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PRINCÍPIOS ATIVOS

EM ESTÉTICA

Gabriela de Farias
Peeling cutâneo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os agentes empregados em peeling químico e suas con-


centrações de uso.
 Desenvolver protocolos de tratamento para peeling químico em
afecções estéticas.
 Relacionar o emprego dos diversos agentes de peeling químico a
riscos agudos e crônicos.

Introdução
O peeling químico consiste na aplicação isolada ou associada de um tipo
de ácido, responsável por promover uma esfoliação controlada sobre a
epiderme até a derme, resultando no rejuvenescimento e na melhora
do aspecto da pele sobre discromias e afecções cutâneas.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os peelings químicos e sua ação
esfoliante, identificando as principais características de cada tipo de ácido,
sua classificação quanto à permeação sobre a pele e diferenciando as
concentrações de pH de acordo com cada utilidade em afecções estéticas.
Além disso, vai ver que, a partir dos peelings químicos, é possível realizar
uma esfoliação controlada sobre a pele, aplicando-os de acordo com a
necessidade de cada paciente e selecionando o tipo de ácido ideal segundo
os benefícios e os riscos que envolvem a aplicação do peeling cutâneo.

Ácidos cutâneos
Para a realização de uma aplicação segura e eficaz dos ácidos cutâneos, é
importante diferenciar sua ação de acordo com a profundidade de permeação
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e as peculiaridades envolvidas sobre cada camada da pele, promovendo o


estímulo adequado para cada finalidade.
A aplicação dos ácidos cutâneos é diferenciada quanto ao grau de perme-
ação sobre a pele. De acordo com Kede e Sabatovich (2015), os peelings se
classificam em: muito superficiais, superficiais, médios e profundos.
Peelings muito superficiais atuam sobre o extrato córneo, realizando uma
esfoliação delicada sobre a camada córnea da epiderme. A camada córnea é
composta por queratinócitos anucleados, seu núcleo e organelas estão dissol-
vidos por enzimas lisossômicas e o citoplasma é preenchido por queratina;
justapostos, são responsáveis pela impermeabilidade da pele, cujo pH varia de
4,5 a 5,0, favorecendo a manutenção da sua microflora normal (DRAELOS,
2012). Os peelings superficiais atuam sobre a epiderme, atingindo até as células
basais, promovendo uma esfoliação próxima à necrose celular. Peelings médios
promovem necrose sobre toda a epiderme e parte da derme, atingindo a camada
mais externa, a derme papilar. Já os peelings profundos atuam sobre toda a
epiderme e a derme, promovendo um processo intenso de necrose tecidual,
atingindo as profundidades de derme papilar e reticular entre 0,6 a 0,8 mm
aproximadamente (KEDE; SABATOVICH, 2015).
O potencial de absorção e a ação de um ácido sobre a pele depende de
algumas variações: do tamanho da molécula do ácido, da concentração e do tipo
de veículo em que ele estará dissolvido, do pH em que ele estará estabilizado,
do número de camadas que o profissional irá aplicar e do tempo de exposição
do ácido sobre a pele do paciente (GOMES; DAMAZIO, 2017).

Tipos de ácidos cutâneos


Os hidroxiácidos são divididos em cinco grupos diferentes: alfa-hidroxiácidos
(AHAs), beta-hidroxiácidos (BHAs), poli-hidroxiácidos (PHAs) e hidroxiácidos
aromáticos. Os hidroxiácidos são responsáveis por reduzir a adesão entre os
corneócios epidérmicos, resultando em um estrato córneo mais fino, além de
diminuir a produção da melanogênese, aumentar a síntese das glicosamino-
glicanas, aumentar a proliferação de fibroblastos e melhorar a hidratação da
superfície da pele a partir da retenção de água e do aumento da produção de
ácido hialurônico, conferindo aumento de até 25% na espessura da pele após
6 meses de tratamento com AHAs.
Os AHAs são ácidos carboxílicos encontrados em alimentos. O peeling
com AHA é destinado à esfoliação superficial, por meio da quelação de cálcio,
proporcionando segurança e eficácia ao longo de várias aplicações. Podem
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ser utilizados de forma isolada ou combinada, agregando maiores resultados


à terapêutica. Sua estrutura molecular consiste em uma estrutura simples,
comparada a outros ácidos, sendo composta por um grupo hidroxila e anexando
um grupo carboxila em posição alfa, o que atribui o caráter ácido diferenciado
quando comparado a outros hidroxiácidos (DRAELOS, 2012). Confira, a
seguir, alguns tipos de AHAs:

 Ácido lático (Figura 1): possui ação umectante, por meio da retenção
de água ao lactato de sódio; clareadora, suprimindo a ação da tirosi-
nase; e esfoliante suave, sem promover irritação à pele. É utilizado nas
concentrações de 0,5 a 15% solúvel em água.

Figura 1. Organização molecular do ácido lático.

 Ácido glicólico: tem origem na cana-de-açúcar. Com menor peso


molecular entre os AHAs, possui grande absorção sobre a pele e é
indicado para face e corpo em peles acneicas, hiperpigmentadas,
rugas finas e lesões de fotoenvelhecimento em fototipos I, II e III.
Em baixas concentrações, atua sobre as camadas mais inferiores
do estrato córneo. É utilizado em veículos em gel, cremes, loções e
soluções hidro-alcóolicas nas concentrações de 5% até 50%. Sua ação
é neutralizada por meio de uma solução de bicarbonato de sódio até
40% e água abundante.
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 Ácido azeláico: é dicarboxílico, saturado, não ramificado, possui ação


antibacteriana e comedolítico em lesões acnéicas, ação enzimática
antitirosinase e antimicondrial e atua sobre a atividade dos melanócitos.
É utilizado em concentrações de 5% a 25%.
 Ácido tioglicólico: com odor característico, sua característica principal é
o desempenho sobre olheiras, atuando em hipercromias de insuficiência
venosa com depósito de hemossiderina e melanina. É utilizado em
concentrações de 10% a 30% e neutralizado com solução bicarbonada
e água abundante.
 Ácido mandélico: derivado das amêndoas amargas, possui maior peso
molecular entre os AHAs, sendo menos irritativo e produzindo menos
eritema se comparado ao ácido glicólico. É indicado para peles com
fototipos altos na modulação da produção de melanina, ação bactericida,
controle da produção sebácea, além da função queratolítica. É utilizado
em concentrações de 30% a 50% e atua no tratamento de acne, em
hiperpigmentação, rejuvenescimento e estrias.
 Ácido kójico: seu principal mecanismo de ação é a quelação de íon
cobre, atuando sobre a inibição de tirosinase (mecanismo responsá-
vel pela transferência de melanina sobre o melanócito) e promovendo
clareamento de manchas de fotoenvelhecimento. Além de sua ação
despigmentante, o ácido kójico também possui ação antioxidante e anti-
-inflamatória. É utilizado em concentrações de 0,5% a 10% associado
a outros ácidos queratolíticos (MONTEIRO et al., 2013).

Outro grupo derivado dos hidroxiácidos são os beta-hidroxiácidos (BHAs),


caracterizados por estrutura molecular contendo o grupo hidroxila ane-
xado à posição beta do grupo carboxila. Com função antienvelhecimento,
o ácido málico está caracterizado tanto como um AHA quanto como um
BHA devido à sua estrutura, que contém um grupo hidroxila e dois grupos
carboxila. O mesmo acontece com o ácido cítrico, que contém um grupo
hidroxila e três carboxilas, sendo um AHA por sua estrutura carboxila e um
BHA devido aos outros dois grupos carboxilas. O ácido salicílico (Figura
2) é um BHA lipossolúvel, penetrando na epiderme e nas unidades pilos-
sebáceas, resultando na função comedolítica, e exerce função antifúngica
e anti-inflamatória por meio da inibição do ácido araquidônico. É indicado
para tratamento de acne, caspa, dermatites seborreicas, psoríase e ictiose
(KEDE; SABATOVICH, 2015).
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Figura 2. Fórmula molecular ácido salicílico.

Os poli-hidroxiácidos (PHAs) possuem, em sua estrutura molecular, dois


ou mais grupos hidroxila e carboxila anexados aos átomos de carbono de
uma cadeia alifática ou acíclica. Os PHAs são metabólitos endógenos; o ácido
galactônio é derivado da galactose, e o ácido glucônio e a gluconolactona são
metabólitos formados a partir da glicose. Com alto peso molecular, permeiam
a pele de forma gradual, desempenhando diversas funções, principalmente em
peles sensíveis acometidas por rosácea e dermatites atópicas, atuando como
anti-inflamatórios e antioxidantes na reparação do fotoenvelhecimento. A
gluconolactona é um dos poucos ativos com liberação para uso em gestantes,
sendo utilizada em protocolos para hidratação, controle de oleosidade e esfo-
liante (DRAELOS, 2012).
Outras estruturas moleculares muito próximas aos PHAs são as dos ácidos
lactobiônicos e do ácido maltobiônico, diferenciando-se pela adição de um
monômero de carboidrato associado a uma ligação éter na molécula de PHAs.
A principal função do ácido lactobiônico está associada à inibição das enzimas
de metaloproteinases (MMPs), atuando na inibição das manifestações de rugas,
flacidez e telangiectasias. Outro grupo de ácidos utilizados na cosmética são
os hidroxiácidos aromáticos (AMAs), representados pelo ácido gálico (KEDE;
SABATOVICH, 2015; YOKOMIZO et al., 2013).
Apresentando ação antioxidante e atuando como cofator na produção de
colágeno, está presente em algumas formulações cosméticas a vitamina C
em sua forma ácida (ácido ascórbico), cujo mecanismo de ação é auxiliar as
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enzimas lisil hidroxilase e prolil hidroxilase no processo da biossíntese de


colágeno tipo I e III e no processo de inibição da oxidação produzida pelos
raios UVA (DRAELOS, 2012).
Na prática dos peelings químicos, também contamos com a ação da re-
sorcina, um ácido obtido da hidroquinona, que possui função queratolítica,
antisséptica, antiseborréica e antipruriginosa, indicado para peles acneicas e
seborreia capilar e utilizado em concentrações máximas de 2% a 5%.
Para complementar o potencial de ação dos peelings químicos, podemos
contar com outros tipos de ácidos. Uma fórmula muito utilizada como peeling
superficial é o peeling de Jessner, composto por ácido salicílico 14%, resorsina
14% e ácido lático 14% em solução alcóolica. É indicado para terapêutica de
acne, clareamento, controle de oleosidade e queratolítico. Proporciona sensação
de queimação intensa e indica-se aplicação de 2 a 3 camadas (YOKOMIZO
et al., 2013).
Classificado como um alfa-cetoácido, o ácido pirúvico possui propriedades
queratolíticas, antimicrobiana e sebo regulador, tem baixo peso molecular
(86,6g/mol) e permeia facilmente a pele, apresentando eritema após a aplicação
e potente ação esfoliante (DRAELOS, 2012).
O ácido retinóico, também conhecido como a vitamina A na forma ácida,
é muito utilizado no tratamento de disfunções estéticas, mas é irritativo à
pele. Trata-se de um pó amarelo, solúvel em éter e acetona, pouco solúvel
em álcool e praticamente insolúvel em água; geralmente, apresenta-se em
formulações cremosas, como cremes e pomadas. Utilizado em concentrações
de 0,5% até 5%, é indicado como queratolítico, diminuindo o espessamento
córneo, é coadjuvante no tratamento de acne e antienvelhecimento e con-
traindicado para pessoas com hipersensibilidade à tretinoína, gestantes e
lactantes.
Outro ácido de uso clinico é o ácido tricloracético (TCA), derivado do ácido
acético, de uso exclusivamente clínico e indicado para fotoenvelhecimento,
cicatriz superficial, tratamento de melasma, efélides, ceratose actinica, hiper-
pigmentação pós-inflamatória e rugas finas; é contraindicado para peles de
fototipo altos (de IV a VI) e peles sensíveis.
Outro ácido muito conhecido na prática clinica é o peeling de fenol
(Figura 4), caracterizado por sua organização molecular com uma ou mais
hidroxilas ligadas a um anel aromático, com aspecto cristalino; é pouco
solúvel em água e extremamente cáustico, atuando em peelings de nível
profundo.
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Figura 4. Organização
molecular do fenol.

Veja, no Quadro 1, alguns dos principais ácidos utilizados em formulações


cosméticas.

Quadro 1. Principais ácidos utilizados em formulações cosméticas

Peso molecular
Ácido (g/mol) Ação Indicação

Glicólico 76,50 Sebo regulador, Clareamento,


renovador celular, acne, hidratação,
clareador, hidrofílico rejuvenescimento

Mandélico 152,15 Queratolítico, bac- Clareamento,


tericida, clareador acne, rejuvenesci-
mento, estrias

Salicílico 138,13 Queratolítico, Acne, oleosidade,


bactericida, sebo estrias
regulador

Kójico 142,11 Clareador Clareamento

Lático 90,08 Hidrofílico, esfo- Hidratação e


liante, clareador clareamento

Gluconolactona 178,14 Hidrofílico, bacteri- Hidratação, acne,


cida, sebo regulador pré-peeling,
oleosidade

Retinóico 300,4 Queratolítico e Esfoliação e


estimulador de rejuvenescimento
colágeno

Fonte: Adaptado de Yokomizo et al. (2013) e Draelos (2012).


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Não é indicada a terapêutica dos peelings químicos em casos de:


 atenuação no diâmetro dos poros;
 flacidez severa da pele;
 atenuação de telangiectasias;
 eliminação de cicatrizes profundas;
 aplicação sobre feridas abertas ou acnes em período inflamatório;
 hiperpigmentação em peles bronzeadas;
 gestantes (com excessão de gluconolactona);
 pacientes imunodeficientes.

Aplicação de protocolos com peelings químicos


Os hidroxiácidos, quando utilizados na forma ácida, agregam resultados para
além da descamação. A utilização dos peelings superficiais sequenciais tem
como objetivo principal realizar o mínimo de dano possível, induzindo a neo-
formação tecidual, implicando um baixo risco e produzindo efeitos cumulativos
superiores a somente uma aplicação de um peeling médio com descamação.
A concentração de cada ácido presente na formulação está relacionada
com os resultados da terapêutica: quanto mais elevada for a concentração,
mais efetiva e irritante será a aplicação. Já o pH está diretamente associado
à quantidade de ácido biologicamente livre na formulação; para a terapêutica
efetiva, os hidroxiácidos devem apresentar-se na forma ácida. Para cada so-
lução de peeling químico, a concentração e o pH determinam a potência e
os benefícios da terapêutica — para realizar um peeling com característica
esfoliante, o pH da formulação deve estar mais ácido do que o pH da região
aplicada (YOKOMIZO et al., 2013).
De acordo com parecer técnico da ANVISA de 2001, atualizado em 2006,
a concentração de peelings químicos indicada para produtos cosméticos é de,
no máximo, 10% em pH 3,5 (GOMES; DAMAZIO, 2017).
Os ácidos, quando diluídos em solventes alcoólicos (etanol, pentanol,
propilenoglicol ou glicerol), permeiam com maior facilidade a pele, atuando
sobre ela por meio do entumecimento da camada córnea, promovendo melhor
participação do ácido e proporcionando maior solubilidade.
A análise do fototipo do paciente é importante para iniciar a terapêutica
com peelings químicos, já que existem ácidos específicos para cada fototipo.
Ácidos com baixo peso molecular são indicados para fototipos baixos (entre
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I e III), enquanto os ácidos de alto peso molecular são ideais para aplicação
em fototipos mais altos (entre IV e VI).
Para a terapêutica dos peelings químicos, existe a possibilidade de asso-
ciar diferentes tipos de ácidos com o objetivo de potencializar os resultados
do procedimento em peles hiperqueratinizadas, sequelas de acne, estrias e
foliculites, aplicando como pré-peeling ou até mesmo aplicando diferentes
ácidos na mesma sessão, de acordo com o objetivo do tratamento.
Quanto maior o número de camadas aplicadas do ácido, maior será a expo-
sição do produto na pele. Em média, os AHAs são aplicados de 2 a 4 camadas
por sessão e o tempo de exposição varia de acordo com a sensibilidade de
cada paciente — geralmente, varia entre 5 a 15 minutos de aplicação sobre
cada camada (KEDE; SABATOVICH, 2015).
Outra forma de potencializar a ação do peeling químico é realizar a apli-
cação do peeling biológico como agente preparador da pele alguns dias antes
do procedimento. O peeling biológico age por meio da hidrólise da ceratina,
pelas enzimas proteolíticas que atuam no rompimento das ligações entre os
aminoácidos das proteínas. Essa ação enzimática é mais utilizada por meio da
extração do mamão (papaína) e da extração do abacaxi (bromelina), atuando
no afinamento córneo de forma controlada (GOMES; DAMAZIO, 2017).

Fatores que interferem na absorção do ácido


O fator natural de hidratação (Natural Moisturizing Factor, NMF) é responsável
pela formação de barreira da pele, impedindo a entrada e a saída de substâncias.
Outro mecanismo de proteção é o manto hidrolipídico (substrato das glândulas
sebáceas), que é depositado sobre a pele, mantendo o pH levemente ácido
(aproximadamente 4,9 na face) e auxiliando no equilíbrio da microbiota. Em
alguns casos, há o desequilíbrio das funções biológicas, resultado de várias
alterações sistêmicas que ocasionam algumas disfunções estéticas, entre elas:
dermatites, manchas, acnes, estrias, entre outras — nesses casos, a aplicação
de ácidos por via tópica auxilia no tratamento dessas disfunções. Indica-se
que o terapeuta realize o preparo na pele do paciente com uma semana de
antecedência antes de aplicar o peeling químico, avaliando a lubrificação da
pele. Entende-se que uma pele hidratada absorve os ativos de maneira uni-
forme, diminuindo os riscos de gerar uma hiperpigmentação pós-inflamatória
e obtendo melhores resultados na aplicação dos ácidos (GOMES; DAMAZIO,
2017; KHUNGER, 2008).
Os principais fatores que interferem na absorção do ácido estão relacionados
com a integridade da epiderme: até que ponto a pele foi limpa e desengordu-
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rada antes do procedimento, até que ponto a pele foi preparada uma semana
antes do procedimento, a espessura da pele (em peles mais espessas, o ácido
vai permear com mais dificuldade) e a região em que será aplicado (face ou
corpo) — esses fatores são considerados antes do início da terapêutica com
peeling químico.
Para a aplicação do ácido sobre a pele, orienta-se que o terapeuta limpe a pele
com agentes desengordurantes, já que o residual oleoso impede a permeação
efetiva dos ácidos. Esses agentes podem ser de origem alcóolica, cetônica ou
até mesmo com outro ácido — o ácido salicílico, por exemplo, é muito utilizado
para desengordurar a pele, preparando-a para melhor absorção de outro ácido
(DRAELOS, 2012; GOMES; DAMAZIO, 2017).

Para saber mais sobre a terapêutica de disfunções estéticas por meio dos peelings
químicos, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/uWcuYv

Terapêutica x riscos de aplicação


De modo geral, existem poucas contraindicações absolutas aos ácidos promo-
tores de peeling químico, pois eles promovem esfoliação superficial, tolerada
por boa parte dos pacientes. É de grande importância que o paciente que inicia
o tratamento com peelings químicos altere alguns hábitos em sua rotina diária,
sem escoriar a pele após o procedimento, deixando a pele descamar de forma
natural e entendendo, também, a grande importância em utilizar o filtro solar
e reaplicá-lo durante o dia.
Ao iniciar o tratamento utilizando peelings químicos, o terapeuta deve
aplicar uma ficha de anamnese contendo todas as informações de hábitos de
vida do paciente e explicar-lhe o plano de tratamento, sanando as dúvidas do
paciente, orientando sobre os produtos home care e apresentando um termo
de consentimento no qual o paciente deve assinar que está ciente em receber
a orientação pré e pós-peeling, comprometendo-se a utilizar rigorosamente o
filtro solar. Dessa forma, garante ao profissional maior segurança de atuação
para a terapêutica (RENDON et al., 2010).
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Acesse o link a seguir e confira a revisão bibliográfica sobre os principais peelings


utilizados em tratamentos estéticos.

https://goo.gl/HNuZ9G

Segundo Kede e Sabatovich (2015), a utilização de algumas medicações in-


terfere nos resultados da terapêutica de peelings químicos médios e profundos.
Por exemplo, o paciente que estiver em tratamento com isotretinoína estará
diretamente associado ao risco de formação de cicatrizes após o peeling devido
ao aumento da síntese de colágeno e à redução da produção de colagenase
(enzima que degrada o colágeno) — nesse caso, indica-se a terapêutica de
peelings químicos médios e profundos somente seis meses depois do término
do tratamento com a medicação. A utilização de medicamentos providos de
corticoides também pode interferir no processo inflamatório, que é importante
para a reepitelização da pele. A utilização de estrógenos em pacientes em
reposição hormonal durante a menopausa e contraceptivos orais aumentam a
probabilidade de produção da pigmentação pós-inflamatória — nesses casos,
indica-se cuidado redobrado na utilização de filtro solar. Algumas das reações
temporárias podem ser: prurido, aumento do tamanho dos poros, aumento de
telangiectasias, erupções acneiformes, reações alérgicas.
Em pacientes com histórico de herpes simples, a aplicação da terapêutica
de peelings médios e profundos pode influenciar no surgimento da ferida.
O frosting é citado na literatura como uma intercorrência relativa dos proce-
dimentos com peelings químicos, tratando-se de uma mancha branca, formando
placas de epidermólise, resultado da utilização de peelings em altas concentrações
e pH ácido <3,5. Em alguns casos, o frosting é almejado devido à profundidade
de ação desejada à terapêutica. Na prática de peelings muito superficiais, a
aplicação do ácido deve ser controlada para que não aconteça o surgimento do
frosting devido à reação de epidermólise irregular sobre certas regiões aplicadas.
Complicações pós-peeling químico pigmentares, cicatriciais, bacterianas,
virais e fúngicas são infrequentes, aumentam conforme a profundidade do
peeling (KHUNGER, 2008) e podem ser:

 descamação prematura, causando infecção;


 lágrimas escorrendo pelo pescoço, o que interfere na absorção do ácido;
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 hipopigmentação;
 hiperpigmentação;
 reações alérgicas;
 eritema persistente (mais de 3 semanas);
 equimose;
 queloides;
 cicatriz hipertrófica;
 necrose;
 infecção por fungos e bactérias;
 síndrome do choque tóxico;
 herpes simples;
 verrugas.

A utilização do ácido salicílico é contraindicada em pacientes com alergia


a aspirina ou a ácido acetilsalicílico.

Confira, no link a seguir, um artigo com exemplos da aplicação do peeling químico


em diferentes disfunções estéticas.

https://goo.gl/eGycD3

1. Um paciente adolescente quer d) Salicílico, mandélico e azelaico.


realizar um tratamento facial para e) Glicólico, lático, mandélico.
acne, apresentando fototipo IV. Após 2. Os hidroxiácidos atuam como
aplicação da ficha de anamnese e agentes esfoliantes, agregando outras
verificação das medicações que o propriedades sobre a pele. Proporcio-
paciente utiliza, quais ácidos você nando melhora na hidratação alguns
utilizaria em seus protocolos de hidroxiácidos, promovem a retenção
peelings sequenciais? de água e o aumento na produção de
a) Salicílico, glicólico, kójico. ácido hialurônico. Assinale a alterna-
b) Lático, kójico, glicólico. tiva que contém os principais ácidos
c) Salicílico, mandélico, lático. que atuam na hidratação da pele.
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a) Retinóico, lático, tiogicólico. b) Para uma absorção efetiva dos


b) Glicólico, kójico, gluconolactona. ácidos sobre a pele, é indicado
c) Retinóico, lático, gluconolactona. que o terapeuta limpe a pele
d) Salicílico, retinóico, lático. com demaquilante e água termal
e) Lático, glicólico, gluconolactona. antes de aplicar o ácido.
3. Para realizar a aplicação do pro- c) A utilização de estrógenos em
cedimento de peeling químico, o pacientes em reposição hor-
terapeuta necessita aplicar uma monal durante a menopausa e
avaliação de anamnese. Além disso, contraceptivos orais aumentam
indica-se a realização de um preparo a probabilidade de produção da
da pele com alguns dias de ante- pigmentação pós-inflamatória.
cedência. Assinale a alternativa que d) Indica-se a neutralização com
justifica essa indicação. solução bicarbonada apenas
a) Para não manchar a pele. para a neutralização do ácido
b) Para promover uma absorção retinóico.
mais uniforme do ácido sobre e) Nenhuma alternativa está correta.
toda a área aplicada. 5. O ácido kójico é um ácido muito
c) Para evitar o frosting. utilizado na terapêutica das dins-
d) Para acostumar a sensibilidade do funções estéticas devido à sua baixa
paciente à aplicação dos ácidos. toxicidade. Assinale a alternativa
e) Nenhuma alternativa está correta. correta sobre as propriedades do
4. Os peelings químicos são agentes ácido kójico.
esfoliantes e trazem benefícios que a) Não é indicado para utilização
vão além da simples escamação, atu- em acne.
ando sobre as disfunções estéticas b) É altamente irritativo e utilizado
por meio de vários mecanismos. De em baixas concentrações.
acordo com as indicações da prática c) Atua como despigmentante por
de aplicação dos peelings, assinale a meio de sua ação de quelação de
alternativa correta. íons cobre.
a) De acordo com as leis da AN- d) É um betahidroxiácido utilizado
VISA, é permitida a utilização de de maneira isolada por meio de
agentes químicos esfoliantes nas aplicações sequenciais.
concentrações até 20% em pH 2,8. e) Nenhuma alternativa está correta.
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DRAELOS, Z. D. Dermatologia Cosmética: produtos e procedimentos. Curitiba: Santos,


2012.
GOMES, R.; DAMAZIO, M. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 5. ed.
São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2017.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia Estética. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
KHUNGER, N. Standard guidelines of care for chemical peels. Indian Journal Dermatology,
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MONTEIRO, R. C. et al. A comparative study of the efficacy of 4% hydroquinone vs 0,75%
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RENDON, M. et al. Evidence and Considerations in the Application of Chemical Pe-
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YOKOMIZO, V. M. F. et al. Peelings químicos: revisão e aplicação prática. Surgical and
Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 1, p.58-68, 2013. Disponível em: <http://www.redalyc.
org/html/2655/265526285012/>. Acesso em: 21 out. 2018.

Leitura recomendada
GUERRA, F. M. R. M. et al. Aplicabilidade dos peelings químicos em tratamentos faciais: es-
tudo de revisão, Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research, v. 4,n. 3, p.33-36, set./nov.
2013. Disponível em: <https://www.mastereditora.com.br/periodico/20130929_214058.
pdf>. Acesso em: 21 out. 2018.
Conteúdo:

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