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AS FASES DO ROMANTISMO
INDIANISMO
A concepção do bom selvagem, ideia apresentada por
Rousseau, define um modelo de um herói indígena que deveria se
tornar o passado e a tradição de um país como o Brasil, sem uma
história gloriosa que pudesse ser cantada. O nativo – que nada
guarda de sua cultura original – converte-se no herói europeu,
forjado à imagem e semelhança de um cavaleiro medieval. Gonçalves de Magalhães
A CRISE DO PENSAMENTO BURGUÊS O mal do século caracteriza-se pela atração pelo sombrio e pela
morte, acrescida, por muitas vezes, de temas macabros e satânicos.
A metade do século XIX marca uma importante mudança no O sentimentalismo, o egocentrismo e a idealização são exagerados,
pensamento artístico nacional: o modelo de sociedade burguesa criando uma visão do amor bastante particular, com a mistura de
já não atende mais aos anseios da juventude, que se desinteressa atração e medo, desejo e culpa. Desta forma, cria-se a figura do amor
pela vida político-social. Apesar do crescente desenvolvimento impossível, da mulher inatingível e idealizada: virgem e incorpórea.
urbano, a jovem vida acadêmica dos grandes centros afasta- Diante das negativas e do medo que traz o amor, surge a evasão,
se dos princípios burgueses consagrados pelo romantismo. já que a própria realidade não o acolhia, nem os sonhos tornavam-
Dessa forma, o nacionalismo e o indianismo entram em declínio se possíveis. Daí ser comum a apresentação de lugares exóticos, as
e o descontentamento com a vida burguesa torna-se evidente, lembranças da infância e, sobretudo, o culto à morte.
gerando uma atitude pessimista, entediada, à espera da morte.
O protesto contra o mundo burguês e suas relações sociais, dão
origem a uma lírica voltada para a subjetividade, para o individualismo,
baseada na confissão e no transbordamento dos sentimentos
interiores. Essa nova geração, influenciada pelo inglês Byron e pelo
francês Musset, prega a rebeldia moral, a recusa do entediante
cotidiano burguês e a busca de novas formas sentimentais.
Álvares de Azevedo
Meus oito anos Por outro lado, há uma forte reação contra esses movimentos,
Oh! que saudades que tenho especialmente dos grandes cafeicultores e isso aumenta as
pressões internas sofridas pelo Império. No plano econômico, o
Da aurora da minha vida,
país inaugura suas primeiras fábricas de produtos simples, como
Da minha infância querida tecidos, bebidas e artigos como sabão e outros produtos que antes
Que os anos não trazem mais! eram importados. Além disso, as cidades começam a crescer,
Que amor, que sonhos, que flores, inauguram‑se estradas de ferro, empresas de gás, mineração
Naquelas tardes fagueiras e até mesmo o transporte urbano começa a desenvolver-se,
À sombra das bananeiras, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo.
Debaixo dos laranjais! Em meio a este início de desenvolvimento econômico, rompeu-
Como são belos os dias se a Guerra do Paraguai, que arrastou-se ao longo de seis anos
e causou diversas reações sociais, criando inúmeros problemas a
Do despontar da existência!
serem resolvidos pelo governo imperial. Ainda que o Brasil tenha
- Respira a alma inocência vencido a guerra, a coroa acumulou enormes prejuízos com o
Como perfumes a flor; confronto, o que criou um rombo nas finanças imperiais e acarretou
O mar é - lago sereno, em inúmeras dívidas pela tomada de empréstimos estrangeiros.
O céu - um manto azulado, Aos poucos a monarquia brasileira ia perdendo apoio de diversos
O mundo - um sonho dourado, setores que criticavam a condução econômica, a organização
A vida - um hino d’amor! social, os favorecimentos políticos, entre outros aspectos. Esses
Que auroras, que sol, que vida, grupos pressionavam o governo, que não conseguia atender às
demandas de todos os campos, gerando um descontentamento
Que noites de melodia
generalizado.
Naquela doce alegria,
Por exemplo, o Império buscava leis que terminassem com
Naquele ingênuo folgar!
a escravidão de maneira progressiva, como a lei do ventre livre e
O céu bordado d’estrelas, a lei dos sexagenários; por um lado, os abolicionistas criticavam
A terra de aromas cheia, as medidas, pois as consideravam tímidas e queriam o fim da
As ondas beijando a areia escravidão imediato; por outro, grandes escravocratas afirmavam
E a lua beijando o mar! que tais medidas representavam uma ameaça a seus interesses.
Oh! dias da minha infância! Não por acaso, ao tentar equilibrar-se entre as diversas posições,
o governo não resistiu e, um ano após a assinatura da lei áurea, a
Oh! meu céu de primavera!
monarquia caiu ante ao golpe militar que instituiu a República.
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar; MEIRELLES, Victor. Abolição da escravatura, s/d
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo A TERCEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA
E despertava a cantar! Conhecida como Geração Condoreira, a terceira geração foi
Merecem destaque no período poetas como Junqueira Freire e marcada por um forte posicionamento político abolicionista e pela
Fagundes Varela que, apesar de ultrarromânticos, já demonstram incessante defesa da liberdade, tomando como metáfora o condor,
algumas das características da geração seguinte. Podem ser ave andina que voa alto, livre e domina os céus.
assim chamados de “poetas de transição”. A busca pela identidade nacional é ainda tema das obras,
porém ultrapassa os valores do indianismo e enxerga a sociedade
de maneira diversificada, incluindo conflitos oriundos da escravidão
O CAMINHO DA TRANSIÇÃO para a composição do cenário brasileiro.
A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira Mantendo a idealização típica do romantismo, há um retorno às
passa por significativas mudanças em termos políticos, sociais e ideias iniciais do lema francês da “liberdade, igualdade e fraternidade”,
econômicos. A constante pressão britânica pelo fim do comércio de em que se defende uma sociedade construída em outros moldes,
escravos fez com que o Brasil abolisse o tráfico negreiro da África, o que ainda que não sejam defesas consistentes e aprofundadas.
representou o surgimento de um pensamento abolicionista nacional.
Por outro lado, a visão do amor e da mulher afasta-se do Para tentar esquecer as dores de amor, passou a dedicar-se
paradigma da segunda geração e ganha contornos mais materiais, à caça e foi em uma caçada em São Paulo que o fim do poeta se
em que a mulher – ainda que idealizada em sua figura – apresenta- aproximou. Ao caminhar segurando a espingarda, acidentalmente
se de forma tangível e sensual, em uma relação amorosa que feriu-se no pé, mais precisamente no calcanhar, que infeccionou.
ultrapassa as linhas do imaginário. Levado ao Rio de Janeiro para tratamento, não teve grande
É, em verdade, um momento de transição do Romantismo para o sorte. Como a infecção não cedia e piorava, foi submetido a uma
movimento Realista que já começa a se manifestar em alguns autores. amputação sem anestesia. Transferido para Salvador, viveu por
mais um ano aproximadamente, até que sobreviesse a tuberculose
que lhe mataria. Em 6 de julho de 1871, Castro Alves nos deixava,
O POETA DOS ESCRAVOS antes de completar vinte e quatro anos de idade.
Sua poesia refletia os ideais abolicionistas que abraçava, mais
que um intelectual, Castro era um homem de ação, participando
ativamente dos movimentos abolicionista e republicano. Seu
engajamento político é tão forte que chega a prejudicar sua arte
literária, vista, por muitas vezes como mais denúncia e ação que
propriamente estética. Consciente da importância dos estudos,
valorizou o papel da educação na sociedade, da imprensa e do livro.
Engajado em uma série de lutas sociais, usou sua poesia
para combater toda e qualquer injustiça, cantando a liberdade
e a igualdade em uma pregação que atingia todos os setores
sociais. Mas, sem dúvida, o que mais de marcante lhe restou
foram seus poemas abolicionistas. Sua retórica é eloquente, sua
poesia grandiosa, feita para declamações públicas, com inúmeras
apóstrofes e imagens espetaculares.
Seu lirismo amoroso distancia-se dos padrões anteriores: não
apresenta o amor inatingível, impossível e, por isso, idealizado;
Castro Alves
não esconde a sensualidade nem a perverte. O amor em Castro
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em uma fazenda no Alves é viril, sensual e caloroso, explorando o erotismo sem
município de Muritiba, na Bahia em 14 de março de 1847, no seio de qualquer vestígio de culpa, de plena realização sexual, refletindo,
uma das mais tradicionais e poderosas famílias do interior baiano. na poesia, o comportamento do poeta.
Ainda criança mudou-se para Salvador, onde fez seus estudos. A
morte de sua mãe, quando ele tinha apenas nove anos, deixou-o
bastante abalado, ainda mais por ver o desespero de seu irmão
mais velho que se suicida alguns anos depois, ainda inconformado
pela perda da mãe. EXERCÍCIOS
Em 1862, já em Recife e preparando-se para a faculdade PROPOSTOS
de Direito, Castro Alves torna-se amante de uma famosa atriz
portuguesa e entrega-se à boêmia e aos ideais abolicionistas. 01. (VUNESP) Leia atentamente os versos seguintes: “Eu deixo
Assim, passa grande parte de seu tempo em reuniões e agitações a vida com deixa o tédio Do deserto o poeta caminheiro – Como
políticas que em salas de aula. Foi reprovado diversas vezes as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um
em várias matérias diferentes, algumas porque nem sequer as mineiro.” Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:
frequentava, estando naqueles horários nos bares a produzir ou
a) revolta diante da morte.
recitar versos. Castro Alves percebeu de imediato seu talento, pois
sua produção tinha grande impacto, repercutindo entre os colegas b) aceitação da vida como um longo pesadelo.
e dando a Castro um status de fama. c) aceitação da morte como a solução.
Castro Alves ainda produziu um drama para que Eugênia Câmara d) tristeza pelas condições de vida.
– a atriz portuguesa – pudesse encená-la. E ambos foram a Salvador
e) alegria pela vida longa que teve.
para montar a peça, que recebeu espetacular consagração, deixando
Castro Alves radiante. O agora casal viajou rumo a São Paulo, onde
Castro prometeu retomar e concluir o curso de Direito. 02. (FUVEST) “O indianismo dos românticos […] denota tendência
para particularizar os grandes temas, as grandes atitudes de que
Em uma breve parada no Rio de Janeiro, Castro foi recebido se nutria a literatura ocidental, inserindo-as na realidade local,
por José de Alencar e Machado de Assis: Castro tornara- tratando-as como próprias de uma tradição brasileira.”
se uma lenda, fosse por sua qualidade de poeta, fosse como (Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira)
declamador de sua própria obra. Seus poemas faziam enorme
sucesso e eram declamados nas faculdades, tornando-se a Considerando-se o texto acima, pode-se dizer que o indianismo, na
voz dos estudantes abolicionistas. literatura romântica brasileira:
Contudo, sua vida amorosa não ia bem. A fama lhe trouxe glória a) procurou ser uma cópia dos modelos europeus.
e também mulheres, às quais não conseguiu negar os favores
b) adaptou a realidade brasileira aos modelos europeus.
amorosos, o que deixava a orgulhosa Eugênia com os nervos à
flor da pele. A atriz portuguesa o abandonou, sumindo-se para c) ignorou a literatura ocidental para valorizar a tradição brasileira.
sempre da vida de Castro Alves, que se mostrou muito abalado d) deformou a tradição brasileira para adaptá-la à literatura ocidental.
pela separação.
e) procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.
03. (FUVEST) “Teu romantismo bebo, ó minha lua, A teus raios 06. (ESPM) (...) O mal du siècle, a indefinível doença que alanceia
divinos me abandono, Torno-me vaporoso… e só de ver-te Eu sinto os românticos, que lhes enlanguesce a vontade, entedia a vida e faz
os lábios meus se abrir de sono.” desejar a morte, só poderá ser correctamente entendido no contexto
(Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos) da odisseia do eu romântico, pois que exprime o cansaço e a
frustração resultantes da impossibilidade de realizar o absoluto. (...)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas (Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 8.ª edição,
de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa Livraria Almedina, Coimbra, 1988)
atitude do eu-lírico manifesta a:
A partir das considerações sobre o “mal-do-século”, assinale o
a) ironia romântica.
item cujo texto não apresente as características apontadas.
b) tendência romântica ao misticismo.
a) Já da morte o palor me cobre o rosto,
c) melancolia romântica. Nos lábios meus o alento desfalece,
d) aversão dos românticos à natureza. Surda agonia o coração fenece,
e) fuga romântica para o sonho. E devora meu ser mortal desgosto!
(Álvares de Azevedo)
04. Leia o poema abaixo e a seguir, responda o que é pedido: b) Ah!, findou para mim tão leda sorte;
Mocidade e Morte Agora é só feliz minha existência
Oh! eu quero viver, beber perfumes No mudo estado, que arremeda a morte.
Na flor silvestre, que embalsama os ares; (Bocage)
Ver minh’alma adejar pelo infinito, c) A filha de Araquém sentiu afinal que suas veias se estancavam;
Qual branca vela n’amplidão dos mares. e contudo o lábio amargo de tristeza recusava o alimento que
No seio da mulher há tanto aroma… devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o suspiro tinham
Nos seus beijos de fogo há tanta vida… crestado com o sorriso o sabor em sua boca formosa.
– Árabe errante, vou dormir à tarde (José de Alencar, Iracema)
À sombra fresca da palmeira erguida
d) E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio?
No trecho acima, de Castro Alves, reúnem-se vários dos temas e
Onde irás tu aviventar o coração que a desgraça te esmagou,
aspectos mais característicos de sua poesia. São eles:
sem o esquecimento da imagem desta dócil mulher, que
a) identificação com a natureza, condoreirismo, erotismo. seguiu cegamente a estrela da tua malfadada sorte?!
b) aspiração de amor e morte, sensualismo, exotismo. (Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição)
c) sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo, orientalismo. e) Eu morro qual nas mãos da cozinheira
d) personificação da natureza, hipérboles, sensualismo velado, O marreco piando na agonia...
exotismo. Como o cisne de outrora... que gemendo
e) aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérboles. Entre os hinos de amor se enternecia.
(Álvares de Azevedo)
05. (UFMS) Considere os versos do poema “As trevas”, que integra a 07. (UEG) Leia o fragmento e observe a imagem para responder
obra Espumas flutuantes, de Castro Alves, para responder à questão à questão.
a seguir.
É ela! é ela! – murmurei tremendo,
“Tive um sonho em tudo não foi sonho!... e o eco ao longe murmurou – é ela!
O sol brilhante se apagava: e os astros, Eu a vi... minha fada aérea e pura –
Do eterno espaço na penumbra escura, a minha lavadeira na janela.
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega Dessas águas furtadas onde eu moro
E tétrica no espaço ermo de lua. eu a vejo estendendo no telhado
A manhã ia... vinha ... e regressava... os vestidos de chita, as saias brancas;
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos eu a vejo e suspiro enamorado!
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas Esta noite eu ousei mais atrevido,
Gelavam-se num grito de egoísmo nas telhas que estalavam nos meus passos,
Que demandava ‘luz’. Junto às fogueiras ir espiar seu venturoso sono,
Abrigavam-se... e os tronos e os palácios, vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas Como dormia! que profundo sono!...
As cidades morrido. Em torno às brasas Tinha na mão o ferro do engomado...
Dos seus lares os homens se grupavam, Como roncava maviosa e pura!...
P’ra à vez extrema se fitarem juntos. Quase caí na rua desmaiado!
Feliz de quem vivia junto às lavas AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela. In: Álvares de Azevedo.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 44.
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!”
As figuras de linguagem estão presentes em textos poéticos e
produzem expressividade no discurso, criando efeitos de sentido
variados. Assinale a alternativa que nomeia a figura em destaque
nos seguintes versos: “E as almas conglobadas/Gelavam-se num
grito de egoísmo”.
a) Aliteração. c) Metonímia. e) Sinestesia.
b) Comparação. d) Catacrese.
c) Junqueira Freire – Casimiro de Abreu – Romantismo 02. E 04. A 06. E 08. D 10. C