a Current ETR; a GAAP ETR; a Long Run Cash ETR; e,
por fim, a Cash ETR. Todas estas sendo formas variadas da mesma estatística analítica.
45

2.7.1 Taxa Efetiva da Tributação – ETR

A ETR é um importante índice que mede o nível de planejamento das organizações,


porque tem a capacidade de demonstrar as diferenças entre a contribuição estabelecida por lei
e o verdadeiro valor que é desembolsado pelo agente econômico que é alvo da tributação.
Pensando desta forma, é necessário enfatizar que a ETR tem ligação direta com o
gerenciamento tributário, uma vez que, caso os seus valores sejam baixos ou negativos, a
eficiência do planejamento tributário se mostra suficiente para agregar economia na relação
entre Estado e companhia.
Neste sentido, Crepaldi (2017) relata sobre a ETR:

As taxas de impostos estabelecidas por lei não são realmente capazes de mensurar os
encargos legais que recaem sobre as organizações. Isso se deve, em grande parte, aos
aspectos a serem considerados referentes a essa matéria e também à existência de
regimes fiscais distintos. Nesse sentido, a Effective Tax Rate (ETR) surge como uma
alternativa a esse entrave, pois apresenta como objetivo a mensuração da carga
tributária e os seus efeitos sobre a atividade econômica de uma determinada
instituição. A ETR é obtida através do quociente entre a despesa com imposto de renda
(corrente e diferida) e o lucro contábil antes da incidência do tributo. (CREPALDI,
2017, p. 128)

Apesar de apresentar resultados concretos a serem fundamentais quando se trata de


pesquisas tributárias, a ETR pode, guardadas as peculiaridades, demonstrar resultados
distorcidos, se não corretamente utilizada.
Dessa forma, Fabretti (2015) explana a possível falta de concordância da taxa com a
realidade:

Contudo, a ETR pode não corresponder à realidade em determinadas situações,


apresentando assim, evidências distorcidas. Esse fato pode ocorrer, por exemplo
quando uma empresa que tenha apresentado prejuízo operacional líquido no passado,
use o lucro tributável atual para contrabalancear a perda do período anterior,
enviesando, desta forma, a determinação da ETR. Ainda em relação à possibilidade
de viés da ETR, a situação pode enunciar que erros de medição da alíquota efetiva
terminam por comprometer a mensuração do gerenciamento tributário. (FABRETTI,
2015, p. 150)

A ETR deve ser utilizada com os critérios corretos e dentro dos padrões recomendados.
Qualquer interferência nestes quesitos, pode transformá-la em um índice pouco acurado, ou ate
mesmo, maléfico para a gestão da companhia como um todo. O mesmo se aplica a estudos e
46

pesquisas realizados na área tributária. O pesquisador deve ter em mente todas as diretrizes
necessárias para a sua utilização.

2.8 Pesquisas anteriores

Vários estudos, tanto nacionais quanto internacionais, foram realizados com o mesmo
tema desta pesquisa, relacionaram os índices e indicadores do planejamento tributário de
companhias com o nível de limitação financeira encontrada nas demonstrações.
Um grande número de pesquisas tem como ênfase o exame dos principais pontos
determinantes que promovem o comportamento tributário específico das empresas. Esses
estudos procuram desenvolver explicações acerca do motivo principal que incentiva o
contribuinte a planejar os seus tributos, em qual nível essa ação acontece, além de procurar a
mensuração da diminuição da coleta de recursos por parte do Estado que este tipo de técnica
acaba por gerar.
Segundo Crepaldi (2017) os principais temas de pesquisas na área da contabilidade
tributária tendem a ser:

1) o papel informativo da despesa de imposto de renda reportada pela


contabilidade financeira;
2) a evasão fiscal das empresas;
3) tomada de decisões corporativas, incluindo investimentos, estrutura de
capital, e forma de organização; e
4) tributos e precificação de ativos.

Os estudos relacionados ao nível de planejamento tributário das companhias não se


limitam à questão das restrições financeiras. Há quem pesquise outras variáveis que possam ser
responsáveis pelo aumento ou diminuição deste índice como o tamanho da organização; a
intensidade do uso do capital coletado, isto é, a quantidade de investimentos de grande porte;
os índices de alavancagem mensurados e etc. A conclusão destas pesquisas costuma ser que
existe forte ligação entre a escala de planejamento tributário das companhias e o seu uso de
capital e alavancagem decorrente destes.
No Brasil, Fonseca e Costa (2017) pesquisaram os fatores principais responsáveis pelo
planejamento tributário nas organizações brasileiras e encontraram forte relação deste tipo de
gerenciamento com os índices de lucratividade e liquidez vistos nas demonstrações financeiras
e econômicas.
47

3 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS

De acordo com Filho (2015) a caracterização da organização deverá contemplar


informações sobre o perfil operacional da entidade, ano em que iniciou as atividades, mercado
de atuação, principais clientes, principais fornecedores, missão, visão, valores, metas,
estratégicas de mercado, responsabilidade social e ações de sustentabilidade.
A amostra da pesquisa é constituída por 4 companhias listadas na Bolsa de Valores (B3)
de dois setores distintos, engenharia e varejo, exceto as empresas financeiras. A escolha por
apenas empresas não financeiras se dá pela especificidade da legislação que atua sobre o setor
financeiro, que impactam diretamente os parâmetros fiscais das organizações. Também não
serão consideradas as companhias que apresentaram valores zerados ou negativos referentes ao
Lucro Antes do Imposto de Renda e Contribuição Social no período analisado.
Neste sentido, somente serão utilizadas empresas que apresentem informações
completas e que forneçam os dados necessários para a análise estatística que será aplicada na
pesquisa.

3.1 Varejo

As companhias varejistas representam um dos ramos mais fortes do país, um dos seus
principais pilares, que se mostra responsável por grande parte da variação do PIB e da produção
de riqueza no geral. Mesmo passando por altos e baixos, o setor consegue se manter relevante
e atraente para os investidores. Por serem majoritariamente comercializadores de produtos, as
companhias varejistas precisam lidar com cargas exorbitantes de tributos sobre sua produção.
Tal fato contribui com a pesquisa no sentido de demonstrar a influência dos tributos na forma
de lidar com as restrições financeiras.
Para a pesquisa, foram escolhidas duas companhias que são referência no segmento e
que se encaixam nos objetivos do trabalho: Magazine Luiza S.A. e Lojas Americanas S.A.

3.1.1 Magazine Luiza S.A.

Fundada no município de Franca (SP) em 1967, a Magazine Luiza S.A. é hoje uma das
maiores companhias varejistas do Brasil. Possui, no somatório, mais de 1000 lojas
convencionais localizadas de forma estratégica e de grande visibilidade ao público.
48

Além disso conta com filiais em 18 dos estados brasileiros. Seu processo mercadológico
é caracterizado majoritariamente por comércio digital, que surgiu em 1992 em um ambiente
nada favorável economicamente, como uma estratégia inovadora para responder as novas
necessidades da sociedade em pleno crescimento.

Figura 1 - Estrutura das participações – Magazine Luiza

Fonte: Relação com o investidor – Magazine Luiza

O ponto mais forte da participação de mercado da companhia é o seu e-commerce, que


representa sua maior fonte de recursos e principal fator de expansão dos negócios. A empresa
oferece aos clientes ofertas exclusivas, serviços diferenciados e conteúdo relevante de forma
acessível e prática.
Seus dados societários são caracterizados por 41,07% de ações em circulação na bolsa,
sendo elas distribuídas em 99,33% de pessoas físicas, 0,43% de pessoas jurídicas e 0,23% de
investidores institucionais. O restante das ações está na posse de grandes empresários e dos
fundadores da companhia. A maior fatia pertencendo a Ltd Administração e Participações S,A,,
com 53,38%.Seu valor de mercado na data da pesquisa é de R$55.33 bilhões.

3.1.2 Lojas Americanas S.A.

A companhia Lojas Americanas S.A. foi inaugurada em 1929, na cidade de Niterói (RJ),
e leva a fama de uma das grandes varejistas nacionais. Conta com mais de 1300
estabelecimentos e se faz presente no mercado com lojas físicas e comércio digital, seu principal
seguimento.
A companhia tenta adotar uma perspectiva de abordagem totalmente diferente e única
no momento de atender seus clientes e consumidores, de forma a oferecer vários formatos de
49

lojas, assim como desenvolver uma plataforma digital, responsável com várias marcas. Além
disso a empresa conta com formas de inovação que pretendem potencializar as plataformas,
desenvolver negócios disruptivos e diversificar iniciativas.
Além das plataformas físicas e digitais, a companhia desenvolve motores de inovação
para a geração de capital em forma de novos negócios e organizações. Desta maneira, a
aquisição de novas marcas e empresas se encontra no escopo organizacional. Marcas como
Submarino, Shoptime, Sou Barato e outras; se encontram entre os investimentos recentes da
gigante do varejo.

Figura 2 - Estrutura societária – Lojas Americanas

Fonte: Relação com o investidor – Lojas Americanas

Sua posição no mercado se define por 65,03% de ações preferenciais e 34,97% de ações
ordinárias. Os tipos de investidores detentores de seu capital são pessoas físicas (94,48%),
pessoas jurídicas (3,35%) e investidores institucionais (2,17%). As demais ações pertencem a
grandes grupos empresariais, sendo o maior deles a S-velame Adm de Recursos E Participações
S.A., com 55,16%. No ano de 2017, ultrapassou a marca de R$23 bilhões em valor de mercado.

3.2 Engenharia

O setor de engenharia é de fundamental importância para qualquer país devido ao valor


que gera de desenvolvimento e crescimento da infraestrutura e economia nacionais. Apesar dos
altos e baixos da economia, a engenharia se mantém relevante e atraindo profissionais para os
mais de 34 subtipos de seguimento presentes no mercado. É um dos setores de maior
reconhecimento da economia e hoje conta com 1,3 milhão de profissionais e pouco mais de
200.000 empresas em todo o território nacional.
50

Para o presente trabalho, foram selecionadas duas companhias líderes e referência no


setor, que consolidam o seu trabalho ao longo dos anos: MRV Engenharia e Participações S.A.
e Construtora Tenda S.A.

3.2.1 MRV Engenharia e Participações S.A.

Fundada em 1979 na cidade de Belo Horizonte (MG), a MRV Engenharia e


Participações S.A. é uma das maiores e melhor consolidadas construtoras do Brasil, tendo sido
eleita como a 28ª companhia mais valiosa do país no ano de 2011.
Com grande destaque no país e no continente, a MRV conta com uma ampla experiência
que possibilita o concreto planejamento do processo de construção, da antecipação de novas
tendências e a criação da melhor relação entre custo e benefício no mercado. Tudo isso faz
possível à empresa a oferta de apartamentos e casas em mais de 160 municípios do Brasil,
tornando acessível para os mais variados públicos.
Uma das parceiras do programa Minha Casa Minha Vida – agora Casa Verde e Amarela
-, a companhia oferece facilidades de compra, linhas diferentes de produtos, pagamentos de
formas flexíveis e parcerias com alguns dos maiores bancos de financiamento imobiliário do
país.

Figura 3 - Composição acionária - MRV

Fonte: Relação com o investidor – MRV

Suas ações negociadas na bolsa representam 60,88% de seu capital e estão divididas em
pessoas físicas (95,96%), pessoas jurídicas (2,20%) e investidores institucionais (1,84%). O
51

restante das ações se encontra no poder de grandes investidores como Rubens Menin Teixeira
de Souza, que detém cerca de 37,76%. Seu valor de mercado atual é de R$7,75 bilhões.

3.2.2 Construtora Tenda S.A.

Inaugurada em 1994 na cidade de Belo Horizonte (MG), a Construtora Tenda S.A. é


hoje a segunda maior construtora e incorporadora brasileira focada em apartamentos populares
e representa fonte de desenvolvimento social e econômico para o Brasil devido ao seu convênio
com o programa “Minha casa, minha vida” que torna acessível ao grande público a moradia
própria.
Presente em mais de 9 regiões metropolitanas do país, a companhia passou por um
processo de reposicionamento estratégico, dado pela criação de um modelo formal de negócios
com concentração na construção de edifícios com formas de alumínio nestas regiões
metropolitanas. Os primeiros lançamentos do modelo de negócio aconteceram em 2013, quando
a companhia deu início a projetos em 3 regiões metropolitanas. Depois disso, o ritmo de
crescimento passou a ser de 1 nova região a cada ano.
Sua entrada na B3 aconteceu em 2017, quando a companhia foi cindida da Gafisa e
então foi listada em um dos segmentos de maior governança corporativa da bolsa, o Novo
Mercado.
Figura 4 - Estrutura acionária – Tenda

Fonte: Relação com o investidor – Tenda

As ações em circulação da companhia são constituídas por pessoas físicas (95,46%) e


pessoas jurídicas (4,54%). Por ter parte majoritária do seu capital negociado na bolsa, a empresa
conta com pouco capital de investidores institucionais, sendo a Pátria Investimentos Ltda a
maior deles com 10,35% do capital. Seu valor de mercado supera os R$3,5 bilhões.
52

4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Este capitulo tem por finalidade descrever as pesquisas e análises executadas para o
cumprimento dos objetivos específicos e gerais do estudo. No primeiro momento, serão
apresentados os métodos de caracterização da situação de restrição financeira das companhias,
para então serem enumeradas as hipóteses e variáveis relacionadas à pesquisa.

4 .1 Caracterização da limitação financeira

Os estudos sobre o planejamento tributário das organizações não apresentam um único


critério que caracterize a empresa como limitada financeiramente ou não, mas sim um conjunto
de indicadores que podem representar a condição de poder financeiro e econômico das
companhias.
Desta maneira, são apresentados analisados alguns dos indicadores mais comuns
utilizados por pesquisadores e especialistas no momento de medição da limitação financeira.

4 .1.1 Tamanho

Como visto na literatura, o tamanho da companhia influi diretamente no seu poder


financeiro e na sua capacidade de acumular recursos. Empresas maiores tendem a ser mais
conhecidas, mais tradicionais e, por consequência, menos vulneráveis às oscilações dos
mercados de capitais.
Desta forma, quanto maior é a empresa, mais fácil é o seu acesso ao mercado devido
aos baixos custos de transação. Além disso, o tamanho também representa maior atração de
investidores e, de maneira lógica, mais ações em circulação no mercado.
A forma mais utilizada na literatura para medir o tamanho das companhias é o valor do
seu ativo total, considerando as demonstrações contábeis ao final de cada ano estudado.
Nas empresas pesquisadas, foram encontrados os seguintes valores de ativo total:
53

Tabela 1 - Ativo total


Ativo total (Reais Mil)
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza R$ 7.379.589,00 R$ 8.730.333,00 R$ 18.611.817,00 R$ 22.296.830,00
Lojas Americanas R$ 17.400.408,00 R$ 17.717.472,00 R$ 20.855.209,00 R$ 30.195.947,00
MRV R$ 12.345.518,00 R$ 11.728.138,00 R$ 12.959.300,00 R$ 14.027.426,00
Tenda R$ 1.773.637,00 R$ 1.959.867,00 R$ 2.384.350,00 R$ 2.886.216,00
Fonte: Demonstrativos Financeiros

Analisando os valores de ativo total das companhias é possível perceber que todos elas
possuem determinado crescimento. As varejistas apresentam, em 2020, ativo total superior a
R$ 20 bilhões, o que representa a boa capacidade de acumulo de recursos e, consequentemente,
a facilidade de aquisição de crédito.

Gráfico 1 - Ativo total

Ativo Total
R$35.000.000,00
R$30.000.000,00
R$25.000.000,00
R$20.000.000,00
R$15.000.000,00
R$10.000.000,00
R$5.000.000,00
R$-
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

Ativo total (Reais Mil) 2017 Ativo total (Reais Mil) 2018
Ativo total (Reais Mil) 2019 Ativo total (Reais Mil) 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

Quanto as construtoras, a diferença são grandes. A MRV apresenta média de ativo total
superior a R$ 10 bilhões enquanto a Tenda apresenta valores inferiores a R$ 5 bilhões. A
diferença clara no tamanho das companhias deve representar boa correlação e margem de
análise nos índices posteriores da pesquisa.
54

4 .1.2 Dividendos

O comprometimento das companhias com dividendos pode sugerir pouca propensão a


restrição financeira, uma vez que não há a necessidade de reter grande parcela do caixa para
financiar suas atividades.
Para a métrica de comprometimento com dividendos, será utilizado o critério baseado
na relação entre o valor pago total de dividendos em cada período em função do valor
encontrado do lucro líquido. Os demonstrativos utilizados serão o balanço patrimonial e a
demonstração do valor agregado (DVA) de cada período analisado, levando em consideração
informações extras contidas nas notas explicativas.
A partir das informações, cada organização será alocada em um grupo específico do
endividamento do capital próprio, como visto anteriormente.
Para cada empresa, estes foram os índices de comprometimento com dividendos
encontrado:

Tabela 2 – Lucro líquido


Lucro Líquido (Reais Mil)
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza R$ 389.022,00 R$ 597.429,00 R$ 921.828,00 R$ 391.709,00
Lojas Americanas R$ 237.628,00 R$ 380.490,00 R$ 704.054,00 R$ 394.008,00
MRV R$ 653.402,00 R$ 690.308,00 R$ 690.245,00 R$ 550.140,00
Tenda R$ 106.686,00 R$ 200.292,00 R$ 263.544,00 R$ 200.317,00
Fonte: Demonstrativos Financeiros

Analisando o lucro líquido de forma individual, as empresas de varejo apresentaram


grande oscilação entre os períodos, com índices como 100% de aumento em 3 anos. Esse fator
representa a volatilidade do ramo e a crescente expansão das companhias estudadas, tendo o
aumento do lucro líquido correspondência direta com o crescimento geral das organizações.
55

Gráfico 2 – Lucro líquido

Lucro Líquido
R$1.000.000,00
R$900.000,00
R$800.000,00
R$700.000,00
R$600.000,00
R$500.000,00
R$400.000,00
R$300.000,00
R$200.000,00
R$100.000,00
R$-
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

Lucro Líquido (Reais Mil) 2017 Lucro Líquido (Reais Mil) 2018
Lucro Líquido (Reais Mil) 2019 Lucro Líquido (Reais Mil) 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

As companhias construtoras tiveram certa regularidade nos índices, mantendo os valores


próximos em todos os períodos analisados. A exceção foi a construtora Tenda, que dobrou seu
lucro líquido entre 2017 e 2020.
A influência da pandemia do novo Coronavírus e das restrições de orçamento ficaram
claras nos índices das quatro companhias. Todas elas tiveram queda no lucro líquido ao final de
2020. A diminuição mais clara aconteceu na Magazine Luiza, que teve seu lucro líquido
reduzido à metade em comparação com o ano anterior, freando a sua expansão contínua.

Tabela 3 – Pagamento de dividendos


Pagamento de Dividendos/JSCP (Reais Mil)
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza R$ 75.000,00 R$ 182.000,00 R$ 460.914,00 R$ 170.000,00
Lojas Americanas R$ 120.000,00 R$ 120.000,00 R$ 292.882,00 R$ 374.300,00
MRV R$ 1.198.243,00 R$ 922.085,00 R$ 911.809,00 R$ 830.045,00
Tenda R$ 104.636,00 R$ 239.673,00 R$ 327.005,00 R$ 247.295,00
Fonte: Demonstrativos Financeiros

Ao analisar o valor de dividendos e JSCP pago pelas empresas, é possível perceber certo
comportamento contido das varejistas e da construtora Tenda, uma vez que o valor pago por
elas não ultrapassou os R$500 milhões em nenhum dos períodos estudados.
56

Gráfico 3 - Dividendos

Dividendos
R$1.500.000,00

R$1.000.000,00

R$500.000,00

R$-
Magazine Luiza Lojas MRV Tenda
Americanas

Pagamento de Dividendos/JSCP (Reais Mil) 2017


Pagamento de Dividendos/JSCP (Reais Mil) 2018
Pagamento de Dividendos/JSCP (Reais Mil) 2019
Pagamento de Dividendos/JSCP (Reais Mil) 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

A construtora tenda, por outro lado, aposta em remuneração mais aguda do seu capital
próprio, chegando a pagar mais de R$1 bilhão em 2017. Apesar da queda durante os anos, seu
valor mínimo ainda supera os valores máximos de todas as outras companhias.

Tabela 4 – Comprometimento com dividendos


Comprometimento com Dividendos
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza 19,28% 30,46% 50,00% 43,40%
Lojas Americanas 50,50% 31,54% 41,60% 95,00%
MRV 183,39% 133,58% 132,10% 150,88%
Tenda 98,08% 119,66% 124,08% 123,45%
Fonte: Demonstrativos Financeiros

Como já era esperado, a construtora tenda apresenta os maiores índices de


comprometimento com dividendos entre as quatro companhias. Em todos os quatro anos
analisados, a empresa destinou valores maiores do que 100% do seu lucro líquido, o que
representa alto comprometimento do lucro com dividendo e, consequentemente, baixa
propensão a restrição financeira.
57

Gráfico 4 – Comprometimento com dividendos

Comprometimento com Dividendos


200,00%
180,00%
160,00%
140,00%
120,00%
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

Comprometimento com Dividendos 2017 Comprometimento com Dividendos 2018


Comprometimento com Dividendos 2019 Comprometimento com Dividendos 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

Apesar de pagar menos dividendos, a construtora tenda se encontra em situação bastante


semelhante, alto comprometimento com a remuneração de seus investidores. Isso se dá pelo
fato de que os valores pagos pela companhia representam mais do que a totalidade do seu lucro
líquido.
As companhias varejistas apresentam uma política mais contida de pagamento de
dividendos, onde o seu índice apresenta média de menos da metade do lucro líquido nos quatro
anos analisados.
Com base nos índices encontrados, todas as quatro companhias podem ser enquadradas
na classe 4 de comprometimento com dividendos, onde o índice é maior do que 40% em todo
o período analisado, o que representa níveis baixos de limitação financeira em cada uma delas.
Sendo as varejistas com níveis mais elevados e as construtoras com níveis mais leves.

4 .1.3 Recompra de ações

Segundo Silva (2017), a compra e recompra de ações representa uma maneira de


distribuição de lucros, devido a sua capacidade de proporcionar um aumento no preço das ações
em decorrência da alta na procura por uma oferta constante desse investimento. Desta forma,
neste estudo, o anuncio da recompra de ações e a efetiva recompra de ações serão usadas como
índice de folga financeira, da mesma forma que os dividendos.
58

Para localizar os dados necessários, foram utilizadas as informações presentes nos


Comunicados ao Mercado e nas Informações Relevantes das empresas em cada período
analisado.
Não foram encontradas recompras de ações recorrentes das companhias. Em
pouquíssimas ocasiões, seus comunicados ao mercado apresentavam algum tipo de medida
tomada neste sentido.
Desta forma, entende-se que as companhias detêm boa folga no caixa, com base nos
índices de dividendos, mas não o suficiente para exercerem recompra de ações, de forma a
valorizá-las. Com isso, é possível realizar que as empresas se encontram no limite do conforto
financeiro imediato, podendo apresentar restrições financeiras mais severas caso optem por
políticas mais abertas para com o mercado.

4 .1.4 Alavancagem financeira

De acordo com Law K. & L. Mills (2015), os analistas tem como um dos principais
indicadores de risco financeiro é a alavancagem financeira. O seu cálculo é responsável por
indicar a capacidade das companhias em levantar ou buscar fundos presentes no mercado.
Desta forma, quando se tem um índice elevado, maior que 1, pode-se dizer que a
companhia, no momento, tem o seu patrimônio líquido valorizado pelo seu capital de terceiros.
E quando o valor é menor que 1, é possível entender que a companhia se encontra em situação
grave de financiamento, pois seus recursos de terceiros depreciam o valor dos recursos próprios.
Assim, quanto menor for o seu índice de alavancagem financeira, maior será a restrição
financeira enfrentada pela companhia e, desta maneira, mais difícil será para a empresa a
captação de recursos externos, como empréstimos. Quando o índice é alto, a companhia
apresenta boa capacidade garantir fundos externos e a manutenção da não limitação financeira.
Após a coleta de dados de Lucro antes dos Juros e Imposto de Renda (LAJIR) e Lucro
antes do Imposto de Renda (LAIR) nas demonstrações financeiras, estes foram os resultados
encontrados para a alavancagem financeira:
59

Tabela 5 – Alavancagem financeira


Alavancagem Financeira (Reais Mil)
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza 1,76 1,35 1,06 1,86
Lojas Americanas 3,63 2,31 1,83 2,39
MRV 0,87 0,90 0,88 0,94
Tenda 1,06 0,99 1,00 1,14
Fonte: Demonstrativos Financeiros

A partir dos índices de alavancagem financeira encontrados é possível afirmar que as


companhias construtoras apresentam a maior regularidade de valores. Em todos os períodos,
nas duas companhias, o índice esteve perto de 1, o que significa que os recursos de terceiros
têm pouca influência sobre o patrimônio líquido no sentido de limitação. O cenário é estável,
mas pode se tornar problemático caso o índice diminua nos próximos períodos. Logo, é correto
afirmar que as empresas se encontram na margem do limite financeiro.

Gráfico 5 – Alavancagem financeira

Alavancagem Financeira
4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

Alavancagem Financeira (Reais Mil) 2017


Alavancagem Financeira (Reais Mil) 2018
Alavancagem Financeira (Reais Mil) 2019
Alavancagem Financeira (Reais Mil) 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

Já as companhias varejistas apresentam índices com mais oscilação, indo de 1 a quase


4, em algumas situações. Tal fato representa boa alavancagem e, portanto, uma situação segura
quanto a limitação financeira.
60

4 .1.5 Classificação de risco de crédito

Os ratings que são emitidos pelas grandes agências de risco demonstram a situação
financeira e econômica das companhias e afetam diretamente o custo dos empréstimos e na
precificação das ações.
Assim como para as pessoas físicas, os ratings servem para medir o risco envolvido em
determinado negócio ou empresa. A tomada de decisão de avaliadores, investidores e
reguladores são baseadas neste risco medido pelas agências.
A sinalização de uma possível inadimplência da companhia é o principal motivo da
utilização destes índices, uma vez que, eles demonstram aspectos que, muitas vezes, não podem
ser obtidos a partir de uma regular análise dos demonstrativos ou mesmo das notas explicativas.
Para a pesquisa, o rating utilizado será o emitido pela agência Standard & Poor’s,
reconhecida pela experiência e expertise em análises econômicas e financeiras das companhias
ao redor do mundo. Os ratings tem extrema complexidade e diversidade, entretanto, serão
simplificados para contribuir com o entendimento e caracterização da pesquisa. Os valores não
se alteraram durante o período estudado, portanto, a análise foi feita de forma única.
As companhias Magazine Luiza, Tenda e MRV são consideradas pela Standard &
Poor’s como empresas de baixo risco para o mercado e recebem o rating “A”. Tal definição
aponta boa relação das companhias com os investidores e terceiros relacionados e a sua
capacidade de cumprir com suas obrigações de curto e longo prazo.
Já a companhia Lojas Americanas recebeu o rating “B”, que aponta para boa condição
de risco em que não estão excluídas as possibilidades de inadimplência em menor escala. O
rating em questão aponta leve desconfiança do mercado, mas ainda assim, uma boa estrutura
econômica.

4 .1.7 Aspectos de controle

Para a análise dos aspectos de controle das companhias, que poderiam influenciar
diretamente na sua posição de risco financeiro, foram utilizados os índices de Retorno sobre os
Ativos (ROA), as informações disponíveis acerca da governança corporativa das empresas e os
fatores de crise presentes no cenário econômico nacional.

4 .1.7.1 Retorno sobre Ativos (ROA)


61

O Retorno sobre Ativos pode ser utilizado para, de certa forma, controlar os níveis de
atividade financeira e econômica das companhias. Desta forma, a relação entre a rentabilidade
dos ativos e o planejamento tributário é positiva, ou seja, as empresas mais geradoras de lucro
estão mais propensas a terem taxas efetivas de tributo muito maiores, resultado bastante comum
entre as organizações que tentam adotar práticas tributárias menos agressivas.
Para calcular o índice ROA, foram utilizados os dados de Lucro Líquido e Ativo Total
das companhias, obtendo-se os seguintes resultados:

Tabela 6 - ROA
ROA (Reais Mil)
Companhia 2017 2018 2019 2020
Magazine Luiza 5,27% 6,84% 4,95% 1,76%
Lojas Americanas 1,37% 2,15% 3,38% 1,30%
MRV 5,29% 5,89% 5,33% 3,92%
Tenda 6,02% 10,22% 11,05% 6,94%
Fonte: Demonstrativos Financeiros

As companhias, de maneira geral, apresentaram altos índices de rentabilidade. As varejistas


mostram grande disparidade entre si. A Magazine Luiza apresentou média em torno de 5%,
enquanto as Lojas Americanas ficaram por volta de 2%. Considerando os tamanhos das
companhias e da volatilidade do setor, pode-se considerar que as empresas são altamente
rentáveis e, por isso, tendem a ter sua taxa efetiva de tributos maior que o ideal.

Gráfico 6 - ROA
Retorno Sobre Ativos (ROA)
12,00%

10,00%

8,00%

6,00%

4,00%

2,00%

0,00%
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

ROA(Reais Mil) 2017 ROA(Reais Mil) 2018


ROA(Reais Mil) 2019 ROA(Reais Mil) 2020

Fonte: Elaborado pelo autor


62

As companhias construtoras foram semelhantes, no geral. Com destaque para a Tenda,


que apresentou rentabilidade média em torno de 8%. Assim como nas varejistas, o alto nível de
rendimento pode querer dizer alta taxa efetiva de tributos, a ser analisado nos próximos itens.

4 .1.7.2 Governança Corporativa

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) é um indicador, fornecido pela bolsa de


valores, que objetiva elencar a qualidade de governança corporativa das companhias listadas no
mercado.
Segundo o índice, disponível no site da B3 e nas demonstrações financeiras, todas as
quatro companhias estudadas apresentam alto nível de governança corporativa e confiabilidade.
Tal informação significa, na prática, a plena confiança do mercado nas diretrizes administrativas
e transparência organizacional que as empresas apresentam em sua estrutura.
O bom nível de governança corporativa corrobora para uma diminuição do possível
risco econômico das companhias, uma vez que o fator interno estrutural não apresenta brechas
para o descumprimento das principais diretrizes de sustentabilidade empresarial.
Apesar disso, o índice, de forma individual, não apresenta a totalidade dos riscos e
limitações enfrentados pelas organizações, sendo assim necessário a análise dos demais fatores
em conjunto.

4 .1.7.3 Crise

De todas as crises enfrentadas nos últimos anos, econômicas, sociais e políticas, a crise
advinda da pandemia do novo Coronavírus foi a mais impactante para o cenário econômico e
financeiro das companhias, não só brasileiras, mas de todo o mundo.
As medidas de isolamento social, de vital importância para a não proliferação do vírus,
acarretaram no aumento do desemprego, na diminuição do poder aquisitivo de parte da
população e, por consequência, na saúde financeira das companhias.
As empresas analisadas no estudo não foram diferentes, uma vez que seus
demonstrativos financeiros apontam a clara influência da pandemia na estrutura econômica das
companhias.
As variáveis mais afetadas foram a lucratividade das companhias (ROA) e o seu lucro
líquido, que apresentaram significativa queda no ano de 2020, início do período pandêmico.
Em detrimento destas variáveis, o ativo total de todas as companhias cresceu no último ano, o
63

que pode representar tentativas de supressão dos possíveis abalos financeiros gerados pelo
período de crise.
Todos os impactos, de forma evidente, fazem com que as companhias elevem o seu nível
de risco e limitação financeira ao fim do ano de 2020, o que deve ser levado em consideração
no momento da análise dos dados como um todo.

4 .2 Taxa efetiva de tributos – ETR

Pra o cálculo da Taxa efetiva de tributos (ETR) foram considerados os valores de


provisões para despesas com IR/CS e o Lucro antes do Imposto de Renda e Contribuição Social
(LAIR). A razão entre os dois índices demonstra a verdadeira alíquota de tributos paga pela
companhia e o impacto fiscal direto nos seus lucros.
Todas as companhias apresentaram valores positivos de Lucro antes do Imposto de
Renda e Contribuição Social (LAIR) e de provisões para despesas com IR/CS, o que favoreceu
a correta coleta e análise dos dados.
No gráfico a seguir, é possível observar a evolução do índice nas companhias através
dos períodos analisados:

Gráfico 7 - Taxa efetiva de tributação - ETR

Taxa efetiva de tributação - ETR


50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Magazine Luiza Lojas Americanas MRV Tenda

Taxa efetiva de tributação - ETR 2017


Taxa efetiva de tributação - ETR 2018
Taxa efetiva de tributação - ETR 2019
Taxa efetiva de tributação - ETR 2020

Fonte: Elaborado pelo autor

A efetiva taxa de tributação das companhias acompanhou ritmos distintos durantes os


três primeiros períodos analisados. MRV e Magazine Luiza mostraram aumento gradual de seus
64

índices enquanto as empresas Tenda e Lojas Americanas apresentaram valores percentuais em


queda.
Vale a pena ressaltar que três das companhias analisadas apresentaram políticas efetivas
de planejamento tributário, uma vez que seus índices não alcançaram as alíquotas fixas dos
impostos pagos. Apenas as Lojas Americanas demonstraram pouca propensão a gestão de seus
tributos, apresentando valores muito próximos das alíquotas fixas nos dois primeiros períodos
analisados.
Apesar das diferenças nos primeiros períodos, todas as companhias convergiram seus
índices em um mesmo sentido no ano de 2020: a diminuição. A crise advinda da pandemia do
novo Coronavírus expôs a pressa e a urgência das companhias em adotar medidas mais
extremas de planejamento tributário para lidar com as limitações financeiras impostas.
Os índices encontrados fazem sentido do ponto de vista fiscal, uma vez que as
companhias que apresentaram diminuição do índice tiveram incrementos consideráveis em seus
resultados e na sua lucratividade, enquanto as demais apresentaram o aumento dos mesmos
fatores financeiros.
Os índices, em análise geral, apresentam estratégias semelhantes de planejamento
tributário. O valor da sua lucratividade e de seu retorno financeiro influencia diretamente nas
mecânicas do gerenciamento e nas atividades que preconizam a elisão fiscal e a consequente
diminuição dos índices efetivos de tributação.
65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como principal objetivo a verificação das características de


limitação financeira e a sua influência no planejamento tributário das companhias estudadas.
Neste sentido, foram avaliados todos os índices de limitação levantados na bibliografia e em
trabalhos anteriores, sendo elas tamanho, comprometimento com dividendos, recompra de
ações, alavancagem financeira, classificação de risco de crédito e seus aspectos de controle
como rentabilidade, governança e crise.
As inferências e análises desta pesquisa procuraram contribuir com a literatura e os
estudos já existentes que abordam o planejamento tributário de forma a identificar os impactos
das limitações financeiras sobre a sua realização no cenário brasileiro, contribuindo para o
entendimento do comportamento das companhias em meio a eventuais crises financeiras.
Na tentativa de atingir os objetivos da pesquisa, foi identificada, inicialmente, a
condição de limitação financeira que cada companhia estudada se encontrava em todos os
períodos estudados. Os índices encontrados demonstraram que as companhias possuíam
limitação financeira moderada e de forma crescente, em todos os períodos, sendo o pico da
limitação em 2020, afetado principalmente em decorrência da crise da pandemia do novo
Coronavírus.
A partir do cálculo da Taxa efetiva de tributos (ETR) foi possível abstrair as informações
de tributação real das companhias, levando em conta a razão de suas provisões sobre o Lucro
antes do IR/CS (LAIR). As taxas efetivas das empresas acompanharam proporcionalmente o
aumento da sua lucratividade e do retorno financeiro, o que mostra, neste ponto, a estabilização
do planejamento tributário.
Em momentos de maior limitação financeira e de crise, a queda na taxa efetiva de
tributos foi evidente, demonstrando que as companhias tendem a melhorar e aplicar de forma
mais assídua o seu planejamento tributário e as mecânicas de elisão fiscal, a fim de poupar
recursos diminuindo o valor dos tributos pagos.
Desta forma, em resposta ao objetivo geral da pesquisa, este trabalho demonstrou que,
num contexto de maior limitação financeira, as companhias brasileiras estudadas tendem a dar
mais atenção aos benefícios de um bom gerenciamento tributário.
Como limitação deste trabalho pode-se destacar que os índices utilizados para
contextualizar a restrição financeira foram analisados de forma isolada, podendo revelar alguns
tipos de relações que não necessariamente representem o efeito conjunto aplicado às
companhias, o que o tornou dependente da transparência e veracidade das notas explicativas.
66

Uma também limitação foi a população estudada, que se tratou apenas de dois grupos
de atividade econômica, não podendo ser estendidas as análises para os demais grupos e
seguimentos.
Vistas as limitações, recomenda-se que as próximas pesquisas utilizem variáveis
distintas presentes nas literaturas para enxergar de forma prática os efeitos do planejamento
tributário; observar se as companhias enquadradas como limitadas financeiramente e
utilizaram-se dos preceitos do planejamento tributário para poupar recursos, tiveram melhores
desempenhos nos períodos seguintes; analisar e encontrar um limiar temporal em que o
planejamento tributário se torna evasão fiscal.
Por fim, o pesquisador conclui que a pesquisa foi de extrema importância para o seu
crescimento acadêmico, haja visto o acumulo de conhecimento literário e analítico para a sua
execução. Além de ter se mostrado uma ótima oportunidade de aplicar conceitos contábeis,
tributários e gerenciais, adquiridos ao longo de todo o curso, a casos reais.
67

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