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Paixão e inocência

Lilian Peake

Título original: Gregg Barratt's Woman (1981)


Coleção: Julia 176 (1982)
Protagonistas: Tânia Foster & Gregg Barratt

Digitalização e revisão: Tinna

Na sua inocência, Tânia acreditava que a mudança para a tranquila e


confortável mansão de Gregg Barratt iria ajudar a ela e à irmã paralítica a
encontrarem, enfim, a felicidade. Gregg, de fato, estava disposto a ser o benfeitor
das duas órfãs. E a fazer de tudo para que Cassandra voltasse a andar. Mas, com
relação a Tânia, suas intenções eram bem menos desinteressadas: ela teria que ser
sua mulher, sem sequer pensar na palavra casamento. Como poderia Tânia resistir
às loucas carícias que Gregg lhe fazia para levá-la à rendição final? E Cassandra?
Acreditaria ela nos motivos apresentados por Gregg para fazer tal chantagem? Seu
desejo de ficar boa suplantaria o amor pela irmã?
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Copyright: Lilian Peake

Título original: "Gregg Barratt's Woman"


Publicado originalmente em 1981 pela
Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Tradução: Esther M. Corrêa

Copyright para a língua portuguesa: 1982


Abril S. A. Cultural e Industrial - São Paulo

Composto e impresso em oficinas próprias

Foto da capa: R.J.B. Photo Library

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Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

C A P Í T U LO I
Se não fosse pela i nsistência de Edna, Tânia teria d esisti do de tudo e
voltado para casa.

— Você não pode me deixar sozinha num local como este. Meu pai só
me deixou vir por que eu diss e que precisava acompanhar você — Edna
insistia, puxando T ânia para debaixo do guarda-chuva.

— Mais meia hora e vou ped ir à sra. Beas ley para vir me buscar —
Tânia suspirou desconsolada.

— Bem — disse Edna -—. só faltam mesmo quinze minutos para meu
pai vir me pegar, e olhe o que sobrou das flores.

Edna apontava para a mesinha ao lado, com pequenos maços de


flores que as pes soas compravam para levar aos pacientes d o hospita l
próximo.

— Você tem sorte. Pelo menos já ven deu alguma coisa. Eu não vendi
um quadro sequer.

— Meu Deus, como estão molhados — disse Edna penalizada. —


Embora tenha dito a meu pai que você viria para cá, a o mesmo t empo eu
desejei que ti vesse desistido por caus a desse tempo horrível.

— Eu tinha que tentar. Estamos precisando muito de dinheiro.

— Como tem passado Cassie?

— Pessoalmente, está bem. Apenas suas pernas, você sabe... —


Tânia calou-se e os pingos constantes da chuva e o chiado dos pneus na
pista molhada da estrada pareciam aumentar de volume.

— Falta muito para pagar o tratamento de Cassi e?

— Mais ou menos um quarto do total , e pel o jeito vai d emorar muito


mais do que esperá vamos...

Um carro longo e baixo entrou e passou pelas duas, parando mais


adiante e interrompendo o diál ogo. A s mãos de Tânia se apertaram.

— Na certa ele va i descansar um pouco, tomar café ou olhar algum


mapa. Não se interessará pelos quadros.

Tânia apertava os olhos fechados e pensava: um homem com um


carrão desses não compraria quadros numa parada de estrada. Para isso,
iria às famosas galerias de arte de L ondres.

— Ele está saindo do carro — cochichava Edna. — Está indo na


direção dos quadros.

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Tânia cobriu as orelhas com as mãos para não ouvir.

— Escute, sua boba! Ele parou em frente de um quadro, agora, está


examinando, volt ou para olhar o quadro anterior d e n ovo. Está se molhando
todo, mas parece nem ligar.

— Em dois minutos, pega o carro e dá o fora, qu er apostar?

— Errado! Ele está vindo para cá.

Encolhida debaixo do guarda-chuva, Tânia abriu os olh os. Deparou


com um rapaz alto, de cabel os castanhos, metido numa jaqueta verde d e
chuva, com as mãos enfiadas nos bols os da calça.

Ele olhou primeiro para Edna, depois para Tânia, c uja imediata
reação foi desv iar os olhos, di zendo a si mesma: como eu tinha pensado!
Com esse ar dista nte, olhar de arrasa-corações, não é o tipo que c ompra
quadros na estrada.

Com voz profunda e uma pontinha de ironia, el e perguntou:

— Com qual das moças devo falar sob re os quadros?

Se el e está pretendendo fazer pouco-c aso do trabalho da minha irmã,


pode dar o fora, como os d emais, ela pens ou. No en tanto não eram os
quadros o motivo d o sorriso ir ônico.

— Você precisa de um guarda-chuva maior, menina! Está ensopada!

Tânia forçou um risinho amarelo. Está na cara que é do tipo "estou


só olhando", pensou. No entanto, respondeu:

— O tempo preci sava estar um pouco pior para esfriar nosso


entusiasmo.

Ele l evantou e abaixou as s obrancelhas. Isso val ia por um


comentário. Tânia se assustou. Será que tinha dado um fora, parecendo tã o
ansiosa? Ou estaria espantando o freguês?

— Os quadros são seus?

Levantando os olhos, ela d eparou c om o estranho âm bar do olhar


dele.

— Não, são da minha irmã.

O olhar dele então se d esviou para Edna, que balançou


negativamente a cabeça.

— Minha irmã está em casa. Esta é Edna, minha amiga. Ela se


encarrega das flores. Há um hospital aqui perto.

— Eu sei — ele concordou. — As pinturas... você pode me dar uma


idéia do preç o?

— Ah! Claro. — Tân ia sentiu o coraçã o dar um pulo.

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Será que isto aind a ia terminar com uma venda? Meu D eus, uma só
que fosse, mesmo uma miniatura, só para dar um estímulo a Cassandra.

Levantando a gola de sua jaqueta, el a se dirigiu rápido para o lugar


onde estavam as pi nturas, apontando a lista de preços.

— Também está coberta com plástico protetor, como os quadros. Eles


não são danificados pela chuva porqu e são t odos a óleo. Deixei as aquarela s
em casa por causa do tempo.

— Muito esperta — ele c omentou.

Tânia já ia voltando, quando a mão dele a s egurou pelo braço.

— Pode me dar mais um minuto?

Ela olhou para cima e imediatamente seu rosto ficou todo respingado.
Contudo, concordou. Tudo por uma venda, pensou.

— Deseja uma expl icação sobre os qu adros? — gaguejou.

— Não, obrigado. Eles não são abstrat os ou obscuros. S eu significado


é claro. A personali dade do artista está à mostra.

Enquanto ela tirava os cabelos molhados dos olhos, ele p erguntou:

— Qual é o nome d e sua irmã?

— Cassandra Foster. O meu é Tânia Foster.

A atenção del e se voltou novamente p ara a exposiçã o.

Tânia desejou qu e a chuva que escorria pelo plásti co sobre os


quadros não escondesse a profunda imaginação artística de Cassandra nem
a maturidade de sua arte.

— Sua irmã é mais velha do que voc ê?

— Não, é cinco anos mais nova.

Essa pergunta pegou Tânia de su rpresa, deixando-a um pouco


confusa. Não acreditava que alguns momentos ao lado de alguém, debai xo
de uma chuva torrencial, foss em suficientes para se fa zer uma análise do
caráter de uma pessoa.

Num rápido olhar avali ou o perfil d o homem à sua frente; concluiu


que ele d emonstrava força sufi ciente para arcar com grandes
responsabilidades. Notou a firmeza dos dedos l ongos, quando ele passou a
mão pelos cabel os.

No mesmo instante se pôs a imaginar como seriam esses d edos,


passando pelos seu s cabelos, numa suave carícia.

Chocada com os próprios p ensamentos, Tânia v irou-se para voltar ao


guarda-chuva de Edna. Talvez ele não fosse comprar, mas como tinha pedid o
para ela ficar mais um pouco...

— Devo fa zer o cheque em seu nome ou no de sua irmã?

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O rosto de Tânia s e transformou. S erá que ela t inha mesmo realizad o


uma venda?

— Ah! Você vai comprar um? Pode fa zer o ch eque para minha irmã,
por favor. — Excit ada, olhou a lista de preços e p erguntou: — Qual deles
escolheu, p or favor ?

— Vamos até meu carro? Lá eu decido.

— No carro? — A reação dela foi puramente instintiva.

— Lá dentro pelo menos está mais s eco. Não é precis o ter medo d e
mim. — Seu tom de voz também era seco.

Tânia resolveu con fiar nele. Virando-s e, fez um leve sina l para Edna,
que observava c om desaprovação. Como podia tranqüil izá-la? S eria difíci l .
Parecia loucura entrar no carro de um estranho assim de noite; mas,
loucura ou não, ela resolveu entrar.

Assim que Tânia entrou, ele fechou a porta e deu a volta para o lado
do motorista. Ela desejou que Edna tivesse, pelo menos, anotado o número
da chapa.

O jeito dele, agora , tinha um pouco de zombaria. Com o se lesse os


pensamentos dela, ele começou a dizer o número da placa e foi tirando do
bolso a lic ença, o cartão de crédit o e o cartão bancário, ex ibindo tudo à
medida que enumerava.

— Deseja saber mais alguma coisa?

— Não, obrigada, foi bobagem minha.

— Bobagem nenhuma, srta. Foster. Uma garota atraente como você


tem que se cuidar.

Tirou do bolso um talão de cheques, a caneta e começou a preencher


o cheque pela data .

Um princípio d e s orriso apareceu nos lábios dele e fez o coração d e


Tânia pular. Isso mudou o tom sério de suas feições, mostrando uma
cordialidade e ani mação que tiveram um efeito terrível sobre os instint os
femininos de Tânia. Ela sorriu, em retribuição, um pouco insegura pelo
magnetismo que aquele sorris o revelava.

O que está haven do comigo? Afinal de contas, ele vai comprar o


quadro e eu não vou vê-lo nunca mais, dizia a si mesma.

— Qual dos quadros escolheu, s enhor...

— Barratt, Gregg Barratt.

— Sr. Barratt. Tenho que conferir o preço, apanhar o quadro e


enxugá-lo antes de lhe entregar — disse ela, procurando o trinco da porta.

A mão dele segurou novamente seu braço e d esta vez ela tomou
consciência do cal or que emanava do corpo del e.

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— Todos el es, srta. Foster.

— Todos?

— Sim, todos eles.

Tânia passou a mão pela g ola da bl usa, como se esta a estivesse


estrangulando.

— Está... está brincando comigo, sr. Barratt? Quero dizer, ninguém


consegue comprar... — Uma suspeita passou como um relâmpago pela sua
cabeça. — Olhe, as pinturas não são baratas e eu t enho quinze d elas. Não
são nenhuma droga, não. São até muito boas.

— Sei muito bem q ue são, de outra f orma não as compraria.

— Por acaso você é dono de alguma galeria de arte?

— Minha casa é muito grande. As paredes estã o vaz ias e


necessitando de u m pouco de cor, vid a e movimento.

— Como sabe que s ua esposa vai aprovar todos esses qu adros?

— Eu não tenho esposa para aprovar ou não. Isso s ignifi ca que posso
comprar o que me dá prazer. Preciso dar a você um motivo ac eitável para
poder comprar seus quadros? — Balançando a caneta, ele sorria. — Sabe,
você não é b em o que se pode ch amar de uma vendedora de primeira
classe, srta. Foster.

Tânia fechou a cara, corando muito.

— Eu procuro fazer o melhor que poss o. Por favor, faça o cheque em


nome de Cassandra Foster. Vamos precisar da lista de preços para fazer a
soma total.

Enquanto ela procurava a maçaneta, ele já estava f ora do carro.


Desatou a cordinha que prendia a lista de preços, e pegou a toalha que
Tânia lhe estendeu para enxugá-la.

Seu rosto não se alterou quando Tânia deu o total. Não fez qualquer
pergunta sobre o f ato de uma artista desconhecida pedi r tais preços pel o
seu trabalho. Pel o contrário, até comentou:

— Sua irmã é modesta sobre o val or de seu trabalho.

— Temos que considerar as circunstâncias. A chuva, este local e toda


a situação. Não se podem pedir preços altos por uma mercadoria exposta
nestas condições p recárias.

— Então acha que estou comprando tudo isso por uma pechincha?

— Bem, pode me achar pretensiosa por ser irmã dela; mas,


sinceramente, acho que está.

Ele estava ocupado, escrevendo.

— Acrescentei algu ma coisa para fazer conta redonda.

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Um rápido olhar para o cheque mostrou a soma que ele ti nha escrito.
Séria, Tânia comen tou:

— Está certo de que não errou na soma?

— Não confia na minha aritmética?

Inclinando-se, abri u o porta-luvas do carro e tirou uma calculadora


eletrônica.

— Espero que con fie nist o... Vá olh ando enquanto eu marco cada
valor. Ch egue mai s perto, srta. Fos ter. Eu não costumo engolir jovens
estranhas. Minha profissão é curar, não ferir.

— Quer dizer que é... médico?

— Cirurgião, melhor dizendo. — El e d eu a informação rapidamente e


continuou: — Agora, olhe! — Val or por val or, foi som ando até chegar a o
total. — Mais o que acrescentei. — E mostrou a soma. — Confere, não? Isso
prova que minha c abeça ainda funciona, a despeito des tas geringonças —
disse, apontando a calculadora.

Assinou o cheque, virou e pass ou a escrever seu nome e endereç o


atrás.

— É aí que mora? Não é uma vila per to de Ashdown Forest?

Ele acenou que sim .

— Nos arredores. V iajo muito para Lon dres.

Havia uma ansiedade inconsciente em sua voz, quando el a disse:

— Deve ser muito agradável voltar todos os dias para ca sa num lugar
tão lindo como ess e...

— Onde vivem você e sua irmã?

Suspirando, ela ap ontou para trás, na estrada.

— Sul de Londres. — Mencionou o lugar, sacudindo a cabeça. — Não é


um bairro muito ruim, mas o local ond e moramos...

— Você está na list a telef ônica?

— Sim, por quê?

Ele não respondeu. Ao inv és disso, estendeu-lhe o ch eque.

— Não sei como ag radecer, sr. Barratt. Ou devo tratá-l o por doutor?

— Sou cirurgião, por isso pod e me chamar como quiser.

Era hora de deix ar o aconchego macio do carro. A chuva tinha


diminuído, mas havia ainda a questão do transporte dos quadros.

— Perto do hospita l mora um conheci do meu que tem um furgão. Ele


virá apanhar as pinturas o mais depressa que puder. — Enquanto saía do

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carro, sorriu, dizendo: — Não se preocupe. El e va i tra zer uma toalha para
enxugar tudo.

Deu a volta e abriu a porta para ela. Tânia saiu. Chegava o momento
da despedida e, cu riosamente, ela rel utava em deixá-l o i r.

— Não sei como ag radecer — repetiu.

— Eu é que dev ia agradecer a voc ê e sua irmã. Encontrei hoje o que


procurava há muito tempo. Alguma coi sa para alegrar minha vida.

— Devia di zer: minha casa.

— Quem sabe, ambos...

Sorrindo, el e voltou para o carro e es tendeu a mão a Tânia.

— Fred Harley virá o mais d epressa possível. Até logo, srta. Foster.
Foi um prazer conhecê-la. Gostaria de poder conhecer também a artista. —
Sua mão apertou a dela, breve mas fi rmemente.

Tânia olhava para o cheque. Levant ou seus grandes e sérios olhos


esverdeados.

— Ela também adoraria conhecê- lo, sr. Barratt. Sempre pede uma
descrição da pessoa que compra seus trabalhos, porque... — hesitou —...
ela é inválida.

Gregg Barratt ficou olhando l ongamente enquanto ela se afastava em


direção ao guarda-chuva. O homem chamado Fred Harley chegou em menos
de meia hora.

— Trouxe uma toalha extra — explicou el e, enxugando


cuidadosamente cada quadro. — Eles são realmente lindos. É você quem
pinta?

— Minha irmã. Ela vai subir à lua quando souber que vendi todos.
Nem eu acredito, ai nda.

— O sr. Barratt sabe o que é b om de verdade. — Fred Harley riu. —


Eu o conheço há muito tempo. No hospital sou do tipo faz-tudo. Ele vai
trabalhar lá algumas horas por semana, mas, se pudesse escolh er,
trabalharia aqui tempo integral. Sabe, el e adora o camp o.

— E, pelo que pude ver, quadros a óleo também! — Tânia riu.

O sr. Harley riu com ela. Era um homem grisalho, de ros to enrugado.

— Tem razão, sen horita. Quadros a óleo também. — Com grande


cuidado, ele colocava os quadros em caixas, no carro. — Bem, foi um prazer
conhecê-la. Parece que você precisava muito vender essas pinturas para
estar aqui num dia como este. Aquela moça lá adiante é s ua irmã?

— Aquela é uma amiga. Minha irmã não pôde vir. Não está bem de
saúde....

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O homem não fez mais perguntas. Logo, Tânia v iu o furgão


desaparecer na distância.

Voltou e viu que o pai de Edna tinha chegado. Era um senhor de rosto
amigável, como a f i lha. Trocaram algumas palavras sobre o mau tempo.

— Em breve nos veremos, espero — disse Edna. Juntando-se a o pai,


acenou para Tânia e entrou no carro.

Cassandra deu gritos de alegria quando Tânia c ontou a s novidades .


Jogou os braços ao redor do p escoço da irmã, e começou a chorar antes de
rir de felic idade. D epois, mais calma, perguntou:

— Quanto foi o t otal da venda?

Tânia mostrou o cheque e ela empalid eceu.

— Ele deve ter-se enganado na soma.

— Somou duas vezes. Uma de cabeça e outra com a calculadora. Eu


conferi. S ó col ocou alguma coisa a mais para arredondar o total.

Cassandra, com os olhos arregalados, fitava o vazi o.

Tânia olhou c om ternura a irmã sentada na cadeira de rodas. As


pessoas que dizia m que eram parecidas viam somente a aparência. Os
cabelos de Cassa ndra eram como os dela, l oiros. A mbas tinham olhos
esverdeados, p orém a irmã possuía um inesgotável otimismo, que nem
mesmo um sério acidente na estrada tinha extinguido.

O rosto de Cassandra era largo, as maçãs salientes e o queixo


suavemente redon do. Sua boca, com os cantos para cima, revelava u ma
audácia que Tânia não tinha. Por natureza, Tânia, embora carinhosa, era
mais séria e retraíd a.

— Você sabe o q ue este dinheiro r epresenta, não sabe? Agora já


podemos pagar o especialista que vai fazer a operaçã o para você andar de
novo.

Cassandra alisava o cheque, como s e certificando de que ele era real .

— Sabe d e uma coi sa, Tânia? Desc obri que me tornei uma fatalista e
ao mesmo tempo uma otimista. Se essa operação não for bem-sucedida,
nem vou dar bola. Porém se tudo sair bem... — Seus olhos se umedeceram.
— Bem, só vou acreditar quando puder ver, isto é, quand o puder sentir.

Mais tarde, depois do jantar, Frank Anderson apareceu. Além de ser


namorado de Cassandra, el e era s ócio de Tânia em trabal hos de decoraçã o e
pintura. Tinha os ombros estreitos, o que lhe dava uma aparência de
fragilidade. Na verdade, era seguro de si e a parte da sociedade
encarregada de fazer o trabalh o mais duro. Seus cabelos castanho-claros
estavam manchados por longa exposi ção ao s ol, durante as pinturas ao a r
livre.

Desde que Cassandra conhecera Frank, nove meses at rás, antes do


acidente, achava que o sol brilhava através de seus ol hos. Só queria sua

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companhia. O grande recei o de Tânia era que um dia el e saísse da v ida da


irmã e nunca mais voltasse.

Se isso acontecess e, Cassandra ficaria arrasada e ela, sem um sócio,


teria que abandonar o negócio, p ois c ontinuar sozinha era impossível .

Quando Frank, depois de b eijar Cassandra, ficou ao la do de Tânia,


passando o braço pelos seus ombros, não foi repelid o como deveria ser. A o
invés disso, ela bri ncou, dizendo:

— Alô, parceiro! — E começou a pintar o rosto dele para cima e para


baixo, com um pincel imaginário.

— Imagine, Frank! Tânia conseguiu vender todos os meus quadros de


uma vez. Assim! — E estalou os ded os . Cassandra estava eufórica.

— Poxa, que l egal. Quem foi o grande benfeitor?

— Um homem... — informou Cassandra — um homem maravilhos o.

— O que vai fa zer c om tanto dinheiro?

— Você sabe muito bem, Frank Anderson — ralhou Cassandra. — Vou


pagar pela mais importante operação em minhas pernas.

— Aquela decisi va , que vai fa zer c om que ela ande novamente —


afirmou Tânia.

— O quê? Mais uma operação?

— Não diga isso desse modo, viu ? Soa c omo se d uvidasse dos
resultados. Por favor, não estrague a única coisa boa q ue ainda tenho na
vida — respondeu Cassandra angustiada.

— E que coisa é essa? — A pergunta de Frank foi relutante. Será que


ele t em medo que ela diga "voc ê"?, T ânia pensou.

— Esperança. É só o que me resta.

Sim, sem dúvida houve um alívio no rosto dele. Tâ nia virou-se


indignada pela atitude de Frank. No começo el e era amoroso e p ossessi vo,
sempre falando no futuro de ambos, juntos. Desde o acidente e o
confinamento de Cassandra a uma cadeira de rodas , ele t inha mudado
muito.

Parecia a Tânia que Cassandra não havia notado ess as mudanças,


mas ela sabia. Tanto sabia que tinha que estar repelindo suas carícias.

Se por acaso diss esse a el e o que pensava sobre sua atitude com
Cassandra e sobr e a et erna perseguição a ela própria, Frank podia
simplesmente ir embora, deixando as duas abandonadas.

Cassandra estendeu a mão para Frank.

— Vem cá, você ainda não me cumprimentou pela venda. Sou uma
garota de sorte, não?

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Ele pegou a mão dela, apertando-a. Cassandra, puxando Frank para


baixo, ergueu o rosto para um beijo. Foi um simples gesto de confiança,
levemente inconsci ente e infantil .

Observando os dois , Tânia viu o beijo de Frank, no início somente um


cumprimento pelo s ucesso, transformar-se em algo mais l ongo e lasc ivo.

Conhecendo a ir mã como a si mesma, viu os olh os inocentes


espantarem-se e a mão apertar o braço da cadeira. Is so mostrava como
Cassandra tinha ficado surpresa com um beijo c omo aquel e.

Tânia saiu da sala imaginando como a irmã ainda era ingênua e


inexperiente. Frank tinha vinte e quat ro anos e acumulava uma experiência
de vida que Cassandra jamais teria. Quando voltou, viu o rosto excitad o
dela e a mão ainda apertando os lábios ardentes.

— Vou fazer um café — disse Tânia, in do para a cozinha.

— Sócia, ult imamente não temos muito trabalho, não? — disse Frank,
seguindo-a.

— Deve ser p orque muita gente está fora da cidade.

— Nada bom para os nossos negóci os. Tenho pensado em mandar


imprimir uns folhetos. Alguma coisa deste tipo: "Faça voc ê mesmo! Iss o
será ótimo se não se incomodar em ter uma bagunça total em sua casa
durante semanas, e esti ver dispost o a passar seu precioso t empo livr e
lidando com papéis de parede e tinta. Caso não esteja a fim, por que não
deixa tudo isso a cargo de gente experiente como Anderson & Foster?" Que
tal?

— Foster & Anderson — corrigiu Tânia, rindo.

De costas para o sócio, olhava a chaleira, esp erando a água ferver,


quando dois braços a agarraram por trás. Ela deu um pulo, depois ficou
parada, esperando que Frank a largasse.

— Anderson & Foster — repetiu el e. — Lute por isso, men ina!

— Bem, faça como achar melhor — respondeu com um gesto.


Felizmente Cassandra, de onde estava, não podia ver o comportamento do
namorado. Já livre do abraço, Tânia começou a fazer o café.

— Isso pode nos cu star um bocado de dinheiro.

Arrumando a bandeja, sua imaginação voou e um rosto surgiu diante


de seus olhos. Era o rosto do hom em que ela jamai s tornaria a ver. A
imagem persistia, como se aquelas feições estivessem impressas em sua
memória. Era um passe de mágica que o trazia d e volta à sua vida. Estava
tão absorta que não viu Frank pegar a bandeja.

— Folhetos impressos — disse pensativa, voltando para a sala e


falando como se a conversa nunca tivesse sido interrompida.

— Ah! isso? — Frank riu. — Eu só sugeri como piada.

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— Sugeriu o quê? — perguntou Cassandra, tomando o café.

Olhava com eviden te adoração o perfi l de Frank, sentado a seu lado.


Ele desp enteou os cabelos d ela c om a mão, expl icando a idéia dos folhetos
para a promoção.

Observando os d ois , Tânia concluiu qu e as atitudes dele em relação a


Cassandra eram mais de um irmão do que de um namorado.

— Penso que até pode ser uma boa idéia. A lguma forma de
publicidade é melh or que nenhuma — insistiu Tânia.

— Quem vai col oca r os folhet os nas caixas de correi o? — argumentou


Frank.

— Não podemos pagar alguns garotos para fazerem isto?

— Vou di zer o que vamos fazer. S e o tempo permitir, amanhã vou


enfrentar esse serv iço de pintura ext erna. Você faz o rascunho do folheto e
leva á uma gráfica. Conversa a respeito com alguém, pega orçamento de
custo, quantidade, tamanho, etc. Ok? — Com um pulo, l evantou-se da
cadeira. — Vou andando.

Cassandra agarrou a mão dele.

— Um beijo antes de ir.

Foi a mais covarde hesitação que T ânia jamais tinha presenciado.


Curvando-se, ele ralhou:

— Cassandra Foster, você é uma adorável pequena ninfomaníaca.


Cassandra riu alto. Então, com um movimento exagerado, esfregou com
força o lugar onde os lábios d e Frank tinham tocado levemente.

— Pelo jeito como se comporta, voc ê não é b em um Casanova —


disse meio amuada.

— Se eu fosse, querida, você teri a muito pouca chance de me


satisfazer — respondeu, insensível.

Tânia, vendo a p erplexidade no rosto da irmã, sentiu a dor como se


fosse sua.

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Perto do fim de semana o rascunho dos folh etos e o modelo estavam
prontos e apr ovad os, na gráfica. Ti nham prometido aprontar tudo até o
começo da semana seguinte. O t empo permanecia b om e Frank pôde fa zer
algum progresso na pintura externa. Como Cassandra estava ocupada com
um novo quadro, Tânia pôde ajudá-lo pintando o térreo e deixando para el e
as partes altas.

Era novamente fim de semana e, enquanto atendia Cassandra, Tânia


arrumava a casa e cozinhava, o p ensamento sempre voltado para aquel e
homem que, comprando os quadros, havia trazid o tanta esperanças à vida
delas. Um benf eitor, Frank o tinha chamado. Seria iss o? Ele tinha comprado
os quadros por bondade ou precisava realmente deles?

Isso afinal não tin ha importância. Olhou para fora, para a rua pobre
em que viv ia, para o meio-f io d e carros parados e para as casas miserávei s
enfileiradas, a maioria das quais, como a delas, div idid a em duas moradia s.
A casa tinha sido de sua mãe e, quando esta morreu, tornou-se delas. Isto,
apesar de tudo, si gnificava que, ao contrário de muita gente, elas t eriam
sempre um teto sobre suas cabeças.

A única maneira de manter a casa foi alugar a parte de cima. Havia


uma viúva de meia-idade residindo l á agora. Tânia e a irmã ocupavam a
parte de baixo, fazendo da antiga sala de jantar um dormitório que ambas
dividiam.

Carros que raramente se m oviam estavam estacionados juntos ao


meio-fi o em ambos os lados da rua. Raramente havia vaga diante da casa,
porém, nessa manhã, havia uma. No mesmo momento em que Tânia olhava
desolada para a r ua, um carro entrou na vaga. Era grande e parec i a
familiar. Com classe, o motorista manobrou e encost ou na calçada.

Era o rapaz que a tinha perturbado tanto. Seu coração começou a


bater mais forte. Ele não pode, pen sou ela, ele simpl esmente não pode
entrar aqui, com uma bagunça destas.

Havia jornais, rev i stas e des enhos q ue Cassandra abandonava e que


voavam para o chã o.

— Cassie — Tânia conseguiu dizer com voz rouca —, ele vem vindo.
Aquele homem está quase na porta. Veja como estamos e como está a casa!

Distraída e surpresa com a agitação da irmã. Cassandra perguntou:

— Que homem? — De repente, entendeu de quem Tânia falava, —


Não aquele que.. . — começou a perguntar.

— Aquele mesmo. — A campainha tocou.

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— Oh! Céus! — Tânia olhou para si mesma. — Estou horrível. Olhe


meu vestido, meus cabelos.

— Abra logo — Cas sandra choramingou. — A porta... dei xe el e entrar.


Quero agradecer.

— A porta estava só encostada — disse o visitante —, então, vim


entrando. — Sorria , diante da evid ente confusão de Tâni a.

Quando se c onvenc eu de que era ele mesmo que estava diante dela,
de que era o homem cujo rosto tinha se sobreposto a tudo que olhava, cada
página que lia, um sorriso abriu-se como um raio de sol dep ois de uma
tempestade.

— Sr. Barratt — disse ela —, s eja b em-vindo, muito bem-vindo.

Ele fez uma reverência exagerada.

— Sr. Barratt. — A voz de Cassandra veio d e trás da porta que o


escondia dela. — Estou feli z que t inha vindo. Eu des ejo... — Ela parou a
cadeira na soleira da porta.

— Meu Deus! — colocou as mãos na boca e seus olhos o percorreram


de cima a baixo. — Não é à t oa que Tânia chegava à lua quando falava
sobre o senhor.

— Cassandra, eu não fiz nada disso...

Cassandra bem que gostava às vezes de s e fazer de menininha


ingênua. Com o ros to vermelho, v irou- se para o vis itante.

— Sr. Barratt, eu pretendia escrever para o s enhor, mas ainda não


tive tempo. Como d escobriu nosso end ereço?

— Pela lista telef ônica. Tinha perguntado a você, lemb ra? Daí, f oi
fácil.

Com as mãos nos bolsos, s ério, p erguntou:

— Cadeira de r odas, srta. Foster? Você não disse nada...

— Eu disse que Cassandra era uma inválida, lembra-se? Por que me


olha desse jeit o?

Pensou um pouco e ela mesma deu a reposta.

— É o médico que há em voc ê que está falando, não? Então está


perdoado.

— Agora estou aliv iado — comentou secamente. — Sem o seu perdão


iria ter insônia. O s arcasmo de seu tom aborreceu Tânia, que fechou a cara.

— Esse é o homem, não o médico que está falando. Estou certa de


que não gosto dele.

— Você não conhec e o homem que há dentro de mim, srta. Foster —


respondeu ele, fita ndo Tânia sem uma sombra de sorriso.

Projeto Revisoras 15
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Cassandra agarrou a mão dele e a enc ostou no rosto.

— Se o s enhor me permite... Veja, sr. Barratt, se soubesse como eu


odei o ter que ficar sentada nesta cadeira, dia após dia, olhando Tânia fazer
tudo, trabalhar o dia inteiro para nos sustentar e eu sem poder ajudar em
nada.

Uma imensa bondade se estampou em seu rosto quando olhou para


Cassandra.

— Você pinta, srta. Foster, e vende seus quadros. O que significa


ganhar dinheiro.

— Sou Cassandra, não srta. Foster. A quele d inheiro é s ó para mim.


Para a operação que vai me pôr de pé novamente. Eu estou na fila, uma
longa fila de esp era no hospital l ocal. Há uma centena de pacientes
esperando a vez.

Gregg Barratt parecia não entender essa história de f ila, então vir ou-
se para Tânia, interrogativamente. Hesitante, tendo em vista o status do
visitante, Tânia ex plicou.

— Estamos economizando, com a venda dos quadros de Cassandra,


para podermos ir a um especialista e pagar pelo tratamento, sem esperas.

— Bem, mas isso pode custar muito dinheiro — respondeu ele.

— Estamos economizando há muito tempo, sr. Barratt — Cassandra


interrompeu. — E obrigada por comprar todos os meus quadros, pois ainda
estamos muito longe de nossa meta. Não se incomoda se eu lhe der um
beijo de agradecimento? — continuou, puxando o rapaz para baixo. — Um
pequeno só, aqui no rosto. — Um bei jo estalou e as lágri mas encheram seus
olhos.

Gregg Barratt fitou longamente a garota, com a compaixão


escurecendo o âmbar de seus olhos. Ela o fitava inconsciente como uma
criança, confiando totalmente.

Aí está o homem, pensou Tânia , que me f ez confiar nele


instintivamente, no sábado, quando me convid ou a entrar em seu carro.

— Eu também quero agradecer, sr. Barratt. — A voz de Tânia era


grave e s eu sorriso acanhado. — Nem pode imaginar o quanto apreciamos
seu gesto de.. .

Ele veio na direç ão dela, parecend o não ter ouvido as últimas


palavras. Hav ia u m brilho estranho em seus olhos, qu e f ez c om que Tân ia
desse um passo para trás. Ele não olhou Cassandra desse jeito, pens ou el a
apavorada.

— Não, você não me entendeu. Eu quis dizer agradecer verbalmente,


sr. Barratt.

Ele parecia surdo, mas com um leve s orriso divertido. Tâ nia lá estava
fora da sala, no hal l. Ele a s egurou avi damente pelos omb ros.

Projeto Revisoras 16
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Sou um faminto receb edor de a gradecimentos em beijos, srta.


Foster. E não só no rosto. Vamos ver a gora.

Não houve chance de dizer uma palavra sequer de protesto. Sua boca
estava na dela, não com carinho, mas com uma violência ávida que fez seu
coração bater louca mente.

Ela recuperou-se, i ndignada.

— Como pôde fa zer isso? — perguntou, enquanto apertava os lábi os


com os dedos trêmulos.

Ele a largou, enfian do as mãos nos bol sos do palet ó. Sorr iu, dizendo:

— Está vendo? Esse é o homem em mim, srta. Foster. Você conhec e


esse homem um pouquinho melhor agora. Gosta dele ta mbém?

Com a mão ainda cobrindo a boca, sac udiu a cabeça.

— Não f oi um homem que me bei jou. Foi um... animal. — Ela mesmo
achou que estava exagerando um pouco.

— Animal? Santo D eus, se eu rea lmente deixar que o ani mal em mim
se liberte voc ê nem vai saber o que foi que a machucou.

— Sr. Barratt? — Cassandra chamava da sala, quebrando a atmosfera


tensa. Gregg saiu do hall e foi enc ontrá-la. Tânia ficou um momento se
recuperando e acalmando sua indignação pelo estranho assalto à sua boca.
Devagar, ela o s eguiu, quando ouviu Cassandra dizendo:

— Você é c irurgião, não é? Bem, tem possibil idade de me tratar?

— Cassie! — Tânia correu para ela. — O que estava di zendo?

Gregg agachou-se ao lado da cadeira de Cassandra e examinou suas


pernas e pés, no d escanso da cadeira .

— Sua irmã não p recisa ficar tão chocada. — Sua mão cobriu a d e
Cassandra. — Estou lisonjeado que t enha tanta confiança em mim, apesar
de nosso curto c onhecimento. Parece que sua irmã não partilha dessa
confiança.

— Oh, eu confio, c onfio sim — afirmou Tânia.

Voltando-se, s orri u zombeteiro para o embaraço de Tânia. Sua


atenção volt ou-se novamente para Ca ssandra.

— Sr. Barratt — seus olhos supl icavam —, se fosse possível, e se


você pudesse me f azer melhorar real mente, meu namorado poderia me amar
de novo e. ..

— Quer dizer que ele deixou de amar você por causa disto? — Ele
apontou suas pernas.

— Ele... — Ela lançou um olhar angustiado para Tânia. — Tânia e


ele. ..

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Tânia?

Ouvir seu nome dito com tanto ódi o pel o homem cujo pod er de
atração tinha sido impossível esquecer, desde o primeiro momento, f ez
Tânia sentir um calafrio.

— Se estou entendendo, ela está querendo tirar seu namorado?

— Não, não é is so. — Tânia interferiu indignada. — Você não


entendeu. Ele é meu sócio na firma. Foi isso que ela quis dizer, não f oi
Cassie?

Foi l ongo o olhar que ela trocou com a irmã. Será q ue Cassandra
tinha percebido? Os beijinhos rou bados de Frank, sua mão sempre
procurando seu corpo e, pi or ain da, a falha dela em não repelir
energicamente seus gestos, de medo que ele pudess e ab andoná-las.

Cassandra engoliu em seco, olhos bai xos, cruzando as mãos.

— É... é sim, foi i sso que eu quis di zer. Voc ê não com preendeu, sr.
Barratt. Frank é meu namorado, não de Tânia. Ele ainda me ama, penso eu.
Ela está dizendo a verdade. Eles t êm uma firma.

— Firma? — Ele ficou sério. — Que tip o de negóc io?

Não havia bondade em seu tom de voz, nem em seu olha r.

— Decoração — res pondeu Tânia.

— Você, uma decoradora?

Tânia já tinha ouvi do isso antes.

— Significa que, porque sou uma mulher — repetiu as mesmas


palavras que sempre usava para def ender seu trabalho —, sou incapaz de
pegar no pesado, ou subir escadas até os telhados?

— Todo homem diz a mesma coisa para Tânia — explicou Cassandra.


— Todos reagem como você.

— Ok, ok. Fui devi damente massacrado. Aceito a repreensão.

Bem-humorado, repetiu, enquanto as duas riam:

— Então, ele é o namorado de Cass ie, nunca deixou de amá-la —


apontava para ela —, e também é s eu sóci o nos neg ócios — olhava para
Tânia. — Estão satisfeitas assim?

Como era possí vel responder a tai s perguntas com honestidade,


quando ela sabia o que Cassandra também parecia saber? Que a atitude de
Frank tinha mudado depois do acident e?

Desesperada, Tâni a mudou de assunto, mas percebeu o desdenhoso


sorriso de Gregg.

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— Você acha que poderia fazer o que Cassandra pediu e... — Tânia
parou, consciente das dificuldades e da ética médica envol vidas para que
fosse possí vel aten der a um pedido dessa ordem.

— E poderia eu o q uê? — perguntou ele impaciente.

— Eu sei que é impossível... Foi apenas um sonho e sonhos não se


realizam, não é mesmo, sr. Barratt? Não na vida real.

— Não estamos sonhando e sim discutindo uma cirurgia para sua


irmã. Infelizmente para ambas minha especial idade é obs tetrícia.

— Oh! — Tânia deu um sorriso encabulado.

— Assuntos femininos, partos e outras coisas?

Ele concordou, volt ando-se para Cassandra.

— Você prec isa é dos serviç os de um cirurgião ortopedista. Vamos,


não desanime. Quer conservar esse sorriso?

— Quer dizer que vamos continuar economizando e t enho que pintar


o mais depressa que puder.

— Muito depressa pode prejudicar a qualidade de s eu trabalho. Para


alguém tão jovem, você t em grande compreensão da vida.

— Talvez tenha si do meu acidente, A dor, o desconforto, e, então,


isto... — Com um gesto mostrou a ela mesma e à cadeira.

— A restrição dos seus movimentos e a prisão de seu corpo jovem e


ativo? — disse Gregg.

Cassandra concordou com veemência.

— Você é muito sensível, não? — Novamente agarrou a mão dele,


olhando-o com adoração.

— Foi um milagre você aparecer naquele acostamento onde Tânia


estava. Aí voc ê vei o hoje e... — Fic ou muito vermelha. — Acho que sabe o
que estou pensando. — Gr egg acenou que sim. — Acont eceu algo que poss o
guardar comigo — disse, com os olhos úmidos. — Voc ê me deu corag em e a
esperança de qu e um dia vou s air desta cadeira . Vai ser um dia
maravilhoso. Um sonho.

— Cassandra, sua f é em mim me dá s uperpoderes. Qu eri a ser aquel e


que a libertará daí.

— Não tem import ância se não puder, sr. Barratt. Contanto que não
desapareça da minha vida tão depressa quanto veio. ..

— Sr. Barratt — disse Tânia apressada —, não se sinta obrigado a


nada, por minha irmã ou por mim. Ela só quis dizer...

Gregg continuou com as mãos nos bolsos, recusando-s e a ajudá-la


com as palavras, como fazia com Cas sandra.

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— Sei muito bem o que sua irmã quis dizer. Diga-me, seu s pais vivem
em outro lugar?

Tânia sacudiu a cabeça.

— Minha mãe era viúva. Falec eu logo depois do acidente d e


Cassandra. Esta casa era dela e fic ou para nós. Estamos alugando o andar
de cima a uma viúva que toma conta de Cassandra quando vou trabalhar.

Gregg franziu a testa, ouvindo e p assando os olhos pela pintura


manchada e pelos tapetes gastos. Quando Gregg se dirigia para a porta,
Cassandra perguntou:

— Posso saber por que vei o aqui, sr. Barratt?

— Para conhecer a artista, a garota que criou aquelas pinturas que


comprei.

— Está desapontado? — Cassandra sorriu, travessa.

— Pelo c ontrário, estou encantado.

Com um sorriso pa ra Cassandra e um breve aceno para Tânia, saiu


antes que elas tivessem tempo de se moverem ou di zer um palavra.

Duas tardes depois , Frank tel efonou. Disse que estava m uito cansado
para ajudar a entregar os folhetos d ep ois de uma dia de t rabalho.

— Está querendo dizer que t enho q ue distribuí-los ta mbém? Está


bem, eu faço isso. Mas você é um miserável, Frank. Por duas moedas eu
encontraria um sócio melhor que você.

— Pois me lembre de te dar as duas moedas. O medo fez com que ela
se retratasse:

— Não seja tolo, sa be que falei por fal ar,

— Então mude seu tom comigo e p ense antes de fal ar. Quer ver
Cassandra magoada? Então não diga mais essas coisas.

— Ei, Tânia — a voz de Cassandra vei o da sala — é com o meu


namorado que está falando, viu? — Frank, eu... — Tânia suspirou tentando
ser amável, Ele bat eu o tel efon e.

Duas crianças do vi zinho, al egres, acompanharam Tânia na


distribuição dos folhetos. Os dois irmãos foram por um lado da rua,
enquanto Tânia ia pelo outro. Na volta, ela comprou sor vete para eles.

— Tenho certeza que isto vai funcionar — anunciou na volta.

Cassandra estava pintando na sala. Porém, não es tava soz inha.


Gregg Barratt estava com ela, s entado numa poltrona.

Vestia uma camisa marrom-claro que combinava com a f ascinante cor


de seus olhos. A calça marrom-escura justa desenhava suas coxas e as
pernas esticadas para a frente. Com pose indolente olh ou com interesse a s
curvas de baixo da camiseta de malha amarela que Tânia vestia. O olhar era

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tão provocante q ue Tânia encabulou. Gregg, olhando através dela,


perguntou:

— Onde está seu s ócio? Entregou tod os os folhetos s ozi nha?

Tânia explic ou que as crianças do vizi nho tinham ajudado.

— Frank não pôde vir — justificou Cassandra. — Estava muito


cansado depois de um dia de trabalho.

— Ele al ega que só sugeriu os f olh etos e que fui eu que mandei
imprimir — acrescentou Tânia.

— Então ele chutou a bola para a sua área...

Gregg se espichou e descansou a cabeça nas mãos entrelaçadas.

— Acho que devia arranjar outro parceiro.

— Não posso. El e é muito bom neste negóci o.

Pela expressão d e Gregg, parecia q ue el e hav ia inter pretado suas


palavras como medo de perder Frank mas por razões emocionais, e não por
interesse nos neg ócios.

— Frank é um gênio — explicou Cassandra. — Ele é um artista como


eu. Não, não ria sr. Barratt. Eu digo isto não como uma garota apaixonada,
mas como pintora. Pergunte a Tânia, ela compreende o q ue estou di zendo.

— Realmente — concordou Tânia. — Frank se desgasta em trabalhos


grosseiros quando é um entendido em decoração. Sabe tudo sobre c ores,
tintas, efeitos d e l uz, etc.

Gregg, com as mãos nos bolsos e um sorriso meio marot o, disse:

— Você parece ach á-lo tão irres istível quanto sua irmã, não?

— Errado, sr. Barratt. Frank não é meu tipo.

Ele sentou-se e seus movimentos esticaram a calça, moldando suas


coxas e os ossos f ortes dos quadris.

— Ah! Qual é o seu tipo de homem?

Você. A palavra quase saltou de seus lábios. Seria mesmo esse


homem o s eu tipo? Não p odia nega r o ac elerado d e sua pulsação e os
efeit os que a pres ença dele produz ia em seu corpo quando ele a olhava ou
quando ela apenas pensava nel e.

— Ela já teve muitos namorados — continuou Cassandra. — Até perdi


a conta. Mas eles s e foram como v iera m, não é mesmo Tânia?

— É mesmo? — Tânia perguntou fingindo desinteresse.

— Até onde me lembro — ela insisti a —, nenhum tinha uma cor de


cabelo esp ecífica ou alguma coisa muito especia l.

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— Todos os tipos e tamanhos, devemos dizer — com entou Gregg,


fazendo g ozação. — E o atual como é?

— Não há nenhum — respondeu Tânia depressa. Voltou um olhar


arrogante para ele. A mensagem foi clara e silenci osa. "Não ponha Frank
Anderson na conversa. Ele não é m eu, é de Cassandra." Para mudar de
assunto, disse: — Toma alguma coisa, sr. Barratt?

— Já me servi, obr igado — disse, levantando-se da cadeira. Quando


Tânia se dirigia à c ozinha, ouviu Greg g perguntar:

— Me conte como f oi seu acid ente.

— A moto, que vi nha em sentido contrário, desgovern ou-se e veio


sobre mim, rodou e continuou sem controle. Pod e acreditar que passou por
cima de mim outra vez? Todo o tempo eu gritava desesperadamente, é
claro.

— Ela passou sobre suas pernas — disse Tânia voltando.

Gregg Barratt parecia treinado para não revelar su as emoções .


Permaneceu quieto, mas seu cérebro funcionava rápido.

— Suponho que já sofreu várias opera ções...

— Semanas e semanas de hospital — acrescentou Tânia . — De casa


para lá e de lá de n ovo para cá. Porém ela continua nessa cadeira.

— Quero sair daqui, sr. Barratt. Quero andar, dançar com Frank. Sabe
o que isso s ignifica ? — implorou Cassa ndra.

Houve um l ongo silênci o. A cabeça de Gregg estava pousada no


encosto. El e estava mergulhado em seus pensamentos, em outro mundo.
Finalmente levantou-se e começou a p assear pela sala.

— Tenho uma sugestão a fazer.

Tânia olhava para a figura alta e elegante andando a passos largos,


de punhos cerrados. Ele parou para olhar as duas de frente, com expressão
séria.

— Minha casa é muito grande. Eu não passo muito tempo lá. Há um


grande número de quartos desocupados. Tenho uma empregada e o marido
dela, na residência. São trabalhadores e efici entes. — Ele parou, Tânia
seguia cada movimento, com a respiração suspensa. Gregg virou-se e dest a
vez dirig iu-se a ela .

— Minha sugestão é a s eguinte: esses quartos precisam ser


ocupados. Meus d ois empregados precisam de trabalh o que os mantenha
ocupados. Você e s ua irmã vão fornecer esse trabalho, i ndo viver em minha
casa.

Tânia deu uma rá pida olhada para a irmã. Os olhos de Cassandra


estavam mais arregalados que nunca. Sua del icada e ad orável boc a
entreaberta e as mãos crispadas no braço da cadeira. Tânia sentia-se
atônita, sem conseguir acreditar no que ouvia e cheia de expectativa. Aind a

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não dissera uma só palavra . Durante todo o t empo Gregg olhava fixo para
ela. Tendo esperad o alguns momentos pela resposta, ele finalmente disse:

— Esqueçam a sugestão, se quiserem . Eu sou neutro. Mas isso dará a


Cassandra uma chance de vi ver em um ambiente, melhor. Terá atenção
constante, uma paisagem diferente e jardins suficientes para inspirá-la em
seus momentos criativos. Bem, o que dizem vocês?

— Diga alguma coisa, Tânia — disse finalmente Cassandra. — Dê uma


decisão ao sr. Barratt. — E, segurando a mão de Tânia, pediu: — Diga sim,
por favor. Por mim.

— Tenho meu trabalho, Cassie. Se o ponho de lado, d e onde v irá o


nosso dinheiro?

— Minha casa fica a apenas trinta quilômetros daqui, srta. Foster.


Presumo que você t enha um furgão ou qualquer outro veíc ulo...

— Ele é de Frank.

Ele se aproximou dela devagar, com uma expressão indefinida no


olhar. O profundo brilho dos olhos dela pareceu intrigá-lo, sua boca
perfeita, seu nariz atrevido e seu queixo red ondo pareceram colocar outras
palavras nos lábios de Gregg. Porém estas palavras morreram antes que
Tânia pudesse entendê-las.

— Seu parceiro não pode ir buscar você? Se não, pod e vir de trem.
Não invente d ificul dades. Agora, quer me responder?

— O senhor não poderia dar algum tempo para conversarmos sobre


isso?

— Não, não há o que discutir — dis se Cassandra. — Quero aceitar.


Quero sair deste l ugar. Você não est á metida o dia inteiro aqui, como eu,
Tânia. Sempre ol hando a mesma velha paisagem, os mesmos carros
estacionados. Não há inspiração, nem incentivo, nem nada para alimentar
minha imaginação, entende? — finali zou Cassandra.

— Eu entendo, Cassie. Eu também gostaria de sair daqui, mas...

— Quando então? — Os grandes olhos de Cassandra imploravam.

— O que está esperando, srta. Foster? — perguntou Gregg.

— Há o meu trabalho, só isso — resp ondeu.

— Se você é assi m tão fanática por lucro que se recusa a dar uma
solução, deixe pelo menos sua irmã aceitar. Ela pode ir e você f ica aqui.

— Eu não vou a lugar nenhum sem Tânia — resmungou Cassie.

— Bem — Gregg teve um gesto impaci ente. — É isso aí.

— Não é, não, não vá embora, sr. Barratt. Frank sempre diz que
devíamos achar um lugar melhor para viver. Uma vez até sugeriu que eu
fosse vi ver em sua casa. Você sabe, di vidir tudo.

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— Você quer di zer, viver com ele? — A voz d e Tânia sumiu.

Cassandra meneou a cabeça.

— Antes do acident e? — perguntou Gregg, asperamente.

— Claro — disse pálida. — Desde então, ele... sr. Barratt, pode


convencê- la? Faça com que ela aceit e.

— Convencê-la? — Ele entendeu a i nsinuação de Cassandra e seus


olhos faiscaram. — É uma excelente i déia. — Ficou de p é, e avançou para
Tânia agarrando-a pelos braç os. — Eu penso que só assi m, de homem para
mulher, coração para coração.

— Oh, não! — Tânia torceu o corpo, escapou, s eguida pel o riso da


irmã. Alcançou a cozinha e s egurou a porta, mas ele era muito ági l.
Agarrando-a novamente disse:

— Você parece mai s um moleque maltrapilho.

— Estas são minhas roupas de trabalho. Se eu soubess e que íamos


ter um visitante ilu stre..., Quer saber, assim mesmo não iria trocar de roupa
— respondeu, travessa.

De novo ela t entou escapar, mas ele apertou seu braço puxando-a
inapelavelmente pa ra ele.

— Quero que mude de idéia, não de roupa. Tenho autorização para


fazê-la di zer sim. Vai dizer ou não?

— Estou certa de que deve ter um caderninho cheio de nomes de


mulheres que diriam sim na hora. Mas meu nome não vai entrar nessa lista.

Ela se agitou contra a força del e mas foi traída p elas reações de s eu
próprio corpo. Ded os firmes segurara m seu queixo e su a boca foi d ominada
pela dele. Os lábios de Gregg entrea briram os seus e ele saboreou tod o o
frescor de sua boca. As mãos dela se crisparam em seu peito, e d epois
começaram a circundar conscientemente os ombros del e, cruzando-se ao
redor de seu pescoço.

Ele a moveu suavemente para um lado e com a mão livr e começou a


percorrer seu corpo, dos ombros à ci ntura. Suavemente, a mão escorreg ou
aos redor de seu seio, provocando-lh e um suspiro ofegante e um movimento
agitado na mão que estava nos cabel os dele. Um calor se espalhou pelos
seus membros e, como Gregg se m ovia para um contato íntimo, ela s e
rendeu, com grande ânsia, às suas carícias.

— Concorde com minha sugestão, gatinha — ele ordenou. — Venha


viver comig o.

Zonza e exc itada pelas carícias, ela a penas pôde di zer

— Concordo, eu concordo...

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— Uau!— Ouviu-se um assobio atrás deles. Frank tinha entrado sem


que el es notassem. — Apaguem ess e fogo — disse irônic o. — Essa c ena não
passaria pela censura.

— Qual garota diria não, depois de uma cena quente como essa?

Tânia pôs as mãos nos quadris:

— Saia já daqui, Frank Anderson — ordenou. — Isto não é da sua


conta.

Gregg cruzou os braços e encost ou-se na porta, pensando:É, mas


bem que pode ser, bem que pode...

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C A P Í T U LO I I I
— Como não é da minha conta? — repetiu Frank. — Ele está pedindo
que vá vi ver c om ele! Não faltava m ais nada. Você é minha sócia, sabia?
Foster & Anderson, lembra-se?

— Obrigada por colocar meu nome primeiro. — Tânia sor riu, irônica.

— Além disso o sr. Barratt não está me convidando para viver com
ele.

— Mas eu estou — disse Gregg, maldoso e provocante.

— Está vendo?

— Não, não é n esse sentido. — Tânia olhava para Gregg com raiva. —
O sr. Barratt apenas ofereceu sua casa como um novo la r para nós, perto de
Ashdown Forest, em Sussex. É uma casa grande com muitos quartos vazios .

— Que precisam ser ocupados — terminou Gregg.

— Tem uma empregada e seu marido...

— Que precisam estar ocupados — repetiu Gregg, caçoando. Desta


vez, Frank olhou confuso de um para outro.

Tânia, meio irritada por estar na defensiva, acrescentou:

— O sr. Barratt diz que é um lugar perfeito para Cassa ndra. Haverá
quem cuide dela q uando eu esti ver f ora, trabalhando... com você é claro.
Eu... eu preciso de você, Frank. Como sócio.

Tânia pensou: já estou até implorando. E se ele diss er: "Está bem,
vamos nos separar", não terei trabalh o nem como pagar nossa acomodação,
nem nada.

Finalmente, um pouco ressabiado, Frank, concordou.

— Assim vocês vão sair deste lixo.

— Isto não é um lixo — protestou Cassandra, no hall. — Foi a casa de


minha mãe. Era tudo que ela tinha.

Frank foi para junto dela, que l evantou os braços. Suavemente ele se
abaixou, bei jando-a nos lábios.

— Você quer ir viver numa grande casa no campo, não?

— Quero, Frank. A casa tem uma linda vista e eu posso pintar,


pintar...

— E eu? — Frank sorria, charmoso.

— Você? Bem, você vai lá me ver, ora. Continua sócio d e Tânia, não?

Projeto Revisoras 26
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— Não sei, c ontinuo? — perguntou, virando-se para Tânia. Tânia


olhava sér ia para Frank. Será que el e estava desistindo?

— Você quer dizer que, se sairmos daqui, desmanchará a sociedade e


vai formar sua própria firma?

— Eu não disse nada disso, disse?

Suas mãos agarraram as dela, num gesto que tanto pod ia significar
atração de homem por mulher, como desejo de reafirmar boas relações nos
negócios.

Pelo s orriso cín ico de Gregg, p erceb ia-se o que ele achava. Tânia
também achou que era isso o que Frank visava c om a atitude.

— Pensa realmente que vou d esmanchar a Foster & Anderson? —


Aparentava inocênc ia, prendendo as m ãos de Tânia e s orrindo. — Onde você
faz o serviç o pesa do e eu f ico batendo papo com as lindas esposas dos
figurões da cidade e recebendo por iss o?

— Você é um velhaco — ralhou Tânia.

— Está bem — ele replicou com afetação. — Tenho as qualidades


necessárias para ser um bem-sucedido homem de negócios.

— É você quem est á dizendo — Tânia retrucou.

— Isso não col oca você numa boa pos ição — repreendeu Cassie.

— Então você também não me quer mais como seu na morado? Ok.
Vou sair da vida de ambas — disse, dirigindo-se para a p orta.

Gregg moveu-se para dar passagem, sorrindo da cena. Cassandra


gritou angustiada:

— Volte aqui, Frank !

Tânia correu atrás dele, que parou e s e voltou às gargalhadas.

— Tenho as duas na mão, não tenho? São duas marionetes nos meus
cordéis.

— Você é um cabeçudo, sem-vergonha — acusou Tânia, com raiva por


ter revelad o o quanto precisava dele.

Para reafirmar seu poder, Frank colocou os braços ao redor dela,


beijando-a. Naquel a situação, ela não fez nenhum mov imento de repulsa,
pois el e podia atravessar a porta e, dessa vez, não vol tar mais. Frank foi
em direção a Cassandra e a bei jou ta mbém. Tânia deu um olhar furtivo para
Gregg. O olhar gel ado que receb eu f ez c om que tremesse. Ele realmente
pensava que ela es tava a fim de roubar Frank de sua irmã? Não confiava em
sua integridade?

Havia muito mais em seus sentimentos para com este homem,


embora el e f osse um estranho, do que apenas afeição ou mesmo atração.
Desejava agradá-lo, fazê-l o admirá-la como uma mulher desejável.

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— Então não se incomoda se mudarmos para o campo? São apenas


trinta quilômetros daqui.

— Por mim está bem.

— Então, está tudo combinado? — disse Gregg, ainda na porta.

Tânia tentou passar, mas ele bl oqueou a saída.

— Então, o sócio d e uma irmã e namorado da outra con cordou com o


arranjo. Está tudo bem.

— Sim, está acertado — resp ondeu el a irritada. — Por q ue está s endo


tão sarcástico? Agora, pode me deixar passar?

Ele se moveu para o lado, vagarosamente, seguindo-a com o olhar. O


remorso tomou conta dela. Não tinha o direito d e ser desagradável com o
homem que as estava ajudando tão generosamente.

— Eu, eu não sei c omo agradecer, sr. Barratt.

— Eu sei como — interrompeu Cassandra, fazendo um aceno para


Gregg se aproximar.

Sorrindo, abaixou- se e abraç ou-a, en quanto ela, carinhosa, bei jou o


rosto del e.

— Não se incomoda, não? — perguntou Cassandra em dúvida.


Pousando as mãos nos braços da cadeira, Gregg encarou seu rosto red ondo
e confiante.

— Como posso me incomodar? Sabe de uma coisa? Acho que você é


uma pessoa maravilhosa, uma pessoa em um milhão. Alegre e otimista na
adversidade, séria e honesta. A lgum dia será o s ol n o céu da vida de algum
homem de sorte — completou Gregg levantando o rosto encabulado de
Cassandra.

Tânia olhava para fora, pela janela. Cada palavra de admiração e


elogi o para Cassandra era como uma garra de animal selvagem cravando-se
em seus sentimentos.

Não devo s entir ciú mes, disse a si mesma. Ciúme implica sentimentos
profundos, como a feição ou amor. Nã o poss o me apaixonar por um homem
como esse.

Ficou combinado que Gregg viria buscá-las na sexta-feira seguinte.

— Vocês p odem pa ssar uma ou duas noites lá. Para s entir o ambiente
e ver s e gostam do lugar.

Num dos dias em que trabalhava com Frank, ele hav ia dit o:

— Tenho pensado na sua nova situação. Quando esti ver instalada na


casa de Barratt, p odemos tentar arrumar serviço naquela área. Teremos
melhores op ortunidades naquele bairr o chei o de mansões . Podemos anunciar
no jornal local. Você bem podia pedir ao seu senhor para cochichar nosso
nome aos amigos dele.

Projeto Revisoras 28
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Você é um oportunista — acusou Tânia enquanto lanchavam no


terraço da casa onde estavam trabalhando.

— Ah, é? — disse Frank malicioso. — Como a dona da casa está fora,


vou aproveitar a op ortunidade agora mesmo para...

— Me deixe em paz, sim, Frank? Ainda vai magoar Cassandra com


essas atitudes.

— Eu faço o que q uero. Como já diss e, você tem que da nçar a minha
música, srta. Foster — disse, imitando Gregg.

— Deixe o sr. Barratt fora disto.

— Então é assim? O assunto é tão del icado?

Tânia recriminou-se por ter col ocado mais uma arma nas mãos dele.

— Não, não é — mentiu. — Ele é apena s um bom homem e...

— Você está certa. Ele é mesmo um homem, pelo modo como a pegou
outro dia. Divertira m-se, não? Nunca pensei que você f osse desse tip o.

No dia em que Gregg devia aparecer, Frank fez um comentário sobre


o silênci o de Tânia , enquanto trabalhavam juntos. Ela esteve pensando em
Gregg todo o tempo! Sua oferta de u m lar para ambas tinha deixado Tâni a
confusa.

Não importava quantas vezes ela d izi a a si mesma para aceitar o fato
e ser agradecida. A questão era "por quê?" A tod o momento relembrava a
maneira que ele ti nha de olhar para ela e esse p ensamento a t onteava. Não
podia esquec er como o c ontato com ele despertava seus sentidos ,
amedrontando-a com sua força, obrigando-a a corresponder de uma forma
que a excitava e c hocava ao mesmo tempo. Com Cassa ndra ele era gentil ,
sempre elogiando o caráter firme que ela possuía. Para ela, nem uma
palavra de carinho. A maior parte do t empo a olhava com zombaria e crítica.
Por quê? Ela, que tinha esperad o h oras na chuva p or um freguês que
comprasse apenas uma pintura. Afinal de c ontas, fora ela quem trouxera
Gregg para suas vidas...

Nessa tarde foi logo para casa. Queria estar o melhor possível
quando Gregg chegasse.

Quem sabe, se eu usar alguma coisa realmente femini na, ao invés


desta velha calça jeans e desta cami seta, el e vai me ol har com admiração
como olha para Cas sandra?

A irmã a recebeu como de c ostume, com seu s orriso doce. Suas


palavras é que f ora m uma surpresa:

— Não precisa se p reocupar com as minhas coisas. Decidi não ir. Você
é mais do que suficiente para examinar a casa. E não adianta insistir. Estou
trabalhando num novo quadro, e não quero interromper.

— Não posso deixá -la assim... — protestou Tânia. — Qu em vai tomar


conta de você?

Projeto Revisoras 29
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Pedi à sra. Yardley. Ela disse que ficaria satisfeita em me atender,


caso eu precise d e alguma coisa.

— Bem, se está tão segura de não querer ir; e se ela concorda em


ajudar, se for preciso...

— Vamos, pergunte a ela. Eu sei que ela está em casa.

A sra. Yardley era uma viúva simpática, com um jeito capaz e


decidido, que s e c uidava e s e vestia muito bem, mesmo quando estava em
casa.

— Vá e div irta-se, srta. Foster — diss e animada. — Voc ê merece um


descanso. Nunca vi uma jovem trabalh ar tanto.

Pelo visto, Cassandra não tinha dito a ela o motivo pelo q ual Tânia ia
passar o fim de s emana fora, o que parecia s ensato. Ela provavelmente
acharia a casa de Gregg pomposa demais para elas.

Quando Tânia volt ou para baixo, Cassandra disse:

— Frank prometeu que virá me ver se eu ligar para ele. Nós... nós
não ficamos a sós há séculos. Desde que estive no hosp ital. — A incerteza
da voz de Cassandra continha um apelo que tocou o cora ção da irmã.

— Estou certa de q ue Frank virá. S e n ão aparecer até a hora de eu ir,


ligo para ele e digo que você está aqui inteiramente por s ua conta.

Tânia tomou um banho rápido e trocou de roupa, pondo um vestido


justo, sem mangas, cinza. Um casaquinho de mangas compridas completava
o conjunto, e um colar de contas de madeira dava um toque original.

Fez uma maquilagem leve, acentuando os olh os esverdeados. As


longas pestanas foram reforçadas e as sobrancelha s bem delineadas ,
ressaltando o l oir o dourado d e seu s cabelos. Estes f oram escovados e
penteados até caír em macios sobre os ombros.

Esta, pensou reflet ida no espelho, é uma garota que Gregg Barratt
nunca viu. Será que el e ia s orrir com sinceridade, s em aquele toque de
cinismo que pareci a estar sempre presente quando olhava para ela?

— Lindo! — exclam ou Cassandra quando a irmã entrou n a sala. — Tão


certo como não pos so andar, Gregg vai se apaixonar por você de cara!

Tânia sorriu, agradecida, mas com uma ponta de tristeza pelas


palavras céticas de Cassandra sobre si mesma.

Por insistência da irmã, Tânia descrevia os motoristas dos carros que


passavam. Porém, antes mesmo de o carro surgir diante dos olhos de Tânia,
Cassandra anunciou:

— Ah, ele ch egou. Conheço p elo r onco do motor.

— É isso mesmo! — Tânia exclamou, c orrendo para a porta.

O sorriso para recebê-l o morreu no mesmo momento. Gregg não


parecia se achar bem-vindo. Séri o, apenas saudou-a de leve com a cabeça.

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Seus olh os examin aram a roupa dela mas se aprovava ou não ela não soub e
dizer.

Tânia o acompanhou até a sala e, diante de sua frieza, voltou para a


janela. Ele ainda estava com as roupas de trabalho, embora essa descrição
dificilmente f i zesse justiça à sua elegância. Tânia não entendia a atitude
dele a o entrar.

— Sentindo-se culp ada por ter sido surpreendida no ato?

Tânia demonstrou não entender.

— No ato de me esperar — disse, ex aminando-a com atenção. — Ou


esperava a lguém mais importante?

— Na vida dela não existe ninguém mais importante que você —


afirmou Cassandra firmemente, sabendo a quem ele s e referia.

— Posso deduzir por essa afirmação que estou em primeiro lugar na


vida de sua irmã? — perguntou, rindo.

— Depois de mim, sim — respondeu Cassandra orgulhosa.

— Cassandra Foster — ameaçou Tânia, movendo os punhos como um


lutador —, se está querendo briga...

— Tânia gosta d e você — continuou a irmã. — Passou a s emana toda


ocupando-se para não pensar, porque voc ê não estava por aqui. H oje,
então, não conseguiu sair daquela janela.

— Obrigado, Cassandra — disse Gregg.

Gregg aproximou-s e de Tânia c om a cabeça baixa, olhando em seus


lábios:

— Então sou o seg undo na sua lista de favoritos?

— O primeiro na lis ta dos dez mais — antecipou-se Cassi e.

Tânia tentou se afa star, porém havia a janela atrás dela.

— Irmãzinha, olhe bem — disse Gregg —, porque vou beijar a srta.


Tânia Foster à força.

Cassandra ria, deli ciada.

— Vou cobrir os olh os com as mãos. Avisem quando terminarem.

Subitamente Tânia viu-se em seu braç os, sentindo-s e como recolhida


de um naufrágio, no qual estivesse em perigo há muitos dias. O a lívi o f oi
tão grande que não houve resist ência. Ele l evant ou o queixo del a,
murmurando:

— Olhos verdes, profundos como d ois lagos, c laros e inoc entes e


ainda cheios de segredos. Um rosto i nteligente, fascina nte e adorável. Qu e
mistério haverá por trás disto tudo p ara ser capaz de fa zê-la tirar o homem
da sua irmã?

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Tânia sentiu-se c omo que mergulhada em água gelada, se apegando


desesperada a um barco virad o. Tentou escapar, porém os braços del e
rodeavam seu c orpo e a apertaram com tal força que ela quase não pod ia
respirar.

— Fala doce sobre minhas qualidades, depois faz ac usações, diz


grosserias e mentiras sobre meu caráter — esbravejou ela. — Que espera
que...

Não houve tempo para dizer mais nada. A boca de Gregg cobriu a
dela, pressi onando-a contra el e e t ornando-a consciente como nunca de sua
presença. Por f im ela c edeu s elvag emente, abrindo os lábios e s entindo em
todo corpo a prem ência de seu des ejo. S e el es est ivess em sozinhos nesse
momento, pensava ela, se não houves se ninguém presente...

— Posso olhar agora? — A voz d e Cassandra trouxe Tâni a de volta à


terra, e afrouxou o abraço de Gregg.

— Uau! — exclamou Cassandra. — Como o s enhor sa be beijar, sr.


Barratt! Faz isso com todas as mulheres ou Tânia é a número um da sua
lista das dez mais?

— Sua irmã est á sempre tentando nos unir — disse Gregg,


procurando escapar da resposta. — Será que ela tem algum motivo?

Ainda recuperando-se do bei jo, T ânia quase não entendeu a


insinuação de que Cassandra procurava afastar Frank do domínio dela.

— Está claro que você acha que ela tem. Pois Cassie está errada e
você também. Agora, por favor me dei xe ir.

— Estão nessa de novo? — Frank estava na porta. Virando sua


cadeira, Cassandra exclamou:

— Frank querido, me bei je c omo o sr. Barratt beijou Tâni a.

— Pare de me forçar, Cassie — respondeu Frank brincando e indo


para ela. — Eu sou novato! Eles t êm muita técnica.

— Não seja sarcástico com o sr. Barra tt. Acho que el e é maravilhoso.

Frank olhou de Cas sandra para Tânia.

— Então são duas a achar.

— Oh, mas eu amo você — sussurrou Cassandra. Ele i a ofer ecer o


rosto, porém ela o beijou na boca.

— Prometo praticar — el e brincou, — Aí, quando voc ê estiver melhor,


estarei apto a beijá -la como amigo. Juro que você vai s e divertir muito mais
do que sua irmã.

— Quando será que estarei melhor? Não sei quando isso vai
acontecer, nem como. — A alegria sumiu de seu rosto e ela olhou duvidos a
para as pernas.

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— Há dias atrás você d isse que eu tinha lhe traz ido esperança —
disse Gregg, chega ndo-se a ela. — Onde está ela?

Cassandra sacudiu os ombros.

— Espero que ainda me reste alguma.

— E coragem?

Ela meneou a cabeça.

— Ótimo, esperança e coragem são o melhor remédi o. Agora, onde


estão as malas? — disse, olhando em volta.

— É só a minha. Cassandra decidiu não ir.

— Espero que não se zangue comigo — desculpou-se Cassandra. —


Estou numa fase decisiva de uma pintura, e dois dias longe dela vão m e
tirar a inspiração, se entende o que di go.

— Isso não acontece à um artista criativo — respondeu G regg —, mas


compreendo. Não vou me of ender, não. Mas quem vai cuidar de você? —
perguntou, olhando para Tânia.

— A sra. Yardley, daí de cima. Ela foi enfermeira e agora está


aposentada.

— Frank também vai vir me ver, não vai?

— Se voc ê quiser, é claro que venho, Cassie — Frank fal ou sem jeito,
na sua falta de tato.

Cassandra, apesar do esforço que f azia para disfarçar, notou seu


pouco-caso. M eio p erturbada, perguntou:

— Ora, se não quer vir me ver, OK. — Sacudiu os ombros. — Eu não


me importo nem um pouco.

Frank se aproximou rapidamente de Ca ssandra.

— Querida, é clar o que eu v irei. — Desmanchou os c abelos d ela,


fingindo brincar. Beliscou seu queixo e beijou seus lábios .

Tânia pensou, acid amente: Dever cumprido. Depois, se deu conta de


que Gregg olhava f irme para Frank, que não tirava os ol hos de Tânia. Uma
pedra de gel o seria mais quente se comparada com o olhar de Gregg.

O acesso à casa de Gregg era feito p or uma estrada estreita. O carro


longo e largo roç ava na cerca viva em ambos os la dos. Se outro carro
aparecesse, não p oderia passar. Preocupada com o ap arente descuido com
que Gregg dirigia, não se conteve:

— Suponho que esta estrada é particular.

Ele acenou que sim .

Projeto Revisoras 33
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Isto explica es sa sua pose de "lorde do castelo". Nada, nada


mesmo pode s er melhor do que o privilégi o d e p ossuir uma imponente
mansão e as terras ao redor.

Uma rápida virada de cabeça e ela p ôde ver a expressão magoada no


rosto del e. Assim mesmo, olhando em frente, ele s orriu e disse, irônico:

— Tenho recebido muitas coisas de minhas hóspedes, porém nunca


tamanha petulância. Isso vai provocar uma mudança na situação.

Virando a direção p ara a esquerda disse:

— Caso esteja esperando um castelo majest oso, vai ter uma


decepção.

O carro passou através de dois port ões de f erro, já a bertos. Tudo


indicava que ele es tava sendo esperado. A pista para a entrada principal era
circular, tornando fácil a chegada e a saída.

— Mesmo assim, é uma casa bela e aconchegante — comentou Tânia.


— Veja as chaminés das lareiras e a c umeeira cor de ti jolo.

O carro parou debaixo de uma arcada, na qual, um pouco recuada,


havia uma pesada porta de madeira. Os olhos dela exa minavam a fachada,
notando as janelas pequenas.

— Isto tudo está pedindo para ser pin tado.

Gregg sorriu, descansando o braço no encosto do banco.

— Procurando neg ócios? O s eu faro decorativo v ê uma chance para


seu talento?

— Não disse com essa intenção. — Fez uma pausa. — É como se el a


estivess e abrindo os braços. Parec e que está recepc ion ando seu dono. —
Seus olhos s érios olhavam nos dele.

Tânia sentiu as ba tidas do coraçã o s e apressarem. Bas tava que ele


apenas olhasse para ela para que todos os seus instintos reagissem
imediatamente.

— Está certa de que não é você que está sendo recepcionada?

Seus cabelos loir os balançaram quando contemplou a cas a.

— Pode ser isso, si m. Mesmo sem ter entrado, sinto isso.

— Um bom sentimento.

Tânia concordou e virou-se para ele, s orrindo.

— Estou feliz — ele respondeu, mas não sorriu.

Um homem apareceu na arcada e f oi ao encontro deles . Gregg f ez


uma saudação e ajudou Tânia a sa ir do carro. O homem tirou a maleta e a
bolsa a tiracol o da mala do carro.

— É só isso, sr. Barratt? — perguntou respeitosamente.

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— É uma hóspede diferente, G eorge. Tudo indica que ela gosta de


viajar sem peso na bagagem. Aposto que a maleta con tém uma escova d e
dentes e nada mais.

— Esqueceu de mencionar a pasta de dentes — resp ondeu Tânia


prontamente. — Também uso uma camisola para dormir.

Gregg e seu empregado trocaram ol hares de cumplicidade e ele riu


alto.

— Uma mulher prevenida va le p or duas... estamos quites srta.


Foster?

O hall de entrada era espaçoso, com painéis de madeira. Uma larga


escada em curva levava ao segundo a ndar. O sol entrava através das largas
janelas, as quais, Tânia achava, tinham sido colocadas muito depois da
construção original.

Uma mulher franzina, de cabelos gri salhos, veio de uma das portas
que se abriram para o hall e Tânia sor riu para ela.

— Sou a sra. Casey — apresentou-se. — George, a senhorita já viu, é


meu marido. Aproveite sua estada, srta. Foster. Soube sobre sua irmã. É
uma pena. O sr. Barratt vai encontrar um jeito d e faz ê-la andar novamente.
Ele vai m over c éus e terra, acredite.

— Tânia! Aqui! — A voz de Gr egg soava autoritária. A sra. Casey


indicou onde ele es tava e Tânia f oi juntar-se ao dono da c asa, na janela.

— Que l indos ja rdins! — exclamou. — Que v ista! Está tudo


florescendo.

Imediatamente, ela se lembrou da vist a da janela em sua casa.

— Aqui não há ruído de tráfego. Somente paz e tranqüilid ade.

Gregg olhava para ela. Seus sentidos agitaram-se. O efeito que um


simples olhar causava nela era alarmante.

— Minha casa passou pela censura?

Ela sorriu, meneando a cabeça, Gregg continuou:

— Lá fora você di sse que sentia c omo se o lugar esti vesse abrindo
seus braços. Pode sentir o mesmo aqui dentro?

Tânia olhou ao r edor, procurando a resposta.

— Vi apenas uma pequena parte da casa. Preciso olhar tudo antes de


chegar a uma conclusão. — O sorriso esfriou com a resp osta.

— Então tem que ver cada parte de tu do e de t odos antes de conclu ir


se deve ou não apr ovar os braç os que vão te envol ver?

— Já que insiste em levar para o lad o pessoal, não pos so negar que
jamais estive nos b raços de um homem como voc ê. Sei que Cassandra diss e
que tive muitos n amorados, porém, acredite ou não, nunca me envolv i

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profundamente com nenhum deles. E, se pensa que tenho um caso com


Frank, nas costas de Cassi e, está erra do, muito errado sr. Barratt.

— Acho que já é t empo de você me chamar de Gregg, Tânia.

— Não vai ser fácil. Chamo apenas meus amigos pelo primeiro nome,
porém...

— Então você não me vê como amigo?

Tânia olhou-o séria . Observou os ombros largos que pareciam fortes


o sufici ente para arcar com os prob lemas dela, al ém dos del e. Os braç os
poderosos nos quais podia perder-se. O queixo firme e forte demonstrava
sua determinação. Como podia ela cha má-lo de "amigo"?

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C A P Í T U LO I V
— Não? — perguntou Gregg com o olhar zombeteir o.

Ele parecia seguir a trilha de seus pensamentos, às vezes


ultrapassando-a.

— Não. Mas vou tentar chamá-lo de G regg.

— Como voc ê pen sa em mim? Como sr. Barratt? Ou nem pensa em


mim?

— Claro que penso em você. Como Gregg.

— Muito bom, isso ajuda, não?

Não vou olhar para ele ag ora, pois deve estar com aquele sorriso
sarcástico, ela pen sou. Então, desviou o olhar.

— Jantar pronto em meia hora, sr. Barratt.

Ele agradeceu.

— Tânia, quando quiser posso mostra r seu quarto.

— Gregg... — A pa lavra sugeria tanta intimidade para s er dirigida a


alguém cuja posiç ão ex igia r espeit o... Assim mesmo, repetiu: — Greg g,
você costuma trocar de roupa para o jantar? Quero dizer, voc ê insiste em
etiqueta?

O sorriso que recebeu aqueceu-a tanto quanto o s ol d os trópicos. Por


um instante, parecia o mesmo sorriso que ele dava a Cassandra. O charme
que seu olhar irra diava c om aquela cor fascinante t irou sua respiração.
Como seria bom se ela pudesse preservar todo esse encanto pelo resto da
vida.

— Você se zangaria se eu dissess e que sim?

— Em casa nós chamamos de jan tar, chá ou ceia. Eu não me


incomodo às vezes de mudar meu jeans e minha camiseta. Cassandra fic a
como está. Veja, s omos bastante informais.

— Não. prec isa fica r na defensi va com igo, minha linda Tânia. — S eus
dedos correram p el o seu queixo, l evan tando seu rosto. — De que tem medo?
De que voc ê e sua irmã tenham que viver lutando contra meu modo de vida?

— Isso mesmo. — Havia nela um involuntário gesto de rebeldia,


porém Gregg viu i sso como um convite e não resistiu . Deu dois rápidos
beijos em seus lábi os que log o se abri ram para ele.

Projeto Revisoras 37
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Estou esperando por mais!, pensou ela, e soltou-se c om um arranco.


Ele sorriu levemente e Tânia desejou poder ler seus pensamentos como ele
parecia ler os d ela. Gregg volt ou ao as sunto do jantar.

— Para mim, você parece bem como está. Contudo, minha profissão
me coloca em uma escala s ocial que tenho que seguir, embora de baixo d a
pele eu seja um homem simples.

— Você é s imples d e coração.

— Isso mesmo, como dizem os d e su a idade.

— Simplesmente não acredito em você.

Ele tomou isso como um desafio, e a segurou pelo braço. A sra.


Casey surgiu na porta.

— Posso mostrar o quarto à srta. Foster?

— Não me provoque de novo f eiticeira, ou vai se arrepender — disse


Gregg baixinho, en quanto seguiam a governanta.

O quarto que a sra. Casey deu a Tâni a era vizinho àquel e em que sua
irmã iria ficar, quando fosse morar lá. Tânia agradeceu e a sra. Casey diss e:

— Agora, com lic ença. Tenho que servi r o jantar.

Tânia olhou para o teto com olhos profissionais, nota ndo o branco
manchado. As paredes também precisavam de nova p intura.

— Fazendo uma estimativa dos custos do serviço? — Greg g estava na


porta, apoiado no b atente.

— Isso mesmo. Vai custar milhões.

— Sei que a casa está precisando d e algumas coisas, mas não creio
que pôr tudo em ordem vá me levar à falência.

— Faço um preço especial para você.

Devagarinho, com as mãos nos bolsos , el e foi se aprox imando.

— Uma garota linda, uma cama, um preço especia l e... um homem


desejando aceitar.

Tânia foi s e afastando, e se encost ou na janela. Gregg, segurando-a


pelos braços, pressionou-a contra o ba tente.

— Não quis di zer i sso — ela protestou, empurrando-o com força para
se soltar, e, ao inv és disso, ap enas conseguindo encostar mais seu corpo a o
dele.

— Está entre dois infernos — ele di sse rindo, malic ios o. — Se não
gosta de meu contato, afaste-se e s e machuque.

Com as mãos espalmadas em seu peito, Tânia olhava- o nos olh os.
Seu coração bateu mais forte ao senti r suas pernas em contato com as dele.

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— Qualquer que seja minha opção, vou me machucar — disse Tânia,


não se importando se el e a entendia b em.

— Quer dizer que vou machucá-la. Física ou moralmente?

— De ambos os modos, Gregg. — Ela estava c onfiando demais em si


mesma, e enroscando-se cada vez mais em uma rede da qual sabia q ue
seria difíci l escapar. Virou o rost o di zendo:

— Desculpe-me, Gregg. Não quis di zer isso.

Ela voltou a cabeça e sua boca aninhou-se na dele. Num momento,


seu corpo estava colado ao del e. S uas mãos agarraram-se aos ombros
largos com sel vageria, como s e tivessem subitamente encontrado as tã o
ansiadas estabilidade e segurança, mais necessárias desde que a
responsabilidade d e cuidar de uma irmã inválida se somara a seus deveres.

Uma batida leve na porta deixou-a mais tensa, e suas mãos passaram
a empurrar ao inv és de puxar. Sua boca ainda estava presa e o turbilhão
desse contato aind a não tinha se acalmado, quando a sra. Casey anunciou:

— Sr. Barratt, srta. Foster, o jantar está servido.

Vagarosamente, a pressão diminuiu e os lábios dele dei xaram de se


mover. Ele olhou p ara a cama e disse, mansamente:

— Um dia, alguém conhecera bem a s atisfação e a tranqüilidade que


você p ode oferec er como mulher.

As palavras dele pr ovocaram uma inexplicável moleza em suas pernas


e o estranho des ejo de f icar em seus braços. Porém era necessário
recuperar a razão a todo custo. Então, ela disse:

— Está me fazendo um elogio?

— Você sabe que estou.

— Não, necessariamente. Pode estar me colocando numa categoria


diferente de mulher.

— Não abuse do meu controle! Está sugerindo que gostaria que eu a


tratasse como uma profissional da ca ma, com pagamento à vista?

Um calor subiu ao rosto dela.

— Sinto muito. Essa, eu mereci.

— Você merecia mais, creia. Ag ora va mos tratar de jantar, sim?

Para surpresa de Tânia, durante o jantar o ambiente estava mais


ameno. A convers a correu sobre o serviço dela com Frank e outras
amenidades. Quando já estavam tomando café, aconchegados no sofá d a
sala, el e perguntou:

— Diga-me. Como aconteceu isso de uma garota com suas qualidades


se envolver num serviço de pinturas?

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Sempre fui a que decorava a casa.

— Tanto por fora c omo por dentro? — Ele observava seu perfil.

Com dificuldade, Tânia manteve o rosto de lado, para que ele


continuasse contemplando sua pose reta e natural, admirando o delica do
contorno de seu rosto e o c onvidativo desenho de s eus l ábios.

— Não tenho medo de subir escadas ou de alturas.

— Como eu prev ia, a razão sempre aci ma das emoções.

— Sim, a inteligência acima dos sentidos. É uma coisa que sempre


cultivei.

— Nisso eu acredito, pois intel igência você tem de s obra. E que


combinação! Belez a, talento e intel ig ência. Não admira que seu sóci o reaja
daquele jeito quando voc ê está perto.

Tânia ia negar a afirmação com um suspiro, porém calou-se. O que


adiantaria? Ele nunca iria acreditar nela. Podia ver com s eus próprios olhos
como Frank se comportava, mesmo diante da garota de quem ele era o
suposto namorado!

— Você é médico, Gregg — disse, nu m impulso. — Quando Frank me


olha de um certo modo, ou quando p ega minha mão à f orça, como fez out ro
dia, o que acha que posso fazer? Pôr a mão dele na boca e morder? Ele
provavelmente tom aria isso como sina l para avançar. Qualquer coisa que eu
faça dá no mesmo, não dá? Você entende; além de médico é homem. Nessa
situação, que poss o ganhar? E assim, para você, nã o p asso de uma rel es
ladra de homens.

Ele a encarou, mas ela, confusa e ma goada, curvou a cabeça.

— Digamos que, para ser exato, você nunca o afasta, certo?

Ela quis di zer a verdade, de como tinha medo de que Frank a


deixasse sem trab alho, começando um negócio soz inho e causando dois
problemas: um financeiro e outro emocional, para Cassandra, que seria
destruída. Perguntou-se se Gregg a creditaria nisso. A resposta foi não,
então nem tentou. Sacudiu os ombros, dizendo:

— Tem toda razão. Eu nem sequer empurro Frank.

Gregg virou a cabeça, baixando os ol hos, pensativo. Ta l vez ref letiss e


sobre a d esonesti dade das mulheres, pois a maneira como ela t inha
respondido era, p or si só, uma acusação.

— Preciso dormir, Gregg. — Seu sorri so aborrecido e um ar exagerado


de cansaço o convenceram.

Na porta do quarto dela, Tânia perc ebeu inconsci entemente que o


jeit o alegre d e Gregg tinha mudado, Se el e foss e beijá-la ...

— Durma bem, Tânia — foi tudo o que ele c onseguiu di zer.

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Ela acordou ced o e fic ou na cama g ozando d o si lênci o e da paz do


campo. Os rai os de sol , cada vez mais fortes, começaram a entrar por
frestas entre as pesadas cortinas. A cantoria dos pássaros fez com que ela
fosse, descalça sobre os tapetes, abrir as janelas. Sua esperança se refez
com as cotovias, e com o azul-claro d o céu.

Depois d o café, Gr egg a l evou para u ma volta pela casa. Ela perdeu a
conta do número de quartos. El e expl icou seu pla no de reforma, s ua
intenção de instal ar banheiros em alguns quartos, transformando-os em
suítes.

— Onde está pensando colocar as pinturas de Cassandra? —


perguntou Tânia enquanto percorriam a casa.

— Ainda estão guardadas. Quando a reforma estiver completa, acho


que vou col ocá-las na sala principal.

Satisfeita, Tânia c oncordou. Já na parte de baixo, Gregg perguntou:

— Bem, qual é o veredito?

— Sobre o estado da casa? — Meneou a cabeça, mei o encabulada. e


sorriu. — Bem, est á precisando de um decorador de prim eira classe.

— De Foster & Anderson?

— Mas claro! Todos os outros são inf eriores.

— Pelo d escaramento, você e seu s óci o merecem o trabal ho.

— Você diz, assim? — E estalou os dedos.

— Certo. Qu er que eu assine um contrato, por acaso?

Fingindo pensar no assunto. Tânia disse:

— Acho que vou confiar na sua palavra de cavalheiro.

Ele se aprox imou devagarinho, dizendo:

— Quantas vezes b eijei você? Fui um cavalheiro? — E sorriu.

— Foi sim, porque você. .. você sabe q uando parar.

— Não conte sempre com isso, Tânia. — Ele cheg ou perto o sufic iente
para pegá-la, mas apenas murmurou: — Arranhe minha pele e você va i
despeitar um animal selvag em, que pulará em sua garganta.

Com os olhos nos olhos dele, ela moveu vagarosamente as mãos para
seu pescoço, e subitamente oito dedos curvados fingiram arranhá-lo. As
mãos dele apossara m-se de seus pulsos, torcendo-os para trás.

— Depois dessa pr ovocação estudada, quer que eu acredite que você


é intocável?

— Nunca pedi que acreditasse em nada.

— Nem que acreditasse que Frank Anderson fosse s omente seu sóci o?

Projeto Revisoras 41
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Torcendo os pulsos , ela cons eguiu solt á-los.

— Espero que acredite nisso. O que chama de provoca ção foi nada
mais que uma brincadeira.

— Se quer brincar, eu s ei muito b em como fazer. Não é preciso


procurar isso com o namorado de Cas sandra.

O ódio fuzil ou nos olhos de Tânia.

— É melhor eu volt ar para casa.

Ele a segurou cortando seu caminho para a porta.

— Fiz plan os para nós. Esta tarde vou lh e mostrar a região e os


arredores de casa, e esta noite va mos jantar fora. — Ele começou a
acariciar seu pesc oço, tentando acal má-la. — Eu já di sse como voc ê está
linda? Esse vestid o realça seu rosto e seus cabelos.

Tânia não sabia se ele fal ava para agradá-la ou se estava sendo
sincero, porém seu s olhos brilharam, agradecidos.

— Ainda bem que gostou.

— Gosto muito mais da moça dentro dele.

Gosto, palavra n eutra e imparcial, pensou Tânia. Ela sabia que o


vestido melhorava muito sua aparência. Quando o comprou, tinha levado
cerca de uma hora escolhendo. O tec ido era de um azul-noite, estampado
com florz inhas brancas. As mangas chegavam ao pun ho e um drapeado
circundava o decot e. A saia, em contraste, era reta, e ca ía, muito feminina,
até os pés.

— Você trouxe um agasalho? — perguntou Gregg.

Solen emente, ela sacudiu a cabeça.

— Tenho recei o de que meus antigos namorados n unca foram


suficientemente ric os para me dar uma estola de p el es.

— Não brinque comigo, Tânia. A menos que esteja pronta para as


conseqüências.

— Sim, oh, sim! — foi a gozadora resposta. Foi sa indo pomposa,


dizendo: — Vou buscar meu casaco.

Jantaram em um restaurante cujo ambiente fez com que Gregg


olhasse Tânia com olhos amoros os, ao que ela correspon deu com um sorriso
sedutor. A música era suave e s ensual. Luzes multicoloridas corriam pelo
teto, e lanternas vermelhas, amarelas e azuis iluminava m colunas ao redor.
Parreiras se tranç avam através d o forro, vindas das colunas dos cantos
sombreados.

Tânia mexia a colher, fazendo refl exos brilhantes se moverem e


mudarem de lugar. O garçom veio e o pedido foi feito.

Uma jarra de água vei o para a mesa e Gregg encheu o copo de Tânia.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Ela agradeceu e levantou o copo, observando as luzes dançantes


através del e.

— É como estar bebendo bolhas col ori das — disse, alegre.

— Dão um brilho multicolorido a s eu s olhos — acresc entou Gregg. E


coloc ou o braço n o encost o da cad eira dela, sussurrando: — Você é uma
linda mulher, Tânia.

— Seu mundo deve estar chei o de lindas mulheres — respondeu


Tânia, desejando que a luz suave escondesse seus sentimentos.

— É mesmo? Por quê?

— Você deve atrair mulheres como uma montanha atrai alpinistas.

— Então, agora sou uma montanha? — perguntou, rindo alto.

Sim, ela p ensou, uma montanha inatingível. Se eu morasse aqui,


viveria atormentada vendo você todos os d ias, amando você e t endo que me
manter a distância.

Mas Gregg exigia u ma resposta.

— Uma montanha muito alta, inconquistável, escarpada. Remota,


coberta de neve e muito gelada — ela acabou dizend o.

— Ah, gelada? Gost aria de mostrar o quanto sou gelado...

Nesse momento, o jantar foi servid o. A comida estava ótima e o


vinho que Gregg t inha pedido era excelente. Tod o o t empo conversaram
sobre o trabalho de Gregg e a infância de Tânia. No café, ambos estavam
silenci osos e ela s e deu conta de quanto tinha adorado aquela noite c om
Gregg. Afinal, ele q uebrou o sil êncio p erguntando:

— Você acha que Cassandra vai gostar de viver aqui?

— Ela vai adorar. I sto vai incentivá- la como artista.

— E a irmã dela?

A pergunta confundiu um pouco Tânia que, embaraçada, riu:

— Eu? Oh, eu não sei ainda.

Ele não disse nada. Ela desenhava círc ulos na toalha.

— É tudo tão d iferente, o ambiente, a viz inhança — acabou


respondendo.

Estou mentindo, eu vou adorar, dizia p ara si mesma.

— E eu, o que vou fazer no meu tempo livre? Talvez possa ajudar a
empregada. — Ele permaneceu impassível , e ela acres centou depressa: —
Não, suponho que não.

— Vamos, está na hora de irmos — respondeu.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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O caminho de vol ta foi feit o em si lêncio, quebrado apenas pelos


carros que passavam- Quando entraram na estrada particular e pararam na
porta de entrada, o silênci o tomou conta de Tânia. Sua cabeça descansou
para trás e seus ol hos se f echaram. Paz de estar ao lad o dele, paz d e ouv ir
sua respiração ao lado... Esse momento foi interrompido quando ele,
inclinando-se para ela, rec oloc ou seu casaco, que tinha escorregado, sobre
seus ombros.

Era tarde e os em pregados tinham ido dormir. Gregg seguiu Tânia


escada acima. Fora de seu quarto, ela parou:

— Obrigada e boa noite — disse.

As mãos dele a seguraram pelos ombros. Ele a virou e a encaminhou


para dentro do quarto. Parecia que Gregg estava preparado para ficar e
conversar. Ou — seus olhos procurava m os del e — el e ti nha outra coisa em
mente?

As mãos dele a seguraram pelos braços. Ela sentiu sua firmeza e


convenceu-se d e que se algum dia precisasse dele como médico, teri a
inteira confiança. Os dedos dele desl i zaram pelo seu pescoço, até chegarem
à nuca. Ela começ ou a respirar c om di ficuldade, suas mã os crisparam-se na
saia.

As mãos dele s e m oviam para baixo e para cima, por todo seu corpo.
Finalmente acharam seus sei os, e c omeçaram a acariciá-los em concha. El a
aceitava tudo, pas siva e languidamente. Ele abaixou a cabeça, pousando
seus lábios na nuca dela em seu ponto mais sensível .

Todas essas carícias, suas mãos em concha sobre seu seio, a levaram
a tal ponto de sofreguidão que desejou correr os dedos pela maciez dos
cabelos dele, encostar seu rosto naquele p eito e ped ir que el e fi zess e amor
com ela.

Finalmente as mãos dela s e movera m, pousando em seus ombros.


Como ele ainda a a pertava, ela o emp urrou, pondo distância entre eles. Que
aconteceria s e diss esse: Eu quer o voc ê, Gr egg. Fui t ola o bastante para m e
apaixonar por você?

— Que é isso? Por que está tão af lita ? — perguntou baixinho. — S ei


como acariciar uma mulher.

— Com a experi ência que voc ê deve ter, eu não estou nada surpresa.

— Está sendo sarcástica?

— Estou certa de que essa é a verdade.

— Sou de sangue quente, então, o qu e esperava você?

Essas palavras ativaram suas mãos, que o empurraram para livrar


seu corpo daquele abraço potente e enlouquecedor.

Ele deixou-a retira r suas mãos, aí segurou seus pulsos, apertando-os


como se tivesse g arras. Levantou as mãos dela contra a luz, observando
suas unhas. Fechando depressa os ded os, ela d isse, s e defendendo:

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— Não posso fazer nada sobre minhas unhas. Trabalho duro para
ganhar a vida. Não se pode pintar paredes com luvas.

— Que foi que eu disse? Você realmen te acredita que eu penso o pior
de você porque tem que suportar as marcas do seu trabalho? Que tipo de
homem pensa que sou?

— Uma montanha — repetiu ela, t entando fazer graça.

— Ah, sim. Como o alto de uma montanha — tentou lembrar —,


escarpado e gelad o. Pois vou mostrar como sou gelad o.

Em seus braços havia um santuário de segurança e força. Havia ainda


um prazer maior, quando sua boca cobriu a dela, em temporário aconchego,
buscando doçuras ocultas. Ela correspondia, mas não importava o quanto
desse de si , pareci a não satisfazê-l o.

Suas coxas amolec eram ao sentir as pernas dele t ocando as dela, e


sua mão em seus cabelos. Então a mão se moveu, procurando sua
feminilidade, acari ciando sua pele com esquisita sensação, e movendo- se
torturantemente, provocando em seu corpo um desejo que a colocava à
beira da rendiçã o. A razã o chamou-a debilmente para que impusesse su a
vontade. Daria a este homem o que estava claramente desejando? Mesmo
quando ele achava que ela estava tirando o namorado da irmã inválida, e
diante de seus próprios olhos?

Gregg sentiu-a afrouxar, mudando de atitude. Afastou-se um pouco, e


seus olhos chei os de paixão pareceram estranhamente desligados. Tudo
quanto ele se p ermitiu de seu aparente desapontamento foi um curto
suspiro rapidamente controlado.

— É sim — disse ela, com voz trêmula —, você tem muita


experiência.

— Resultante, em parte, como voc ê disse, da exp eriência e, em


parte, do conhecimento que tenho da anatomia feminina.

— Você faz tudo parecer tão horrivel mente clínico, quando deveria
ser quente, espont âneo e cheio de amor.

— Muito bem. Daqui por diante vou agir diferente. Vou começar
dizendo: Tânia, eu te amo, está bem?

— Assim não — respondeu áspera. — Nunca diga isso se não estiver


sendo sincero.

Ele ficou ali por uns instantes, ereto, diferente e inteira mente fora do
seu alcance. Esticou o braço, e, com u m jeito dos d edos, coloc ou seu d ecote
no lugar.

A manhã de domin go foi cheia d e um sol brilhante. Por ser o começo


da primavera, o t empo estava bastante quente. Ela tom ou seu caf é s ozinh a,
pois parecia que Gregg tinha levantado cedo e saído. Sentia-s e algo
esquisita ao sentar na mesa de jantar e esperar para ser servida por uma

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empregada. Quando a sra. Casey entrou, ela deu um sorriso e comentou o


quanto a comida lhe parecia apetitosa .

— Beba seu suco de laranja, querid a — disse a velha senhora, e


sumiu.

Estava com apetite, e a sra. Cas ey, recolhendo a louç a, comentou


que devia s er o ar do campo. O caf é, feito na h ora, estava exc el ente, e ela
tomou duas xícaras.

— Sozinha e s olitár ia. Uma infel iz com binação.

A voz veio por detr ás dela. Tânia virou-se para ver Greg g na porta do
jardim, pois as du as portas da sala estavam abertas. Ele entrou, e fic ou
diante dela, c om as mãos nos bols os, camisa azul-es curo desabotoada e
calça justa com aparência impecável, cuidadas que eram pela sra. Cas ey.

A empregada entrou, dizendo:

— Já terminou, srta. Foster? Ah, bem, quando saírem eu limpo tudo.


— E voltou para a c ozinha.

— Venha cá — Gregg ordenou, estican do a mão para ela.

Sem hesitação, Tânia agarrou-a e acompanhou-o feliz p ara o jardim.


Lá passaram a manhã. Havia um p equeno chafariz, gramados macios e
verdes como esmeraldas. Flores de cores brilhantes coloriam os canteiros e
as cercas, e os bancos eram mantidos sempre brilhando.

Atrás de uma cerca havia um área, a qual, Gregg explicou, pretendia


converter numa piscina. Ele olhava a área larga e r etangular, cheia de
pedras e mato. Seus olhos estavam distantes, como se em sua imaginação
estivess e vendo a piscina pronta, com água azul tremulante.

— Vai ser ótimo para Cassandra, quando vocês duas vierem vi ver
aqui.

— Nadar não vai fazer mal a Cassandra? — ela perguntou.

— Não, depois de certo tratamento, que você vai sab er qual será.
Natação ajuda a fortalecer os músculos.

— Vai ser maravilhoso para ela, se.. . isto é, quando e se pudermos


economizar dinheiro suficiente. Voc ê, comprando todos os quadros, nos
ajudou muito Gregg.

Ele olhava para a área intocada. Ela também quase podia ver a
piscina, ouvir as risadas, o borrifar da água e os gritos de felicidade d a
recém-libertada Cassandra. Havia apenas uma coisa naquela visão do
futuro. Ela, Tânia, não estava lá.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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C A P Í T U LO V
A empregada levou o café para o jardim. Gregg tinha colocado uma
poltrona de jardim para Tânia. Cabeça para trás, ela relaxou o corpo com o
sol da primavera acariciando seu rosto. Depois , Greg g deitou-se em um
tapete sobre a grama. Com as mãos atrás da cabeça, olhava as nuven s
brancas movendo-se majestosamente pelo c éu. Quando a sra. Casey veio
buscar a bandeja, Gregg disse obrigado, sem se mover. Subitamente ele
chamou Tânia:

— Venha para cá.

— Não, obrigada. Esta cadeira é c onfortável demais para que eu saia


daqui.

— Pare de s e c omportar como a gra ciosa senhora da casa. Venha


para a terra, a terra dura. É mais saudável para sua colu na.

— Não estou me fa zendo d e graciosa senhora da casa!

— Prove isso — ele provoc ou.

Rapidamente, pegou seu tornozelo. S eu contato era tão perturbador


que um choque correu pela sua per na. Deu uma torcida no pé t entando
soltar-se da mão dele, porém foi puxada sem misericórdia.

— Não — gritou —, se eu cair de cima da cadeira vou machucar


minha coluna, você deve saber muito bem disso.

— Então venha aqui para baixo comig o.

Não houve esc olha. Ela juntou-se a el e no tapete.

— Você sab e que eu não teria puxado o bastante para q ue se ferisse


— disse Gregg sorrindo.

Suas palavras fi zeram com que ela tentasse ficar longe dele, p orém o
aperto de seu braç o era tão f orte que não a deixava esc apar.

— Agora tenho você onde queria, e va i ficar aqui!

Eles estavam estendidos lado a lado e Tânia gostaria de correr os


dedos pela sombra negra ao redor d e seu queixo e fac es. Ao invés disso, ele
disse:

— Vamos, me faça um carinho.

Ela sorriu sem compreender. Ele pegou sua mão e passou-a pelo
rosto. Com olhos d e desafio, perguntou:

— Vamos, faça a inevitável pergunta: Você esqueceu d e se barbear?


A resposta é não. Não esqueci d e me barbear. Estou num fim de semana

Projeto Revisoras 47
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tendo uma mulher como companhia, então achei que pod eria voltar ao meu
estado de homem primitivo.

— Homem primitivo, que idéia excitant e — ela pr ovoc ou-o, rindo.

Os olhos d ele bril haram com o desafio, e Tânia riu de novo. Ela
passou levemente a mão sobre a negra aspereza do s eu rosto e correu o
dedo entre a boca e o nariz, movendo-se finalmente para traçar o arco da
sobrancelha. O si mples ato de tocá-lo tão intimamente fez com que seu
coração desandasse. Seus dedos latejavam ao simples toque de sua pele.
Quando sua mão penetrou nos pêlos de seu peito, correndo por el es até qu e
outro botão da ca misa se abrisse, el e agarrou seu pulso, puxando-a contra
ele.

— Isso é o máxi mo que um homem pode suportar — murmurou,


rouco. — Eu disse me toque e não me enlouqueça. Voc ê tem idéia do que
está fazendo?

— Não — ela respondeu, mas seu sorriso diz ia sim.

Gregg rolou por cima dela e prendeu seus braços pelos pulsos, acima
da cabeça. Sua boca explorava a del a novamente, com o se cada vez ele
pudesse descobrir novos sabor es.

A pressão s obre s eu corpo lhe dava uma sensação de agonia, p ois


tinha que se controlar para não corresponder da maneira que seu amor por
ele a impelia a fa zer.

— Gregg, meu querido! Você está tão frustrado que não pôde esperar
pela minha volta? — A voz estranha soou algo imperiosa :

Os membros tensos de Gregg relaxaram-se instantaneamente, porém


sua boca ainda prendia a de Tânia. Quando finalmente ele s oltou s eus
lábios, ela deu um suspiro profundo pela intrusão na privacidade dos dois.

O avis o era bem c laro na voz femini na e diz ia: mantenha-se fora,
propriedade particular, pensou Tânia.

A mulher que falava vestia um tomara-que-caia estampado e calça


branca muito justa. Seus ombros nus eram sardentos, bem como seu rosto,
debaixo dos cabelos vermelhos perf eit amente penteados.

Sua figura é espalhafatosa, pensou Tânia, e, ainda mais,


inacreditável. Não achava outras palavras.

A recém-chegada não aparentava ser o tip o de Gregg, contudo


parecia que el e lhe pertencia e, mais ainda, que ela o c onsiderava tod o seu.

Até onde Gregg concordava com a ati tude possessi va da visitante era
difícil de d eterminar, uma vez que permanecia apoiado nos cotovel os, e
aparentava não ter a mínima intenção de se erguer, para uma polida, ou
pelo menos c ordial, atitude de recepçã o.

— Eu esperava você para o jantar, não para o almoç o — el e diss e,


olhando-a de uma forma que Tânia teve vontade de lh e dar um pontapé. —
Pensei que você es tivesse d e serviç o esta tarde.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— As coisas estava m folgadas por lá, então meu substituto concordou


em fazer meu turno na enfermaria.

Isso queria dizer, Tânia calculou, que ela era uma enfermeira,
possivelmente a en fermeira-chefe. Tâ nia ficou de p é, ten tando em vão alisa r
sua camiseta amarrotada. Porém nada nela indicava qu e Gregg a t ivess e
tocado.

A visitante, evid entemente, não pensava assim, pelo pouco-caso com


que olhava para as roupas de Tânia. Quando o olhar atento chegou ao rosto
da aparentemente rival, ela era t oda uma fúria reprimida.

Gregg olhava d e uma para outra. Sorria, bem-humorado.

— Linda, não é, Lola? — Deu um rápido olhar para Tânia. — É


inteligente. A única coisa que ainda não fez — olhou para Tânia, depois para
Lola e de novo para Tânia — foi entregar sua virgindade. Contudo — sorriu
ante a raiva ev iden te de Tânia —, estou trabalhando para isso.

— Divirta-se antes de se casar, querido — disse Lola, i ndo para ele.


Passou o braç o at rás do dele, olhan do-o d e frente. — Porque d epois vou
mantê-lo amarrado a mim pelo resto d a vida.

— Como fez com seu ex-marido?

Lola deu um safanão no braço de Greg g.

— Você é um demônio, Gregg Barratt. Sabe muito b em que meu


marido arranjou outra. Sabe por quê? Pelas horas intermináveis que
trabalhei a seu lad o, na sala de cirurgia.

Ele olhava com um sorriso cínico, e el a, como se quisesse esbofet eá-


lo. Sua raiva precisava ser descarregada em alguém, então ela virou-se
para Tânia, que ali sava os cabel os.

— Onde encontrou este adorável esp écimen? — p erguntou com um


olhar irônico.

— Vai acreditar se eu disser q ue foi vendendo pinturas no


acostamento da estrada, debaixo de u ma chuvarada?

— Só podia s er... — resmungou Lola.

Tânia se afastou e el e não a s eguiu. Encontrou o chafariz, e não se


importou com a água que espirrava em seu jeans. Afinal era uma calça
velha. Nesse mom ento, estava convencida de que, por mais que desejasse,
Gregg Barratt jamais seria seu.

— Bem, o que é q ue está havendo? — A pergunta foi feita num tom


razoá vel, p orém mesmo assim Tânia não pôde responder com a razão. Suas
emoções estavam em total confusão.

— Por que não me disse que era noivo?

— Eu, noivo?

— Essa mulher, Lol a, disse iss o.

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— Disse? Não a ou vi di zer nada sobre compromissos.

— Está desconversando...

— E você está c om ciúmes.

Eles estavam de p é na sala de estar e Gregg tinha na mão um copo


de cerveja.

— Ciúmes? — exc lamou Tânia, incr édula. — S e t em alguém com


ciúmes aqui, é a sua colega — acrescentou, em tom defensivo. Ela sequer
podia pronunciar o nome da mulher.

— Lola? E por que ela estaria com ciú mes?

Provavelmente, pensou Tânia, porque el e estava se di vertindo com


ela. Ness e caso, Lola não precisava s e preocupar.

— Você não teria ciúmes — insistiu — se encontrasse a mulher que


ama nos braços de outro homem?

Ele pareceu pensar no assunto, observando-a, absorto, e Tânia quase


sentiu novamente seus braços a o redor dela, a pressã o dele esmagando-a
contra o chão. Sentiu também a mesma onda reacender seus desejos.
Gorando profundamente de seus próprios instintos, ela se virou, querendo
esconder del e a ânsia que seu olhar ti nha provocado.

— Sim — r espondeu finalmente. — Ficaria com u m ciúme tão


primitivo que facil mente esquartejaria o homem e a mulher, membro por
membro.

Tânia percebeu qu e o tom duro em s ua voz nã o era imaginação dela.


Um tremor sacudiu-a pela vi ol ência ex pressa na resposta.

— Não cumpriria uma ameaça dessas, não é? — Ela fez a pergunta


com voz fraca, mas não recebeu resposta.

Depois do almoço, quando Gregg a l evava de volta para casa, Tânia


sentia uma aguda sensação de exp ectativa. Pelo menos, era o que diz ia a s i
mesma. Um sentimento de desânimo i nexplicável.

— Você está muito silenci osa.

— Desculpe — ela r espondeu sem perceber o cansaço em sua voz.

Ele olhou-a rap idamente. O que Greg g teria percebido c om esse olhar
frio e prof issional?, pensou Tânia. Dep ois de algum tempo ele p erguntou:

— Já sabe quando vai dei xar o apartamento?

— Vai levar algum tempo para encontrar um inquilino.

— Se for o caso, p osso até arranjar a lguém que est eja precisando de
uma casa.

Tânia agradeceu, percebendo que tudo se encaixava, quisesse ela ou


não.

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— Tânia! — exclamou Cassandra agitada, quando ela entrou em casa.


— Oh! Tânia! — Ol hava para a irmã c heia de expectati va . — Diga-me, o qu e
achou? Como é a c asa de Gregg?

Tânia beijou a irmã, embora Cassandra estivess e muito impaciente


para saudações.

— Você o trouxe! Então é porque tudo deve estar bem. Gregg, é tão
bom vê-lo. Pintei, e pintei, até f icar sem material. Você tem que ver o que
produzi. Passei tod o o f im de semana...

— E Frank? Esteve aqui? — perguntou Tânia.

— Frank? Ele vei o me ver, sim. — Sua voz sumiu, assi m como a cor
em seu rosto. — El e veio uma vez, por alguns minutos...

Cassandra deu um profundo suspiro e levantou os braç os:

— Gregg, oh, Greg g!

Ele se abaixou e el a se dependurou em seu pescoço.

— Encontre um jeito de me curar, de me pôr de novo em pé e, aí sim,


Frank vai me amar de novo.

Aquela noite, Cass andra foi dormir cedo. Na cama ao lado, Tânia
meditava sobre tudo o que tinha acontecido. Dep ois do c omovente apel o de
Cassandra, Gregg tinha encontrado carinhosas palavras de conforto.

Embora tivessem se sacrificado bastante a fim de juntar dinheiro


suficiente para o tratamento de que Cassandra necess itava, tinha sérias
dúvidas quanto a Cassandra voltar a andar. Suspirando, coloc ou de lad o os
problemas e caiu no sono.

Tomavam o café da manhã quando Frank apareceu. Despenteou os


cabelos de Cassandra, embora soubesse que ela odi ava isso, e d eu um
ligeiro bei jo em seu rosto.

Ela desviou o rosto e el e diss e, em tom afetado:

— Parece que não estamos em nosso melhor dia, hoje, h ein?

Cassandra continuou tomando o café, aparentemente calma.

— Estamos de mudança para a casa do sr. Barratt. Próximo sábado.


Não precisamos mais de você.

Frank observou-a e chegou-se para perto de Tânia, que estava pronta


para o ataque. A um gesto de Frank, ergueu o braço, mas isso só fez com
que a mão dele esbarrasse em seu pescoço e el e imediatamente se
aproveit ou. Os dedos dele se movera m pela linha de seus cabelos. Ela se
virou, furiosa por t er sido tocada, e por ele ter feito iss o diante da irmã.

— Então não precisam mais de mim? — Ele sorria.

— Deixe-me em paz — gritou Tânia.

Projeto Revisoras 51
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Oh... — Encaminhou-se para a porta. — De agora em diante,


Anderson & Foster não existe mais. S erá Anderson, somente Anderson.

— Frank! — Tânia estava histérica. — Volte aqui!

Ele voltou.

— Mude de idéia — disse ele, pondo a mão no pescoço de Tânia de


novo.

Ela olhava para Cassandra, que ainda tomava teimosamente seu café.
Sentiu-se presa. Alguma coisa doía por dentro, em algum lugar. Então
julgou sentir exatamente o que um c oelho sente quando é apanhado numa
armadilha.

Repentinamente, Cassandra atirou longe a colher que usava e


manobrou a cadeira através da porta.

— Perdi o apetit e — disse, e d esapareceu no hall.

Tânia procurou a mão de Frank, e a empurrou para longe. Contou até


dez e recuperou s eu controle.

— Afinal, o que voc ê quer?

— Minha cara sóci a, há trabalho a fa zer. Duas resposta s, até agora,


aos folhetos que você distribuiu. Uma sala em uma casa e dois dormitóri os
em outra.

— Que ótimo, Frank. Por acaso você f ez os orçamentos?

— Fiz, e fech ei neg ócio. Vamos começ ar pelos quartos, h oje. O furgão
está aí fora a apen as algumas quadras daqui.

— Meio a meio, Fra nk?

— Condições normais — el e concordou.

Tânia foi buscar os apetrechos e c orreu pelo hall pa ra encontrar


Cassandra. Ela estava pintando quiet a e parecia ser ena como uma garota
apaixonada. Eu não imaginava, pensou Tânia, que minha irmã representasse
tão bem.

— Apareceu trabalho por causa dos folhetos. Não é f ormidável? —


anunciou Tânia.

— Ouvi Frank di zer. É sim, é ótim o. — Ela continuava atenta à


pintura, aos pincéi s espalhados na mesa ao lado.

— Não se preocup e comig o. A sra. Yardley me dará o l anche, como


fez quando voc ê es tava fora.

— Vou trocar de roupa. — Parecia que nada faria Cassandra olhar


para ela. — Você não percebe que não é culpa minha, Cassie?

Cassandra finalmente olhou para ela , porém sua expressão era tão
tocante que Tânia não pôde encará-la .

Projeto Revisoras 52
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Eles estavam traba lhando no menor dos dois d ormitórios da casa que
tinha contratado seus serviços. Já t inham feito a preparação inicial. A
mobília tinha sido removida pelo cl iente, e os carpet es, cobertos, para
proteção. Tânia ti nha retirado as c ortinas, pois algumas donas-de-casa
esqueciam desse detalhe. Juntos, ela e Frank tapavam rachaduras no
reboco, dei xando a parede plana e pronta para ser pintada.

Por algum tempo trabalharam em silêncio, e então Tânia disse,


acusadora:

— Você não cumpriu sua promessa de ir ver Cassandra enquanto eu


estava fora. Oh, sei que vai dizer que foi, mas apenas uma visita de dez
minutos em quase quarenta e oito horas! — E acrescentou: — Cassandra
está terrivelmente magoada, Frank.

— Olhe aqui! — Ele parou de trabalhar. — Sinto muito que ela tenha
sofrido um acidente. Sinto, também, por ela estar numa cadeira de rodas.
Ela é uma garota boa e l inda. Porém você tem que ent ender meu ponto d e
vista. Eu gosto de viver em movimento. G osto de dançar e sair. Será que el a
não entende? Eu gosto dela, porém , para mim, agora, ela é c omo uma
irmãzinha. — E continuou trabalhando.

Então é isso, direto ao ponto, p ensou Tânia com um aperto na


garganta. A vida não tinha sido justa para Cassandra. Porém, para Frank,
disse apenas:

— Então está bem , mas pelo menos me dei xe em paz quando ela
estiver pres ente, si m?

Ele atravessou o q uarto, com as mãos brancas do material que estava


aplicando.

— Deixar você em paz, queridinha? Eu tenho que pôr uma camisa-de-


força em mim mesmo para segurar estas mãos quando estou perto de você.
Você é lasciva , é desejável, prec isa saber disso. Tem tido homens
suficientes na vida, para saber disso. E não venha me dizer que nunca...

— Não, nunca — interrompeu. — Entende isso, Frank? E tem mais.


Estou me guardando até encontrar alguém a quem vou amar, realmente
amar.

— Ah, sei. É a irmã de Cassandra falando. Há tempos, ela me contou


a mesma história.

— Você pediu a ela para viver com você? Antes do acid ente, é claro.

— Está brincando? Claro que f oi antes do acidente.

— Ela me contou. Está bem, então somos do mesmo tipo.

— Por que não di z interesseiras? Aí estará falando minha linguagem.


Eu sei o que quer dizer. Desde que o cara tenha um belo carro e uma boa
conta no banco...

Ele se abaixou quando um pincel passou zunindo por sua cabeça.

Projeto Revisoras 53
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Olha aqui — avisou —, faça isso mais uma vez e será a última vez
que me verá. E se pensa que vou desistir de você só p orque aborreço sua
irmãzinha...

Nesse momento, a porta se abriu e a dona da casa entrou com uma


bandeja e duas xíc aras de café.

Trabalharam na casa até tarde, começando o segundo quarto.

No fim do dia, Tânia estava exausta. Frank deixou-a na porta da


casa, prometendo vir buscá-la na manhã seguinte.

Assim que abriu a porta da frente, sentiu que alguma coisa não
estava bem. Arrancou a jaqueta e correu para a sala. Cassandra não estava
lá. Já preocupada, foi até a coz inha, que estava vaz i a como a sala. No
quarto, viu a cadei ra de r odas. Estava vazia, e para Tâ nia foi a v isão mais
assustadora que podia ter. Para onde teria ido Cassandra?

Subiu as escadas correndo, chamando pela inquilina. A sra. Yardley


estava fora. D esceu correndo, espera ndo encontrar pelo menos um bilhete.
Quando estava no pé da escada, o telef one toc ou. Cor rendo para ela, el a
respondeu, sem fôl ego?

— Sim?

— Desde as cinco h oras tenho tentado fazer contato c om você.

Percebeu na voz um tom de reprimenda.

— Gregg? Olhe, eu não estava me divertindo, se é isso o que pensa.


Trabalhamos até tarde, pintando. Gregg, Cassandra sumiu. — Sua voz se
alterou. — Alguma coisa deve ter acon tecido a ela, alguém deve ter...

— Esse alguém sou eu mesmo. Estive aí e levei Cassandra embora. E


agora, o que vai fa zer?

— Levou Cassie embora? O que quer dizer com iss o? Você não pod e
raptá-la assim...

— Não posso ser ac usado de raptor, fui convidado a fa zer o que fi z.

— Está mentindo, tem que estar mentindo. Cassie jamai s teria feito
semelhante coisa s em me consultar.

— Tenho um monte de novidades desa gradáveis para voc ê — adiantou


Gregg. — No momento, você não é ex atamente a pessoa que ela mais ama.

— Quero falar com ela, Gregg. Sabe, parece que houve um


desentendimento entre ela e Frank.

Houve um momento de si lênci o.

— Sinto muito, sua irmã se recusa a falar com você. Pode dizer o que
quer.

— Não, fale você. — Tânia estava per to da histeria.

Projeto Revisoras 54
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Acho melhor eu explicar. Esta manhã, depois que voc ê saiu,


Cassandra me telefonou. Eu estava no hospital, em Lon dres, porém minha
empregada prometeu fazer contato c omigo lá. Saí da s ala de cirurgia um
pouco mais tarde, quando recebi o recado da sra. Casey. Liguei para ela e
fui informado que alguém chamado srta. Foster tinha telef onado e estava
muito nervosa. Ain da está aí?

— Estou — sussurrou Tânia.

— Chamei seu número e Cassandra respondeu. Ela me di sse que você


está deliberadamente tirando Frank Anderson dela, e que ela não pode mais
ficar olhando vocês dois brincarem, ao redor dela. Queria sair dessa casa,
para longe de você.

— Ela nunca disse nada disso antes — protestou Tânia.

— Bem, antes não havia ninguém com quem pudesse falar.

— Se ela s e sente dessa forma, devia ter me dito.

Não houve respost a alguma.

— Olhe, Gr egg — disse Tânia —, s ei que você não entende, nem ela
mas Frank e eu somos apenas sócios . Confi o nele p or muitas coisas, como
para fazer o trabal ho mais sof isticado, e el e c onfia em mim para as coisas
mais simples.

— Não precisa expl icar seu relacionamento com el e...

— Nós só temos rel ações comerciais, p elo amor de D eus, Gregg.

— Esteja pronta quando eu chegar, no sábado — ele interrompeu


secamente e desl ig ou.

No caminho para a casa de Gregg, Tânia quase não falou, a não ser
quando Gregg puxou conversa. Is so foi raro, pois o tráfego estava
congestionado e d irigir requeria atenção.

Tânia recordava qu e, quando tinha dito à inquilina s obre sua decisão


de juntar-se à irmã, na casa do sr. Barratt, a sra. Yardley havia falado:

— Conheço uma pessoa, srta. Foster, enfermeira como eu, que ficaria
muito satisfeita em poder alugar a parte debaixo da casa.

Gregg aconselhou Tânia a d eixar que a amiga da sra. Yardl ey


alugasse a parte de baixo por algum tempo antes de assi narem um contrato.
A sra. Yardley f icou radiante com a idéia.

Tânia, no carro, ai nda olhava a paisa gem quando se aproximaram da


vila próxima à casa de Gregg. As ruas estavam vazias e quietas. Ele deu a
volta, parou defronte da casa e desligou o motor. Sua mão cobria a de
Tânia.

— Uma palavrinha antes de entrarmos — disse.

Tânia pensou no que estaria para vir. Olhava à frente, apreciando a


beleza d o campo, ouvindo o vento zunir através das árvores.

Projeto Revisoras 55
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Diga-me — seu olhar era frio —, por não poder viver sem Frank
que você ficou assi m tão quieta desde que saímos?

Tânia suspirou, recostando-se no banco, e desejando poder esmagar


aquela mão sobre a sua até doer, para que ele entendesse a dor que suas
palavras provocava m.

— Nada que eu diga irá convencer voc ê, não? Então apen as deixe que
eu leve minha vida à minha maneira certo?

— Isto é um aviso: não estrague a vida de Cassandra também —


continuou Gregg.

— O que pensa que sou, afinal? Uma mulher que, sem mais nem
menos, tira o namorado da irmã, enq uanto ela f ica olha ndo, incapaz que é
de fazer alguma coisa?

Ele apoi ou o cot ovelo na direçã o e olhava para Tânia c omo se ela
fosse um estranho caso médico prestes a atingir um ponto crítico.

— Não tenho, por acaso, olhado por Cassandra noite e dia desde o
acidente? Não tenh o trabalhado duro para nosso sustento, ficando inclusi ve
em acostamentos c om qualquer tempo, vendendo os qu adros de Cassandra
para obter mais dinheiro para o trata mento? E você s enta aí e vem me dar
um aviso para não estragar a vida del a?

— Não estou critic ando seu amor por sua irmã, nem sua devoçã o e
lealdade. Somente sua moral.

— Minha moral? Você critica minha moral? — A fúria queimava dentro


dela. — Voc ê com aquela Lola, aquela mulher com quem vai casar, e fica me
beijando e bei jando... tantas vezes q ue até perdi a cont a...

— Ah, isso? O que é um beijo, af inal?

O descaso dele para com uma coisa que tinha significado tanto para
ela f ez Tânia engolir um grito de an gústia. Quando se acalmou, viu que
estava pronta a aceitar a verdade: não havia a menor possibilidade dest e
homem ser seu.

— Sua irmã está nos esperando — di sse Gregg quando entraram na


casa, depois dos cu mprimentos da empregada.

— Almoço em meia hora, sr. Barratt? — perguntou a sra. Casey.

Gregg concordou, abrindo a porta que levava à sala de estar.


Cassandra estava sentada na cadeira de rodas, perto da janela, absorta na
pintura. O ruído chamou sua atenção. Ele fez um gesto impaciente, dep ois
abriu um sorriso espontâneo. Uma l uz brilhou nos olh os esverdeados de
Tânia.

— Tânia! — Cassa ndra coloc ou de l ado o trabalh o e estendeu os


braços. O des entendimento afinal tinha sido temporário e já estava
aquecido. O abraç o foi l ongo e carin hoso, e quando Tâ nia olhou dentro d e
seus olhos, exclam ou:

Projeto Revisoras 56
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— É bom ver você com boa aparência e tão animada.

Cassandra sorria, feliz .

— Gregg é maravilhoso. Eu não tinha dinheiro para pagar pela minha


estada mas ele dis se que isso não t em importância.

— Vou dar um jeit o. — Tânia assegu rou, baixinho. — Vou procurar


trabalho por aqui.

— No seu tipo de trabalho não pode fazer nada sozi nha. Não vai
arranjar nada — disse Cassandra, puxando o caval ete.

— Eu sei. Por isso mesmo estou tentando falar com Frank.

Foi como se Tânia tivesse puxado u ma corda invisível . Cassandra


levantou a cabeça, parecendo que ia falar, mas não o f ez. Tânia entendeu
que os sentimentos da irmã não tinha mudado. Por trás de Cassandra, dois
olhos fri os a fixava m. Um tremor passou por Tânia.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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C A P Í T U LO V I
— Sabe que Gregg tem uma namorada? — perguntou Cassandra,
puxando conversa, quando foram dormir.

O coração de Tânia pulou, e ela disse a si mesma como era boba em


ficar chocada com tal afirmação. Cl aro que ela já sa bia que havia outra
mulher. Porém, não tinha levado a sério esse suposto compromisso com
Gregg.

— Eu já sabia — Tânia admitiu.

— Às vezes ela vem aqui com el e, quando saem do hospital —


confidenciou Cassandra. — Você sabe se ela trabalha com ele? — Tânia f ez
que sim com a cabeça. — Eu não gosto dela, sabe? — continuou Cassandra.
Quando deitou, seu s cabelos l oiros es palharam-se no travesseir o. — Ela me
disse que não há muita esperança de eu voltar a andar novamente.

Tânia tentou não encontrar seus olhos.

— Você acha que ela está certa? Por que, se estiver — mergulhou o
rosto no travesseir o —, eu não sei se quero continuar vivendo!

Lágrimas sacudiam seu pequeno corpo e Tânia correu para ela.

— Frank não gosta mais de mim, porém eu vivo di zendo: "Quando eu


ficar boa, quando f icar de pé novamente". S e eu não voltar a andar, ele va i
me odiar, me odiar...

Tânia apertava Cas sandra contra si.

— Que é isso.. . E stamos economiza ndo para o melhor tratamento,


não é?

— Não posso pintar para sempre. E se o tratamento não der resultado


de que adianta ficar economizando?

— Vou falar c om Gregg, Cassi e. Eu sei que ele vai f azer a lguma
coisa. — Tânia queria estar tão certa, quanto parecia, de que Gregg daria o
toque mágico que produziria a cura. Mas sua própria enfermeira-chefe não
tinha tirado toda a esperança?

Gregg estava na parte de baixo da casa, olhando pa ra o jardim


escuro, com as mãos nos bols os. Não se virou quando Tâ nia entrou.

— Gregg... — ela c omeçou.

— Ouvi toda a conversa. Estava no meu quarto trocando de roupa. É


em frente ao seu.

— Então sabe a pergunta?

Projeto Revisoras 58
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Sei — respondeu simplesmente, como Tânia esperava.

Tânia sentou-se em silêncio, brincando com a fina corrente em seu


pescoço.

— Cassandra está ficando desesperad a, Gregg. Por outro lado, nem


sonho em tra zer p roblemas para voc ê. Od eio tirar vant agem da posição d e
uma pessoa ou de seu contato, porém você é. .. voc ê é uma espécie de
última esperança.

— Vamos devagar... — Sua voz est ava irritada. — Para começar,


devol va a ela Frank Anderson.

Tânia sentou na ponta da poltrona, agarrando os braços.

— Eu não possuo Frank Anderson!

Gregg puxou uma poltrona para ficar diante dela e, sentando-se,


disse:

— Cada vez que fa l a com ele, suas rea ções quando el e a toca, mesmo
em público, desmentem essa afirmação.

Ela ia dizer: "É por outras razões", mas procurou palavras que
pudessem convenc ê-lo. Iss o importava?, pensou, amargamente, que não
importava o que di ssesse, Gregg c ontinuaria não acreditando. Mas, pel o seu
bem, ela tinha que tentar.

— Frank não tem nada comigo. Ele é um artista e, como tal, tem que
enfrentar várias barreiras em sua vida e no seu trab alho. Eu, por meu
lado... g osto de di v idir as coisas, e definir claramente os limites.

— E você faz iss o? — A inflexão c ínic a mostrou a inutilidade de seus


esforços, e como ele continuava não convencido da verd ade. — Então voc ê
gosta das coisas em seus lugares, ordenadamente, onde devem estar.

— É por isso que faço a pintura mais simples, trabalhos em madeira


lisa e sem estrias. — Ignorou o ar irônico dele. — Frank gosta de mexer em
cores, papel d e parede e materiais q ue causam impacto. Creio que é seu
lado espalhafatoso.

O corpo de Gregg estava imóvel, ma s seus olhos a seg uiam todo o


tempo, observando suas mudanças de expressão e movi mentos.

— Diga-me, como Cassandra foi cair na vida de Anderson?

— Ela o conheceu numa discoteca. Eu tentei av isá-la para não levá-l o


a sério...

— Talvez ela ti vess e pensado que voc ê falava p or querer Frank para
você mesma — argumentou, desafiando-a.

— Quer parar com essas insinuações de que sou ment irosa? Frank
não me diz nada.

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— Então quer que eu acredite que ca da vez que corre p ara el e é p el o


trabalho, como seu sócio? Vamos, T ânia, não sou um dos seus jovens e
ingênuos amiguinhos.

Exasperada com a intransigência, ela c horamingou:

— Quantas vezes tenho que dizer que preto é preto, até que pare de
chamá-lo de branco?

Tendo criado um caso com as emoções dela, e parecen do satisfeito


com sua façanha, Gregg relaxou. Seu s olhos passaram a observar o vestido
justo e o modo como ele d esenhava as curvas do corpo dela.

Tânia percebeu qu e havia d iante de s i um homem, a des peito da sua


impassível aparência de médico. Com eçou a lembrar quantas vezes esteve
em seus braços. Ele tinha dito, des aforado: "Af inal, o que é um beijo?"
Então, para ele, tudo não passava de um mero encontro de lábios.

— Vamos falar de Cassandra? — sugeriu. — Era o que pretendia fazer


quando a deixou na cama, não foi?

— Era o que queria. Foi você quem introduziu o irrelevante assunto


que é Frank Anderson na conversa — respondeu, amarga.

— Muito irrelevante, desde que isso não afete o b em-es tar emocional
de Cassandra! Em outras palavras, a solução desse p roblema irrelevante
será de grande aju da para fazê-la dec idir-se a se r ecuperar e vai assegurar
que qualquer tratamento tenha grandes chances de sucesso.

Tânia entendeu, concordando com um gesto.

— O que quer d izer que ela deve d esf azer qualquer l igação emoci onal
que tiver com Frank Anderson?

A despeito d e tão provocantes palavras, Tânia não se al terou. Gregg


pareceu irritado com seu silêncio.

— Está me entendendo? — perguntou.

Por um momento, permaneceram em silênci o. Então, Gregg disse, de


maneira profissiona l:

— Estou certo de que compreende que o caso requer ciru rgia.

Tânia concordou. O único sinal de nervosismo eram suas mãos


contorcidas.

— Como expl iquei, quando nos conh ecemos, ortopedia não é minha
especial idade. Contudo, tenho um amigo que é cirurgião-ortopedist a
consultor, e é meu colega no hosp ital.

As mãos ardendo, respiração ofegante, Tânia permanecia ouvindo e


esperando.

— Minha doce Tâni a — sua voz era m acia e acariciante, ainda que um
pouco autoritária —, se não se acalmar, vou ter que atendê-la por um
possível colaps o.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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Sua repreensão gentil funcionou, e el a sorriu, relaxando um pouco a


tensão. A t odo momento passava a l íngua nos lábios s ecos e, tremendo,
tirava o cabel o dos olhos. Gregg observava tudo com olhar clínico. Agora,
ele era o médico.

— Como estava di zendo, Gregg, o q ue temos não vai ser suficiente


para pagar o trata mento completo. Mas se Cassandra pintar mais alguma
coisa, e eu arranjar um serviço...

— Cassandra tem que ser examinada — ele continuou. — As fichas


médicas de seus tratamentos anteriores também devem ser examinadas.
Seu próprio médico tem que ser informado.

— Mas el e está em Londres. Ag ora es tamos vivendo aqui e ela vai ter
que trocar de médico, de qualquer for ma, não é?

Ele concordou.

— Isso tem tempo. O nome do cirurgi ão é Russell Mansfi eld.

— Ele é bom nisso?

— Um dos melhores na especialidade, Tânia.

Ele sorriu, e a cab eça dela rod opiou. Queria correr para ele, jogar os
braços em seu pescoço e agradecer. .. e d eixar todo o seu amor por el e
transbordar por seus lábios.

Olhando para longe, com medo de demonstrar seu segredo, ela diss e:

— Há ainda a questão do pagamento...

— Vamos deixar isso de lado por ora?

Ia protestar, quando viu recriminação em seus olhos. Suspirando,


disse:

— Tem sido tão b om para nós que eu simplesmente não sei c omo
agradecer. Nunca serei capaz de r ecompensá-lo por tudo.

— Ah, mas você pode, sim! — Sua voz era enganosamente macia. Ele
levantou-se e, seg urando sua mão, ordenou:

— Levante-se, Tâni a.

Ninguém desobedeceria tal ordem, d ada nesse tom. El a se l evantou


com uma expressão incerta, timidamente indagadora.

— Agora, bei je- me. — Diante de sua expressã o chocada,


acrescentou: — Bei je-me, c omo se eu fosse seu amante.

Se est e era o modo que Gr egg tinha escolh ido para d eixar que ela
agradecesse, então ela faria, de todo coração. Sorrindo, levantou os braços
e... de repente ac hou que não podia tocá-lo. Hav ia dentro dela um apelo
para que o fi zess e, mas não houve jeito, e ela não c onseguiu dominar sua
timidez.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— São aqueles limi tes de que fal ou? A quelas barreiras definidas estão
inibindo você?

Ela concordou, g rata por el e compreender. Quando ele fa lou


novamente, provou que, embora compreensivo, estava rejeitando a razã o.

— Vai ter que cruzar essas fronteiras uma vez. Não vai dormir esta
noite se não o fi zer. Entendeu bem isso?

Em seus olhos não havia ternura.

Com raiva, Tânia levantou os bra ços, desta vez pr endendo seu
pescoço. Ela ia beijá-l o, sim, pen sou, ia mostrar a ele que não s e
amedrontava com s uas ameaças. Cruzou os braços em seu pescoço, mas el e
não moveu a cab eça. Cheg ou a fic ar na ponta dos pés para incitá-lo a
chegar à sua boca. Gregg estava impassível, com os braços caídos ao lado
do corpo. Ah, sim, ela ia beijá-l o para tirar aquele sorriso sarcástico.
Quando pressionou seus lábios nos dele, um furacão de sensações jorrou em
sua cabeça. Ele tinha se curvado um pouquinho, o suficiente para el a
exercer maior pressão. Começou a ouvir pequenos gemidos, que, depoi s
notou, vinham de sua própria garganta. Ela tinha que f azê-l o corresponder,
para reconhecê-la como uma mulher desejável, l eva ntar seus braços e
apertá-la. Afastou-se um pouco, olh ou-o nos olhos e encontrou-o rindo,
zombeteiro. De novo sua boca buscou a dele e suas mãos se moveram,
correndo pelos cab elos d ele e, d e leve, pelo s eu maxilar.

Finalmente, os lábios del e se abriram e esmagaram-se contra os


dela... Seus braços a rodearam e, quando el e a esmagou contra seu corpo,
não encontrou resistência. Ela tinha atirado tudo para o alto no seu esf orço
para ser correspondida. Seu corpo ardia de desejo com a necessidade de s er
abraçada por ele, d e se perder nele, d e ser amada por el e.

Já esteve em seus braços antes, rec ebido s eus beijos, suas carícias,
mas nunca como desta vez. Sempre tinha sido a caça. Por sua própria
vontade seu corpo necessitava sentir o dele, a pressão de suas coxas e de
seus joelhos contra ela, seu p eito c omprimindo seus seios.

Ele afrouxou um pouco o abraço, e a mão dele encontrou o que


buscava, caminhando por suas macias curvas salientes. Seus lábios c orriam
pelas faces ardentes e el e disse, bei ja ndo-lhe o p escoço:

— Você quer minha ajuda para o tra tamento de Cassandra? — Tânia


disse que sim, en costada em seu peito, sentindo os pêlos de s eu peit o
penetrarem pela blusa. Os ded os em brasa de Gregg sobre s eu sei o
produziam um delírio insuportável .

— Vou ajudar, mas com uma condição — disse Gregg. — Você deixa o
mundo saber que é minha mulher.

O corpo de Tânia enrijeceu-se em seus braços.

— Isso é chantagem!

Tânia afastou-se d ele e começou a ar rumar o vestido. G regg passou a


mão nos cabelos e enfiou as mãos nos bolsos. Seus ombros largos, sua

Projeto Revisoras 62
Paixão e inocência – Lilian Peake
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aparente autoridade e a f irme curva da boca a int imidavam com seu


magnetismo irresistível.

— Entretanto, essa é uma das barreiras que tem que transpor, se


deseja ajuda para Cassandra.

— Nunca imaginei que um homem como você, no auge da profissão,


pudesse usar semelhantes artifícios.

— Que me di z da s ua tática, roubando o namorado da ir mã, enquanto


ela fica apenas sen tada, olhando?

— Há pouco, você deu a entender que me achava inocente. Como


posso estar tirando Frank de minha irmã?

— Talvez ele tenha sua própria tática para conseguir quebrar suas
barreiras.

A mão dela levantou-se para esbof eteá-lo, mas caiu de novo. Como
podia ferir fis icamente um homem que estava querendo a judá-la?

Com um olhar divertido, ele s eguiu seus movimentos, e ela entendeu


que, se tivesse s eguido seu impulso, ele teria rev idado.

Tânia sentou-se, d esanimada, porém Gregg agarrou-a pelos braç os e


sacudiu-a rudemente:

— Eu quero uma resposta!

Seus corpos s e t ocaram de novo e, ol hando dentro de s eus olhos, ela


percebeu o des ejo chegando, mas como um apetite de natureza puramente
sexual.

— Sem amor — murmurou ela, sua mão tocando a camisa entreaberta


—, você quer que eu seja sua mulher sem amor?

— Dê uma razão que seja para eu amar você.

— Tem razão. Não me ocorre nenhuma — disse, suspira ndo. — Como


vai se ref erir a mi m diante de seus amigos e col egas? Noiva? Promet ida?

— Vou me referir si mplesmente como "minha mulher".

— Mas isso é d egradante. Não quero ser "mulher" de nin guém!

— Nem pela saúde de sua irmã? — Havia um prazer s ádico em seu


sorriso.

— Não se pode fa la r com você.

Os olh os dela queriam aparentar despeito, mas apena s revelavam


admiração; seu desejo d e significar a lguma coisa para ele, e d e ser olhada
pelo mundo em que viv iam como a mulher com quem ele ia s e casar se
conflituavam em seu orgulho.

Projeto Revisoras 63
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Percebo que está lutando com suas rígidas barreiras, aquelas que
traçou em volta d e si mesma. Se espera minha ajuda, vai esperar para
sempre.

Tânia andou até a janela e olhou a esc uridão lá fora.

— Sua colega e a miga não vai gost ar — disse com a esperança de


que tocando sua consciência a respeit o de Lola ele voltas se atrás.

— Lola nada tem a ver com isto — el e cortou rápido o a ssunto. — No


presente, até que s e divorcie, está ainda casada.

— Nesse caso, por que, se eu concord ar com sua sugestão, não pode
me chamar de noiva?

Ele não deu s equer uma resposta. Tânia não podia ver a mágoa
patente em seu próprio olhar.

— Compreendo. Para você não importa o que eu sinta quando as


pessoas olharem para mim, depois para você e pensarem...

Tânia virou-se novamente para a escuridão lá fora. Através dos


reflexos no v idro, viu quando el e se aproximou por trás, sentiu suas mãos
pousarem suavemente em seus ombros, descerem até sua cintura,
alcançarem seus seios. Um relâmpago de d esejo atraves sou seu corpo e ela
lutou contra seu impulso de aninhar-se em seus braços.

— Afinal, o que a preocupa tanto? O fato d e ter que c olocar Frank


Anderson definiti vamente fora de su a vida? — Ela estava cons eguindo s e
manter impassível sob as carícias dele.

— Provavelmente eu já o perdi.

Tarde demais ela compreendeu que Gregg havia interpretado mal


suas palavras. Tinha entendido que, por causa dele, ela perdera Frank.
Tânia só perceb eu a confusão pel o modo como el e a empurrou para longe,
retomando ao centro da sala. Temendo que, por sua declaração impensada,
fosse retirar sua of erta, virou-se e cor reu para ele.

— Vou ser "sua mulher", Gregg — ela prometeu. — Isto significa


perder meu próprio respeito, mas pelo menos é por uma boa causa. Farei
tudo o que puder para que Cassandra recupere a saúde.

— Tudo? M esmo se eu insistir que você continue a fars a e venha a


ser minha mulher no íntimo?

Ela se perturbou, incerta novamente.

— Você não disse que isso estava incl uído no trato.

— Também não disse que não estava.

— Está me pedindo muito, Gregg. Eu gosto e respeito você. — Em


cima da hora cortou as palavras "amo você". — Des ejo muito que me
respeite, mas isso não vai acontec er se... se eu... Não, eu não posso fa zer
isso, Gregg. — Cob riu o rosto com as mãos.

Projeto Revisoras 64
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Ele se aproximou e virou Tânia para ele. As mãos em concha


seguraram seu rosto, inclinando-o para trás. Sua boca tocou a dela, d e l eve,
provocante, abrind o seus lábi os, e el e abraçou-a.

O desejo dela d e se aninhar nos braços del e, sua ávi da aceitação


daqueles bei jos, m ostravam muito mais do que ela queri a que ele soubesse,
isto é, que não se importava mais com nada. Queria ser "sua mulher", em
público, intimamente, no céu, s e foss e necessário.

No dia seguinte, Tâ nia acordou alerta, cheia de energia. O céu estava


encoberto, porém para seus olhos o dia estava brilhante. Gregg nada tinha
objetado quando ela disse que queria trabalhar para aumentar as
economias. Pref eri a também pagar pela manutenção de ambas, enquanto
vivess em naquela casa.

Era manhã de segunda-feira, e ela tinha que vê-lo antes que ele
saísse para Londres, Vestiu rapida mente uma jaqueta sobre o pi jama e
correu para o corr edor. A porta dele estava aberta, e el a entrou correndo,
certa de encontrar o quarto vazi o. Gregg estava vestind o a camisa. Quando
ela o v iu, parou.

— Veio dar um beijo de bom-dia ao "s eu homem"?

Perturbada pela visão máscula dos pêlos escuros do seu peito, o


estômago reto, a calça impecável pousada em seus quadris estreitos, ela
exclamou, perturbada:

— S... sim, não! Queria alcançá-lo antes que saísse para perguntar
como...

Ele não estava ouvindo. Caminhava para ela com um sorriso


enigmático. Sua camisa ainda estava aberta e um suave perfume de loção
masculina a invad iu quando os braços dele se fecharam ao redor d ela,
puxando-a contra si. O rosto dela não tinha onde encostar se não em seu
peito. Com impaciência, as mãos dele acharam o caminho para dentro do
pijama, rodeando s ua cintura nua e descansando em suas costas.

Excitada, olhou para ele, e foi aí que os lábios del e toca ram os dela.
Ela estava certa de que ele pod ia sentir seu corpo latejar, respondendo
loucamente às suas carícias. Vagarosas, suas mãos se moveram de novo.
Com um gemido rouco sentiu que elas rodeavam possessivamente seus
seios. Instintivamente, ela pressi onou-se contra o c orpo dele. Suas carícias
acenderam um fogo dentro d ela, q ue ameaçava cres cer e tomar-se um
pequeno inferno. El a suspirava:

— Por favor, Gregg, não faça isso. Ag ora não, por favor.

— Isso significa qu e posso c ontinuar mais tarde?

Ele examinava o rosto corado e os olh os brilhantes.

— Você está radian te, como se t ivéssemos passado a noite juntos.

— Eu... sou uma boa atriz, não sou? Estou representando


condignamente o papel de "sua mulher'', creio eu.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Representando coisa nenhuma — ele resmungou. — Poderia chamar


isto de real , se não soubesse de nada.

Tânia torceu o c orpo, lib ertando-se dele. Fechou s ua jaqueta,


apertando-a ao redor do corpo. Finalm ente, conseguiu di zer:

— Eu vim para falar com você, não pa ra dar a você uma oportunidade
de fazermos amor.

— Se eu tivesse t empo agora, pr ova ria o quanto está errada. Mas


estou muito atrasado — disse, olhando o r elóg io. — E tem mais — cortou
seu protesto antes que ela ti vesse c omeçado —, não me venha dizer que
não é culpa sua. Não devia t er se intr oduzido em meu quarto nesses trajes .
O que é que quer, afinal?

— Lembra que concordou que eu conti nuasse com meu trabalho?

Gregg meneou a cabeça, apressando o abotoamento da camisa.

— Lembra também que, quando vim passar aquele fim de semana,


concordou que dari a para mim e Frank o s erviço d e pint ura e dec oração de
sua casa?

— Hum... foi mesmo? — Seus olhos es tavam gelados.

Tânia sabia que a simples menção do nome de Frank iria irritá-lo.

— Sim, você conc ordou — ela insis tiu. — Estou cert a de que se
lembra disso. Estou pedindo sua p ermissão para falar hoje com Frank, d e
modo que ele pos sa vir e olhar a casa. Aí nós poderíamos fazer uma
estimativa e dar a você um orçamento de...

Gregg vestiu o pal etó.

— Faça como bem entender — disse friamente, e, passando por trás


dela, alcançou as escadas.

Tânia telefon ou para Frank e falou com ele pouco antes dele sair para
o trabalho.

— Estava aqui pen sando quando ia ter notícias de você. Como estão
Foster & Anderson agora que mudou de casa?

— Ainda ex iste — respondeu Tânia d epressa. — Tem mais, tenho um


serviço para nós. I sto é, se o sr. Barratt aceitar nosso orçamento.

— Quer dizer que o grande homem concordou em deixa r que eu dê o


ar de minha graça em sua casa? E, ainda mais, trabalhar aí? — Tânia n ão
respondeu. — Bem, quando posso ir?

Seria bem melhor, pensava Tânia, s e Gregg não estivesse em casa


quando Frank chegasse.

— Não desligue. Pr eciso fa lar com a sra. Casey.

A empregada estava ocupada na cozinha.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— O sr. Barratt não estará em casa nos próximos dias, srta. Foster.
Ele me avis ou es ta manhã que, depois do hospital, vai para o s eu
apartamento em Londres.

Retomando ao tel ef one, ela disse:

— Que tal esta tarde, Frank?

— Para mim, está bem. O doutor estará atendendo? — Ele falava


afetadamente, caçoando.

— Gregg vai estar fora, se é isso o q ue quer dizer, Frank. Tem mais
uma coisa que gostaria de pedir.

— Vai me pedir para não cobrar muito?

— Nada disso. É Cassandra, Frank — Tânia baixou a voz. — Por favor,


você poderia ser b om com ela? Faça com que pense que é a lguém espec ial .
Pode mimá-la um pouco? Ela... ela ain da gosta um bocado de você, Frank.

Houve um pesado s ilênci o do outro lado da linha.

— Gregg conhece alguém, um cirurgião-ortopedista que deverá fa zer


quase um milagre e col ocar Cassandra novamente em pé.

— Você quer dizer, como ela era a ntes? — O tom de Frank era
cuidadoso.

Exagerando um pouco, Tânia respondeu:

— Sim, de volta ao normal, andar de novo, c omo antes.

— E dançar? Ir a festas, divertir-se?

— Sim, Frank, sim.

Tânia sabia que es tava errada fa lando com tanto otimis mo, sobre a
recuperação de Ca ssandra, porém diz ia a si mesma que estava c erta, desd e
que isso trouxesse Frank de volta. De qualquer forma, Tânia tranqüilizava
sua consciência, talvez esse médic o seja mesmo tão competente que possa
fazer um milagre.

Agora que tinha concordado com as condições de Gregg, esperava


que ele entrasse l ogo em contato com o cirurgião, seu amigo, e que tudo
caminhasse depressa.

— Ok, vou ser bonzinho com ela. Vou dar beijinhos e segurar sua
mão e...

— Vai levá-la a dar uns passeios na cadeira?

— Está bem, isso também: Tudo para ter esse contrato.

Tânia achava que tinha sido convincente, pois ele havi a concordado
com seu pedido.

— Oito horas? — ela sugeriu. — A essa hora já devemos ter


terminado o jantar.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Jantar, hein? Agora estamos em altas esferas, não? — Tânia não


respondeu. — Então, esta noite, às oi to — repetiu Frank. E desligou.

— Tânia? — A voz de Cassandra vei o distante, do qua rto, e Tânia


correu para cima, para contar as novidades.

Frank chegou cedo. A empregada olhava o visitante com curiosidade.


Ele tinha melhorad o seus modos, bem como sua aparência, e s orria para a
sra. Casey, d eixando-a desarmada.

Este era o "outro" Frank Anderson que Tânia conhecia. O rapaz com
habilidade artística, e perspicaz, quali dade que escondia debaixo da imagem
de inconseqüente q ue gostava de projetar.

— Conte tudo — Ca ssandra ordenou, parando de pintar.

— Gregg e eu tivemos um entendimento.

Diante dos olhos ar regalados de Cassa ndra, acrescentou:

— Não é o que está pensando, Cassie. Bem, nem tudo.

Tânia não sabia até onde Gregg ia c hegar com aquilo de: "Deixe o
mundo saber que é minha mulher''.

— Mas, Tânia, isso é ótimo, só que...

— Cassie, por favor, vamos deixar es se assunto de lado? Cassandra,


amuada, comentou:

— Se é isso o que quer... Mas significa que, afinal, não há nada entre
você e Frank? — O alívio estava estampado nela.

— Nunca houve, Cassie. Nem do meu lado, nem do de Frank, e não


sei bem defin ir o q ue há entre eu e G regg.

— Mas existe alg o entre você e Gregg ... — disse c om um sorriso.

— Eu não sei, Cassi e, não sei.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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C A P Í T U LO V I I
Gregg esteve fora durante quatro dias. Para Tânia, as horas se
arrastavam. Não tinha nada para fazer, rodava por toda a casa, examinando
cada quarto, para ver quais os preparativos que s eriam necessários antes de
começar a pintura.

— Peça ao sr. Barratt para levar você a Ashdown Forest, qualquer fim
de semana — sugeriu a sra. Casey durante o café. — É um lugar muito
bonito. Por lá há gamos, não há, Geor ge?

O marido, que se preparava para ir trabalhar, acrescentou:

— Não só gamos, mas texugos, uns quatrocentos deles, sem


mencionar corujas, esquilos e raposas .

— Sabe de uma coisa? — acrescentou a sra. Casey. — Em dias claros


é poss ível enxergar a Torre d os Corr eios, em L ondres. Vai s er um pouco
difícil l evar a srta. Cassandra lá. Em alguns lugares, é difícil andar a pé!
Existem até crateras.

— Está bem_— disse Cassandra. — Eles vão, e eu fico pintando.


Deixo para ir quando puder usar meus pés. E um dia eu vou, você va i ver.

A sra. Casey concordou, veemente, embora estivess e avisada, como


os demais, que havia dúvidas sobre isso. Na quinta-fei ra, à tarde, Gregg
telef onou. A sra. Casey chamou Tânia.

— O sr. Barratt deseja falar com você, srta. Foster.

— Fala Tânia. — E acrescentou baixinho: — É bom ouvir sua voz.

— Vou voltar amanhã à tarde — dis se Gregg. — Estou levando meu


amigo Russell Mans field para jantar. Para ele c onhecer Cassandra.

— É maravilhoso, G regg! Posso contar a Cassandra?

— Por que não, se ela é a razão prin cipal dessa visita? Pode pedir à
sra. Casey para providenciar jantar para quatro, amanhã à noite?

— Frank esteve aq ui.

— Para quê? — Gregg ficou ríspido.

— Pedi sua permis são. Nós, isto é, Foster & Anderson, quero dizer,
fizemos um orçamento do trabalho a ser f eito. Frank precisava tirar a s
medidas dos apos entos. — Tânia d esejou que Frank tivesse feito a lgum
comentário. — É a penas uma estimativa inic ial. Quando você voltar e diss er
exatamente o que deseja pod emos lh e dar um orçamento completo.

Houve uma longa p ausa.

Projeto Revisoras 69
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Quer dizer que ele pretende estar aí neste fim de s emana?

Tânia ressentiu-se com o comentário, porém respondeu:

— Ele só virá quando for convidado por você.

— O que significa n unca, se isso for p erturbar Cassandra.

— Não, Gregg — T ânia argumentou, ansiosa. — Antes dele vir, pedi


que fosse espec ial mente gentil com Cassandra, e ele s e comportou muito
bem. Foi quase como se el e ainda tivesse sentimentos r eais por ela.

— É surpreendente o que um homem faz quando um bom dinheiro


está envolvid o.

— Por favor, não seja sarcástico. Você verá o que estou dizendo,
quando puder vê-los juntos de novo.

— De acordo. Vou apreciar o ator, bem como o artista que há nele.

Enquanto Tânia pensava em mais alguma coisa para dizer, el e


desligou. Na noit e seguinte, ela esc olheu seu vestido com cuidado. Optou
por um todo florido, sem mangas, abotoado até a cintura, com a saia caindo
em pregas laterais.

Cassandra pediu sua ajuda. Para ela, escolheram uma blusa azul e
branca, e um casaquinho para combinar. Tânia observou a irmã se
maquilando, tentando impedir que se empetecasse demai s. Cassandra não a
ouviu.

— Estou tentando parecer mais vel ha. Quero ser admirada, Tânia.
Tudo que um homem pode ver em mi m é o rosto, você s abe disso.

— Ah! Que é iss o? — Tânia passou o braço em seus ombros. — Ter


pena de si mesma não vai ajudar nada. Depois da última operação,
prometeu não se queixar porque já podia andar com as muletas.

— Talvez, mas você não sabe o que é s er alei jada.

— Agora, duas coisinhas, Cassie. Primeira: o sr. Mansfiel d certamente


é casado; e, segu nda: ele está interessado em você e em suas pernas
apenas no aspecto clínico.

— Puxa, você sabe como fa zer uma moça sentir-se b ela e atraente —
respondeu, fazendo beicinho.

Tânia sorriu. Ela mesma estava eufóri ca. Gregg estava c hegando!

— De qualquer maneira, aposto que esse sr. Russell é um velho, ou


que, pel o menos, está beirando os c inqüenta. E é careca ou grisalho.. . ou
ambos. — As duas riram juntas.

— Ainda bem — comentou Cassandra — que Gregg não está trazendo


a tal de Lola Buxton. Ela me disse que vai casar com ele.

— Ah! — Tânia fez cara de pouco-caso. — Você não sabe? A mulher


ainda está casada. Seu divórci o nem terminou.

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— Então está contando com os ovos.. . — disse Cassandra.

— Quer dizer, ela está contando com os Gregg. — Ambas riram de


novo.

Russell Mansfi eld n ão era nem grisalho nem careca. Estava, segundo
calculou Tânia, p erto da idade d e Gr egg. O que el e nã o possuía, em seu s
olhos azuis, era o mesmo magnetismo e a masculinidade arrogante de
Gregg.

Era um rapaz simpático, simples, c om olhos fác eis d e ler. S eus


cabelos c laros estavam caprichosamente penteados , s ua roupa era b em
cortada e suas maneiras, elegantes . Andava devagar e possuía um ar
equilibrado. Tânia o classific ou como um solteirão.

Quando cumprimentou Cassandra, sua mão pareceu a de um homem


que vai comprar uma bijuteria e descobre, na hora, que é uma rara obra de
arte.

Para surpresa de Tânia, um súbito colorido surgiu em seu rosto.

Vendo isso, e sentindo sua timidez, Cassandra disse, com


infantilidade, cumprimentando-o:

— Tânia e eu p ensávamos que fosse careca ou que tivesse cabel os


grisalhos. Graças a Deus você é jovem e simpático.

Tânia olhou rápido para Gregg, temen do que ele se c ontrariasse, mas
ele riu ab ertamente do c omentário de Cassandra. Como seu colega também
riu, todos ficaram à vontade.

Ainda sorrindo, Tânia olhou para Gregg. Apreciando o p razer que sua
presença lhe trazi a, revelando-s e por um brilho em seus olhos. N otando
isso, Gregg estend eu a mão para ela.

— Tânia? — Era um convite, mas ao m esmo tempo, uma ordem.

Era como se dissesse: "Mostre que é minha mulher. Estou cobrando


minha parte da troca. Faça a sua".

Ela hesitou por um instante, reparando que el e tinha notado. Quando


se aproximou, el e a puxou para perto. Os outros olharam, primeiro
surpresos, depois em dúvida. Quando Cassandra sorriu, Tânia viu que el a
tinha lembrado do "acordo" com Greg g. Russell Mansfiel d, contudo, olhava
meio embaraçado.

— Devo dar congratulações? — perg untou a Gregg. — Pensei que


estivess e envol vido com outra pés.. . — Olhava d epressa de um para outro.
— Esqueça isso. Tenho o mau hábito de meter o b ico onde nã o sou
chamado.

Tânia sabia que el e se referia a L ol a, pois trabalhava m no mesmo


hospital. Com o comentário de Russel l, Tânia tentou sair de perto de Gr egg.

— Nada disso, Russell — disse Greg g, olhando languidamente para


Tânia. — Um homem pode ter uma mulher...

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— Pode ficar quiet o — ela disse, apertando os dentes. Percebeu, na


hora, que tinha piorado as coisas.

Russell f icou sem jeito e deu um sorri so embaraçado para Cassandra,


que sabiamente ali viou a tensão, colocando o dedo nos l ábios.

— Psiu! Psiu! — ela cochichou.

O visitante riu de novo e tudo ficou como se ambos tivessem um


segredo entre si.

— Sentiu minha falta, "mulher"?

A pergunta sussurrada de Gregg fez Tânia tinir de rai va. Ela podia
ouvir Cassandra e Russel l convers ando, o que lh e deu coragem pa ra
resmungar uma mentira:

— Não, não senti nada.

— Mais tarde vamos tratar disso — Gregg ameaçou baixi nho.

Russell c onversava sobre os anteceden tes de Cassandra, i sto é, sobre


seu acidente e p tratamento que foi seguido, que, segundo ela, se estendeu
por um período de muitos meses. Tinha havido um pequeno progresso,
porém ainda não conseguiu o uso normal de suas pernas.

— É por iss o qu e estamos economizando tanto — disse Tânia,


esquecendo os bra ços de Gregg a o redor dela. — Cas sandra pinta e eu
vendo os quadros.

— Se o sr. Mansfield concordar em fazer meu tratamento, nós


pagaremos o que for necessário. Tâ nia e eu vamos juntar, eu continuo
pintando e ela cont inua vendendo...

— Você deve ter me pintado como uma pessoa horrível para fa zer
com que essas duas adoráveis jovens acreditassem que sou avarento.

Para Cassandra, el e disse:

— Srta. Foster, não vou tocar em seu dinheiro. Você será tratada por
mim, no hospital, como qualquer outra pessoa.

— Sr. Barratt — a sra. Casey abriu a p orta —, o jantar está servido.

Os pratos estavam um pouco mais ela borados do que de costume. Ao


invés de f icar em seu lugar, do lado, na mesa de jantar, Tânia hesitou.

— No final da mesa, srta. Foster — disse a sra. Casey.

— Está certa disso?

Gregg na cabecei ra da mesa, ela no fi m, do outro lado, c omo se foss e


sua noiva, ou anfitriã oficia l.

— Tânia, meu amor, a sra. Casey está cumprindo minhas ordens —


disse Gregg com um olhar decisivo.

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A confusão de Rus sell aumentou o mal-estar de Tânia pela atitude


possessiva de Gr egg. Ele estava mantendo sua palavra, sobre "di zer ao
mundo que é minha mulher".

— Obrigada por trazer o sr. Mansfi el d para me ver, Gr egg — diss e


Cassandra, na manhã seguinte.

— Estou contente por ter gostado del e.

— Não só gostei d ele. Confio nele e estou certa d e que vai fa zer o
milagre que tenho esperado tanto.

— Eu nunca disse que ele va i fa zer isso, Cassandra. Milagres são


difíceis de real izar hoje em dia, tanto clinicamente falando, como em tudo o
mais.

— Oh, mas eu sei. Eu, simplesmente, sei que el e va i me fazer andar


e dançar novamente. Então Frank vai me amar outra vez — acrescentou
rodando a cadeira. — De repente, Frank ficou tão paci ente e bom comig o!
Ele me beija e fala sobre o futuro Como se fôssemos vivê-lo juntos. Então
veja, Gregg, só o i nteresse do sr. Mansfield já operou um milagre!

Gregg olhou rápid o para Tânia, parecendo querer di zer algo, mas
calou-se, Que estra nho olhar foi aquel e? O que ele ia di zer?

— Está uma linda manhã — disse Tânia, olhando pela janela, apenas
para quebrar o estranho silêncio. — Gregg, a sra. Casey sugeriu que eu
pedisse a você para me l evar qualquer dia até Ashdown Forest. George diss e
que se tem uma linda vista de lá.

Ele col ocou seu bra ço nos ombros dela .

— É uma ordem ou um pedido?

Tânia fez um muchocho, sorrindo.

— É uma ordem, por favor — acrescentou.

— Isso! Vão, eu est ou bem — apressou-se Cassi e a di zer.

Ainda segurando Tânia, Gregg espiou p ara fora.

— Tempo para p iquenique! — exclamou. — Sra. Cas ey! — chamou. —


Pode nos arranjar alguns sanduíches?

A empregada apareceu na porta da cozinha.

— Para o senhor e a srta. Tânia? Vai levá-la à floresta? E u disse a ela


para pedir-lhe.

— Pedir-me, sra. Casey? Ela ordenou!

A mulher retirou-se rindo.

A estrada de acesso atravessava A shdown Forest, passando por


lugares calmos e lindos. Era cedo e os visitantes e turistas ainda não
tinham começado a chegar. Gregg guiava devagar, a fim de que Tânia

Projeto Revisoras 73
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pudesse apreciar o cenário variado. Extensão de urzes subiam para o céu


claro, cercadas de outras plantas. Algumas eram selvagens e estéreis, com
apenas uma árvore saindo do cerrado. Havia col inas e vales e o tojo dando
um toque de sol com seu ouro e o intenso verde das árvores e arbustos.

Gregg levou o car ro para uma área de estacionamento de onde s e


tinha uma linda vista da bela paisagem. Uma linha de colinas cobertas d e
árvores, uma após outra, era de tí rar o fôl ego d e quem olhava.

Gregg apontava, movendo o braç o con stantemente.

— A col ina Surrey, através de Medway Valley. — S eu ded o apontava a


linha do horizonte. — Dali você pode ver desde Leith Hil l, em North Downs,
até Wrotham, em Kent. E lá está South Downs. Você sabia — pegou na mão
de Tânia e começaram a andar através da floresta — que Ashdown Forest é
parte da floresta Anderida que cobria Sussex nos tempos romanos? Ela se
estende por cento e vinte milhas através do sudoest e da Inglaterra.

— Isso quer d izer — Tânia olhava para baixo com um ar de


reverência — que estamos pisando no mesmo chão que el es pisaram?

— Sim e não — respondeu Gregg. — Com o passar dos séculos,


camadas de terra vieram e encobriram a antiga. Porém, de uma certa forma,
é isso mesmo, eu suponho. As árvores são mais novas, é claro. Muit os dos
grandes carvalhos foram plantados para as fornalhas da indústria de ferro
de Sussex. Esta alcançou seu pique no século XVII, no tempo da Armada
Espanhola. Faziam-se canhões aqui, e, aparentemente, eles serviram aos
dois lados.

Por algum tempo a ndaram em silênci o, com Tânia refl et indo sobre o
passado daquele lu gar.

— Teremos sorte se virmos um gamo. Aqui havia corrida de cavalos,


também. — Gregg mostrou as marcas dos cascos impressos na terra seca e
dura.

Tânia olhou para ele, que ac olheu s eu olhar com um sorriso. Uma
onda de cal or com eçou a passar através das mãos que cobriam sua cintura,
e ele a puxou mais para perto. Andando, suas coxas se tocavam e ela senti a
o cal or crescer, c riando um desejo de maior contato. Deba ixo de u m
pequeno pinheiro ele parou, puxando-a para si.

Num momento, ela estava press ionada contra el e, e o c alor de s eus


lábios contra os dela aumentava a chama do desejo, explodindo em bei jos
que ela procurava c aptar e guardar.

— Bem, minha mulher — s eus braços se cruzaram nas costas dela,


fazendo-a pris ionei ra —, diga-me a verdade. Sentiu falt a de mim, ou ainda
procura tirar o namorado de sua irmã quando ele deixa d e se fa zer de ga lã?

— Em seu vocabulário não existe a palavra "c onfiança"? Não tem


nenhuma fé em minha integridade? Sou tão terrível que, embora sendo "sua
mulher", ainda pensa que eu, não s ó nas costas de Cassi e como também nas
suas, tenho intimidade com outro homem?

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— Ninguém sabe o que uma mulher é capaz de fazer hoje em dia.


Elas parecem não ter mais a mesma fibra de antes. Só Deus sabe o que vejo
na clínica do hospital e na sala de cirurgia. — Ele respondeu imóvel, com
um sorriso frio. N ão estava atacando esp ecificamente a ela, sabia d isso,
porém ficou furiosa assim mesmo.

— O que me revolta —Tânia deixou de falar em voz bai xa — é voc ê


estar cego para o fato de que minhas convicções e princ ípios simplesmente
não admitem que eu passe por cima dessa moral.

— Em outras palavras — eles se af astaram um do outro —, está


querendo me convencer de que possui essas raras qualidades de
honestidade, sinceramente é lealdad e?

— Sim — ela respondeu decidida.

— Estou satisfeito em ouvir isso.

Gregg pegou seu paletó e a cesta onde estava o lanche. Algumas


vezes a trilha d esaparecia, porém Gregg assegurava que não tinha
importância, pois conhecia bem a flor esta.

— Aqui é muito fác il a gente se p erder e esquec er onde estacionou o


carro. Você deseja vagar sempre em frente, sempre em frente. Há uma
estrada romana aqui, acho que foi us ada até a Idade Média.

— Você vai rir de mim, mas posso sentir o passado. Ele está aqui,
não? Ainda ao noss o redor.

— O local c ertamente tem uma longa história. No sécul o XIV d izia-s e


que a floresta era tão densa que dezesseis ou mais guias eram necessários
para acompanhar os viajante de lado a lado.

— Tudo isto — Tân ia olhava a o redor —, a apenas trinta quilômetros


de Londres. A sra. Casey diss e que de um certo ponto pode-se ver o centro
de Londres.

— Pode-se ver a Torre dos Correios . Construída com uma tecnologia


semelhante à da Idade da Pedra.

Continuaram caminhando pela floresta. Quando subiram algumas das


trilhas abertas para terem uma vista melhor dos limites da paisagem, o
braço de Gregg est ava em sua cintura.

— Hora de comermos — disse Gregg finalmente. Ele guiou Tânia para


uma clareira. — Neste lugar se apanha sol.

Estendendo uma toalha no chão, puxou Tânia para junto dele. Tirou
seu paletó e col ocou nela. Quando enrolou as mangas da camisa, ela
reparou em seus músculos e nos pêl os que cobriam seus braços.

Ele desembrulhou a comida e descobriu que havia sanduíches com


vários recheios , geléias em potes, suco de frutas e café. Comera em
silêncio, ouvindo a penas os ruídos da floresta. O olhar de Tânia pousou na
figura do homem meio rec linado que estava em sua companhia.

Projeto Revisoras 75
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Uma estranha sensação surgiu dentro dela, des ejand o juntar sua
feminilidade com o poderos o magneti smo da masculinidade del e. Percebeu
que ele tinha desabotoado a camisa até a cintura. Os pêlos escuros de seu
peito aumentaram seu desejo de tocá -los, de t ocar sua c arne com seu rost o.
Isso tornou-se tão forte que ela baixou a cabeça, como se quisesse evitar
um desmaio.

— Qual é sua avali ação? Sou suficient emente bom para me relacionar
mais profundamente com voc ê?

— Mas ou menos, sr. Barratt, média sete — brincou, para esconder o


embaraço ao ver q ue el e tinha percebido seu exame.

— Isso significa qu e voc ê afinal aceita as condições do nosso acordo?

A verdadeira resp osta seria sim, e não, então ela per maneceu em
silênci o.

Gregg também começou a examiná-la, especialmente o jeans justo, a


camiseta azul, os c abelos l oiros espal hados.

— Agirá para o mundo como minha mulher, ou não?

— Não tenho escol ha, não é? Quer d izer, se não concordasse, voc ê
não teria trazido o sr. Mansfield para ver Cassandra.

— Não? — Ele peg ou sua mão esquerda, abrindo os dedos. — Você se


aborrece porque esta mão está va zia , para que pudess e di zer abertamente
que era noiva de G regg Barratt, não é? Assim você é s omente a mulher de
Gregg Barratt. Não é isso?

Ela arrancou sua mão da dele.

— Você faz muita s perguntas. Pois bem, terá uma resposta! —


Percebendo que a resposta sincera deveria ser sim e q ue para manter seu
respeito próprio el a teria que responder não, tomou o único caminho que
lhe restava e b lef ou. — Nós não temos uma ligação. Nem tenho a menor
intenção de me va ngloriar de nada no gênero. Pel o vis to, você acha que
representar o papel de sua mulher é uma honra para mim, não? Confesse
que só pensou niss o para me embaraçar, para me usar, melhor di zendo.

— Usar você? Essa é boa. De que mod o estou usando voc ê?

Era uma danada de uma pergunta, mas ao menos manteria Gregg


longe de sua pergu nta inicial.

— Para manter Lola Buxton em seu lugar, até que ela esteja
legalmente livre. Quando isso acontec er, sei muito bem que não vai perder
um só minuto!

Ele a encarou, enig mático.

— Alguma vez eu d isse que pretendia casar com ela?

— Não. Mas ela c ontou tudo a Cassandra.

Gregg a empurrou para trás e deitou- se sobre ela.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Você acreditaria se eu lhe assegurasse que, quando disse que


queria você como minha mulher, em troca do médico p ara Cassandra, Lol a
nem passou pela minha cabeça?

— Então, por que troca minha reputação pelos serviç os de um médico


consultor?

— Reputação? Tâni a, ninguém mais li ga para essa c oisas hoje em dia!


E ainda por cima, você sabe que nos sa ligação não é u ma coisa real! Mas
nós podemos fazer com que seja, Tâni a, é só querer.

Ele a t ocava d e n ovo, com tod o s eu corpo, apertado seus quadris


contra os dela, apr isionando ambas as pernas dela com as suas. A mão dele
começou a percorrer o vão t entador que a camiseta dela revel ava.

Repentinamente, a mão de Gregg parou. Ela abriu os olhos, e viu que


ele estudava suas reações. Gregg parecia querer desvendar seu desejo
forçando-a até a rendição total. Ela deu um riso rouco. Ele não tinha
precisado de nada mais que um olhar para saber do desejo dela de tomar-se
sua. Seu corpo inteiro, abandonado, deitado, esperando, foi sufici ente.

Como que cansada da brincadeira, Gregg moveu-se abruptamente até


cobrir inteiramente o corpo dela. Qu ando os lábios del e tocaram os s eus,
abrindo-os carinhosamente, ela não os recusou.

A mão de Gregg deslizou por baixo da blusa dela, deixando um rastro


ardente por seu ventre. Ele começ ou a afagar o bico cor-de-rosa de seu
seio, exc itando-a a tal ponto que seu corpo, por vontade própria, arqueou-
se a fim de juntar-se ao del e. Então ela se consci entizou de que a vontade
dele era que tornassem sua ligação uma realidade era mais do que justa.

De repente, ouvi ram um som de galope. Como os sons s e


aproximassem e o resfol egar dos animais já podia ser ouvido, Gregg
afastou-se, descansando nos cotovel os e sorrindo para T ânia.

Momentos depois, o galope e a tagarelice das garotas que


cavalgavam perderam-se na distância. Tânia ainda fitava o rosto de Gregg ,
admirando-o. Desejava p oder c orrer sua mão por aqueles cabelos, acariciar
a sombra daquela barba. Queria, desta vez, iniciar o b eijo.

— Você parece frus trada — caçoou Gregg. — Insatisfeita.

— Você está à b eira da grosseria, sr. Barratt. Um homem na sua


posição deve estar acima dessas coisas.

— Há uma coisa... — Correu um dedo por seu pescoço. — Eu a avisei


que debaixo deste homem polid o es tá uma pessoa dif erente, um animal
pronto a pular em sua garganta.

— Sabe de uma coisa, Gregg? — murmurou. — Eu também posso ser


um animal, se a situação exigir.

Ela passou a mão no rosto dele, suavemente, como t inha desejado há


pouco. Subitamente, ele a segurou.

Projeto Revisoras 77
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Isso quer di zer "venha cá" ou "caia fora"? — Ele estava mais brutal
agora, sua boca parecia mais agressiva. O macho que havia nele o jogava
rispidamente contra ela. Sua mão subiu mais impaciente debaixo da blusa,
comprimindo a maciez daquela p ele.

Tânia sentia-se es corregando cada vez mais para um misto de não-


resistência e absol uta rendição. Algo estava errado, uma voz gritava dentro
dela. Hav ia ainda muitas coisas a serem resolvidas, as s uas barreiras.

— Aqui não, Gregg — ouviu-se di zer.

— Ok, vamos para o carro.

— Não, vai haver outros carros lá, agora.

— Então esta noit e, em sua cama ou na minha. Faça sua escolha.


Você vai ser minha mulher de verdade e nenhum homem que vier depois vai
duvidar de que foi minha.

— Oh! Deus, Greg g — disse, chocad a. — O que está dizendo? Voc ê


está louco, sabe di sso?

— Cumpri minha parte no acordo. Cumpra a sua. Você diz que é


minha, me toca, me bei ja, me tenta. Isso é brincadei ra perto do que quero
realmente. — Sua voz amaciou. — Vou conquistar você, minha adorável
pequena. Vou fazer você tã o minha, que vai se sentir per dida sem mim.

Tânia queria ser sugada pela torrente de suas palavras, porém


agarrava-se à cor da de salvaçã o d a sanidade, procurando resistir ao
turbilhão emociona l logicamente. Isso a fez ped ir o impossível .

— Desista de Lola — disse ela. — Des faça-se dela em pú blico.

Faça-me sua noiva. Me dê um anel. E então serei sua mulher, da


maneira que quiser.

Sem fôlego, esper ou pela resposta, que foi mais zombeteira que
raivosa, e ela agradeceu por isso.

— Essas suas barreiras estão em nosso caminho, Tânia. — Ele


segurou sua mão esquerda. — Cada coisinha em seu lugar. Então, quer um
anel para acalmar sua consciência, pa ra que possa olhar o mundo de cabeça
erguida, de modo convenci onal. Um anel de noi vado, embrulhado para
presente, com fiti nha cor-de-rosa, e um rótulo: "Eu pertenço a Greg g
Barratt, oficialmen te". Bem, meu docinho, tenho nov id ades para voc ê. A
resposta é não. — Terminou dura e secamente.

Ela devia ter dito, então, que não seria sua mulher, mas as palavras
não vieram à sua boca. Não o fez e a reação era simples: ela queria ser a
mulher de Gregg.

Deitou-se de costa s, formando um travesseir o com as mãos.

O tojo e as ur zes sussurravam, as árvores farfalhava m, tudo era


como no passado. A magia da floresta os envolveu novamente.

Projeto Revisoras 78
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Tânia? — Um braço passado em seus ombros e a voz dele a


trouxeram de volta ao presente.

Então ela v iu Greg g como ele realmente era: um homem do presente


que possuía a crueldade primitiva sobre a qual el e tantas vezes tinh a
prevenido.

— Com ou sem a nel — diss e —, você vai s er minha. Um dia vou


tomá-la definitivam ente.

Projeto Revisoras 79
Paixão e inocência – Lilian Peake
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C A P Í T U LO V I I I
— Tive duas visitas enquanto vocês es tiveram fora — diss e Cassandra
quando voltaram. Estava animada, com olhos brilhantes, como Tânia não vi a
desde antes do aci dente.

— Ambos homens, presumo — disse Gregg secamente.

— Russell — respon deu Cassandra.

Tânia olhou para G regg, surpresa, ouvindo o primeiro n ome.

— Frank também? — adivinhou Tânia.

— Sim, Frank. Sabe, el e me trouxe flores! Frank e flores! Não


combinam, não é? — Sorriu, apontando o vas o com as fl ores.

— E Russell, o que trouxe? — perguntou Gregg sorrindo.

— Novidades, Gregg. Ele quer que eu vá ao hospit al, amanhã,


domingo. Deve haver algum engano nisso e...

— Nada disso — disse Gregg, com Tânia junto del e. — Para um


médico, domingos são como outro dia qualquer. Há alguma razão para voc ê
não ir? — disse, com olhar indagador para Tânia.

— Nenhuma, que eu saiba. Pel o menos as coisas c omeçam a caminhar


— respondeu Tânia.

— Eu toquei n o as sunto do pagamento, porém Russell t omou a falar


para não ser tola, e que não queria di scutir isso.

— Preciso arrumar as coisas que vai levar. Ele disse al guma coisa?
Chinelos , camisola. ..

— Não precisa entrar em pânico, meu bem — Gregg segurou-a pela


cintura. — Eu faço uma lista. É tudo muito simples.

— Quem dera... — disse Cassandra, amarga. — Eu contei a Frank e


ele disse que va i l á me ver. Pediu também para lembrar sobre o trabalho
que vocês estão fa zendo em Londres.

— Obrigada, Cassie. Eu telefon o para ele antes d e sairmos.

— Frank disse que, quando vier me ver no hospital, vai aproveitar


para conversar com Gregg sobre a decoração da casa. Isso, se Gregg estiver
de acordo.

No dia seguinte, b em cedo, Gregg levou Cassandra e T ânia para o


hospital a cinc o qu ilômetros da casa. Era uma construção não muito long e
do acostamento da estrada onde ela t inha exposto as pi nturas de Cassandra
e conhecido Gregg.

Projeto Revisoras 80
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Cassandra chorou na hora de s e s epararem, embora tenha ouvido


séria o que Gregg dizia, sabendo que era verdade.

— Russell vai fa zer o melhor que puder por você — ele assegurou. —
Ele me disse que acha você a garota mais linda que já conheceu. Então? —
Sorriu, apertando sua mão.

— Eu sei que está f alando isso para me animar...

— Temos o dia todo para nos conhecermos melhor — disse Gregg a


Tânia quando chegaram em casa.

— Já nos conhecemos — Tânia retrucou.

— Eu conheço apen as um lado da sua personalidade. Voc ê só conhec e


um lado da minha. Mas existem dois l ados, que, como muita gente, estamos
escondendo. Desejo conhecer tudo sobre a garota que será... que é minha
mulher.

— Não, Gregg, nada disso. Sinto muit o, mas...

As mãos dele já estavam em sua cintura, rodeando-a. Num instante


ela estava fechada em seus braços, e sua boca pertencia a ele, como toda
ela, s e ele ass im a desejasse, a desp ei to de protest os e recusas. Suas mãos
chegaram aos seios dela e então Tâ nia soube que era por isso que tinha
esperado todas essas horas, desde a i nterrupção, na floresta.

— Vamos passar o dia no jardim.

— Onde a piscina vai ser construída?

— Vamos imaginar que ela já está lá, banhada pelo sol, cheia de
água, azul. E nós mergulharemos... um no outro.

Tânia sabia que tinha o dever de lembrá-lo e culpou-se pela sua


distração.

— Você se esqueceu de que Frank vai chegar logo? A dec oração...

Apenas uma faísca passou por seus ol hos e ele tornou a sorrir.

— Ele virá depois de visitar Cassie, no hospital. O horário lá é das


quinze às dezessei s horas. Só dever á estar aqui depoi s das quatro. Tem
tempo...

— Vá lá em cima e procure uma roupa de banho. Vamos nos vestir


para a festa.

— Como no teatro. Afinal de contas, estamos só representando, não?

— Faça como eu d igo — el e diss e, d ando uma lambada no traseiro


dela. Tânia ob edec eu, dando um gritinho de dor.

Uma cerca viva alta e cerrada rodeava a área, fechando-a. Tânia


deitou-se em uma cama inflável, pronta a sentir os rai os do s ol s obre su a
pele despida. S eu biquíni era pequeno o suficiente p ara atrair qualquer
olhar masculino e aquele a seu lad o não era exceçã o.

Projeto Revisoras 81
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Abrindo os olhos, percebeu o olhar f ixo d e Gregg. Ele segurava um


frasco plástico.

— Vai precisar disto. Não quero bancar o médico da família, tratando


você d e queimaduras sérias. Pode estragar nosso programa.

— Programa? Que programa? — Tânia se sentou, c omeçando a passar


a loção no c orpo.

— O nosso.

Ele ornava languid amente para ela, q ue se cobriu, pudic a.

A mão del e começ ou a acariciar seu braço. Era, p ensou Tânia, um


instinto puro e primitivo que o impeli a a procurar a fêmea. Não por ela, m as
por uma mulher simplesmente.

Quando a mão começou a correr pelo seu ventre e um relâmpago de


desejo faiscou em seu corpo, ela s e l evantou e empurrou-o.

— Isso tem que parar, Gregg. Toda esta coisa entre você é eu. Eu me
recuso a continuar.

— As barreiras a i nda estão de pé? Eu nem sequer t oquei n elas,


parece.

— Não tocou em mim? Você me bei ja, me excita, me brutaliza...

— Brutalizo voc ê? Vou mostrar o que é ser brutalizada...

Antes que ela percebesse o que a contecia, ele estava na cama


inflável esmagando o corpo d ela com seu peso. Coxas en travam em contato
com coxas, quadris contra quadris e Tânia conheceu o crescente poder de
rigidez do des ejo de um homem. A mão dele estava sob sua cabeça,
segurando-a firme. A boca máscula mantinha seus lábios abertos, tirando
deles toda a d oçura que possuíam.

Ele se deitou ligeiramente de lado; em seu rosto havia a pura


expressão do macho, coisa que ela nunca tinha visto antes.

A mão dele começ ou de novo, rod ea ndo seu p escoço e percorrendo


todo seu corpo. Uma alça do sutiã foi abaixada e logo os lábi os del e
acharam os bicos duros e rosados de s eus seios.

Ela sacudia a cabeça, pedindo que el e parasse. Por ém, quanto mais
ela tentava escapar, mais ele a prendi a.

Tânia ardia de desejo p or ele, amando sua rigidez contra ela, a


faminta pressão de suas c oxas. S eu instinto t omou conta de sua razã o e
suas idéias se conf undiram.

— Agora, quero você agora — ele su ssurrava. —Meu amor, isto tem
que ser...

— Não, aqui não. Pode aparecer alguém.

Projeto Revisoras 82
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Ela conseguira ati ngir a razão. Ele se deitou d e lado. Finalmente,


voltou para sua es preguiçadeira deita ndo-se e c ol ocando o braç o sobre os
olhos, c ontrolando-se, em completo s il êncio.

Tânia se sentia culpada por ter se negado. Permitiu os avanços


iniciais de Gregg e, depois, o coloc ara de lado. Ele ti nha respeitado sua
vontade, e ela agora estava com vontade de chorar...

Tânia nunca tinha se sentido tão desl ocada. Se seguisse seu instinto,
teria deitado ao lado dele, para acariciá-lo. Recusando-o daquela forma, e
causando nele só Deus sabe que angústia, ela provava que continuava
amarrada às rígidas normas de conduta moral que t inha se imposto, de só
se submeter ao homem que amasse.

O fato de Gregg ter se recusado a dar-lhe um anel, ela ponderava,


admitindo publicamente que ela s eria sua futura esposa, mostrava com o
seus motivos eram egoístas. E havia L ola, cada dia mais perto do div órcio e,
assim, cada vez mais perto del e.

Teria sido mesmo um erro negar-se para ele? Para Gregg, devia ser
como possuir mais uma mulher. Para Tânia, seria a primeira vez,
inesquecível, pelo seu amor a ele, el emento indiscutível.

Depois d e algum tempo, ele se sentou , sacudindo a cabeça como que


tentando se livrar do torpor de um sonho.

— Você é a única q ue me lembro de ter dito não na hora certa.

Parte dela ficou aliviada com seu bom humor. A outra parte se
revolt ou com a falta de tato com que ele s e ref eria ao ca so.

Ele rolou para mai s perto dela, al isando seus cabelos e tocando seus
lábios de leve, c om os dedos.

— Eu admiro você por isso, respeito e amo você por isso. Agora, sabe
como está o ego de um homem que foi colocado em seu d evido lugar.

Tânia juntou-se a ele nas risadas e a fel icidade encheu seu coração.
Afinal, sua integridade era tal que Gregg não se revoltava contra ela.

Logo, George apareceu carregando uma mesa de piquenique, seguido


pela mulher, que a cobriu de pratos e petiscos.

Eles comeram como se estivessem à beira da piscina, ri ram um para


o outro, falando s obre o ruído da á gua que fingiam ouvir e s obre alguém
que acabava de m ergulhar, sobre o reflexo do s ol na água imaginária, e
como podiam perseguir um ao outro correndo ao redor d a piscina.

Depois de tudo, sonolentos com a comida e o calor do sol, deitaram


lado a lado p or algum tempo, em silêncio, de mãos dadas.

Ela olhou para Gregg para encontrar seu sorriso, mas viu apenas seu
perfil descansando.

Projeto Revisoras 83
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Tânia pensou que estava acordando de costas, ao lado de Gregg,


enquanto ele a fit ava, com o braço sob sua cabeça, as nuvens cruzando o
céu azul.

— Estou cumprindo bem minhas funções de "sua mulher"?

O sorriso foi breve e seu dedo ap ertou a ponta do nariz dela.

— Não, sua petulante, e sabe que não. Existem ainda muitas coisas
que deve fa zer para ser a "minha mulher", al ém de s implesmente deitar ao
meu lado e se anin har como um gatinho.

— Sinto muito, Gregg — suspirou —, não posso simplesmente


esquecer minha educação, a menos que... — Ele per maneceu quieto. —
Bem, voc ê vê, eu o amo...

Então ela percebeu, horrorizada, o que acabava de dizer. Ele se


sentou meio de lado, com os olhos bri lhando.

— Me ama! Está dizendo que me ama! — gritava.

Tânia se levantou e correu para long e, junto à cerca, pelo gramado.


Ele perceb eu que ela se afastava d epressa. Ela contornou o gramado e
passou pela porta do pátio.

Teve um choque: á gua gelada caía s obre suas costas, molhando-a da


cabeça aos p és. El a gritou, vi rando-s e e procurando no que tinha esbarrado.
Viu que era Gregg que tinha aberto o irrigador giratório.

Suas súplicas não surtiram efeit o. Quando o mecanis mo girava ele


também era atingido, mas não ligava. Os cabelos de Tânia estavam
ensopados caindo sobre seus olhos. Seu rosto pingava, seu corpo escorri a.
O pequeno maio es tava ensopado e colou em s eu corpo c omo se ela tivesse
realmente nadado.

— Ela me ama! — continuava di zendo. — Ela s implesmente disse que


me ama! Mas isto vai esfriar o seu ard or.

A sra. Cas ey vei o ver o que estava a contecendo, sorriu e voltou a os


seus afazeres. George surgiu do jardim para descobrir qual era o irrigador
que estava ligad o. Percebeu a situação e, como sua mulher, desapareceu
discretamente.

Usando o braço para proteger os olhos, Tânia virou-se, correndo na


direção de Gregg, para tentar tirar o giratório de suas mãos. O mecanismo
era mais pesado do que pensava e, quando o p uxou, tropeçou n a
mangueira, estatel ando-se a seus pés. Gregg pousou o mecanismo no chão
e atirou-se n o gra mado a seu lado, t omando Tânia em s eus braços. Estavam
fora do alcance d os esguichos que dançavam à volta deles.

Quando seus lábios se encontraram em mútua e apaixonada fusão,


eles estavam ensop ados da cabeça aos pés.

— Parece-me que o conhecid o bald e de água fria é insu ficiente para


apagar esse fog o! — As palavras fora m ditas em falso tom de brincadeira.
Porém, atrás delas, havia um toque de fúria contida.

Projeto Revisoras 84
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Está se vendo, querido, que você levou o meu conselho de se


divertir antes de ca sar ao pé da letra.

Gregg rol ou para l onge da garota em seus braços. Com a mão em


concha, gritou para George:

— Feche o irrigador, sim?

Alguns momentos depois, os jat os b aixaram e Gregg se l evantou,


jogando para trás os cabelos ens opados.

Olhando para trás, viu Tânia ainda deitada na grama. Com as mãos
nos quadris e as pernas separadas, disse, gozador:

— Olhe para ela, a rebelde abandonada. Ela disse que me amava e


correu. Fui obrigado a apagar seu f ogo. Porém — cocava a cabeça — parec e
que ao inv és diss o aumentei as chamas e fui apanhado também. — Ria,
sacudindo os ombros.

— Então cheguei na horinha de sal var sua palavra, s rta. Foster —


disse Lola, que surgiu inesperadamen te. — Presumindo que ela ainda esteja
intacta.

Tânia começou a s e l evantar, percebendo que uma das alças do sutiã


tinha escorregado, revelando suas cur vas suaves. Ajeitando a alça, f icou ao
lado de Gregg, que sorria, zombeteiro.

— Toalhas, sr. Barratt? Srta. Foster? — A sra. Casey p arecia muito


solícita.

Com uma toalha cobrindo-a até os joelhos, Tânia se senti u melhor em


frente à vista de G regg.

Tânia estava louca de raiva, mas ainda não tinha decidido se era dela
mesma, por ter con fessado seu amor s ecreto; d e Gregg, por el e l evar tudo a
ponto tão íntimo e deixar a noiva saber; ou de Lola Buxton por ela
interromper o abraço apaixonado.

— Quando puder se soltar da srta. Foster, querido, eu gostaria de


ouvir sua opinião sobre uma de suas pacientes. — Ele lhe deu a máxima
atenção, imediatamente, como ela bem sabia que seria.

— Qual delas? A sra. Harrison?

— Como adivinhou, querido? — Lola soma, mansa e convidativa. —


Que homem maravilhoso voc ê é. Num minuto, é um amante lascivo; no
outro, o fantástico profissional.

— Isso é uma provocação ou uma bajulação? Volto num instante. —


Pondo sua toa lha a o redor do pescoço, ele estendeu a m ão, virando-s e para
Tânia: — Vamos, querida?

Tânia agarrou a mão, a despeit o da tempestade que rugia nela.

— Não se ap egue muito ao meu noi vo, srta. Foster. Di virta-se com
ele, se gosta, p orém lembre-se de que é meu.

Projeto Revisoras 85
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Incapaz de voltar sua fúria contra quem falava, Tânia virou-se para o
homem que segurava sua mão.

— Uma vez eu diss e que voc ê tinha integridade — disse, sabendo que
Lola não a ouviri a. — Cancele iss o, sim? Voc ê p ode ser um brilhante
cirurgião, mas, como homem, é um vil trapaceiro!

Puxando sua mão da dele, entrou na casa correndo.

Projeto Revisoras 86
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

C A P Í T U LO I X
Tânia fechou o cinto do vestido azul. Era curto e sem mangas. Como
os demais, era gracioso, porém barat o, mas sua cor c ontrastava com o l oir o
de seus lindos cabelos.

Olhou pela janela do quarto para a área onde Lola est ava sentada.
Seu pé, calçando u ma linda sandália branca, balançava com irritação.

Vestia um macacão inteiriço, com dec ole profundo, de m angas curtas,


e as calças moldavam suas curvas perfeitas. Ao redor da cintura, usava um
cinto elástico ver de-esmeralda. Seu s cabelos vermelhos, esvoaçando em
seus ombros, contrastavam com todo o resto.

— Com inveja de minha noiva? — As p alavras vi eram da porta. Gregg


vestia uma camisa de linho creme e ca lça marrom clara.

— Admito que el a tem muita coisa que a recomenda. Bonita,


charmosa, bem-feita de corpo, intel igente e... experi ente.

Mentalmente, Tâni a escoiceou como um cavalo bravo. Experiência...


Ele a el ogiava , porque sabia que isso ela não tinha. E voltou-se para a
janela.

— Ela está s e divor ciando do marido e, no entanto, olhe, é tão ca lma,


tão despreocupada... ela não t em sentimentos?

— Por acaso é culpa minha se não tem? Não sou responsável por seu
caráter...

— Mas você pretende casar com ela, sabendo como el a é. Você a


chama de noiva!

— Um termo de conveniência, p el o qual me refiro a ela em particular.


O resto nos conhec e como apenas bon s amigos.

— Ela pensa dif erente. Disse que voc ê lhe pertence. Voc ê ouv iu e não
desmentiu. Como fi co eu, nessa confu são toda?

Gregg simplesmente sorriu e puxou-a para que o olhasse de frente,


colocando as mãos em seus ombros.

— Um homem precisa de uma mulher como voc ê quando tem uma


fêmea como Lola Buxton em sua vi da. Precisa de uma mulher vibrante e
sensível, imensamente desejável. Com grandes olh os inteligen tes,
temperada com deliberada provocaç ão e um olhar q ue desperte nossos
instintos primitivos . E depois — continuou —, quem foi que disse que me
ama?

— Eu... eu não amo nada. Foi... um engano meu e, veja bem, eu não
o provoco delibera damente.

Projeto Revisoras 87
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Provoca s im, meu amor. Olhe para você n este momento. Tentando
escapar para que eu tenha que caçar essa boca.

Quando o beijo ch egou, f oi um grande alí vio. Ela p ôde então agarrar
seus ombros, puxando-o para mais perto.

— Está me insultando, me chamando de "sua mulher' e a Lola de sua


noiva.

— Se prefere ir embora, retomar à sua vida antiga, nós não nos


veremos mais — di sse, largando-a subitamente.

Com um soluço des esperado, ela sussurrou:

— Não posso deixá -lo, Gregg. E o p ior é que você sabe di sso.

Tânia rodava pela sala de estar, pegando um jornal que repôs no


lugar quase que imediatamente. Nada podia prender sua atenção. Quando
Lola iria embora? Quando Frank chegaria? Saiu para o jardim e fic ou na
beira do gramado, onde há p ouco el a e Gr egg tinham estado d eitados e
entrelaçados.

Agora, a atenção dele estava em Lola . Ele ouvia atento cada palavra
dela. Seria o mútuo interesse pel o trabalho que os fazia ficar tão juntos? Ou
ele não pod ia res istir à sua atração e seu p erfume? Tânia sentiu uma
alfinetada de ciúmes por vê-l os tão próximos.

O som da voz de Frank falando com a sra. Casey, dentro de casa, f ez


com que ela corres se para recebê- lo.

Ele ficou um pouco acanhado na porta aberta. Entrou e, quando viu


Gregg e Lola, olh ou para Tânia.

— Você tem companhia, e pel o jeito é uma rival.

— Gregg não significa nada para mim.

— É mesmo? Não foi bem o que ouvi de Cassandra, esta tarde.

— Então quando for visitá-la pode esc larecer isso, sim?

Ela aproveit ou e perguntou:

—Como está ela?

— Chiando. Estão tratando dela. Tira ram várias chapas de raios X e


agora estão esperando que o esp ec ialista as examine. Ele só estará lá
amanhã.

— Ela disse se quer que eu vá visitá-la hoje?

— Não se incomode. Prometi passar por lá quando fosse daqui para


casa.

— Está sendo muito bom para ela, Fra nk.

Pela primeira vez, Tânia viu Frank ficar embaraçado.

Projeto Revisoras 88
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Ela é uma criança adorável. Quando puder andar, talvez tudo possa
voltar a ser como a ntes.

— Não vá magoá-la mais uma vez, Frank.

— Ok, f ique tranq üila — ele disse, olhando para Greg g e L ola. —
Quem é aquela Ave do Paraíso s entada ao lado dele?

— Seu nome é L ol a Buxton. Trabalha no hospital , em L ondres, com


ele. Está meio divorciada do marido.

— E, pelo v isto, procurando outro.

— Não creio que Gr egg seja fáci l de s e apanhar.

Dentro dela uma voz d espeitada murmurava: "Será que já não f oi


apanhado?"

— Ainda bem que você nem está tenta ndo conquistá-lo, hein?

— Vamos — disse Tânia, irritada. — Eles viram quando você chegou.

Gregg se levant ou no momento em que Tânia apareceu.


Cumprimentou Frank, depois f ez a s apresentações. Os olhos d e Lola
correram de Frank para Tânia.

— Seu namorado, srta. Foster?

— Namorado de Ca ssandra — Tânia respondeu rapidamente.

— Desapontada, Lola? — Gr egg vibrou com a ra iva de L ol a. Depois se


dirigiu a Frank. — Como está a paci ente?

Frank contou tudo, enquanto Gregg meneava a cabeça , silenci oso,


como se tudo foss e rotina.

— Russell não p odi a fazer nada hoje, mas estará no hos pital amanhã
cedo.

— Amanhã será o dia do diagnóstico? — perguntou Frank. Gregg fez


que sim com a cabeça.

— Amanhã teremos uma notícia boa.

— Ou ruim — acrescentou Lola.

— A própria otimis ta — murmurou Frank, meio de lado, de mod o que


só Tânia pudesse ouvir.

— Bem, podemos começar nossa ronda pela casa? — sugeriu Frank.


— Na volta ainda tenho que passar no hospital. Prometi a Cassie.

Tânia olhou para Gregg, triunfante. Tinha vontade de gritar: Veja,


não tomei Frank dela!

Lola os acompanhou em sua visita pela casa, quarto por quarto.


Frank aproveit ou a ocasião, falando expansivamente da importância do
correto desenvolv i mento das cores.

Projeto Revisoras 89
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Hospitais, escritórios e res taurantes têm suas cores


cuidadosamente escolhidas — informou el e —, a fim de proporcionar o
ambiente certo para curar, trabalhar ou comer.

Gregg ouvia, imp assível. Lola, alg o espantada, ouv ia o jovem


discorrer sobre os vários e dif erentes aspectos da d ecoração, nos quais, at é
então, ela tinha sequer pensado.

Se Lola des ejava pôr-se em meu lugar, pensou Tânia, amarga, então
teve sucess o.

Quando chegaram ao quarto que ela ocupava, as idéias de Lola sobre


decoração jorraram, e ninguém se lembrou de perguntar a Tânia se eram do
seu agrado.

— Naturalmente — comentou Lola —, quando eu me mudar para cá, a


srta. Foster e sua irmãzinha já terão ido embora.

Tânia olhou para Gregg, porém sua reação foi ap enas levantar as
sobrancelhas e d ar de ombros, c omo se isso pudesse acabar com o
problema.

Afinal, ela e Cassa ndra tinham que admitir a idéia de q ue em pouco


tempo teriam que encontrar um novo l ar.

— Tomou nota do que quero, sr. Anderson? — Lola perguntou,


autoritária.

— É você quem va i pagar a conta, sra. Buxton? — perg untou Frank,


com seu habitual atrevimento.

Lola ficou rubra, tomada de surpresa pela repentina mudança do tom


de Frank.

Essa mulher, pensou Tânia reprimindo um sorriso, nunca foi c olocada


em seu lugar tão abruptamente por uma pessoa que ela considerava de
nível inferior. Por q ue será que Gregg tinha permitido que ela f osse embora
com tamanha afronta?

Antes de ir embora , Frank lembrou a Tânia sobre o traba lho ainda por
terminar em Londres.

— Não se preocupe — ela prometeu. — Não vou dei xar você na mão.

— Posso levar voc ê toda manhã até a estação do metrô — oferec eu


Gregg —, mas não posso prometer traze- la de volta. Meu s horários são meio
loucos.

— Enquanto Cassie estiver no hospital tenho que v ir para este lado e


posso traze-la para casa — disse Frank.

Tânia pensou que Frank realmente estava l evando a s ério o que tinha
prometido a resp eito d e Cassandra. Porém, ao invés de acalmar seus
receios, os intensif icava a inda mais. A nova devoção de Frank era baseada
em afeição rea l ou apenas numa falsa esperança de cura?

Projeto Revisoras 90
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Durante uma semana, Tânia saiu de manhã de carro, com Gregg. A


tarde, Frank a deixava em casa, q uando ia para o hospital, de onde
retornava a Londres.

Tânia andava muito só, pois Gregg chegava tarde em casa,


permanecendo mesmo uma ou duas vezes em Londres. Ele parecia evitá- la
ultimamente. Depois de sua confissão sobre seus sentimentos a respeito
dele, tal vez se s entisse embaraçado, apesar de, no fundo, ela duvidar disso.

Cassandra tinha contado que o dr. Mansfield tinha decidido que,


embora uma das pernas estivesse se recuperando bem, necessitando apenas
de fisi oterapia intensiva, a outra precisava ser operada . — E quanto mais
cedo, melhor — acrescentava ela.

— Disse a ele que estamos juntando dinheiro o mais d epressa que


podemos? — perguntou Tânia, sentada ao lado da cama.

— Sim — disse Cassandra. — Ele concordou e sacudiu a cabeça como


se estivesse zanga do, eu suponho. Se você não vendess e aqueles quadros e
se Gregg não t ivesse aparecido e c onhecido você lá, seria duro, não? —
Impulsivamente, Cassandra procurou a mão da irm ã. — Eu o acho
maravilhoso, sabe?

— Quem? Gregg?

— Russell Mansfi eld. Ele é um sonho de homem. Sempre preferi


homens de cabelos claros — disse, son hadora.

— Ei, menina. E Frank? Você nunca me disse nada sobre essa sua
preferência...

— Bem, não mesmo. Mas o dr. Mansfield é dif erente. — Fechou os


olhos. — Dif erente em todos os sentid os.

— Idolatria aos heróis. É próprio da sua idade — Tânia avisou,


sentindo um pouco de apreensão.

— Não, não é. Estou chegando aos vinte e um.

A campainha tocou, anunciando o fim do horário de v isita .

— Bem, Cassie. A operação já está marcada?

— Vai ser log o. Vou ficar tão feli z quando isto terminar... E, depois,
com o dr. Mansfiel d operando, tudo vai ficar bem, não? Eu realmente confi o
nele, Tânia.

— Ótimo. Com a c ompetência do dr. Mansfield esta va i ser a última,


não é?

— Não me incomodo quanto vai demorar; apenas quero poder andar


novamente.

Tânia não encontrava nada para fazer, pois tinham terminado o


serviço em Londres, e era quinta-fei ra à tarde. Frank sugeriu começar na
casa de Gregg somente na segunda-feira.

Projeto Revisoras 91
Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Viu-se sol itária, sentindo falta de Gregg. Dizia a si mesma que era
uma tola, que ele estava c ertamente passando seu tempo com L ola e que já
tinha esquecido a inquilina, Tânia Foster, a quem decidira chamar "sua
mulher" quando lhe convinha, ignorando-a quando assim o desejava.

Quando foi vis itar Cassandra, ela estava mais alegre do que de
costume, e anunciou:

— A operação é depois de amanhã. De um certo modo, estou


apavorada. Mas, e se for um sucesso?

— Com um homem como o dr. Mansfi eld atendendo voc ê, as c oisas


realmente têm que ir bem, não têm? Ele é muito c ompetente. Se não foss e,
Gregg não o teria escolhido, não é?

Cassandra sacudiu a cabeça. Parecia estudar o humor da irmã.

— Tânia, seria possível você me fa zer um favor, uma coisa que


significa muito para mim?

Uma faísca de apreensão percorreu Tâ nia. Alguma coisa vinha por aí


que, ela tinha cert eza, não ia g ostar.

— Quero que voc ê pare com as visitas de Frank. — As mãos de


Cassandra agarravam as bordas do cobertor.

— E como você propõe que eu fa ça isso? — respondeu Tânia,


tentando não entrar em pânico. — Afinal, se el e vem aqui, é porque deseja
ver voc ê!

— Porém eu não quero vê- lo nunca mais!

Tânia tentava falar devagarinho, com calma.

— Mas o que el e f ez para merecer isso? Não bei jou você o suficiente?

— Não estou brincando, Tânia. Quero Frank fora do meu caminho.

— Você não está... não pode estar falando sério a respeito de Russell
Mansfield.

— Nunca falei tã o séri o em minha vida. Tânia sentiu a boca


terrivelmente s eca.

— Ele... ele por acaso sugeriu alguma coisa séria, Cassie? O dr.
Mansfield, quero di zer.

— Ele não pode, quero di zer, eu sou paciente del e. Não pod e
demonstrar nada até que eu esteja f ora do hospital. Alg umas vezes ele vem
no fim do dia, só para perguntar como me sinto e se a fisioterap ia es tá
ajudando minha perna. Ele não fala m uito, apenas fica a qui, de p é, olhando
para mim. Posso di zer, Tânia. Eu sei q ue el e gosta d e mi m. E penso que ele
sabe que gosto del e também — acrescentou.

— Então o que quer que eu faça?

Projeto Revisoras 92
Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Não fique tão azeda, Tânia. Tudo o que eu quero é.. . bem... que
tire Frank do meu caminho.

— Olhe aqui, Cassa ndra, tenho feito m uito por voc ê...

— E eu agradeço muito, muito mesmo — ela admitiu, desarmando


Tânia.

— Você sabe que eu gosto de alguém. Gosto dele um boc ado.

— Se quer dizer G regg, Tânia, está perdendo seu tempo. Aquela tal
de Lola va i f icar liv re log o. Está d ecidi da a casar com Gregg, e, p el o que me
disse, parece que n ão há dúvidas sobre iss o. Disse, ainda , que ele não pode
casar com ninguém fora da profissão.

Tânia não pôde con trolar o tremor que a dominou.

— Eu não sei, ainda, Cassandra. É de você que Frank gos ta.

— Ele gosta de voc ê, também.

— Ele tenta suas coisinhas, nós sabemos disso. Mas nunca mais
tentou nada, desde que soube que voc ê vai f icar boa.

— É justamente i sso — disse, rev i rando os olhos. — Se ele me


amasse de verdade meu acidente não alteraria nada. E tem mais: e se a
operação não res olver? Não... não diga nada. Temos que encarar a
possibilidade. O qu e Frank vai fa zer então?

Os pensamentos de Tânia eram um turbilhão. Tudo r evi rava em sua


cabeça. Aquela Lol a estava decidida a pegar Gregg. Não havia dúvida sobre
isso. Gregg também devia pret ender casar com ela. A mulher com quem el e
iria casar teria que falar sua linguagem.

As palavras de Ca ssandra rodaram em sua cabeça a noite inteira:


"Quero que tir e Frank de perto de mim. Quero que ele par e de vir me ver".

Não fiz nenhuma promessa, relembrou Tânia, mas também não me


recusei. A questão era o que fa zer para tirar Frank de perto de Cassandra?

Seria deixando que el e percebesse q ue ela estava disp onível e não


iria mais repelir seus beijos? Que ia permitir que a tocasse e acariciasse?
Só d e pensar, fic ou horrorizada. O úni co homem que des ejava que a tocass e
era Gregg, apenas Gregg.

Por algum tempo, andou desconsol ada pela casa. Tinha dito a
Cassandra que precisava pensar no assunto e que não iria v ê-la naquela
tarde. A sra. Casey se of ereceu para ir em seu lugar.

Desde que tinha id o para a casa de G regg, não tomava o café na sala
onde ela e Gregg tinham tomado naquele f im de s emana que passara lá.
Gregg chamava o aposento d e "sa la matinal". Para el e era um lugar
confortável e r ela xante. Depois de abrir três ou quatro portas, achou o
aposento. Tudo est ava mudado. Gregg o tinha transformado em escritóri o.

Projeto Revisoras 93
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Umas das poltronas tinha desaparecido, assim como os jarros com


flores. A mesa de jantar permanecia, mas estava cheia de papéis e l ivros.
Havia uma cadeira perto da mesa e uma caneta ao lad o de uma pilha de
folhas cobertas de anotações.

Eram diagramas e expl icações que pareciam uma série de estudos


sobre medicina. Será que Gregg era também um acadêmico, um professor?

Sentou-se e puxou os l ivros para p erto, correndo os ol hos por eles,


parando quando captava algo familiar. Tinha a impressão de que sabia muita
coisa sobre seu próprio corpo, porém não reconhecia nada. Havia mesmo
certos trechos das anotações que estavam além de sua compreensão. Se
pudesse acompanhar Gregg tanto no nível intelectual quando no físico,
talvez pudesse vir a ser sua noiva e não simplesmente "sua mulher". Tânia
sonhava, descansando o cot ovelo na mesa e a cabeça na mão.

— Decidiu de repen te abandonar decoração de interiores para estudar


medicina? — A voz vei o da porta.

— Gregg! — ela exclamou, com sentimento de culpa.

Ele se aproximou e parou a seu lado. Imediatamente, todo o corpo de


Tânia foi tomado por uma estranha excitação. Ele estava calmo, com um
leve ar de autoridade.

— Não deve começar seus estudos nesse nível — apontou as folhas.


— São para alunos do último ano.

— Dá no mesmo — ela se reanimou, determinada a viver o momento


e deixar o futuro de lado. — Eu posso entender isto porque sei mais ou
menos como sou por dentro.

Estaria falando a sua linguagem?

— Desista, meu amor. Eu sei o bastante por nós dois — disse,


afagando seus cabelos.

Ele tirou o paletó e soltou a gravata, abrindo os primeiros botões da


camisa. Tânia olhava, fascinada.

Então Gregg caiu na poltrona, colocou a cabeça para trás e fechou os


olhos. Tânia podia sentir a tensão flutuando para fora dele. Lutava para não
correr para seus braços.

Gregg estendeu o braço devagar, na direção dela, embora seus olhos


continuassem fechados.

— Venha para mim — disse mansamente. Não f oi prec iso um segundo


chamado.

Foi puxada por dois braços fortes, sentada em seu colo e aninhada
junto dele, mergulhando a face em seus cabelos. Seu rosto abaixava e
levantava c om, o movimento do peit o del e. Deitada contra ele, maleá vel,
dócil, aspirando o odor de sua masculinidade e seu p erfume, seus braços
automaticamente o circundaram, até onde podiam alcançar.

Projeto Revisoras 94
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Nesse momento, desejou ser sua mulher no sentido completo da


palavra. Tânia nunca tinha se sentido tão perto del e. Nem mesmo na
floresta, nem quando tinham se beijado tão apaixonadamente no gramado
ao sol.

— Olhe para mim — ele mandou, falando baixinho e in timamente. —


Deixe que eu encha meus olhos de prazer. Quero me saturar de você, de sua
doçura, sua compreensão e s inceridade. E... — disse su avemente — de seu
amor também.

— Então acredita no meu amor?

Gregg respondeu indiretamente, com um sorriso zombetei ro:

— E não é para isso que é minha mulher? Para me amar? — E então


falou sério, d e repente: — Eu acredito que você me ama.

A pressão de seu b raço perturbava e excitava Tânia. Pr ocurou desviar


a atenção dele.

— O jantar terminou faz tempo — diss e, depressa. — A s ra. Casey foi


ver Cassandra e você chegou tão tarde! Está com fome?

Conhecendo Gr egg, Tânia se reprovou por ter feito tal per gunta.

— Por quê? Está se oferec endo para mim? Se estiver, você deve
primeiro estimular meu apetite.

— Não, claro que não. Eu...

— Assim, por exemplo... — Seus lábios procuraram os dela e s e


aninharam em segurança. Espontaneamente, os braços de Tânia s e
cruzaram no pescoço del e. A mão de Gregg corria por seu corpo.

Com abandono, T ânia entregou-se ao bei jo penetran te. Aquil o a


despojava de s eu raciocínio, e, quando finalmente a p alma da mão dele
alcançou seu seio, ela tinha abandonado toda res i stência. Rendeu-s e
completamente ao fogo devorador que aquela mão posses siva acendia nela.

Quando finalmente Gregg levantou a c abeça, perguntou:

— O que está tentando me dizer? Há alguma coisa que quer de mim?


Quer que eu tome você, que a faça in teiramente minha?

Seus olhos bri lhantes o fitavam cheios de amor e desejo.

— Apenas me abrace, me abrace, Gr egg. — Ela permanecia em seu


colo, a cabeça em seu ombro, seu corpo ardendo sob as carícias de sua
mão.

Ouviu-se um ruído de chave na porta.

— É a sra. Casey chegando do hospital — Tânia sussurrou


roucamente. Fez um esforço para pôr-se de pé. — Ela deve estar entrando.

— Ela vai primeiro até a cozinha — ele assegurou, sorrindo. Porém os


passos se encaminharam naquela direção.

Projeto Revisoras 95
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— Hora d e f icar a presentável — ele caçoou. — Aparente ser apenas


outra garota e não minha mulher.

Ele espreguiçou-s e, est endendo a s pernas e cruzando-as nos


tornozelos. Olhou p ara ela através d os olhos semic errados e malicios os.

— Estou pensando — el e ponder ou — em levar voc ê para a cama esta


noite. Vai esfriar bastante mais tarde. Preciso de uma mulher sensível, de
um corpo ardente para preencher o espaço vazio em meus braços. Que lhe
parece, Tânia?

Enquanto ele falava, Tânia ajeitava a camiseta e jogava para trás os


cabelos em desordem, alisando a saia e fechando o zíper. Ela ficou de pé
diante dele, inclin ando-se para trás ao arrumar os cabelos. Quando el e
pegou sua mão, encostando o dorso em seu rosto, ela murmurou:

— Gregg, oh, Greg g, eu quero mas... — Notando o s orriso de ironia,


calou-se, di zend o: — O que espera qu e eu responda?

Ele riu gostoso, pu xando-a e dando um beijo rápido em sua boca.

— Eu sei bem o que voc ê gostaria de responder, e sei também qual é


sua resposta.

Ele a solt ou e a sra . Casey apareceu n a porta.

— Srta. Foster? Oh, sr. Barratt, eu não sabia que estava em casa. Se
havia alguma coisa no ar, a empregada pareceu não ter notado.

— Srta. Foster, sua irmã manda lembranças. A operação será amanhã


e ela não vai poder receber visitas. Na segunda-feira vai adorar se f or vê-
la. Manda dizer qu e não se preocupem com ela. Posso assegurar que não
está nervosa. O dr. Mansfield é quem vai operar. Bem, ela acha que ele é
maravilhoso, e vai fazer um milagre com ela.

Tânia riu, porém Gregg, que agora es tava de pé, não riu com ela.

— Russell não pod e fazer milagres, embora não haja dúvidas sobre
sua habilidade como cirurgião. Se f or humanamente possível restaurar a
perna de Cassandra, ele conseguirá.

— Bem, eu tenho fé nele — declarou Tânia. — Como Cas sandra, estou


convencida de que um dia ela vai andar novamente. Obrigada por nos
ajudar nisso tudo, por assegurar os serviços d e Russell , mesmo ele t endo
que esperar um pouco pelos hon orários.

— Ele dispensou os honorários.

A sra. Casey r etirou-se dizendo:

— Então, ele deve ser mesmo o homem maravilhoso que Cassandra


diz que é.

Gregg puxou Tânia para ele p ela cintura.

— Diga-me, se eu tivesse que fa zer uma operação em você, que Deus


não permita, você t eria fé em mim?

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Eu poria minha vida em suas mãos — ela disse levantando-se para


beijá-l o de leve.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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C A P Í T U LO X
O café da manhã tinha terminado e Gregg se l evantou, a nunciando:

— Sei que hoje é sábado, mas tenho que trabalhar. Pode se entreter
sozinha, querida?

Querida... Tânia se deleitou com a pal avra carinhosa, e d isse, embora


intimamente contrariada:

— Tenho muita coisa para ler, Gregg. Posso ler lá no es túdio, a seu
lado?

Ele riu, apertando a ponta do nariz dela.

— Posso perguntar por quê?

— Gosto do ambiente da sala. No fi m de semana que passei aqui,


tomamos café da manhã lá, lembra-se?

— Lembro. Pode fi car lá enquanto eu trabalho, se quiser, mas tem


que ficar qui eta, c erto? S enão, poss o des istir do trabalho e procurar uma
posição mais c onf ortável, mais prec isamente na minha cama, com voc ê
deitada a meu lado.

— Trabalho primeir o, prazer depois — ela retrucou.

Ela estava sentada na poltrona da sala matinal, achando difíci l se


concentrar na leitura.

A cabeça de Gregg inclinava-se s obre o trabalho. Ele estava


completamente absorto pela l eitura, e a visão a perturbava, fa zendo seu s
olhos correrem pel os textos s em que ela os entendesse.

Ouviram uma leve batida na porta e a sra. Casey en trou com um


xícara de café, excl amando:

— Estava me perguntando por onde andaria, srta. Foster. Nunca


esperei encontrá-la aqui!

Gregg largou a caneta e descansou no encosto da cadeira,


espreguiçando-se e bocejando.

— Acho que ela es tá tentando me convencer de sua aptidão secreta


para a medicina, sra. Casey. A noit e passada eu a apanhei estudando meus
livros, como s e tivesse uma prova hoje.

— Posso trazer o café dela para c á, sr. Barratt? — perguntou a


mulher, rindo.

— Por que não? Está achando que eu quero pôr Tânia para fora?

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— Bem, o senhor não deixa entrar nem uma mosca quando está
trabalhando...

— Mas uma mulher como essa! — acrescentou Gregg. — Elas são uma
distração e tanto, sra. Casey, especial mente esta.

A empregada saiu, rindo novamente.

— Vamos, Tânia, minha devotada escrava. Deixe o seu s enhor relaxar


um pouco na única poltrona da sala.

— Não sou sua es crava, nem você é meu senhor — resmungou ela,
indignada.

— Podemos dar um jeito nisso — el e r eplicou, coc hichando —,


dividindo a cama hoje à n oite. Tra ga meu café, sim? — E afundou na
poltrona. Tânia obedeceu, col ocando o café na mesinha ao lado.

— Agora, venha cá . Gosta de ser afa gada, não? — Sua mão correu
pelos cabelos dela.

A sra. Casey voltou com a xícara de T ânia, dizendo:

— Oh, se eu soubesse, teria batido pr imeiro.

— Não se aborreça — Gregg respondeu, calmo.

— Não são somente suas inquilinas que você trata como esposas —
disse Tânia, tomando o café.

Por um momento, houve sil êncio. Até que Tânia perguntou,


hesitante:

— Gregg, qual é a melhor hora para se tel efonar para o hospital?

Ele consultou o rel ógio.

— Logo depois do a lmoço. Por quê?

— Estou ansiosa. Acho que é natural , não? Toda op eraç ão tem seus
perigos.

— Talvez , mas posso assegurar que está tudo bem. Só s aberemos se


a operação teve êxi to em algumas semanas, sabia?

— Sim.

— Não pense em nada disso, Tânia. A gora, bei je-me.

Ele estava rec lina do, sorrindo preg uiçoso, c om os braços caídos.
Havia uma l eve sombra em seu quei xo e sobre os lábi os , como se tivesse s e
barbeado às pressas. Os cabelos caídos para a frente, a camisa
parcialmente aberta, revelando a sombra escura dos pêlos em seu peito, o
tornavam irresistível, d inâmico e es quivo. Quando ela se inclinou diant e
dele, p ousando seus lábios nos del e, e quando os dois braços a rodearam
como fitas de aço, soube que nunca desvendaria o enfeitiçante enigma que
era a personalidad e del e.

Projeto Revisoras 99
Paixão e inocência – Lilian Peake
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Foi Gregg quem telefonou para o hospital para saber sobre o estado
de Cassandra. Seu nome era como u ma chave mágica que abriu todas as
portas necessárias.

Ele cobriu o boca l do telefone.

— Ela está indo bem — disse a Tânia. Falou de novo ao telef one: —
Russell? Soube que está tudo bem com Cassie. Ótimo! Há uma coisa que eu
gostaria de perguntar.

Tânia afastou-se já mais tranqüila.

Sabendo que Greg g não voltaria ao t rabalho se ela fica sse por perto,
foi para seu quarto. Quando subiu a escada, lembrou que Frank tinha
decidido c omeçar o serviço, na s egunda-feira, lá por cima . George retirou os
móveis e recobriu o carpete.

Havia uma ou duas coisas que Tânia sabia que podia a diantar para
facilitar o trabalho. Voltando para a parte de baixo, vi u que Gregg tinha
deixado o hall. A empregada confirmou que ele estava n ovamen te
trabalhando.

— Seu marido poderia me arrumar alguma lixa, sra. Casey?

— Ah! Ele t em montes delas — dis se, dirigindo-se p ara o jardim,


onde o marido estava trabalhando.

Trouxe algumas fol has novas de l ixa.

Tânia começou a trabalhar no peitori l de uma das janelas . Estava tão


absorta, que não ouviu a p orta se abrir. Quando duas mãos a s eguraram
pelos ombros, gritou assustada.

— Estive imaginando onde você estaria. — Gregg virou-a para ele. —


Recuperada do susto? Sinto muito — s ussurrou.

Gregg examinava, divertido, s eu velho jeans manchado de rosa e


branco.

— Não posso me vestir como uma madame para trabalhar — ela


protestou.

— Verdade. Em compensação, pode se fazer l inda esta noite. Russel l


Mansfield vem para o jantar.

Tânia banhou-se demoradamente naquela tarde. O vestido, ela


decidiu, seria um traje de n oite a té o tornozelo, d e cetim castanho-
avermelhado. T inha comprado o vestido há muito tempo, mas até agora não
surgira nenhuma oportunidade para usá-lo. Se o m odel o era ou nã o
apropriado, não importava. "Faça-se l inda" Gregg tinha dito. Ora, não era
isso o que ela estava fazendo?

O model o tomara- que-caia era preso ao p escoço por u ma alça fina.


Moldava s eu busto jovem, ajustando na cintura, e rod eava s eus quadris,
flutuando daí até chegar às sandálias de noite. Brincos dourados, pequenos,
eram seu único enf eite.

Projeto Revisoras 100


Paixão e inocência – Lilian Peake
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Fez uma maquilagem simples acentuando as sobrancelhas finas e


arqueadas e os cíl ios l ongos e escuros, chamando a atenção para a boca
que, inconscientem ente, sabia ser per feita.

Quando desceu as escadas, Gregg estava saindo da sala matinal, com


olhar preocupado. Ao ouvir seus passos, ele olhou para cima, e parec ia nã o
poder acreditar no que via. Nenhuma palavra de el ogio s aiu dos seus lábios ,
nenhum sinal de aprovação s e refl etiu em seu olhar. Foi como se ela o
desgostasse por ter feito o melhor pa ra agradá-lo.

— Você me disse p ara me fa zer bonit a... — ela prot estou como se el e
a criticasse.

— A qual de nós vai tentar seduzir esta noite? — perguntou


friamente. — Vai jantar com dois solteirões, lembre-se. Diga-me agora, se
não for eu, terei prazer em deixar o c aminho livre.

— Não seja bobo, Gregg — disse desanimada. — Por que pensa que
vesti esta droga de vestid o e fi z tudo isto? — Apontou para o vestido, o
cabelo e o rost o.

— Isso, minha cara Tânia, é o que vamos ver — disse, agarrando seu
braço.

— Então desconfia de mim? Estamos de volta às suspeit as e às suas


velhas e maldosas insinuações sobre minha moral? — Tânia parecia que ia
chorar, porém, ao invés disso, tentou se soltar. — Sabe de uma coisa, vou
tirar tudo isto e vol tar ao meu velho jeans, aí você ficará feli z!

Gregg abaixou a cabeça, tentando beijá-la, mas Tânia virou o rosto.

— Não, não pode. Vai borrar t odo meu batom e s eu convidado vai
chegar num minuto.

— Estou pouco liga ndo...

A campainha da porta tocou e Greg g praguejou, empurrando Tânia


para longe.

Durante o jantar, de vez em quando o olhar de Russel l desviava-se


para Tânia. No princípio ela f icou en cabulada, porém, quando percebeu que
era também um pouco de curiosidad e, relaxou e tomou parte na convers a
com mais naturalidade.

De vez em quando estudava as reações de Gr egg, e não viu


desaprovação da p arte dele. S eu com portamento estava acima de suspeitas.

Terminada a refei ção, levantou-se, esperando f ervorosamente que


quando Russell se r etirasse Gregg não fosse acusá-la de n ada.

Quando chegou o momento, Russell f ez uma exclamação sobre a hora


tardia e disse a Gregg que, como tinha que dirigir até Londres, devia i r
embora. Despediu-se de Tânia assegurando que tudo estaria bem com sua
irmã.

Projeto Revisoras 101


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Ela é uma jovem formidável — comentou. — Tem um espírito


maravilhoso, e uma determinação suficiente para, quando tudo terminar, até
praticar esporte, quanto mais andar simplesmente.

Os olhos d e Tânia se acenderam de f elicidade e ela riu com grande


alívi o.

— Nunca vou poder agradecer o sufici ente — disse a el e, despedindo-


se de ambos e dan do boa-noite. Subi u as escadas, um tanto fatigada.

Junto à janela havia uma pequena poltrona acolchoada e Tânia


sentou-se, deixan do sua cabeça pender para trás. A noite tinha sido
agradável, porém p or alguma razão inexplicável s entia al go no ar.

Os dois homens ainda estavam conversando no hal l embaixo da


escada e, pelo que Tânia ouvia, parecia que voltaram para a sala de estar.
Quando Russell f inalmente ligou o motor de seu carro e o ruído sumiu na
distância, Gregg ainda não tinha subido.

Tânia bocejou, esf regando os olhos e tirou as sandálias. Começou a


tirar o vestido e a desatar a alça do pescoço. A por ta foi aberta com
viol ência e Gregg apareceu, com olhos de aço, os maxilares pulsando,
furioso. Com o p é fechou a p orta e c onfrontou-se com Tânia, com as mãos
nos quadris. Em pânico, ela s egurou o vest ido que caí a, lidando para pel o
menos amarrar de novo a a lça atrás do pescoç o.

— Não pode entra r aqui desse jeito, Gregg. Estava pr onta para ir
dormir...

— Diabo, entro aqui quando bem entender.

— E agora, o que f oi que eu fiz? — p erguntou tentando esconder seu


medo. —Que é que posso fazer se o sr. Mansfield olhou para mim?

— Claro qu e ele ol hava para você, sua linda e traiçoeira vagabunda.


— Acercou-se, puxando Tânia até que ficasse fr ente a fr ente. — Mas não f oi
pelos moti vos qu e levam um homem a olhar para uma mulher. Ele
simplesmente não pôde acreditar que uma pessoa que p arece tão h onesta,
tão intelig ente, tão infernalmente apetitosa, pudesse ser tão traiçoeira.

— Traiç oeira, eu? — Ela balançou a c abeça, atordoada e temerosa. —


Se achou que eu estava a f im del e, você está muito enganado. E, d e
qualquer maneira, eu não sou realmente sua mulher, Gregg. Sou apenas...

— Você é apenas uma vagabunda barata. Não é minha mulher. —


Suas mãos esmagavam seus braços. — Você é a mulher de Frank Anderson,
não é?

— Não. Iss o de novo, não, Gregg. — A palpitação de s eu coração a


sufocava. — Pens ei que a devoção del e por Cassandra tin ha convencido você
de que ela é realm ente sua garota.

— Isso foi só para tapear, não f oi? — Quanto mais ela tentava se
soltar de s eus braç os, mais ele apert ava. — Uma cortin a de fumaça para o
caso que vem mantendo com voc ê!

Projeto Revisoras 102


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Está errado, Gregg. Você precisa acreditar em mim, e está me


machucando. Eu não agüento mais!

Ele ignorou suas súplicas.

— Como errado, se Cassandra mesmo disse a Russell que Frank não é


namorado dela, mas seu? E que ele não tem ido vê- la nestes últimos dia s
porque parece ter sido persuadido por você a não ir?

— Cassie diss e isso a ele?

— Isso s ignifica — insistiu Gregg — que foi muito bem-sucedida.


Conseguiu tirar Frank dela!

Tânia sacudiu a cabeça, desespera da. Dizendo iss o a Mansfield,


Cassie tinha dado e entender que o caminho estava livre para que el e
pudesse tentar uma aproximação maior. Foi exatamente isso o qu e
Cassandra fizera. Mas por que envol vê-la tão devastadoramente? Como é
que ela podia fa zer isso? Cassie tinha sido mimada demais, e por quem,
senão pela própria irmã? Ela mesma!

Em voz alta, disse a Gregg:

— Nada disso é verdade e, por favor, deixe-me ir — implorou, com


voz trêmula.

— Deixar voc ê ir? Pede para deixá-la ir quando aí mesmo está uma
cama, ninguém em volta para me impedir e você. .. meio nua? Esta é a
chance que eu procurava há tempos. E agora que sei que tipo de mulher
você é...

Alcançou-a por trás e puxou o laço do pescoço, fazendo o vestido


cair. Num rápido movimento prendeu as duas mãos dela em uma das suas.
Sem nada para segurá-lo, o vest ido ca iu aos pés dela.

Gregg procurou rápido nas costas dela, e r emoveu a única peça que
restava. Agora não havia nada para escondê-la de s eu olh ar atrevido.

— De segunda mão — murmurou, avaliando s eu cor po —, porém


incrivelmente lind a. Agora, que já aprendeu com seu amorzinho os
princípios de como se faz amor...

Tânia lutou o tempo todo para se l ivra r, para escapar de seus insultos
e sua avaliaçã o debochada, mas ele ti nha outros planos.

Tomou-a completamente de surpresa, abaixando-a e beijando


ardentemente os p ontos cor-de-rosa de seus seios. Ela prendeu a respiração
com a esquisita sensação que o mov i mento daquela boc a provocava nela.
Uma fraqueza súbita apossou-se de seus joelh os e ela soube que logo suas
pernas se recusariam a suportá-la. Gregg deve ter s entido isso, p orque
colheu Tânia em seus braços, carregando-a para a cama. Atirou-a sem
cerimônia e jogou- se a seu lado.

— Gregg — ela i mplorou —, não faça isso! Não sabe o que está
fazendo! Há um terrível engano, deixe-me explicar tudo, por favor!

Projeto Revisoras 103


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Como pode haver engano, se Russell ouviu da b oca de sua própria


irmã?

— Então Cassandra ficou tão abalada com o que supõe que eu tenha
feito que sentiu necessidade de di zer a alguém? E, por uma grande
coincidência, o dr. Mansfield estava por perto e ela abri u seu coraçã o para
ele? Nã o vê, Gregg ? Foi tudo estudado...

— Não é tão impossível assim. Russ ell é um ótimo médico e talvez


tenha sentido que a recuperação de sua paciente podia ser prejudicada por
uma coisa dessas.

— Talvez ela tenha arranjado um jeito de tentar dizer a ele que o


campo estava livre, caso el e esti vesse interessado, não?

— Uma boa tentativa — resmungou, movendo-s e d eva gar para um


lado e olhando com insolência para o corpo nu —, mas muito fora de mod a.
Pode parar com isso.

— Você é tão esperto! Sabe todas as respostas! — Ela o empurrava


fortemente, numa tentativa inútil de esconder os sei os com os braços. —
Mas não sabe de tudo! Eu estou limpa, minha consciência está tranqüila. E,
agora, quer me dei xar sair?

— Virgem? — Torceu os lábi os, desaforado. — Voc ê nem sabe o


significado da pal avra. Basta ver como correspondeu cada vez que eu
tentava fa zer amor com voc ê. Enxer gue-se agora: nua, um homem a seu
lado, e não há nem sombra de pudor. Seu olhar está di zendo: sou toda sua.

Ela desejou gritar: é p orque amo você, mas sabia que el e não
ouviria.

Gregg agarrou suas mãos, puxando-as para cima da cabeça dela.


Seus cabelos se espalharam pelo travesseir o. Ela começou a lutar, chutar,
procurando mordê-lo onde pudesse alcançar. Ele livrou as mãos por um
momento, tirando a camisa num movi mento rápido. As u nhas dela cravaram-
se imediatamente em seus ombros, a garraram e puxaram seus cabelos. El e
retribuiu, fazendo o mesmo.

— Solte — el e or denou, puxando os cabelos dela até as lágrimas


encherem seus olh os. Ela solt ou mas ele nã o fez o mesmo, dirigindo seu
rosto e f orçando seus lábios a s e abrirem, exploran do-os brutalmente,
barbaramente. Continuou sugando sua boca até que gemidos suplicantes
mostraram que ela estava começando a se render.

Contra a vontade d ela, os músculos d e seu c orpo s e afrouxaram, suas


mãos começaram a correr as costas dele, acariciando-o, sentindo seus
músculos, seus ombros. A boca máscula se moveu, p rosseguindo em sua
viagem, vagando pelo c orpo dela, enquanto as mãos fortes apertavam e
moldavam, e ele s e movia intimamente, contra seus quadris e suas coxas.

Ardendo de des ejo, Gregg tinha acendido uma fogueira dentro dela.
Tânia estava pronta para se render totalmente aos des ejos daquele homem,
o único que ela amava. Perceb eu seu corpo se arqueando para sentir melhor
o contato com o dele. Sua carne estava em fogo.

Projeto Revisoras 104


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Quando Gregg rolou, afastando-se dela, não pôde acreditar. Era como
uma dor física. Ti nha sido deixada com o corpo em brasa, latejando d e
desejo, com uma vontade desesperad a de voltar a ser uma só pessoa com
ele, para ser nova mente descartada com um desrespeito zombeteiro.

Cobriu o rosto com as mãos trêmulas. Todo seu corpo sa cudia-se em


soluços.

— Por que, Gregg, por quê? Deve saber o que está fazendo comigo.
— Tânia sentou-se e, com as mãos na cabeça, descansou a testa nos
joelhos. — Oh, Deus. Não posso sup ortar isto. Quero q ue voc ê me ame. —
Levantando a cabeça, murmurou: — Quero ser sua mulher, Gregg. Quero s er
sua.

Ele a obser vava em silênci o, c om o olhar maldoso e os


maxilaresrígidos.

Era, ela pensava, como se estivesse se del iciando com seu


desespero. Rolando para junto dele, implorou, passando a mão em seu
peito:

— Faça-me sua mulher, Gregg.

Ele abaixou a cabeça, beijando os bic os de cada sei o.

— Não estou sendo desavergonhada — ela continuou. — É porque o


amo, Gregg. Eu... quero ser parte de você. Não importa se você me ama ou
não.

Ele olhava friamente para ela, ouvindo sem se mover. Então toda sua
frustração, rejeição e humilhação voltaram-se contra ele, procurando uma
válvula de escape.

— Você é um miserável, maldoso e s em coração. Eu o odei o! Nunca


odiei tanto em minha vida!

Ele continuava i mpassível, com os lábios f ortemente cerrados.


Envergonhada, ela escapuliu da ca ma para apanhar o vestid o caíd o.
Tremendo, enrolou- o ao corpo. Ainda estava em choque. Não havia nada que
pudesse parar seu tremor. Sem desviar os olhos por um segundo, Gregg
disse finalmente:

— Por que será que eu parei? — Estava tão calmo e relaxado que
Tânia sentiu vontade de bater nele. — Para punir você pelo que fez com
Cassandra — concluiu. E levantou-se, vestindo a camisa . — A despeito de
seus protestos de virtuosidade e d evoçã o a ela, e de suas constantes
negativas de qualquer envolv imento com Anderson, conheci a extensão do
sofrimento dela. Ouvi, finalmente, e de seus próprios lábios, toda a
verdade.

Seu olhar cortava c omo uma chicotada.

— Eu não iria querer você agora, nem que me pagasse por isso.

Projeto Revisoras 105


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Ela ainda tremia pela pressão do corpo dele, c omo se tivesse


realmente sido violentada embora el e, no mais estranho momento e com
uma crueldade calc ulada, a tivesse repudiado.

Na porta, Gregg se voltou. Parec eu notar seu tremor convulsivo, mas


preferiu ignorá-lo.

— Eu avisei uma vez, para que voc ê n ão arranhasse minha pele e não
despertasse o animal que há em mim. — Ele sorriu friamente. — Pelo seu
comportamento com sua irmã, você me arranhou. Se por acaso a maltratei,
não pode dizer que não foi avisada. Durma bem — acrescentou, fechando a
porta.

Tânia rolou na cama até a alvorada, e só quando o canto da


passarada surgiu é que conseguiu mergulhar em sono profundo. Quando
acordou, era tarde. Descendo, percebeu que Gregg já tinha tomado café e
saído. Agradeceu aos céus, pois tremia só de pensar em encontrá-lo.
Terminou seu café e, dando um sorriso simpático para a sra. Casey, dirigiu-
se para o hall de entrada. Bastou olh ar para a sala matinal para saber que
Gregg estava em c asa, trabalhando. Sentiu sua presenç a antes de ouvi- lo
fazer ruídos. A manhã estava brilhante e ela opt ou por sair pela porta da
cozinha, trocando algumas palavras com a sra. Casey. No jardim, relaxou
frente ao chafariz.

Foi logo d epois do café que Lola apareceu. Tânia tinha acabado de.
tomar seu café, numa cadeira do jardim, e Gregg estava sozinho na sal a
matinal. Lola dei xou seu carro na porta e entrou pel o jardim, esperand o
encontrar Gregg lá . Vendo Tânia soz i nha, fez uma saudação sem sorriso, e
foi para a coz inha. Tânia ouv iu a s ra. Casey expl icar que Gregg estava
ocupado, trabalhando, e que ela duvid ava que ele quisess e ser perturbado.

— Oh, ele vai me deixar entrar — Lola respondeu, abrindo a porta da


sala.

— Querido — Tânia ouviu —, você não faz objeç ões que eu entre,
faz?

A resposta deve ter sido um convite, uma vez que a porta foi fechada
e tudo ficou em silêncio. Tânia se levantou, carregando sua xícara vazia,
pensando como poderia sair de lá. A empregada agradeceu por ela ter
trazido a xícara e T ânia perguntou:

— Existe uma cabine tel efônica na vi la , sra. Casey?

— Tem sim, srta. Foster. Mas por que andar até lá se pode telef onar
daqui?

Vendo a hesitação de Tânia, acrescent ou:

— Se é assunto particular e não quer usar o telef one d o hall, por que
não vai ao quarto do sr. Barratt? Existe ext ensão lá. Ele está ocupado,
trabalhando, e estou certa de que não vai se importar.

Projeto Revisoras 106


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Tânia decidiu que não hav ia outra solução. Entrou no quarto de


Gregg com o coração pulando e, sem perda de tempo, discou para o número
de Frank Anderson. Para seu alívio, el e atendeu na hora.

— É Tânia, Frank — ela disse. — Houve uns problemas aqui, e uma


mudança nos planos. Precis o falar c om você. Ser ia poss ível tra zer o furgã o
aqui, hoje, lá nos fundos, à tarde, e me l evar de vol ta? Tenho algumas
malas. É, sim, estou saindo daqui. Você tem um quarto para mim em sua
casa, não? Sim, Cassie ainda está no hospital. Muit o obrigada, Frank. Vejo
você às cinc o e mei a, nos fundos.

— Correndo para os braços dele?

Tânia virou-se rápida. Gregg estava apoiado na porta fechada, com


os braços cruzados, os olhos acesos, a barba crescida. Sua camisa estava
meio aberta; su as calças, amassadas. Ele parec ia devastadora e
perdidamente atraente. Tânia achou que nem dev ia r esponder. Não p odia
deixar de perceb er que ele olhava para ela com pouco-cas o e desprezo.

— Você tinha que se arrastar até aqui em cima para chamá-lo, não?
Não teve c oragem de usar o telef one do hall. Por quê?

— Se quer saber — Tânia levantou a cabeça —, foi a sra. Casey quem


sugeriu. Você t inha visita. Estou c erta de que ela não ia querer ouvir a
conversa de uma simples inquilina.

— Que vive aqui às minhas custas.

— Eu já disse — T ânia retrucou furiosa — que vou pagar o que você


pedir. Até a semana passada, enquanto eu ainda tinha trabalho, você não
quis receber nada. Diga quanto lhe d evemos, Cassandra e eu, e eu lhe dou
um cheque.

— Acho que já me pagou adequadamente. — Os olhos de Gregg


deslizavam por seu corpo, demorando-se na f orma dos s eios, sob o vestid o
azul. — Pagou com beijos, pai xão e carícias. Você me divertiu e a judou a
preencher minhas horas de lazer, e i sso é o que a mul her de um homem
deve fa zer.

Não vai conseguir me provocar, di zia Tânia a si mesma. Vou receber


seus insultos mas vou revidar. Vou provar a el e, pel o menos desta maneira,
que sou superior. Chegando à porta, enfrentou-o:

— Por favor, dei xe- me passar.

— Dê apenas uma boa razão para iss o.

— Porque eu odei o ter que olhar para você — disse, furiosa consigo
mesma por demonstrar o quanto a atitude dele a abal ava.

— Posso repetir a performance de ontem à noite e c ol ocar você de


joelhos, implorando para que eu a possua.

— Eu sei que pod e. É mais forte. Mas não fará isso porq ue sua noiva
está lá embaixo.

Projeto Revisoras 107


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Ao diabo com minha noiva — rosnou, puxando-a contra ele. Tânia


ficou imóvel, os braços caídos, a cabeça pendendo para um lado. Devagar,
ele a largou e ela se l ivrou de suas garras. Puxou a porta, abrindo-a, e
passou por ele.

O banheiro era um santuário: ela v irou a chave na por ta e desabou


no chão.

Projeto Revisoras 108


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

C A P Í T U LO X I
Tânia se s entou n o muro, comendo os sanduíches que a sra. Casey
insistiu em lhe dar. A empregada estava aborrecida com sua partida secreta.

Ela esperava com impaciência, enquanto a sra. Casey fazia os


sanduíches, ansiosa porque a qualquer momento Gregg podia aparecer.
Contudo, depois d e deixar um bilhete para Cassandra, que a sra. Casey
prometeu entregar, tinha deixado a ca sa de Gregg sem ser vista.

Ainda faltava algum tempo para Frank chegar. O dia estava nublado
mas seco, e as ru as da vila, s onol entas como qualquer outra vi la numa
segunda-feira à tarde. Quando, hora e meia antes do combinado, o furgão
de Frank apareceu, quebrando o s ilêncio, e parou dian te dela, Tânia fic ou
tão aliviada que s e jog ou no banco de passageiro, dei xando as malas no
chão.

Frank saiu do carro e coloc ou as malas no furgão, retornando a seu


lugar.

— Tão feliz em me ver que não pode esperar para ficar juntinho de
mim.

Tânia forçou um sorriso.

— Gosto de voc ê, . Frank, mas nem tanto. Quando estivermos a


caminho e eu estiver melhor, explic o t udo.

Frank aceitou, deu a partida e eles tomaram o caminho de Londres.


Quando chegaram à casa que Frank dividia com mais três amigos, Tânia
tinha contado toda sua história.

Frank aceitou a rejeição de Cassandra com considerável bom senso.

— Bem — disse, p ermanecendo sentado no carro —, uma vez que o


contrato para a decoração da casa d e Barratt está f ora de cog itação e as
coisas chegaram a este ponto, acho melhor colocar você por dentro da
situação: Foster & Anderson vai ter q ue acabar — disse, olhando séri o para
Tânia. Ela fez um movimento de prot esto, mas ele cont inuou: — Não têm
aparecido pedid os, nem com os f ol hetos. As c oisas por aqui estão tã o
calmas que estou até preocupado. Uma garota que conheço, que mudou
recentemente para cá, bem, o pai dela tem uma loja de materiais para
decoradores, lá no começo da rua. Ele está procurando um gerente, de
preferência com alguma experiência, que possa dar u ma orientação aos
clientes. E me of ereceu o emprego. Chrissie, a garota, é filha del e e
trabalha na loja. T ânia deu um longo suspiro e fechou os olhos.

— Então é isso aí. Estou fora da jogad a.

— Sinto muito, a mor, mas eu não podia atirar esta chance pela
janela. Posso t entar arrumar um emprego para voc ê lá, t ambém, assim que
houver uma vaga.

Projeto Revisoras 109


Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

— Está bem — dis se Tânia, d esejando aparentar confia nça. — Vou


arrumar um emprego em algum lugar. Vou ter que pagar minha parte do
aluguel, não é?

— Falando nisso — acrescentou Frank —, quando convers ei c om voc ê,


realmente havia u ma vaga em meu quarto. Mas as coi sas mudaram. Bem,
Chrissie e eu, est a manhã, decidimos ficar juntos. Então agora há out ro
quarto vazio. Voc ê pode ficar c om el e. Arranjo c omum, você sabe, div idindo
todas as despesas. Ok?

Tânia concordou. E ntão ele e Chrissie iam ficar juntos. Se Cassandra


não tivesse interes sada em outro homem, o que seria dela agora? Isso não
tinha sequer passado pela cabeça de Frank.

Chrissie era uma garota agradável, cheia de vida e energia, o tipo


que Cassandra tinha sido antes do acidente, características que
provavelmente atra íram Frank Anderson.

Não levou muito tempo para que Tânia se alojasse no quarto que
tinha sido res ervad o a ela. S e diante de outros aparentava contentamento,
era porque tinha aprendido muito bem a esconder seus problemas.

O trabalho que encontrou não era o que procurava. Por uns tempos,
trabalhou como garçonete num café, p assando depois a a judante de vendas
em uma loja. Ambos os empregos requeriam resistência física, e isso, ela
descobriu em pânico, era a lgo que nã o tinha no momento. A lgumas manhãs
ela mal t inha forças para se levantar, quanto mais ficar de pé quatro horas
por período. Não demorou muito para que se juntasse à multidão de
desempregados sustentados pelo g overno. Fora isso, p agava o aluguel d e
seu quarto, comprava alguma comida e outras pequenas necessidades.

O dinheiro do aluguel da casa delas ia para uma conta especial, no


banco. A metade, de qualquer modo, pertencia a Cassandra. Tânia usava
sua parte para pagar os impostos e para conservar a casa. De tudo isso,
sobrava muito pouc o para comprar roupas e sapatos.

Toda essa s ituação tinha feito Tânia esquecer um pouc o seu amor-
próprio. Ter perdido contato com Cassandra, a dor profunda que sentia toda
vez que pensava em Gregg, o med o de tel efonar e desc obrir que o div órci o
de Lola afinal havi a saído e ela era a gora a esposa d e Gregg tinham tirado
grande parte de sua saúde e boa aparência.

Um fim de semana foi visitar a sra. Yardley. A mulher fi cou contente


em vê-la, informando que sua amiga, a outra inquil ina, estava de férias. A
sra. Yardley servi u a Tânia uma xícara de chá, dizendo que ela parec ia
doente, que precis ava se al imentar bem para chegar novamente em seu
peso.

Teve vontade de contar que sua doença não era nada que a medicina
pudesse curar, e q ue somente o tempo podia ajudá-la a voltar a ser o que
fora. O tempo, agora, passava lentamente.

— A senhora acha que sua amiga se incomodaria — perguntou Tânia


— se eu der uma volta lá embaixo? S ó para matar as saudades...

Projeto Revisoras 110


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Vá, minha querida — respondeu a sra. Yardley. — Faça o que bem


entender. É a sua casa, não?

O quarto que ela e Cassandra dividi am como dormitório não tinha


sofrido grandes mu danças, só que agora apenas uma das duas camas estava
em uso. Num canto, empilhadas, estavam as aquarelas de Cassandra. Tânia
ficou feli z ao descobrir que, apesar de um pouco empoeiradas, elas estavam
em excel entes cond ições.

Repentinamente, teve uma idéia. Uma velha boa idéi a. Não tinha
nada para fazer, p or que não pedia a Frank para l evá- la com as pinturas
para o acostamento, na estrada, n o dia seguinte? Ain da possuía aquela
licença municipal para expor, e quem sabe podia fazer al gum dinheiro. Mais
tarde, quando estivesse trabalhando, pagaria a Cassa ndra, se vendesse
algum.

Frank concordou e, no dia s eguinte, domingo, el e a l evou e ainda


ajudou a dependurar os quadros. Concordou em ir apanhá-la quando ela
telef onasse. Com um aceno, foi embora.

Tânia abriu uma cadeira de armar que tinha levado, c oloc ou uma
sacola contendo bis coitos e chá, ao seu lado, e sentou-se, abrindo um livro.

Depois de algum tempo, começou a divagar. Pensou em Frank, em


como el e ia b em em seu novo emprego de gerente. Ele havia dito a ela qu e
ele e Chrissie iam casar. Tânia imaginava o que as ú ltimas semanas fizeram
por Cassandra. Tinha recebido uma carta dela em resposta ao seu bilhete,
dizendo que sentia por Tânia não ter ido di zer-lhe adeu s, porém entendia,
ou tentava entender. Tânia não respondeu essa carta. No fundo, ainda não
conseguia perdoar a irmã.

A primavera tinha se feito verão, e mesmo esse estava quase no fim.


Tânia observava a s flores resplandecentes nos jardins, o concreto e os
tijol os, as carrocerias dos velhos carros que formavam a vista quando
olhava pela janela de seu quarto, na parte de Londres on de morava agora.

Na estrada, olhou ao redor, respirando o ar fresco. Seus olhos


descansavam nas áreas verdes e nas árvores, bem c omo no jardim da sra.
Beasley do outro lado da rodovia . Nos passarinhos revoando.

Ocasionalmente, algum carro passava devagar e os passageiros


davam uma olhada nos quadros expostos. Nenhum, entretanto, veio olhar
de perto.

Talvez , pensou T ânia, se eu par ecer um pouco mais alegre,


sorrindo...

Nesse momento, um carro passou devagar, parou um pouco e


continuou, mas não foi l onge. O coração de Tânia começou a bater
viol entamente. Reconheceu a figura masculina desenhada na direção, e
ficou olhando para ver at é onde o carro ia. Ele fez a volta, entrou n o
acostamento, aproximou-se devagar e parou do lado oposto a ela. O livro
caiu no chão e, tremendo, ela o apan hou, enfiando-o no saco de comidas.

O motorista permaneceu dentro do ca rro. Olhava para el a, incerto.

Projeto Revisoras 111


Paixão e inocência – Lilian Peake
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Por que teria vin do, por que não falava, mesmo qu e fosse para
perguntar como ela estava?

Estaria ela imaginando tudo isso, como tinha imaginado nos últimos
meses o rost o dele deitado a s eu lado, sua boca na dela, sonhando acordada
que seus braços es tavam a seu redor?

Mas não era imaginação, agora. O homem estava s e movendo,


saindo, caminhando para ela. Ela fic ou de pé para cumprimentá-lo, o rosto
sério como o dele. Mas havia uma diferença. Sua falta de amabilidade era
devido à apreensão e indecisão, ao pa sso que a del e era frio d esacato. Seu
olhar percorreu os quadros.

— Quanto? — perguntou secamente.

— O que, o que qu er dizer? Qual del es, ou...?

— Todos. Já fi zemos isso antes. Diga- me quanto quer por todos el es.

Ela disse o preç o de cada um.

— São dez quadros ao todo.

Ele pegou o talão de cheques, olhou em volta, procurando onde se


apoiar, e fez um sinal com a cabeça em direção a o ca rro. Tânia o s eguiu
dizendo a si mesm a que era uma tol a. Não podia c onfi ar nesse homem de
novo. Antigamente havia Edna, com quem tinha discutido sobre ele. Agora,
havia somente ela e seu conheciment o anterior e amargo del e.

O interior do carro era famil iar para ela, e lhe pareceu como um
velho amigo. Olh ava o perfi l do dono, que esperava, caneta pronta,
parecendo o lado escarpado de uma montanha, impossível de escal ar,
inacessível.

— Devo fa zer o cheque em seu nome ou no de Cassandra?

Pelo t om áspero, el a percebeu que el e não a tinha perdoado.

— Para mim, por favor.

— Por quê?

— Eu... preciso de dinheiro. Assim que for possível vou devolv ê-l o a
Cassandra.

— E por que precisa de dinheiro?

— Estou desempregada.

Ele olhava duramente para ela.

— Você parece é meio morta.

— Muito, muito obrigada. — O sarcasmo dela não o t ocou.

Ele preencheu o ch eque e o estendeu a Tânia, que olhou o valor. Foi ,


como da outra vez , acima do pedido.

Projeto Revisoras 112


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— É muita bondade sua. Veja, não vou picá-lo em pedacinhos como


você ameaçou fa zer com qualquer cheque meu. Na realidade, você deve
guardá-lo, para cobrir o que d evo por mim e por Cassandra, pel a
acomodação e comi da, enquanto vivemos em sua casa.

Uma pequena chama de desforra c orreu pelos olhos dele, porém


apagou-se logo, pois Gregg simplesmente coloc ou o cheque solto dentro do
talão, recol ocando- o, bem como a caneta, em seu bols o.

— Então Anderson pôs de lado sua companheira de cama.

— Sim, ele pôs sua companheira de cama de lado...

— Parece que você não foi capaz de dar conta de seu apetite sexual.
Devia avisá- lo para ser mais cuidadoso antes que tenha um colapso.

— Sim — respondeu Tânia com a fú ria contida. — Darei seu aviso,


seu conselho médic o.

Os olhos d ela soltavam faíscas.

Gregg espiou atrav és da vidraça as nuvens ameaçadoras no céu.

— Acho melhor irmos recolher as pint uras. Quer uma carona?

— Para Londres? Si m.

Juntos, colocaram os quadros no port a-malas do carro. Gregg fechou


a cadeira, guardando-a também, enquanto Tânia punha a sacola ao lado.
Dentro do carro, el a disse:

— Frank vai casar.

— Com voc ê? — Seu rosto ainda parecia um rochedo.

— Com uma garota chamada Chrissie. Agora ele é gerent e do pai dela
em uma loja de dec orações.

Houve uma longa pausa. Depois ele comentou, con templando a


jaqueta surrada que ela usava, o jea ns que pendurava nela, uma vez que
ela tinha emagrecido bastante.

— Então, ele se ca nsou de você?

Tânia não respondeu.

— Dói tanto assim falar no assunto?

Ela continuou em silêncio. Subitamente Gregg lig ou o motor.

— Vou levá-la para casa.

Tânia concordou, encostou-se e fechou os olhos. Por um curto espaço


de tempo ia estar naquele carro, ao l ado del e. Um veíc ulo de classe como
aquele não ia levar muito tempo para chegar a Londres.

Não havia dúvida que, depois disso, n unca mais veria Gregg de novo.
Tinha permitido que el e pensasse o pi or dela.

Projeto Revisoras 113


Paixão e inocência – Lilian Peake
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Quando o carro parou, ela acordou, com um susto. Abriu os olhos


lentamente, perceb endo que ainda estava muito longe de Londres, e virou-
se para el e, acusadora:

— Você me enganou! Você mora aqui, eu não!

— O que mais queria que eu fi zess e? Que l evasse você de volta


àquele antro onde vive, mal tendo din heiro para se alimentar e onde seu ex-
amor vive com a garota com quem vai casar? Eu disse que você pareci a
meio morta. O médico que há em mim se nega a deixá-la voltar para aquilo,
quando o remédio está em minhas próprias mãos.

O médico que há nele, não o homem.. .

— Então pensa que vou viver outra vez em sua casa, junto com sua
noiva, ou devo di zer sua esposa?

Dessa vez foi ele quem resolveu fica r em silêncio. Tânia olhou em
volta.

— Mas aqui é Ashdown Forest!

— Você é muito sabida — retorquiu, sarcástico. — Vamos dar uma


volta.

— Suponhamos que eu não queira.

— Se quer bancar a infantil, então vamos conversar aqui no carro


mesmo.

Depois de alguns momentos, lutando contra sua rebeldi a, ela sa iu do


carro. Gregg a seguiu, fechando o veículo. Fi zeram um passeio pela trilha
na floresta, pisando no mato seco. As árvores se preparavam para o outono
que chegava e hav i a uma certa triagem no ar.

— Aqui — disse Gr egg, puxando Tânia para dentro de uma gruta, que
ela l embrou ser a mesma onde tinham descansado na primavera.

Gregg usava uma capa impermeável e um paletó mais claro que as


calças. Ele afrouxou o nó da gravata e abriu o colarinho da camisa; então
tirou a capa, espalhando-a no chão.

Indicou a Tânia que sentasse nela, e ela o fez, deixando espaço para
ele. Ao inv és diss o, el e s e sentou n o mato sec o. Iss o magoou Tânia um
pouco, mas ela dis se a si mesma que não ligava. T irou sua velha jaqueta
que coloc ou ao lad o.

Com o tom mais normal possível, p erguntou:

— Como está Cassa ndra?

— Muito bem.

— E suas pernas? — perguntou, esperando a resposta com


apreensão.

— Como de c ostume, Russel fez um excelente trabalh o.

Projeto Revisoras 114


Paixão e inocência – Lilian Peake
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Parecia que Gregg não queria dar mais nenhuma informação. Ele
estava mei o deita do, descansando sobre o cot ovelo. T inha apanhado uma
haste de capim, que mastigava.

— Comece do princípio — el e ordenou , quebrando o silêncio —, e vá


até o momento atual.

— O que adianta? — ela perguntou. — Mesmo que eu diga a verdade,


você não vai acredi tar mais hoje do que já acreditou no p assado.

O capim partiu entre seus dedos.

— Diga logo, mulher!

A massa de nuvens acima de suas cabeças escureceu ain da mais e a


chuva começou a cair, mas eles pareceram nem notar. Uma metade dela
objetava pela maneira seca del e falar; porém a outra acei tava.

— No dia em que deixei sua casa, Frank me levou para a casa dele.
Falou sobre a oferta que tinha recebido para ser gerente da loja d e
materiais de decorações. Disse que era o fim de Foster & Anderson. E era
mesmo. Tentei vári os empregos, porém eu... bem, isso soa meio idi ota na
minha idade, mas eu simplesmente parecia não ter forç as para enfrentar o
trabalho.

Tânia fez uma pausa.

— Eu não estava propriamente doente, sabe, estava apenas... — Ela


encolheu os ombros. — Você entende, é médico.

— Arrasada, talvez.

Afinal, será que ele estava entendendo?

— Sim, acho que era isso.

— Não podia aceita r a rejeição?

Será que ele estava sabendo o quanto o amava, e tinha sentido sua
falta?

— Não, eu não podi a, Gregg. Quando.. . se ama alguém...

— Não podia procurar e, talvez, achar outra pessoa?

Meu Deus!, ele pensava que Tânia estava novamente falando de


Frank. Desanimada, esticou as pernas e jogou a cabeça para trás, sentindo
as gotas de chuva caírem sobre seu rosto e p escoço.

— Esqueça tudo o que eu diss e — ela murmurou, querendo chorar,


mas ficando em silêncio.

Ele tinha se chegado para perto dela.

— Esquecer o quê?

A cabeça dela p endia. As mãos del e agarraram seus ombros e ela


tremeu ao seu contato.

Projeto Revisoras 115


Paixão e inocência – Lilian Peake
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— Diga! — Ele a sacudia. — Esquecer o quê?

— Isso, iss o tudo, o que eu diss e. Todo essa história, essa droga,
você e eu.

Então, a revolta jor rou de dentro dela, que começou a gri tar:

— Eu queria nunca tê-lo conhec ido! Queria nunca ter ido para aquele
lugar onde voc ê me encontrou. Eu queria estar ainda na casa de minha mãe,
Cassandra e eu. Nós ainda teríamos nossas esperanças e nossos sonhos ,
ainda estaríamos guardando dinheiro, dia a dia, para ess a operação.

Ela não podia sequer olhar para ele, e não podia suportar seu olhar
de piedade.

— Você tinha qu e entrar em noss as vidas, quebrar nossa paz,


mostrando-nos outro modo de vida, nos forçando a exp erimentá-lo! Todo o
tempo foi um sonho, e um dia acabou, como tod os os sonhos. Voc ê... — A
cabeça de Tânia ergueu-se sobre ele, os cabelos molh ados caíam em seu
rosto. — Você!

A voz dela estava fraca, seus ol hos, embaçados. Ela piscava,


tentando olhar para ele, porém a chuva e as lágrimas a impediam. Um lenço
enxugou seus olhos, clareando- os, mostrando que Gregg estava t ão
molhado quanto el a. Ele não s orria. Ao contrário, obs ervava-a c om olhos d e
médico.

Havia por acaso, naqueles olh os de âmbar, um brilho que ela não
podia entender? Era derrota ou esperança, ou, o pior de tudo, piedade?

Subitamente, com um movimento brusco el e a deitou, r olando sobre


ela e segurando seu rosto entre as mãos. Ela tinha esperado e sonhado com
aquele bei jo todos esses longos meses. Tinha correspondido antes, e
correspondia de novo agora, p orque não podia evitar, simplesmente.

Gregg empurrou sua blusa para o lado, como se tivesse o direito de


fazer isso. As mãos dele se apossa ram de toda sua maciez. Seu corpo
pulsava de d esejo sob as carícias prementes dele. S uas próprias mãos
sentiam a umidade da camisa del e, e ela desejou poder tocar a pele del e
como el e fazia c om a dela.

Sob o impacto da chuva, as árvores murmuravam, e o nome de L ola


surgiu em sua mente. Ela arrancou sua boca da dele, e el es ficaram
deitados, respirand o, of egantes, olhando um nos olhos do outro. — De qu e
adianta isso, Gregg ? — ela perguntou. — Você é c omprometido, ou talvez já
casado, agora. Aqu ele nosso jogo aca bou. Porque... por que tinha que impor
aquela condição?

— Porque tinha que fa zer alguma coi sa para manter você long e de
Anderson.

— Você desc onfiava tanto assim de mim? — disse ressab iada. — Você
ainda não entendeu? Eu nunca quis Frank Anderson! Eu só tinha medo d e
que el e desf izess e nossa soc iedad e e, pior ainda, se afastasse de
Cassandra. Tinha sempre que empurrá-lo para l onge ca da vez que el e me

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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tocava. Entende agora? Eu disse tantas vezes que el e n ão era o meu tipo!
No final das c ontas, nem Cassandra o quis. Ela disse a o dr. Mansfield que
Frank era meu namorado para que Russell soubess e que o caminho estava
livre para ele.

— Ora vejam só, aquela pequena astuta e petulante. Ela não


confessou uma vez sequer. Quantos desgostos pod eriam ter sido ev itados s e
ela tivess e sido honesta em suas táticas amorosas! — Apertando seu queixo
e olhando fundo em seus olhos, Gregg disse: — Acr edi tei no que ela diss e
sobre voc ê e Ander son.

— Aquela noite em que você veio ao meu quarto e me maltratou —


seu rosto pálido en rubesceu ante o sorriso culpado dele —, tentei lhe di zer
a verdade, mas voc ê simplesmente est ava surdo para tudo que eu dissess e.

— Mulher — ele r esmungou, puxando uma mecha de seus cabelos. —


Eu estava l ouco de ciúme. Queria voc ê para mim. Por q ue pensa que tentei
fazer amor com você com tanta freqüência se não porque a amava e queria?
Pensa realmente que eu deixaria de pedir a Russell para tratar de Cassandra
se voc ê tivesse rec usado a proposta de ser minha mulher?

— Por todo o tem po — ela acusou — você já tinha uma mulher em


sua vida.

— Lola nunca foi "minha mulher". Ela se diverte brincando com essa
idéia. Passou por maus momentos com o marido. Eu tomava parte na
brincadeira para ajudá-la a recuperar a autoconfiança e, em parte, para que
você c ontinuasse perguntando...

— Como? — Os ol hos esverdeados d e Tânia estava muito abertos e


pareciam captar os fracos raios de sol que reapareciam agora. — Quer dizer
que era para me fa zer ciúme?

— Também. Mas, acima de tudo, porque eu estava furios o com você e


porque eu pensava que você queria t irar Anderson de Cassandra.

— Você nunca acreditou quando eu negava isso.

— Principalmente porque as evid ências mostravam o contrário. Eu


queria machucar você, c omo voc ê p arecia estar machucando sua irmã, e
como machucava a mim.

Os dedos dele aper taram seu queixo.

— Eu a amo, mul her. Desde o momento em que vi voc ê naquel e


acostamento, olhando para mim com esses grandes ol hos brilhantes, com
toda aquela espera nça de que eu tivesse algum interesse e comprasse.. . E
comprei por sua causa.

— Aconteceu o m esmo comigo, Gregg, naquele primeiro momento.


Mas eu não tinha esperança. Sempre havia Lola.. .

— E também havia Anderson. Agora, ambos estão fora do caminho.


Um está se casando, certo? — Tâni a concordou. — A outra voltou para o
marido.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
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Tânia levantou a ca beça.

— Desistiu do divór cio?

— Desistiram. Lola voltou para Angus.

— Agora, por favor, Gregg, e Cassandra?

— Ela pode andar de novo.

As lágrimas vieram , contidas por tanto tempo, não mais de desgosto,


mas de incrível f eli cidade.

— Ela tem saudades de você — diss e Gregg. — Quando você aparecer


por lá, ela vai c horar também. Vai atravessar o quarto andando para
recebê-la.

Ele fez uma pausa.

— Tem mais uma coisa. Cassandra e Russell vã o casar.

— Vão mesmo? Oh, estou tão feliz, realmente tão feliz! — respondeu
Tânia. — Era o que ela queria. S oube disso depois que fu i embora.

Eles ficaram deitados, lado a lado, por um longo t empo. Tânia


imaginava a figura de Cassandra andando, como costu mava fazer, rindo e
transbordando de vida e felicidade, como no passado.

— Imagine! Cassandra, uma moça comprometida...

O braço de Gregg a alcançou, embora estivess e de olhos fechados.

— Tânia, venha para mim.

Ela não precisou de um segundo pedido, embora não sou besse direit o

como responder. Ajoelhada ao lado dele, tocou seu rosto. No mesmo


instante, os braços dele a prenderam, puxando até que o corpo del a
estivess e sobre o dele. Suas mãos percorriam as curvas dela lentamente,
como um artista que, carinhosamente, afaga sua obra-prima.

Então ele virou rápido, colocando-a de costas e movendo-se sobre


ela, de n ovo.

Olharam-se nos olhos e b eijara m-se. Os músculos del e se


enrijec eram e se excitaram quando ela se arqueou para colar o corpo ao
dele.

— Você ainda me ama? — ele perguntou, lábios nos lábios.

— Oh, Gregg — ela respondeu —, eu amo você agora mais do que


antes. Você estava comigo d ia e n oite, em cada momento, em todos os
sonhos, mas sempre, sempre fora d o meu alcance.

— Todos esses meses, tanto tempo perdido sem um sinal de você...


Um dia eu conto o que eles fi zeram comigo.

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Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Gregg olhava para ela, como se não pudesse ter o bastante dela para
si mesmo.

— Dê-me sua boca.

Devagar, ela abriu os lábios e os dele penetraram em sua boca. Cada


parte de seus cor pos que s e toc ava , queimava, e ela foi consumida pel o
primitivo fog o que fluía del e para dentro dela. El e disse, contra seus lábios:

— Se eu ordenar q ue me dê seu corpo, você dará?

— Sim, sim — ela respondeu, abandonando sua vontade inteiramente


para ele, ag ora.

Ele murmurou:

— Sinto por voc ê um amor tão profundo que não acho as palavras
certas para me expressar. Só posso dizê-l o por ações. Vou fazer amor com
você agora, você s erá só minha.

Ele falou roucamente contra sua boca, e um estremecimento


percorreu o corpo dela, querendo se abandonar.

— Vou fazer você i nteiramente minha. Minha mulher e minha esposa.

FIM

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Paixão e inocência – Lilian Peake
Julia 176

Barbara, Sabrina, Julia e Bianca. Estes são os livros que trazem na


capa o coração, símbolo das mais emocionantes histórias de amor.

Você vai viver uma história emocionante!

JULIA 177: O MISTÉRIO DE DION - Anne Weale


Valissa não podia acreditar! Há um mês atrás, tudo o que importava a
ela, na vida, era a carreira de decoradora, em Londres. Agora, de férias na
Grécia e apaixonada, não tinha coragem de gozar a plenitude do amor que Dion
Stefanides lhe ofer ecia por não concordar com a proposta dele: abrir mão de
tudo e mudar-se para a cabana em que ele morava, para ser sua mulher e mãe
de seus filhos. Não. Por mais que o amasse, não poderia se casar com um
aventureiro, sem futuro. Se pelo menos Dion quisesse viver com ela em
Londres... Ele era um homem bem informado e de boas maneiras; não podia ser
um simplório. Mas por que não queria sair da Grécia? O que o prendia àquela
ilha tão isolada?

Não perca esta espetacular edição!

JULIA 178: NOITES DE TORTURA - Charlotte Lamb


Seus olhos eram verdes; seus cabelos, loiro -avermelhados. Ela era uma
mulher linda, todos os homens se rendiam aos seus encantos. Mas Celina nunca
se entregara a qualquer deles. Tinha medo, verdadeiro pavor de sexo. E nem
Ashley Dent, que fora por seis meses seu marido, conseguira mudar isso.
Agora, ele estava de volta, querendo tentar mais uma vez. Tinha prometido a
Celina que a conquistaria aos poucos, para não assustá-la, como se ela fosse
uma adolescente. E assim ele começou sua longa e excitante lição de amor.
Celina ainda tinha seus pavores, mas era difícil resistir aquele homem
experiente, que a deixava louca, torturando-a todas as noites, com suas
carícias ardentes...

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