Você está na página 1de 7

365

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

ATIVIDADES AQUÁTICAS E INTERAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS AUTISTAS

Bruna Patrícia Gomes Ferreira1, Claudio Luiz da Silva Lima Paz1, Mário César Carvalho Tenório1,2

RESUMO ABSTRACT

Introdução: O autismo é o transtorno Water activities and social interaction of


neurológico mais comum que afeta criança, autistic children
gerando obstáculos no que tange a
comunicação, o comportamento e habilidades Introduction: Autism is the most common
motoras e surge durante os primeiros três neurological disorder that affects children,
anos de vida. Objetivo: desenvolver uma causing obstacles in terms of communication,
revisão integrativa de trabalhos que indicam behavior and motor skills and arises during the
quais as atuais evidências acerca do uso das first three years of life. Objective: To develop
atividades aquáticas na interação social de an integrative review of works that indicate the
crianças autistas. Materiais e métodos: Trata- current evidence on the use of water activities
se de uma revisão integrativa da literatura. in the social interaction of autistic children.
Tendo sido incluído estudos observacionais Materials and methods: This are an integrative
retrospectivos e prospectivos, ensaios clínicos literature review. Including retrospective and
controlados (CCTs), e estudos de caso que prospective observational studies, controlled
investigaram o efeito das atividades aquáticas clinical trials (CCTs), and case studies that
na interação social de crianças autistas. As investigated the effect of aquatic activities on
buscas foram realizadas nas bases de dados: the social interaction of autistic children. The
Pubmed, Scielo, Google Acadêmico. searches were performed in the databases:
Resultados: Quatro estudos foram incluídos Pubmed, Scielo and Google Academic.
para análise qualitativa. Foi demonstrado Results: Four studies were included for
melhoras no contexto social e redução do qualitative analysis. Improvements in social
comportamento antissocial. Conclusão: Com context and reduction in antisocial behavior
Base nos dados avaliados, parece haver um have been demonstrated. Conclusion: Based
efeito positivo para as atividades aquáticas na on the data evaluated, there appears to be a
melhora do comportamento social de crianças positive effect on aquatic activities in improving
diagnosticadas com TEA. the social behavior of children diagnosed with
ASD.
Palavras-chave: Autismo. Natação. Sindrome
de Asperger. Atividade física. Criança. Key words: Autism. Swimming. Asperger's
syndrome. Physical activity. Child.

1 - Centro Universitário Social da Bahia-


UNISBA, Brasil.
2 - Discente do Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Medicina e Saúde Humana
da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Autor correspondente:
Pública, Brasil. Cláudio Luiz da Silva Lima Paz.
khaupaz@gmail.com
E-mail dos autores: Travessa Itabuna, Plataforma.
brunafgomes12@gmail.com Salvador, Bahia, Brasil.
khaupaz@gmail.com CEP: 40710-585.
mariocesartenorio@hotmail.com Tel: 71 98133-8239

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
366
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

INTRODUÇÃO Sendo assim, o ambiente aquático


facilitaria o desenvolvimento da linguagem e
O Transtorno do Espectro do Autismo autoconceito, contribuindo para a melhorar e o
(TEA) é um desarranjo do comportamento adaptativo das crianças
neurodesenvolvimento e sua prevalência vem autistas, gerando benefícios no âmbito
aumentando, acometendo quatro vezes mais educacional (Yilmaz e colaboradores, 2004).
homens do que mulheres (Petrus e Contudo, ainda existe carência na
colaboradores, 2008). literatura a respeito da influência das
Atualmente dados epidemiológicos atividades aquáticas para esta população.
sugerem que 10 a 13 pessoas a cada 10 000 Por com disso, o objetivo do presente
indivíduos são autistas (Aguiar, Pereira, estudo foi realizar uma revisão integrativa dos
Bauman, 2017), sendo mais expressivo em trabalhos que investigaram o efeito do uso das
alguns países como no Canadá e os Estados atividades aquáticas no convívio social de
Unidos com relatos de um caso para cada crianças autistas.
200, 150 habitantes, respectivamente (Petrus
e colaboradores, 2008). MATÉRIAS E MÉTODOS
É um transtorno neurológico que afeta
as crianças, com o surgimento durante os Trata-se de uma revisão integrativa da
primeiros três anos de vida, resultando em literatura conforme descrito por Mendes,
dificuldades para o desenvolvimento das Silveira, Galvão (2008).
habilidades motoras e comunicativas (Yilmaz e As buscas foram realizadas nas bases
colaboradores, 2004; Petrus e colaboradores, de dados: Pubmed, Scielo, Google
2008; Bremer, Crozier, Lloyd, 2016). Acadêmico. Os seguintes descritores e
Sua etiologia envolve fatores cruzamentos foram utilizados: autism and
genéticos, distúrbios cerebrais swimming, autism spectrum and swimming,
(Neuropatologia), pré-natais, exposições a asperger syndrome and swim.
toxinas ambientais e infecções virais, além Foram incluídos estudos
disso, algumas deficiências imunológicas vem observacionais retrospectivos e prospectivos,
sendo estudadas (Petrus e colaboradores, ensaios clínicos controlados, e estudos de
2008). caso que investigaram o efeito das atividades
Contudo, o seu diagnóstico ainda tem aquáticas na interação social de crianças
sido realizado através dos aspectos autistas, publicados no idioma português ou
comportamentais (Aguiar, Pereira, Bauman, inglês.
2017). Foram excluídos artigos que: incluíram
Por conta disso, crianças que estão adolescentes, adultos ou crianças com outros
sendo diagnosticadas tardiamente não podem diagnósticos além do autismo.
recorrer a intervenções imediatas (Valicenti- O desfecho principal do estudo
Mcdermott e colaboradores, 2012). avaliado foi a interação social e os desfechos
Nesse sentido, ainda não há secundários foram: desenvolvimento motor,
comprovação de um tratamento que seja controle emocional, comportamentos
inteiramente eficaz, embora o ponto central agressivos e estereotipados.
dos modelos terapêuticos seja gerar melhorias As buscas foram realizadas por dois
na interação social e linguística, além da investigadores independentes, sem limitação
diminuição dos comportamentos qualificados temporal para seleção dos estudos. Em
por inadaptação (Aguiar, Pereira, Bauman, situações de discordância um terceiro
2017). investigador foi acionado para se obter um
Tem sido sugerido que a participação consenso.
em programas de atividade física tem gerado
impactos positivos no bem-estar psicológico RESULTADOS
dos indivíduos com autismo (Bremer, Crozier,
Lloyd, 2016), principalmente as atividades Cento e oito artigos foram encontrados
aquáticas (Yilmaz e colaboradores, 2004). na base de dados. Após as buscas e
Isso se dá pela hipótese de que o eliminação das duplicatas, 69 artigos foram
aumento do volume do esforço físico e a selecionados para seleção por títulos e
fadiga promovida pela atividade física, resumos, destes, apenas 8 estudos estavam
levariam a diminuição do comportamento aptos para leitura de texto completo, porém,
inadequado (Petrus e colaboradores, 2008). apenas quatro estudos atenderam a todos os

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
367
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

critérios e foram incluídos para a avaliação Hipotetiza-se que as propriedades da


qualitativa (ver tabela 1). água como a flutuação e a pressão
hidrostática proporcionam as crianças com
Distúrbio Autista autismo estímulos sensoriais e apoio postural,
o que tende a gerar melhorias
É importante destacar que o termo comportamentais, sociais e habilidades
TEA, abrange transtornos cognitivos e motoras (Pan, 2010).
neurocomportamentais com três Sendo assim, promove-se um estímulo
características principais: deficiências na motor, propiciando a partir do meio líquido a
socialização, comunicação verbal e não experiência de um ambiente agradável que
verbal, e padrões estereotípicos e repetitivos possibilita uma variedade de movimentos
de comportamentos (Petrus e colaboradores, (Chicon, Sá, Fontes, 2014).
2008). O meio aquático aquecido pode
No que tange, sua nomenclatura, pode melhorar o tônus muscular, propondo um
incluir Síndrome de Asperger, Desordem movimento mais eficaz (Pan, 2010).
desintegrativa da infância e Síndrome de Rett A flutuabilidade proporciona o começo
(Petrus e colaboradores, 2008). de movimentos independentes e possibilita a
Conforme é visto, o distúrbio autista realização de atividades que são pouco
tem por características modificações do prováveis de se realizar em terra devido às
sistema nervoso central, desenvolvendo restrições e característica do autismo (Pan,
limitações na fala, repercutindo assim no 2010).
processo e no comportamento de crianças no Esses fatores fazem com que as
ambiente social (Santos e colaboradores, atividades aquáticas sejam frequentemente
2013). sugeridas para essas crianças (Fragala-
Crianças com TEA, frequentemente Pinkham, Haley, O’neil, 2011).
apresentam particularidades no aprendizado,
reagindo a aspectos sensoriais, o que, em Atividades Aquáticas no Contexto Social de
geral pode limitar sua capacidade de Autistas
participação de atividades em grupo (Fragala-
Pinkham, Haley, O’neil, 2011). Santos e colaboradores (2013)
Entende-se que os autistas possuem avaliaram seis crianças autistas. As crianças
características diferentes dos demais. Isso se participaram de aulas de natação, sempre
dá mediante a necessidade de uma ministradas pela mesma professora, com
intervenção relevante para que haja duração de 30 minutos no período de outubro
comunicação, memorização, atenção, de 2010 até janeiro de 2011 e acompanhadas
contextualização e ampliação do raciocínio individualmente através de um roteiro de
lógico e da linguagem, pois a principal observação.
particularidade de comportamento está Os resultados encontrados pelos
caracterizada pela complicação de criar um autores, sugerem redução na ansiedade,
modelo apropriado de se comunicar num melhora no entusiasmo para a participação
ambiente social (Santos e colaboradores, das aulas, além da afetividade ao toque físico.
2013). Esses achados são corroborados
Acredita-se que estes pelos resultados encontrados por Chicon, Sá,
comportamentos peculiares sejam os Fontes (2014) que avaliaram uma criança
possíveis fatores a levar uma criança autista no convívio com 14 crianças sem
diagnosticada com TEA a ser menos ativa diagnóstico.
fisicamente do que as sem diagnósticos Todas as crianças incluídas tinham
(Santos e colaboradores, 2013; Fragala- faixa etária de três anos. As aulas tiveram
Pinkham, Haley, O’neil, 2011). duração de uma hora, ocorrendo uma vez por
semana, totalizando 12 sessões no período
Autismo e Atividades Aquáticas total de acompanhamento. As aulas eram
divididas em três momentos: acolhimento,
Para os indivíduos com TEA, a natação e roda de diálogo. Os autores
natação tem sido sugerida como uma das relataram que as atividades aquáticas de
atividades mais completas e possivelmente forma lúdicas foram benéficas, tanto no âmbito
eficazes para a melhora física e das interações motor, ampliando os movimentos das crianças,
sociais (Fragala-Pinkham, Haley, O’neil, 2011).

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
368
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

como na vivência do brincar e na interação Caputo e colaboradores (2018)


com os colegas e o professor. avaliaram 26 crianças com idade média de
Pan (2010), avaliou 16 crianças com sete a oito anos, distribuídas em dois grupos.
idades entre seis a nove anos, distribuídas em Foi utilizado um tratamento formalizado e
dois grupos de igual tamanho. Foram especificamente criado para atender
avaliadas as habilidades aquáticas e especialmente autistas, denominado CI-MAT.
comportamentos sociais dos participantes, A intervenção foi baseada em uma
durante 21 semanas. Os participantes foram abordagem multissistêmica, empregando
avaliados em três momentos: (T1) antes de estratégias cognitivo-comportamental e
iniciar a intervenção; (T2) dez semanas após o princípios da teoria do apego. O grupo
treinamento aquático ou atividades regulares; experimental recebeu o CI-MAT, enquanto o
(T3) após mais 10 semanas. As crianças grupo controle não realizou nenhum
foram submetidas a duas sessões por semana tratamento aquático. As avaliações foram
com duração de 90 minutos cada. mensuradas no momento pré (T1) e pós (T2)
O grupo A realizou os exercícios na intervenção, que teve duração de 10 meses,
primeira fase do estudo (entre T1 à T2), por um avaliador cego. As medidas de
realizando atividades regulares nas 10 avaliação foram as seguintes: A Escala de
semanas subsequentes. O protocolo de Avaliação do Autismo Infantil (CARS), Escalas
treinamento foi invertido para o grupo B. Os de Comportamento Adaptativo de Vineland
resultados encontrados pelos autores (VABS) e Avaliação da Prontidão Aquática de
demonstraram que o grupo B apresentou Humphries (HAAR).
competências sociais maiores em T3 quando Os autores encontraram que cerca de
comparada a T2. E que o grupo A apresentou 50% das crianças com TEA apresentam
habilidades aquáticas melhores que o grupo B potencial para criar relações de apego, além
em T2. de resultados significativos na avaliação de
Contudo, houve uma diminuição no CARS, nas respostas emocionais, adaptação
comportamento antissocial em ambos grupos. para mudar e nível de atividade.

Tabela 1 - Síntese dos estudos encontrados.

Duração e intervenção/
Tipo Objetivo/ Amostra
Autor o que mediu Resultado
de Estudo (n, sexo e idade)

Santos e Trata-se de Objetivo: Analisar as Instrumentos utilizados: ↑ Ansiedade


Colaboradores, uma pesquisa manifestações questionário antes de entra na
2013 descritiva, de emocionais sociodemográfico, piscina;
abordagem influenciadas pela roteiro de entrevista ↑ Entusiasmo,
qualitativa. prática aquática em semiestruturada e de alegria e calma
crianças autistas. observação. após as aulas;
n =6 crianças. Aulas de natação com ↑ Interação com
duração de 30 minutos. brinquedos do
que entre si ou
com a
professora.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
369
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Chicon, Sá, Estudo Objetivo: Atividades lúdicas no ↑ Atividade lúdica


Fontes, 2014 qualitativo do compreender e meio líquido: as no meio
tipo estudo de analisar a ação atividades relacionadas aquático;
caso mediadora do aos fundamentos da ↑ Vivência de
professor no natação. Para finalizar, brincar;
desenvolvimento de conversa a respeito das ↑ Relação com
atividades lúdicas no atividades vivenciadas os professores e
meio aquático e a durante a aula. colegas;
interação de uma ↑ Amplitude de
criança autista com movimento
os colegas não
deficientes nas aulas.
n =15 crianças, com
idades de 3 anos,
com desenvolvimento
típico e 1 com
autismo.

Pan, 2010 Estudo de Objetivo: Determinar Duração: 21 semanas Momento T3,


caso não a eficácia de um Programa de natação Grupo A:
randomizado. programa de natação para exercícios
com exercícios aquáticos (WESP). ↑
aquáticos (WESP), Foram realizadas 3 Comportamento
habilidades aquáticas avaliações: entrada do acadêmico;
e comportamentos estudo (T1), após 10 ↓
sociais. semanas de WESP ou Comportamento
n = 16 crianças, entre tratamento hostil / anti-
6 – 9 anos. regular/atividade (T2), e social;
uma terceira vez após
mais 10 semanas (T3). Momento T3,
Grupo B:

↑ Competências
sócias;

Comportamento
hostil / anti-
social;
Caputo e Ensaio clínico Objetivo: testar a Duração: 10 meses ↑ CARS;
colaboradores randomizado eficácia de uma com 1 ou 2 sessões p/ ↑ VABS;
2018 terapia aquática (CI- semana de 45 min; ↑ HAAR;
MAT) em Avaliação pré e pós ↑ CI-MAT
comportamento, tratamento: CARS,
emocional, VABS, HAAR e CI-
habilidades sociais e MAT.
de natação. n = 26
crianças, entre 7 – 8
anos.
Legenda: ASD = Síndrome do Espectro Autista. WESP = Programa de natação com exercícios
aquáticos. CI-MAT = Terapia aquática formalizada e especificamente criada para atender
especialmente autistas. CARS = Escala de Avaliação do Autismo Infantil. VABS = Escalas de
Comportamento Adaptativo de Vineland. HAAR = Avaliação da Prontidão Aquática de Humphries. ↓ =
Diminuiu/piorou. ↑ = Aumentou/melhorou.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
370
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

DISCUSSÃO o que auxilia no processo de socialização e


inserção do autista neste meio.
O objetivo desta revisão integrativa foi Contudo, é necessário avaliar as
de sumarizar os trabalhos que investigaram o evidências com cautela já que o número de
efeito do uso das atividades aquáticas no estudos encontrados sobre a temática é
convívio social de crianças autistas. pequeno.
A partir da análise dos artigos Além disso, as evidências analisadas
incluídos, parece haver um efeito positivo das apresentam grande heterogeneidade
atividades aquáticas para o contexto social de metodológica e foram conduzidas com
crianças autistas. tamanho amostral pequeno, diminuindo o
Corroborando com os achados aqui poder de extrapolação dos estudos.
encontrados, uma recente revisão narrativa,
Aguiar, Pereira, Bauman (2017) levantaram a CONCLUSÃO
importância da atividade física no
desenvolvimento de crianças autistas. Nesta Com Base nos dados avaliados,
revisão foram selecionadas 16 publicações parece haver um efeito positivo para das
avaliando diferentes tipos de atividades atividades aquáticas na melhora do
(aquáticas, equitação terapêutica, corridas e comportamento social de crianças
entre outras). diagnosticadas com TEA.
Os autores relataram melhoras nas Contudo, devido à escassez existente
habilidades motora e melhora no contexto na literatura e a grande heterogeneidade
social de crianças autistas como diminuição do metodológica nas evidências encontradas, são
comportamento antissocial, maior motivação e necessários mais estudos e com maior rigor
interação social. metodológico.
Lourenço e colaboradores (2015)
realizaram uma revisão sistemática avaliando REFERÊNCIAS
a contribuição das atividades físicas em
indivíduos com TEA. Os autores relataram 1-Aguiar, R. P. D.; Pereira, F. S.; Bauman, C.
melhoras em vários domínios como: D. Importância da prática de atividade física
comportamentos sociais, padrões para as pessoas com autismo. J Health Biol
estereotipados, qualidade de vida, Sci. Vol. 5. Núm. 2. p. 178-183. 2017.
desempenho acadêmico e comportamento
motor. 2-Bremer, E.; Crozier, M.; Lloyd, M. A
As diversas atividades físicas systematic review of the behavioural outcomes
relatadas foram: corrida, caminhada, natação, following exercise interventions for children
hidroginástica, bicicleta, práticas de lazer, and youth with autism spectrum
levantamentos de pesos e exercícios disorder. Autism. Vol. 20. Núm. 8. p. 899-915.
aquáticos. 2016.
Tais achados fortalecem a importância
da atividade física para pessoas com 3-Caputo, G.; Ippolito, G.; Mazzotta, M.;
deficiências. Sentenza, L.; Muzio, M. R.; Salzano, S.;
Lourenço e colaboradores (2016), Conson, M. Effectiveness of a multisystem
observaram que além de exercícios aquáticos aquatic therapy for children with autism
e das atividades recreativas, modalidades spectrum disorders. Journal of autism and
como dança, técnicas de Kata, core training e developmental disorders. Vol. 48. Núm. 6.
exercícios resistidos de baixa intensidade 1945-1956. 2018.
podem melhorar o comportamento agressivo,
comportamento social, diminuir o stress e 4-Chicon. J. F.; Sá, M. G. C. S.; Fontes, A. S.
melhorar a aptidão física em crianças com Natação, Ludicidade e Mediação: a Inclusão
TEA. da Criança Autista na Aula. Revista da
A natação, como foi observado nos Sobama. Marília. Vol. 15. Núm. 1. p.15-20.
estudos incluídos nesta revisão, pode ser uma 2014.
das atividades aquáticas mais desenvolvidas.
Nesse sentido, parece gerar melhorias nos 5-Fragala-Pinkham, M. A.; Haley, S. M.; O’neil,
comportamentos agressivos, antissociais e M. E. Group swimming and aquatic exercise
estereotipados, devido às propriedades físicas programme for children with autism spectrum
da água, além de ser um ambiente agradável, disorders: a pilot study. Developmental

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.
371
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Neurorehabilitation. Vol. 14. Núm. 4. p.230-


241. 2011.

6-Lourenço, C.; Esteves, D.; Corredeira, R.


Potential Physical Activity in Individuals with
Autism Spectrum Disorder. Revista Cientifica
da FPDD. Vol. 2. Núm. 2. p. 31-38. 2016.

7-Mendes, K. D. S.; Silveira, R. C. C. P.;


Galvao, C. M. Revisão integrativa: método de
pesquisa para a incorporação de evidências
na saúde e na enfermagem. Texto contexto -
enferm. Vol. 17. Núm. 4. p. 758-764. 2008.

8-Pan, C. Y. Effects of water exercise


swimming program on aquatic skills and social
behaviors in children with autism spectrum
disorders. Autism. Vol. 14. Núm. 1. p.9-28.
2010.

9-Petrus, C.; Adamason, S. R.; Block, L.;


Einarson, S. J.; Sharifnejad, M.; Harris, S. R.
Effects of exercise interventions on stereotypic
behaviours in children with autism spectrum
disorder. Physiotherapy Canada. Vol. 60. Núm.
2. p. 134-145. 2008.

10-Santos, D. A.; Miranda, L. A.; Silva, E. A. C.


P., Moura, P. V.; Freitas, C. M. S. M.
Compreendendo os significados das emoções
e sentimentos em indivíduos autistas no
ambiente aquático. ConScientiae Saúde. Vol.
12. Núm.1. 122-127. 2013.

11-Valicenti-Mcdermott, M.; Hottinger, K.;


Seijo, R.; Shulman, L. Age at diagnosis of
autism spectrum disorders. The Journal of
pediatrics. Vol. 161. Núm. 3. p. 554-556. 2012.

12-Yilmaz, I.; Yanardag, M.; Birkan, B.;


Burmin, G. Effects of swimming training on
physical fitness and water orientation in
autism. Pediatrics Internacional. Vol. 46. Núm.
5. p.624-626. 2004.

Recebido para publicação 29/12/2019


Aceito em 29/04/2020

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.14. n.90. p.365-371. Mar./Abril. 2020. ISSN 1981-9900.

Você também pode gostar