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12 POESIA ROMÂNTICA BRASILEIRA: LITERATURA

AS FASES DO ROMANTISMO

A GERAÇÃO INDIANISTA – essencialmente citadina, atendendo os esquemas românticos do


folhetim. Além disso, os autores usam sempre a linguagem culta
CARACTERÍSTICAS e literária das cidades, jamais a fala particular da região retratada.

Uma linguagem brasileira


Os escritores românticos – principalmente o romancista José
de Alencar – reivindicam uma língua brasileira. Não  provocação
revolucionária, mas baseado em dois fatores: um político e
outro mercadológico. No campo político, a afirmação do Brasil
como nação independente era fundamental, por isso não é
difícil imaginar que a sintaxe lusitana passa a receber críticas;
mercadologicamente, uma língua “brasileira” seria mais acessível
ao novo público leitor que surgia, garantindo maior sucesso das
produções artísticas.

A POESIA DA PRIMEIRA GERAÇÃO

MEIRELLES, Victor. Moema, 1865

INDIANISMO
A concepção do bom selvagem, ideia apresentada por
Rousseau, define um modelo de um herói indígena que deveria se
tornar o passado e a tradição de um país como o Brasil, sem uma
história gloriosa que pudesse ser cantada. O nativo – que nada
guarda de sua cultura original – converte-se no herói europeu,
forjado à imagem e semelhança de um cavaleiro medieval. Gonçalves de Magalhães

Valorização da natureza Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu em Niterói


em 1811 é considerado o poeta que iniciou o Romantismo no Brasil.
O Romantismo assume a imagem exótica que as metrópoles Formado em medicina, viajou para a Europa, tomando contato com
europeias faziam dos trópicos, adaptando-a ao ufanismo, um os ideais românticos. Foi um dos fundadores da revista Niterói,
orgulho idealizado e exagerado pelas coisas da terra. Sem o no mesmo ano em que publica “Suspiros Poéticos e Saudade”, o
passado histórico para ser cantada e com um desenvolvimento marco inicial do Romantismo brasileiro. Em 1837, volta ao Brasil e
urbano ainda acanhado frente às capitais europeias, restava cantar dez anos mais tarde ingressa na carreira diplomática. Exerceu essa
a natureza e o índio que, na sua condição de primitivo habitante, era função até seu falecimento, em Roma, no ano de 1882.
o próprio símbolo da nacionalidade.
Sua poesia cultivava os valores fundamentais do Romantismo
A terra é a imagem da própria pátria. Por isso, até mesmo os primitivo, com ênfase na religião e no patriotismo. Ele inicia a
fenômenos naturais tornam-se representativos da grandeza do elaboração dos primeiros versos românticos brasileiros, lançando
país. Essa natureza jovem, vital, exuberante, compensa a pobreza Suspiros poéticos e saudades, no qual busca a afirmação de uma
social ao mesmo tempo que aponta novas potencialidades para o literatura nacional, destruindo os artifícios neoclássicos, propondo
Brasil. em substituição a valorização da natureza, do índio e de uma
Dessa forma, a natureza vai além de ser mero cenário, sendo religiosidade panteísta.
tema e personagem principal dessa visão romântica, assumindo a Sua poesia foi considerada fraca, recebendo muitas críticas,
posição uma nação rica diante do mundo. Além disso, a imagem algumas muito contundentes, como as de José de Alencar,
positiva criada para o índio confere às elites o orgulho de uma gerando uma grande polêmica, tendo em vista que essa inimizade
ascendência nobre, fator importante na legitimação de seu próprio tinha repercussão política, já que Magalhães era protegido de D.
poder no Brasil em face à Independência. Assim, percebe-se Pedro II e fez com que José de Alencar fosse preterido na indicação
claramente o interesse político em se assumir uma determinada ao Senado pelo Imperador.
postura estética.
Faltava a Magalhães autêntica emoção poética, os sentimentos
apresentam-se em sua obra de maneira retórica, frequentemente
Regionalismo “despoetizados” por imagens de mau gosto, como no trecho abaixo:
A consciência de um país novo e sua consequente euforia gera
um sentimento regionalista de descoberta, que procura afirmar Nas veias o sangue já não me galopa,
as particularidades e a identidade das regiões e da vida rural, em sacros furores nos lábios me fervem;
na ânsia de tornar literário todo o Brasil. Contudo, esse registro A lira canora do cisne beócio,
do mundo não urbano é superficial, já que a trama romanesca é deixei sobre a trípode.

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Apesar disso, Gonçalves de Magalhães foi considerado o Meu canto de morte


maior poeta pátrio durante muito tempo. Transformou-se em Guerreiros, ouvi:
símbolo oficial da literatura brasileira, merecendo inclusive Sou filho das selvas,
grande apreço de D.  Pedro II. Mas insistentemente denunciado
Nas selvas cresci;
por Alencar pelo artificialismo de sua composição, a obra de
Magalhães passa a ser relegada a um plano secundário. O próprio Guerreiros, descendo
Imperador tentou defendê-lo – usando um pseudônimo, claro – Da tribo tupi
mas Alencar já detinha prestígio que lhe garantia a autoridade para
seus argumentos. Coube a Magalhães o mérito histórico de ter Da tribo pujante,
introduzido o Romantismo no país. Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Gonçalves Dias, ao valorizar a natureza, canta o mar, o céu, os
campos e as florestas. No entanto, a natureza não tem um valor
universal, pois apenas a celebra sob o viés ufanista da nação.
Apenas no espaço da pátria, os elementos naturais se manifestam
em sua plena majestade. A celebração da natureza entrelaça-se
com o sentimento saudosista trazendo de volta a infância, os
amores idos e vividos e, seu sentimento “exilado” quando estava na
Gonçalves Dias Europa. Sua obra mais representativa, a Canção do exílio, sintetiza
a identificação entre o país e sua natureza.
Filho de um comerciante português e de uma mulata, Antônio Desde a concepção, tornou-se o poema mais conhecido
de Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão, em 10 de do Brasil, o mais imitado e o mais parodiado. Apesar do estilo
agosto de 1823. Orgulhava-se de ter no sangue as três raças laudatório, o poema exalta as maravilhas naturais do Brasil sem
formadoras do povo brasileiro: branca, indígena e negra. Ainda fazer uso de nem um adjetivo sequer. É a própria essência do
contava com seis anos de idade, quando o pai casou-se com uma ufanismo romântico: minha pátria é a melhor, a única terra em que
moça branca e proibiu o filho de visitar a mãe, com quem somente se pode ser feliz, sem defeitos, um verdadeiro paraíso.
se reencontraria quinze anos depois. Em 1840, cursou Direito na
Minha terra tem palmeiras,
Faculdade de Coimbra, encontrando ali os principais escritores
da primeira fase do Romantismo português. Em 1843, escreveu Onde canta o Sabiá;
“Canção do Exílio”, um dos maiores poemas brasileiros. As aves, que aqui gorjeiam,
Graduado bacharel, volta ao Brasil e inicia uma fase de Não gorjeiam como lá.
intensa produção literária. Muda-se para o Rio de Janeiro, torna- Nosso céu tem mais estrelas,
se professor de Latim no Colégio Pedro II e lança, com grande Nossas várzeas têm mais flores,
sucesso, os Primeiros cantos e os Segundos cantos. Ocupa
Nossos bosques têm mais vida,
diversos cargos de importância nas áreas de pesquisa escolar e
de busca de documentos históricos, devido ao bom trânsito que Nossa vida mais amores.
consegue junto à corte imperial. Em cismar - sozinho, à noite -
Em visita ao Maranhão, reencontra seu grande amor, Ana Amélia, Mais prazer encontro eu lá;
e a pede em casamento, o que lhe é negado pela família, por sua Minha terra tem palmeiras,
origem bastarda e mulata. Transtornado com essa recusa, casa- Onde canta o Sabiá.
se com Olímpia Coriolana, provavelmente a primeira mulher que
encontrou após tal negativa e com a qual viveu um casamento infeliz. Minha terra tem primores,
A serviço, viajou muito pelas províncias do Norte e pela Que tais não encontro eu cá;
Europa. Contraiu tuberculose e buscou tratamento na França. Em cismar - sozinho, à noite
Em 1864, durante a viagem de volta ao Brasil, o navio Ville de Mais prazer encontro eu lá;
Boulogne naufragou na costa brasileira. Todos a bordo salvaram- Minha terra tem palmeiras,
se, à exceção do poeta que, por estar agonizando em seu leito, foi
Onde canta o Sabiá.
esquecido, tornando-se a única vítima fatal do desastre.
Gonçalves Dias é responsável pela consolidação do Não permita Deus que eu morra,
Romantismo no Brasil, desenvolvendo com maestria todas Sem que eu volte para lá;
as características iniciais dessa primeira fase. Sua produção Sem que desfrute os primores
poética é de boa qualidade destacando-se entre os autores do Que não encontro por cá;
período, conseguindo o equilíbrio entre os temas sentimentais, Sem qu’inda aviste as palmeiras,
patrióticos e saudosistas. Dono de uma linguagem harmoniosa e
Onde canta o Sabiá.”
de relativa simplicidade, evita os excessos verbais, foge da pompa
declamatória bem como do popularesco. Por fim, cabe ressaltar sua lírica amorosa, marcada pelo
sofrimento. Nela, o amor raramente se concretiza, ganhando
Sua obra trata principalmente do índio, da natureza e do amor
ares de uma ilusão perdida. Apaixonar-se significa predispor-
impossível. Demonstra grande conhecimento da vida dos índios,
se à angústia e à solidão. A resposta da amada às súplicas
com dosagem certa de idealização, transformando o índio em
poéticas simplesmente não existe, levando o poeta ao desespero.
verdadeiro herói. Seu poema Juca Pirama faz uma espécie de
As sementes do ultrarromantismo já brotam na lírica amorosa de
síntese do indianismo:
Gonçalves Dias.

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A CRISE DO PENSAMENTO BURGUÊS O mal do século caracteriza-se pela atração pelo sombrio e pela
morte, acrescida, por muitas vezes, de temas macabros e satânicos.
A metade do século XIX marca uma importante mudança no O sentimentalismo, o egocentrismo e a idealização são exagerados,
pensamento artístico nacional: o modelo de sociedade burguesa criando uma visão do amor bastante particular, com a mistura de
já não atende mais aos anseios da juventude, que se desinteressa atração e medo, desejo e culpa. Desta forma, cria-se a figura do amor
pela vida político-social. Apesar do crescente desenvolvimento impossível, da mulher inatingível e idealizada: virgem e incorpórea.
urbano, a jovem vida acadêmica dos grandes centros afasta- Diante das negativas e do medo que traz o amor, surge a evasão,
se dos princípios burgueses consagrados pelo romantismo. já que a própria realidade não o acolhia, nem os sonhos tornavam-
Dessa forma, o nacionalismo e o indianismo entram em declínio se possíveis. Daí ser comum a apresentação de lugares exóticos, as
e o descontentamento com a vida burguesa torna-se evidente, lembranças da infância e, sobretudo, o culto à morte.
gerando uma atitude pessimista, entediada, à espera da morte.
O protesto contra o mundo burguês e suas relações sociais, dão
origem a uma lírica voltada para a subjetividade, para o individualismo,
baseada na confissão e no transbordamento dos sentimentos
interiores. Essa nova geração, influenciada pelo inglês Byron e pelo
francês Musset, prega a rebeldia moral, a recusa do entediante
cotidiano burguês e a busca de novas formas sentimentais.

Álvares de Azevedo

Nascido em São Paulo em 12 de setembro de 1831, Manuel


Antônio Álvares de Azevedo descendia de família ilustre no cenário
político. O pai exercera, entre outros cargos, o de juiz de direito, chefe
de polícia e deputado geral. Em razão disso, teve sua formação
básica e secundária na capital do Império. Sua volta a São Paulo
dá-se para cursar a Faculdade de Direito, onde participa ativamente
da vida acadêmica e literária. Apesar de ser um aluno excelente
e de ser bastante querido entre os colegas, sentia-se incapaz de
estabelecer um relacionamento amoroso concreto, principal razão
de sua infelicidade.
ALMEIDA, Belmiro. Arrufos, 1887
A mediocridade da vida em São Paulo, quando comparada
O país vivia um período de estabilidade no chamado às intensas experiências dos europeus, atormentava sua alma,
Segundo Reinado, repleto de barganhas políticas entre liberais fazendo-o mergulhar na leitura dos ultrarromânticos europeus.
e conservadores que partilhavam o poder sob arbítrio do Poder Por conta da saudade de sua mãe e de sua irmã, o sentimento
Moderador de D. Pedro II. A economia apresentava um bom de solidão e o desejo insatisfeito levaram-no a um pensamento
desempenho, baseada no crescimento da produção cafeeira, com depressivo, aproximando-o de inclinações mórbidas. No início de
a consequente consolidação desta aristocracia rural no poder. As 1852, descobre-se com tuberculose e desespera-se ante a visão
rebeliões escasseavam, pacificando internamente o país. da morte. Buscou tratamento na fazenda do tio, onde deu efetivos
sinais de melhora, mas uma queda de cavalo afetou-lhe a região
Um fato curioso sobre o ultrarromantismo é que a maior ilíaca. Sem outra coisa a fazer, os médicos resolveram operá-lo, o
parte de seus representantes morreu na faixa dos vinte anos; que, na época, significava uma intervenção sem anestesia. Apesar
vidas curtas, porém carregadas de complexidade. Apesar de que de ter suportado heroicamente as dores, a tuberculose já o deixara
sua produção sugira o cultivo de ideias suicidas, não se pode muito debilitado. Dias depois, ao leito de morte, diz a seu pai: “Que
dizer que as mortes prematuras tenham sido intencionais, já fatalidade!”. E, sendo essas suas últimas palavras, morre em 25 de
que todos foram vitimados por doenças incuráveis na época, abril de 1852, no ano de sua formatura, sem que completasse vinte
especialmente a tuberculose. O estilo de vida boêmio de muitos e um anos de idade.
desses poetas pode ter contribuído com suas mortes, contudo,
não se pode afirmar que havia qualquer intencionalidade nesses Nem mesmo seu corpo descansou em paz com sua morte. O
atos, diante do horror que demonstraram diante da morte. cemitério em que foi enterrado foi vítima de uma ressaca marinha
e seu corpo teve de ser exumado. Seu túmulo havia sido destruído
e seus ossos encontrados por seu cão e só então transferidos,
POETAS DO MAL DO SÉCULO inaugurando o cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Os poetas dessa geração demonstraram uma inadequação Não publicou nenhum de seus escritos em vida e, como
à realidade em que viveram, reproduzindo em suas vidas um afirmara em um de seus poemas, a “glória que pressinto em meu
comportamento desregrado, levando uma vida entre os estudos futuro” veio efetivamente após sua morte. Sua obra é bastante
acadêmicos, o  ócio e a boêmia. O ultrarromantismo brasileiro autobiográfica e, como não poderia ser diferente, representa uma
foi amplamente influenciado por Lord Byron, poeta inglês que vida adolescente de tal modo dilacerada e conflituosa que acaba
escandalizava a sociedade com seu estilo de vida dedicado aos vícios por se tornar experiência mais aguda do Romantismo brasileiro,
e às relações extraconjugais. Somado a isso, foi ainda acusado de considerando-se aspectos pessoais e poéticos.
manter relações incestuosas com a irmã e também de pederastia.

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Em muitos poemas, expressa um cinismo típico de quem –


por incansáveis leituras – detém a experiência do saber, mas E nem desfolhem na matéria impura
não experimenta a própria vida. Sua poesia, que começa como
A flor do vale que adormece ao vento:
imitação dos ultrarromânticos europeus, carregada de fantasias
delirantes, evolui significativamente, superando o artificialismo Não quero que uma nota de alegria
byroniano característico dos demais poetas da geração. Se cale por meu triste passamento. (...)
Suas  obras falam de amor, da morte, do tédio, mas revelam Descansem o meu leito solitário
também certo humor e cinismo.
Na floresta dos homens esquecida,
Quando trata de amor, usa os modelos byronianos, tornando À sombra de uma cruz, e escrevam nela
sua lírica pouco convincente. As orgias e vícios que descreve
- Foi poeta, sonhou e amou na vida.
como sua maldição moral são artificiais, tendo em vista que tais
experiências não tenham ocorrido e, mais ainda, porque carecem
de certa persuasão, não traduzindo nenhuma inquietação. No
entanto, essa máscara acaba por revelar o que havia por detrás
das aparências: o devasso e o cínico, na verdade, revelam profundo
medo das relações amorosas, traduzindo-se pela não concretização
das vontades sexuais, criando uma imagem feminina carregada
de imagens eróticas, cuja volúpia jamais é saciada, por ser ela
intocável e inatingível, fruto da própria timidez do poeta.
Já na temática da morte, a genialidade expressiva de Álvares
de Azevedo se manifesta. Tema recorrente em sua produção,
poeta profetiza sua própria morte, diz não poder esquecê-la;
entrega-se a ela de peito aberto. Mas não é por isso que essa Casimiro de Abreu
entrega será desprovida de desespero e angústia. As perdas dos
afetos, das pessoas e do futuro, levam-no às lamentações. Ao Casimiro José Marques de Abreu nasceu em 4 de janeiro de
mesmo tempo, em uma atitude escapista, a morte representa a 1839, em Barra de São João, no estado do Rio de Janeiro. Filho
solução para suas dores. de um imigrante português, enriquecido pelo comércio, Casimiro
O tédio, sentimento que levou o nome para a geração “mal passou a infância numa fazenda. Enviado à capital do Império para
do século”, traduzia-se em uma espécie de cinismo e enfado por exercer as atividades de seu pai, não demonstrou tino para a área.
ter vivido todas as experiências possíveis: sexo, bebidas, ópio, Ainda assim, seu pai não desistiu e enviou-o para Lisboa com a
transgressões. Paradoxalmente, o tédio de Álvares de Azevedo mesma intenção. Após quatro anos em Portugal, já com dezoito
era resultado da falta de tais experiências a que estava condenado anos, retornou ao Brasil conciliando a vida boêmia e as atividades
vivendo em São Paulo. Lembremo-nos que a maior cidade do Brasil comerciais.
hoje era, na época, uma cidadezinha provinciana, sem vida noturna, Foi em Lisboa que tomou contato com o Romantismo,
sem grandes horizontes para as ambições e sonhos dos jovens. estabelecendo ligação com o meio intelectual português. Chegou a
Esse sentimento, causa dos excessos ultrarromânticos, é escrever para alguns jornais, trabalho que o fez conhecer Machado
atenuado pela exposição de sua subjetividade, revelando um de Assis. Primaveras é sua única obra e obteve enorme êxito, sendo
jovem tímido, inexperiente e ansioso por amor. Suas poesias são aclamado pelo público da época. Contudo, não desfrutou muito de
confissões de um adolescente solitário e impotente diante de sua sua fama, pois logo se descobriu com tuberculose, falecendo em
existência; um poeta conflituoso, entre o tédio de sua realidade e pouquíssimo tempo, no dia 18 de outubro de 1860, com vinte dois
os sonhos que alimentavam sua alma, possibilitando que vivesse anos incompletos.
no descompasso de seu mundo. Poeta de linguagem simples e espontânea, expõe um lirismo
Apesar de tudo, surpreende em sua poesia a ironia, resultante singelo com rimas fáceis e atmosfera musical, beirando a
do riso das coisas cotidianas. Despido do sentimentalismo, o superficialidade, mas que encantou o público, tornando-se um
poeta lança seu olha em torno de si e traça observações que dos poetas mais populares do romantismo. Sua temática também
vão do leve humor ao sarcasmo cínico. revela o mal do século, com ênfase na tristeza da vida e certo
Fora da poesia, merece destaque Noites na taverna, uma grau de pessimismo, apesar de não abandonar o sentimento
reunião de contos que revela o espírito transgressor ultrarromântico, saudosista-nacionalista da primeira geração. Seu lirismo amoroso
ambientando sete rapazes que bebem, fumam e gritam em uma revela a melancolia que se traduz na atitude de evasão do poeta:
taverna, narrando histórias exageradas de suas vidas orgíacas e não para a morte, mas para a infância.
criminosas. É a expressão adolescente de rebeldia contra o mundo De visão extremamente subjetiva, Casimiro de Abreu substitui
e de comportamento social, apresentando cenas de necrofilia, a dor adolescente por uma visão inocente e deslumbrada dos
incesto, canibalismo, assassinato e violação de todos os códigos tempos juvenis. Canta a mocidade como um tempo idealizado,
morais da época (e da nossa também!). Nesses escritos propõe-se “a primavera da vida”. Longe do sombrio, prefere as manhãs, as
a criação de um mundo de sombras, povoado por indivíduos de brincadeiras infantis, as paisagens da fazenda de sua infância e os
impulsos imorais e que praticam toda sorte de ações que mostram salões de baile onde se compartilha a dança e os namoros.
o lado cruel de suas almas. Influenciado por Gonçalves Dias, inunda seus poemas de
Como exemplo de sua poesia, a presença constante da sentimento nostálgico, refletindo o “exílio” de seu precursor. Se a
morte e a certeza do poeta diante da proximidade dela fazem saudade da nação não enriquece sua lírica, descobre na nostalgia
de “Lembrança de morrer”, um dos mais belos exemplos de sua sua consagração. As saudades são misturadas ao subjetivo,
sensibilidade, mesmo quando se trata das instruções sobre o seu trazendo as lembranças da família, da casa e da própria infância.
túmulo e sua lápide: Canta a “aurora da vida”, o tempo de meninice, as emoções
Quando em meu peito rebentar-se a fibra, que ficaram na memória. Com suas poesias melodiosas, sem
abstrações, nas quais empresta sentimento e delicadeza à evasão
Que o espírito enlaça à dor vivente,
romântica, garante a imortalidade de sua visão, em um dos poemas
Não derramem por mim nem uma lágrima mais famosos da literatura nacional:
Em pálpebra demente.

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Meus oito anos Por outro lado, há uma forte reação contra esses movimentos,
Oh! que saudades que tenho especialmente dos grandes cafeicultores e isso aumenta as
pressões internas sofridas pelo Império. No plano econômico, o
Da aurora da minha vida,
país inaugura suas primeiras fábricas de produtos simples, como
Da minha infância querida tecidos, bebidas e artigos como sabão e outros produtos que antes
Que os anos não trazem mais! eram importados. Além disso, as cidades começam a crescer,
Que amor, que sonhos, que flores, inauguram‑se estradas de ferro, empresas de gás, mineração
Naquelas tardes fagueiras e até mesmo o transporte urbano começa a desenvolver-se,
À sombra das bananeiras, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo.
Debaixo dos laranjais! Em meio a este início de desenvolvimento econômico, rompeu-
Como são belos os dias se a Guerra do Paraguai, que arrastou-se ao longo de seis anos
e causou diversas reações sociais, criando inúmeros problemas a
Do despontar da existência!
serem resolvidos pelo governo imperial. Ainda que o Brasil tenha
- Respira a alma inocência vencido a guerra, a coroa acumulou enormes prejuízos com o
Como perfumes a flor; confronto, o que criou um rombo nas finanças imperiais e acarretou
O mar é - lago sereno, em inúmeras dívidas pela tomada de empréstimos estrangeiros.
O céu - um manto azulado, Aos poucos a monarquia brasileira ia perdendo apoio de diversos
O mundo - um sonho dourado, setores que criticavam a condução econômica, a organização
A vida - um hino d’amor! social, os favorecimentos políticos, entre outros aspectos. Esses
Que auroras, que sol, que vida, grupos pressionavam o governo, que não conseguia atender às
demandas de todos os campos, gerando um descontentamento
Que noites de melodia
generalizado.
Naquela doce alegria,
Por exemplo, o Império buscava leis que terminassem com
Naquele ingênuo folgar!
a escravidão de maneira progressiva, como a lei do ventre livre e
O céu bordado d’estrelas, a lei dos sexagenários; por um lado, os abolicionistas criticavam
A terra de aromas cheia, as medidas, pois as consideravam tímidas e queriam o fim da
As ondas beijando a areia escravidão imediato; por outro, grandes escravocratas afirmavam
E a lua beijando o mar! que tais medidas representavam uma ameaça a seus interesses.
Oh! dias da minha infância! Não por acaso, ao tentar equilibrar-se entre as diversas posições,
o governo não resistiu e, um ano após a assinatura da lei áurea, a
Oh! meu céu de primavera!
monarquia caiu ante ao golpe militar que instituiu a República.
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar; MEIRELLES, Victor. Abolição da escravatura, s/d
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo A TERCEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA
E despertava a cantar! Conhecida como Geração Condoreira, a terceira geração foi
Merecem destaque no período poetas como Junqueira Freire e marcada por um forte posicionamento político abolicionista e pela
Fagundes Varela que, apesar de ultrarromânticos, já demonstram incessante defesa da liberdade, tomando como metáfora o condor,
algumas das características da geração seguinte. Podem ser ave andina que voa alto, livre e domina os céus.
assim chamados de “poetas de transição”. A busca pela identidade nacional é ainda tema das obras,
porém ultrapassa os valores do indianismo e enxerga a sociedade
de maneira diversificada, incluindo conflitos oriundos da escravidão
O CAMINHO DA TRANSIÇÃO para a composição do cenário brasileiro.
A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira Mantendo a idealização típica do romantismo, há um retorno às
passa por significativas mudanças em termos políticos, sociais e ideias iniciais do lema francês da “liberdade, igualdade e fraternidade”,
econômicos. A constante pressão britânica pelo fim do comércio de em que se defende uma sociedade construída em outros moldes,
escravos fez com que o Brasil abolisse o tráfico negreiro da África, o que ainda que não sejam defesas consistentes e aprofundadas.
representou o surgimento de um pensamento abolicionista nacional.

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Por outro lado, a visão do amor e da mulher afasta-se do Para tentar esquecer as dores de amor, passou a dedicar-se
paradigma da segunda geração e ganha contornos mais materiais, à caça e foi em uma caçada em São Paulo que o fim do poeta se
em que a mulher – ainda que idealizada em sua figura – apresenta- aproximou. Ao caminhar segurando a espingarda, acidentalmente
se de forma tangível e sensual, em uma relação amorosa que feriu-se no pé, mais precisamente no calcanhar, que infeccionou.
ultrapassa as linhas do imaginário. Levado ao Rio de Janeiro para tratamento, não teve grande
É, em verdade, um momento de transição do Romantismo para o sorte. Como a infecção não cedia e piorava, foi submetido a uma
movimento Realista que já começa a se manifestar em alguns autores. amputação sem anestesia. Transferido para Salvador, viveu por
mais um ano aproximadamente, até que sobreviesse a tuberculose
que lhe mataria. Em 6 de julho de 1871, Castro Alves nos deixava,
O POETA DOS ESCRAVOS antes de completar vinte e quatro anos de idade.
Sua poesia refletia os ideais abolicionistas que abraçava, mais
que um intelectual, Castro era um homem de ação, participando
ativamente dos movimentos abolicionista e republicano. Seu
engajamento político é tão forte que chega a prejudicar sua arte
literária, vista, por muitas vezes como mais denúncia e ação que
propriamente estética. Consciente da importância dos estudos,
valorizou o papel da educação na sociedade, da imprensa e do livro.
Engajado em uma série de lutas sociais, usou sua poesia
para combater toda e qualquer injustiça, cantando a liberdade
e a igualdade em uma pregação que atingia todos os setores
sociais. Mas, sem dúvida, o que mais de marcante lhe restou
foram seus poemas abolicionistas. Sua retórica é eloquente, sua
poesia grandiosa, feita para declamações públicas, com inúmeras
apóstrofes e imagens espetaculares.
Seu lirismo amoroso distancia-se dos padrões anteriores: não
apresenta o amor inatingível, impossível e, por isso, idealizado;
Castro Alves
não esconde a sensualidade nem a perverte. O amor em Castro
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em uma fazenda no Alves é viril, sensual e caloroso, explorando o erotismo sem
município de Muritiba, na Bahia em 14 de março de 1847, no seio de qualquer vestígio de culpa, de plena realização sexual, refletindo,
uma das mais tradicionais e poderosas famílias do interior baiano. na poesia, o comportamento do poeta.
Ainda criança mudou-se para Salvador, onde fez seus estudos. A
morte de sua mãe, quando ele tinha apenas nove anos, deixou-o
bastante abalado, ainda mais por ver o desespero de seu irmão
mais velho que se suicida alguns anos depois, ainda inconformado
pela perda da mãe. EXERCÍCIOS
Em 1862, já em Recife e preparando-se para a faculdade PROPOSTOS
de Direito, Castro Alves torna-se amante de uma famosa atriz
portuguesa e entrega-se à boêmia e aos ideais abolicionistas. 01. (VUNESP) Leia atentamente os versos seguintes: “Eu deixo
Assim, passa grande parte de seu tempo em reuniões e agitações a vida com deixa o tédio Do deserto o poeta caminheiro – Como
políticas que em salas de aula. Foi reprovado diversas vezes as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um
em várias matérias diferentes, algumas porque nem sequer as mineiro.” Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:
frequentava, estando naqueles horários nos bares a produzir ou
a) revolta diante da morte.
recitar versos. Castro Alves percebeu de imediato seu talento, pois
sua produção tinha grande impacto, repercutindo entre os colegas b) aceitação da vida como um longo pesadelo.
e dando a Castro um status de fama. c) aceitação da morte como a solução.
Castro Alves ainda produziu um drama para que Eugênia Câmara d) tristeza pelas condições de vida.
– a atriz portuguesa – pudesse encená-la. E ambos foram a Salvador
e) alegria pela vida longa que teve.
para montar a peça, que recebeu espetacular consagração, deixando
Castro Alves radiante. O agora casal viajou rumo a São Paulo, onde
Castro prometeu retomar e concluir o curso de Direito. 02. (FUVEST) “O indianismo dos românticos […] denota tendência
para particularizar os grandes temas, as grandes atitudes de que
Em uma breve parada no Rio de Janeiro, Castro foi recebido se nutria a literatura ocidental, inserindo-as na realidade local,
por José de Alencar e Machado de Assis: Castro tornara- tratando-as como próprias de uma tradição brasileira.”
se uma lenda, fosse por sua qualidade de poeta, fosse como (Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira)
declamador de sua própria obra. Seus poemas faziam enorme
sucesso e eram declamados nas faculdades, tornando-se a Considerando-se o texto acima, pode-se dizer que o indianismo, na
voz dos estudantes abolicionistas. literatura romântica brasileira:
Contudo, sua vida amorosa não ia bem. A fama lhe trouxe glória a) procurou ser uma cópia dos modelos europeus.
e também mulheres, às quais não conseguiu negar os favores
b) adaptou a realidade brasileira aos modelos europeus.
amorosos, o que deixava a orgulhosa Eugênia com os nervos à
flor da pele. A atriz portuguesa o abandonou, sumindo-se para c) ignorou a literatura ocidental para valorizar a tradição brasileira.
sempre da vida de Castro Alves, que se mostrou muito abalado d) deformou a tradição brasileira para adaptá-la à literatura ocidental.
pela separação.
e) procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.

34 SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO PRÉ-VESTIBULAR


12 POESIA ROMÂNTICA BRASILEIRA: AS FASES DO ROMANTISMO LITERATURA

03. (FUVEST) “Teu romantismo bebo, ó minha lua, A teus raios 06. (ESPM) (...) O mal du siècle, a indefinível doença que alanceia
divinos me abandono, Torno-me vaporoso… e só de ver-te Eu sinto os românticos, que lhes enlanguesce a vontade, entedia a vida e faz
os lábios meus se abrir de sono.” desejar a morte, só poderá ser correctamente entendido no contexto
(Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos) da odisseia do eu romântico, pois que exprime o cansaço e a
frustração resultantes da impossibilidade de realizar o absoluto. (...)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas (Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, 8.ª edição,
de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa Livraria Almedina, Coimbra, 1988)
atitude do eu-lírico manifesta a:
A partir das considerações sobre o “mal-do-século”, assinale o
a) ironia romântica.
item cujo texto não apresente as características apontadas.
b) tendência romântica ao misticismo.
a) Já da morte o palor me cobre o rosto,
c) melancolia romântica. Nos lábios meus o alento desfalece,
d) aversão dos românticos à natureza. Surda agonia o coração fenece,
e) fuga romântica para o sonho. E devora meu ser mortal desgosto!
(Álvares de Azevedo)

04. Leia o poema abaixo e a seguir, responda o que é pedido: b) Ah!, findou para mim tão leda sorte;
Mocidade e Morte Agora é só feliz minha existência
Oh! eu quero viver, beber perfumes No mudo estado, que arremeda a morte.
Na flor silvestre, que embalsama os ares; (Bocage)

Ver minh’alma adejar pelo infinito, c) A filha de Araquém sentiu afinal que suas veias se estancavam;
Qual branca vela n’amplidão dos mares. e contudo o lábio amargo de tristeza recusava o alimento que
No seio da mulher há tanto aroma… devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o suspiro tinham
Nos seus beijos de fogo há tanta vida… crestado com o sorriso o sabor em sua boca formosa.
– Árabe errante, vou dormir à tarde (José de Alencar, Iracema)
À sombra fresca da palmeira erguida
d) E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio?
No trecho acima, de Castro Alves, reúnem-se vários dos temas e
Onde irás tu aviventar o coração que a desgraça te esmagou,
aspectos mais característicos de sua poesia. São eles:
sem o esquecimento da imagem desta dócil mulher, que
a) identificação com a natureza, condoreirismo, erotismo. seguiu cegamente a estrela da tua malfadada sorte?!
b) aspiração de amor e morte, sensualismo, exotismo. (Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição)

c) sensualismo, aspiração de absoluto, nacionalismo, orientalismo. e) Eu morro qual nas mãos da cozinheira
d) personificação da natureza, hipérboles, sensualismo velado, O marreco piando na agonia...
exotismo. Como o cisne de outrora... que gemendo
e) aspiração de amor e morte, condoreirismo, hipérboles. Entre os hinos de amor se enternecia.
(Álvares de Azevedo)

05. (UFMS) Considere os versos do poema “As trevas”, que integra a 07. (UEG) Leia o fragmento e observe a imagem para responder
obra Espumas flutuantes, de Castro Alves, para responder à questão à questão.
a seguir.
É ela! é ela! – murmurei tremendo,
“Tive um sonho em tudo não foi sonho!... e o eco ao longe murmurou – é ela!
O sol brilhante se apagava: e os astros, Eu a vi... minha fada aérea e pura –
Do eterno espaço na penumbra escura, a minha lavadeira na janela.
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega Dessas águas furtadas onde eu moro
E tétrica no espaço ermo de lua. eu a vejo estendendo no telhado
A manhã ia... vinha ... e regressava... os vestidos de chita, as saias brancas;
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos eu a vejo e suspiro enamorado!
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas Esta noite eu ousei mais atrevido,
Gelavam-se num grito de egoísmo nas telhas que estalavam nos meus passos,
Que demandava ‘luz’. Junto às fogueiras ir espiar seu venturoso sono,
Abrigavam-se... e os tronos e os palácios, vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas Como dormia! que profundo sono!...
As cidades morrido. Em torno às brasas Tinha na mão o ferro do engomado...
Dos seus lares os homens se grupavam, Como roncava maviosa e pura!...
P’ra à vez extrema se fitarem juntos. Quase caí na rua desmaiado!
Feliz de quem vivia junto às lavas AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela. In: Álvares de Azevedo.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 44.
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!”
As figuras de linguagem estão presentes em textos poéticos e
produzem expressividade no discurso, criando efeitos de sentido
variados. Assinale a alternativa que nomeia a figura em destaque
nos seguintes versos: “E as almas conglobadas/Gelavam-se num
grito de egoísmo”.
a) Aliteração. c) Metonímia. e) Sinestesia.
b) Comparação. d) Catacrese.

PRÉ-VESTIBULAR SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO 35


LITERATURA 12 POESIA ROMÂNTICA BRASILEIRA: AS FASES DO ROMANTISMO

09. (UPF) Leia as seguintes afirmações sobre a obra I-Juca Pirama


de Gonçalves Dias.
I. O poema, exemplo marcante da descrição científica do elemento
indígena, narra o drama vivido pelo último descendente da tribo
dos tupis, feito prisioneiro pelos timbiras.
II. O autor apresenta uma visão do índio integrado na tribo, nos
costumes, no sentimento de honra que, para os românticos,
era a sua mais bela característica.
III. O movimento psicológico do poema, com suas alternativas de
pasmo e exaltação, se apoia em variação rítmica bem marcada.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I e II.
b) II e III.
c) I e III.
d) II.
e) III.

Tanto a pintura quanto o excerto apresentados pertencem ao 10. (UEPA)


Romantismo. A diferença entre ambos, porém, diz respeito ao Dos Gamelas1 um chefe destemido,
fato de que Cioso d’alcançar renome e glória,
a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado, ao Vencendo a fama, que os sertões enchia,
passo que no quadro tem-se uma figura retratada de modo Saiu primeiro a campo, armado e forte
pejorativo. Guedelha2 e ronco dos sertões imensos,
Guerreiros mil e mil vinham trás ele,
b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições austeras,
Cobrindo os montes e juncando as matas,
ao passo que no poema nota-se a descrição de uma mulher
Com pejado carcaz3 de ervadas setas
sofisticada.
Tingidas d’urucu, segundo a usança
c) no excerto tem-se a descrição realista e não idealizada de Bárbara e fera, desgarrados gritos
uma mulher, ao passo que na pintura retrata-se uma mulher Davam no meio das canções de guerra.
pertencente à burguesia. Chegou, e fez saber que era chegado
d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é abstrata, O rei das selvas a propor combate
ao passo que no poema tem-se uma mulher cujo aspecto é Dos Timbiras ao chefe. –– “A nós só caiba,
burguês e requintado. (Disse ele) a honra e a glória; entre nós ambos
e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, ao Decida-se a questão do esforço e brios.
passo que no poema nota-se a caracterização de uma donzela Estes, que vês, impávidos guerreiros
de vida airada. São meus, que me obedecem; se me vences,
São teus; se és o vencido, os teus me sigam:
Aceita ou foge, que a vitória é minha.”
08. (IMED) Leia os excertos dos poemas “Se eu morresse amanhã”
e “Cântico do calvário”, respectivamente: 1 - tribo indígena;
Excerto 1 2 - chefe de tribo;
Se eu morresse amanhã, viria ao menos 3 - objeto para carregar as setas.
Fechar meus olhos minha triste irmã; DIAS, Gonçalves. Os Timbiras: poema americano. Salvador: Progresso, 1956.
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã! Disposto a morrer e a submeter seus seguidores à propriedade do
inimigo em caso de derrota, o índio desafiante tem, segundo os
Excerto 2
valores bélicos, o objetivo de:
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
a) pôr à prova a fidelidade de seu povo às suas ordens.
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam b) interagir com a tribo inimiga para chegar a uma solução
A lousa fria de um sonhar que é morto! diplomática de seus conflitos.
Os poemas “Se eu morresse amanhã”, de ________________________ c) dar a conhecer seu nome e sua fama entre os sertões e anular
_______, e a fama dos Timbiras.
“Cântico do calvário”, de ________________________, revelam d) exaltar a nação indígena dos Timbiras reafirmando sua
inclinação a aspectos enigmáticos e sombrios e a constante superioridade.
presença da morte. Ambos integram o período literário do e) propagar os valores e costumes estrangeiros entre os índios
________________________. de sua tribo.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as
lacunas do trecho acima. GABARITO
a) Gregório de Matos Guerra – Manuel Botelho de Oliveira – Arcadismo EXERCÍCIOS PROPOSTOS
b) Cláudio Manuel da Costa – Santa Rita Durão – Arcadismo 01. C 03. A 05. E 07. C 09. B

c) Junqueira Freire – Casimiro de Abreu – Romantismo 02. E 04. A 06. E 08. D 10. C

d) Álvares de Azevedo – Fagundes Varela – Romantismo


e) Alphonsus de Guimaraens – Pedro Kilkerry – Simbolismo

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