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UFAL - ICHCA

Graduação em Música
História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
6ª aula
O Renascimento - I
Renascimento: as origens Com a constante transformação por meio das batalhas, os povos da
Europa migravam de região em região e a Itália era, então, o centro
cultural do continente. Privilegiada pela sua composição
geográfica, a Itália fazia a ligação entre o Oriente, África e
Ocidente, tornando um conglomerado de ducados, principados e
reinados muito ricos que combatiam entre si, embora cada uma
dessas pequenas nações fosse, cada uma, um centro de enorme
potência cultural. Para lá acorriam os homens cultos de toda a
Europa, sedentos do conhecimento clássico representado em Dante
Alighieri (1265–1321), Petrarca (1304-1374) e Boccaccio (1313-
1375) e em tempos mais remotos por Plauto (c. 230-180 a.C.),
Cicero (c. 106-43 a.C.), Publius Terentius (Terêncio) (c. 185-159
a.C.), entre outros. Músicos, artesão e artistas cruzavam montanhas
para estarem em Roma, Veneza ou Florença. Com o progresso e as
descobertas e explorações marítimas (Marco Polo (254-1324),
Americo Vespúcio – Amerigo Vespucci (1454-1512), Cristovão
Colombo –Cristoforo Colombo (1451-1506), os reinos da Itália
acumularam mais riqueza e com esta, as Ciências e as Artes
floresceram enormemente. O trânsito comercial entre os reinos da
Itália e o Oriente, principalmente pode ser considerado como o
primeiro surto de globalização já que pessoas de diversas regiões
migravam para essas regiões, pelo menos para estudá-las e gente
de todas as partes acorriam a esses reinos e ducados. Em pleno
século XIV já florescia o Renascimento, que em termos gerais
significa o renascimento da cultura clássica, ou a os ideais de
beleza, conhecimento e ciência da Grécia Clássica. Explorar,
contestar as regras impostas por meio da religião cristã
(Catolicismo Romano) trás para as artes e principalmente para as
Ciências ganhos duradouros e eternos como as descobertas e
declarações de Galileu (Galileo) Galilei (1564-1642) sobre a Terra
girar em torno do sol são o ápice do interesse científico em mudar
o status quo de atraso e ignorância de então. Condenado a desdizer
suas descobertas científicas sobre o movimento de rotação da terra
pelo Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), foi reabilitado apenas
quatrocentos depois pelo Papa João Paulo II, hoje santo da Igreja
Católica. Galileu não apenas é conhecido pela célebre descoberta,
mas por muitas outras que vieram a revolucionar a ciência,
portanto os costumes.
As Artes e as Ciências Leon Battista Alberti (1404-1472), célebre arquiteto italiano,
publica em 1452 seu Tratado sobre a Arquitetura «De re
aedificatoria libri decem» (Os dez livros sobre a Arquitetura). Foi
considerado um tipo de uomo universale, tipo de estudioso que
sabia discorrer sobre as Artes e as Ciências, bem característico do
Renascimento como o também célebre Marsilio Ficino (1433-
1499), filósofo, poeta e músico, assim como músico era Alberti.
Junto com Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), forma a
dupla de grandes estudiosos das Artes e da Filosofia. Surge a
figura do humanista característica da Renascença. O uomo
universale se reflete em artistas como Leonardo da Vinci (1452-
1519) e Michelangelo Buonarotti (1475-1564). O Renascimento
põe o homem como o centro das coisas e é para ele que os
cientistas, filósofos e artistas (muitos atributos conjugados num só
indivíduo, daí a expressão uomo universale) trabalham a partir da
natureza e do pensamento sobre a origem das coisas, desta feita
realizado com bases na observação e no experimento, além da
discussão filosófica. As artes são o reflexo desse pensamento
avançado e progressista, pode-se dizer assim. No entanto, apenas
pela graça de Deus o homem podia criar, mas como Sua criatura, o
homem se punha agora em se aproximando do Criador, não a Lhe
sobrepujar a grandeza, mas como auxiliar a ela.
A música do Renascimento Na Baixa Idade Média, estava em curso o alvorecer dos trovadores,
muitos deles representados no sul da França por figuras como o
Conde Guillaume de Poitiers (1071-1126), Barão Bertrand de Born
(1140-1215), Adam de la Halle (c.1237- c.1288), chamado o
Corcunda de Arras e mesmo pelo Rei Ricardo Coração de Leão
(1157-1199), rei da Inglaterra. Na Alemanha, os Minnisänger
(Cantores do Amor) foram representadas por figuras como
Wolfram von Eschenbach (1170-1220), Walter von der
Vogelweide (1170-1230) e Heinrich von Ofterdingen (Século
XIII), entre outros. As canções de amor cortês, que a princípio
eram dedicadas ao vulto imaculado de Maria, Mãe de Jesus,
ganhou novos contornos e inserções e a dama da corte passou a ser
o objeto do canto desses trovadores e Minnesänger. Com o
alvorecer da Renascença, o costume dos trovadores foi
esmaecendo e os madrigais surgiram como forma de canto em
grupo, mais do que as baladas solitárias daqueles renomados
músicos. As corporações musicais (a serviço dos municípios) das
quais muitos desses artistas participavam, forneciam-lhes o prazer
de reunirem-se e fazerem música. Eram as corporações musicais
ou as bandas e jogos corais. De uma arte elaborada, podemos dizer
erudita, os séculos XV e XVI viram nascer a música do povo em
inspiração àquela dos eruditos. O popular nasceu e se desenvolveu
tendo por base as antigas tradições. A música da aristocracia é
muito bem representada por Clément Jannequin (1485-1560) que
cultivou a chanson. Nos países baixos, salienta-se a figura de
Cipriano de Rore (1515-1565) que foi músico na corte do Duque
Ercole d’Este II, em Ferrara (Itália). Compôs música profana e
muita música sacra, dentre estas a famosa Missa Praeter rerum
seriem, baseada num moteto de Josquin des Près de mesmo nome.
A impressão da partitura Em 1498, Ottaviano dei Petrucci recebeu autorização do senado
veneziano para imprimir a escrita musical. Estava em curso uma
grande revolução, já que a música até então conhecida oralmente
ou através de cópias manuscritas.
O Concílio de Trento Aconteceu entre 1545 e 1563 como reação à Reforma protestante
de Martinho Lutero (1483-1546) na qual se discutiu, entre outros
temas de interesse da Igreja, como os de cunho dogmático,
catequético, religioso e artístico, o papel da música religiosa.
Discutiu-se no Concílio de Trento qual papel fazia a música
polifônica que criava uma dispersão dos sentidos e o uso excessivo
de ornamentos e vozes (de acordo com as composições dos mestres
flamengos), criando assim uma confusão de sons e palavras.
Segundo uma lenda, Palestrina compôs a Missa Papae Marcelli em
homenagem ao seu protetor, Papa Marcelo II, falecido em 1555,
como prova de que a polifonia, se calculada com zelo, pode servir
à música religiosa. Junto do Concílio como combate à Reforma
protestante, a fundação da Companhia de Jesus (1534) por Santo
Ignácio de Loyola, a congregação de religiosos mais ligada às
Letras, Artes e Ciências se tornou um marco importante nesse
combate. Os jesuítas são celebrados por sua disciplina e sua
erudição. O atual Papa Francisco é jesuíta.
CANDÉ, Roland de . O convite à Música. Trad. Mário Mendonça Torres. São Paulo: Martins
Fontes, 1980.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Música. 6ª ed. Brasília: Alhambra, 1977.
PAHLEN, Kurt. Nova História Universal da Música. Trad. Masa Nomura. São Paulo:
Melhoramentos, 1991.
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História da Música 1
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7ª aula
O Renascimento - II
A derradeira fase da A Europa vibra em música e a Itália é o centro cultural e musical
Polifonia do continente e São Marcos, em Veneza parece ser o centro
irradiador da grande música. A França, Inglaterra e a Alemanha
não ficam atrás apresentando grandes nomes e grandes obras. Mas
é chegada a hora em que a Alta polifonia vai se despedir e três são
os nomes dessa época: Orlando Lassus, Palestrina e Tomás Luís de
Victoria.
Orlando Lassus ou Roland de Lattre(c.1532-1594) é um dos três
grandes polifonistas do Renascimento. Nascido em Mons, cidade
franco-belga, teve uma vida atribulada com muitas viagens,
passando pela Itália e terminando seus dias na Alemanha. Homem
culto, falava e escrevia em seis idiomas e sua música tem grande
sensibilidade lírica, dramática e também senso de humor, lidando
tão bem com os instrumentos como com as vozes, possuindo
grande força inovadora. Compôs cerca de 1.200 motetos,
madrigais, canções alemãs e francesas. Escreveu tanto em estilo
polifônico quanto monofônico. Um grande perito na música tanto
profana quanto religiosa, por isso é considerado o mais “moderno”
mestre entre os “antigos”. São dele os motetos Salve Regina a
quatro vozes, Pater Noster em fá maior e as Lamentationes
Hieremieae (1585) e as famosas Lacrime di San Pietro (1594), já
com certo espírito barroco, talvez pelos versos de Luigi Tansilio.
Ao lado de sua música religiosa, escreveu chansons de cunho
erótico como Quand mon mari, Margot, J’ai cherché e os
madrigais italianos Matona mia cara e Amor mi strugge.
Giovanni Pierluigi da O nome Palestrina é posposto a Giovanni Pierluigi como
Palestrina (c.1525-1594) homenagem à cidade de nascimento, na Campagna Romana, ao sul
de Roma. Estudou em sua cidade natal e depois na Capella Giulia,
em Roma. Em seguida, engaja-se na Capela Sistina. Escreveu a
célebre Missa Papae Marcelli. O estilo de Palestrina é o da música
religiosa a serviço da Igreja, música litúrgica. Teve por objetivo
tornar o texto sacro compreensível, sem, no entanto, renunciar à
polifonia. Ele foi o oposto dos exagerados mestres flamengos,
criadores de música polifônica monumental, contudo confusa haja
vista o grande número de vozes empregadas nos motetos. Uma de
suas características fundamentais é a da independência melódica
das vozes, obrigando-as em determinados trechos a coincidir em
acordes consonantes em determinadas palavras-chave. Ao agir
assim, Palestrina favorecia a sequência de colunas de acordes,
abandonando a polifonia horizontal ou linear. Palestrina inicia o
jogo da homofonia que vem a ser a característica da textura
musical do Barroco, anos depois. Seu estilo vagueia entre o
declamatório (por conta das colunas de acordes) e o polifônico
livre. Para muitos críticos, a música de Palestrina é para ser
executada num templo religioso, não em salas de concerto, dada a
sua grande pujança mística e religiosa. Dele são também um
Stabat Mater (1591), a Missa L’home armé e a Missa Assumpta
est, entre motetos Pueri hebraeorum e Fratres ego enim. Muitas
outras missas e motetos foram escritos por Palestrina.
Claudio Monteverdi Começou sua carreira musical como cantor, violinista e, mais
(1567-1643) tarde, como mestre-de-capela na corte do principado de Mântua.
Graças a família reinante no principado, os Gonzaga, a cidade de
Mântua se torna um centro de atração às artes e aos artistas e, em
1607, Monteverdi estreia a sua ópera Orfeu. Esta ópera, dentre as
nascentes obras nesse formato, pode ser considerada como a mais
bem acabada na forma e conteúdo, algo muito próximo do que foi
a ópera no séculos seguintes. No ano seguinde, compôs motivado
pelo sucesso de seu Orfeu, Arianna, infelizmente perdida num
incêndio no castelo dos Gonzaga, chegando até n[os a ária
“Lasciatemi morire” (Deixe-me morrer). Monteverdi foi um
grande compositor de madrigais, mas, à ópera, pode ser
considerado o criador e o seu reformador. Deu importância ao
canto monódico, coros magníficos, é considerado o primeiro
compositor para a orquestra, sendo até batizado como o pai da
moderna orquestração, empregando as sonoridades com bastante
distinção e conhecimento. Deu extrema importância à harmonia. O
termo vem do grego que significa construção, edificação. A partir
do trabalho de Johannes Kepler (1571-1630) , Harmonia Mundi
(1619), a harmonia na música passou a ter uma outra conotação,
pois, da Astronomia, a consonância entre os corpos celestes passou
a vigorar na música em perfeita correlação de termos. Assim som a
s estrelas e outros corpos celestes são dispostas em grupos, na
música, as notas musicais passam a ser agrupada em três, quatro
sons, em acordes que, na alta Polifonia, tratava-se mais de linhas
melódicas que se encaixavam, sem obediência a sistemas que
obedecessem a normas. Nasce a harmonia em contraste com a as
linhas vocais em movimento e a falta de repouso, nenhum acorde.
A era de Monteverdi se volta para o estudo das regras da harmonia
como a conhecemos nos dias atuais. Monteverdi atuou, de certo
modo, sob a influência da Camerata Fiorentina, grupo de
intelectuais e homes das artes e letras que combatiam a
inteligibilidade do texto na polifonia, e, assim, passaram a defender
o renascimento da arte teatral grega aliada à música.
Tomás Luís de Victoria Trabalhou ao lado de Palestrina em Roma. Natural de Ávila, na
(c. 1540-1611) Espanha, foi cedo para Roma onde trabalhou no Collegium
Germanicum dos Jesuítas. Voltou para a Espanha como capelão da
Imperatriz Maria. Enquanto Palestrina era leigo e casado, Victoria
era sacerdote e nunca escreveu música profana. Sua música possui
mais densidade no que se refere a um certo tom escuro. Era,
portanto, menos luminosa de que a de se seu conterrâneo
Palestrina. Sua música é comparada à mística religiosa espanhola,
muito profunda. Era conterrâneo de uma das grandes pensadoras
do catolicismo, santa Teresa de Ávila e com ela parece ter grande
comunhão espiritual traduzida na sua música mística. Encontram-
se resquícios de ritmos espanhóis no seu moteto Gaudent in coelis.
Por outro lado, sombrio e trágico é o seu Ofício para a Semana
Santa, Tenebrae factae sunt. O seu Officium defunctorum (1605)
ou Missa de réquiem é uma das suas peças mais celebradas, doce e
profunda ao mesmo tempo, de rara beleza sonora. Escreveu muitos
motetos como o Victimae Paschai Laudes, Veni Creator Spiritus,
O Sacrum convivium, Jesu nostra redemptio, entre tantos.
CANDÉ, Roland de . O convite à Música. Trad. Mário Mendonça Torres. São Paulo: Martins
Fontes, 1980.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Música. 6ª ed. Brasília: Alhambra, 1977.
PAHLEN, Kurt. Nova História Universal da Música. Trad. Masa Nomura. São Paulo:
Melhoramentos, 1991.
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8ª aula
O Maneirismo Musical
Os últimos renascentistas William Byrd (1543-1623), inglês, serviu à rainha protestante
Elisabeth I, mas era católico de fé e ação e assim agia
clandestinamente numa época de perseguição aos católicos
ingleses. Alguns críticos concordam em lhe dar o título de
“Palestrina inglês”. Compôs madrigais, danças e muita música
religiosa como os Psalms e Sonnets and Songs of Sadness and
Piety. John Dowland (1563-1626) foi outro dos gandes
compositores ingleses na tradição dos madrigais e compositor
de música para o alaúde junto com Thomas Morley (1557-
1603), este voltado para a composição madrigalesca, sem
pretensões de se tornar um grande erudito.
O maneirismo O termo é melhormente aplicado às artes visuais, a pintura, em
especial, mas não deixa de ter uma conotação também própria
para a música. O que lhe caracteriza, sobretudo, é a
aplicabilidade do uso da policoralidade, ou a fração de coros em
dois graças aos balcões duplos da Basílica de São Marcos, em
Veneza. Essas composições são movimentadas e de aspecto
tortuoso, daí a expressão maneirismo. Além disso, o
Maneirismo se caracteriza pelas audácias harmônicas.
Os Gabrielli Andrea Gabrielli (1510-1586), foi organista da Basílica de São
Marcos, em Veneza e compôs muitos motetos (Deus miseratur
e Benedicamus Domino, entre outros) madrigais e missas. Foi
aluno de Adrian Willaert (1490-1562) e influenciou, como
professor seu sobrinho Giovanni Gabrielli (1557-1612) como
também Hans Leo Hassler (1554-1612), compositor alemão de
música religiosa e canções (Lied). Giovanni Gabrielli escreveu
suas Sacrae Symphoniae na qual a alternância de coros cria uma
atmosfera realmente grandiosa. Famoso é o seu famoso
Benedictus para três coros (das Sacrae Symphoniae), além de
outros motetos, como Jubilate Deo (oito vozes) e Ascendit Deo
in jubilo, para 16 vozes.
Outros compositores A grandiosidade sonora foi uma das características do
Maneirismo musical. Girolamo Frescobaldi (1583-1643) foi
organista na Basílica de São Pedro em Roma, que então
começava a rivalizar com a de São Marcos. Foi prolífico
compositor e por 35 anos tocou em São Pedro. Sua obra se
mescla em obras profanas e sacras.
Na Alemanha, sobressai Heinrich Schütz (1585-1672),
admirador de Palestrina, tanto que reconhece na obra do mestre
italiano o chamado estilo falante na música (rededen Stylo) na
música veneziana. Escreveu As Sete últimas Palavras de Cristo
na Cruz (Die sieben Worte am Kreuz), História de Natal
(Weihnachtshistorie)e o Magnificat para coro duplo, entre
outras obras. Johann Hermann Schein (1586-1630) foi Kantor
da Igreja de São Tomás, em Leipzig, remoto antecessor de Bach
nessa igreja e nesse posto.
Carlo Gesualdo (1560-1614) Príncipe de nascimento, foi um compositor diletante e pela sua
obra incomum, foi considerado um avançado para a época. Suas
conduções harmônicas imprevistas e ousadas o fizeram avançar
trezentos anos. Suas obras Moro lasso e Resta di darmi noia
chamam a atenção pelo uso audacioso do cromatismo. Moro
lasso é um desafio para as associações corais pelas mudanças
imprevistas de tonalidade. O Responsório das Trevas para o
Sábado Santo e os Quatro Motetos Marianos são obras de alta
música.
CANDÉ, Roland de . O convite à Música. Trad. Mário Mendonça Torres. São Paulo: Martins
Fontes, 1980.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Música. 6ª ed. Brasília: Alhambra, 1977.
HERZFELD, Friedrich . Nós e a Música. Trad. Luiz de Freitas Branco. Lisboa: Livros do Brasil,
s.d.
PAHLEN, Kurt. Nova História Universal da Música. Trad. Masa Nomura. São Paulo:
Melhoramentos, 1991.

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9ª aula
Audição de obras da Idade Média, Renascimento e Barroco inicial e discussões ou sabatina
em sala de aula sobre assuntos anteriormente apresentados.
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História da Música 1
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10ª aula
O Barroco
Antecedentes O Renascimento viu florescer entre os séculos XV e XVI a
grandiosidade do mundo clássico grego na culminância da
ópera. Nesse ínterim, o madrigal atinge sua forma mais
elaborada nas composições não apenas dos italianos, mas
dos ingleses. As formas corais amplas, de coros duplos são
ideias concretizadas em São Marcos de Veneza e já
prenunciam a música aparatosa que virá a ser aquela da
cena lírica e que, quase ao final do século XVI encontrará
em algumas obras de Handel um eco do que foi o diálogo
da policoralidade. O Barroco, no entanto, antes de ser
grandioso e pomposo, basear-se-á na homofonia e no canto
solista, seja o canto da voz humana ou o “canto” do
instrumento.
Outros antecedentes A Idade Média retirou aos gregos o sistema de escalas ou
modos. O papa Gregório I adotou os Modos Gregos que
naturalmente passaram a se chamar de Modos Eclesiásticos
ou Litúrgicos e serviram à música religiosa por mais de mil
anos.
O sistema de oito modos chamava-se Oktoechos. Entre os
séculos IX e X foram rebatizados com os nomes dos antigos
modos gregos.
Os Modos Autênticos iniciam Os Modos Plagais iniciam
com a fundamental uma quarta abaixo da
fundamental de seu
correspondente
O primeiro Modo começa no O segundo Modo começa
ré (Protus) - Dórico no lá (Protus Plagal) –
Hipodórico
O terceiro Modo (Deuterus) O quarto Modo começa
começa no mi - Frígio no si (Deuterus Plagal) -
Hipofrígio
O quinto Modo começa no fá O sexto Modo começa no
(Tritus) - Lídio dó (Tritus Plagal) –
Hipolídio (Jônico)
O sétimo Modo, Mixolídio O oitavo Modo (Tetradus
(Tetradus) num sol Plagal) começa no ré, o
que corresponde ao
primeiro, o Dórico –
Hipomixolídio
A partir dos graus da tonalidade, o I grau se chama Jônio, o
II, Dórico; o III, Frígio; o IV, Lídio; o V, Mixolídio; o VI,
Eólio; o VII, Lócrio.
Os modos e as escalas no Barroco Por volta do ano 1600 (d.C.), apenas duas escalas foram
conservadas, a escala de sete sons a partir de dó e a outra a
partir do lá. A primeira é a moderna escala maior, a
segunda, a menor. A escala de dó que tem do sétimo grau
para o oitavo meio tom chamava-se na Antiguidade de
modo jônico. Dela, pode se construir todas as escalas
maiores, bastando para isso transportar os tons a cada nota.
A escala menor iniciada em lá se chamava hipodórica.
O sistema modal foi substituído pelo sistema tonal e durante
a Renascença a voz do superius tornou-se o soprano que
ditaria o canto mais importante do conjunto vocal. É
importante lembrar que nos organum e nos motetos a vinte
ou quarenta vozes, não existia uma voz principal que se
sobressaía. No Barroco, isso será feito com a saliência do
soprano. Assim, as outras vozes a acompanham criando a
forma homofônica da música barroca (a homofonia, de fato,
tem início tímido no Renascimento, mas se consolida no
período posterior).
A base harmônica do Barroco Com os Modos Eclesiásticos não acontecia a observação do
fechamento da peça musical que, só a partir do estudo dos
intervalos chegou-se à cadência I – IV – V – I, observando-
se que estes graus são maiores; os graus II – III e VI são
menores enquanto que o sétimo não tem a mesma
importância que os outros pois é formado de duas terças
menores. A cadência I – IV – V – I passou a ser, então, a
base da música barroca. O acorde T – S – D – T.
A base melódica do Barroco Enquanto que na Idade Média e parte da Renascença se deu
muita atenção ao conjunto e menos à voz principal, o que
acontece no Barroco, como caraterística, é a prevalência da
voz principal e a do baixo, ou seja, o superius (soprano) e a
do baixo que já vinha tomando o lugar do antigo tenor
medieval. O baixo instrumental, por sua vez, nas
composições instrumentais como nas vocais passa a receber
uma numeração para indicar a nota que pertence à melodia.
O nascimento do baixo cifrado porque baixo fundamental.
Marcação de andamento Como as formas musicais são de origem italiana, as
marcações de andamento se davam (e ainda se dão) em
italiano como, Allegro, Adagio, Andante, Presto, etc.
Períodos musicais O Barroco ordenou os períodos musicais que consistem em
uma série de compassos de números bem característicos
que apresentam o tema da obra. Por exemplo, dois ou três
compassos formam um período, o mesmo podendo
acontecer com quatro ou oito compassos, etc. Não mais
existia uma desordem temática de numeração “exótica” de
compassos como 5, 7, etc.
Formas musicais – A canção e a As formas corais foram, desde a Idade Média, a
ária avassaladora forma em voga na música vocal e as canções
existentes não se comparam em teor e técnica àquelas que
passam a existir no Barroco. Desse modo, com base na
liberdade de acompanhamento, na qual se sobressai a voz
solista nos grupos corais, ou melhor, a voz que entoa a
melodia, a canção começou a fazer parte da estética
barroca. Como a ópera é uma criação barroca, a ária (a
canção dentro do enredo) foi caracterizada estruturalmente
em canção ou ária ABB’ ou ABA’. A significa uma seção; B,
a segunda seção contrastante com a primeira; B’ a repetição
da seção B com ocasionais pequenas modificações. A como
uma seção, B como contrastante e A’ como a repetição de A,
com variações.
A ópera tem como antecedente os intermedi, peças com
solos vocais e peças instrumentais nos interlúdios das peças
teatrais e tem início em meados do séc. VXI. O marco como
a primeira ópera 1600 foi Euridice, com versos de
Rinuccini inicialmente musicada por Peri e depois por
Giulio Caccini (1551 – 1618), é considerada um grande
avanço no campo da música cênica que, aliás, chamava-se
ora melodrama, festa teatrale, dramma musicale, tragédia
musicale ou attione in musica, não ainda apenas ópera. Na
verdade, Euridice era um drama teatral entremeado de
números musicais, se se quiser fazer justiça à história e à
ópera como a conhecemos como obra musical na sua
inteireza. A música como um meio de expressão ligada ao
drama teatral só vem a ser um acontecimento sete anos após
a Euridice de Rinuccini/Peri/Caccini com L’Orfeo, de
Claudio Monteverdi (1567 – 1643).
A cantata, como o nome indica, é o equivalente vocal da
sonata (sonare = tocar), esta específica para o instrumento.
A cantata podia ser de feição religiosa ou profana, coral ou
coral e solista ou apenas solista.
O oratório, peça com caráter mais ampliado que a cantata,
assemelhava-se à ópera em enredo, orquestra, solistas e
coro, mas era apresentada sem cenário e figurino. O
oratório tem caráter eminentemente religioso. O Oratório de
Natal (Weihnachts Oratorium)de Johann Sebastian Bach
(1685-1750) e o Messias (Messiah), de George Friedrich
Handel (1685 – 1759) são oratórios.
A sonata, peça musical inicialmente de caráter solista
instrumental no Barroco, ganhará no Classicismo e a partir
dele os pequenos ajuntamentos de instrumentos, como duos,
trios, etc, são de sonatas a vários instrumentos, mas serão
chamadas de Duos, trios, Quartetos, etc. As sonatas serviam
para exibir a perícia e a técnica não apenas do compositor
mas do instrumentista.
O concerto, inicialmente com três movimentos, Allegro-
Adagio ou Andante-Allegro ou Presto tinha geralmente um
solista acompanhado pela orquestra ou grupo de solistas
acompanhados pela orquestra. Os solistas eram conhecidos
como concertinos e o tutti da orquestra como ripieno.
A suíte é uma peça musical que agrega um conjunto de
danças, geralmente alternadas em rápidas e lentas. Como,
nos encontros sociais à época não havia a dança aos pares,
todos dançavam em grupo. Desse modo, as danças, de
origem popular, ganharam os salões da nobreza. Rigodons
(rigaudon), alemandas, correntes, pavanas, gigas, etc são
algumas das danças mais conhecidas do período.
Referências
ABBATE, Carolyn e PARKER, Roger. Uma história da Ópera. Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015.
CARPEAUX, Otto Maria. Uma Nova História da Música. 6ª ed. Brasília: Alhambra, 1977.
HERZFELD, Friedrich . Nós e a Música. Trad. Luiz de Freitas Branco. Lisboa: Livros do Brasil, s.d.
UFAL - ICHCA
Graduação em Música
História da Música 1
Prof. Dr. Eduardo Xavier
11ª aula

Audição de obras barrocas

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