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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

GESTÃO AMBIENTAL E
RECONDICIONAMENTO DE PNEUS:
UM ESTUDO DE CASO NA ALFA
RECONDICIONADORA DE PNEUS EM
CAMPINA GRANDE - PB
Verônica Macário de Oliveira (UFCG)
veronicamacario@gmail.com
Maria de Fatima Martins (UFCG)
fatimamartins2005@gmail.com
Lucia Santana de Freitas (UFCG)
luciasf@ch.ufcg.edu.br
Gesinaldo Ataíde Cândido (UFCG)
gacandido@uol.com.br

A crescente preocupação ambiental, nas últimas décadas, trouxe à tona


a problemática da escassez dos recursos naturais e da geração de
resíduos no meio ambiente, com ênfase para os impactos provocados e
que degradam os sistemas ambientais ee interferem na qualidade de
vida da população. Considerando a responsabilidade que as empresas
têm em reduzir as externalidades negativas de suas atividades, o
presente artigo aborda a problemática da atividade de
recondicionamento de pneus, que como atividade poluidora tem
aspectos fundamentais a serem discutidos e adequados para reduzir os
impactos no meio ambiente. Nesse sentido, o artigo objetiva identificar
aspectos da atividade de recondicionamento de pneus que geram
impactos ambientais e verificar a postura da empresa em relação à
implantação de um sistema de gestão ambiental, baseado no modelo da
norma ISO 14001. Quanto à metodologia, o presente estudo é de
natureza exploratória e descritiva e utilizou-se do estudo de caso na
Alfa Recondicionadora de Pneus, situada na cidade de Campina
Grande - PB, utilizando como instrumentos de coleta de dados
entrevistas semiestruturadas com o gestor da empresa e os
funcionários envolvidos nas etapas do processo de recondicionamento,
bem como, a observação não participante e a análise de documentos
administrativos da própria empresa. Os resultados mostraram que a
empresa atende aos requisitos legais como forma de manter sua
atividade em funcionamento, tendo começado um processo de
implantação da ISO 14001, o que mostra que a empresa busca
melhorar sua postura ambiental.

Palavras-chaves: Sistema de Gestão Ambiental, ISO 14001,


Recondicionamento de Pneus
1. Introdução
O desenvolvimento econômico e os avanços tecnológicos têm promovido, por um lado, a
elevação dos índices econômicos, e por outro, acentuadas discussões acerca dos impactos
ocasionados pelas atividades econômicas ao meio ambiente, emergindo assim, a necessidade
de incluir nas práticas empresariais a temática da gestão ambiental, através da identificação e
implementação de instrumentos e metodologias que minimizem os impactos causados por
estas atividades sobre o meio ambiente.
Essa preocupação encontra-se contemplada nas discussões acerca do Desenvolvimento
Sustentável, cujo termo surge dentro de uma proposta de “harmonização entre o
desenvolvimento socio-econômico com a conservação do meio ambiente, com ênfase na
preservação dos ecossistemas naturais e na diversidade genética, para a utilização dos
recursos naturais” (FRANCO, 2000, p.26).
Neste sentido, as questões ambientais passaram a fazer parte da estratégia empresarial, de
modo que a preocupação com o Desenvolvimento Sustentável passa a ser considerada como
forma de competitividade entre as organizações, onde questiona-se a lógica da maximização
dos lucros em detrimento de outros objetivos, como a proteção ao meio ambiente. Assim, a
gestão ambiental passou a ser parte integrante da reflexão empresarial na definição de suas
estratégias competitivas e, nesse contexto, emerge a necessidade de valorização dos recursos
naturais e a preocupação com a destinação final dos produtos e resíduos. As atividades
econômicas que causam maior impacto ao meio ambiente, no que se refere à extração de
recursos naturais ou a geração de resíduos, são, geralmente, as que mais sofrem pressões para
implantação de ações que minimizem os seus impactos ambientais no meio ambiente.
No que tange ao setor de recondicionamento de pneus, este se constitui em uma atividade
econômica que mantêm forte correlação com a preservação do meio ambiente. Pneus velhos
que são descartados no meio ambiente são considerados por países desenvolvidos e em
desenvolvimento um sério passivo ambiental. Neste contexto, considera-se a atividade de
recondicionamento de pneus um recurso vital para o setor de transporte rodoviário e que
contribui, atualmente, para a requalificação de resíduos industriais, impedindo, em larga
escala, a destinação de pneus usados para aterros sanitários, incineração ou disposição na
paisagem. A renovação de pneus, através da recauchutagem, possibilita uma ampliação no
ciclo de vida do produto e uma revalorização econômica deste, além de diminuir os impactos
ambientais decorrentes da produção de pneus novos, a começar com a extração da matéria-
prima, qual seja, a borracha.
Apesar desta vantagem aparente, a atividade de recondicionamento de pneus é enquadrada nas
atividades poluidoras de pequeno grau
(http://servicos.ibama.gov.br/ctf/manual/html/010401.htm), representando assim, impactos
degradantes para o meio ambiente e, consequentemente, sofre pressão para a incorporação de
medidas que reduzam as externalidades negativas de atividade, especialmente com a produção
e destinação adequada do pó de borracha resultante da raspagem do pneu no processo de
recondicionamento, o que torna necessária a adoção de algumas medidas mitigadoras que
possam minimizar estes impactos e direcionar estas empresas para uma postura ambiental
adequada. Nessa perspectiva, a incorporação de práticas de gestão ambiental de forma

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sistematizada torna-se imprescindível para a atividade, no sentido de gerenciar
adequadamente os resíduos oriundos do processo.
A relevância desse artigo consiste em evidenciar a necessidade da adoção de Sistemas de
Gestão Ambiental, no intuito de incorporar práticas de gestão ambiental de forma estratégica
nas empresas, onde os valores ambientais façam parte dos objetivos estratégicos que orientam
a organização, de modo que possibilitem comprometimento gerencial, a adesão em todos os
níveis organizacionais, além de embasados nos conceitos de melhoria contínua para
proporcionar resultados sustentáveis.
Desta forma, este artigo tem como objetivo identificar aspectos da atividade de
recondicionamento de pneus que geram impactos ambientais e verificar a postura da empresa
em relação à implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, baseado no modelo da norma
ISO 14001. Para isso, realizou-se um estudo de caso de natureza descritiva e exploratória na
Alfa Recondicionadora de Pneus, empresa situada na cidade de Campina Grande – PB.
Além desta parte introdutória, o artigo apresenta o referencial teórico que trata das questões
referentes à relação entre negócio e meio ambiente, a gestão ambiental e a atividade de
recondicionamento de pneus. Em seguida são apresentados os procedimentos metodológicos
utilizados, os resultados alcançados e, por fim, têm-se as considerações finais dos autores.
2. Negócios e Meio Ambiente: o contexto da gestão ambiental
As discussões acerca da relação entre os negócios e o meio ambiente cresceram de forma
significativa nas últimas décadas. O modelo de desenvolvimento econômico adotado nos
últimos anos, baseado no aumento das escalas de produção e consumo, tem causado danos ao
meio ambiente, tais como o esgotamento dos recursos naturais, a degradação e a poluição
ambiental, assim como favorece o crescimento das desigualdades sociais e a concentração de
riquezas. Esta constatação fez surgir uma inquietação a respeito da necessidade de se alcançar
o equilíbrio em termos de proteção ambiental, igualdade social e desenvolvimento econômico,
com vistas à garantia de um presente e de um futuro sustentável.
Neste sentido, a preocupação com a preservação ambiental assume atualmente um papel
relevante para a gestão empresarial, incluindo nas discussões o comprometimento das
empresas na busca de soluções ambientalmente adequadas para os impactos ambientais
decorrentes dos processos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Segundo Souza (2002), o que tem ocorrido recentemente é que as dimensões econômicas e
mercadológicas das questões ambientais tem se tornado cada vez mais relevantes. Elas têm
representado custos e/ou benefícios, limitações e/ou potencialidades, ameaças e/ou
oportunidades para as empresas. O autor ressalta que uma breve análise nos periódicos
recentes destinados ao público empresarial e financeiro comprova a afirmativa de que os
vínculos das empresas e dos mercados com as questões ambientais são cada vez maiores, mais
explícitos e mais positivos.
Conforme explicitado anteriormente, com o surgimento do conceito de Desenvolvimento
Sustentável, as questões ambientais passaram a influir cada vez mais nas decisões
empresariais, e no decorrer das últimas décadas, acentuaram-se os vínculos positivos entre
preservação ambiental, crescimento econômico e atividade empresarial, incorporando a
variável ambiental como elemento a ser considerado na definição das estratégias de
crescimento das empresas, seja por gerar ameaças ou oportunidades.

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Na década de 1970, que marcou o início das discussões sobre as questões ambientais na
Conferência de Estocolmo, o ambientalismo surgiu como uma restrição regulatória imposta
pelo governo. A década de 1980 foi marcada pela acentuada participação dos grupos
ambientalistas no direcionamento das estratégias ambientais corporativas, os quais cresceram
em poder e influência, representando as pressões sociais impostas às empresas. Porém, a
partir da década de 1990, segundo Souza (op. cit.), a realidade do ambientalismo dentro do
mundo dos negócios tornou-se mais complexa do que a simples conformidade com as leis ou
a responsabilidade social, entrelaçando a proteção ambiental com a competitividade
econômica. O que anteriormente foi dirigido por pressões que estavam fora do mundo dos
negócios é agora direcionado por interesses que existem dentro dos ambientes econômico,
político, social e mercadológico das empresas.
A complexidade da gestão ambiental empresarial é verificada pelos condicionantes
relacionados a pressão das regulamentações, pela busca de melhor reputação, pela pressão de
acionistas, investidores e bancos para que as empresas reduzam o seu risco ambiental, pela
pressão de consumidores e pela própria concorrência. Assim, o atual ambiente de negócios
pressiona as empresas a se preocuparem com o controle dos impactos ambientais. Este
cenário que, de início, parece colocar as organizações em risco, no que diz respeito as suas
relações com a natureza, deve ser encarado como uma oportunidade para que elas possam
implementar práticas sustentáveis de gestão, não apenas como uma postura reativa a
exigências legais ou pressões de grupos ambientalistas, mas sim com a intenção de obter
vantagens competitivas.
Mediante a perspectiva estratégica da variável ambiental nas empresas, Maimon (1996)
definiu a gestão ambiental como um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma
organização na sua interface com o meio ambiente, ou seja, é a forma pela qual a empresa se
mobiliza, interna e externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada.
Neste mesmo sentido, Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000) propõem um modelo de gestão
ambiental baseada em princípios da qualidade e destacam que para o processo de gestão
ambiental ser eficaz deve ser contínuo e adaptativo, permitindo novos posicionamentos
estratégicos, definição e redefinição de objetivos e metas de acordo com o contexto ambiental.
Nessa perspectiva, a empresa deve ser concebida como um sistema, a partir de uma
visualização ampla de todo o contexto, considerando as inter-relações internas e as relações
com o meio ambiente externo.
Reis (1995) afirma que o gerenciamento ambiental é um conjunto de rotinas e procedimentos
que permite uma organização administrar adequadamente as relações entre suas atividades e o
meio ambiente que as abriga, atentando para as expectativas das partes interessadas. Dessa
forma, as empresas precisam buscar sistemas de gerenciamento que auxiliem na busca
permanente pela harmonização de suas atividades econômicas com o meio ambiente através
de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
Segundo Epelbaum (2006), o Sistema de Gestão Ambiental – SGA surgiu em decorrência das
pressões de diversos atores institucionais e sociais por um ambiente mais limpo, no intuito de
incorporar nas empresas práticas de gestão ambiental mais avançadas além das tecnologias de
fim-de-linha, que possibilitem comprometimento gerencial com a melhoria e a prevenção
contínua, amparado por estruturas organizacionais adequadas, cultura e valores apropriados,
pessoas preparadas e sistemas de informação. Desta forma, a gestão ambiental deve ser
tratada de forma sistemática e integrada à gestão empresarial, e não de forma segregada como
até então ocorria.

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Orsato (2002) enfatiza que o uso de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) para o controle
dos riscos industriais pode ser justificado não apenas na base técnica de redução de riscos,
mas também no potencial de se tornar uma fonte de vantagem competitiva, onde o
desempenho ambiental melhorado das empresas resultaria da inovação nos processos
organizacionais e seu controle baseado nos sistemas de gestão ambiental e a busca contínua
destas práticas elevariam a competitividade das empresas que adotasses tais sistemas.
Dentro desse contexto, destacam-se as certificações ambientais, como a série ISO 14.000 que
seguem a tendência das demais certificações, ao estabelecer normas para a questão ambiental,
através da coordenação de atividades, criação de padrões e procedimentos do setor produtivo.
Segundo Alberton (2003) o conjunto de normas da série ISO 14000 engloba o planejamento
de ações, a implementação e a operação de medidas para equacionar questões ambientais, a
verificação de resultados, a adoção de eventuais medidas corretivas e a análise crítica de todo
esse processo pela administração da empresa, considerando uma eventual alteração de
comportamento e visão por parte desta, além de tratar da avaliação do ciclo de vida dos
produtos e da rotulagem ambiental. A norma ISO 14001exige, obrigatoriamente, que os
aspectos ambientais das atividades produtivas sejam levantados, para que posteriormente
sejam apontados os impactos ambientais associados, o que facilita a visualização da relação
entre as causas (aspectos ambientais dos produtos, serviços ou atividades) e as conseqüências
(impactos ambientais) na implantação das políticas de gestão ambiental.
O modelo de SGA definido pela Norma ISO 14001 é considerado o mais consagrado na
atualidade e tem como premissas básicas: o comprometimento com a legislação aplicável,
com a melhoria contínua do desempenho ambiental e com a prevenção da poluição. Trata-se
de modelo pragmático de estruturação da gestão ambiental, baseado na ferramenta de controle
de processos PDCA (Plan, Do, Check, Action), de modo a organizá-la, porém sem estabelecer
parâmetros para a excelência ambiental. Os princípios de um sistema de gestão ambiental
(NBR ISO 14004, 1996), evidenciam o papel estratégico da ISO 14001, o que pode ser
observado no Quadro 1, a seguir:
Princípio Descrição
Comprometimento Comprometimento da alta administração, realização de avaliação ambiental inicial e o
e política estabelecimento de uma política ambiental;
Planejamento Formulação de um plano para o cumprimento da política ambiental, através da
identificação de aspectos ambientais e avaliação dos impactos ambientais correlatos,
caracterização dos requisitos legais envolvidos, definição de critérios internos de
desempenho, estabelecimento de objetivos e metas ambientais e um programa de gestão
ambiental;
Implantação Criação e capacitação de mecanismos de apoio à política, objetivos e metas ambientais,
através da capacitação e aporte de recursos humanos, físicos e financeiros,
harmonização do sistema de gestão ambiental, estabelecimento de responsabilidade
técnica e pessoal, conscientização ambiental e motivação, desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades e atitudes;
Medição e Trata-se da medição e monitoramento do desempenho ambiental, possibilitando ações
avaliação corretivas e preventivas, além de registros do sistema de gestão ambiental e gestão da
informação;
Análise crítica e Envolve a modificação do sistema com a fim de alcançar a melhora contínua de seu
melhoria desempenho, através de sua análise crítica.
Quadro 1: Princípios de um sistema de gestão ambiental (NBR ISO 14004, 1996)
Fonte: Elaboração dos Autores, 2010
Este modelo de SGA sofreu algumas modificações, em 2004, com o objetivo de esclarecer
alguns requisitos e definições e aumentar o alinhamento com a Revisão da Norma ISO 9001

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ocorrida em 2000, dentre as quais, destacam-se: definição do escopo do SGA; melhor
especificação do requisito referente a aspectos ambientais; ênfase na melhoria do desempenho
ambiental; melhor especificação do envolvimento dos que atuam em nome da empresa;
melhoria da eficácia da análise crítica da direção pela especificação dos seus dados de entrada
e saída; entre outros. Essa busca de aperfeiçoamento na definição do modelo demonstra o seu
caráter integrativo e sistêmico, que visa incorporar e disseminar na cultura organizacional e
nos processos organizacionais, o comprometimento com as questões ambientais, na
perspectiva da melhoria contínua, o que o torna mais eficaz na mudança de valores
organizacionais, por propor modificações incrementais nos processos, o que reduz a
resistência dos envolvidos nos processos (EPELBAUM, 2006).
Dentro deste contexto e vinculado a temática deste artigo, verifica-se que a gestão empresarial
encontra-se relacionada aos aspectos e impactos ambientais que causam ao meio ambiente. O
setor de recondicionamento de pneus é considerado um canal de logística reversa que, por ser
um bem durável, utiliza o subsistema de reuso para sua reintegração no processo produtivo,
aumentando a duração do ciclo de vida e a valorização econômica do produto, além de
favorecer o meio ambiente ao diminuir a necessidade de produção de pneus novos e a má
disposição dos pneus usados que podem causar sérios danos ambientais. Apesar das aparentes
vantagens desta atividade econômica sobre o meio ambiente, e considerando a sua vital
importância para o transporte rodoviário, observa-se que esta deixa algumas marcas
indesejáveis sobre o meio ambiente, o que torna necessário a adoção de medidas mitigadoras
para minimizar esses impactos, o que pode ocorrer através da implantação de um Sistema de
Gestão Ambiental, com base no modelo da norma ISO 14001.
Neste sentido, torna-se visível a pertinência em se discutir e analisar os aspectos relacionados
à atividade de recondicionamento de pneus e a gestão ambiental.
2.1 Recondicionamento de pneus e as questões ambientais decorrentes
O surgimento de pneus de borracha, resultado da substituição das rodas de madeira e ferro,
usadas em carroças e carruagens desde os primórdios da História, representou um grande
avanço. A criação do pneu de borracha foi atribuída ao norte-americano Charles Goodyear, ao
descobrir o processo de vulcanização da borracha quando deixou o produto, misturado com
enxofre, cair no fogão, criando um produto que viria a revolucionar o mundo. Entre as
potencialidades industriais do pneu de borracha, além de ser mais resistente e durável, absorve
melhor o impacto das rodas com o solo, o que tornou o transporte muito mais prático e
confortável. Porém, associada à revolução no setor dos transportes, a utilização dos pneus de
borracha trouxe consigo a problemática do impacto ambiental, tanto na produção quanto no
descarte, uma vez que a maior parte dos pneus descartados passou a ser abandonado em locais
inadequados, gerando grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vidas humanas.
Segundo organizações internacionais, a produção de pneus novos está estimada em cerca de 2
milhões por dia em todo o mundo. Já o descarte de pneus velhos chega a atingir, anualmente, a
marca de quase 800 milhões de unidades. Só no Brasil são produzidos cerca de 40 milhões de
pneus por ano e quase metade dessa produção é descartada nesse período.
Por outro lado, a disposição final dos pneus usados representa um problema de difícil solução,
pois são objetos que ocupam grande volume e que precisam ser armazenados em condições
apropriadas para evitar riscos de incêndio e proliferação de insetos e roedores. Cada pneu
médio, quando queimado, libera cerca de 10 litros de óleo no solo que escorre até atingir o
lençol freático, contaminando a água do subsolo. Ao serem estocados em aterros sanitários,
por apresentarem baixa compressibilidade, reduzem a vida útil dos aterros. Os pneus

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descartados absorvem os gases liberados pela decomposição do resto dos resíduos, incham e
estouram, podendo provocar a combustão espontânea, por meio da qual liberariam enxofre,
carbono e outros poluentes altamente tóxicos. A situação piora ao se pensar que a combustão
envolverá outros resíduos presentes nos aterros, com composição desconhecida, o que,
certamente, agravará o problema.
De acordo com Adrietta (2002), uma forma encontrada para amenizar esse impacto foi a
utilização de metodologias de reciclagem e reaproveitamento desses pneus. Entre elas, o
recondicionamento tem sido um mecanismo bastante utilizado para conter o descarte de pneus
usados. O Brasil ocupa o 2º lugar no ranking mundial de reaproveitamento de pneus. Esta
técnica permite que o recondicionador, seguindo as recomendações das normas para atividade,
adicione novas camadas de borracha nos pneus velhos, aumentando, desta forma, a vida útil
do pneu em 100% e proporcionando uma economia de cerca de 80% de energia e matéria-
prima em relação à produção de pneus novos.
Vale ressaltar que os pneus se constituem no segundo item de maior custo de uso dos veículos
automotores, depois do combustível. Daí a importância econômica do processo de reforma de
um pneu usado, denominado recauchutagem ou recondicionamento, que consiste em repor e
vulcanizar a camada superior de borracha da banda de rolamento. Para que isto ocorra, os
requisitos necessários são que a estrutura geral do pneu não apresente cortes e deformações, e
a banda de rodagem ainda apresente os sulcos e saliências que permitem sua aderência ao solo,
ou seja, que o pneu não esteja "careca", na linguagem popular. A reforma de pneus é limitada
aos pneus de veículos comerciais, caminhões e ônibus. As precárias condições de conservação
dos pavimentos de estradas e ruas limitam muito a vida útil do pneu de primeira rodagem,
assim como impedem sua reforma (ADRIETTA, op. cit).
Em boas condições de conservação, um pneu de caminhão pode suportar até cinco reformas.
No Brasil, a reforma de um pneu de caminhão ou ônibus custa em torno de um terço do preço
do novo. Constata-se, então, a importância desta atividade na revalorização econômica do
bem, no aumento do ciclo de vida do produto e na redução do impacto ambiental.
No intuito de diminuir o passivo ambiental dos pneus inservíveis no Brasil, o CONAMA -
Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou a Resolução No 258, de 26 de Agosto de
1999, que trata da destinação final de pneus de borracha, de forma ambientalmente adequada e
segura, dispondo sobre a reciclagem, prazos de coleta, entre outros fatores, determinando que
as empresas fabricantes e importadoras de pneus fossem as responsáveis pela destinação final
dos pneus inservíveis. Atualmente, essas empresas devem assegurar a destinação final de
cinco pneus inservíveis para cada quatro pneus novos inseridos no mercado.
Diante dessas questões, se justifica a relevância de realizar um estudo em uma empresa
recondicionadora de pneus para verificar aspectos da atividade que provocam impactos
ambientais, bem como, a postura da empresa em relação a adoção de um sistema de gestão
ambiental com base no modelo da norma ISO 14001, como forma de minimizar tais
externalidades negativas. A seguir serão tratados os aspectos metodológicos utilizados para
atingir o objetivo da pesquisa.
3. Procedimentos metodológicos
Dada às características do objetivo de pesquisa formulado, a estratégia para a condução da
pesquisa pode ser caracterizada como estudo de caso, o qual para Yin (2001) deve ser
utilizado quando a forma da questão de pesquisa é do tipo como ou por que, além disso, a
pesquisa não exige controle sobre eventos e focaliza acontecimentos contemporâneos. No

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estudo de caso realizado, caracterizado como caráter exploratório e descritivo, buscou-se
evidenciar os aspectos e impactos ambientais da atividade de recondicionamento de pneus na
empresa-alvo e as práticas de gestão ambiental utilizadas.
O modelo utilizado para verificar a postura da empresa em estudo com relação a implantação
de um sistema de gestão ambiental é baseado na norma ISO 14001, tendo como variáveis de
análise: o comprometimento da alta administração com a política de gestão ambiental da
empresa, o planejamento de uma política ambiental, a implantação através da criação e
capacitação de mecanismos de apoio à política, objetivos e metas ambientais; a medição e
avaliação do desempenho ambiental e a análise crítica e a melhoria contínua do seu sistema de
gestão ambiental.
Quanto às técnicas para a coleta de dados foram utilizadas: a) análise documental, procurando
identificar aspectos da regulamentação da atividade de recondicionamento de pneus na
organização; b) observação não participante, com o objetivo de conhecer a realidade, a
estrutura e funcionamento da empresa; c) aplicação de entrevistas semi-estruturada, baseada
em um roteiro pré-definido a partir da norma ISO 14001 e do conteúdo da fundamentação
teórica do trabalho, assim como as inferências dos pesquisadores obtidas através da
observação não participante.
O tratamento das informações colhidas foi realizado a partir das informações obtidas junto ao
estabelecido na fundamentação teórica do trabalho; nos comentários e sugestões propostas em
discussões entre os pesquisadores e, finalmente, com a percepção dos pesquisadores
decorrente das suas observações e inferências com a condução da pesquisa.
4. Estudo de Caso em uma Recondicionadora de Pneus
4.1 Caracterização da Empresa
A Alfa Recondicionadora de Pneus está situada, atualmente, no centro da cidade de Campina
Grande – PB e iniciou as suas atividades de recondicionamento de pneus em 25 de agosto de
1987. A área total de operação da empresa é de 1.000m2 de área construída, porém, a planta de
produção estará sendo transferida, em abril de 2010, para novas instalações localizadas no
Distrito Industrial e contará com um novo layout de produção do tipo monovia e novos
maquinários e equipamentos, para otimizar o processo e aumentar a produtividade . Possui 08
empregados no setor operacional e a produção média mensal é de 500 pneus recauchutados.
Os insumos utilizados na produção são a borracha, o pré-moldado (banda de rodagem) e a cola
de ligação. A caldeira que é responsável pelo processo de vulcanização dos pneus renovados
utiliza madeira do tipo algaroba como fonte de energia.
A licença de operação no. 1481/2008 foi emitida pela SUDEMA – Superintendência de
Administração do Meio Ambiente – para a prestação de serviços em renovação e recape de
pneus, obtida através do Sistema Estadual de Licenciamento de Atividades Poluidoras. Esta
licença possui como condicionante armazenar os resíduos sólidos em recipientes fechados e
em áreas cobertas e encaminhando-os para a coleta pelo serviço de limpeza municipal.
A empresa também possui o certificado de regularidade no Cadastro de Atividades
Potencialmente Poluidoras emitido pelo IBAMA, sob o número de cadastro no. 22743, para a
atividade relacionada a Indústria de Borracha, no recondicionamento de pneus, e para o uso
de recursos naturais, diante da exploração econômica da lenha que é utilizada na caldeira.
Neste sentido, esta atividade é contemplada com legislação específica, disciplinadora de
procedimentos tecnológicos e operacionais, capazes de reduzir ou mesmo de eliminar os
danos ambientais provenientes da atividade fabril.

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4.2 Descrição da atividade de recondicionamento de pneus na empresa analisada
O processo de produção dos pneus recondicionados na empresa em estudo é dividido em seis
etapas, ou atividades, conforme descritas na sequência.
1ª Etapa: Inspeção inicial - Esta fase é fundamental para realizar um serviço de qualidade
além de diminuir os custos de produção. Além da inspeção visual, são utilizados outros meios
e equipamentos para realizar esta tarefa como as máquinas de inspeção por pressão, ultra-
sonografia, indução elétrica, entre outras.
2ª Etapa: Preparação da carcaça - Nesta fase prepara-se o pneu para dar-lhe condições de
processamento e para que obtenha o resultado esperado em serviço. O pneu é raspado num
torno semi automático para devolver sua simetria.
3ª Etapa: Consertos - Nesta fase, o pneu, após o processo de raspagem, tem todos os danos
pontuais tratados escareando-os para eliminar toda e qualquer contaminação. Sempre após
realizar cada serviço, uma inspeção visual é realizada. O pneu recebe a cola para a posterior
aplicação da banda de rodagem.
4ª Etapa: Construção do Pneu - a banda de rodagem é preparada antes da sua aplicação no
pneu, a borracha não vulcanizada é aplicada no pneu raspado. Após a aplicação da banda,
estes deverão ser roletados com a pressão adequada.
5ª Etapa: Vulcanização - Finalizado o processo de construção do pneu, o mesmo (pneu +
banda de rodagem) é colocado dentro de um envelope de borracha e montado em uma roda
especial, para então ser levado para dentro da autoclave. Os pneus maiores são colocados
primeiro, para garantir uma perfeita circulação do ar quente dentro do equipamento. O
processo de vulcanização que ocorre dentro da autoclave tem seu tempo determinado de
acordo com a temperatura de trabalho da mesma. Um equipamento chamado termopar é o
responsável pela equalização deste tempo e também seu monitoramento. Ao fim deste
processo, a nova banda de rodagem já está incorporada à carcaça do pneu, o qual será
submetido a uma nova inspeção.
6ª Etapa: Inspeção final - O pneu reformado é novamente inspecionado com os mesmos
critérios e meios utilizados na inspeção inicial e em todas as fases do processo. Ressalta-se
que esta é a última oportunidade que a planta tem de corrigir algumas falhas ou imperfeições
antes que este pneu retorne definitivamente ao usuário final.
O processo de reforma de Pneus na empresa em estudo estará recebendo no ano de 2010 a
certificação do INMETRO, o qual oferece garantia de conformidade da qualidade do
processo. Por outro lado, algumas dessas etapas de produção de pneus recondicionados geram
resíduos que podem causar impactos ao meio ambiente, os quais são apresentados na seção
seguinte.
4.3 Identificação e caracterização dos resíduos na Alfa Recondicionadora de Pneus
Os resíduos que são gerados durante o recondicionamento de pneus são considerados resíduos
sólidos industriais. Segundo as normas da ABNT, resíduos sólidos industriais são todos os
resíduos no estado sólido ou semi-sólido resultante das atividades industriais, incluindo lodos
e determinados líquidos, cujas características tornem inviável seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos d’água ou que exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis.

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Durante a execução do processo de recondicionamento de pneus na Alfa Recondicionadora
são gerados resíduos que são apresentados no quadro abaixo, com as respectivas fontes de
origem (etapa do processo de produção), quantidades, tipo de acondicionamento e destinação
final, conforme Quadro 2.
Resíduo Fonte/ Etapa do processo Quantidade Tipo de Destino Final
origem produtivo mensal acondicionamento
Pó de Borracha Máquina de Preparação da 1.900 kg Sacos plásticos CIMEPAR
raspagem carcaça
Cinza Caldeira Vulcanização 480 kg Tambor de lixo Lixo urbano
Pneus rejeitados Produção Inspeção Inicial 40 unid - CIMEPAR
Tambores Depósito Consertos e 06 unid - ARTECOLA
vazios de Construção do pneu Ind. Química
cola/solvente
Fumaça Caldeira Vulcanização - Chaminé Ar
Quadro 2: Identificação dos resíduos gerados na Alfa Recondicionadora de Pneus
Fonte: Dados da pesquisa, 2010
O pó da borracha, principal resíduo gerado na atividade de recondicionamento de pneus, é
classificado segundo a ABNT NBR 10.004/97, como resíduo perigoso, devido a sua
inflamabilidade e as altas concentrações de enxofre, o que exige tratamento e disposição
especial, pois apresentam alto risco de incêndio e de contaminação da água. Desta forma, este
resíduo é vendido para ser utilizado como combustível alternativo para a indústria de cimento
credenciada pela SUDEMA para recebimento e processamento deste tipo de resíduo. Essa
destinação é a mesma dada para os pneus rejeitados na inspeção inicial.
Dependendo da composição elementar da borracha, na queima do seu pó, há liberação
substancial de gases tóxicos, tais como: de óxidos de enxofre, ácido sulfídrico (H2S), óxidos
de nitrogênio e ácidos de halogênio e outros. A emissão de dióxido de enxofre na atmosfera
causa dificuldades de respiração, doenças respiratórias, agravamento de doenças
cardiovasculares e, ao reagir com a água e diversos outros compostos químicos presentes no
ar, forma neblina química e ácido sulfúrico (H2SO4), um dos agentes da chuva ácida. O ácido
sulfúrico é levado pelo vento a grandes distâncias das fontes, causando danos ambientais em
grandes áreas. Chuvas ácidas além de danificarem acidificam lagoas, rios, florestas e a terra,
causando a morte de peixes, árvores e plantas e deteriorização de prédios e monumentos.
Os limites de emissões impostos pela legislação ambiental estão se tornando cada vez mais
rígidos, devido às exigências crescentes da sociedade, refletidas nas normas e resoluções dos
órgãos de controle ambiental. Devido à relevância dessa tecnologia, foi estabelecida a
Resolução CONAMA 264, de 26 de agosto de 1999, para tratar de aspectos referentes ao
licenciamento ambiental para o co-processamento de resíduos em fornos rotativos de clínquer,
na fabricação de cimento. Essa resolução estabelece os limites máximos de emissões
atmosféricas, quando são utilizados resíduos.
Ressalta-se, que os resíduos do pó de borracha e dos pneus rejeitados poderiam ser
recuperados e utilizados na pavimentação e na composição para outros artefatos de borracha e
sua queima nos fornos de cimento representa um significativo desperdício de todos os demais
componentes do pneu.
Por outro lado, as cinzas que são oriundas da caldeira são encaminhadas para o lixo urbano, o
qual é depositado no lixão, a céu aberto, sem nenhum tratamento específico. Os tambores
vazios de cola e solvente são devolvidos para os fornecedores e a fumaça oriunda da caldeira é
depositada na atmosfera, aumentando a poluição do ar.

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Destarte, observa-se que a empresa em estudo não realiza atividades de reaproveitamento dos
resíduos gerados durante o seu processo de produção. Porém, a empresa busca atender as
regulamentações existentes na destinação final dos resíduos gerados, como é o caso do pó de
borracha e dos pneus rejeitados que são encaminhados para uma empresa de cimentos
credenciada na SUDEMA.
4.4 Aspectos da gestão ambiental na empresa analisada
A empresa atua no mercado há mais de 20 anos e possui como principais clientes grandes
transportadoras, porém, estes clientes não pressionam a empresa em estudo a adotar medidas
mitigadoras em relação aos impactos ambientais que sua atividade econômica provoca, bem
como a atuação das suas três principais concorrentes não apresenta padrões de
competitividade elevados em termos da gestão ambiental, como por exemplo, a certificação
ISO 14.000. Desta forma, durante a realização da pesquisa, observou-se que o principal
objetivo da empresa quanto às questões ambientais é atender as regulamentações legais da
atividade de recondicionamento de pneus, que são representadas pelas exigências dos órgãos
ambientais através das licenças concedidas para o funcionamento da atividade. Até então, a
empresa tem conseguido manter-se no mercado e apresentar desempenho satisfatório.
Apesar da empresa já atender as regulamentações e não existir uma pressão do mercado
consumidor e dos concorrentes, a Alfa Recondicionadora decidiu adotar uma postura
estratégica e investir na implantação de um sistema de gestão ambiental, através da obtenção
da certificação ISO 14.001 para sua planta. Para tanto, contratou-se uma empresa de Recife-
PE, especializada em obtenção de certificações, para proceder o processo de certificação. A
parte inicial burocrática do processo de certificação já foi concluída, com a obtenção de todas
as licenças e declarações e que está diretamente relacionada com as etapas de
comprometimento da alta gerência com as questões ambientais e planejamento de uma
política ambiental. A empresa aguarda a vistoria da planta, que deverá ocorrer já nas novas
instalações, para dá prosseguimento ao processo.
Verificou-se então, que a empresa encontra-se na etapa de implantação do seu sistema de
gestão ambiental, envolvida na criação e capacitação de mecanismos de apoio à política,
objetivos e metas ambientais, ou seja, na busca de parâmetros que orientem o seu processo de
gestão ambiental, através de um processo de reflexão da sua gestão, o qual envolve a revisão
da sua missão, visão, valores e as crenças; bem como das políticas, medidas e procedimentos,
condutas gerenciais e princípios gerais que guiam seu processo organizacional; os requisitos
das partes interessadas na sua atividade; a melhoria contínua; a prevenção da poluição; a
coordenação com as demais políticas da organização, tais como: qualidade, saúde ocupacional
e segurança no trabalho; as condições locais ou regionais específicas; a conformidade com os
regulamentos, leis e demais critérios ambientais relacionados à atividade de
recondicionamento de pneus.
De acordo com os entrevistados, o processo de certificação e implantação do SGA ainda está
no início e a empresa deverá adequar-se em diversos aspectos para atender aos requisitos de
uma certificação, e esse processo começa com a instalação da nova planta em local apropriado
(Distrito Industrial da cidade), considerando que atualmente a empresa está localizada no
centro da cidade de Campina Grande. A partir dessa instalação, os demais requisitos serão
cumpridos dentro de um prazo mínimo estabelecido.
Com a aquisição dessa certificação e a implantação do seu SGA, a empresa espera tornar-se
mais competitiva no mercado e aproveitar as oportunidades da atividade e buscar melhorar
sua imagem no mercado através da incorporação da variável ambiental nos objetivos

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estratégicos, que até então, sua estratégia era apenas atender as conformidades legais. Nesta
mesma linha, está a certificação do INMETRO que a empresa também está implantando, a
qual estabelece os requisitos da qualidade para o serviço de reforma e os métodos de ensaio
para os pneus, além de definir os prazos e a freqüência em que os serviços de reforma devem
ser certificados, visando garantir a qualidade do serviço prestado no recondicionamento de
pneus, de acordo com procedimentos e parâmetros preestabelecidos.
É importante ressaltar que, considerando a atividade de recondicionar pneus, onde há um
aumento do ciclo de vida e, assim, redução da quantidade de pneus lançados no ambiente, a
atividade também contribui diretamente para a qualidade ambiental. Por outro lado, como a
atividade de recondicionar o pneu gera novos resíduos e impacto ambiental, como por
exemplo, o pó de borracha, a empresa deve ter uma gestão ambiental que confira a sua
atividade a certeza de que seus processos e produtos provoquem o mínimo de impactos
ambientais, através de medidas adequadas para a gestão dos resíduos no processo.
Nessa perspectiva, a certificação que está sendo implantada pela empresa permitirá incorporar
valores ambientais de forma mais estratégica e garantir que a atividade de recondicionamento
de pneus na empresa em estudo ocasione o mínimo de impacto ambiental. Assim, a empresa
poderá projetar sua imagem positiva junto ao meio ambiente e a sociedade.
5. Considerações finais
Diante da dimensão dos problemas ambientais atuais, há maior valorização das questões
ambientais e as empresas estão buscando cada vez mais uma incorporar as variáveis
ambientais em seus produtos e processos, uma vez que além da necessidade para atender as
questões legais, torna-se uma exigência de mercado que pode resultar em vantagem
competitiva para a empresa.
Este artigo se propôs identificar aspectos da atividade de recondicionamento de pneus que
geram impactos ambientais e verificar a postura da empresa em relação à implantação de um
sistema de gestão ambiental, com base no modelo da norma ISO 14001. Neste sentido,
observou-se que a empresa desenvolve uma atividade potencialmente poluidora, mesmo que
em pequeno grau, gerando como principal resíduo industrial o pó de borracha, que é
classificado como resíduo perigoso pela norma da ABNT, devido a sua característica de
inflamabilidade e por possuir em sua composição substâncias tóxica, como o enxofre, de
modo que necessita de uma disposição final ambientalmente correta, para evitar danos ao meio
ambiente e a saúde pública. Na empresa em investigação, este resíduo é encaminhado para
uma empresa de cimento, a única regulamentada pela SUDEMA no Estado da Paraíba, para
fazer a queima do pó de borracha nos fornos rotativos de clínquer, na fabricação de cimento.
Neste sentido, para obter a licença ambiental necessária ao desenvolvimento de sua atividade,
a empresa em estudo atende todas as regulamentações exigidas para o funcionamento da
atividade, pela SUDEMA, IBAMA e, mais recentemente, pelo INMETRO. Entretanto,
verificou-se que a empresa está buscando adotar uma estratégia ambiental além das
conformidades legais, despertando para as vantagens competitivas que podem ser obtidas com
a gestão ambiental estratégica, quando iniciou o processo de implantação de um SGA, através
da ISO 14.001, cuja certificação é de caráter voluntário e não obrigatório. Além disso, esse
nível de preocupação constitui uma postura de antecipação às regulamentações da atividade da
empresa, sendo pioneira em relação aos seus concorrentes no setor de atuação local,
apresentando com isso, evolução em relação às questões ambientais e vantagens competitivas,
ao incorporar a variável ambiental em sua gestão.

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A partir do estudo realizado fica evidente a relevância da gestão ambiental para as empresas
recondicionadoras de pneus, a partir da incorporação das variáveis ambientais em seus
objetivos estratégicos, da melhoria das práticas para redução dos impactos ambientais
gerados, cujo resultado consiste na obtenção de vantagem competitiva da empresa junto ao
mercado e a sociedade, bem como, a otimização de alguns custos ambientais, entre outros.
Para o meio ambiente, esses resultados poderão ser evidenciados através da menor degradação
dos recursos naturais.
É relevante também ressaltar a viabilidade econômica e ambiental desta atividade, uma vez
que possibilita ampliação da vida útil dos pneus, resultando na redução de custos para o
consumidor (uma vez que representam um dos maiores custos de manutenção dos veículos
automotores); e evitando a destinação indevida de um número significativo de pneus usados
(que podem gerar sérios danos ao meio ambiente e a sociedade, por serem materiais de difícil
decomposição, não biodegradáveis, cuja decomposição total leva, aproximadamente, 600
anos).
Diante do exposto, constata-se que a implantação do Sistema de Gestão Ambiental propiciará
ao processo uma melhoria contínua, com melhor reaproveitamento dos resíduos gerados,
qualidade e valor agregado aos produtos, maior abertura no mercado e, principalmente
projeção de uma imagem positiva junto à sociedade como uma empresa que é comprometida
com as questões ambientais de sua atividade. E mesmo que essas medidas representam um
custo inicial, resultará em vantagem competitiva em longo prazo, traduzidos em resultados
sustentáveis, bem como, melhor qualidade ambiental e de vida para a população local.
Referências
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