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CENA-MEMÓRIA:
POÉTICA DE ATUAÇÃO E FORMAÇÃO DE UM ARTISTA CÊNICO
MEMORY SCENE:
POETICS OF ACTION AND TRAINING OF A SCIENTIFIC ARTIST
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Essa terminologia é conhecida em Belém através da pesquisa desenvolvida pelo Prof. Dr. Miguel
Santa „Brígida e seu grupo Cia. Atores Contemporâneos.
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Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa Teatral da Unicamp – Lume Teatro.
3
Bailarino, coreografo e professor de dança efetivo da Escola de Teatro e Dança da UFPA.
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Grupo de dança contemporânea atuante em Belém/PA desde 2008.
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Parte do conceito deleuziano sobre rizoma, um pensamento que se faz múltiplo, que se quer com 1504
diferentes formas e multiplicidades (grifos nossos).
“A memória. Um retorno sobre os mesmos passos,
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para onde quer que se vá.” (Vicente Franz Cecim )
6
Escritor e romancista paraense, autor da ontológica coletânea amazônica “Viagem a Andara, o livro 1505
Invisível”
autorreferentes foram marcados por encontros intensos com artistas fazedores das
artes cênicas, com os quais pude desenvolver peculiaridades no aprendizado para a
criação do sensível. Nesses percursos, identifico a intuição como principal veículo de
condução dessa produção do sensível, e a curiosidade como elemento essencial
para criar e se relacionar com tudo que circunda este lugar de invenção que é a
cena.
Neste sentido, trago ainda como contribuição para o âmbito da pesquisa a
pedagogia do Corpo Poético de Lecoq (2010) que vai tratar de uma dimensão
abstrata da criação, feita de espaços, de luzes, de cores, de matérias, de sons, que
se encontram em cada um de nós, depositados no corpo a partir de nossas diversas
experiências, de nossas sensações, de tudo aquilo que vimos, escutamos,
apreciamos. Tratando de aspectos que ficam em nossos corpos e constituem um
fundo comum de impulsos e desejos de criação (LECOQ, 2010).
Esse rastro de história que convoco, a cena-memória, termo usado para dar
nome e sentido poético a esta pesquisa, será o lugar/tempo mais importante a ser
revisitado a partir de minha própria história de vida, atravessada, transbordada e
constituída em/por minha prática cênica. Pretendo desvelar dessas dramaturgias
autorais de ator-dançarino, elementos simbólicos de minha pessoalidade,
lembranças e memórias, que uma vez ficcionadas, tornaram-se subsídios narrativos
essenciais das encenações. E com isso, almejo aproximar este trabalho de um
entendimento filosófico, onde criar é, antes de tudo, construir uma ficção sobre si7.
Nesta premissa da vida e arte, faz-se necessário relacionar minha abordagem
de pesquisa ao conceito de Vida Artista de Foucault (2006), que perpassa por uma
possibilidade de todo sujeito ético-autônomo, ter o potencial de inventar-se a si
mesmo e à vida de outros a ele vinculados.
Mas como é possível pensar a vida como uma obra de arte? A proposta de
Foucault é a de refletir as escolhas éticas dentro de critérios estéticos.
Neste aspecto, o estético não está simplesmente voltado para questões de
beleza e não se limita a questões individuais. Não se trata de uma visão
solipsista da moralidade. Por detrás da estética da existência encontra-se
aspirações coletivas, posturas políticas e éticas compromissadas. A estética
da existência comporta um sujeito ativo e resistente. (ARANTES, 2018,
p.89)
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Greiner, C. Leituras do corpo no Japão. N-1 edições, SP: 2015
como uma obra de arte, articuladas nas práticas do cuidado de si e na investigação
do trabalho sobre si8. Nesse caminho buscarei perceber como vida e arte forjaram
minha formação de artista cênico9.
Por ter sido a década em que nasci, pouco de minhas histórias foram usadas
como referência, entretanto, identifico nesse trabalho um espaço primeiro de
construção de um arcabouço cultural para minha formação pessoal, social e cultural,
em especial por trazer à tona um recorte de vida cultural que desconhecia. Entre as
cenas do trabalho, uma em especial ganha destaque para análise e reflexão nesta
pesquisa. Um encontro de duas figuras femininas em uma boate fictícia, a New
Pussanga, nela as personagens Manara Lance e Socorrinho encontram-se e vivem
um romance. A cena foi concebida como um videoclipe dentro da estrutura de
dramaturgia do espetáculo, a partir de um relato pessoal de uma história de minha
família, em contraponto com situações semelhantes e testemunhadas pelos outros
criadores nas noites dos anos 1980.
8
Grotowski, J. Para um teatro pobre. 2011.
9
Artista Cênico: o ator, o dançarino, o mímico, o músico, o performer, ou seja, todo artista que traz
em seu próprio corpo o resultado de sua arte (Strazzacappa, 2016 a.).
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Projeto financiando pela Bolsa de Experimentação e Criação Artística do Instituto de Artes do Pará 1507
-IAP.
Nos anos seguintes participei de outros dois espetáculos do grupo Usina11, e
em 2010, com criação do espetáculo “Eutanázio e o Princípio do Mundo”, inspirado
na obra “Chove nos Campos de Cachoeira” do romancista paraense Dalcídio
Jurandir, um novo ciclo de imersão sobre os processos de história de vida e
pessoalidade na construção de cena foi retomado. Neste novo mergulho, buscou-se
investigar as narrativas literárias em contraponto com ações desencadeadas pelo
corpo, pela investigação do cotidiano e atravessadas pela memória pessoal. Durante
a pesquisa a direção do espetáculo motivou–me a experimentar e levar para cena
estruturas de atuação que evocassem histórias vivenciadas por mim na infância, e
que se fizessem espelho das histórias do personagem Alfredo, um dos protagonistas
do romance.
Um retorno ao início, meu início. A um Marajó de onde saí e que por algum
tempo quis ignorar. O lugar das minhas lembranças mais alegres... e tristes
também, mergulhadas naquelas águas escuras. Minha fortaleza e raiz. Em
Eutanázio e o princípio do mundo conto histórias do Marajó escritas por DJ
e junto, conto minha própria trajetória até aqui... e chegar até este momento,
neste processo foi um exercício árduo de procurar e reinventar a cada dia
nosso chão. Nosso faz de conta... Até quando? (Diário de montagem,
escrito do autor, 2010)
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Frozen, em 2007, com direção de Nando Lima; e, Ágora Mandrágora ou Santa Maria do Grão
Agora, de 2009, com direção de Alberto Silva Neto
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Coletivo de artista paraense que se formou em 2009 para a pesquisa e criação do espetáculo À 1508
Sombra de Dom Quixote, a partir de financiamento do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Munis/2008.
Neste contexto, deflagra-se na dramaturgia a possibilidade de desaparecimento e
desistência das aventuras por parte do Sr. Quixote. Assim os atores passam a
mediar um diálogo imaginário por meio de cartas escritas ao cavaleiro da triste
figura, contando-lhe suas jornadas e desafios pessoais, como estimulo para que
este não desista de suas aventuras e sonhos. Extraio como recorto dessa
montagem, a cena em que escrevo uma carta para Dom Quixote, contando minha
aventura pessoal, nela aparecem de forma imaginária, uma história por debaixo das
águas dos rios amazônicos, dialogando com o enredo da carta.
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Esta cena curta foi apresentada em Belém-PA; São Paulo-SP (Mostra Amazônica de Experimento
Teatral do Pessoal do Faroeste); Belo Horizonte-MG (Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine
Horto); Goiânia-GO (Circuito de Cenas Curtas) e Curitiba-PR (8ª Mostra Cena Breve Curitiba – 2012).
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Essa vivência deu-se em 2011 no curso “O Visível e o Invisível no Trabalho do Ator Dançarino”
ministrado por Carlos Simione (Lume Teatro) e Tadashi Endo (MAMU Butoh Centrum).
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Narrativas registradas pelo estudioso alemão Theodor Koch-Grünberg em 1913.
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Realizado em 2013 e 2014 pela Cia de Investigação Cênica em Belém do Pará, por meio do 1509
Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna/2012.
mostrassem sínteses de nossas relações com os costumes da região. A encenação
costurou esses depoimentos de forma narrativa não linear, usando a sonoridade do
instrumento curimbó e distorções estéticas que produziam a sensação de que
estávamos adentando no “DNA” de nossa origem cultural. Dessa experiência,
recorto o fragmento em que enceno uma possível raiz ancestral pessoal,
reinventada para o ambiente dramatúrgico da peça. Costuro essa sequência a uma
célula coreográfica, com a qual dança o encontro com meu parceiro de vida e arte.
Referências
ROCHA, Thereza. Por uma docência artista com dança contemporânea. In.:
Docência-artista do artista-docente: Seminário Dança Teatro Educação / Thaís
Gonçalves, Héctor Briones, Denise Parra e Carolina Vieira [organizadores] –
Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2012.
i
Ator e dançarino, paraense, radicado em Goiás. Graduando do curso de Licenciatura em Dança pelo
Instituto Federal de Goiás – IFG – câmpus Aparecida de Goiânia (GO). Para acessar este CV na
plataforma Lattes/CNPq acesse: http://lattes.cnpq.br/1860070975477276. E-mail:
s.jesus@academico.ifg.edu.br
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