Você está na página 1de 7

OMISSÃO DE RECEITA

Caracterização

Examinamos neste trabalho, os procedimentos adotados pelo Fisco para efeito de caracterização e tributação de receitas
omitidas pelas pessoas jurídicas, de acordo com os dispositivos da legislação vigente e em consonância com a
Jurisprudência Administrativa.

1.    CARACTERIZAÇÃO DA OMISSÃO DE RECEITA


Caracteriza-se como omissão no registro de receita, a ocorrência de:
a)    indicação, na escrituração, de saldo credor de Caixa;
b)    falta de escrituração de pagamentos efetuados;
c)    manutenção, no Passivo, de obrigações já pagas ou cuja exigibilidade não seja comprovada.
Em qualquer dessas hipóteses, será ressalvada ao contribuinte a prova da improcedência da presunção.

2.    SALDO CREDOR DE CAIXA


O fato de a escrituração do contribuinte indicar saldo credor de Caixa constitui presunção legal de omissão de receitas.
Dentre as inúmeras decisões do Carf – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, antigo Conselho de Contribuintes,
a respeito da matéria, destacamos:

Acórdão 1202-000.483 – Carf/2ª Câmara – de 22-2-2011


Os cheques emitidos pela contribuinte, compensados por instituição bancária, lançados a débito da conta “Caixa” como
suprimento, deverão ter seus correspondentes registros a crédito desta conta, pela saída de caixa para o pagamento das
obrigações da empresa, para que se opere a neutralidade da sistemática contábil adotada, vulgarmente chamada de
“lançamento cruzado na conta Caixa”. Não comprovando a empresa o registro dessa saída, é legitima a recomposição
do saldo da conta “Caixa”, com a exclusão dos valores indevidamente registrados como suprimentos, que são
considerados entradas fictícias de recursos. A consequente apuração de saldo credor na conta Caixa evidencia a prática
de omissão do registro de receitas, pela utilização de recursos à margem da escrituração contábil, para fazer face às
saídas de caixa, nos termos do art. 281, I, do RIR/99.

Acórdão 108-07.993 – 1º CC-MF/8ª Câmara – de 20-10-2004


É correto procedimento de verificação de saldo credor de caixa mediante a recomposição após a exclusão dos valores
de cheques compensados em favor de terceiros. O saldo credor corresponde à omissão de receitas.

Acórdão 107-07.026 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 18-3-2003


Excluídos da conta Caixa os valores dos cheques que lá não ingressaram, porque liquidados via compensação bancária,
resultando saldo credor em virtude de outras saídas de caixa não vinculadas aos destinos dados aos referidos cheques,
presume-se omissão de receitas, pela utilização de recursos à margem da escrituração contábil, para fazer face às
saídas de caixa.

Acórdão 105-13.389 – 1º CC-MF/5ª Câmara – de 5-12-2000


Não logrando o contribuinte comprovar a inexistência de saldo credor de caixa, cabível a presunção de omissão de
receitas, em montante equivalente. O saldo credor de caixa, devidamente apurado através de fluxo de caixa, realizado
em procedimento de ofício, caracteriza omissão de receitas.

Acórdão 108-06.360 – 1º CC-MF/8ª Câmara – de 23-1-2001


Tendo sido o auto de infração lavrado por omissão de receita com base em saldo credor de caixa apurado
exclusivamente em face do Livro Razão (conta Caixa) e tendo o contribuinte demonstrado não ter havido saldo credor
através do Livro Auxiliar de Caixa, não há como subsistir a presunção de omissão de receita.

Acórdão 101-94.866 – 1º CC-MF/1ª Câmara – de 24-2-2005


Constatado que as quantias tributadas a título de omissão no registro de receitas, por ocorrido movimentação de
recursos através de conta-corrente bancária, sem comprovação da origem, também figuram na base de cálculo do tributo
exigido por caracterizado saldo credor da conta Caixa, devem as mesmas serem excluídas de uma das exações, para se
evitar a dupla tributação.

Acórdão 108-07.366 – 1º CC-MF/8ª Câmara – de 17-4-2003


Se os dizeres de escritura de compra e venda de títulos não possibilitam aferir-se com a necessária certeza o momento
do pagamento, impossível considerar pago um determinado valor para expurgá-lo do saldo de caixa e apurar eventual
saldo credor.

Acórdão 107-09.502 – 1º CC-MF/7ª Câmara, de 18-9-2008


Tratando-se de presunções legais de saldo credor de caixa e de passivo fictício, cabe ao sujeito passivo refutá-las
mediante a comprovação com documentos hábeis e idôneos.

Acórdão 105-17.423 – 1º CC-MF/5ª Câmara, de 5-2-2009


Na reiteração de saldos credores de caixa, a presunção alcança apenas o maior saldo apurado no período.

3.    FALTA DE ESCRITURAÇÃO DE PAGAMENTOS


A não escrituração de pagamentos efetuados pela pessoa jurídica (compras omitidas) caracteriza omissão de receitas.
Dentre as diversas decisões sobre a matéria, emanadas do  Carf – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, antigo
Conselho de Contribuintes, destacamos as seguintes:

Acórdão 1401-000.469 – Carf/4ª Câmara – de 24-2-2011


A falta de escrituração de pagamentos de compras, detectada através do cruzamento de informações de fornecedores
com a escrituração da contribuinte, autoriza a presunção de omissão de receitas.

Acórdão 105-12.815 – CC-MF/5ª Câmara – de 12-5-99


A falta de escrituração ou a escrituração a menor de pagamentos autorizam a presunção simples de que os pagamentos
foram efetuados com receitas não registradas na contabilidade, configurando omissão de receitas. Presunção não
infirmada pela defendente.
Acórdão 1.044 CSRF-MF/1 ª Turma – de 26-11-90
A falta de registro contábil e fiscal de aquisição de mercadorias autoriza a presunção de omissão de receita, em
montante correspondente ao custo dessas mercadorias, ressalvada prova em contrário (tributação que se solidifica
quando o contribuinte não apresenta prova que descaracteriza a presunção).

Acórdão 103-12.162 – 1º CC MF/3ª Câmara – de 9-11-93


A falta de contabilização de compras autoriza a presunção de que os valores dos respectivos custos foram pagos com
recursos mantidos à margem da escrituração, omitidos, portanto, dos resultados da empresa.

Acórdão 107-04.144 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 14-5-97


Acrescenta-se ao lucro real, para efeito de tributação do imposto de renda pessoa jurídica, o valor das compras omitidas
dos registros contábeis.

4.    PASSIVO FICTÍCIO
Caracteriza omissão de receita a manutenção, no Passivo, de obrigações cuja efetiva exigibilidade não seja comprovada
(passivo fictício), ou seja, quando existe indício de que tais obrigações foram pagas com recursos cujo ingresso não foi
contabilizado pela pessoa jurídica.

Acórdão 1401-000.469 – Carf/4ª Câmara – de 24-2-2011


A existência no passivo de obrigações já pagas ou cuja exigibilidade não seja comprovada caracteriza a prática da
omissão de receitas, pela utilização de recursos à margem da contabilidade da empresa, nos termos do art. 281, III, do
RIR/99.

Acórdão 1402-000.523 – Carf/4ª Câmara – de 1-4-2011


Cabe ao contribuinte fazer prova da efetividade dos valores contabilizados em seu passivo; do contrário, aplica se a
presunção legal da ocorrência de omissão de receitas, nos termos do artigo 40 da Lei n° 9.430, de 1996.

Acórdão 105-15.676 – CC-MF/5ª Câmara – de 27-4-2006


A existência de aquisições à vista e constantes do rol do passivo ao final do período requerem prova a ser efetivada pelo
contribuinte de que os pagamentos ocorreram no período seguinte, à falta do que é de se manter a exigência, já que se
trata de presunção legal que somente pode ser afastada mediante prova.

Acórdão 105-15.478 – CC-MF/5ª Câmara – de 9-12-2005


Não configura omissão de receita pagamentos registrados na contabilidade dentro do ano-calendário, na empresa que
apure o lucro pelo real anual. O passivo fictício aflora por situação exatamente contrária, ou seja, a existência real de um
pagamento, provada por documentação, dentro do ano calendário e a baixa da obrigação no ano seguinte.
Estando o credor devidamente identificado, a presunção legal somente se configura se em diligência ficar provada a
inexistência, de fato do credor ou da dívida. Tendo sido provada a existência de dívida junto ao credor em diligência
determinada por este Conselho, descabe a presunção de omissão de receitas. (Art. 40 Lei 9.430/96).

Acórdão 1.025, DRF/Fortaleza/3ª Turma – de 4-4-2002


Tendo o contribuinte logrado comprovar parcialmente, através de documentação hábil e idônea, a existência de créditos
de acionista, valores que ensejaram a caracterização do passivo fictício objeto da ação fiscal, procede, em parte, a
exigência consubstanciada a este título.

Acórdão 01-1.650 – CSRF – de 25-3-94


A diferença entre o valor constante da conta Fornecedores, quando do levantamento do balanço, e a soma das
importâncias efetivamente comprovadas através de documentação hábil, constitui passivo fictício, indicando o fato
omissão de receitas. Recurso a que se nega provimento.

Acórdão 107-03.877 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 25-2-97


Também caracteriza omissão de receitas a liquidação de obrigações para com fornecedores no ano-base, porém ainda
constantes em aberto no seu balanço de encerramento.

Acórdão 107-04.368 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 16-9-97


A falta de comprovação, através de documentação hábil, das obrigações mantidas junto a fornecedores, registradas no
balanço patrimonial, autoriza a presunção de omissão no registro de receita, ressalvado ao contribuinte a prova de sua
improcedência. Se em razão de diligência fiscal o sujeito passivo logra comprovar a veracidade dos registros contábeis,
mediante documentos irrefutáveis, impõe-se a exclusão do respectivo valor da matéria tributada de ofício.

Acórdão 103-18.893 – 1º CC-MF/3ª Câmara – de 17-9-97


A comprovação, em primeira instância, da existência de mais 99% das obrigações afasta a presunção de omissão de
receitas em relação as parcelas de valores ínfimos tidas como não comprovadas.

Acórdão 101-91.813 – 1º CC-MF/1ª Câmara – de 17-2-98


A elisão da presunção de omissão de receitas por passivo fictício não pode se dar sem a apresentação de provas
objetivas de que os saldos eram devidos nas datas a que se referem.

5.    SUPRIMENTOS DE CAIXA
A legislação do Imposto de Renda determina que uma vez provada, por indícios na escrituração do contribuinte ou
qualquer outro elemento de prova, a omissão de receita, a autoridade tributária poderá arbitrá-la com base no valor dos
recursos de caixa fornecidos à empresa por administradores, sócios da sociedade não anônima, titular da empresa
individual, ou pelo acionista controlador da companhia, se a efetividade da entrega e a origem dos recursos não forem
comprovadamente demonstradas.
O Carf – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, antigo Conselho de Contribuintes, tem se manifestado repetidas
vezes a respeito das operações de reforço de caixa de empresas mediante empréstimos ou aumento do capital social
por parte de dirigentes.
Ressaltamos, entre as inúmeras decisões:

Acórdão 1802-000.771 – Carf/8ª Câmara – de 25-1-2011


Tributa-se como omissão de receita o aporte de capital dito efetuados por sócios à empresa, seja em espécie ou por
depósitos bancários, quando a origem ou a efetiva entrega dos suprimentos não forem comprovadas com documentação
hábil e idônea, coincidente em datas e valores.  Cabe ao sujeito passivo o ônus da prova nas infrações lançadas por
presunções legais de que o fato presumido não ocorreu.

Acórdão 107-08.229 – CC-MF/7ª Câmara – de 11-8-2005


Se a contribuinte conseguiu demonstrar a efetiva entrega do numerário, com o que concordou a própria DRJ, e, em sede
de Recurso Voluntário, trouxe declaração de rendimentos do sócio que demonstra condições financeiras deste para
suprir o caixa daquela, não há que se falar em omissão de receita.

Acórdão 105-14.800 – CC-MF/5ª Câmara – de 10-11-2004


Para afastar a presunção de omissão de receita, não basta a prova de que os sócios dispunham de origem regular para
suprir o caixa da sociedade, sendo necessária, também, prova plena, objetiva e inquestionável, mediante documentação
idônea e coincidente, da efetividade da entrega do numerário pelos sócios à sociedade.

Acórdão 104-15.225 – 1º CC-MF/4ª Câmara – de 19-8-97


Cabe à pessoa jurídica provar, com documentos hábeis e idôneos, coincidentes em data e valor, os registros de sua
contabilidade, inclusive os de efetivo ingresso no Caixa da empresa e da efetiva entrega pelos subscritores de numerário
para a integralização de aumentos de capital, bem como deverá fazer prova de sua respectiva origem, presumindo-se,
quando não forem produzidas essas provas, que os recursos tiveram origem em receita omitida na escrituração. Sendo
irrelevante a capacidade econômica do sócio da empresa, titular de crédito por suprimentos, se não for comprovada,
plena, objetiva e inquestionavelmente, a origem do numerário creditado, mediante documentos idôneos e coincidentes, e
que, igualmente, se comprove a efetividade da entrega dos recursos supridos, exibindo-se prova indubitável de que eles
se transferiram para o patrimônio da pessoa jurídica.

Acórdão 103-19.190 – 1º CC-MF/3ª Câmara – de 18-2-98


Os suprimentos de Caixa efetuados pelos sócios, e comprovadamente ingressados no patrimônio da pessoa jurídica,
impõem a prova hábil e idônea da origem do numerário suprido, eis que a regra prevista no § 3º do artigo 12 do Decreto-
Lei nº 1.598/77 – origem e entrega – são cumulativos e indissociáveis. Não comprovada a origem, cabe à autoridade
tributária efetuar o lançamento do imposto com base no valor dos recursos de Caixa fornecidos. Incabível a
recomposição da conta “Caixa” para excluir os suprimentos efetuados e provocar o saldo credor de Caixa, hipótese de
tributação prevista em outro dispositivo legal. Insuficiência da caracterização da infração.

Acórdão 103-19.261 – 1º CC-MF/3ª Câmara – de 17-3-98


Configura-se como omissão de receita a não comprovação da origem e efetiva entrega do numerário destinado a
aumento de capital.

Acórdão 107-04.371 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 16-9-97


O simples não registro na contabilidade de suprimentos feitos à empresa por sócio e de empréstimo bancário não
autoriza, sem o aprofundamento da ação fiscal, a conclusão de que teria havido omissão de receitas, mormente quando
as receitas supostamente omitidas foram apuradas em simples confronto com extratos bancários.

6.    FALTA DE EMISSÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS


Caracteriza omissão de receita, inclusive ganhos de capital, a falta de emissão da nota fiscal, recibo ou documento
equivalente, no momento da efetivação das operações de:
a)    venda de mercadorias;
b)    prestação de serviços;
c)    alienação de bens móveis;
d)    locação de bens móveis e imóveis;
e)    quaisquer outras transações realizadas com bens e serviços.
Ficará ainda caracterizada a omissão de receita se for verificada emissão de nota fiscal, recibo ou documento, em valor
inferior ao da operação (subfaturamento).

Acórdão 101-92.246 – CC-MF/1ª Câmara – de 19-8-98


Comprovado documentalmente que foram preenchidos as Ordens de Serviços, com o modelo impresso, com data de
entrega e de faturamento definida e, ainda, registrada palavra “Pago”, “Pg” ou “0k” , permite presumir que a nota fiscal de
prestação de serviços não foi emitida e nem contabilizada a receita correspondente.

Acórdão 107-04.123 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 13-5-97


A falta de emissão de Notas Fiscais de vendas de mercadorias e serviços no momento da sua efetivação evidencia a
prática de omissão de receitas e autoriza o lançamento de ofício dos tributos correspondentes, sobretudo se os
respectivos valores não foram registrados na contabilidade oficial da pessoa jurídica.

Acórdão 101-91.899 – 1º CC-MF/1ª Câmara – de 18-3-98


A prática de emitir Notas Fiscais de apenas parte das vendas realizadas configura omissão de receitas ao crivo do
tributo, caracterizando, evidente intuito de fraude e ensejando a aplicação da multa exasperada.

Acórdão 107-03.877 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 25-2-97


Legítima a apuração de diferenças caracterizadoras de saídas de produtos do estabelecimento industrial sem emissão
de Nota Fiscal, fulcrada em levantamento de utilização de matérias-primas efetuado a partir da documentação fiscal e
contábil do contribuinte. Este pode impugnar diferenças consideradas pela fiscalização com base em critério adequado,
apresentando, se for o caso, laudo de órgão técnico competente.

Acórdão 104-15.124 – 1º CC-MF/4ª Câmara – de 8-7-97


No silêncio da manifestação da autoridade, prevista no artigo 1º, § 2º, da Lei nº 8.846/94, se o contribuinte utiliza outro
documento que sirva à escrituração da receita e determinação do fato gerador do Imposto de Renda (CTN, artigo 43),
não há concretização da presunção de omissão de receita, prevista no artigo 2° do diploma legal.

Acórdão 104-15.127 – 1º CC-MF/4ª Câmara – de 8-7-97


A não emissão de nota fiscal na venda de combustível ao consumidor não enseja a aplicação da multa prevista na Lei nº
8.846/94 ao Posto Revendedor, tendo em vista que o mesmo está sujeito ao Registro Diário de suas vendas no LMC –
Livro de Movimento de Combustíveis –, instituído pela Portaria nº 26, de novembro de 1992, do Departamento Nacional
de Combustíveis.

7.    DEPÓSITOS BANCÁRIOS
Constituem, também, presunção legal de omissão de receita, os valores creditados em conta de depósito ou de
investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular pessoa jurídica, regularmente intimado,
não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nas respectivas operações.

Acórdão 107-03.874 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 25-2-97


Configura-se omissão de receita a existência de depósitos bancários não escriturados quando não provada a sua
origem. A mera alegação de que tais valores foram devolvidos ao cliente, sem prova efetiva da devolução, não tem o
condão de afastar a exigência do crédito tributário.

Acórdão 107-04.282 – 1º CC-MF/7ª Câmara – de 9-7-97


A falta de comprovação de que os recursos depositados em contas bancárias da empresa provêm de receitas
registradas na contabilidade oficial ou de fontes externas autoriza a presunção de que os mesmos têm origem em
receitas omitidas.

Acórdão 103-18.893 – 1º CC-MF/3ª Câmara – de 17-9-97


Improcedente o lançamento fundado exclusivamente em extratos ou comprovantes de depósitos bancários escriturados
pela empresa porque a infração não restou suficientemente demonstrada nos autos.

Acórdão 1402-000.522 – Carf/4ª Câmara – de 1-4-2011


Para que os depósitos bancários possam ser considerados receita omitida é necessário que a Fiscalização, de forma
prévia, relacione individualizadamente os valores e intime o titular dos recursos para comprovar a origem dos mesmos. A
intimação prévia para comprovação dos recursos se constitui em requisito essencial para formação da presunção de que
trata o artigo 42, da Lei n° 9.430, de 1996. Sem tal procedimento não se pode falar em presunção de omissão de
rendimentos. Não preenchidos, por falta de regular intimação, os requisitos de que trata o artigo 42, da Lei n° 9.430, de
1996, para formação da presunção, o lançamento torna se insubsistente. Acórdão da DRJ que se mantém pelos seus
próprios fundamentos. Recurso de ofício negado.

7.1.    DETERMINAÇÃO DOS VALORES OMITIDOS


As receitas ou os rendimentos omitidos serão considerados auferidos ou recebidos no mês do crédito efetuado pela
instituição financeira.
O valor cuja origem houver sido comprovada, que não tiver sido computado na base de cálculo do imposto, será
tributado de acordo com a legislação vigente à época do respectivo fato gerador.
Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos bancários serão analisados individualizadamente, observado
que não serão considerados os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa jurídica.

8.    ARBITRAMENTO DA RECEITA OMITIDA


Verificada por indícios a omissão de receita, a autoridade tributária poderá, para efeito de determinação da base de
cálculo sujeita à incidência do imposto, arbitrar a receita do contribuinte, tomando por base as receitas, apuradas em
procedimento fiscal, correspondente ao movimento diário das vendas, da prestação de serviços e de quaisquer outras
operações.

8.1.    CRITÉRIO DE ARBITRAMENTO
Para fins de arbitramento da receita mínima do mês, a autoridade tributária identificará os valores efetivos das receitas
auferidas pelo contribuinte em três dias alternados desse mesmo mês, necessariamente representativos das variações
de funcionamento do estabelecimento ou da atividade.
A renda mensal arbitrada corresponderá à multiplicação do valor correspondente à média das receitas apuradas pelo
número de dias de funcionamento do estabelecimento naquele mês.
O critério em exame poderá ser aplicado a, pelo menos, três meses do mesmo ano-calendário. Nesse caso, a receita
média mensal das vendas, da prestação de serviços e de outras operações correspondentes aos meses arbitrados será
considerada suficientemente representativa das receitas auferidas pelo contribuinte naquele estabelecimento, podendo
ser utilizada, para efeitos fiscais, por até doze meses contados a partir do último mês submetido ao arbitramento pelo
critério de três dias alternados.
A diferença positiva entre a receita arbitrada e a escriturada será considerada na determinação da base de cálculo do
imposto.
O tratamento examinado não dispensa o contribuinte da emissão de documentário fiscal, bem como da escrituração a
que estiver obrigado pelas legislações comercial e fiscal.

Vedação de incentivos fiscais


A diferença positiva apurada não integrará a base de cálculo de quaisquer incentivos fiscais previstos na legislação
tributária.

8.2.    CRITÉRIO ALTERNATIVO
É facultado à autoridade tributária utilizar quaisquer outros métodos de determinação da receita, para efeito do
arbitramento a que se refere o subitem 8.1, quando ficar constatado qualquer artifício utilizado pelo contribuinte com o
intuito de frustrar a apuração da receita efetiva do seu estabelecimento.

9.    LEVANTAMENTO QUANTITATIVO POR ESPÉCIE


A legislação vigente estabelece outra hipótese de presunção legal de omissão de receitas, através de levantamento, por
espécie, das quantidades de matérias-primas e produtos intermediários utilizados no processo produtivo da pessoa
jurídica.

9.1.    DETERMINAÇÃO DA OMISSÃO DE RECEITA


Para efeito de determinação da receita omitida será apurada a diferença, positiva ou negativa, entre as somas das
seguintes quantidades:

A)
B)
Estoques de produtos, no início do período de apuração,
constantes no Registro de Inventário
Produtos vendidos escriturados no Diário
+
+
Produtos fabricados
Estoques, no final do período de apuração,
+
constantes no Registro de Inventário    
Matérias-primas e produtos intermediários utilizados no
período

Diferença positiva
Se a soma de “A” for maior do que a de “B” ficará configurada a presunção da venda de produtos sem a emissão ou sem
registro de notas fiscais.

Diferença negativa
Se, ao contrário, “A” resultar menor que “B", presumir-se-á que houve compra de matérias-primas ou produtos
intermediários com recursos de ingresso não escriturado.
Considera-se receita omitida o valor resultante da multiplicação das diferenças de quantidades de produtos ou de
matérias-primas e produtos intermediários pelos respectivos preços médios de venda ou de compra, conforme o caso,
em cada período de apuração abrangido pelo levantamento.
O critério de apuração de receita omitida aplica-se, também, às empresas comerciais, relativamente às mercadorias
adquiridas para revenda.

10.    TRIBUTAÇÃO DA RECEITA OMITIDA NA PESSOA JURÍDICA


Uma vez verificada a omissão de receita, a autoridade tributária determinará o valor do Imposto de Renda e do adicional
a serem lançados, de acordo com o regime de tributação a que estiver submetida a pessoa jurídica no período de
apuração a que corresponder a omissão.

10.1.    LUCRO REAL
O valor submetido à incidência do imposto deve corresponder à totalidade da receita desviada da escrituração, sendo
inadmissível deduzir quaisquer custos ou despesas a ela inerentes, de vez que estes já estarão, por pressuposto,
computados no resultado.

10.2.    LUCRO PRESUMIDO OU ARBITRADO


No caso de pessoa jurídica com atividades diversificadas tributadas com base no lucro presumido ou arbitrado, não
sendo possível a identificação da atividade a que se refere a receita omitida, esta será adicionada àquela a que
corresponder o percentual mais elevado.

10.3.    CSLL – COFINS – PIS/PASEP


O valor da receita omitida será considerado na determinação da base de cálculo para o lançamento da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição para a Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição para os
Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e das contribuições
previdenciárias incidentes sobre a receita.

11.    NÃO INCIDÊNCIA PARA O BENEFICIÁRIO DA RECEITA OMITIDA


A omissão de receitas verificada em relação a fatos geradores ocorridos a partir de 1º de janeiro de 1996 não acarreta
tributação para o sócio, acionista ou titular da pessoa jurídica, seja na fonte ou na declaração de rendimentos deste.

12.    LANÇAMENTO DE OFÍCIO
A administração tributária procederá ao lançamento de ofício quando, dentre outras razões, o sujeito passivo omitir
receitas ou rendimentos, nas hipóteses examinadas neste trabalho.
O lançamento de ofício poderá ser realizado, também, arbitrando-se os rendimentos com base na renda presumida,
mediante utilização dos sinais exteriores de riqueza.

12.1.    SINAIS EXTERIORES DE RIQUEZA


Considera-se sinal exterior de riqueza a realização de gastos incompatíveis com a renda disponível do contribuinte.
Constitui renda disponível a receita auferida, diminuída das deduções, admitidas pela legislação do Imposto de Renda, e
do imposto pago pelo contribuinte.
Verificando a autoridade tributária sinais exteriores de riqueza, o contribuinte será notificado para o devido procedimento
fiscal de arbitramento, para o qual serão tomados por base os preços de mercado vigentes à época da ocorrência dos
fatos ou eventos, podendo, para tanto, ser adotados índices ou indicadores econômicos oficiais ou publicações técnicas
especializadas.

12.1.1.    Posse ou Propriedade de Bens Incompatíveis com a Renda Disponível


O contribuinte que detiver a posse ou propriedade de bens que, por sua natureza, revelem sinais exteriores de riqueza,
deverá comprovar, mediante documentação hábil e idônea, os gastos realizados a título de despesas com tributos,
guarda, manutenção, conservação e demais gastos indispensáveis à utilização desses bens.
Nesse caso, consideram-se bens representativos de sinais exteriores de riqueza automóveis, iates, imóveis, cavalos de
raça, aeronaves e outros bens que demandem gastos para sua utilização.

I – Arbitramento dos Dispêndios


A falta de comprovação dos gastos, ou a verificação de indícios de realização de gastos não comprovados, autorizará o
arbitramento dos dispêndios em valor equivalente a até 10% do valor de mercado do respectivo bem, observada
necessariamente a sua natureza, para cobertura de despesas realizadas durante cada ano-calendário em que o
contribuinte tenha detido a sua posse ou propriedade.
Para esse efeito, serão tomados como base os preços de mercado vigentes em qualquer mês do ano-calendário a que
se referir o arbitramento.

II – Determinação da Renda Presumida


O valor arbitrado (I), deduzido dos gastos efetivamente comprovados pelo contribuinte, será considerado renda
presumida nos anos-calendário relativos ao arbitramento.

III – Determinação da Omissão de Rendimentos


A diferença positiva, apurada entre a renda arbitrada (II) e os gastos efetivamente comprovados, será tributada da forma
examinada no item 10 deste trabalho.

12.2.    MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO


A multa de lançamento de ofício aplicável aos casos em que a autoridade tributária constatar as hipóteses previstas nos
artigos 71, 72 e 73 da Lei 4.502/64 é de 150%, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais
cabíveis.
Os artigos citados definem, respectivamente:
Sonegação – é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por
parte da autoridade fazendária:
–    da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais;
–    das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário
correspondente.
Fraude – é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato
gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o
montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento.
Conluio – é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos de sonegação
ou fraude.

12.2.1.    Agravamento da Penalidade
Se o contribuinte não atender, no prazo marcado, à intimação para prestar esclarecimentos, a multa de lançamento de
ofício passará a ser de 225%.

12.2.2.    Redução da Penalidade
Serão concedidas reduções da multa de lançamento de ofício, nos percentuais a seguir, ao contribuinte que, notificado,
efetuar o pagamento, a compensação ou parcelamento do débito:
–    50%, se for efetuado o pagamento ou a compensação no prazo de 30 dias, contado da data em que o contribuinte foi
notificado do lançamento;
–    40%, se o contribuinte requerer o parcelamento no prazo de 30 dias, contado da data em que foi notificado do
lançamento;
–    30%, se for efetuado o pagamento ou a compensação no prazo de 30 dias, contado da data em que o contribuinte foi
notificado da decisão administrativa de primeira instância; e
–    20%, se o contribuinte requerer o parcelamento no prazo de 30 dias, contado da data em que foi notificado da
decisão administrativa de primeira instância.

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL:

Lei 4.502, de 30-11-64 (Portal COAD);

Lei 9.249, de 26-12-95 – artigos 24 e 36, IV (Informativo 52/95);

Lei 9.430, de 27-12-96 – artigos 40 a 42 e 44 (Informativo 53/96);

Lei 11.488, de 15-6-2007 – artigo 14 (Fascículo 25/2007);

Lei 11.941, de 27-5-2009 – artigo 29 (Fascículo 22/2009);

Decreto 3.000, de 26-3-99 – Regulamento do Imposto de Renda – artigos 199, 281 a 288, 528, 537, 672, 673,
841, 844 a 850, 957, 959 e 961 (Portal COAD);

Parecer Normativo 242 CST, de 11-3-71 (DO-U de 22-4-71);

Acórdão 101-78.772 -1º CC-MF/1ª Câmara, de 19-6-89 (DO-U de 14-2-90);

Acórdão 105-5.561 - 1º CC-MF/1ª Câmara, de 23-4-91 (DO-U de 27-6-91).

Você também pode gostar