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ANDRÉ FERREIRA DE SOUZA

CORPO POÉTICO: a expressividade do ator-performer no uso de poemas para a


construção de performances teatrais

Linha de pesquisa: Poéticas contemporâneas

Cuiabá
2023
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RESUMO

O presente projeto de pesquisa tem como objetivo explorar os procedimentos na construção


poética de uma performance cênica cujo elemento dramatúrgico central é a poesia mato-
grossense. A investigação parte do corpo enquanto caminho da expressividade dentro da
performance, alinhada a pensadores como Merleau-Ponty, Eleonora Fabião, Matteo Bonfitto e
Renato Cohen. Parte-se do pressuposto de que o corpo é um meio fundamental de expressão
artística, sobretudo na performance. Assume-se a cartografia como método de experimentação
e travessia. Ao final desta observação, a proposta é criar e apresentar uma obra teatral cujo
disparador seja obras da literatura mato-grossense. As reflexões a serem feitas têm como guia
a experiência do proponente enquanto atuante e assistente de direção de Trupe, grupo de
teatro capitaneado pela poetisa e imortal da Academia Mato-grossense de Letras, Luciene
Carvalho.

Palavras-chaves: Expressividade do corpo; Performance; Processo de criação; Poesia;


Cartografia

“Um teatro que bebe na fonte da literatura mato-


grossense tem uma dramaturgia de outro
alcance”, Luciene Carvalho.

INTRODUÇÃO

Com capacidade única de evocar emoção e despertar a imaginação, a literatura e, em


especial a poesia, é uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade. A interação
dela com outras áreas, a exemplo do teatro, é explorada por diversos pensadores e artistas há
muito tempo. O uso da poesia na oralidade ou de sua tradução/transcrição para a cena teatral
também não é novidade, vide ao grande número de adaptações de clássicos como Odisseia, de
Homero. No Brasil, o repente e as batalhas de rima também são exemplos da tradição oral
envolvendo a poesia que perduram e se transformam com o passar do tempo.

Aproximando de nossa realidade, a poetisa e imortal da Academia Mato-grossense de


Letras, Luciene Carvalho, é referência em se tratando da adaptação do poema para a cena.
Transitando entre as artes cênicas e a literatura, Luciene é uma declamadora que escreve os
próprios poemas. Desde a década de 90, ela une figurino, trilha sonora e efeitos cênicos para
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oferecer poesia viva à plateia. Ou como ela mesma qualifica: proporcionar “um mergulho nos
desvãos emocionais da palavra”.

A partir a formação em artes cênicas pela MT Escola de Teatro, me proponho a


investigar como se dão algumas relações entre palavra e(m) movimento através da construção
dramatúrgica para uma performance cênica de poemas. Interessa saber como a poesia afeta o
corpo durante essa incursão pelos versos em particular da literatura mato-grossense e resulta
em uma obra teatral nos moldes da performance. O estudo proposto abrange uma ampla gama
de aspectos relacionados ao processo criativo desse uso, incluindo a seleção e adaptação de
textos poéticos, a relação entre a linguagem poética e a tradução da palavra no corpo, as
estratégias de encenação e direção, e o impacto da poesia na experiência do público.

Desse modo, o intuito da proposta é investigar a performance de poemas como gênero


performativo, fomentando a discussão a partir da prática, com ênfase na produção literária de
Mato Grosso como disparador. A pesquisa visa também explorar as potencialidades estéticas,
expressivas e comunicativas da poesia no teatro, bem como compreender os desafios e as
estratégias necessárias para incorporar os versos na cena teatral.

As investigações aqui propostas têm como guia a experiência de Trupe, grupo de


teatro capitaneado por Luciene Carvalho, embalada pelos versos da mesma. O nome do grupo
é um achado dentro da numerologia e do misticismo, temas que permeiam o universo da
diretora e poeta. O endereçamento de quilombo, viés periférico e o debate sobre racismo
ambiental são outras características do grupo, que reúne integrantes com e sem formações
artísticas a fim de balancear as experiências coletivas e processos de criação. O corpo de
atuação é formado pelos atores André Ferreira, Maicon Campos e Victor Azambuja.

Neste processo de criação e trocas, o grupo apresentou espetáculos em Cuiabá e outras


cênicas em comunidades de Santo Antônio do Leverger, Nossa Senhora do Livramento e no
Distrito do Sucuri, também na capital. Formado em 2022, Trupe tem como principal
característica a investigação do texto poético na cênica teatral. Tocar a alma humana através
da arte é ofício para o jovem grupo que, com respeito ao sagrado, ao marginal e ao profano,
visitou comunidades da Baixada Cuiabana, levando textos poéticos e cênicos que conversam
com as realidades de cada uma delas. Na comunidade Quilombo de Mata Cavalo de Cima, em
Nossa Senhora do Livramento, o grupo encenou „Benedito Santo‟, em homenagem a São
Benedito. Com o texto „Partilha‟ que versa sobre a adicção, Trupe se apresentou na
comunidade terapêutica Bem Viver, em Cuiabá, que abriga mulheres em tratamento contra a
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dependência química. Em Santo Antônio do Leverger, o grupo presenteou o quintal do Boi


Estrela com uma performance em tributo ao tradicional Boi-à-Serra, festa da cultura popular
do município e de Mato Grosso. Ainda no ano passado, com outra formação, o grupo
apresentou Flor de Mamona, acontecimento cênico em comemoração ao aniversário de
Cuiabá, com poemas de Luciene Carvalho, Daniella Paula de Oliveira e Ivens Cuiabano
Scaff. Já em 2023, Trupe proporcionou ao público uma experiência imersiva no Cerrado,
apresentando um mergulho nos versos de Luciene Carvalho e, ainda, uma temporada com
cênicas do livro Dona, da mesma autora.

JUSTIFICATIVA

Este projeto de pesquisa propõe uma investigação aprofundada do uso da poesia como
elemento dramatúrgico no teatro contemporâneo, no âmbito do Programa de Pós-Graduação
em Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A escolha se
baseia na sua abordagem interdisciplinar e na valorização das manifestações culturais e
artísticas da contemporaneidade, proporcionando um ambiente propício para explorar as
possibilidades e os desafios do uso da poesia como dramaturgia na cena teatral atual.

Esta pesquisa busca viabilizar a investigação da presença de um teatro poético e


apontar as potencialidades dele enquanto gênero, fomentando discussões a partir da prática.
Nessa medida, a transposição do texto poético para a cena, perpassado pelos desafios e
saberes que esta jornada permitirá, soa como uma investigação desafiadora da qual me sinto
provocado e encorajado a fazer.

Espera-se que o estudo contribua para uma compreensão mais aprofundada do


potencial artístico e expressivo da poesia no contexto teatral, além de gerar um produto
criativo concreto na forma de um espetáculo que explore a poemas da literatura mato-
grossense. Além disso, busca-se contribuir para a ampliação do repertório estético e
dramatúrgico do teatro, oferecendo reflexões e perspectivas que possam estimular novas
criações e experiências poéticas no teatro.

OBJETIVO GERAL
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Investigar as potencialidades expressivas do corpo do ator-performer durante a utilização da


literatura mato-grossense como dramaturgia na performance teatral.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Examinar as diferentes formas de utilização da poesia no teatro contemporâneo;


● Investigar as relações entre poesia e performance, buscando compreender como o
texto poético pode ser incorporado como elemento central na criação da performance
cênica;
● Propor experimentos e experimentações cênicas a fim de estudar o processo criativo
que explore a poesia mato-grossense como disparador para a composição cênica;
● Explorar as possibilidades de expressão corporal proporcionadas pela poesia na
performance teatral, investigando elementos como gestos, movimentos, entonação
vocal e presença cênica;

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Passo agora a esmiuçar os temas e conceitos que cercam este projeto de pesquisa. No
livro Dicionário de Teatro, Patrice Pavis apresenta o verbete “poesia no teatro” e afirma que a
poesia obriga o espectador a outra escuta. A relação, segundo ele, beneficia tanto a poesia
quanto o teatro. Para o autor, é na performance cênica que a polifonia de sentidos ganha
corpo.

A poesia reencontra a oralidade, a corporalidade, a humanidade de textos


quase sempre condenados ao segredo do papel e da voz interior. O monólogo
interior, as vozes misturadas, a polifonia têm que se expor na performance
cênica. Assim, o teatro abre uma outra via à poesia: ao teatralizar-se, ao
enunciar-se em público, a poesia reencontra suas origens na poesia oral ou
no conto de certas culturas orais remanescentes (PAVI, 2005, p. 295).

O autor nos faz um lembrete da singularidade do encontro entre poesia e teatro.


Contudo, nas artes cênicas observam-se práticas com poemas na forma didática para o
exercício ou reconhecimento das potências de voz e da palavra em cena. Por outro lado, há
poucas pesquisas que sistematizem ou invistam em estudos procedimentais para a
performance de poemas.

Falo em performance, tendo em vista que, no campo do teatro, o gênero é uma das
vias que mais dialoga para a transcriação do texto poético na cena teatral em função da
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interdisciplinaridade ou o “borramento” das fronteiras entre as linguagens artísticas.


Retornarei ao que tange a escolha da performance mais a frente. Antes, assumo o termo
“transcriação” bem como o fazem Alves e Kopelman (2023), em pesquisa sobre o uso da
poesia concreta como dramaturgia para a performance. Isso em função da imprecisão do
termo, que abre brechas para uma criação conjunta entre autor, leitor e performer. Segundo as
autoras, enquanto ligado ao movimento literário (o de transcrever livros), a transcriação –
termo criado por Haroldo de Campos, passa pelo crivo e criatividade de tradutores. O
processo envolve, então, o repertório subjetivo de cada um. A soma final dessa conta é que as
transcriações sempre acabam com um pouco de seus autores. Para as pesquisadoras, o
envolvimento subjetivo dá ao processo de compreensão um caráter performativo capaz de
habitar a cena do teatro e ainda atuar como solução para a materialização da poesia. “Portanto,
o teatro poderia se apropriar de uma lógica semelhante, traduzindo a poesia para o corpo,
movimento e ações cênicas”. (Alves e Kopelman 2023, p. 17). Em outras palavras, o
performer se apropria do material de partida (o poema) e, levando em consideração sua
subjetividade e as reverberações do texto no corpo, traz a tona uma nova obra.

Firmo aqui, então, o desejo de articular palavras no corpo. Instigo-me pelo conceito do
ator-compositor de Matteo Bonffito (2011), que entende o performer enquanto compositor;
um criador que também compõe, alguém que se envolve de forma ativa na criação e na
composição da cena, utilizando o corpo como instrumento expressivo.

O ator, detentor de um aparato técnico que, mais e mais, se encarna nele


mesmo, tor-nando-se como que um com ele mesmo, é ca-paz, com certeza,
de estabelecer, conforme seu jeito próprio de preparar-
se para a cena, uma partitura de ações físicas que o conduz, instantea
instante, em direção ao contato com as outrasobras-atores circundantes, se os
há, e ao conta-to de maior ou menor proximidade com o pú-blico com o qual
pretende comunicar-se, sendoque é certo que de vários modos pode dar-se
a conhecer e a comunicar-se (DE AZEVEDO, 2002, p. 243)

O ator-compositor transcende a ideia de ator como executor passivo de um roteiro pré-


estabelecido, tornando-se coautor da cena, capaz de criar e recriar o poema por meio de suas
escolhas e expressões corporais. Aplicando o conceito na pesquisa aqui proposta, o corpo do
ator se torna um veículo de expressão e comunicação, capaz de transmitir as nuances e as
emoções contidas no poema, criando uma experiência sensorial e estética para o espectador.
Ao ligar as ideias das referências aqui trazidas, é possível crer que a vibração da palavra no
corpo do performer-ator, aliada aos outros elementos cênicos – luz, figurino, cenografia, etc. –
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, possa estabelecer essa polifonia, transformando o resultado do processo criativo numa


experiência estética única e significativa.

Parto da ideia de que poemas enquanto produção literária são, em suas maiorias,
textualidades não dramáticas que não foram compostas enquanto dramaturgia para o teatro,
mas que podem ganhar corporeidade através da encenação e da declamação, por exemplo. É
preciso então que a poesia ganhe corpo. Em se tratando desta ferramenta, é preciso destacar os
conceitos do filósofo francês, Maurice Merleau-Ponty (2018). O autor destaca a importância
da corporeidade como base para a experiência perceptiva e a expressão artística. O corpo do
ator se torna, então, instrumento para a criação artística e conexão com o espectador.

A relação entre corpo e poesia começa antes e tem raízes na tradição oral. Cito como
exemplos os griots, que são contadores de história, cantores, poetas e musicistas de África
considerados como guardiões da palavra e responsáveis pela transmissão de mitos, técnicas e
tradições de geração para a geração. Para pesquisadores que investigavam a oralidade, a
poesia oral abrange as mais variadas manifestações artísticas que têm a voz como matéria
principal, mas não só. A priori porque voz também é corpo, mas também porque a oralidade é
tudo aquilo que escapa de nós em direção ao outro seja pela voz, por um gesto mudo ou
mesmo um olhar, como reforça Leite (2011):

Durante a performance poética, o corpo germina, através dos gestos e da


entonação da voz, palavras grávidas de poesias e movimentos repletos de
poeticidade, nos quais cada expressão revela, do corpóreo, uma correnteza
de sensibilidade, mostrando que, a cada movimento, a palavra e o gesto são
caminhos para que a poesia fale por intermédio do corpo. (LEITE, 2011,
p.138).

Tratemos, então, de uma performance poética não apenas por sua função, mas por
conter em si a própria poesia como fio condutor ou disparador do processo criativo e, por
consequência, influenciando seu resultado. Cabe ao corpo modalizar o discurso do poema, dar
visões de sua intenção. “O gesto gera no espaço a forma externa do poema. Ele funda sua
unidade temporal, escandindo-a de suas recorrências”. (Zumthor, 1997, p. 204). Em
“Performance, Recepção, Leitura”, publicado no Brasil em 2018, o autor se apoia em outros
pensadores para refletir sobre a relação entre texto literário e performance, enquanto
expressão corporal. Especialmente focado na questão vocal da performance, o autor chega a
conclusão de que o prazer poético é orgânico; sendo a poesia mais física do que intelectual.
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Imbuído do pensamento do ensaísta e crítico literário, este projeto de pesquisa propõe


acrescer o corpo enquanto lugar de experiências, intensidades, a fim de revela-lo como
instância para materialização e produção de gestualidade, movimento e partituras corporais.
Prevê-se estudos voltados ao modelo do Teatro Ritual de Antonin Artaud que, por certo,
influenciou a performance, e enfatiza a dimensão visceral e primal da experiência teatral.
Artaud (2011) propõe uma conexão profunda com o corpo, a voz e as emoções, visando
provocar reações intensas e até mesmo transgressoras. Nesse contexto, a performance de
poemas inspirada pelo modelo artaudiano pode explorar o corpo como um veículo de
expressão sensorial, buscando tocar os sentidos e a subjetividade do espectador de forma
visceral e potente.

É nesse mesmo sentido, de diálogo entre expressões, da contraposição, da contracena e


da união de estéticas diversas que surge no Brasil o conceito do Teatro Hip Hop, que une a
cultura urbana ao teatro. Segundo Roberta Marques do Nascimento (2012), que atende ao
nome artístico de Roberta Estrela D‟alva e é precursora do movimento, a junção de
linguagens resultou num repertório diverso de espetáculos teatrais, intervenções cênicas
urbanas, músicas e criações audiovisuais. A investigação da pesquisa de Roberta resultou em
uma figura principal a do Ator-MC, tido como “artista híbrido que traz na sua gênese as
características narrativas do ator épico (o distanciamento, o antiilusionismo, o gestus, a
determinação do pensar pelo ser social)”. (NASCIMENTO, 2012, p. 3). Prática próxima a
pretendo investigar, o Ator-MC se aproxima do performer dando vida à poesia que nasce a
partir da vivência do ambiente urbano. No projeto em questão, por outro lado, proponho
investigar a poesia de poetas e poetisas mato-grossense.

Volto-me à performance enquanto gênero teatral como caminho para a materialidade


da palavra. Compreendo a performance como forma de expressão artística que envolve a
apresentação de ações, gestos, movimentos e palavras. Ela se baseia na presença física do
performer e na interação com o público, buscando criar uma experiência compartilhada e
impactante. Para Renato Cohen (2011), na performance a ênfase se dá justamente para a
atuação e o performer se torna criador e intérprete de sua própria obra. “É a expressão de um
artista que verticaliza todo seu processo, dando sua leitura de mundo, e a partir daí criando
seu texto, seu roteiro e sua forma de atuação”, (COHEN, 2011, p.100). Trago ainda outro
pensamento do autor que complementa os motivos para a imersão voltada para a performance:
a interdisciplinaridade. Isso porque, segundo Cohen, por sua forma livre e anárquica a
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performance abriga um sem número de artistas das mais diversas linguagens, tornando-se uma
espécie de “legião estrangeira das artes”,

Outra referência da performance, Eleonora Fabião (2013) também enfatiza a


importância da corporeidade como ponto central da performance. Ela argumenta que o corpo
não é apenas um objeto a ser observado, mas um agente ativo que cria significados e
estabelece relações com o espaço, com o público e com outros corpos presentes na
performance.

A expressividade do corpo, de acordo com Fabião, está intrinsecamente ligada à sua


capacidade de estar presente no momento em que a cena se dá, de responder às solicitações do
ambiente e de se conectar com o público. É por meio do corpo que a performance ganha vida
e se torna uma experiência viva e dinâmica. “Através do corpo-em-experiência cria relações,
associações, agenciamentos, modos e afetos extraordinários”. (FABIÃO, 2013, p. 6). O corpo
expressivo, para a autora, é aquele que é capaz de comunicar e transmitir emoções, sensações
e ideias de forma autêntica e significativa. Ele não se limita apenas aos movimentos e gestos,
mas também incorpora a voz, a respiração, a postura e a energia do performer.

Assim sendo, a concretização dos poemas no ator passa, indiscutivelmente, pelo


corpo, fazendo de nosso amontado de células, tecidos e órgãos pulsão e canal para a expansão
da poesia, que será então percebida através dos sentidos (olfato, tato, paladar, visão e
audição). A partir do exposto, acredito existir na performance a possibilidade de responder a
questões das quais já me deparei na caminhada com Trupe e a qual me proponho a investigar:
Quais as potencialidades expressivas do corpo do ator-performer durante a utilização da
literatura como dramaturgia na performance teatral? (Sugestão de pergunta)

METODOLOGIA

A presente pesquisa pretende utilizar a pesquisa qualitativa enquanto abordagem


metodológica. A cartografia enquanto método me parece a melhor ferramenta a ser adotada.
Isso porque, a pergunta anteriormente feita será respondia após uma travessia ancorada,
principalmente, em experimentos e experimentações cênicas. Qualquer incursão como essa
necessita de estratégias e métodos para ser enfrentada. Todo caminho requer métodos para ser
atravessado. O pesquisador e encenador Antônio Araújo (apud GARCIA, 2018, p.21), afirma
que o processo é como uma viagem sem lugar de chegada ou, ao contrário, com múltiplos
destinos. “Nele, o conhecimento vai se construindo gradualmente, por atravessamentos,
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simultaneidades e justaposição de experiências. Conhecimento em flashes, em instantâneos,


em inesperados insights epifânicos, que só o dia-a-dia de ensaio pode fornecer” (Araújo apud
GARCIA, p. 2018, p. 21). Nesta jornada em que me lanço, a cartografia, para além de um
método, torna-se uma prática que solicita do pesquisador-atravessador disponibilidade.
Baseada na ideia de mapear territórios e processos artísticos, a cartografia busca compreender
as relações entre os elementos envolvidos na prática teatral. Nessa abordagem, o mapa é visto
como um dispositivo de investigação que permite capturar e representar as múltiplas
dimensões da experiência teatral.

Teóricos e pesquisadores apresentam a cartografia como uma metodologia de pesquisa


que envolve uma abordagem sensível, intuitiva e experimental, com destaque para a
importância da observação e da escuta atenta durante o processo cartográfico, permitindo que
o pesquisador identifique os elementos que emergem na prática teatral e os relacione de
maneiras significativas. Para Rivera (2021), a cartografia – ao fornecer pistas – não pretende
atingir um objetivo concreto justamente por não ser um modelo a ser aplicado, mas
experimentado. Um anti-método, explica a pesquisadora. Isso porque, cartografar não implica
o uso de um conjunto de regras e métodos preestabelecidos, e sim, uma estratégia de
abordagem do tema. “Cartografar se torna, portanto, a criação de procedimentos que vão
auxiliar na abordagem do tema de uma determinada pesquisa, sendo que esses procedimentos
não excluem os aspectos subjetivos que podem ou não surgir durante o percurso da pesquisa”.
(RIVERA, 2021, p. 88).

Em suma, a cartografia faz o pesquisador ter maior contato com o processo/jornada e


menor com o resultado/destino. O processo produz conhecimento e este conhecimento se dá
em contato, em movimento, em idas e vindas. De tal modo, as experimentações cênicas
propostas se tornam espaço de possibilidades para o corpo e para a poesia. É nesse
experimento que acredito ser o local de desenvolvimento da pesquisa, num trânsito entre
prática-teoria-prática.

Ao adotar a cartografia como metodologia de pesquisa teatral, busca-se uma


abordagem não linear, que valoriza a experimentação, a colaboração e a abertura para o
desconhecido. Através desse processo, qualitativamente, é possível mapear as relações entre
os elementos teatrais, explorar novas possibilidades estéticas e poéticas, e gerar
conhecimentos que possam contribuir para o campo das artes cênicas.

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
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DESCRIÇÃO Ago- Nov- Jan- Abr- Jun- Dez- Fev- Abr-


DAS ETAPAS Out/23 Dez/23 Mar/24 Mai /24 Nov/24 Jan/25 Mar/25 Ago/25
Levantamento
X X
bibliográfico
Fichamento de
X X
textos
Análise de
X X
metodologia
Coleta de dados
X X
e fontes
Análise e
interpretação X X X
dos dados
Desenvolviment
X X X X X X X
o de espetáculo
Avaliação e
X X
ajustes
Redação da
dissertação e X
defesa pública

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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dramaturgia e performance: reflexões para a materialização de palavras e presenças.
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