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FACHADA ENVIDRAÇADA COM PAINÉIS DUPLOS

APOIADOS EM PERFIS TUBULARES DE ALUMÍNIO


Exemplo de Cálculo

Na Figura 1 representa-se o alçado de uma frente de fachada envidraçada


– em projecto – para o vão do átrio com 5,4 m de altura de um edifı́cio.
A fachada foi desenhada em malha quadrada realizada por perfis de alumı́nio
que suportam painéis de vidro duplo. Como se pode observar os mainéis
vencem toda a altura do átrio e recebem travessas a 1/3 do vão, pelo que
os painéis têm 1, 8 × 1, 8 m2 , sendo as chapas que os constituem em vidro
monolı́tico recozido com 10 mm de espessura. O espaço entre as chapas é
de 12 mm e preenchido com gás.

Figura 1: Alçado da fachada

Os dados a utilizar para o valor caracterı́stico da pressão do vento e


coeficientes de pressão são dados na Tabela 1:

Tabela 1: Acção do Vento – pressão de pico e coeficientes de pressão

qp cpe.10 cpe.1 cpi


2.0 kPa -1.2 -1.4 0.2

As chapas de vidro são fabricadas na mesma localidade onde se realizará


a obra pelo que a pressão isocórica que surgir nos painéis se deverá apenas
à variação da temperatura no espaço selado. As temperaturas mı́nimas e

1
máximas previstas, no perı́odo de vida útil do edifı́cio, no interior dos painéis
são respectivamente Tmin = −10◦ e Tmax = +50◦ .

i.(3 valores) Verifique a segurança dos painéis envidraçados em relação à


quebra para uma classe de Consequência CC2.

Resposta Os painéis têm uma área igual a Apain = 1.82 = 3.24 m2 .


O coeficiente de pressão externa a aplicar no cálculos dos painéis deve ser
calculado em conformidade:
cpe(3.24) = −1.4 − (−1.4 − (−1.2)) × log 3.24 ≃ −1.298
Os valores caracterı́sticos da pressão externa e interna que actuam nos
painéis são dados por:
wSkext = qp · cpe(3.24) = 2.0 × (−1.298) ≃ 2.596 kPa
wSkint = qp · cpi = 2.0 × (−1.2) = −0.4 kPa.
Para a classe de consequência CC2 o valor de γf = 1.5 pelo que os valores
de cálculo correspondentes à pressão do vento são:
wSdext = −2.596 × 1.5 ≃ 3.894 kPa
wSdint = −0.4 × 1.5 = −0.6 kPa.
O valor de cálculo da resistência à tracção fgd do vidro recozido é calculado
considerando os pressupostos da pergunta e a formulação da prEN 16612:

fgk – valor da tensão caracterı́stica de resistência à flexão, geralmente


igual a 45 MPa;

γM a – coeficiente parcial de segurança para o vidro recozido, geral-


mente igual a 1,8;

ksp – factor que depende das condições de acabamento do vidro que


se toma igual à unidade.

k mod – factor que depende da duração da carga ou da acção que se


toma igual à unidade por se tratar da acção do vento.
k mod · ksp · fgk 45
fgd = = = 25.0 MPa
γM a 1.8

Devido ao espaço entre as chapas se encontrar selado, é necessário consi-


derar, além das acções exteriores, as acções de origem ambiental devidas
à variação de temperatura que dão origem a tensões que devem ser con-
sideradas na avaliação da segurança e da resistência mecânica dos painéis
compostos.

pC,0 = cT · (TC − TP ) − (pa − pP )


cT = 0, 34 kPa/◦ K
pC,0 = 0.34 × (±60) − (0) = kPa

2
No caso de painéis duplos, a distribuição das chapas exteriores é obtida tendo
em conta o coeficiente de distribuição, δ, em função da espessura das chapas
constituintes, t1 = t2 = 10 mm, de acordo com as expressões seguintes:

t31
δ1 = = 0.5
t31 + t32

δ2 = 1 − δ1 = 0.5

A distribuição das acções exteriores entre as chapas dos painéis duplos


depende também das caracterı́sticas, dimensões, espessura das chapas de
vidro e do espaço, s, entre elas. O coeficiente, ϕ, é definido a partir do valor
do comprimento caracterı́stico, ä, de acordo com a teoria clássica das placas
finas:

s
s · t31 · t32
ä = 28, 9 × 4

k5 · t31 + t32

s
4 12 · 103 · 103 (1)
ä = 28, 9 × ≃ 0.68153
0.0194 · (103 + 103 )
1 1
ϕ= 4 = ≃ 0.02014
1 + (a/ä) 1 + (1.8/0.68153)4

Nas Expressões 1, s corresponde ao espaço entre as chapas e k5 é um co-


eficiente que permite determinar a variação de volume em função da relação
λ = a/b entre a menor dimensão (a) e a maior dimensão (b) do painel e do
valor de k5 , de acordo com a Expressão 21 .
z1 h i
(−6,8×λ1,33 ) ≃ 0.194
k5 = × 0, 4198 + 0, 22 × 10 (2)
16 × λ2

Para a chapa 1 (exterior) o valor de pd;1 é em kPa:

pd;1 = (δ1 + ϕ · δ2 ) · wSdext − (1 − ϕ) · δ1 · wSdint − ϕ · p0 · γf (3)

pd;1 = (0.5 + 0.02014 × 0.5) × 3.894 − (1 − 0.02014) × 0.5 × (−0.6) − 0.02014× →


→ (±20.4) × 1.5 ≃ 1.664 ou 2.896
Para a chapa 2 (interior) o valor correspondente, pd;2 , é dado por:

pd;2 = (1 − ϕ) · δ2 · wSdext − (δ2 + ϕ · δ1 ) · wSdint + ϕ · p0 · γf


1
O valor de k5 = 0.0194 pode ser obtido directamente da tabela B.3 da norma prEN
16612 ou calculado cf. Expressão 2 determinando o valor de coeficiente, z1 , cuja expressão
está definida na Tabela B.2 da mesma Norma.

3
pd;2 = (1 − 0.02014) × 0.5 × 3.894 − (0.5 + 0.02014 × 0.5) × (−0.6) + 0.02014 →
→ ×(±20.4) × 1.5 ≃ 2.652 ou 1.497
O valor mais elevado ocorre na chapa 1 (exterior) – pd;1 ≃ 2.896 kPa
Para o cálculo do valor máximo da tensão a expressão aplicável é:
a2
σmax = k1 · · pSd (4)
t2
O valor do coeficientes k1 depende da relação λ = a/b entre a menor
dimensão (a) e a maior dimensão (b) da chapa, do valor adimensional da
carga relativa p̈ e t, a espessura da chapa.
O valor adimensional da carga relativa é calculado em função da área
do painel A, do módulo de elasticidade do vidro, E, e da espessura, t, da
chapa:
 2
A pSd
p̈ = · (5)
4 × t2 E

Substituindo os respectivos valores nas expressões anteriores para o caso


mais gravoso, tem-se:
2
1.82

2.896
p̈ = × ≃ 2.715kPa (6)
4 × 0.012 70000000
O valor de p̈ = 2.715 permite determinar –pela Tabela B.1 da prEN 16612
– o valor de k1 a aplicar na expressão 4, obtendo-se k1 ≃ 0.27315.
O valor da tensão máxima no centro do painel vem dado por:

1.82
σmax = 0.27315 × × 2.896 ≃ 25.6 MPa
0.012
Este valor é praticamente igual ao valor máximo da tensão resistente de
cálculo fgd = 25 MPa pelo que se pode considerar verificada a segurança à
quebra.
Observação: Para a outra chapa (interior) o valor máxima da tensão é
aproximadamente igual a 21.7 MPa sendo mais desfavorável, neste caso,
um aumento de temperatura. 2

ii.(3 valores) – Verifique o estado limite de deformação dos painéis consi-


derando um valor limite para a flecha igual a 1/150 do vão.

Resposta O valor das acções a considerar no cálculo da deformação


são os caracterı́sticos. Tem-se, aplicando a expressão B.2 da prEN 16612,
para o valor máximo da flecha:
a4 pSd
wmax = k4 · · (7)
t3 E
2
Com p̈ = 2.65 e k1 = 0.2367

4
Para a chapa 1 (exterior) o valor de pd;1 é [kPa]:

pd;1 = (δ1 + ϕ · δ2 ) · wSdext − (1 − ϕ) · δ1 · wSdint − ϕ · p0 · γf (8)

pd;1 = (0.5 + 0.02014 × 0.5) × 2.596 − (1 − 0.02014) × 0.5 × (−0.4) − 0.02014× →


→ (±20.4) × 1.0 ≃ 1.664 ou 1.931
Para a chapa 2 (interior) o valor correspondente, pd;2 , é dado por:

pd;2 = (1 − ϕ) · δ2 · wSdext − (δ2 + ϕ · δ1 ) · wSdint + ϕ · p0 · γf

pd;2 = (1 − 0.02014) × 0.5 × 2.596 − (0.5 + 0.02014 × 0.5) × (−0.4) + 0.02014 →


→ ×(±20.4) × 1.5 ≃ 2.652 ou 1.065

Substituindo os respectivos valores nas expressões anteriores para o caso


mais gravoso, tem-se:
2
1.82

1.931
p̈ = × ≃ 1.810kPa (9)
4 × 0.012 70000000

Com p̈ = 1.81 o valor do coeficiente k4 = 0.03654 é determinado de acordo


com a Tabela B.2 da prEN 16612. Fazendo uso da Expressão 7:
1.84 1.931
wmax = 0.03654 × 3
× ≃ 0.01058 ≈ 10.6 mm
0.01 70000000

1800
O valor máximo admitido para a flecha é fmax = = 12 mm
150
Observação: O valor máximo da flecha na chapa interior é igual a 10.4 mm
quando ocorre um aumento de temperatura.3

Os perfis que suportam os painéis de vidro são em liga de alumı́nio


EN-AW-6082.B-T5, tubulares de secção rectangular com largura aparente
b = 70 mm e com 6 mm de espessura (Figura 2-a) tendo sido classificados
como sendo da Classe 1.
As travessas têm a mesma secção e encontram-se simplesmente apoiadas nos
mainéis, recebendo o peso próprio dos vidros com calços localizados a 0,40 m
das extremidades.
iii.(4 valores) – Calcule um valor para a dimensão (h) da secção dos per-
fis considerando os estados limites previstos no EC 1999. Os apoios móveis
estão localizados no topo inferior dos mainéis. Por uma questão de simplici-
dade pode assumir uma solução aproximada adequada para a configuração
das cargas devidas ao vento nos mainéis e que a secção determinante se
localiza a meio vão.
3
Com p̈ = 1.768 e k4 = 0.0368

5
Figura 2: Corte a-a: Ver alçado

Resposta O dimensionamento deve iniciar-se pela deformação do per-


fil de alumı́nio com maior vão, neste caso o mainel com 5.4 m. Por sim-
plificação assume-se que a distribuição da acção do vento segue uma forma
trapezoidal.
2
pSk · 5 × l2 − 4 × a2
fmax = (10)
1920 × E · I
sendo:
– cpe = cpe10 − 1.2, uma vez que a área de exposição é superior a 10 m2 ;
1.8
– pSk = × 2 paineis × 2.0 kPa × (−1.2 − 0.2) = −5.04 kN/m;
2
– l = 5.4 m;
– E = 70 GPa;
– I – Momento de inércia da secção em relção ao eixo paralelo à fachada.
A flecha máxima admitida é dado pelo menor de [l/250; 15 mm] = 15 mm.
Substituindo os valores e resolvendo a Expressão 10, temos:
2
5.04 × 5 × 5.42 − 4 × 0.92
0.015 ≥
1920 × 70000000 × I
resultando I ≥ 5.0807585 × 10−5 m4 , a solução para as dimensões da secção
são obtidas da Expressão:
b · h3 − b0 · h30 70 · h3 − (70 − 2 × 6) · (h − 2 × 6)3
I= = = 50807585 mm4
12 12

6
Resolvendo a Expressão em ordem a h obtém-se h ≃ 322 mm, optando-se
pela solução “comercial” b = 70 × h = 325 ∧ t = 6 milı́metros.

Estados limites de resistência Verifica-se a resistência à flexão sim-


ples e ao esforço transverso nas secções mais esforçadas:
pSd
· 3 × l 2 − 4 × a2

MSdmax =
24
pSd = γf · pSk = 1.5 × 5.04 = 7.56 kN/m
7.56
· 3 × 5.42 − 4 × 0.92 ≃ 26.54 kN m

MSdmax =
24
Tratando-se de uma secção da Classe 1 e uma liga 6082 e têmpera T-5, para
o valor do momento resistente de cálculo em flexão pura – na secção a meio
vão – tem-se para o valor de cálculo do momento resistente, MRd ,

MRd = f0 · Wpl /γM 1


b · h2 − b0 · h20 0.07 × 0.3252 − 0.058 · 0.3132
Wpl = = ≃ 4.2789 × 10− 04 m3
4 4
MRd = 230000 × 4.2789 × 10−4 /1.1 ≃ 89.47 kN m
MRd > MSdmax

O mainel na secção a meio vão recebe em tracção o peso próprio dos 2


painéis inferiores:
NSd = γg × (0.01 + 0.01) × 1.8 × 1.8 × 25 kN/m3 × 2 = 1.35 × 3.24 ≃ 4.374
kN
A verificação da segurança deve ser realizada em flexão composta com
tracção:

NSd MSd f0
+ ≤
Ag Wpl γM 1
4.374 26.54 230000
+ = 62967.1 kPa ≤ kPa
0.004596 4.2789 × 10− 4 1.1

A verificação aos esforços de corte é realizada de igual modo: VRd ≥ VSdmax


pSd · (l − a) 7.56 × (5.4 − 0.9)
sendo VSdmax = = = 17.01 kN
2 2
f0 1 230000
VRd = Aν · √ · = (2 × 0.06 × 0.325) × √ ≃ 470.8 kN
3 γM 1 3 × 1.1

A verificação da segurança da travessa é realizada para os estados


limites de deformação e flexão desviada:

7
Para a deformação determina-se o valor da flecha devido ao peso de
um painel de vidro que descarrega em cada calço: NSk = (0.01 + 0.01) ×
1.82 × 25/2 = 0.81 kN
Estando os calços localizados a uma distância d = 0.4 m dos apoios a flecha
devido ao peso dos vidros é:
NSk · d
3 · l 2 − 4 · d2

fmax =
24 × E · It
b3 · h − b30 · h0
It = = 4.200041 × 10−6
12
0.81 × 0.4
× 3 × 1.82 − 4 × 0.42

fmax = −6
24 × 70000000 × 4.200041 × 10
1800
fmax ≃ 0.41 mm < = 3.6 mm
500

Para a verificação da resistência em flexão desviada tem-se a


seguinte condição:
M⊥,Ed Mk,Ed
+ ≤1 (11)
M⊥,Rd Mk,Rd

Na direcção perpendicular ao plano da fachada:

l3 1.83
M⊥,Ed = psd · = 7.56 × ≃ 3.6742 kN.m
12 12
230000
M⊥,Rd = Wpl ·
1.1
Wpl = 4.2789 × 10−4 ≡ mainel
230000
M⊥,Rd = 4.2789 × 10−4 × ≃ 89.47 kN.m
1.1

Na direcção paralela ao plano da fachada:

Mk,Ed = psd · d = (1.35 × 0.81) × 0.4 ≃ 0.44 kN.m


230000
Mk,Rd = Wplk ·
1.1
b2 · h − b20 · h0 0.072 × 0.325 − 0.0582 · 0.313
Wplk = = ≃ 1.3489 × 10−4 m3
4 4
230000
Mk,Rd = 1.3489 × 10−4 × ≃ 28.20 kN.m
1.1

Substituindo os valores encontrados na Expressão 11 temos:


3.6742 0.44
+ = 0.0566 ≪ 1
89.47 28.2

8
iv.(2 valores) – Considere que as travessas se ligam aos mainéis com 2
parafusos (furação com 10 mm de diâmetro) em cada parede conforme se
ilustra na Figura 2-b. Nessas secções verifique os estados limites últimos de
resistência dos mainéis.

A verificação da segurança deve contemplar a secção furada na zona


das travessas superiores para a flexão composta com tracção simples na
secção furada, estando esta sujeita ao peso próprio de 3 painéis4 . Nestas
situações é necessário determinar a tensão máxima instalada na zona mais
traccionada da secção do perfil (Equação 12):

NSd MSd fu
+ ≤ (12)
0.9 × Anet α · Wnet γM 2
O peso próprio dos painéis é dado por:

NSdp = γg × (0.01 + 0.01) × 1.8 × 1.8 × 25 kN/m3 × 3 = 1.35 × 4.86 ≃ 6.561


kN
O peso próprio das travessa és:

NSdt = γg ·Ag ×1.8×27.4 kN/m3 ×3 = 1.35×0.004596×1.8×27.4×3 ≃ 0.681


kN

sendo o valor do esforço axial na secção dado por:


NSd = 6.561 + 0.681 ≃ 7.48 kN

O Momento flector, devido à acção do vento, que actua a 1.8 do apoio


fixo (superior) pode ser calculado de forma aproximda:

l 1.82
MSd−1.8 = pSd × × 1.8 − pSd ×
2 2
5.4 1.82
MSd−1.8 = 7.56 × × 1.8 − 7.56 × ≃ 8.165 kNm
2 2

Sendo:

Anet = Ag − 4 × 0.01 × 0.006


= 0.004596 − 0.00024 ≃ 0.004356 m2
0.325 − 0.1 2
 
Wnet = Wpl − 4 × (0.06 × 0.01) ×
2
= 4.2789 × 10−4 − 1.35 × 10−4 ≃ 2.929 × 10−4
4
Poder-se-á desprezar o peso próprio das travessas

9
tem-se, aplicando a Expressão 12
7.48 8.165
+ ≃ 1908 + 27877
0.9 × 0.004356 2.929 × 10−4
270000
= 29785 kPa ≤ = 216000 kPa
1.25

Fim
c 2019)
Rui de Camposinhos (

10

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