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termos?
A escola de Copenhaga sobressai pelo seu contributo para nos Estudos de Segurança graças à
inovação teórica e epistemológica aplicada ao fenómeno da segurança com patente europeia.
É relevante o esforço europeu, inicialmente no seio do programa de investigação «Segurança
Europeia» do Copenhaga Peace Research Institute (COPRI), de teorizar sobre a segurança fora
do quadro hegemónico norte-americano, que pensava o fenómeno à luz das teorias das
relações internacionais. O mérito é acrescido se considerarmos que, apesar da sua centralidade
para as relações internacionais, o conceito de segurança foi, durante décadas, acriticamente
utilizado por uma academia pautada por «falta de bibliografia conceptual sobre segurança»
(Buzan 1991, 3-4), Em contrapartida, nos anos 90 generalizou-se o debate sobre à segurança,
do qual resultou uma abordagem ampla do fenómeno, multiplicando-se as vozes em defesa da
descentragem dos eixos estadual (o Estado como objeto e provedor da segurança) e politico-
militar (natureza da ameaça e meios de combate) paradigmáticos do realismo. Neste contexto,
foi clarividente o posicionamento crítico waveriano sobre os críticos do realismo ao alertar para
a necessidade de analisar a segurança como um conceito intersubjetivo, socialmente
construído, e de procurar perceber o porquê, o como e os efeitos do ato discursivo securitário,
ultrapassando desta forma a (então) emergente clivagem entre «tradicionalistas» e
wideners/deepeners. Ainda que crítico dos limites da construção teórica da escola de
Copenhaga, Hoger Stritzel considera que a ideia de securitização é «um dos contributos mais
importantes e controversos para um corpo vibrante de novas teorias da segurança» (Stritzel
2007, 357).
O estudo também não pretende responder à pergunta «o que é» a União Europeia (Manners
2002), privilegiando antes «o que diz» e o «o que faz» (Smith 2009). Um segundo limite do
estudo prende-se com o facto de analisar apenas o securitizing move nos termos definidos pela
escola de Copenhaga — «um discurso que assume a forma de apresentar algo como uma
ameaça para um objeto referente» —, não contemplando indicadores relativos à aceitação (ou
não) do speech act pelo público. De notar que «o assunto é securitizado apenas se e quando o
público o aceita como tal» (Buzan, Waever e Wilde 1998, 25).
Quem securitiza? A União Europeia é uma polity complexa que não dispõe de um governo, mas
de formas de governação que combinam múltiplos níveis de decisão e dinâmicas
supraestaduais, interestaduais, transgovernamentais e transnacionais. Acresce que o
«coletivo» não é monolítico. Por um lado, temos as unidades de base, que são os Estados
membros, com a sua incontornável diversidade, sendo que esta transparece com particular
acuidade em domínios de incidência interestadual, como é o caso da segurança. Aplicando os
mecanismos da europeização, constatamos que, nesses domínios, os processos bottom-up e
cross-loading tendem a prevalecer sobre os processos top-down. Por outro lado, temos as
instituições que, apesar de supraestaduais, dispõem de competências diferenciadas, consoante
a área da política pública, para além e não partilharem a mesma perceção dos fenómenos
securitários.
O que significa «ameaça existencial»? E para quem? Nos termos do Tratado de Maastricht,
pretendia-se, com a política externa e de segurança comum (PESC), «a salvaguarda dos valores
comuns, dos interesses fundamentais e da independência da União» (artigo J.1) e, com a
cooperação na área da justiça e assuntos internos, a segurança dos povos europeus contra o
«terrorismo, o tráfico ilícito e droga e outras formas graves de criminalidade internacional»
(artigo K.1) num espaço de livre circulação de pessoas. Os documentos oficiais subsequentes
mantêm esta referência ao coletivo europeu, embora se verifique uma diferenciação: na
dimensão externa, o coletivo é a UE, enquanto na dimensão interna o discurso privilegia os
cidadãos (ou povos europeus).
O que significa «medidas extraordinárias»?! A este nível, importa considerar o que é «normal»
para um determinado ator é analisar os efeitos do discurso securitizador em termos de
mudança dessa «normalidade». Se considerarmos a história da UF, à normalidade era a
dessecuritização e a utilização de meios não securitários para a consecução da segurança
europeia assentes em narrativa e prática de pendor normativo.
O fim da guerra fria criou a oportunidade para essa explicitação. A alteração da natureza das
ameaças, com a priorização das fontes de insegurança de cariz não militar e transnacional, o
recuo da presença americana no palco europeu, os nexos
segurança/desenvolvimento/conflito/pobreza, a valorização da dimensão branda do poder
(soft power) e a conflitualidade intraestadual na vizinhança da União não só facilitaram como
pressionaram no sentido dessa explicitação.
Apesar da explicitação no início da década de 90, foi necessário esperar pela emergência da
então designada PESD para que o termo «ator de segurança» se generalizasse. A introdução da
cooperação militar, e subsequente implementação de operações no terreno, contribuiu para o
reconhecimento da security actorness por atores estaduais (membros e não membros),
herdeiros do legado realista que valoriza a componente militar e a distinção clássica entre
segurança interna e segurança externa. De notar, todavia, que a evolução da PCSD veio a
confirmar a natureza civilista da União Europeia: a dimensão civil (polícia, Estado de direito,
administração civil, proteção civil) foi inserida pelo Conselho Europeu de Santa Maria da Feira
(2000), realizado sob a presidência portuguesa, a primeira missão europeia foi civil e a maior
parte (72%) das missões no terreno têm sido civis.
A par da evolução jurídica e institucional, foi, finalmente, adotada uma definição estratégica
comum. A avaliação comum pauta-se por seis ideias centrais: a complexidade dos desafios à
segurança num contexto de globalização e abertura das fronteiras, que torna próxima a
insegurança longínqua e que acentua a vulnerabilidade da União face à ameaças" percebidas
como dinâmicas diversificadas, interdependentes, menos visíveis e menos previsíveis; o nexo
entre os aspetos externos e internos da segurança; a necessidade de coordenação de
diferentes instrumentos e capacidades, de cooperação e solidariedade entre os Estados
membros, de cooperação internacional e de multilateralismo efetivo para lazer face aos
desafios; a preocupação com atender às causas da insegurança e não apenas aos seus efeitos,
bem como o acento sobre a prevenção e antecipação; à componente normativa (primado do
Estado de direito e da democracia, boa governação, respeito dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais, diálogo, tolerância, transparência e solidariedade); o imperativo de a
UE «assumir a sua parte de responsabilidade na segurança global» (Conselho Europeu 2003, 1)
e na proteção dos cidadãos europeus.
Após o 11 de setembro, e com particular incidência após os ataques em solo europeu, assiste-
se a uma profusão política, legislativa e orgânica que contrasta com a inércia das duas décadas
precedentes no domínio da luta contra o terrorismo. Embora esta tenha estado na origem da
cooperação informal em matéria de justiça e assuntos internos na década de 70, o silêncio
coletivo, apenas interrompido por iniciativas dispersas, predominantemente de natureza
declarativa e/ou não vinculativa, pautou os anos 80 e 90. A ausência de ação coletiva
sistemática é explicada pela conjugação de vários fatores, entre os quais: a priorização da
segunda da integração económica europeia, o mercado interno, que reorientou as
preocupações securitárias para o combate à criminalidade transnacional; a prevalência do
terrorismo de incidência nacional, que, sendo considerado do domínio reservado dos
respetivos Estados, dissuadiu a abordagem comunitária; o excesso de prudência da Comissão
em exercer a capacidade de iniciativa política e legislativa no domínio sensível da «segurança
interna» introduzido pelo Tratado de Maastricht e por ele localizado no terceiro pilar de
natureza intergovernamental.
Em dezembro de 2004, o plano de ação revisto definiu sete objetivos estratégicos: «aprofundar
o consenso internacional e intensificar os esforços internacionais de luta contra o terrorismo;
reduzir o acesso dos terroristas a recursos financeiros e outros recursos económicos; otimizar a
capacidade dos organismos da UE e dos Estados membros para detetar, investigar e perseguir
turistas e prevenir atentados terroristas; proteger a segurança dos transportes internacionais e
assegurar a existência de sistemas eficazes de controlo das fronteiras; reforçar a capacidade
dos Estados membros para fazer face às consequências de um atentado terrorista; enfrentar os
fatores que contribuem para o apoio do terrorismo e o recrutamento para o mesmo; direcionar
ações no âmbito das relações externas da UE para países terceiros prioritários, nos quais exista
a necessidade de reforçar a capacidade de luta antiterrorista ou o empenhamento no combate
ao terrorismo» (Conselho Europeu 2004a, 9). No total, o Plano de Ação e à «Declaração sobre a
Luta contra o Terrorismo» passaram a contemplar a proposta de 57 medidas. Dado o défice de
implementação das decisões por parte dos Estados membros, foi ainda decidido reforçar os
mecanismos de monitorização.
A iniciativa comum também acelerou a adoção de medidas com vista a melhorar a recolha e o
intercâmbio de informações. Na sequência da declaração do Conselho relativa aos ataques
terroristas em Londres,” que reafirmava a necessidade de aprovar as medidas comuns relativas
à conservação de dados de telecomunicações, foi aprovada a Diretiva 2006/24/CE. Embora
seja reconhecida a vantagem da harmonização das normas nacionais relativas à conservação
de dados, a transposição da diretiva tem tido irregular e esta tem sido alvo de críticas por não
estabelecer garantias suficientes sobre a forma de armazenamento, acesso e utilização dos
dados (Comissão Europeia 2011). Neste domínio foram ainda aprovadas a decisão-quadro
relativa à simplificação do intercâmbio de dados e informações entre as autoridades de
aplicação da lei dos Estados membros e a decisão-quadro relativa à um mandado europeu de
obtenção de provas. Algumas disposições do Acordo de Prim, celebrado em 2005 entre sete
Estados europeus com vista a aprofundar a cooperação policial, designadamente no domínio
do intercâmbio de informações, foram integradas no ordenamento da UE.
internacionais e Estados terceiros, definindo, pela primeira vez, uma «estratégia para a
dimensão externa da Europol (2006-2008)», que contempla dois tipos de acordos com os
parceiros: acordos estratégicos (intercâmbio de informações, exceto dados pessoais); acordos
operacionais (incluindo dados pessoais). Mais recentemente, a União Europeia integrou, como
membro fundador, o Fórum Global contra o Terrorismo e partilhará e com a Turquia a
presidência de um dos grupos de trabalho — Corno de África/Iémen.
Os problemas que o Sahel enfrenta afetam não só as populações locais como também têm um
efeito direto crescente sobre os interesses dos cidadãos europeus.
O Sahel é uma das mais pobres regiões do mundo. Simultaneamente enfrenta os desafios da
pobreza extrema, os efeitos da alteração climática, crises alimentares frequentes, crescimento
demográfico acelerado, governação frágil, corrupção, tensões e por resolver, risco de
extremismo violento e radicalização, tráficos ilícitos e ameaças relacionadas com o terrorismo.
Poucas são as áreas em que a interdependência entre segurança e desenvolvimento seja mais
clara. A fragilidade dos governos tem efeitos sobre a estabilidade da região e a capacidade para
quer a pobreza quer as ameaças à segurança. A pobreza cria instabilidade, a qual pode ter
impacto ao nível de fluxos migratórios descontrolados. A ameaça à segurança criada pela
atividade da Al'Qaeda no Magrebe (AQIM), a qual encontrou no Norte do Mali um santuário,
está centrada em alvos ocidentais, tendo passado da extorsão de dinheiro à destruição da vida,
desencorajando o investimento na região [European Union External Action Service s. d.]
A dimensão normativa está, desde logo, patente no discurso europeu sobre a ameaça. No que
respeita ao objeto, ela atenta contra os «valores universais em que se funda a União Europeia»
(Conselho da União Europeia 20052): a vida humana, a abertura e a tolerância das sociedades
europeias (Conselho Europeu 2001; Conselho Europeu 2003), «os valores das nossas
sociedades democráticas e os direitos e liberdades dos nossos cidadãos» (Conselho da União
Europeia 2005a, 6). Relativamente às causas, o discurso refere, entre outros fatores, a
globalização, a modernização, a conflitualidade, a má governação, bem como os nexos
problemáticos, sublinhando a complexidade e a dimensão estrutural (root causes) do
fenómeno: «[E)vitar o recurso ao terrorismo, combatendo os fatores ou causas profundas que
podem conduzir à radicalização e ao recrutamento na Europa e no resto do mundo» (Conselho
da União Europeia 2005b, 3). Um terceiro aspeto prende-se com o cuidado da linguagem,
rejeitando «toda e qualquer amálgama entre os grupos de terroristas fanáticos e o mundo
árabe e muçulmano» (Conselho Europeu 2001, 1).
O pendor normativo pauta também o discurso sobre a luta contra a ameaça em três aspetos
fundamentais: «o respeito pelo primado do direito, direitos e liberdades fundamentais»
(Conselho Europeu 2010b, 24), a «observância dos direitos humanos e do direito internacional
(Conselho Europeu 2008) na ação antiterrorista global da União; o combate a «todo e qualquer
desvio de índole nacionalista, racista e xenófoba» (Conselho Europeu 2001, 4) e o
desenvolvimento de «um diálogo intercultural, a fim de favorecer o conhecimento e à
compreensão mútua» (Conselho Europeu 2010b, 24); a promoção do consenso internacional e
das normas internacionais de combate ao terrorismo, em articulação com as Nações Unidas e
com outras instâncias internacionais e regionais, «a integração de todos os países num sistema
mundial equatitativo de segurança, prosperidade e melhor desenvolvimento» (Conselho
Europeu 2001, 3), o esforço para solucionar os conflitos e o apoio à boa governação e à
democracia (Conselho Europeu 2005).
Na mais recente resolução sobre a política de luta contra o terrorismo da UE, o PE recordou
que a luta antiterrorista europeia deve «cumprir as normas em matéria de necessidade,
eficácia e proporcionalidade, liberdades cívicas, Estado de direito e responsabilidade e
escrutínio democráticos que a União se comprometeu a «salvaguardar», tendo apresentado
várias propostas, designadamente no domínio da monitorização e exploração de dados para
obtenção de perfis, entre as quais: o reforço da proteção das liberdades cívicas, da
transparência e do controlo democrático no contexto das políticas de luta contra o terrorismo,
a melhoria da recolha de dados, a alteração da Decisão-Quadro do Conselho (revista em 2008)
com vista a «reforçar a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais»
(Parlamento Europeu 2011).
A posição crítica do PE também tem sido extensiva às relações externas, com particular
incidência sobre a cooperação com os EUA, que envolve (abordagens diferenciadas sobre)
temas sensíveis, como a proteção de dados pessoais, as listas de pessoas, grupos ou entidades
classificadas como terroristas e as políticas de detenção de suspeitos. No que respeita à
questão dos dados pessoais, destaca-se a posição do Parlamento Europeu sobre o acordo
relativo ao tratamento e à transferência de dados contidos nos registos de identificação dos
passageiros (acordo PNR) celebrado com os EUA. Em 2003, o plenário aprovou o
relatórioBoogerd-Quaak, que considerava a possibilidade de acesso das autoridades norte-
americanas a bases de dados em território europeu equivalente a um «exercício de soberania
dos EUA» nos países europeus, além de que transferiria «para o nível europeu o poder
discricionário dos Estados membros de autorizarem [...] a utilização, para fins de segurança, de
dados originalmente coligidos para fins comerciais». De acordo com Jean-Marie Cavada, à
«palavra-chave aqui é «demasiado» [...] [O] número de dados que os Estados Unidos nos
pedem para transferir é demasiado elevado, o tempo de retenção demasiado longo, o número
de autoridades destinatárias demasiado elevado e os objetivos identificados demasiado
numerosos [...] tudo isto sem as garantias necessárias» (Parlamento Europeu 2095). No início
de 2010, a instituição europeia rejeitou o acordo provisório sobre a transferência de dados
financeiros celebrado entre a União Europeia e os Estados Unidos (acordo SWIFT) por este ser
excessivamente intrusivo ao prever a transferências de dados «em bruto», e não apenas dados
de suspeitos específicos.
Considerações finais
A tendência securitizadora não foi criada pelo «efeito 11 de setembro», mas este intensificou-a
e expandiu-a, facilitando práticas que fragilizam a natureza normativa do ator europeu. Ainda
que a luta contra o terrorismo continue a ser protagonizada pelos Estados, a UE propõe-se a
ter um papel de dinamização e coordenação do esforço coletivo. Importa que a este nível
funcione também como garante do legado normativo europeu, contrariando derivas
securitárias nacionais.
Em resposta ao desafio proposto pelos editores da presente obra coletiva — «qual o contributo
da escola de Copenhaga?» —, a aplicação do quadro teórico da securitização ao nosso estudo
caso revelou potencialidades e fragilidades do mesmo. Considerando que cada teoria oferece
um filtro para analisar uma realidade complexa (Snyder 2004), pode considerar-se, para efeito
de contraste, o potencial contributo do realismo e do institucionalismo liberal: o primeiro
evidenciaria o papel do Estado (que detém a soberania e os recursos políticos, humanos e
materiais em matéria de segurança), a prevalência das dinâmicas interestaduais (em
detrimento das supraestaduais) e dos interesses nacionais, a projeção das preferências
securitárias nacionais na agenda e nas decisões da UE e o não-ator europeu de segurança (leia-
se militar); o segundo sublinharia a importância da cooperação europeia institucionalizada em
matéria de segurança, num sistema de interdependência complexa, face a desafios securitários
transnacionais, tendo por fonte e alvo atores não estaduais. Os dois quadros teóricos
pensariam o fenómeno securitário europeu como objetivo e a partir das teorias das relações
internacionais. Diferentemente, a teoria da securitização parte da segurança, entendida como
fenómeno intersubjetivo, construído por atores com autoridade, com o contributo acrescido de
analisar os efeitos da narrativa securitária socialmente construída. Estes dois aspetos
(fenómeno intersubjetivo e efeitos da narrativa) são relevantes para a análise de um ator de
segurança em construção, coletivo e não estadual, despojado inicialmente de competências,
organismos e instrumentos no domínio da segurança (ainda que imbuído do racional
securitário na motivação inicial e no resultado). De notar, todavia, que as idiossincrasias do ator
europeu suscitam dificuldades de operacionalização dos critérios da securitização,
designadamente «aceitação pelo público», «medida extraordinária».
A União Europeia, enquanto polity pós-vestefaliana complexa, constitui assim um desafio à
teoria da securitização, evidenciando fragilidades identificadas por diferentes autores,
designadamente a «subteorização de diversos aspetos dos processos de securitização»
(Léonard e Kaunert 2010, 57). Ainda que o presente estudo se tenha restringido ao securitizing
move e à análise do discurso de duas instituições, indiciou a pluralidade de atores
securitizadores (em processos top-down, v. os casos Conselho Europeu e Conselho da UE no
domínio do terrorismo e da Comissão Europeia nos domínios da energia, do ambiente e do
desenvolvimento, e em processos bottom-np, v. os casos de Estados membros em áreas rele-
vantes para as suas preferências nacionais) e de públicos (Estados membros, cidadãos
europeus, Estados terceiros), demonstrativa da inexistência de padrões universais. O caso mais
específico da luta antiterrorista foi escolhido porque, sem consubstanciar uma
metasecuritização (Buzan 2010), ascendeu na agenda internacional (e europeia), tendo os
ataques de 2001 ocorrido num contexto em que a União Europeia, dotada já «acervo»
(legislativo, institucional e recursos) no domínio da segurança, era praticamente omissa na
prevenção do e no combate (coletivos) ao terrorismo, o que facilita a comparabilidade
histórica. O estudo de caso permitiu identificar efeitos do securitizing move que comprometem
a natureza normativa do ator europeu, o que é relevante no plano não apenas académico,
como também ao nível da elaboração e execução das políticas.