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ARLS - JEAN SIBELIUS

Agosto 2013 Ir Alberto Nolli

A Regressão Dogmática

Constituição de Anderson
A Grande Loja de Londres adotou em 1717 os rituais de Elias Ashmole, e encarregou o
pastor Jacob Anderson, em 1721, para fazer uma compilação dos antigos preceitos e dos
regulamentos gerais da Maçonaria, de então.

Anderson, teve uma expressiva colaboração de intelectuais de sua época, tais como
George Payne e e J. Theophilus Desaguilliers, respectivamente, segundo e o terceiro
Grão Mestres da Grande Loja de Londres, e este ultimo, membro da “Royal Society of
London” da Inglaterra. A grande Academia que reunia os principais pensadores da época.

Os regulamentos consagrados na Constituição de Anderson, são considerados os pilares


da Maçonaria Moderna.

No parágrafo abaixo, vou ater-me somente ao artigo primeiro da Constituição que diz:

I – O que se refere a Deus e à Religião


“O maçom está obrigado, por vocação, a praticar a moral; e se compreender seus deveres,
nunca se converterá em um estúpido ateu nem em irreligioso libertino. Apesar de nos
tempos antigos os maçons estarem obrigados a praticar a religião que se observava nos
países em que habitavam, hoje crê-se mais conveniente não lhes impor outra religião
senão aquela que todos os homens aceitam, e dar-lhes completa liberdade com referência
às suas opiniões particulares. Esta religião consiste em ser homens bons e leais, quer
dizer, homens honrados e justos, seja qual for a diferença de nome ou de convicções.
Deste modo a Maçonaria se converterá em um centro de união e é o meio de estabelecer
relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas (ou não
se conheceriam).”

Vemos que o texto, apesar de Deista, é profundamente baseado na moral e nas virtudes.
Totalmente independente de credo religioso e, extremamente coerente com o
pensamento Iluminista do início do século XVIII(18) e o Ideário Maçônico daquele
tempo.
A Regressão Dogmática

Na Inglaterra

Conforme o Ir. José Castellani, “Em 1815, ocorreria a regressão dogmática, que tanto
influiria nos destinos da Maçonaria francesa: A Grande Loja Unida da Inglaterra, que
surgira em 1813, da fusão da Grande Loja dos "Modernos" (de 1717) e a dos auto-
denominados "Antigos", de 1751, alterava a primitiva Constituição de Anderson,
tornando-a absolutamente dogmática e impositiva, como se pode ver na nova redação
do artigo primeiro:

"Um maçom é obrigado, por seu título, a obedecer à lei moral e, se compreender bem a
Arte, nunca será ateu estúpido, nem libertino irreligioso. De todos os homens, deve ser o
que melhor compreende que Deus enxerga de maneira diferente do homem, pois o
homem vê a aparência externa, ao passo que Deus vê o coração. Seja qual for a religião
de um homem, ou sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no
glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e se praticar os sagrados deveres da moral...”

Ou seja: ao liberalismo e à tolerância da original compilação de Anderson, foram


sobrepostos pelo Teísmo pessoal e o dogmatismo de imposição, incompatíveis com a
liberdade de pensamento e de consciência.

Na França

Ainda assim, quando o Grande Oriente da França promulgou em 1839, seus primeiros
"Estatutos e Regulamentos Gerais da Ordem", conservou o melhor da tradição da
Maçonaria dos Aceitos dentro do espírito da original Constituição de Anderson, de
1723, como se pode ver em seus três primeiros artigos, sem qualquer dogmatismo:

"Art. 1º - A Ordem Maçônica tem por objeto o exercício da solidariedade, o estudo da


moral universal, das ciências, das artes e a prática de todas as virtudes.

Art. 2º - Ela é composta de homens livres, que, submissos às leis, reúnem-se em


Sociedade constituída de acordo com estatutos gerais.

Art. 3º - Não pode alguém ser maçom e gozar os direitos inerentes a esse título:

1. Se não tiver 18 anos completos, se não for livre e de bons costumes e se não obteve o
consentimento de seu pai, ou de seu tutor; essa última condição só será exigida até
à idade de 21 anos;

2. Se não for livre e honrado;

3. Se não for domiciliado há pelo menos seis meses no local em que se encontra a Loja à
qual se apresenta;

4. Se não tiver grau de instrução necessário para cultivar sua razão;


5. Se não for admitido nas formas determinadas pelos Regulamentos e Estatutos
Gerais".

Infelizmente , em 1849, a Grande Oriente da França, por obra e graça dos partidários de
uma reaproximação que degelasse as relações com a Grande Loja Unida da Inglaterra,
reformulou esses estatutos, sendo incluídos neles, as cláusulas inspiradas pela revisão
dogmática de 1815, (feita pela GLUI) das Constituições de Anderson, como se pode ver no
texto aprovado:

"Art. 1º - A Francomaçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e


progressista, tem por base a existência de Deus e a imortalidade da alma....”

Art. 3º - Para atingir esse objetivo, eles (os maçons, referidos no Art. 2º) devem,
respeitando a consciência individual, empregar todos os meios de propaganda pacífica,
dos quais os principais são o exame e a discussão de diversas questões que podem
esclarecer os espíritos e, sobretudo, conciliar os corações".

Incoerência

Castellani, afirma ainda, que “a incoerência salta aos olhos, pois, à exigência dogmática do
Artigo 1º, era aposto, no Artigo 3º, o respeito à consciência individual. Diante disso, foi
feita, em 1865, uma pequena alteração, sem mudar o texto dogmático, na parte referente
à liberdade de consciência, assim redigida:

Ela (a Maçonaria) vê a liberdade de consciência como um direito próprio de cada homem


e não exclui a ninguém por suas crenças".

A Luz

Felizmente estas alterações foram posteriormente revogadas e a tolerância e o espírito


maçônico, prevaleceram, como narra o Ir.: Castellani :

“Em 1872, depois de estudos iniciados em 1867, o Grande Oriente da Bélgica suprimia, de
seus rituais, a invocação do GADU, sem provocar qualquer reação por parte da G.´. L.´. da
Inglaterra. Diante disso, de um golpe, a campanha pela revisão, na França, aumenta de
intensidade. A cada ano, a Convenção é tomada por votos pela revisão, repelidos pelo
Conselho da Ordem, até que, em 1876, um voto da loja “La Fraternité Progressive”, de
Villefranche, solicitando a supressão das cláusulas dogmáticas, foi tomada à consideração,
sendo regulamentarmente enviada às Lojas, para estudo e retornando à Convenção em
1877. Nessa ocasião, duzentas e dez lojas enviaram representantes e dois terços delas se
manifestaram a favor da adoção do voto. O relator geral foi um pastor protestante,
Desmons, que apresentou um estudo memorável, o qual, aprovado, resultou na
supressão do segundo parágrafo do artigo 1º da Constituição de 1865, aquele que dizia:
“Ela tem por princípio a existência de Deus e a imortalidade da alma”.
Assim o Rito Moderno, continuou fiel ao texto original das Constituições de Anderson de
1723, que traduziam os antigos usos e costumes da Maçonaria e que se tornaram o
instrumento jurídico básico da moderna Maçonaria.

Bibliografia:

Ir. José Castellani, MANUAL DA l MAÇONARIA MODERNA", "O RITO MODERNO - A


VERDADE REVELADA", "INSTRUÇÃO PARA OS GRAUS SIMBÓLICOS DO RITO MODERNO" e
"MANUAL DO RITO MODERNO".

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