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Código Civil

ATUALIZADA ATÉ SETEMBRO DE 2022

Atualização e revisão técnica: Coordenação de Edições Técnicas


A norma aqui apresentada não substitui as publicações do Diário Oficial da União.
Sumário

CÓDIGO CIVIL

Lei no 10.406/2002
131 PARTE GERAL
131 LIVRO I – DAS PESSOAS
131 TÍTULO I – DAS PESSOAS NATURAIS
131 CAPÍTULO I – DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
132 CAPÍTULO II – DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
132 CAPÍTULO III – DA AUSÊNCIA
132 Seção I – Da Curadoria dos Bens do Ausente
132 Seção II – Da Sucessão Provisória
133 Seção III – Da Sucessão Definitiva
133 TÍTULO II – DAS PESSOAS JURÍDICAS
133 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
135 CAPÍTULO II – DAS ASSOCIAÇÕES
135 CAPÍTULO III – DAS FUNDAÇÕES
136 TÍTULO III – DO DOMICÍLIO
137 LIVRO II – DOS BENS
137 TÍTULO ÚNICO – DAS DIFERENTES CLASSES DE BENS
137 CAPÍTULO I – DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS
137 Seção I – Dos Bens Imóveis
137 Seção II – Dos Bens Móveis
137 Seção III – Dos Bens Fungíveis e Consumíveis
137 Seção IV – Dos Bens Divisíveis
137 Seção V – Dos Bens Singulares e Coletivos
137 CAPÍTULO II – DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS
137 CAPÍTULO III – DOS BENS PÚBLICOS
138 LIVRO III – DOS FATOS JURÍDICOS
138 TÍTULO I – DO NEGÓCIO JURÍDICO
138 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
138 CAPÍTULO II – DA REPRESENTAÇÃO
139 CAPÍTULO III – DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO
140 CAPÍTULO IV – DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
140 Seção I – Do Erro ou Ignorância
140 Seção II – Do Dolo
140 Seção III – Da Coação
140 Seção IV – Do Estado de Perigo
140 Seção V – Da Lesão
141 Seção VI – Da Fraude contra Credores
141 CAPÍTULO V – DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
142 TÍTULO II – DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS
142 TÍTULO III – DOS ATOS ILÍCITOS
142 TÍTULO IV – DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA
142 CAPÍTULO I – DA PRESCRIÇÃO
142 Seção I – Disposições Gerais
143 Seção II – Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição
143 Seção III – Das Causas que Interrompem a Prescrição
143 Seção IV – Dos Prazos da Prescrição
144 CAPÍTULO II – DA DECADÊNCIA
144 TÍTULO V – DA PROVA
145 PARTE ESPECIAL
145 LIVRO I – DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
145 TÍTULO I – DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES
145 CAPÍTULO I – DAS OBRIGAÇÕES DE DAR
145 Seção I – Das Obrigações de Dar Coisa Certa
146 Seção II – Das Obrigações de Dar Coisa Incerta
146 CAPÍTULO II – DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER
146 CAPÍTULO III – DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER
146 CAPÍTULO IV – DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS
147 CAPÍTULO V – DAS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
147 CAPÍTULO VI – DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
147 Seção I – Disposições Gerais
147 Seção II – Da Solidariedade Ativa
147 Seção III – Da Solidariedade Passiva
148 TÍTULO II – DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
148 CAPÍTULO I – DA CESSÃO DE CRÉDITO
148 CAPÍTULO II – DA ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
149 TÍTULO III – DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
149 CAPÍTULO I – DO PAGAMENTO
149 Seção I – De Quem Deve Pagar
149 Seção II – Daqueles a Quem Se Deve Pagar
149 Seção III – Do Objeto do Pagamento e Sua Prova
150 Seção IV – Do Lugar do Pagamento
150 Seção V – Do Tempo do Pagamento
150 CAPÍTULO II – DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
151 CAPÍTULO III – DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO
151 CAPÍTULO IV – DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO
151 CAPÍTULO V – DA DAÇÃO EM PAGAMENTO
151 CAPÍTULO VI – DA NOVAÇÃO
152 CAPÍTULO VII – DA COMPENSAÇÃO
152 CAPÍTULO VIII – DA CONFUSÃO
152 CAPÍTULO IX – DA REMISSÃO DAS DÍVIDAS
153 TÍTULO IV – DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
153 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
153 CAPÍTULO II – DA MORA
153 CAPÍTULO III – DAS PERDAS E DANOS
153 CAPÍTULO IV – DOS JUROS LEGAIS
154 CAPÍTULO V – DA CLÁUSULA PENAL
154 CAPÍTULO VI – DAS ARRAS OU SINAL
154 TÍTULO V – DOS CONTRATOS EM GERAL
154 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
154 Seção I – Preliminares
155 Seção II – Da Formação dos Contratos
155 Seção III – Da Estipulação em Favor de Terceiro
155 Seção IV – Da Promessa de Fato de Terceiro
155 Seção V – Dos Vícios Redibitórios
156 Seção VI – Da Evicção
156 Seção VII – Dos Contratos Aleatórios
156 Seção VIII – Do Contrato Preliminar
157 Seção IX – Do Contrato com Pessoa a Declarar
157 CAPÍTULO II – DA EXTINÇÃO DO CONTRATO
157 Seção I – Do Distrato
157 Seção II – Da Cláusula Resolutiva
157 Seção III – Da Exceção de Contrato Não Cumprido
157 Seção IV – Da Resolução por Onerosidade Excessiva
158 TÍTULO VI – DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATO
158 CAPÍTULO I – DA COMPRA E VENDA
158 Seção I – Disposições Gerais
159 Seção II – Das Cláusulas Especiais à Compra e Venda
159 Subseção I – Da Retrovenda
159 Subseção II – Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova
159 Subseção III – Da Preempção ou Preferência
160 Subseção IV – Da Venda com Reserva de Domínio
160 Subseção V – Da Venda sobre Documentos
160 CAPÍTULO II – DA TROCA OU PERMUTA
161 CAPÍTULO III – DO CONTRATO ESTIMATÓRIO
161 CAPÍTULO IV – DA DOAÇÃO
161 Seção I – Disposições Gerais
161 Seção II – Da Revogação da Doação
162 CAPÍTULO V – DA LOCAÇÃO DE COISAS
163 CAPÍTULO VI – DO EMPRÉSTIMO
163 Seção I – Do Comodato
163 Seção II – Do Mútuo
163 CAPÍTULO VII – DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
164 CAPÍTULO VIII – DA EMPREITADA
165 CAPÍTULO IX – DO DEPÓSITO
165 Seção I – Do Depósito Voluntário
166 Seção II – Do Depósito Necessário
167 CAPÍTULO X – DO MANDATO
167 Seção I – Disposições Gerais
167 Seção II – Das Obrigações do Mandatário
168 Seção III – Das Obrigações do Mandante
168 Seção IV – Da Extinção do Mandato
169 Seção V – Do Mandato Judicial
169 CAPÍTULO XI – DA COMISSÃO
170 CAPÍTULO XII – DA AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
170 CAPÍTULO XIII – DA CORRETAGEM
171 CAPÍTULO XIV – DO TRANSPORTE
171 Seção I – Disposições Gerais
171 Seção II – Do Transporte de Pessoas
172 Seção III – Do Transporte de Coisas
173 CAPÍTULO XV – DO SEGURO
173 Seção I – Disposições Gerais
174 Seção II – Do Seguro de Dano
174 Seção III – Do Seguro de Pessoa
175 CAPÍTULO XVI – DA CONSTITUIÇÃO DE RENDA
176 CAPÍTULO XVII – DO JOGO E DA APOSTA
176 CAPÍTULO XVIII – DA FIANÇA
176 Seção I – Disposições Gerais
176 Seção II – Dos Efeitos da Fiança
177 Seção III – Da Extinção da Fiança
177 CAPÍTULO XIX – DA TRANSAÇÃO
177 CAPÍTULO XX – DO COMPROMISSO
178 TÍTULO VII – DOS ATOS UNILATERAIS
178 CAPÍTULO I – DA PROMESSA DE RECOMPENSA
178 CAPÍTULO II – DA GESTÃO DE NEGÓCIOS
179 CAPÍTULO III – DO PAGAMENTO INDEVIDO
179 CAPÍTULO IV – DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA
179 TÍTULO VIII – DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
179 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
180 CAPÍTULO II – DO TÍTULO AO PORTADOR
181 CAPÍTULO III – DO TÍTULO À ORDEM
181 CAPÍTULO IV – DO TÍTULO NOMINATIVO
182 TÍTULO IX – DA RESPONSABILIDADE CIVIL
182 CAPÍTULO I – DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR
183 CAPÍTULO II – DA INDENIZAÇÃO
183 TÍTULO X – DAS PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS
184 LIVRO II – DO DIREITO DE EMPRESA
184 TÍTULO I – DO EMPRESÁRIO
184 CAPÍTULO I – DA CARACTERIZAÇÃO E DA INSCRIÇÃO
185 CAPÍTULO II – DA CAPACIDADE
185 TÍTULO I-A – DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA
186 TÍTULO II – DA SOCIEDADE
186 CAPÍTULO ÚNICO – DISPOSIÇÕES GERAIS
186 SUBTÍTULO I – DA SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA
186 CAPÍTULO I – DA SOCIEDADE EM COMUM
186 CAPÍTULO II – DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO
187 SUBTÍTULO II – DA SOCIEDADE PERSONIFICADA
187 CAPÍTULO I – DA SOCIEDADE SIMPLES
187 Seção I – Do Contrato Social
187 Seção II – Dos Direitos e Obrigações dos Sócios
188 Seção III – Da Administração
189 Seção IV – Das Relações com Terceiros
189 Seção V – Da Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio
189 Seção VI – Da Dissolução
190 CAPÍTULO II – DA SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
190 CAPÍTULO III – DA SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
191 CAPÍTULO IV – DA SOCIEDADE LIMITADA
191 Seção I – Disposições Preliminares
191 Seção II – Das Quotas
191 Seção III – Da Administração
192 Seção IV – Do Conselho Fiscal
192 Seção V – Das Deliberações dos Sócios
193 Seção VI – Do Aumento e da Redução do Capital
194 Seção VII – Da Resolução da Sociedade em Relação a Sócios Minoritários
194 Seção VIII – Da Dissolução
194 CAPÍTULO V – DA SOCIEDADE ANÔNIMA
194 Seção Única – Da Caracterização
194 CAPÍTULO VI – DA SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES
194 CAPÍTULO VII – DA SOCIEDADE COOPERATIVA
195 CAPÍTULO VIII – DAS SOCIEDADES COLIGADAS
195 CAPÍTULO IX – DA LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE
196 CAPÍTULO X – DA TRANSFORMAÇÃO, DA INCORPORAÇÃO, DA FUSÃO E DA CISÃO DAS
SOCIEDADES
197 CAPÍTULO XI – DA SOCIEDADE DEPENDENTE DE AUTORIZAÇÃO
197 Seção I – Disposições Gerais
197 Seção II – Da Sociedade Nacional
197 Seção III – Da Sociedade Estrangeira
198 TÍTULO III – DO ESTABELECIMENTO
198 CAPÍTULO ÚNICO – DISPOSIÇÕES GERAIS
199 TÍTULO IV – DOS INSTITUTOS COMPLEMENTARES
199 CAPÍTULO I – DO REGISTRO
199 CAPÍTULO II – DO NOME EMPRESARIAL
200 CAPÍTULO III – DOS PREPOSTOS
200 Seção I – Disposições Gerais
200 Seção II – Do Gerente
201 Seção III – Do Contabilista e Outros Auxiliares
201 CAPÍTULO IV – DA ESCRITURAÇÃO
202 LIVRO III – DO DIREITO DAS COISAS
202 TÍTULO I – DA POSSE
202 CAPÍTULO I – DA POSSE E SUA CLASSIFICAÇÃO
203 CAPÍTULO II – DA AQUISIÇÃO DA POSSE
203 CAPÍTULO III – DOS EFEITOS DA POSSE
204 CAPÍTULO IV – DA PERDA DA POSSE
204 TÍTULO II – DOS DIREITOS REAIS
204 CAPÍTULO ÚNICO – DISPOSIÇÕES GERAIS
204 TÍTULO III – DA PROPRIEDADE
204 CAPÍTULO I – DA PROPRIEDADE EM GERAL
204 Seção I – Disposições Preliminares
204 Seção II – Da Descoberta
205 CAPÍTULO II – DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
205 Seção I – Da Usucapião
205 Seção II – Da Aquisição pelo Registro do Título
206 Seção III – Da Aquisição por Acessão
206 Subseção I – Das Ilhas
206 Subseção II – Da Aluvião
206 Subseção III – Da Avulsão
206 Subseção IV – Do Álveo Abandonado
206 Subseção V – Das Construções e Plantações
207 CAPÍTULO III – DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
207 Seção I – Da Usucapião
207 Seção II – Da Ocupação
207 Seção III – Do Achado do Tesouro
207 Seção IV – Da Tradição
207 Seção V – Da Especificação
207 Seção VI – Da Confusão, da Comissão e da Adjunção
208 CAPÍTULO IV – DA PERDA DA PROPRIEDADE
208 CAPÍTULO V – DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA
208 Seção I – Do Uso Anormal da Propriedade
208 Seção II – Das Árvores Limítrofes
208 Seção III – Da Passagem Forçada
208 Seção IV – Da Passagem de Cabos e Tubulações
209 Seção V – Das Águas
209 Seção VI – Dos Limites entre Prédios e do Direito de Tapagem
210 Seção VII – Do Direito de Construir
211 CAPÍTULO VI – DO CONDOMÍNIO GERAL
211 Seção I – Do Condomínio Voluntário
211 Subseção I – Dos Direitos e Deveres dos Condôminos
211 Subseção II – Da Administração do Condomínio
211 Seção II – Do Condomínio Necessário
212 CAPÍTULO VII – DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO
212 Seção I – Disposições Gerais
213 Seção II – Da Administração do Condomínio
215 Seção III – Da Extinção do Condomínio
215 Seção IV – Do Condomínio de Lotes
215 CAPÍTULO VII-A – DO CONDOMÍNIO EM MULTIPROPRIEDADE
215 Seção I – Disposições Gerais
215 Seção II – Da Instituição da Multipropriedade
216 Seção III – Dos Direitos e das Obrigações do Multiproprietário
216 Seção IV – Da Transferência da Multipropriedade
217 Seção V – Da Administração da Multipropriedade
217 Seção VI – Disposições Específicas Relativas às Unidades Aut nomas de Condomínios
Edilícios
218 CAPÍTULO VIII – DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL
219 CAPÍTULO IX – DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
219 CAPÍTULO X – DO FUNDO DE INVESTIMENTO
220 TÍTULO IV – DA SUPERFÍCIE
220 TÍTULO V – DAS SERVIDÕES
220 CAPÍTULO I – DA CONSTITUIÇÃO DAS SERVIDÕES
220 CAPÍTULO II – DO EXERCÍCIO DAS SERVIDÕES
221 CAPÍTULO III – DA EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES
221 TÍTULO VI – DO USUFRUTO
221 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
221 CAPÍTULO II – DOS DIREITOS DO USUFRUTUÁRIO
222 CAPÍTULO III – DOS DEVERES DO USUFRUTUÁRIO
222 CAPÍTULO IV – DA EXTINÇÃO DO USUFRUTO
223 TÍTULO VII – DO USO
223 TÍTULO VIII – DA HABITAÇÃO
223 TÍTULO IX – DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR
223 TÍTULO X – DO PENHOR, DA HIPOTECA E DA ANTICRESE
223 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
224 CAPÍTULO II – DO PENHOR
224 Seção I – Da Constituição do Penhor
224 Seção II – Dos Direitos do Credor Pignoratício
224 Seção III – Das Obrigações do Credor Pignoratício
224 Seção IV – Da Extinção do Penhor
225 Seção V – Do Penhor Rural
225 Subseção I – Disposições Gerais
225 Subseção II – Do Penhor Agrícola
225 Subseção III – Do Penhor Pecuário
225 Seção VI – Do Penhor Industrial e Mercantil
226 Seção VII – Do Penhor de Direitos e Títulos de Crédito
226 Seção VIII – Do Penhor de Veículos
226 Seção IX – Do Penhor Legal
227 CAPÍTULO III – DA HIPOTECA
227 Seção I – Disposições Gerais
228 Seção II – Da Hipoteca Legal
228 Seção III – Do Registro da Hipoteca
229 Seção IV – Da Extinção da Hipoteca
229 Seção V – Da Hipoteca de Vias Férreas
229 CAPÍTULO IV – DA ANTICRESE
229 TÍTULO XI – DA LAJE
230 LIVRO IV – DO DIREITO DE FAMÍLIA
230 TÍTULO I – DO DIREITO PESSOAL
230 SUBTÍTULO I – DO CASAMENTO
230 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
231 CAPÍTULO II – DA CAPACIDADE PARA O CASAMENTO
231 CAPÍTULO III – DOS IMPEDIMENTOS
231 CAPÍTULO IV – DAS CAUSAS SUSPENSIVAS
231 CAPÍTULO V – DO PROCESSO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO
232 CAPÍTULO VI – DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
233 CAPÍTULO VII – DAS PROVAS DO CASAMENTO
233 CAPÍTULO VIII – DA INVALIDADE DO CASAMENTO
234 CAPÍTULO IX – DA EFICÁCIA DO CASAMENTO
235 CAPÍTULO X – DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL
236 CAPÍTULO XI – DA PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS
237 SUBTÍTULO II – DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
237 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
237 CAPÍTULO II – DA FILIAÇÃO
238 CAPÍTULO III – DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS
238 CAPÍTULO IV – DA ADOÇÃO
238 CAPÍTULO V – DO PODER FAMILIAR
238 Seção I – Disposições Gerais
238 Seção II – Do Exercício do Poder Familiar
239 Seção III – Da Suspensão e Extinção do Poder Familiar
239 TÍTULO II – DO DIREITO PATRIMONIAL
239 SUBTÍTULO I – DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES
239 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
240 CAPÍTULO II – DO PACTO ANTENUPCIAL
240 CAPÍTULO III – DO REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL
241 CAPÍTULO IV – DO REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL
241 CAPÍTULO V – DO REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS
242 CAPÍTULO VI – DO REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS
242 SUBTÍTULO II – DO USUFRUTO E DA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DE FILHOS MENORES
243 SUBTÍTULO III – DOS ALIMENTOS
243 SUBTÍTULO IV – DO BEM DE FAMÍLIA
244 TÍTULO III – DA UNIÃO ESTÁVEL
245 TÍTULO IV – DA TUTELA, DA CURATELA E DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA
245 CAPÍTULO I – DA TUTELA
245 Seção I – Dos Tutores
245 Seção II – Dos Incapazes de Exercer a Tutela
245 Seção III – Da Escusa dos Tutores
245 Seção IV – Do Exercício da Tutela
246 Seção V – Dos Bens do Tutelado
247 Seção VI – Da Prestação de Contas
247 Seção VII – Da Cessação da Tutela
247 CAPÍTULO II – DA CURATELA
247 Seção I – Dos Interditos
248 Seção II – Da Curatela do Nascituro e do Enfermo ou Portador de Deficiência Física
248 Seção III – Do Exercício da Curatela
248 CAPÍTULO III – DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA
248 LIVRO V – DO DIREITO DAS SUCESSÕES
248 TÍTULO I – DA SUCESSÃO EM GERAL
248 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
249 CAPÍTULO II – DA HERANÇA E DE SUA ADMINISTRAÇÃO
249 CAPÍTULO III – DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
250 CAPÍTULO IV – DA ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
250 CAPÍTULO V – DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO
251 CAPÍTULO VI – DA HERANÇA JACENTE
251 CAPÍTULO VII – DA PETIÇÃO DE HERANÇA
251 TÍTULO II – DA SUCESSÃO LEGÍTIMA
251 CAPÍTULO I – DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
252 CAPÍTULO II – DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS
252 CAPÍTULO III – DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
252 TÍTULO III – DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
252 CAPÍTULO I – DO TESTAMENTO EM GERAL
253 CAPÍTULO II – DA CAPACIDADE DE TESTAR
253 CAPÍTULO III – DAS FORMAS ORDINÁRIAS DO TESTAMENTO
253 Seção I – Disposições Gerais
253 Seção II – Do Testamento Público
253 Seção III – Do Testamento Cerrado
254 Seção IV – Do Testamento Particular
254 CAPÍTULO IV – DOS CODICILOS
254 CAPÍTULO V – DOS TESTAMENTOS ESPECIAIS
254 Seção I – Disposições Gerais
254 Seção II – Do Testamento Marítimo e do Testamento Aeronáutico
254 Seção III – Do Testamento Militar
255 CAPÍTULO VI – DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS
256 CAPÍTULO VII – DOS LEGADOS
256 Seção I – Disposições Gerais
256 Seção II – Dos Efeitos do Legado e do Seu Pagamento
257 Seção III – Da Caducidade dos Legados
257 CAPÍTULO VIII – DO DIREITO DE ACRESCER ENTRE HERDEIROS E LEGATÁRIOS
258 CAPÍTULO IX – DAS SUBSTITUIÇÕES
258 Seção I – Da Substituição Vulgar e da Recíproca
258 Seção II – Da Substituição Fideicomissária
258 CAPÍTULO X – DA DESERDAÇÃO
258 CAPÍTULO XI – DA REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS
259 CAPÍTULO XII – DA REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO
259 CAPÍTULO XIII – DO ROMPIMENTO DO TESTAMENTO
259 CAPÍTULO XIV – DO TESTAMENTEIRO
260 TÍTULO IV – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA
260 CAPÍTULO I – DO INVENTÁRIO
260 CAPÍTULO II – DOS SONEGADOS
260 CAPÍTULO III – DO PAGAMENTO DAS DÍVIDAS
261 CAPÍTULO IV – DA COLAÇÃO
261 CAPÍTULO V – DA PARTILHA
262 CAPÍTULO VI – DA GARANTIA DOS QUINHÕES HEREDITÁRIOS
262 CAPÍTULO VII – DA ANULAÇÃO DA PARTILHA
262 LIVRO COMPLEMENTAR – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Código Civil

Lei no 10.406/2002

Institui o Código Civil. III – aqueles que, por causa vável a morte de quem estava em
transitória ou permanente, não perigo de vida;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA puderem exprimir sua vontade; II – se alguém, desaparecido
IV – os pródigos. em campanha ou feito prisioneiro,
Faço saber que o Congresso Na- Parágrafo único. A capacida- não for encontrado até dois anos
cional decreta e eu sanciono a de dos indígenas será regulada após o término da guerra.
seguinte Lei: por legislação especial. Parágrafo único. A declara-
ção da morte presumida, nesses
Art. 5o A menoridade cessa aos casos, somente poderá ser re-
PARTE GERAL dezoito anos completos, quando querida depois de esgotadas as
LIVRO I – DAS PESSOAS a pessoa fica habilitada à prática buscas e averiguações, devendo
de todos os atos da vida civil. a sentença fixar a data provável
TÍTULO I – DAS PESSOAS Parágrafo único. Cessará, do falecimento.
NATURAIS para os menores, a incapacidade:
I – pela concessão dos pais, Art. 8o Se dois ou mais indivídu-
CAPÍTULO I – DA ou de um deles na falta do outro, os falecerem na mesma ocasião,
PERSONALIDADE E DA mediante instrumento público, não se podendo averiguar se al-
independentemente de homo- gum dos comorientes precedeu
CAPACIDADE logação judicial, ou por sentença aos outros, presumir-se-ão si-
do juiz, ouvido o tutor, se o menor multaneamente mortos.
Art. 1o Toda pessoa é capaz de tiver dezesseis anos completos;
direitos e deveres na ordem civil. II – pelo casamento; Art. 9o Serão registrados em
III – pelo exercício de emprego registro público:
Art. 2o A personalidade civil da público efetivo; I – os nascimentos, casamen-
pessoa começa do nascimento IV – pela colação de grau em tos e óbitos;
com vida; mas a lei põe a salvo, curso de ensino superior; II – a emancipação por ou-
desde a concepção, os direitos V – pelo estabelecimento civil torga dos pais ou por sentença
do nascituro. ou comercial, ou pela existência do juiz;
de relação de emprego, desde III – a interdição por incapaci-
Art. 3o São absolutamente inca- que, em função deles, o menor dade absoluta ou relativa;
pazes de exercer pessoalmente com dezesseis anos completos IV – a sentença declaratória
os atos da vida civil os menores tenha economia própria. de ausência e de morte presu-
de 16 (dezesseis) anos. mida.
I – (Revogado); Art. 6o A existência da pessoa
II – (Revogado); natural termina com a morte; Art. 10. Far-se-á averbação em
III – (Revogado). presume-se esta, quanto aos au- registro público:
sentes, nos casos em que a lei I – das sentenças que decre-
Art. 4o São incapazes, relativa- autoriza a abertura de sucessão tarem a nulidade ou anulação do
mente a certos atos ou à maneira definitiva. casamento, o divórcio, a separa-
de os exercer: ção judicial e o restabelecimento
I – os maiores de dezesseis e Art. 7o Pode ser declarada a da sociedade conjugal;
menores de dezoito anos; morte presumida, sem decreta- II – dos atos judiciais ou ex-
II – os ébrios habituais e os ção de ausência: trajudiciais que declararem ou
viciados em tóxico; I – se for extremamente pro- reconhecerem a filiação;

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Código Civil
III – (Revogado). público, ainda quando não haja tário que não queira ou não possa
intenção difamatória. exercer ou continuar o mandato,
ou se os seus poderes forem in-
CAPÍTULO II – Art. 18. Sem autorização, não suficientes.
DOS DIREITOS DA se pode usar o nome alheio em
PERSONALIDADE propaganda comercial. Art. 24. O juiz, que nomear o
curador, fixar-lhe-á os poderes e
Art. 11. Com exceção dos ca- Art. 19. O pseudônimo adota- obrigações, conforme as circuns-
sos previstos em lei, os direitos do para atividades lícitas goza tâncias, observando, no que for
da personalidade são intrans- da proteção que se dá ao nome. aplicável, o disposto a respeito
missíveis e irrenunciáveis, não dos tutores e curadores.
podendo o seu exercício sofrer Art. 20. Salvo se autorizadas, ou
limitação voluntária. se necessárias à administração Art. 25. O cônjuge do ausente,
da justiça ou à manutenção da sempre que não esteja separado
Art. 12. Pode-se exigir que cesse ordem pública, a divulgação de judicialmente, ou de fato por mais
a ameaça, ou a lesão, a direito da escritos, a transmissão da pala- de dois anos antes da declaração
personalidade, e reclamar perdas vra, ou a publicação, a exposição da ausência, será o seu legítimo
e danos, sem prejuízo de outras ou a utilização da imagem de uma curador.
sanções previstas em lei. pessoa poderão ser proibidas, a § 1o Em falta do cônjuge, a
Parágrafo único. Em se tra- seu requerimento e sem prejuízo curadoria dos bens do ausente
tando de morto, terá legitimação da indenização que couber, se lhe incumbe aos pais ou aos descen-
para requerer a medida prevista atingirem a honra, a boa fama ou dentes, nesta ordem, não haven-
neste artigo o cônjuge sobrevi- a respeitabilidade, ou se se desti- do impedimento que os iniba de
vente, ou qualquer parente em narem a fins comerciais.1 exercer o cargo.
linha reta, ou colateral até o quar- Parágrafo único. Em se tra- § 2o Entre os descendentes,
to grau. tando de morto ou de ausente, os mais próximos precedem os
são partes legítimas para reque- mais remotos.
Art. 13. Salvo por exigência mé- rer essa proteção o cônjuge, os § 3o Na falta das pessoas
dica, é defeso o ato de disposição ascendentes ou os descendentes. mencionadas, compete ao juiz
do próprio corpo, quando impor- a escolha do curador.
tar diminuição permanente da Art. 21. A vida privada da pessoa
integridade física, ou contrariar natural é inviolável, e o juiz, a re-
os bons costumes. querimento do interessado, ado-
Seção II – Da Sucessão
Parágrafo único. O ato pre- tará as providências necessárias Provisória
visto neste artigo será admitido para impedir ou fazer cessar ato
para fins de transplante, na for- contrário a esta norma.2 Art. 26. Decorrido um ano da
ma estabelecida em lei especial. arrecadação dos bens do ausente,
ou, se ele deixou representante
Art. 14. É válida, com objetivo CAPÍTULO III – DA ou procurador, em se passando
científico, ou altruístico, a dispo- AUSÊNCIA três anos, poderão os interessa-
sição gratuita do próprio corpo, dos requerer que se declare a au-
Seção I – Da Curadoria dos
no todo ou em parte, para depois sência e se abra provisoriamente
da morte. Bens do Ausente a sucessão.
Parágrafo único. O ato de
disposição pode ser livremente Art. 22. Desaparecendo uma Art. 27. Para o efeito previsto
revogado a qualquer tempo. pessoa do seu domicílio sem dela no artigo anterior, somente se
haver notícia, se não houver dei- consideram interessados:
Art. 15. Ninguém pode ser cons- xado representante ou procura- I – o cônjuge não separado
trangido a submeter-se, com ris- dor a quem caiba administrar-lhe judicialmente;
co de vida, a tratamento médico os bens, o juiz, a requerimento II – os herdeiros presumidos,
ou a intervenção cirúrgica. de qualquer interessado ou do legítimos ou testamentários;
Ministério Público, declarará a au- III – os que tiverem sobre os
Art. 16. Toda pessoa tem direito sência, e nomear-lhe-á curador. bens do ausente direito depen-
ao nome, nele compreendidos o dente de sua morte;
prenome e o sobrenome. Art. 23. Também se declarará a IV – os credores de obriga-
ausência, e se nomeará curador, ções vencidas e não pagas.
Art. 17. O nome da pessoa não quando o ausente deixar manda-
pode ser empregado por outrem Art. 28. A sentença que determi-
em publicações ou representa- 1
Nota do Editor (NE): ver ADI no 4.815. nar a abertura da sucessão provi-
ções que a exponham ao desprezo 2
NE: ver ADI no 4.815. sória só produzirá efeito cento e

132
Código Civil
oitenta dias depois de publicada mente o ausente, de modo que Art. 38. Pode-se requerer a su-
pela imprensa; mas, logo que contra eles correrão as ações cessão definitiva, também, pro-
passe em julgado, proceder-se- pendentes e as que de futuro vando-se que o ausente conta
-á à abertura do testamento, se àquele forem movidas. oitenta anos de idade, e que de
houver, e ao inventário e partilha cinco datam as últimas notícias
dos bens, como se o ausente fos- Art. 33. O descendente, ascen- dele.
se falecido. dente ou cônjuge que for sucessor
§ 1o Findo o prazo a que se provisório do ausente, fará seus Art. 39. Regressando o ausente
refere o art. 26, e não havendo in- todos os frutos e rendimentos nos dez anos seguintes à aber-
teressados na sucessão provisó- dos bens que a este couberem; tura da sucessão definitiva, ou
ria, cumpre ao Ministério Público os outros sucessores, porém, de- algum de seus descendentes ou
requerê-la ao juízo competente. verão capitalizar metade desses ascendentes, aquele ou estes
§ 2o Não comparecendo her- frutos e rendimentos, segundo haverão só os bens existentes
deiro ou interessado para reque- o disposto no art. 29, de acordo no estado em que se acharem,
rer o inventário até trinta dias com o representante do Ministé- os sub-rogados em seu lugar,
depois de passar em julgado a rio Público, e prestar anualmente ou o preço que os herdeiros e
sentença que mandar abrir a su- contas ao juiz competente. demais interessados houverem
cessão provisória, proceder-se-á Parágrafo único. Se o ausen- recebido pelos bens alienados
à arrecadação dos bens do au- te aparecer, e ficar provado que depois daquele tempo.
sente pela forma estabelecida a ausência foi voluntária e injus- Parágrafo único. Se, nos dez
nos arts. 1.819 a 1.823. tificada, perderá ele, em favor do anos a que se refere este artigo, o
sucessor, sua parte nos frutos e ausente não regressar, e nenhum
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, rendimentos. interessado promover a sucessão
quando julgar conveniente, orde- definitiva, os bens arrecadados
nará a conversão dos bens mó- Art. 34. O excluído, segundo o passarão ao domínio do Muni-
veis, sujeitos a deterioração ou a art. 30, da posse provisória po- cípio ou do Distrito Federal, se
extravio, em imóveis ou em títulos derá, justificando falta de meios, localizados nas respectivas cir-
garantidos pela União. requerer lhe seja entregue meta- cunscrições, incorporando-se ao
de dos rendimentos do quinhão domínio da União, quando situa-
Art. 30. Os herdeiros, para se que lhe tocaria. dos em território federal.
imitirem na posse dos bens do
ausente, darão garantias da resti- Art. 35. Se durante a posse pro-
tuição deles, mediante penhores visória se provar a época exata do TÍTULO II – DAS PESSOAS
ou hipotecas equivalentes aos falecimento do ausente, consi- JURÍDICAS
quinhões respectivos. derar-se-á, nessa data, aberta a
§ 1o Aquele que tiver direito à sucessão em favor dos herdeiros, CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
posse provisória, mas não puder que o eram àquele tempo. GERAIS
prestar a garantia exigida neste
artigo, será excluído, mantendo- Art. 36. Se o ausente apare- Art. 40. As pessoas jurídicas
-se os bens que lhe deviam caber cer, ou se lhe provar a existência, são de direito público, interno
sob a administração do curador, depois de estabelecida a posse ou externo, e de direito privado.
ou de outro herdeiro designa- provisória, cessarão para logo as
do pelo juiz, e que preste essa vantagens dos sucessores nela Art. 41. São pessoas jurídicas de
garantia. imitidos, ficando, todavia, obri- direito público interno:
§ 2o Os ascendentes, os des- gados a tomar as medidas asse- I – a União;
cendentes e o cônjuge, uma vez curatórias precisas, até a entrega II – os Estados, o Distrito Fe-
provada a sua qualidade de her- dos bens a seu dono. deral e os Territórios;
deiros, poderão, independente- III – os Municípios;
mente de garantia, entrar na pos- IV – as autarquias, inclusive
se dos bens do ausente.
Seção III – Da Sucessão as associações públicas;
Definitiva V – as demais entidades de
Art. 31. Os imóveis do ausente caráter público criadas por lei.
só se poderão alienar, não sendo Art. 37. Dez anos depois de pas- Parágrafo único. Salvo dis-
por desapropriação, ou hipotecar, sada em julgado a sentença que posição em contrário, as pessoas
quando o ordene o juiz, para lhes concede a abertura da sucessão jurídicas de direito público, a que
evitar a ruína. provisória, poderão os interessa- se tenha dado estrutura de direito
dos requerer a sucessão definitiva privado, regem-se, no que couber,
Art. 32. Empossados nos bens, e o levantamento das cauções quanto ao seu funcionamento,
os sucessores provisórios ficarão prestadas. pelas normas deste Código.
representando ativa e passiva-

133
Código Civil
Art. 42. São pessoas jurídicas de Art. 46. O registro declarará: ministradores.
direito público externo os Estados I – a denominação, os fins, Parágrafo único. A autono-
estrangeiros e todas as pessoas a sede, o tempo de duração e mia patrimonial das pessoas ju-
que forem regidas pelo direito o fundo social, quando houver; rídicas é um instrumento lícito de
internacional público. II – o nome e a individualiza- alocação e segregação de riscos,
ção dos fundadores ou institui- estabelecido pela lei com a fina-
Art. 43. As pessoas jurídicas de dores, e dos diretores; lidade de estimular empreendi-
direito público interno são civil- III – o modo por que se ad- mentos, para a geração de em-
mente responsáveis por atos dos ministra e representa, ativa e pregos, tributo, renda e inovação
seus agentes que nessa qualidade passivamente, judicial e extra- em benefício de todos.
causem danos a terceiros, ressal- judicialmente;
vado direito regressivo contra os IV – se o ato constitutivo é Art. 50. Em caso de abuso da
causadores do dano, se houver, reformável no tocante à admi- personalidade jurídica, caracteri-
por parte destes, culpa ou dolo. nistração, e de que modo; zado pelo desvio de finalidade ou
V – se os membros respon- pela confusão patrimonial, pode
Art. 44. São pessoas jurídicas dem, ou não, subsidiariamente, o juiz, a requerimento da parte,
de direito privado: pelas obrigações sociais; ou do Ministério Público quando
I – as associações; VI – as condições de extinção lhe couber intervir no proces-
II – as sociedades; da pessoa jurídica e o destino do so, desconsiderá-la para que os
III – as fundações; seu patrimônio, nesse caso. efeitos de certas e determinadas
IV – as organizações religio- relações de obrigações sejam es-
sas; Art. 47. Obrigam a pessoa ju- tendidos aos bens particulares de
V – os partidos políticos; rídica os atos dos administra- administradores ou de sócios da
VI – (Revogado). dores, exercidos nos limites de pessoa jurídica beneficiados dire-
§ 1o São livres a criação, a seus poderes definidos no ato ta ou indiretamente pelo abuso.
organização, a estruturação in- constitutivo. § 1o Para os fins do disposto
terna e o funcionamento das or- neste artigo, desvio de finalidade
ganizações religiosas, sendo ve- Art. 48. Se a pessoa jurídica é a utilização da pessoa jurídica
dado ao poder público negar-lhes tiver administração coletiva, as com o propósito de lesar credores
reconhecimento ou registro dos decisões se tomarão pela maio- e para a prática de atos ilícitos de
atos constitutivos e necessários ria de votos dos presentes, salvo qualquer natureza.
ao seu funcionamento. se o ato constitutivo dispuser de § 2o Entende-se por confu-
§ 2o As disposições concer- modo diverso. são patrimonial a ausência de
nentes às associações aplicam-se Parágrafo único. Decai em separação de fato entre os patri-
subsidiariamente às sociedades três anos o direito de anular as mônios, caracterizada por:
que são objeto do Livro II da Parte decisões a que se refere este I – cumprimento repetitivo
Especial deste Código. artigo, quando violarem a lei ou pela sociedade de obrigações
§ 3o Os partidos políticos estatuto, ou forem eivadas de do sócio ou do administrador ou
serão organizados e funciona- erro, dolo, simulação ou fraude. vice-versa;
rão conforme o disposto em lei II – transferência de ativos
específica. Art. 48-A. As pessoas jurídicas ou de passivos sem efetivas con-
de direito privado, sem prejuízo do traprestações, exceto os de va-
Art. 45. Começa a existência previsto em legislação especial e lor proporcionalmente insigni-
legal das pessoas jurídicas de em seus atos constitutivos, po- ficante; e
direito privado com a inscrição derão realizar suas assembleias III – outros atos de descum-
do ato constitutivo no respec- gerais por meio eletrônico, inclu- primento da autonomia patri-
tivo registro, precedida, quando sive para os fins do disposto no monial.
necessário, de autorização ou art. 59 deste Código, respeitados § 3o O disposto no caput e
aprovação do Poder Executivo, os direitos previstos de participa- nos §§ 1o e 2o deste artigo tam-
averbando-se no registro todas ção e de manifestação. bém se aplica à extensão das
as alterações por que passar o obrigações de sócios ou de ad-
ato constitutivo. Art. 49. Se a administração da ministradores à pessoa jurídica.
Parágrafo único. Decai em pessoa jurídica vier a faltar, o § 4o A mera existência de
três anos o direito de anular a juiz, a requerimento de qualquer grupo econômico sem a presen-
constituição das pessoas jurídi- interessado, nomear-lhe-á admi- ça dos requisitos de que trata o
cas de direito privado, por defeito nistrador provisório. caput deste artigo não autoriza a
do ato respectivo, contado o pra- desconsideração da personalida-
zo da publicação de sua inscrição Art. 49-A. A pessoa jurídica não de da pessoa jurídica.
no registro. se confunde com os seus sócios, § 5o Não constitui desvio de
associados, instituidores ou ad- finalidade a mera expansão ou a

134
Código Civil
alteração da finalidade original da Art. 55. Os associados devem à entidade de fins não econômi-
atividade econômica específica ter iguais direitos, mas o estatuto cos designada no estatuto, ou,
da pessoa jurídica. poderá instituir categorias com omisso este, por deliberação dos
vantagens especiais. associados, à instituição munici-
Art. 51. Nos casos de dissolução pal, estadual ou federal, de fins
da pessoa jurídica ou cassada Art. 56. A qualidade de associa- idênticos ou semelhantes.
a autorização para seu funcio- do é intransmissível, se o estatuto § 1o Por cláusula do estatuto
namento, ela subsistirá para os não dispuser o contrário. ou, no seu silêncio, por delibera-
fins de liquidação, até que esta Parágrafo único. Se o as- ção dos associados, podem estes,
se conclua. sociado for titular de quota ou antes da destinação do remanes-
§ 1o Far-se-á, no registro fração ideal do patrimônio da cente referida neste artigo, rece-
onde a pessoa jurídica estiver associação, a transferência da- ber em restituição, atualizado o
inscrita, a averbação de sua dis- quela não importará, de per si, respectivo valor, as contribuições
solução. na atribuição da qualidade de que tiverem prestado ao patrimô-
§ 2o As disposições para a associado ao adquirente ou ao nio da associação.
liquidação das sociedades apli- herdeiro, salvo disposição diversa § 2o Não existindo no Mu-
cam-se, no que couber, às de- do estatuto. nicípio, no Estado, no Distrito
mais pessoas jurídicas de direito Federal ou no Território, em que
privado. Art. 57. A exclusão do associa- a associação tiver sede, insti-
§ 3o Encerrada a liquidação, do só é admissível havendo justa tuição nas condições indicadas
promover-se-á o cancelamento causa, assim reconhecida em pro- neste artigo, o que remanescer
da inscrição da pessoa jurídica. cedimento que assegure direito do seu patrimônio se devolverá
de defesa e de recurso, nos ter- à Fazenda do Estado, do Distrito
Art. 52. Aplica-se às pessoas ju- mos previstos no estatuto. Federal ou da União.
rídicas, no que couber, a proteção Parágrafo único. (Revogado)
dos direitos da personalidade.
Art. 58. Nenhum associado po- CAPÍTULO III – DAS
derá ser impedido de exercer FUNDAÇÕES
CAPÍTULO II – DAS direito ou função que lhe tenha
ASSOCIAÇÕES sido legitimamente conferido, a Art. 62. Para criar uma funda-
não ser nos casos e pela forma ção, o seu instituidor fará, por
Art. 53. Constituem-se as as- previstos na lei ou no estatuto. escritura pública ou testamento,
sociações pela união de pessoas dotação especial de bens livres,
que se organizem para fins não Art. 59. Compete privativamen- especificando o fim a que se des-
econômicos. te à assembleia geral: tina, e declarando, se quiser, a
Parágrafo único. Não há, en- I – destituir os administra- maneira de administrá-la.
tre os associados, direitos e obri- dores; Parágrafo único. A fundação
gações recíprocos. II – alterar o estatuto. somente poderá constituir-se
Parágrafo único. Para as para fins de:
Art. 54. Sob pena de nulida- deliberações a que se referem I – assistência social;
de, o estatuto das associações os incisos I e II deste artigo é II – cultura, defesa e conser-
conterá: exigido deliberação da assem- vação do patrimônio histórico e
I – a denominação, os fins e bleia especialmente convocada artístico;
a sede da associação; para esse fim, cujo quórum será III – educação;
II – os requisitos para a ad- o estabelecido no estatuto, bem IV – saúde;
missão, demissão e exclusão dos como os critérios de eleição dos V – segurança alimentar e
associados; administradores. nutricional;
III – os direitos e deveres dos VI – defesa, preservação e
associados; Art. 60. A convocação dos ór- conservação do meio ambiente
IV – as fontes de recursos gãos deliberativos far-se-á na e promoção do desenvolvimento
para sua manutenção; forma do estatuto, garantido a sustentável;
V – o modo de constituição 1/5 (um quinto) dos associados o VII – pesquisa científica, de-
e de funcionamento dos órgãos direito de promovê-la. senvolvimento de tecnologias
deliberativos; alternativas, modernização de
VI – as condições para a al- Art. 61. Dissolvida a associação, sistemas de gestão, produção
teração das disposições estatu- o remanescente do seu patrimô- e divulgação de informações e
tárias e para a dissolução; nio líquido, depois de deduzidas, conhecimentos técnicos e cien-
VII – a forma de gestão ad- se for o caso, as quotas ou fra- tíficos;
ministrativa e de aprovação das ções ideais referidas no parágrafo VIII – promoção da ética, da
respectivas contas. único do art. 56, será destinado cidadania, da democracia e dos

135
Código Civil
direitos humanos; máximo de 45 (quarenta e cinco) Parágrafo único. A prova da
IX – atividades religiosas; e dias, findo o qual ou no caso de intenção resultará do que declarar
X – (Vetado). o Ministério Público a denegar, a pessoa às municipalidades dos
poderá o juiz supri-la, a requeri- lugares, que deixa, e para onde
Art. 63. Quando insuficientes mento do interessado. vai, ou, se tais declarações não
para constituir a fundação, os fizer, da própria mudança, com
bens a ela destinados serão, se Art. 68. Quando a alteração não as circunstâncias que a acom-
de outro modo não dispuser o houver sido aprovada por votação panharem.
instituidor, incorporados em outra unânime, os administradores da
fundação que se proponha a fim fundação, ao submeterem o esta- Art. 75. Quanto às pessoas ju-
igual ou semelhante. tuto ao órgão do Ministério Públi- rídicas, o domicílio é:
co, requererão que se dê ciência à I – da União, o Distrito Federal;
Art. 64. Constituída a funda- minoria vencida para impugná-la, II – dos Estados e Territórios,
ção por negócio jurídico entre se quiser, em dez dias. as respectivas capitais;
vivos, o instituidor é obrigado a III – do Município, o lugar onde
transferir-lhe a propriedade, ou Art. 69. Tornando-se ilícita, im- funcione a administração mu-
outro direito real, sobre os bens possível ou inútil a finalidade a nicipal;
dotados, e, se não o fizer, serão que visa a fundação, ou vencido IV – das demais pessoas jurí-
registrados, em nome dela, por o prazo de sua existência, o órgão dicas, o lugar onde funcionarem
mandado judicial. do Ministério Público, ou qualquer as respectivas diretorias e ad-
interessado, lhe promoverá a ex- ministrações, ou onde elegerem
Art. 65. Aqueles a quem o ins- tinção, incorporando-se o seu domicílio especial no seu estatuto
tituidor cometer a aplicação do patrimônio, salvo disposição em ou atos constitutivos.
patrimônio, em tendo ciência contrário no ato constitutivo, ou § 1o Tendo a pessoa jurídica
do encargo, formularão logo, no estatuto, em outra fundação, diversos estabelecimentos em
de acordo com as suas bases designada pelo juiz, que se pro- lugares diferentes, cada um deles
(art. 62), o estatuto da fundação ponha a fim igual ou semelhante. será considerado domicílio para
projetada, submetendo-o, em se- os atos nele praticados.
guida, à aprovação da autoridade § 2o Se a administração, ou
competente, com recurso ao juiz. TÍTULO III – DO DOMICÍLIO diretoria, tiver a sede no estran-
Parágrafo único. Se o esta- geiro, haver-se-á por domicílio
tuto não for elaborado no prazo Art. 70. O domicílio da pessoa da pessoa jurídica, no tocante às
assinado pelo instituidor, ou, não natural é o lugar onde ela estabe- obrigações contraídas por cada
havendo prazo, em cento e oiten- lece a sua residência com ânimo uma das suas agências, o lugar do
ta dias, a incumbência caberá ao definitivo. estabelecimento, sito no Brasil, a
Ministério Público. que ela corresponder.
Art. 71. Se, porém, a pessoa na-
Art. 66. Velará pelas fundações tural tiver diversas residências, Art. 76. Têm domicílio necessá-
o Ministério Público do Estado onde, alternadamente, viva, con- rio o incapaz, o servidor público,
onde situadas. siderar-se-á domicílio seu qual- o militar, o marítimo e o preso.
§ 1o Se funcionarem no Dis- quer delas. Parágrafo único. O domicílio
trito Federal ou em Território, do incapaz é o do seu represen-
caberá o encargo ao Ministério Art. 72. É também domicílio da tante ou assistente; o do servidor
Público do Distrito Federal e Ter- pessoa natural, quanto às rela- público, o lugar em que exercer
ritórios. ções concernentes à profissão, o permanentemente suas funções;
§ 2o Se estenderem a ativida- lugar onde esta é exercida. o do militar, onde servir, e, sendo
de por mais de um Estado, cabe- Parágrafo único. Se a pessoa da Marinha ou da Aeronáutica, a
rá o encargo, em cada um deles, exercitar profissão em lugares di- sede do comando a que se encon-
ao respectivo Ministério Público. versos, cada um deles constituirá trar imediatamente subordinado;
domicílio para as relações que lhe o do marítimo, onde o navio esti-
Art. 67. Para que se possa al- corresponderem. ver matriculado; e o do preso, o
terar o estatuto da fundação é lugar em que cumprir a sentença.
mister que a reforma: Art. 73. Ter-se-á por domicílio
I – seja deliberada por dois da pessoa natural, que não tenha Art. 77. O agente diplomático do
terços dos competentes para residência habitual, o lugar onde Brasil, que, citado no estrangeiro,
gerir e representar a fundação; for encontrada. alegar extraterritorialidade sem
II – não contrarie ou desvirtue designar onde tem, no país, o seu
o fim desta; Art. 74. Muda-se o domicílio, domicílio, poderá ser demanda-
III – seja aprovada pelo órgão transferindo a residência, com a do no Distrito Federal ou no últi-
do Ministério Público no prazo intenção manifesta de o mudar. mo ponto do território brasileiro

136
Código Civil
onde o teve. vas ações. Art. 91. Constitui universalidade
de direito o complexo de relações
Art. 78. Nos contratos escritos, Art. 84. Os materiais destinados jurídicas, de uma pessoa, dotadas
poderão os contratantes especifi- a alguma construção, enquanto de valor econômico.
car domicílio onde se exercitem e não forem empregados, conser-
cumpram os direitos e obrigações vam sua qualidade de móveis;
deles resultantes. readquirem essa qualidade os CAPÍTULO II – DOS BENS
provenientes da demolição de RECIPROCAMENTE
algum prédio. CONSIDERADOS
LIVRO II – DOS BENS
TÍTULO ÚNICO – DAS Art. 92. Principal é o bem que
Seção III – Dos Bens existe sobre si, abstrata ou con-
DIFERENTES CLASSES DE Fungíveis e Consumíveis cretamente; acessório, aquele
BENS cuja existência supõe a do prin-
Art. 85. São fungíveis os móveis cipal.
CAPÍTULO I – DOS BENS que podem substituir-se por ou-
CONSIDERADOS EM SI tros da mesma espécie, qualidade Art. 93. São pertenças os bens
MESMOS e quantidade. que, não constituindo partes in-
tegrantes, se destinam, de modo
Seção I – Dos Bens Imóveis Art. 86. São consumíveis os duradouro, ao uso, ao serviço ou
bens móveis cujo uso importa ao aformoseamento de outro.
Art. 79. São bens imóveis o solo destruição imediata da própria
e tudo quanto se lhe incorporar substância, sendo também con- Art. 94. Os negócios jurídicos
natural ou artificialmente. siderados tais os destinados à que dizem respeito ao bem prin-
alienação. cipal não abrangem as pertenças,
Art. 80. Consideram-se imóveis salvo se o contrário resultar da
para os efeitos legais: lei, da manifestação de vontade,
I – os direitos reais sobre imó-
Seção IV – Dos Bens ou das circunstâncias do caso.
veis e as ações que os asseguram; Divisíveis
II – o direito à sucessão aber- Art. 95. Apesar de ainda não
ta. Art. 87. Bens divisíveis são os separados do bem principal, os
que se podem fracionar sem al- frutos e produtos podem ser ob-
Art. 81. Não perdem o caráter teração na sua substância, dimi- jeto de negócio jurídico.
de imóveis: nuição considerável de valor, ou
I – as edificações que, sepa- prejuízo do uso a que se destinam. Art. 96. As benfeitorias podem
radas do solo, mas conservando ser voluptuárias, úteis ou neces-
a sua unidade, forem removidas Art. 88. Os bens naturalmente sárias.
para outro local; divisíveis podem tornar-se indi- § 1o São voluptuárias as de
II – os materiais provisoria- visíveis por determinação da lei mero deleite ou recreio, que não
mente separados de um prédio, ou por vontade das partes. aumentam o uso habitual do bem,
para nele se reempregarem. ainda que o tornem mais agra-
dável ou sejam de elevado valor.
Seção V – Dos Bens § 2o São úteis as que aumen-
Seção II – Dos Bens Móveis Singulares e Coletivos tam ou facilitam o uso do bem.
§ 3o São necessárias as que
Art. 82. São móveis os bens sus- Art. 89. São singulares os bens têm por fim conservar o bem ou
cetíveis de movimento próprio, que, embora reunidos, se consi- evitar que se deteriore.
ou de remoção por força alheia, deram de per si, independente-
sem alteração da substância ou mente dos demais. Art. 97. Não se consideram ben-
da destinação econômico-social. feitorias os melhoramentos ou
Art. 90. Constitui universalidade acréscimos sobrevindos ao bem
Art. 83. Consideram-se móveis de fato a pluralidade de bens sin- sem a intervenção do proprietá-
para os efeitos legais: gulares que, pertinentes à mes- rio, possuidor ou detentor.
I – as energias que tenham ma pessoa, tenham destinação
valor econômico; unitária.
II – os direitos reais sobre Parágrafo único. Os bens que CAPÍTULO III – DOS BENS
objetos móveis e as ações cor- formam essa universalidade po- PÚBLICOS
respondentes; dem ser objeto de relações jurí-
III – os direitos pessoais de dicas próprias. Art. 98. São públicos os bens do
caráter patrimonial e respecti- domínio nacional pertencentes

137
Código Civil
às pessoas jurídicas de direito II – objeto lícito, possível, de- Art. 113. Os negócios jurídicos
público interno; todos os outros terminado ou determinável; devem ser interpretados confor-
são particulares, seja qual for a III – forma prescrita ou não me a boa-fé e os usos do lugar de
pessoa a que pertencerem. defesa em lei. sua celebração.
§ 1o A interpretação do ne-
Art. 99. São bens públicos: Art. 105. A incapacidade relativa gócio jurídico deve lhe atribuir o
I – os de uso comum do povo, de uma das partes não pode ser sentido que:
tais como rios, mares, estradas, invocada pela outra em benefí- I – for confirmado pelo com-
ruas e praças; cio próprio, nem aproveita aos portamento das partes posterior
II – os de uso especial, tais cointeressados capazes, salvo à celebração do negócio;
como edifícios ou terrenos des- se, neste caso, for indivisível o II – corresponder aos usos,
tinados a serviço ou estabeleci- objeto do direito ou da obriga- costumes e práticas do merca-
mento da administração federal, ção comum. do relativas ao tipo de negócio;
estadual, territorial ou municipal, III – corresponder à boa-fé;
inclusive os de suas autarquias; Art. 106. A impossibilidade ini- IV – for mais benéfico à parte
III – os dominicais, que cons- cial do objeto não invalida o ne- que não redigiu o dispositivo, se
tituem o patrimônio das pessoas gócio jurídico se for relativa, ou identificável; e
jurídicas de direito público, como se cessar antes de realizada a V – corresponder a qual seria
objeto de direito pessoal, ou real, condição a que ele estiver su- a razoável negociação das par-
de cada uma dessas entidades. bordinado. tes sobre a questão discutida,
Parágrafo único. Não dis- inferida das demais disposições
pondo a lei em contrário, con- Art. 107. A validade da declara- do negócio e da racionalidade
sideram-se dominicais os bens ção de vontade não dependerá de econômica das partes, conside-
pertencentes às pessoas jurídicas forma especial, senão quando a radas as informações disponíveis
de direito público a que se tenha lei expressamente a exigir. no momento de sua celebração.
dado estrutura de direito privado. § 2o As partes poderão li-
Art. 108. Não dispondo a lei em vremente pactuar regras de in-
Art. 100. Os bens públicos de contrário, a escritura pública é terpretação, de preenchimento
uso comum do povo e os de uso essencial à validade dos negócios de lacunas e de integração dos
especial são inalienáveis, en- jurídicos que visem à constitui- negócios jurídicos diversas da-
quanto conservarem a sua qua- ção, transferência, modificação quelas previstas em lei.
lificação, na forma que a lei de- ou renúncia de direitos reais so-
terminar. bre imóveis de valor superior a Art. 114. Os negócios jurídicos
trinta vezes o maior salário mí- benéficos e a renúncia interpre-
Art. 101. Os bens públicos do- nimo vigente no País. tam-se estritamente.
minicais podem ser alienados,
observadas as exigências da lei. Art. 109. No negócio jurídico ce-
lebrado com a cláusula de não CAPÍTULO II – DA
Art. 102. Os bens públicos não valer sem instrumento público, REPRESENTAÇÃO
estão sujeitos a usucapião. este é da substância do ato.
Art. 115. Os poderes de repre-
Art. 103. O uso comum dos bens Art. 110. A manifestação de von- sentação conferem-se por lei ou
públicos pode ser gratuito ou re- tade subsiste ainda que o seu pelo interessado.
tribuído, conforme for estabele- autor haja feito a reserva mental
cido legalmente pela entidade a de não querer o que manifestou, Art. 116. A manifestação de von-
cuja administração pertencerem. salvo se dela o destinatário tinha tade pelo representante, nos limi-
conhecimento. tes de seus poderes, produz efei-
tos em relação ao representado.
LIVRO III – DOS FATOS Art. 111. O silêncio importa anu-
JURÍDICOS ência, quando as circunstâncias Art. 117. Salvo se o permitir a
ou os usos o autorizarem, e não lei ou o representado, é anulável
TÍTULO I – DO NEGÓCIO for necessária a declaração de o negócio jurídico que o repre-
JURÍDICO vontade expressa. sentante, no seu interesse ou
por conta de outrem, celebrar
CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES Art. 112. Nas declarações de consigo mesmo.
GERAIS vontade se atenderá mais à in- Parágrafo único. Para esse
tenção nelas consubstanciada efeito, tem-se como celebrado
Art. 104. A validade do negócio do que ao sentido literal da lin- pelo representante o negócio re-
jurídico requer: guagem. alizado por aquele em quem os
I – agente capaz; poderes houverem sido subes-

138
Código Civil
tabelecidos. Art. 124. Têm-se por inexisten- ou convencional em contrário,
tes as condições impossíveis, computam-se os prazos, excluído
Art. 118. O representante é obri- quando resolutivas, e as de não o dia do começo, e incluído o do
gado a provar às pessoas, com fazer coisa impossível. vencimento.
quem tratar em nome do repre- § 1o Se o dia do vencimento
sentado, a sua qualidade e a ex- Art. 125. Subordinando-se a cair em feriado, considerar-se-á
tensão de seus poderes, sob pena eficácia do negócio jurídico à prorrogado o prazo até o seguin-
de, não o fazendo, responder pe- condição suspensiva, enquanto te dia útil.
los atos que a estes excederem. esta se não verificar, não se terá § 2o Meado considera-se,
adquirido o direito, a que ele visa. em qualquer mês, o seu décimo
Art. 119. É anulável o negócio quinto dia.
concluído pelo representante Art. 126. Se alguém dispuser § 3o Os prazos de meses e
em conflito de interesses com o de uma coisa sob condição sus- anos expiram no dia de igual nú-
representado, se tal fato era ou pensiva, e, pendente esta, fizer mero do de início, ou no imediato,
devia ser do conhecimento de quanto àquela novas disposições, se faltar exata correspondência.
quem com aquele tratou. estas não terão valor, realizada § 4o Os prazos fixados por
Parágrafo único. É de cento a condição, se com ela forem hora contar-se-ão de minuto a
e oitenta dias, a contar da con- incompatíveis. minuto.
clusão do negócio ou da cessa-
ção da incapacidade, o prazo de Art. 127. Se for resolutiva a con- Art. 133. Nos testamentos, pre-
decadência para pleitear-se a dição, enquanto esta se não re- sume-se o prazo em favor do
anulação prevista neste artigo. alizar, vigorará o negócio jurídi- herdeiro, e, nos contratos, em
co, podendo exercer-se desde a proveito do devedor, salvo, quanto
Art. 120. Os requisitos e os efei- conclusão deste o direito por ele a esses, se do teor do instrumen-
tos da representação legal são os estabelecido. to, ou das circunstâncias, resultar
estabelecidos nas normas res- que se estabeleceu a benefício
pectivas; os da representação Art. 128. Sobrevindo a condi- do credor, ou de ambos os con-
voluntária são os da Parte Espe- ção resolutiva, extingue-se, para tratantes.
cial deste Código. todos os efeitos, o direito a que
ela se opõe; mas, se aposta a um Art. 134. Os negócios jurídicos
negócio de execução continuada entre vivos, sem prazo, são exe-
CAPÍTULO III – DA ou periódica, a sua realização, sal- quíveis desde logo, salvo se a exe-
CONDIÇÃO, DO TERMO E DO vo disposição em contrário, não cução tiver de ser feita em lugar
ENCARGO tem eficácia quanto aos atos já diverso ou depender de tempo.
praticados, desde que compatí-
Art. 121. Considera-se condição veis com a natureza da condição Art. 135. Ao termo inicial e final
a cláusula que, derivando exclusi- pendente e conforme aos ditames aplicam-se, no que couber, as
vamente da vontade das partes, de boa-fé. disposições relativas à condição
subordina o efeito do negócio suspensiva e resolutiva.
jurídico a evento futuro e incerto. Art. 129. Reputa-se verificada,
quanto aos efeitos jurídicos, a Art. 136. O encargo não sus-
Art. 122. São lícitas, em geral, condição cujo implemento for ma- pende a aquisição nem o exercí-
todas as condições não contrárias liciosamente obstado pela parte cio do direito, salvo quando ex-
à lei, à ordem pública ou aos bons a quem desfavorecer, conside- pressamente imposto no negócio
costumes; entre as condições de- rando-se, ao contrário, não veri- jurídico, pelo disponente, como
fesas se incluem as que privarem ficada a condição maliciosamente condição suspensiva.
de todo efeito o negócio jurídico, levada a efeito por aquele a quem
ou o sujeitarem ao puro arbítrio aproveita o seu implemento. Art. 137. Considera-se não escri-
de uma das partes. to o encargo ilícito ou impossível,
Art. 130. Ao titular do direito salvo se constituir o motivo deter-
Art. 123. Invalidam os negócios eventual, nos casos de condição minante da liberalidade, caso em
jurídicos que lhes são subordi- suspensiva ou resolutiva, é permi- que se invalida o negócio jurídico.
nados: tido praticar os atos destinados
I – as condições física ou ju- a conservá-lo.
ridicamente impossíveis, quando
suspensivas; Art. 131. O termo inicial suspen-
II – as condições ilícitas, ou de o exercício, mas não a aquisi-
de fazer coisa ilícita; ção do direito.
III – as condições incompre-
ensíveis ou contraditórias. Art. 132. Salvo disposição legal

139
Código Civil
CAPÍTULO IV – DOS Seção II – Do Dolo Art. 152. No apreciar a coação,
DEFEITOS DO NEGÓCIO ter-se-ão em conta o sexo, a ida-
Art. 145. São os negócios jurí- de, a condição, a saúde, o tem-
JURÍDICO dicos anuláveis por dolo, quando peramento do paciente e todas
Seção I – Do Erro ou este for a sua causa. as demais circunstâncias que
Ignorância possam influir na gravidade dela.
Art. 146. O dolo acidental só
Art. 138. São anuláveis os negó- obriga à satisfação das perdas Art. 153. Não se considera co-
cios jurídicos, quando as decla- e danos, e é acidental quando, a ação a ameaça do exercício nor-
rações de vontade emanarem de seu despeito, o negócio seria re- mal de um direito, nem o simples
erro substancial que poderia ser alizado, embora por outro modo. temor reverencial.
percebido por pessoa de diligên-
cia normal, em face das circuns- Art. 147. Nos negócios jurídicos Art. 154. Vicia o negócio jurídico
tâncias do negócio. bilaterais, o silêncio intencional a coação exercida por terceiro, se
de uma das partes a respeito dela tivesse ou devesse ter conhe-
Art. 139. O erro é substancial de fato ou qualidade que a ou- cimento a parte a que aproveite,
quando: tra parte haja ignorado, consti- e esta responderá solidariamente
I – interessa à natureza do tui omissão dolosa, provando-se com aquele por perdas e danos.
negócio, ao objeto principal da que sem ela o negócio não se teria
declaração, ou a alguma das qua- celebrado. Art. 155. Subsistirá o negócio
lidades a ele essenciais; jurídico, se a coação decorrer de
II – concerne à identidade ou Art. 148. Pode também ser anu- terceiro, sem que a parte a que
à qualidade essencial da pessoa lado o negócio jurídico por dolo de aproveite dela tivesse ou devesse
a quem se refira a declaração de terceiro, se a parte a quem apro- ter conhecimento; mas o autor da
vontade, desde que tenha influído veite dele tivesse ou devesse ter coação responderá por todas as
nesta de modo relevante; conhecimento; em caso contrá- perdas e danos que houver cau-
III – sendo de direito e não rio, ainda que subsista o negócio sado ao coacto.
implicando recusa à aplicação da jurídico, o terceiro responderá por
lei, for o motivo único ou principal todas as perdas e danos da parte
do negócio jurídico. a quem ludibriou.
Seção IV – Do Estado de
Perigo
Art. 140. O falso motivo só vicia Art. 149. O dolo do represen-
a declaração de vontade quando tante legal de uma das partes só Art. 156. Configura-se o estado
expresso como razão determi- obriga o representado a respon- de perigo quando alguém, premi-
nante. der civilmente até a importância do da necessidade de salvar-se,
do proveito que teve; se, porém, ou a pessoa de sua família, de
Art. 141. A transmissão errônea o dolo for do representante con- grave dano conhecido pela outra
da vontade por meios interpostos vencional, o representado res- parte, assume obrigação exces-
é anulável nos mesmos casos em ponderá solidariamente com ele sivamente onerosa.
que o é a declaração direta. por perdas e danos. Parágrafo único. Tratando-se
de pessoa não pertencente à fa-
Art. 142. O erro de indicação Art. 150. Se ambas as partes mília do declarante, o juiz decidirá
da pessoa ou da coisa, a que se procederem com dolo, nenhuma segundo as circunstâncias.
referir a declaração de vontade, pode alegá-lo para anular o ne-
não viciará o negócio quando, por gócio, ou reclamar indenização.
seu contexto e pelas circunstân-
Seção V – Da Lesão
cias, se puder identificar a coisa
ou pessoa cogitada.
Seção III – Da Coação Art. 157. Ocorre a lesão quando
uma pessoa, sob premente ne-
Art. 143. O erro de cálculo ape- Art. 151. A coação, para viciar a cessidade, ou por inexperiência,
nas autoriza a retificação da de- declaração da vontade, há de ser se obriga a prestação manifesta-
claração de vontade. tal que incuta ao paciente fun- mente desproporcional ao valor
dado temor de dano iminente e da prestação oposta.
Art. 144. O erro não prejudica considerável à sua pessoa, à sua § 1o Aprecia-se a despropor-
a validade do negócio jurídico família, ou aos seus bens. ção das prestações segundo os
quando a pessoa, a quem a ma- Parágrafo único. Se disser valores vigentes ao tempo em que
nifestação de vontade se dirige, respeito a pessoa não perten- foi celebrado o negócio jurídico.
se oferecer para executá-la na cente à família do paciente, o § 2o Não se decretará a anu-
conformidade da vontade real juiz, com base nas circunstâncias, lação do negócio, se for oferecido
do manifestante. decidirá se houve coação. suplemento suficiente, ou se a

140
Código Civil
parte favorecida concordar com Art. 163. Presumem-se frau- versas daquelas às quais real-
a redução do proveito. datórias dos direitos dos outros mente se conferem, ou trans-
credores as garantias de dívidas mitem;
que o devedor insolvente tiver II – contiverem declaração,
Seção VI – Da Fraude contra dado a algum credor. confissão, condição ou cláusula
Credores não verdadeira;
Art. 164. Presumem-se, porém, III – os instrumentos parti-
Art. 158. Os negócios de trans- de boa-fé e valem os negócios culares forem antedatados, ou
missão gratuita de bens ou re- ordinários indispensáveis à ma- pós-datados.
missão de dívida, se os praticar nutenção de estabelecimento § 2o Ressalvam-se os direitos
o devedor já insolvente, ou por mercantil, rural, ou industrial, de terceiros de boa-fé em face
eles reduzido à insolvência, ain- ou à subsistência do devedor e dos contraentes do negócio ju-
da quando o ignore, poderão ser de sua família. rídico simulado.
anulados pelos credores quiro-
grafários, como lesivos dos seus Art. 165. Anulados os negócios Art. 168. As nulidades dos ar-
direitos. fraudulentos, a vantagem resul- tigos antecedentes podem ser
§ 1o Igual direito assiste aos tante reverterá em proveito do alegadas por qualquer interes-
credores cuja garantia se tornar acervo sobre que se tenha de sado, ou pelo Ministério Público,
insuficiente. efetuar o concurso de credores. quando lhe couber intervir.
§ 2o Só os credores que já Parágrafo único. Se esses Parágrafo único. As nulida-
o eram ao tempo daqueles atos negócios tinham por único obje- des devem ser pronunciadas pelo
podem pleitear a anulação deles. to atribuir direitos preferenciais, juiz, quando conhecer do negócio
mediante hipoteca, penhor ou an- jurídico ou dos seus efeitos e as
Art. 159. Serão igualmente anu- ticrese, sua invalidade importará encontrar provadas, não lhe sen-
láveis os contratos onerosos do somente na anulação da prefe- do permitido supri-las, ainda que
devedor insolvente, quando a in- rência ajustada. a requerimento das partes.
solvência for notória, ou houver
motivo para ser conhecida do Art. 169. O negócio jurídico nulo
outro contratante. CAPÍTULO V – DA não é suscetível de confirmação,
INVALIDADE DO NEGÓCIO nem convalesce pelo decurso
Art. 160. Se o adquirente dos JURÍDICO do tempo.
bens do devedor insolvente ainda
não tiver pago o preço e este for, Art. 166. É nulo o negócio jurí- Art. 170. Se, porém, o negócio
aproximadamente, o corrente, dico quando: jurídico nulo contiver os requisitos
desobrigar-se-á depositando-o I – celebrado por pessoa ab- de outro, subsistirá este quando o
em juízo, com a citação de todos solutamente incapaz; fim a que visavam as partes per-
os interessados. II – for ilícito, impossível ou mitir supor que o teriam querido,
Parágrafo único. Se inferior, indeterminável o seu objeto; se houvessem previsto a nulidade.
o adquirente, para conservar os III – o motivo determinante,
bens, poderá depositar o preço comum a ambas as partes, for Art. 171. Além dos casos expres-
que lhes corresponda ao valor ilícito; samente declarados na lei, é anu-
real. IV – não revestir a forma pres- lável o negócio jurídico:
crita em lei; I – por incapacidade relativa
Art. 161. A ação, nos casos dos V – for preterida alguma sole- do agente;
arts. 158 e 159, poderá ser inten- nidade que a lei considere essen- II – por vício resultante de
tada contra o devedor insolvente, cial para a sua validade; erro, dolo, coação, estado de
a pessoa que com ele celebrou a VI – tiver por objetivo fraudar perigo, lesão ou fraude contra
estipulação considerada fraudu- lei imperativa; credores.
lenta, ou terceiros adquirentes VII – a lei taxativamente o
que hajam procedido de má-fé. declarar nulo, ou proibir-lhe a Art. 172. O negócio anulável
prática, sem cominar sanção. pode ser confirmado pelas par-
Art. 162. O credor quirografá- tes, salvo direito de terceiro.
rio, que receber do devedor in- Art. 167. É nulo o negócio jurí-
solvente o pagamento da dívida dico simulado, mas subsistirá o Art. 173. O ato de confirmação
ainda não vencida, ficará obrigado que se dissimulou, se válido for deve conter a substância do ne-
a repor, em proveito do acervo na substância e na forma. gócio celebrado e a vontade ex-
sobre que se tenha de efetuar § 1o Haverá simulação nos pressa de mantê-lo.
o concurso de credores, aquilo negócios jurídicos quando:
que recebeu. I – aparentarem conferir ou Art. 174. É escusada a confir-
transmitir direitos a pessoas di- mação expressa, quando o ne-

141
Código Civil
gócio já foi cumprido em parte Art. 182. Anulado o negócio ju- mente quando as circunstâncias
pelo devedor, ciente do vício que rídico, restituir-se-ão as partes o tornarem absolutamente neces-
o inquinava. ao estado em que antes dele se sário, não excedendo os limites
achavam, e, não sendo possível do indispensável para a remoção
Art. 175. A confirmação expres- restituí-las, serão indenizadas do perigo.
sa, ou a execução voluntária de com o equivalente.
negócio anulável, nos termos dos
arts. 172 a 174, importa a extinção Art. 183. A invalidade do instru- TÍTULO IV – DA
de todas as ações, ou exceções, mento não induz a do negócio PRESCRIÇÃO E DA
de que contra ele dispusesse o jurídico sempre que este puder DECADÊNCIA
devedor. provar-se por outro meio.
CAPÍTULO I – DA
Art. 176. Quando a anulabilidade Art. 184. Respeitada a inten- PRESCRIÇÃO
do ato resultar da falta de autori- ção das partes, a invalidade par-
zação de terceiro, será validado cial de um negócio jurídico não Seção I – Disposições Gerais
se este a der posteriormente. o prejudicará na parte válida, se
esta for separável; a invalidade Art. 189. Violado o direito, nasce
Art. 177. A anulabilidade não da obrigação principal implica a para o titular a pretensão, a qual
tem efeito antes de julgada por das obrigações acessórias, mas se extingue, pela prescrição, nos
sentença, nem se pronuncia de a destas não induz a da obriga- prazos a que aludem os arts. 205
ofício; só os interessados a po- ção principal. e 206.
dem alegar, e aproveita exclu-
sivamente aos que a alegarem, Art. 190. A exceção prescreve
salvo o caso de solidariedade ou TÍTULO II – DOS ATOS no mesmo prazo em que a pre-
indivisibilidade. JURÍDICOS LÍCITOS tensão.

Art. 178. É de quatro anos o pra- Art. 185. Aos atos jurídicos líci- Art. 191. A renúncia da prescri-
zo de decadência para pleitear-se tos, que não sejam negócios jurí- ção pode ser expressa ou táci-
a anulação do negócio jurídico, dicos, aplicam-se, no que couber, ta, e só valerá, sendo feita, sem
contado: as disposições do Título anterior. prejuízo de terceiro, depois que
I – no caso de coação, do dia a prescrição se consumar; tácita
em que ela cessar; é a renúncia quando se presume
II – no de erro, dolo, fraude TÍTULO III – DOS ATOS de fatos do interessado, incom-
contra credores, estado de pe- ILÍCITOS patíveis com a prescrição.
rigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico; Art. 186. Aquele que, por ação ou Art. 192. Os prazos de prescri-
III – no de atos de incapazes, omissão voluntária, negligência ção não podem ser alterados por
do dia em que cessar a incapa- ou imprudência, violar direito e acordo das partes.
cidade. causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete Art. 193. A prescrição pode
Art. 179. Quando a lei dispuser ato ilícito. ser alegada em qualquer grau
que determinado ato é anulável, de jurisdição, pela parte a quem
sem estabelecer prazo para plei- Art. 187. Também comete ato aproveita.
tear-se a anulação, será este de ilícito o titular de um direito que,
dois anos, a contar da data da ao exercê-lo, excede manifesta- Art. 194. (Revogado)
conclusão do ato. mente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela Art. 195. Os relativamente inca-
Art. 180. O menor, entre dezes- boa-fé ou pelos bons costumes. pazes e as pessoas jurídicas têm
seis e dezoito anos, não pode, ação contra os seus assistentes
para eximir-se de uma obrigação, Art. 188. Não constituem atos ou representantes legais, que
invocar a sua idade se dolosa- ilícitos: derem causa à prescrição, ou
mente a ocultou quando inquirido I – os praticados em legítima não a alegarem oportunamente.
pela outra parte, ou se, no ato de defesa ou no exercício regular de
obrigar-se, declarou-se maior. um direito reconhecido; Art. 196. A prescrição iniciada
II – a deterioração ou destrui- contra uma pessoa continua a
Art. 181. Ninguém pode reclamar ção da coisa alheia, ou a lesão a correr contra o seu sucessor.
o que, por uma obrigação anula- pessoa, a fim de remover perigo
da, pagou a um incapaz, se não iminente.
provar que reverteu em proveito Parágrafo único. No caso do
dele a importância paga. inciso II, o ato será legítimo so-

142
Seção II – Das Causas que

Código Civil
IV – pela apresentação do tí- contra aquele, contado o prazo:
Impedem ou Suspendem a tulo de crédito em juízo de inven- a) para o segurado, no caso
Prescrição tário ou em concurso de credores; de seguro de responsabilidade
V – por qualquer ato judicial civil, da data em que é citado para
Art. 197. Não corre a prescrição: que constitua em mora o devedor; responder à ação de indenização
I – entre os cônjuges, na cons- VI – por qualquer ato inequí- proposta pelo terceiro prejudica-
tância da sociedade conjugal; voco, ainda que extrajudicial, que do, ou da data que a este indeniza,
II – entre ascendentes e des- importe reconhecimento do direi- com a anuência do segurador;
cendentes, durante o poder fa- to pelo devedor. b) quanto aos demais segu-
miliar; Parágrafo único. A prescri- ros, da ciência do fato gerador da
III – entre tutelados ou cura- ção interrompida recomeça a pretensão;
telados e seus tutores ou curado- correr da data do ato que a in- III – a pretensão dos tabeliães,
res, durante a tutela ou curatela. terrompeu, ou do último ato do auxiliares da justiça, serventuá-
processo para a interromper. rios judiciais, árbitros e peritos,
Art. 198. Também não corre a pela percepção de emolumentos,
prescrição: Art. 203. A prescrição pode ser custas e honorários;
I – contra os incapazes de que interrompida por qualquer inte- IV – a pretensão contra os
trata o art. 3o; ressado. peritos, pela avaliação dos bens
II – contra os ausentes do País que entraram para a formação
em serviço público da União, dos Art. 204. A interrupção da pres- do capital de sociedade anônima,
Estados ou dos Municípios; crição por um credor não apro- contado da publicação da ata da
III – contra os que se acharem veita aos outros; semelhante- assembleia que aprovar o laudo;
servindo nas Forças Armadas, em mente, a interrupção operada V – a pretensão dos credores
tempo de guerra. contra o codevedor, ou seu her- não pagos contra os sócios ou
deiro, não prejudica aos demais acionistas e os liquidantes, con-
Art. 199. Não corre igualmente coobrigados. tado o prazo da publicação da ata
a prescrição: § 1o A interrupção por um dos de encerramento da liquidação
I – pendendo condição sus- credores solidários aproveita aos da sociedade.
pensiva; outros; assim como a interrupção § 2o Em dois anos, a pre-
II – não estando vencido o efetuada contra o devedor soli- tensão para haver prestações
prazo; dário envolve os demais e seus alimentares, a partir da data em
III – pendendo ação de evic- herdeiros. que se vencerem.
ção. § 2o A interrupção operada § 3o Em três anos:
contra um dos herdeiros do de- I – a pretensão relativa a
Art. 200. Quando a ação se origi- vedor solidário não prejudica os aluguéis de prédios urbanos ou
nar de fato que deva ser apurado outros herdeiros ou devedores, rústicos;
no juízo criminal, não correrá a senão quando se trate de obriga- II – a pretensão para receber
prescrição antes da respectiva ções e direitos indivisíveis. prestações vencidas de rendas
sentença definitiva. § 3o A interrupção produzida temporárias ou vitalícias;
contra o principal devedor preju- III – a pretensão para haver
Art. 201. Suspensa a prescrição dica o fiador. juros, dividendos ou quaisquer
em favor de um dos credores so- prestações acessórias, pagá-
lidários, só aproveitam os outros veis, em períodos não maiores
se a obrigação for indivisível.
Seção IV – Dos Prazos da de um ano, com capitalização
Prescrição ou sem ela;
IV – a pretensão de ressarci-
Seção III – Das Causas que Art. 205. A prescrição ocorre mento de enriquecimento sem
Interrompem a Prescrição em dez anos, quando a lei não lhe causa;
haja fixado prazo menor. V – a pretensão de repara-
Art. 202. A interrupção da pres- ção civil;
crição, que somente poderá ocor- Art. 206. Prescreve: VI – a pretensão de restituição
rer uma vez, dar-se-á: § 1o Em um ano: dos lucros ou dividendos recebi-
I – por despacho do juiz, mes- I – a pretensão dos hospe- dos de má-fé, correndo o prazo
mo incompetente, que ordenar a deiros ou fornecedores de ví- da data em que foi deliberada a
citação, se o interessado a pro- veres destinados a consumo no distribuição;
mover no prazo e na forma da lei próprio estabelecimento, para o VII – a pretensão contra as
processual; pagamento da hospedagem ou pessoas em seguida indicadas
II – por protesto, nas condi- dos alimentos; por violação da lei ou do estatuto,
ções do inciso antecedente; II – a pretensão do segurado contado o prazo:
III – por protesto cambial; contra o segurador, ou a deste a) para os fundadores, da

143
Código Civil
publicação dos atos constitutivos Art. 208. Aplica-se à decadên- residência das partes e demais
da sociedade anônima; cia o disposto nos arts. 195 e 198, comparecentes, com a indicação,
b) para os administradores, inciso I. quando necessário, do regime
ou fiscais, da apresentação, aos de bens do casamento, nome do
sócios, do balanço referente ao Art. 209. É nula a renúncia à outro cônjuge e filiação;
exercício em que a violação tenha decadência fixada em lei. IV – manifestação clara da
sido praticada, ou da reunião ou vontade das partes e dos inter-
assembleia geral que dela deva Art. 210. Deve o juiz, de ofício, venientes;
tomar conhecimento; conhecer da decadência, quando V – referência ao cumprimen-
c) para os liquidantes, da estabelecida por lei. to das exigências legais e fiscais
primeira assembleia semestral inerentes à legitimidade do ato;
posterior à violação; Art. 211. Se a decadência for VI – declaração de ter sido
VIII – a pretensão para haver convencional, a parte a quem lida na presença das partes e
o pagamento de título de crédito, aproveita pode alegá-la em qual- demais comparecentes, ou de
a contar do vencimento, ressalva- quer grau de jurisdição, mas o que todos a leram;
das as disposições de lei especial; juiz não pode suprir a alegação. VII – assinatura das partes
IX – a pretensão do benefi- e dos demais comparecentes,
ciário contra o segurador, e a do bem como a do tabelião ou seu
terceiro prejudicado, no caso de TÍTULO V – DA PROVA substituto legal, encerrando o ato.
seguro de responsabilidade civil § 2o Se algum comparecente
obrigatório. Art. 212. Salvo o negócio a que não puder ou não souber escre-
§ 4o Em quatro anos, a pre- se impõe forma especial, o fato ju- ver, outra pessoa capaz assinará
tensão relativa à tutela, a contar rídico pode ser provado mediante: por ele, a seu rogo.
da data da aprovação das contas. I – confissão; § 3o A escritura será redigida
§ 5o Em cinco anos: II – documento; na língua nacional.
I – a pretensão de cobrança III – testemunha; § 4o Se qualquer dos com-
de dívidas líquidas constantes de IV – presunção; parecentes não souber a língua
instrumento público ou particular; V – perícia. nacional e o tabelião não enten-
II – a pretensão dos profis- der o idioma em que se expres-
sionais liberais em geral, procu- Art. 213. Não tem eficácia a con- sa, deverá comparecer tradutor
radores judiciais, curadores e pro- fissão se provém de quem não é público para servir de intérprete,
fessores pelos seus honorários, capaz de dispor do direito a que ou, não o havendo na localidade,
contado o prazo da conclusão dos se referem os fatos confessados. outra pessoa capaz que, a juízo
serviços, da cessação dos res- Parágrafo único. Se feita a do tabelião, tenha idoneidade e
pectivos contratos ou mandato; confissão por um representan- conhecimento bastantes.
III – a pretensão do vencedor te, somente é eficaz nos limites § 5o Se algum dos compare-
para haver do vencido o que des- em que este pode vincular o re- centes não for conhecido do tabe-
pendeu em juízo. presentado. lião, nem puder identificar-se por
documento, deverão participar do
Art. 206-A. A prescrição inter- Art. 214. A confissão é irrevo- ato pelo menos duas testemunhas
corrente observará o mesmo pra- gável, mas pode ser anulada se que o conheçam e atestem sua
zo de prescrição da pretensão, decorreu de erro de fato ou de identidade.
observadas as causas de impe- coação.
dimento, de suspensão e de in- Art. 216. Farão a mesma prova
terrupção da prescrição previstas Art. 215. A escritura pública, que os originais as certidões tex-
neste Código e observado o dis- lavrada em notas de tabelião, é tuais de qualquer peça judicial, do
posto no art. 921 da Lei no 13.105, documento dotado de fé pública, protocolo das audiências, ou de
de 16 de março de 2015 (Código fazendo prova plena. outro qualquer livro a cargo do
de Processo Civil). § 1o Salvo quando exigidos escrivão, sendo extraídas por ele,
por lei outros requisitos, a escri- ou sob a sua vigilância, e por ele
tura pública deve conter: subscritas, assim como os tras-
CAPÍTULO II – DA I – data e local de sua rea- lados de autos, quando por outro
DECADÊNCIA lização; escrivão consertados.
II – reconhecimento da identi-
Art. 207. Salvo disposição legal dade e capacidade das partes e de Art. 217. Terão a mesma força
em contrário, não se aplicam à quantos hajam comparecido ao probante os traslados e as cer-
decadência as normas que impe- ato, por si, como representantes, tidões, extraídos por tabelião ou
dem, suspendem ou interrompem intervenientes ou testemunhas; oficial de registro, de instrumen-
a prescrição. III – nome, nacionalidade, es- tos ou documentos lançados em
tado civil, profissão, domicílio e suas notas.

144
Código Civil
Art. 218. Os traslados e as cer- traduzidos para o português para Art. 229. (Revogado)
tidões considerar-se-ão instru- ter efeitos legais no País.
mentos públicos, se os originais Art. 230. (Revogado)
se houverem produzido em juízo Art. 225. As reproduções foto-
como prova de algum ato. gráficas, cinematográficas, os Art. 231. Aquele que se nega
registros fonográficos e, em ge- a submeter-se a exame médico
Art. 219. As declarações cons- ral, quaisquer outras reproduções necessário não poderá aprovei-
tantes de documentos assinados mecânicas ou eletrônicas de fatos tar-se de sua recusa.
presumem-se verdadeiras em ou de coisas fazem prova plena
relação aos signatários. destes, se a parte, contra quem Art. 232. A recusa à perícia mé-
Parágrafo único. Não tendo forem exibidos, não lhes impug- dica ordenada pelo juiz poderá
relação direta, porém, com as nar a exatidão. suprir a prova que se pretendia
disposições principais ou com a obter com o exame.
legitimidade das partes, as decla- Art. 226. Os livros e fichas dos
rações enunciativas não eximem empresários e sociedades provam
os interessados em sua veracida- contra as pessoas a que perten- PARTE ESPECIAL
de do ônus de prová-las. cem, e, em seu favor, quando, LIVRO I – DO DIREITO DAS
escriturados sem vício extrínseco
Art. 220. A anuência ou a au- ou intrínseco, forem confirmados OBRIGAÇÕES
torização de outrem, necessária por outros subsídios. TÍTULO I – DAS
à validade de um ato, provar-se- Parágrafo único. A prova re-
-á do mesmo modo que este, e sultante dos livros e fichas não é MODALIDADES DAS
constará, sempre que se possa, bastante nos casos em que a lei OBRIGAÇÕES
do próprio instrumento. exige escritura pública, ou escrito
particular revestido de requisitos
CAPÍTULO I – DAS
Art. 221. O instrumento particu- especiais, e pode ser ilidida pela OBRIGAÇÕES DE DAR
lar, feito e assinado, ou somente comprovação da falsidade ou ine- Seção I – Das Obrigações de
assinado por quem esteja na livre xatidão dos lançamentos.
Dar Coisa Certa
disposição e administração de
seus bens, prova as obrigações Art. 227. (Revogado)
convencionais de qualquer valor; Parágrafo único. Qualquer Art. 233. A obrigação de dar
mas os seus efeitos, bem como que seja o valor do negócio jurídi- coisa certa abrange os acessó-
os da cessão, não se operam, a co, a prova testemunhal é admis- rios dela embora não menciona-
respeito de terceiros, antes de sível como subsidiária ou com- dos, salvo se o contrário resultar
registrado no registro público. plementar da prova por escrito. do título ou das circunstâncias
Parágrafo único. A prova do do caso.
instrumento particular pode su- Art. 228. Não podem ser admi-
prir-se pelas outras de caráter tidos como testemunhas: Art. 234. Se, no caso do artigo
legal. I – os menores de dezesseis antecedente, a coisa se perder,
anos; sem culpa do devedor, antes da
Art. 222. O telegrama, quando II – (Revogado); tradição, ou pendente a condição
lhe for contestada a autentici- III – (Revogado); suspensiva, fica resolvida a obri-
dade, faz prova mediante confe- IV – o interessado no litígio, o gação para ambas as partes; se a
rência com o original assinado. amigo íntimo ou o inimigo capital perda resultar de culpa do deve-
das partes; dor, responderá este pelo equi-
Art. 223. A cópia fotográfica de V – os cônjuges, os ascen- valente e mais perdas e danos.
documento, conferida por tabe- dentes, os descendentes e os
lião de notas, valerá como prova colaterais, até o terceiro grau de Art. 235. Deteriorada a coisa,
de declaração da vontade, mas, alguma das partes, por consan- não sendo o devedor culpado,
impugnada sua autenticidade, guinidade, ou afinidade. poderá o credor resolver a obri-
deverá ser exibido o original. § 1o Para a prova de fatos que gação, ou aceitar a coisa, abatido
Parágrafo único. A prova não só elas conheçam, pode o juiz ad- de seu preço o valor que perdeu.
supre a ausência do título de cré- mitir o depoimento das pessoas a
dito, ou do original, nos casos em que se refere este artigo. Art. 236. Sendo culpado o de-
que a lei ou as circunstâncias con- § 2o A pessoa com defici- vedor, poderá o credor exigir o
dicionarem o exercício do direito ência poderá testemunhar em equivalente, ou aceitar a coisa
à sua exibição. igualdade de condições com as no estado em que se acha, com
demais pessoas, sendo-lhe as- direito a reclamar, em um ou em
Art. 224. Os documentos redigi- segurados todos os recursos de outro caso, indenização das per-
dos em língua estrangeira serão tecnologia assistiva. das e danos.

145
Código Civil
Art. 237. Até a tradição pertence Art. 244. Nas coisas determi- à sua custa, ressarcindo o culpado
ao devedor a coisa, com os seus nadas pelo gênero e pela quan- perdas e danos.
melhoramentos e acrescidos, pe- tidade, a escolha pertence ao Parágrafo único. Em caso de
los quais poderá exigir aumento devedor, se o contrário não re- urgência, poderá o credor des-
no preço; se o credor não anuir, sultar do título da obrigação; mas fazer ou mandar desfazer, inde-
poderá o devedor resolver a obri- não poderá dar a coisa pior, nem pendentemente de autorização
gação. será obrigado a prestar a melhor. judicial, sem prejuízo do ressar-
Parágrafo único. Os frutos cimento devido.
percebidos são do devedor, ca- Art. 245. Cientificado da esco-
bendo ao credor os pendentes. lha o credor, vigorará o disposto
na Seção antecedente. CAPÍTULO IV –
Art. 238. Se a obrigação for de DAS OBRIGAÇÕES
restituir coisa certa, e esta, sem Art. 246. Antes da escolha, não ALTERNATIVAS
culpa do devedor, se perder antes poderá o devedor alegar perda ou
da tradição, sofrerá o credor a deterioração da coisa, ainda que Art. 252. Nas obrigações al-
perda, e a obrigação se resolverá, por força maior ou caso fortuito. ternativas, a escolha cabe ao
ressalvados os seus direitos até devedor, se outra coisa não se
o dia da perda. estipulou.
CAPÍTULO II – DAS § 1o Não pode o devedor obri-
Art. 239. Se a coisa se perder OBRIGAÇÕES DE FAZER gar o credor a receber parte em
por culpa do devedor, respon- uma prestação e parte em outra.
derá este pelo equivalente, mais Art. 247. Incorre na obrigação § 2o Quando a obrigação for
perdas e danos. de indenizar perdas e danos o de prestações periódicas, a facul-
devedor que recusar a presta- dade de opção poderá ser exer-
Art. 240. Se a coisa restituí- ção a ele só imposta, ou só por cida em cada período.
vel se deteriorar sem culpa do ele exequível. § 3o No caso de pluralidade
devedor, recebê-la-á o credor, de optantes, não havendo acordo
tal qual se ache, sem direito a Art. 248. Se a prestação do fato unânime entre eles, decidirá o
indenização; se por culpa do de- tornar-se impossível sem culpa do juiz, findo o prazo por este assi-
vedor, observar-se-á o disposto devedor, resolver-se-á a obriga- nado para a deliberação.
no art. 239. ção; se por culpa dele, responderá § 4o Se o título deferir a op-
por perdas e danos. ção a terceiro, e este não quiser,
Art. 241. Se, no caso do art. 238, ou não puder exercê-la, caberá
sobrevier melhoramento ou Art. 249. Se o fato puder ser ao juiz a escolha se não houver
acréscimo à coisa, sem despe- executado por terceiro, será livre acordo entre as partes.
sa ou trabalho do devedor, lu- ao credor mandá-lo executar à
crará o credor, desobrigado de custa do devedor, havendo recusa Art. 253. Se uma das duas pres-
indenização. ou mora deste, sem prejuízo da tações não puder ser objeto de
indenização cabível. obrigação ou se tornada inexe-
Art. 242. Se para o melhora- Parágrafo único. Em caso de quível, subsistirá o débito quan-
mento, ou aumento, empregou urgência, pode o credor, indepen- to à outra.
o devedor trabalho ou dispêndio, dentemente de autorização judi-
o caso se regulará pelas normas cial, executar ou mandar executar Art. 254. Se, por culpa do deve-
deste Código atinentes às benfei- o fato, sendo depois ressarcido. dor, não se puder cumprir nenhu-
torias realizadas pelo possuidor ma das prestações, não compe-
de boa-fé ou de má-fé. tindo ao credor a escolha, ficará
Parágrafo único. Quanto aos CAPÍTULO III – DAS aquele obrigado a pagar o valor
frutos percebidos, observar-se-á, OBRIGAÇÕES DE NÃO da que por último se impossibili-
do mesmo modo, o disposto neste FAZER tou, mais as perdas e danos que
Código, acerca do possuidor de o caso determinar.
boa-fé ou de má-fé. Art. 250. Extingue-se a obriga-
ção de não fazer, desde que, sem Art. 255. Quando a escolha cou-
culpa do devedor, se lhe torne ber ao credor e uma das presta-
Seção II – Das Obrigações de impossível abster-se do ato, que ções tornar-se impossível por
Dar Coisa Incerta se obrigou a não praticar. culpa do devedor, o credor terá
direito de exigir a prestação sub-
Art. 243. A coisa incerta será Art. 251. Praticado pelo devedor sistente ou o valor da outra, com
indicada, ao menos, pelo gênero o ato, a cuja abstenção se obriga- perdas e danos; se, por culpa do
e pela quantidade. ra, o credor pode exigir dele que o devedor, ambas as prestações
desfaça, sob pena de se desfazer se tornarem inexequíveis, po-

146
Código Civil
derá o credor reclamar o valor Parágrafo único. O mesmo solidários falecer deixando her-
de qualquer das duas, além da critério se observará no caso de deiros, cada um destes só terá
indenização por perdas e danos. transação, novação, compensa- direito a exigir e receber a quota
ção ou confusão. do crédito que corresponder ao
Art. 256. Se todas as prestações seu quinhão hereditário, salvo se
se tornarem impossíveis sem cul- Art. 263. Perde a qualidade de a obrigação for indivisível.
pa do devedor, extinguir-se-á a indivisível a obrigação que se re-
obrigação. solver em perdas e danos. Art. 271. Convertendo-se a pres-
§ 1o Se, para efeito do dispos- tação em perdas e danos, sub-
to neste artigo, houver culpa de siste, para todos os efeitos, a
CAPÍTULO V – DAS todos os devedores, responderão solidariedade.
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E todos por partes iguais.
INDIVISÍVEIS § 2o Se for de um só a culpa, Art. 272. O credor que tiver re-
ficarão exonerados os outros, mitido a dívida ou recebido o pa-
Art. 257. Havendo mais de um respondendo só esse pelas per- gamento responderá aos outros
devedor ou mais de um credor em das e danos. pela parte que lhes caiba.
obrigação divisível, esta presume-
-se dividida em tantas obrigações, Art. 273. A um dos credores so-
iguais e distintas, quantos os cre- CAPÍTULO VI – DAS lidários não pode o devedor opor
dores ou devedores. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS as exceções pessoais oponíveis
aos outros.
Seção I – Disposições Gerais
Art. 258. A obrigação é indivisí-
vel quando a prestação tem por Art. 274. O julgamento contrário
objeto uma coisa ou um fato não Art. 264. Há solidariedade, a um dos credores solidários não
suscetíveis de divisão, por sua quando na mesma obrigação con- atinge os demais, mas o julga-
natureza, por motivo de ordem corre mais de um credor, ou mais mento favorável aproveita-lhes,
econômica, ou dada a razão de- de um devedor, cada um com di- sem prejuízo de exceção pessoal
terminante do negócio jurídico. reito, ou obrigado, à dívida toda. que o devedor tenha direito de
invocar em relação a qualquer
Art. 259. Se, havendo dois ou Art. 265. A solidariedade não deles.
mais devedores, a prestação não se presume; resulta da lei ou da
for divisível, cada um será obri- vontade das partes.
gado pela dívida toda.
Seção III – Da Solidariedade
Parágrafo único. O devedor, Art. 266. A obrigação solidária Passiva
que paga a dívida, sub-roga-se pode ser pura e simples para um
no direito do credor em relação dos cocredores ou codevedores, Art. 275. O credor tem direito
aos outros coobrigados. e condicional, ou a prazo, ou pa- a exigir e receber de um ou de
gável em lugar diferente, para alguns dos devedores, parcial ou
Art. 260. Se a pluralidade for o outro. totalmente, a dívida comum; se
dos credores, poderá cada um o pagamento tiver sido parcial,
destes exigir a dívida inteira; mas todos os demais devedores con-
o devedor ou devedores se deso-
Seção II – Da Solidariedade tinuam obrigados solidariamente
brigarão, pagando: Ativa pelo resto.
I – a todos conjuntamente; Parágrafo único. Não impor-
II – a um, dando este cau- Art. 267. Cada um dos credores tará renúncia da solidariedade a
ção de ratificação dos outros solidários tem direito a exigir do propositura de ação pelo credor
credores. devedor o cumprimento da pres- contra um ou alguns dos deve-
tação por inteiro. dores.
Art. 261. Se um só dos credores
receber a prestação por inteiro, Art. 268. Enquanto alguns dos Art. 276. Se um dos devedo-
a cada um dos outros assistirá o credores solidários não deman- res solidários falecer deixando
direito de exigir dele em dinheiro darem o devedor comum, a qual- herdeiros, nenhum destes será
a parte que lhe caiba no total. quer daqueles poderá este pagar. obrigado a pagar senão a quota
que corresponder ao seu quinhão
Art. 262. Se um dos credores Art. 269. O pagamento feito a hereditário, salvo se a obrigação
remitir a dívida, a obrigação não um dos credores solidários ex- for indivisível; mas todos reuni-
ficará extinta para com os outros; tingue a dívida até o montante dos serão considerados como um
mas estes só a poderão exigir, do que foi pago. devedor solidário em relação aos
descontada a quota do credor demais devedores.
remitente. Art. 270. Se um dos credores

147
Código Civil
Art. 277. O pagamento parcial Art. 285. Se a dívida solidária o da obrigação cedida; quando o
feito por um dos devedores e interessar exclusivamente a um crédito constar de escritura pú-
a remissão por ele obtida não dos devedores, responderá este blica, prevalecerá a prioridade da
aproveitam aos outros devedo- por toda ela para com aquele notificação.
res, senão até à concorrência da que pagar.
quantia paga ou relevada. Art. 293. Independentemente
do conhecimento da cessão pelo
Art. 278. Qualquer cláusula, con- TÍTULO II – DA devedor, pode o cessionário exer-
dição ou obrigação adicional, es- TRANSMISSÃO DAS cer os atos conservatórios do
tipulada entre um dos devedores OBRIGAÇÕES direito cedido.
solidários e o credor, não poderá
agravar a posição dos outros sem CAPÍTULO I – DA CESSÃO Art. 294. O devedor pode opor
consentimento destes. DE CRÉDITO ao cessionário as exceções que
lhe competirem, bem como as
Art. 279. Impossibilitando-se a Art. 286. O credor pode ceder o que, no momento em que veio
prestação por culpa de um dos seu crédito, se a isso não se opu- a ter conhecimento da cessão,
devedores solidários, subsiste ser a natureza da obrigação, a lei, tinha contra o cedente.
para todos o encargo de pagar ou a convenção com o devedor; a
o equivalente; mas pelas perdas cláusula proibitiva da cessão não Art. 295. Na cessão por título
e danos só responde o culpado. poderá ser oposta ao cessionário oneroso, o cedente, ainda que não
de boa-fé, se não constar do ins- se responsabilize, fica responsá-
Art. 280. Todos os devedores trumento da obrigação. vel ao cessionário pela existência
respondem pelos juros da mora, do crédito ao tempo em que lhe
ainda que a ação tenha sido pro- Art. 287. Salvo disposição em cedeu; a mesma responsabili-
posta somente contra um; mas o contrário, na cessão de um cré- dade lhe cabe nas cessões por
culpado responde aos outros pela dito abrangem-se todos os seus título gratuito, se tiver procedido
obrigação acrescida. acessórios. de má-fé.

Art. 281. O devedor demandado Art. 288. É ineficaz, em relação Art. 296. Salvo estipulação em
pode opor ao credor as exceções a terceiros, a transmissão de um contrário, o cedente não respon-
que lhe forem pessoais e as co- crédito, se não celebrar-se me- de pela solvência do devedor.
muns a todos; não lhe aproveitan- diante instrumento público, ou
do as exceções pessoais a outro instrumento particular revestido Art. 297. O cedente, responsável
codevedor. das solenidades do § 1o do art. 654. ao cessionário pela solvência do
devedor, não responde por mais
Art. 282. O credor pode renun- Art. 289. O cessionário de cré- do que daquele recebeu, com os
ciar à solidariedade em favor de dito hipotecário tem o direito de respectivos juros; mas tem de
um, de alguns ou de todos os fazer averbar a cessão no registro ressarcir-lhe as despesas da ces-
devedores. do imóvel. são e as que o cessionário houver
Parágrafo único. Se o credor feito com a cobrança.
exonerar da solidariedade um ou Art. 290. A cessão do crédito
mais devedores, subsistirá a dos não tem eficácia em relação ao Art. 298. O crédito, uma vez
demais. devedor, senão quando a este penhorado, não pode mais ser
notificada; mas por notificado transferido pelo credor que tiver
Art. 283. O devedor que satisfez se tem o devedor que, em escrito conhecimento da penhora; mas o
a dívida por inteiro tem direito a público ou particular, se declarou devedor que o pagar, não tendo
exigir de cada um dos codeve- ciente da cessão feita. notificação dela, fica exonera-
dores a sua quota, dividindo-se do, subsistindo somente contra
igualmente por todos a do insol- Art. 291. Ocorrendo várias ces- o credor os direitos de terceiro.
vente, se o houver, presumindo- sões do mesmo crédito, prevalece
-se iguais, no débito, as partes de a que se completar com a tradição
todos os codevedores. do título do crédito cedido. CAPÍTULO II – DA
ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
Art. 284. No caso de rateio en- Art. 292. Fica desobrigado o
tre os codevedores, contribuirão devedor que, antes de ter co- Art. 299. É facultado a terceiro
também os exonerados da soli- nhecimento da cessão, paga ao assumir a obrigação do devedor,
dariedade pelo credor, pela parte credor primitivo, ou que, no caso com o consentimento expresso
que na obrigação incumbia ao de mais de uma cessão notifica- do credor, ficando exonerado o
insolvente. da, paga ao cessionário que lhe devedor primitivo, salvo se aque-
apresenta, com o título de cessão, le, ao tempo da assunção, era

148
Código Civil
insolvente e o credor o ignorava. a reembolsar-se do que pagar; valerá contra estes, que poderão
Parágrafo único. Qualquer mas não se sub-roga nos direitos constranger o devedor a pagar de
das partes pode assinar prazo do credor. novo, ficando-lhe ressalvado o
ao credor para que consinta na Parágrafo único. Se pagar regresso contra o credor.
assunção da dívida, interpretan- antes de vencida a dívida, só terá
do-se o seu silêncio como recusa. direito ao reembolso no venci-
mento.
Seção III – Do Objeto do
Art. 300. Salvo assentimento Pagamento e Sua Prova
expresso do devedor primitivo, Art. 306. O pagamento feito por
consideram-se extintas, a partir terceiro, com desconhecimen- Art. 313. O credor não é obriga-
da assunção da dívida, as garan- to ou oposição do devedor, não do a receber prestação diversa
tias especiais por ele originaria- obriga a reembolsar aquele que da que lhe é devida, ainda que
mente dadas ao credor. pagou, se o devedor tinha meios mais valiosa.
para ilidir a ação.
Art. 301. Se a substituição do Art. 314. Ainda que a obriga-
devedor vier a ser anulada, res- Art. 307. Só terá eficácia o paga- ção tenha por objeto prestação
taura-se o débito, com todas as mento que importar transmissão divisível, não pode o credor ser
suas garantias, salvo as garantias da propriedade, quando feito por obrigado a receber, nem o deve-
prestadas por terceiros, exceto se quem possa alienar o objeto em dor a pagar, por partes, se assim
este conhecia o vício que inqui- que ele consistiu. não se ajustou.
nava a obrigação. Parágrafo único. Se se der
em pagamento coisa fungível, Art. 315. As dívidas em dinheiro
Art. 302. O novo devedor não não se poderá mais reclamar do deverão ser pagas no vencimento,
pode opor ao credor as exceções credor que, de boa-fé, a recebeu em moeda corrente e pelo valor
pessoais que competiam ao de- e consumiu, ainda que o solvente nominal, salvo o disposto nos
vedor primitivo. não tivesse o direito de aliená-la. artigos subsequentes.

Art. 303. O adquirente de imó- Art. 316. É lícito convencionar


vel hipotecado pode tomar a seu
Seção II – Daqueles a Quem o aumento progressivo de pres-
cargo o pagamento do crédito Se Deve Pagar tações sucessivas.
garantido; se o credor, notifica-
do, não impugnar em trinta dias Art. 308. O pagamento deve ser Art. 317. Quando, por motivos
a transferência do débito, enten- feito ao credor ou a quem de di- imprevisíveis, sobrevier despro-
der-se-á dado o assentimento. reito o represente, sob pena de porção manifesta entre o valor da
só valer depois de por ele ratifi- prestação devida e o do momento
cado, ou tanto quanto reverter de sua execução, poderá o juiz
TÍTULO III – DO em seu proveito. corrigi-lo, a pedido da parte, de
ADIMPLEMENTO modo que assegure, quanto pos-
E EXTINÇÃO DAS Art. 309. O pagamento feito de sível, o valor real da prestação.
OBRIGAÇÕES boa-fé ao credor putativo é váli-
do, ainda provado depois que não Art. 318. São nulas as conven-
CAPÍTULO I – DO era credor. ções de pagamento em ouro ou
PAGAMENTO em moeda estrangeira, bem como
Art. 310. Não vale o pagamen- para compensar a diferença en-
Seção I – De Quem Deve to cientemente feito ao credor tre o valor desta e o da moeda
Pagar incapaz de quitar, se o devedor nacional, excetuados os casos
não provar que em benefício dele previstos na legislação especial.
Art. 304. Qualquer interessa- efetivamente reverteu.
do na extinção da dívida pode Art. 319. O devedor que paga
pagá-la, usando, se o credor se Art. 311. Considera-se autori- tem direito a quitação regular, e
opuser, dos meios conducentes zado a receber o pagamento o pode reter o pagamento, enquan-
à exoneração do devedor. portador da quitação, salvo se to não lhe seja dada.
Parágrafo único. Igual direito as circunstâncias contrariarem
cabe ao terceiro não interessado, a presunção daí resultante. Art. 320. A quitação, que sem-
se o fizer em nome e à conta do pre poderá ser dada por instru-
devedor, salvo oposição deste. Art. 312. Se o devedor pagar mento particular, designará o va-
ao credor, apesar de intimado lor e a espécie da dívida quitada,
Art. 305. O terceiro não inte- da penhora feita sobre o crédito, o nome do devedor, ou quem por
ressado, que paga a dívida em ou da impugnação a ele oposta este pagou, o tempo e o lugar do
seu próprio nome, tem direito por terceiros, o pagamento não pagamento, com a assinatura do

149
Código Civil
credor, ou do seu representante. sistir na tradição de um imóvel, ou CAPÍTULO II – DO
Parágrafo único. Ainda sem em prestações relativas a imóvel, PAGAMENTO EM
os requisitos estabelecidos nes- far-se-á no lugar onde situado
te artigo valerá a quitação, se o bem.
CONSIGNAÇÃO
de seus termos ou das circuns-
tâncias resultar haver sido paga Art. 329. Ocorrendo motivo Art. 334. Considera-se paga-
a dívida. grave para que se não efetue o mento, e extingue a obrigação,
pagamento no lugar determina- o depósito judicial ou em esta-
Art. 321. Nos débitos, cuja quita- do, poderá o devedor fazê-lo em belecimento bancário da coisa
ção consista na devolução do títu- outro, sem prejuízo para o credor. devida, nos casos e forma legais.
lo, perdido este, poderá o devedor
exigir, retendo o pagamento, de- Art. 330. O pagamento reite- Art. 335. A consignação tem
claração do credor que inutilize radamente feito em outro local lugar:
o título desaparecido. faz presumir renúncia do cre- I – se o credor não puder, ou,
dor relativamente ao previsto no sem justa causa, recusar receber
Art. 322. Quando o pagamento contrato. o pagamento, ou dar quitação na
for em quotas periódicas, a qui- devida forma;
tação da última estabelece, até II – se o credor não for, nem
prova em contrário, a presunção
Seção V – Do Tempo do mandar receber a coisa no lugar,
de estarem solvidas as anteriores. Pagamento tempo e condição devidos;
III – se o credor for incapaz
Art. 323. Sendo a quitação do Art. 331. Salvo disposição legal de receber, for desconhecido,
capital sem reserva dos juros, em contrário, não tendo sido ajus- declarado ausente, ou residir em
estes presumem-se pagos. tada época para o pagamento, lugar incerto ou de acesso peri-
pode o credor exigi-lo imedia- goso ou difícil;
Art. 324. A entrega do título ao tamente. IV – se ocorrer dúvida sobre
devedor firma a presunção do quem deva legitimamente rece-
pagamento. Art. 332. As obrigações condi- ber o objeto do pagamento;
Parágrafo único. Ficará sem cionais cumprem-se na data do V – se pender litígio sobre o
efeito a quitação assim operada implemento da condição, caben- objeto do pagamento.
se o credor provar, em sessenta do ao credor a prova de que deste
dias, a falta do pagamento. teve ciência o devedor. Art. 336. Para que a consigna-
ção tenha força de pagamento,
Art. 325. Presumem-se a cargo Art. 333. Ao credor assistirá o será mister concorram, em rela-
do devedor as despesas com o pa- direito de cobrar a dívida antes ção às pessoas, ao objeto, modo e
gamento e a quitação; se ocorrer de vencido o prazo estipulado tempo, todos os requisitos sem os
aumento por fato do credor, su- no contrato ou marcado neste quais não é válido o pagamento.
portará este a despesa acrescida. Código:
I – no caso de falência do Art. 337. O depósito requerer-
Art. 326. Se o pagamento se devedor, ou de concurso de cre- -se-á no lugar do pagamento,
houver de fazer por medida, ou dores; cessando, tanto que se efetue,
peso, entender-se-á, no silêncio II – se os bens, hipotecados ou para o depositante, os juros da
das partes, que aceitaram os do empenhados, forem penhorados dívida e os riscos, salvo se for
lugar da execução. em execução por outro credor; julgado improcedente.
III – se cessarem, ou se se tor-
narem insuficientes, as garantias Art. 338. Enquanto o credor não
Seção IV – Do Lugar do do débito, fidejussórias, ou reais, declarar que aceita o depósito,
Pagamento e o devedor, intimado, se negar a ou não o impugnar, poderá o de-
reforçá-las. vedor requerer o levantamento,
Art. 327. Efetuar-se-á o paga- Parágrafo único. Nos casos pagando as respectivas despesas,
mento no domicílio do devedor, deste artigo, se houver, no débito, e subsistindo a obrigação para to-
salvo se as partes convenciona- solidariedade passiva, não se re- das as consequências de direito.
rem diversamente, ou se o contrá- putará vencido quanto aos outros
rio resultar da lei, da natureza da devedores solventes. Art. 339. Julgado procedente
obrigação ou das circunstâncias. o depósito, o devedor já não po-
Parágrafo único. Designados derá levantá-lo, embora o credor
dois ou mais lugares, cabe ao cre- consinta, senão de acordo com
dor escolher entre eles. os outros devedores e fiadores.

Art. 328. Se o pagamento con- Art. 340. O credor que, depois

150
Código Civil
de contestar a lide ou aceitar o III – do terceiro interessado, pagamento, se aceitar a quitação
depósito, aquiescer no levan- que paga a dívida pela qual era de uma delas, não terá direito a
tamento, perderá a preferência ou podia ser obrigado, no todo reclamar contra a imputação feita
e a garantia que lhe competiam ou em parte. pelo credor, salvo provando haver
com respeito à coisa consignada, ele cometido violência ou dolo.
ficando para logo desobrigados Art. 347. A sub-rogação é con-
os codevedores e fiadores que vencional: Art. 354. Havendo capital e ju-
não tenham anuído. I – quando o credor recebe o ros, o pagamento imputar-se-á
pagamento de terceiro e expres- primeiro nos juros vencidos, e
Art. 341. Se a coisa devida for samente lhe transfere todos os depois no capital, salvo estipu-
imóvel ou corpo certo que deva seus direitos; lação em contrário, ou se o cre-
ser entregue no mesmo lugar II – quando terceira pessoa dor passar a quitação por conta
onde está, poderá o devedor citar empresta ao devedor a quantia do capital.
o credor para vir ou mandar rece- precisa para solver a dívida, sob
bê-la, sob pena de ser depositada. a condição expressa de ficar o Art. 355. Se o devedor não fi-
mutuante sub-rogado nos direi- zer a indicação do art. 352, e a
Art. 342. Se a escolha da coisa tos do credor satisfeito. quitação for omissa quanto à im-
indeterminada competir ao cre- putação, esta se fará nas dívidas
dor, será ele citado para esse fim, Art. 348. Na hipótese do inciso líquidas e vencidas em primeiro
sob cominação de perder o direito I do artigo antecedente, vigora- lugar. Se as dívidas forem todas
e de ser depositada a coisa que rá o disposto quanto à cessão líquidas e vencidas ao mesmo
o devedor escolher; feita a esco- do crédito. tempo, a imputação far-se-á na
lha pelo devedor, proceder-se-á mais onerosa.
como no artigo antecedente. Art. 349. A sub-rogação trans-
fere ao novo credor todos os direi-
Art. 343. As despesas com o tos, ações, privilégios e garantias CAPÍTULO V – DA DAÇÃO
depósito, quando julgado proce- do primitivo, em relação à dívida, EM PAGAMENTO
dente, correrão à conta do credor, contra o devedor principal e os
e, no caso contrário, à conta do fiadores. Art. 356. O credor pode consen-
devedor. tir em receber prestação diversa
Art. 350. Na sub-rogação legal da que lhe é devida.
Art. 344. O devedor de obriga- o sub-rogado não poderá exercer
ção litigiosa exonerar-se-á me- os direitos e as ações do credor, Art. 357. Determinado o preço
diante consignação, mas, se pa- senão até à soma que tiver de- da coisa dada em pagamento, as
gar a qualquer dos pretendidos sembolsado para desobrigar o relações entre as partes regular-
credores, tendo conhecimento devedor. -se-ão pelas normas do contrato
do litígio, assumirá o risco do de compra e venda.
pagamento. Art. 351. O credor originário, só
em parte reembolsado, terá pre- Art. 358. Se for título de cré-
Art. 345. Se a dívida se vencer, ferência ao sub-rogado, na co- dito a coisa dada em pagamen-
pendendo litígio entre credores brança da dívida restante, se os to, a transferência importará em
que se pretendem mutuamente bens do devedor não chegarem cessão.
excluir, poderá qualquer deles para saldar inteiramente o que a
requerer a consignação. um e outro dever. Art. 359. Se o credor for evicto
da coisa recebida em pagamento,
restabelecer-se-á a obrigação
CAPÍTULO III – DO CAPÍTULO IV – DA primitiva, ficando sem efeito a
PAGAMENTO COM IMPUTAÇÃO DO quitação dada, ressalvados os
SUB-ROGAÇÃO PAGAMENTO direitos de terceiros.

Art. 346. A sub-rogação ope- Art. 352. A pessoa obrigada por


ra-se, de pleno direito, em favor: dois ou mais débitos da mesma CAPÍTULO VI – DA
I – do credor que paga a dívida natureza, a um só credor, tem o NOVAÇÃO
do devedor comum; direito de indicar a qual deles ofe-
II – do adquirente do imóvel rece pagamento, se todos forem Art. 360. Dá-se a novação:
hipotecado, que paga a credor líquidos e vencidos. I – quando o devedor contrai
hipotecário, bem como do ter- com o credor nova dívida para
ceiro que efetiva o pagamento Art. 353. Não tendo o devedor extinguir e substituir a anterior;
para não ser privado de direito declarado em qual das dívidas lí- II – quando novo devedor su-
sobre imóvel; quidas e vencidas quer imputar o cede ao antigo, ficando este quite

151
Código Civil
com o credor; onde se compensarem. sem dedução das despesas ne-
III – quando, em virtude de cessárias à operação.
obrigação nova, outro credor é Art. 369. A compensação efetu-
substituído ao antigo, ficando o a-se entre dívidas líquidas, venci- Art. 379. Sendo a mesma pes-
devedor quite com este. das e de coisas fungíveis. soa obrigada por várias dívidas
compensáveis, serão observadas,
Art. 361. Não havendo ânimo Art. 370. Embora sejam do mes- no compensá-las, as regras es-
de novar, expresso ou tácito mas mo gênero as coisas fungíveis, tabelecidas quanto à imputação
inequívoco, a segunda obriga- objeto das duas prestações, não do pagamento.
ção confirma simplesmente a se compensarão, verificando-se
primeira. que diferem na qualidade, quando Art. 380. Não se admite a com-
especificada no contrato. pensação em prejuízo de direito
Art. 362. A novação por substi- de terceiro. O devedor que se tor-
tuição do devedor pode ser efetu- Art. 371. O devedor somente ne credor do seu credor, depois
ada independentemente de con- pode compensar com o credor de penhorado o crédito deste,
sentimento deste. o que este lhe dever; mas o fiador não pode opor ao exequente a
pode compensar sua dívida com compensação, de que contra o
Art. 363. Se o novo devedor for a de seu credor ao afiançado. próprio credor disporia.
insolvente, não tem o credor, que
o aceitou, ação regressiva contra Art. 372. Os prazos de favor,
o primeiro, salvo se este obteve embora consagrados pelo uso ge- CAPÍTULO VIII – DA
por má-fé a substituição. ral, não obstam a compensação. CONFUSÃO
Art. 364. A novação extingue os Art. 373. A diferença de causa Art. 381. Extingue-se a obriga-
acessórios e garantias da dívida, nas dívidas não impede a com- ção, desde que na mesma pessoa
sempre que não houver estipula- pensação, exceto: se confundam as qualidades de
ção em contrário. Não aproveita- I – se provier de esbulho, furto credor e devedor.
rá, contudo, ao credor ressalvar o ou roubo;
penhor, a hipoteca ou a anticrese, II – se uma se originar de co- Art. 382. A confusão pode verifi-
se os bens dados em garantia modato, depósito ou alimentos; car-se a respeito de toda a dívida,
pertencerem a terceiro que não III – se uma for de coisa não ou só de parte dela.
foi parte na novação. suscetível de penhora.
Art. 383. A confusão operada
Art. 365. Operada a novação Art. 374. (Revogado) na pessoa do credor ou devedor
entre o credor e um dos devedo- solidário só extingue a obrigação
res solidários, somente sobre os Art. 375. Não haverá compensa- até a concorrência da respecti-
bens do que contrair a nova obri- ção quando as partes, por mútuo va parte no crédito, ou na dívida,
gação subsistem as preferências acordo, a excluírem, ou no caso subsistindo quanto ao mais a so-
e garantias do crédito novado. Os de renúncia prévia de uma delas. lidariedade.
outros devedores solidários ficam
por esse fato exonerados. Art. 376. Obrigando-se por ter- Art. 384. Cessando a confusão,
ceiro uma pessoa, não pode com- para logo se restabelece, com
Art. 366. Importa exoneração pensar essa dívida com a que o todos os seus acessórios, a obri-
do fiador a novação feita sem credor dele lhe dever. gação anterior.
seu consenso com o devedor
principal. Art. 377. O devedor que, notifi-
cado, nada opõe à cessão que o CAPÍTULO IX – DA
Art. 367. Salvo as obrigações credor faz a terceiros dos seus REMISSÃO DAS DÍVIDAS
simplesmente anuláveis, não po- direitos, não pode opor ao cessio-
dem ser objeto de novação obri- nário a compensação, que antes Art. 385. A remissão da dívida,
gações nulas ou extintas. da cessão teria podido opor ao aceita pelo devedor, extingue a
cedente. Se, porém, a cessão lhe obrigação, mas sem prejuízo de
não tiver sido notificada, poderá terceiro.
CAPÍTULO VII – DA opor ao cessionário compensação
COMPENSAÇÃO do crédito que antes tinha contra Art. 386. A devolução voluntá-
o cedente. ria do título da obrigação, quan-
Art. 368. Se duas pessoas fo- do por escrito particular, prova
rem ao mesmo tempo credor e Art. 378. Quando as duas dívi- desoneração do devedor e seus
devedor uma da outra, as duas das não são pagáveis no mesmo coobrigados, se o credor for ca-
obrigações extinguem-se, até lugar, não se podem compensar paz de alienar, e o devedor capaz

152
CAPÍTULO II – DA MORA

Código Civil
de adquirir. lecido para o pagamento e o da
sua efetivação.
Art. 387. A restituição voluntária Art. 394. Considera-se em mora
do objeto empenhado prova a re- o devedor que não efetuar o pa- Art. 401. Purga-se a mora:
núncia do credor à garantia real, gamento e o credor que não qui- I – por parte do devedor, ofe-
não a extinção da dívida. ser recebê-lo no tempo, lugar e recendo este a prestação mais a
forma que a lei ou a convenção importância dos prejuízos decor-
Art. 388. A remissão concedida estabelecer. rentes do dia da oferta;
a um dos codevedores extingue a II – por parte do credor, ofere-
dívida na parte a ele correspon- Art. 395. Responde o devedor cendo-se este a receber o paga-
dente; de modo que, ainda reser- pelos prejuízos a que sua mora mento e sujeitando-se aos efeitos
vando o credor a solidariedade der causa, mais juros, atualização da mora até a mesma data.
contra os outros, já lhes não pode dos valores monetários segun-
cobrar o débito sem dedução da do índices oficiais regularmente
parte remitida. estabelecidos, e honorários de CAPÍTULO III – DAS
advogado. PERDAS E DANOS
Parágrafo único. Se a pres-
TÍTULO IV – DO tação, devido à mora, se tornar Art. 402. Salvo as exceções ex-
INADIMPLEMENTO DAS inútil ao credor, este poderá en- pressamente previstas em lei,
OBRIGAÇÕES jeitá-la, e exigir a satisfação das as perdas e danos devidas ao
perdas e danos. credor abrangem, além do que
CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES ele efetivamente perdeu, o que
GERAIS Art. 396. Não havendo fato ou razoavelmente deixou de lucrar.
omissão imputável ao devedor,
Art. 389. Não cumprida a obri- não incorre este em mora. Art. 403. Ainda que a inexecu-
gação, responde o devedor por ção resulte de dolo do devedor,
perdas e danos, mais juros e Art. 397. O inadimplemento da as perdas e danos só incluem
atualização monetária segun- obrigação, positiva e líquida, no os prejuízos efetivos e os lucros
do índices oficiais regularmente seu termo, constitui de pleno di- cessantes por efeito dela direto
estabelecidos, e honorários de reito em mora o devedor. e imediato, sem prejuízo do dis-
advogado. Parágrafo único. Não haven- posto na lei processual.
do termo, a mora se constitui
Art. 390. Nas obrigações ne- mediante interpelação judicial Art. 404. As perdas e danos,
gativas o devedor é havido por ou extrajudicial. nas obrigações de pagamento em
inadimplente desde o dia em que dinheiro, serão pagas com atuali-
executou o ato de que se devia Art. 398. Nas obrigações prove- zação monetária segundo índices
abster. nientes de ato ilícito, considera-se oficiais regularmente estabele-
o devedor em mora, desde que o cidos, abrangendo juros, custas
Art. 391. Pelo inadimplemento praticou. e honorários de advogado, sem
das obrigações respondem todos prejuízo da pena convencional.
os bens do devedor. Art. 399. O devedor em mora Parágrafo único. Provado que
responde pela impossibilidade da os juros da mora não cobrem o
Art. 392. Nos contratos benéfi- prestação, embora essa impossi- prejuízo, e não havendo pena con-
cos, responde por simples culpa bilidade resulte de caso fortuito vencional, pode o juiz conceder ao
o contratante, a quem o contra- ou de força maior, se estes ocor- credor indenização suplementar.
to aproveite, e por dolo aquele rerem durante o atraso; salvo se
a quem não favoreça. Nos con- provar isenção de culpa, ou que Art. 405. Contam-se os juros
tratos onerosos, responde cada o dano sobreviria ainda quando a de mora desde a citação inicial.
uma das partes por culpa, salvo obrigação fosse oportunamente
as exceções previstas em lei. desempenhada.
CAPÍTULO IV – DOS JUROS
Art. 393. O devedor não respon- Art. 400. A mora do credor sub- LEGAIS
de pelos prejuízos resultantes de trai o devedor isento de dolo à
caso fortuito ou força maior, se responsabilidade pela conser- Art. 406. Quando os juros mora-
expressamente não se houver por vação da coisa, obriga o credor a tórios não forem convencionados,
eles responsabilizado. ressarcir as despesas emprega- ou o forem sem taxa estipula-
Parágrafo único. O caso for- das em conservá-la, e sujeita-o da, ou quando provierem de de-
tuito ou de força maior verifica-se a recebê-la pela estimação mais terminação da lei, serão fixados
no fato necessário, cujos efeitos favorável ao devedor, se o seu segundo a taxa que estiver em
não era possível evitar ou impedir. valor oscilar entre o dia estabe- vigor para a mora do pagamento

153
Código Civil
de impostos devidos à Fazenda Art. 414. Sendo indivisível a obri- as arras como taxa mínima. Pode,
Nacional. gação, todos os devedores, cain- também, a parte inocente exigir
do em falta um deles, incorrerão a execução do contrato, com as
Art. 407. Ainda que se não ale- na pena; mas esta só se poderá perdas e danos, valendo as arras
gue prejuízo, é obrigado o devedor demandar integralmente do cul- como o mínimo da indenização.
aos juros da mora que se conta- pado, respondendo cada um dos
rão assim às dívidas em dinhei- outros somente pela sua quota. Art. 420. Se no contrato for es-
ro, como às prestações de outra Parágrafo único. Aos não tipulado o direito de arrependi-
natureza, uma vez que lhes esteja culpados fica reservada a ação mento para qualquer das partes,
fixado o valor pecuniário por sen- regressiva contra aquele que deu as arras ou sinal terão função
tença judicial, arbitramento, ou causa à aplicação da pena. unicamente indenizatória. Neste
acordo entre as partes. caso, quem as deu perdê-las-á em
Art. 415. Quando a obrigação benefício da outra parte; e quem
for divisível, só incorre na pena o as recebeu devolvê-las-á, mais o
CAPÍTULO V – DA devedor ou o herdeiro do devedor equivalente. Em ambos os casos
CLÁUSULA PENAL que a infringir, e proporcional- não haverá direito a indenização
mente à sua parte na obrigação. suplementar.
Art. 408. Incorre de pleno direi-
to o devedor na cláusula penal, Art. 416. Para exigir a pena con-
desde que, culposamente, deixe vencional, não é necessário que TÍTULO V – DOS
de cumprir a obrigação ou se o credor alegue prejuízo. CONTRATOS EM GERAL
constitua em mora. Parágrafo único. Ainda que
o prejuízo exceda ao previsto na CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
Art. 409. A cláusula penal es- cláusula penal, não pode o credor GERAIS
tipulada conjuntamente com a exigir indenização suplementar Seção I – Preliminares
obrigação, ou em ato posterior, se assim não foi convencionado.
pode referir-se à inexecução Se o tiver sido, a pena vale como
completa da obrigação, à de al- mínimo da indenização, compe- Art. 421. A liberdade contratual
guma cláusula especial ou sim- tindo ao credor provar o prejuízo será exercida nos limites da fun-
plesmente à mora. excedente. ção social do contrato.
Parágrafo único. Nas rela-
Art. 410. Quando se estipular ções contratuais privadas, preva-
a cláusula penal para o caso de CAPÍTULO VI – DAS ARRAS lecerão o princípio da intervenção
total inadimplemento da obri- OU SINAL mínima e a excepcionalidade da
gação, esta converter-se-á em revisão contratual.
alternativa a benefício do credor. Art. 417. Se, por ocasião da con-
clusão do contrato, uma parte der Art. 421-A. Os contratos civis e
Art. 411. Quando se estipular a à outra, a título de arras, dinheiro empresariais presumem-se pari-
cláusula penal para o caso de ou outro bem móvel, deverão as tários e simétricos até a presen-
mora, ou em segurança especial arras, em caso de execução, ser ça de elementos concretos que
de outra cláusula determinada, restituídas ou computadas na justifiquem o afastamento dessa
terá o credor o arbítrio de exigir prestação devida, se do mesmo presunção, ressalvados os regi-
a satisfação da pena cominada, gênero da principal. mes jurídicos previstos em leis
juntamente com o desempenho especiais, garantido também que:
da obrigação principal. Art. 418. Se a parte que deu as I – as partes negociantes po-
arras não executar o contrato, derão estabelecer parâmetros
Art. 412. O valor da cominação poderá a outra tê-lo por desfeito, objetivos para a interpretação
imposta na cláusula penal não retendo-as; se a inexecução for das cláusulas negociais e de seus
pode exceder o da obrigação de quem recebeu as arras, pode- pressupostos de revisão ou de
principal. rá quem as deu haver o contrato resolução;
por desfeito, e exigir sua devo- II – a alocação de riscos de-
Art. 413. A penalidade deve ser lução mais o equivalente, com finida pelas partes deve ser res-
reduzida equitativamente pelo atualização monetária segundo peitada e observada; e
juiz se a obrigação principal tiver índices oficiais regularmente es- III – a revisão contratual so-
sido cumprida em parte, ou se o tabelecidos, juros e honorários mente ocorrerá de maneira ex-
montante da penalidade for ma- de advogado. cepcional e limitada.
nifestamente excessivo, tendo-se
em vista a natureza e a finalidade Art. 419. A parte inocente pode Art. 422. Os contratantes são
do negócio. pedir indenização suplementar, obrigados a guardar, assim na
se provar maior prejuízo, valendo conclusão do contrato, como em

154
Código Civil
sua execução, os princípios de dos usos. trato, se a ele anuir, e o estipu-
probidade e boa-fé. Parágrafo único. Pode revo- lante não o inovar nos termos
gar-se a oferta pela mesma via de do art. 438.
Art. 423. Quando houver no con- sua divulgação, desde que res-
trato de adesão cláusulas ambí- salvada esta faculdade na oferta Art. 437. Se ao terceiro, em fa-
guas ou contraditórias, dever-se- realizada. vor de quem se fez o contrato, se
-á adotar a interpretação mais deixar o direito de reclamar-lhe a
favorável ao aderente. Art. 430. Se a aceitação, por execução, não poderá o estipu-
circunstância imprevista, che- lante exonerar o devedor.
Art. 424. Nos contratos de ade- gar tarde ao conhecimento do
são, são nulas as cláusulas que proponente, este comunicá-lo-á Art. 438. O estipulante pode re-
estipulem a renúncia antecipada imediatamente ao aceitante, sob servar-se o direito de substituir o
do aderente a direito resultante pena de responder por perdas terceiro designado no contrato,
da natureza do negócio. e danos. independentemente da sua anu-
ência e da do outro contratante.
Art. 425. É lícito às partes esti- Art. 431. A aceitação fora do Parágrafo único. A substitui-
pular contratos atípicos, obser- prazo, com adições, restrições, ção pode ser feita por ato entre
vadas as normas gerais fixadas ou modificações, importará nova vivos ou por disposição de última
neste Código. proposta. vontade.

Art. 426. Não pode ser objeto Art. 432. Se o negócio for da-
de contrato a herança de pes- queles em que não seja costume
Seção IV – Da Promessa de
soa viva. a aceitação expressa, ou o pro- Fato de Terceiro
ponente a tiver dispensado, re-
putar-se-á concluído o contrato, Art. 439. Aquele que tiver pro-
Seção II – Da Formação dos não chegando a tempo a recusa. metido fato de terceiro respon-
Contratos derá por perdas e danos, quando
Art. 433. Considera-se inexis- este o não executar.
Art. 427. A proposta de contrato tente a aceitação, se antes dela Parágrafo único. Tal respon-
obriga o proponente, se o contrá- ou com ela chegar ao proponente sabilidade não existirá se o ter-
rio não resultar dos termos dela, a retratação do aceitante. ceiro for o cônjuge do promitente,
da natureza do negócio, ou das dependendo da sua anuência o
circunstâncias do caso. Art. 434. Os contratos entre ato a ser praticado, e desde que,
ausentes tornam-se perfeitos pelo regime do casamento, a in-
Art. 428. Deixa de ser obriga- desde que a aceitação é expe- denização, de algum modo, venha
tória a proposta: dida, exceto: a recair sobre os seus bens.
I – se, feita sem prazo a pes- I – no caso do artigo ante-
soa presente, não foi imediata- cedente; Art. 440. Nenhuma obrigação
mente aceita. Considera-se tam- II – se o proponente se hou- haverá para quem se comprome-
bém presente a pessoa que con- ver comprometido a esperar res- ter por outrem, se este, depois de
trata por telefone ou por meio de posta; se ter obrigado, faltar à prestação.
comunicação semelhante; III – se ela não chegar no pra-
II – se, feita sem prazo a zo convencionado.
pessoa ausente, tiver decorrido
Seção V – Dos Vícios
tempo suficiente para chegar a Art. 435. Reputar-se-á celebra- Redibitórios
resposta ao conhecimento do do o contrato no lugar em que foi
proponente; proposto. Art. 441. A coisa recebida em
III – se, feita a pessoa ausente, virtude de contrato comutativo
não tiver sido expedida a resposta pode ser enjeitada por vícios ou
dentro do prazo dado;
Seção III – Da Estipulação em defeitos ocultos, que a tornem
IV – se, antes dela, ou simul- Favor de Terceiro imprópria ao uso a que é desti-
taneamente, chegar ao conheci- nada, ou lhe diminuam o valor.
mento da outra parte a retratação Art. 436. O que estipula em fa- Parágrafo único. É aplicável
do proponente. vor de terceiro pode exigir o cum- a disposição deste artigo às doa-
primento da obrigação. ções onerosas.
Art. 429. A oferta ao público Parágrafo único. Ao terceiro,
equivale a proposta quando en- em favor de quem se estipulou a Art. 442. Em vez de rejeitar
cerra os requisitos essenciais obrigação, também é permitido a coisa, redibindo o contrato
ao contrato, salvo se o contrário exigi-la, ficando, todavia, sujeito (art. 441), pode o adquirente re-
resultar das circunstâncias ou às condições e normas do con- clamar abatimento no preço.

155
Código Civil
Art. 443. Se o alienante conhe- Art. 449. Não obstante a cláu- Art. 456. (Revogado)
cia o vício ou defeito da coisa, res- sula que exclui a garantia contra
tituirá o que recebeu com perdas a evicção, se esta se der, tem di- Art. 457. Não pode o adquirente
e danos; se o não conhecia, tão reito o evicto a receber o preço demandar pela evicção, se sabia
somente restituirá o valor recebi- que pagou pela coisa evicta, se que a coisa era alheia ou litigiosa.
do, mais as despesas do contrato. não soube do risco da evicção, ou,
dele informado, não o assumiu.
Art. 444. A responsabilidade
Seção VII – Dos Contratos
do alienante subsiste ainda que a Art. 450. Salvo estipulação em Aleatórios
coisa pereça em poder do aliena- contrário, tem direito o evicto,
tário, se perecer por vício oculto, além da restituição integral do Art. 458. Se o contrato for ale-
já existente ao tempo da tradição. preço ou das quantias que pagou: atório, por dizer respeito a coisas
I – à indenização dos frutos ou fatos futuros, cujo risco de não
Art. 445. O adquirente decai do que tiver sido obrigado a restituir; virem a existir um dos contratan-
direito de obter a redibição ou II – à indenização pelas des- tes assuma, terá o outro direito
abatimento no preço no prazo de pesas dos contratos e pelos preju- de receber integralmente o que
trinta dias se a coisa for móvel, e ízos que diretamente resultarem lhe foi prometido, desde que de
de um ano se for imóvel, contado da evicção; sua parte não tenha havido dolo
da entrega efetiva; se já estava III – às custas judiciais e aos ou culpa, ainda que nada do aven-
na posse, o prazo conta-se da honorários do advogado por ele çado venha a existir.
alienação, reduzido à metade. constituído.
§ 1o Quando o vício, por sua Parágrafo único. O preço, Art. 459. Se for aleatório, por
natureza, só puder ser conhecido seja a evicção total ou parcial, serem objeto dele coisas futuras,
mais tarde, o prazo contar-se-á será o do valor da coisa, na época tomando o adquirente a si o risco
do momento em que dele tiver em que se evenceu, e proporcio- de virem a existir em qualquer
ciência, até o prazo máximo de nal ao desfalque sofrido, no caso quantidade, terá também direito
cento e oitenta dias, em se tra- de evicção parcial. o alienante a todo o preço, desde
tando de bens móveis; e de um que de sua parte não tiver con-
ano, para os imóveis. Art. 451. Subsiste para o alie- corrido culpa, ainda que a coisa
§ 2o Tratando-se de venda nante esta obrigação, ainda que venha a existir em quantidade
de animais, os prazos de garantia a coisa alienada esteja deterio- inferior à esperada.
por vícios ocultos serão os es- rada, exceto havendo dolo do Parágrafo único. Mas, se da
tabelecidos em lei especial, ou, adquirente. coisa nada vier a existir, alienação
na falta desta, pelos usos locais, não haverá, e o alienante restitui-
aplicando-se o disposto no pará- Art. 452. Se o adquirente tiver rá o preço recebido.
grafo antecedente se não houver auferido vantagens das deteriora-
regras disciplinando a matéria. ções, e não tiver sido condenado Art. 460. Se for aleatório o
a indenizá-las, o valor das vanta- contrato, por se referir a coisas
Art. 446. Não correrão os pra- gens será deduzido da quantia existentes, mas expostas a risco,
zos do artigo antecedente na que lhe houver de dar o alienante. assumido pelo adquirente, terá
constância de cláusula de ga- igualmente direito o alienante a
rantia; mas o adquirente deve Art. 453. As benfeitorias neces- todo o preço, posto que a coisa
denunciar o defeito ao alienante sárias ou úteis, não abonadas ao já não existisse, em parte, ou de
nos trinta dias seguintes ao seu que sofreu a evicção, serão pagas todo, no dia do contrato.
descobrimento, sob pena de de- pelo alienante.
cadência. Art. 461. A alienação aleatória
Art. 454. Se as benfeitorias abo- a que se refere o artigo antece-
nadas ao que sofreu a evicção ti- dente poderá ser anulada como
Seção VI – Da Evicção verem sido feitas pelo alienante, o dolosa pelo prejudicado, se pro-
valor delas será levado em conta var que o outro contratante não
Art. 447. Nos contratos onero- na restituição devida. ignorava a consumação do risco,
sos, o alienante responde pela a que no contrato se considerava
evicção. Subsiste esta garantia Art. 455. Se parcial, mas con- exposta a coisa.
ainda que a aquisição se tenha siderável, for a evicção, poderá
realizado em hasta pública. o evicto optar entre a rescisão
do contrato e a restituição da
Seção VIII – Do Contrato
Art. 448. Podem as partes, por parte do preço correspondente Preliminar
cláusula expressa, reforçar, dimi- ao desfalque sofrido. Se não for
nuir ou excluir a responsabilidade considerável, caberá somente Art. 462. O contrato preliminar,
pela evicção. direito a indenização. exceto quanto à forma, deve con-

156
Código Civil
ter todos os requisitos essenciais Art. 469. A pessoa, nomeada inadimplemento pode pedir a re-
ao contrato a ser celebrado. de conformidade com os arti- solução do contrato, se não pre-
gos antecedentes, adquire os ferir exigir-lhe o cumprimento,
Art. 463. Concluído o contrato direitos e assume as obrigações cabendo, em qualquer dos casos,
preliminar, com observância do decorrentes do contrato, a par- indenização por perdas e danos.
disposto no artigo antecedente, e tir do momento em que este foi
desde que dele não conste cláu- celebrado.
sula de arrependimento, qual-
Seção III – Da Exceção de
quer das partes terá o direito de Art. 470. O contrato será eficaz Contrato Não Cumprido
exigir a celebração do definitivo, somente entre os contratantes
assinando prazo à outra para que originários: Art. 476. Nos contratos bilate-
o efetive. I – se não houver indicação rais, nenhum dos contratantes,
Parágrafo único. O contrato de pessoa, ou se o nomeado se antes de cumprida a sua obriga-
preliminar deverá ser levado ao recusar a aceitá-la; ção, pode exigir o implemento
registro competente. II – se a pessoa nomeada era da do outro.
insolvente, e a outra pessoa o
Art. 464. Esgotado o prazo, po- desconhecia no momento da in- Art. 477. Se, depois de conclu-
derá o juiz, a pedido do interes- dicação. ído o contrato, sobrevier a uma
sado, suprir a vontade da parte das partes contratantes diminui-
inadimplente, conferindo caráter Art. 471. Se a pessoa a nomear ção em seu patrimônio capaz de
definitivo ao contrato preliminar, era incapaz ou insolvente no mo- comprometer ou tornar duvidosa
salvo se a isto se opuser a natu- mento da nomeação, o contrato a prestação pela qual se obrigou,
reza da obrigação. produzirá seus efeitos entre os pode a outra recusar-se à pres-
contratantes originários. tação que lhe incumbe, até que
Art. 465. Se o estipulante não aquela satisfaça a que lhe com-
der execução ao contrato preli- pete ou dê garantia bastante de
minar, poderá a outra parte con- CAPÍTULO II – DA satisfazê-la.
siderá-lo desfeito, e pedir perdas EXTINÇÃO DO CONTRATO
e danos.
Seção I – Do Distrato Seção IV – Da Resolução por
Art. 466. Se a promessa de con- Onerosidade Excessiva
trato for unilateral, o credor, sob Art. 472. O distrato faz-se pela
pena de ficar a mesma sem efeito, mesma forma exigida para o con- Art. 478. Nos contratos de exe-
deverá manifestar-se no prazo trato. cução continuada ou diferida, se
nela previsto, ou, inexistindo este, a prestação de uma das partes se
no que lhe for razoavelmente as- Art. 473. A resilição unilateral, tornar excessivamente onerosa,
sinado pelo devedor. nos casos em que a lei expressa com extrema vantagem para a
ou implicitamente o permita, ope- outra, em virtude de aconteci-
ra mediante denúncia notificada mentos extraordinários e impre-
Seção IX – Do Contrato com à outra parte. visíveis, poderá o devedor pedir a
Pessoa a Declarar Parágrafo único. Se, porém, resolução do contrato. Os efeitos
dada a natureza do contrato, uma da sentença que a decretar retro-
Art. 467. No momento da con- das partes houver feito inves- agirão à data da citação.
clusão do contrato, pode uma das timentos consideráveis para a
partes reservar-se a faculdade de sua execução, a denúncia unila- Art. 479. A resolução poderá
indicar a pessoa que deve adquirir teral só produzirá efeito depois ser evitada, oferecendo-se o réu
os direitos e assumir as obriga- de transcorrido prazo compatí- a modificar equitativamente as
ções dele decorrentes. vel com a natureza e o vulto dos condições do contrato.
investimentos.
Art. 468. Essa indicação deve Art. 480. Se no contrato as obri-
ser comunicada à outra parte no gações couberem a apenas uma
prazo de cinco dias da conclusão
Seção II – Da Cláusula das partes, poderá ela pleitear
do contrato, se outro não tiver Resolutiva que a sua prestação seja reduzida,
sido estipulado. ou alterado o modo de executá-
Parágrafo único. A aceitação Art. 474. A cláusula resolutiva -la, a fim de evitar a onerosidade
da pessoa nomeada não será efi- expressa opera de pleno direito; excessiva.
caz se não se revestir da mesma a tácita depende de interpelação
forma que as partes usaram para judicial.
o contrato.
Art. 475. A parte lesada pelo

157
Código Civil
TÍTULO VI – DAS VÁRIAS da sem fixação de preço ou de Art. 495. Não obstante o prazo
ESPÉCIES DE CONTRATO critérios para a sua determinação, ajustado para o pagamento, se
se não houver tabelamento ofi- antes da tradição o comprador
CAPÍTULO I – DA COMPRA cial, entende-se que as partes se cair em insolvência, poderá o
E VENDA sujeitaram ao preço corrente nas vendedor sobrestar na entrega
vendas habituais do vendedor. da coisa, até que o comprador
Seção I – Disposições Gerais Parágrafo único. Na falta de lhe dê caução de pagar no tem-
acordo, por ter havido diversida- po ajustado.
Art. 481. Pelo contrato de com- de de preço, prevalecerá o termo
pra e venda, um dos contratantes médio. Art. 496. É anulável a venda de
se obriga a transferir o domínio de ascendente a descendente, sal-
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe Art. 489. Nulo é o contrato de vo se os outros descendentes e
certo preço em dinheiro. compra e venda, quando se deixa o cônjuge do alienante expres-
ao arbítrio exclusivo de uma das samente houverem consentido.
Art. 482. A compra e venda, partes a fixação do preço. Parágrafo único. Em ambos
quando pura, considerar-se-á os casos, dispensa-se o consen-
obrigatória e perfeita, desde que Art. 490. Salvo cláusula em con- timento do cônjuge se o regime
as partes acordarem no objeto e trário, ficarão as despesas de de bens for o da separação obri-
no preço. escritura e registro a cargo do gatória.
comprador, e a cargo do vende-
Art. 483. A compra e venda pode dor as da tradição. Art. 497. Sob pena de nulidade,
ter por objeto coisa atual ou futu- não podem ser comprados, ainda
ra. Neste caso, ficará sem efeito o Art. 491. Não sendo a venda a que em hasta pública:
contrato se esta não vier a existir, crédito, o vendedor não é obri- I – pelos tutores, curadores,
salvo se a intenção das partes era gado a entregar a coisa antes de testamenteiros e administrado-
de concluir contrato aleatório. receber o preço. res, os bens confiados à sua guar-
da ou administração;
Art. 484. Se a venda se realizar Art. 492. Até o momento da tra- II – pelos servidores públicos,
à vista de amostras, protótipos dição, os riscos da coisa correm em geral, os bens ou direitos da
ou modelos, entender-se-á que por conta do vendedor, e os do pessoa jurídica a que servirem, ou
o vendedor assegura ter a coisa preço por conta do comprador. que estejam sob sua administra-
as qualidades que a elas corres- § 1o Todavia, os casos fortui- ção direta ou indireta;
pondem. tos, ocorrentes no ato de contar, III – pelos juízes, secretários
Parágrafo único. Prevalece a marcar ou assinalar coisas, que de tribunais, arbitradores, peritos
amostra, o protótipo ou o modelo, comumente se recebem, contan- e outros serventuários ou auxilia-
se houver contradição ou dife- do, pesando, medindo ou assina- res da justiça, os bens ou direitos
rença com a maneira pela qual lando, e que já tiverem sido pos- sobre que se litigar em tribunal,
se descreveu a coisa no contrato. tas à disposição do comprador, juízo ou conselho, no lugar onde
correrão por conta deste. servirem, ou a que se estender a
Art. 485. A fixação do preço § 2o Correrão também por sua autoridade;
pode ser deixada ao arbítrio de conta do comprador os riscos IV – pelos leiloeiros e seus
terceiro, que os contratantes logo das referidas coisas, se estiver prepostos, os bens de cuja venda
designarem ou prometerem de- em mora de as receber, quando estejam encarregados.
signar. Se o terceiro não aceitar postas à sua disposição no tem- Parágrafo único. As proibi-
a incumbência, ficará sem efeito po, lugar e pelo modo ajustados. ções deste artigo estendem-se
o contrato, salvo quando acor- à cessão de crédito.
darem os contratantes designar Art. 493. A tradição da coisa
outra pessoa. vendida, na falta de estipulação Art. 498. A proibição contida no
expressa, dar-se-á no lugar onde inciso III do artigo antecedente,
Art. 486. Também se poderá ela se encontrava, ao tempo da não compreende os casos de
deixar a fixação do preço à taxa venda. compra e venda ou cessão entre
de mercado ou de bolsa, em certo coerdeiros, ou em pagamento de
e determinado dia e lugar. Art. 494. Se a coisa for expedida dívida, ou para garantia de bens
para lugar diverso, por ordem do já pertencentes a pessoas desig-
Art. 487. É lícito às partes fixar comprador, por sua conta corre- nadas no referido inciso.
o preço em função de índices ou rão os riscos, uma vez entregue a
parâmetros, desde que suscetí- quem haja de transportá-la, salvo Art. 499. É lícita a compra e ven-
veis de objetiva determinação. se das instruções dele se afastar da entre cônjuges, com relação
o vendedor. a bens excluídos da comunhão.
Art. 488. Convencionada a ven-

158
Código Civil
Art. 500. Se, na venda de um Art. 504. Não pode um condô- intimar as outras para nele acor-
imóvel, se estipular o preço por mino em coisa indivisível vender darem, prevalecendo o pacto em
medida de extensão, ou se deter- a sua parte a estranhos, se outro favor de quem haja efetuado o de-
minar a respectiva área, e esta consorte a quiser, tanto por tanto. pósito, contanto que seja integral.
não corresponder, em qualquer O condômino, a quem não se der
dos casos, às dimensões dadas, conhecimento da venda, poderá,
o comprador terá o direito de depositando o preço, haver para
Subseção II – Da Venda a
exigir o complemento da área, si a parte vendida a estranhos, Contento e da Sujeita a
e, não sendo isso possível, o de se o requerer no prazo de cento Prova
reclamar a resolução do contra- e oitenta dias, sob pena de de-
to ou abatimento proporcional cadência. Art. 509. A venda feita a con-
ao preço. Parágrafo único. Sendo mui- tento do comprador entende-se
§ 1o Presume-se que a re- tos os condôminos, preferirá o realizada sob condição suspen-
ferência às dimensões foi sim- que tiver benfeitorias de maior siva, ainda que a coisa lhe tenha
plesmente enunciativa, quando valor e, na falta de benfeitorias, sido entregue; e não se reputará
a diferença encontrada não ex- o de quinhão maior. Se as partes perfeita, enquanto o adquirente
ceder de um vigésimo da área forem iguais, haverão a parte não manifestar seu agrado.
total enunciada, ressalvado ao vendida os comproprietários, que
comprador o direito de provar a quiserem, depositando previa- Art. 510. Também a venda sujei-
que, em tais circunstâncias, não mente o preço. ta a prova presume-se feita sob
teria realizado o negócio. a condição suspensiva de que a
§ 2o Se em vez de falta hou- coisa tenha as qualidades asse-
ver excesso, e o vendedor provar
Seção II – Das Cláusulas guradas pelo vendedor e seja idô-
que tinha motivos para ignorar a Especiais à Compra e Venda nea para o fim a que se destina.
medida exata da área vendida, ca- Subseção I – Da Retrovenda
berá ao comprador, à sua escolha, Art. 511. Em ambos os casos, as
completar o valor correspondente Art. 505. O vendedor de coisa obrigações do comprador, que
ao preço ou devolver o excesso. imóvel pode reservar-se o direi- recebeu, sob condição suspen-
§ 3o Não haverá complemen- to de recobrá-la no prazo máxi- siva, a coisa comprada, são as
to de área, nem devolução de mo de decadência de três anos, de mero comodatário, enquanto
excesso, se o imóvel for vendido restituindo o preço recebido e não manifeste aceitá-la.
como coisa certa e discrimina- reembolsando as despesas do
da, tendo sido apenas enuncia- comprador, inclusive as que, du- Art. 512. Não havendo prazo
tiva a referência às suas dimen- rante o período de resgate, se estipulado para a declaração do
sões, ainda que não conste, de efetuaram com a sua autorização comprador, o vendedor terá di-
modo expresso, ter sido a venda escrita, ou para a realização de reito de intimá-lo, judicial ou ex-
ad corpus. benfeitorias necessárias. trajudicialmente, para que o faça
em prazo improrrogável.
Art. 501. Decai do direito de Art. 506. Se o comprador se
propor as ações previstas no ar- recusar a receber as quantias
tigo antecedente o vendedor ou a que faz jus, o vendedor, para
Subseção III – Da Preempção
o comprador que não o fizer no exercer o direito de resgate, as ou Preferência
prazo de um ano, a contar do re- depositará judicialmente.
gistro do título. Parágrafo único. Verificada a Art. 513. A preempção, ou pre-
Parágrafo único. Se houver insuficiência do depósito judicial, ferência, impõe ao comprador a
atraso na imissão de posse no não será o vendedor restituído no obrigação de oferecer ao vende-
imóvel, atribuível ao alienante, domínio da coisa, até e enquan- dor a coisa que aquele vai vender,
a partir dela fluirá o prazo de to não for integralmente pago o ou dar em pagamento, para que
decadência. comprador. este use de seu direito de prela-
ção na compra, tanto por tanto.
Art. 502. O vendedor, salvo con- Art. 507. O direito de retrato, Parágrafo único. O prazo para
venção em contrário, responde que é cessível e transmissível a exercer o direito de preferência
por todos os débitos que gravem a herdeiros e legatários, poderá não poderá exceder a cento e oi-
coisa até o momento da tradição. ser exercido contra o terceiro tenta dias, se a coisa for móvel,
adquirente. ou a dois anos, se imóvel.
Art. 503. Nas coisas vendidas
conjuntamente, o defeito oculto Art. 508. Se a duas ou mais pes- Art. 514. O vendedor pode tam-
de uma não autoriza a rejeição soas couber o direito de retrato bém exercer o seu direito de pre-
de todas. sobre o mesmo imóvel, e só uma lação, intimando o comprador,
o exercer, poderá o comprador quando lhe constar que este vai

159
Código Civil
vender a coisa. escrito e depende de registro Subseção V – Da Venda sobre
no domicílio do comprador para Documentos
Art. 515. Aquele que exerce a valer contra terceiros.
preferência está, sob pena de a Art. 529. Na venda sobre do-
perder, obrigado a pagar, em con- Art. 523. Não pode ser objeto de cumentos, a tradição da coisa é
dições iguais, o preço encontrado, venda com reserva de domínio a substituída pela entrega do seu
ou o ajustado. coisa insuscetível de caracteri- título representativo e dos ou-
zação perfeita, para estremá-la tros documentos exigidos pelo
Art. 516. Inexistindo prazo es- de outras congêneres. Na dúvi- contrato ou, no silêncio deste,
tipulado, o direito de preempção da, decide-se a favor do terceiro pelos usos.
caducará, se a coisa for móvel, adquirente de boa-fé. Parágrafo único. Achando-
não se exercendo nos três dias, -se a documentação em ordem,
e, se for imóvel, não se exercendo Art. 524. A transferência de pro- não pode o comprador recusar o
nos sessenta dias subsequentes priedade ao comprador dá-se no pagamento, a pretexto de defei-
à data em que o comprador tiver momento em que o preço este- to de qualidade ou do estado da
notificado o vendedor. ja integralmente pago. Todavia, coisa vendida, salvo se o defeito
pelos riscos da coisa responde já houver sido comprovado.
Art. 517. Quando o direito de o comprador, a partir de quando
preempção for estipulado a fa- lhe foi entregue. Art. 530. Não havendo estipula-
vor de dois ou mais indivíduos ção em contrário, o pagamento
em comum, só pode ser exercido Art. 525. O vendedor somente deve ser efetuado na data e no
em relação à coisa no seu todo. poderá executar a cláusula de re- lugar da entrega dos documentos.
Se alguma das pessoas, a quem serva de domínio após constituir
ele toque, perder ou não exercer o comprador em mora, mediante Art. 531. Se entre os documen-
o seu direito, poderão as demais protesto do título ou interpelação tos entregues ao comprador figu-
utilizá-lo na forma sobredita. judicial. rar apólice de seguro que cubra
os riscos do transporte, correm
Art. 518. Responderá por perdas Art. 526. Verificada a mora do estes à conta do comprador, salvo
e danos o comprador, se alienar a comprador, poderá o vendedor se, ao ser concluído o contrato,
coisa sem ter dado ao vendedor mover contra ele a competente tivesse o vendedor ciência da
ciência do preço e das vantagens ação de cobrança das prestações perda ou avaria da coisa.
que por ela lhe oferecem. Respon- vencidas e vincendas e o mais que
derá solidariamente o adquirente, lhe for devido; ou poderá recu- Art. 532. Estipulado o pagamen-
se tiver procedido de má-fé. perar a posse da coisa vendida. to por intermédio de estabeleci-
mento bancário, caberá a este
Art. 519. Se a coisa expropriada Art. 527. Na segunda hipótese efetuá-lo contra a entrega dos
para fins de necessidade ou uti- do artigo antecedente, é faculta- documentos, sem obrigação de
lidade pública, ou por interesse do ao vendedor reter as presta- verificar a coisa vendida, pela
social, não tiver o destino para ções pagas até o necessário para qual não responde.
que se desapropriou, ou não for cobrir a depreciação da coisa, as Parágrafo único. Nesse caso,
utilizada em obras ou serviços despesas feitas e o mais que de somente após a recusa do esta-
públicos, caberá ao expropriado direito lhe for devido. O excedente belecimento bancário a efetuar
direito de preferência, pelo preço será devolvido ao comprador; e o o pagamento, poderá o vende-
atual da coisa. que faltar lhe será cobrado, tudo dor pretendê-lo, diretamente do
na forma da lei processual. comprador.
Art. 520. O direito de preferên-
cia não se pode ceder nem passa Art. 528. Se o vendedor receber
aos herdeiros. o pagamento à vista, ou, poste- CAPÍTULO II – DA TROCA
riormente, mediante financia- OU PERMUTA
mento de instituição do mercado
Subseção IV – Da Venda com de capitais, a esta caberá exercer Art. 533. Aplicam-se à troca as
Reserva de Domínio os direitos e ações decorrentes do disposições referentes à compra
contrato, a benefício de qualquer e venda, com as seguintes modi-
Art. 521. Na venda de coisa mó- outro. A operação financeira e a ficações:
vel, pode o vendedor reservar respectiva ciência do comprador I – salvo disposição em con-
para si a propriedade, até que o constarão do registro do contrato. trário, cada um dos contratantes
preço esteja integralmente pago. pagará por metade as despesas
com o instrumento da troca;
Art. 522. A cláusula de reserva II – é anulável a troca de valo-
de domínio será estipulada por res desiguais entre ascendentes e

160
Código Civil
descendentes, sem consentimen- ou ao encargo imposto. da liberalidade, poderia dispor
to dos outros descendentes e do em testamento.
cônjuge do alienante. Art. 541. A doação far-se-á por
escritura pública ou instrumento Art. 550. A doação do cônjuge
particular. adúltero ao seu cúmplice pode
CAPÍTULO III – DO Parágrafo único. A doação ser anulada pelo outro cônjuge, ou
CONTRATO ESTIMATÓRIO verbal será válida, se, versando por seus herdeiros necessários,
sobre bens móveis e de pequeno até dois anos depois de dissolvida
Art. 534. Pelo contrato estima- valor, se lhe seguir incontinenti a a sociedade conjugal.
tório, o consignante entrega bens tradição.
móveis ao consignatário, que fica Art. 551. Salvo declaração em
autorizado a vendê-los, pagando Art. 542. A doação feita ao nas- contrário, a doação em comum a
àquele o preço ajustado, salvo se cituro valerá, sendo aceita pelo mais de uma pessoa entende-se
preferir, no prazo estabelecido, seu representante legal. distribuída entre elas por igual.
restituir-lhe a coisa consignada. Parágrafo único. Se os dona-
Art. 543. Se o donatário for ab- tários, em tal caso, forem marido
Art. 535. O consignatário não se solutamente incapaz, dispensa- e mulher, subsistirá na totali-
exonera da obrigação de pagar o -se a aceitação, desde que se dade a doação para o cônjuge
preço, se a restituição da coisa, trate de doação pura. sobrevivo.
em sua integridade, se tornar
impossível, ainda que por fato a Art. 544. A doação de ascen- Art. 552. O doador não é obri-
ele não imputável. dentes a descendentes, ou de um gado a pagar juros moratórios,
cônjuge a outro, importa adian- nem é sujeito às consequências
Art. 536. A coisa consignada tamento do que lhes cabe por da evicção ou do vício redibitó-
não pode ser objeto de penhora herança. rio. Nas doações para casamento
ou sequestro pelos credores do com certa e determinada pessoa,
consignatário, enquanto não pago Art. 545. A doação em forma o doador ficará sujeito à evicção,
integralmente o preço. de subvenção periódica ao be- salvo convenção em contrário.
neficiado extingue-se morren-
Art. 537. O consignante não do o doador, salvo se este outra Art. 553. O donatário é obrigado
pode dispor da coisa antes de coisa dispuser, mas não poderá a cumprir os encargos da doação,
lhe ser restituída ou de lhe ser ultrapassar a vida do donatário. caso forem a benefício do doador,
comunicada a restituição. de terceiro, ou do interesse geral.
Art. 546. A doação feita em con- Parágrafo único. Se desta
templação de casamento futuro última espécie for o encargo, o
CAPÍTULO IV – DA DOAÇÃO com certa e determinada pes- Ministério Público poderá exigir
Seção I – Disposições Gerais soa, quer pelos nubentes entre sua execução, depois da morte
si, quer por terceiro a um deles, do doador, se este não tiver feito.
Art. 538. Considera-se doação a ambos, ou aos filhos que, de fu-
o contrato em que uma pessoa, turo, houverem um do outro, não Art. 554. A doação a entidade
por liberalidade, transfere do seu pode ser impugnada por falta de futura caducará se, em dois anos,
patrimônio bens ou vantagens aceitação, e só ficará sem efeito esta não estiver constituída re-
para o de outra. se o casamento não se realizar. gularmente.

Art. 539. O doador pode fixar Art. 547. O doador pode estipu-
prazo ao donatário, para declarar lar que os bens doados voltem ao
Seção II – Da Revogação da
se aceita ou não a liberalidade. seu patrimônio, se sobreviver ao Doação
Desde que o donatário, ciente donatário.
do prazo, não faça, dentro dele, Parágrafo único. Não pre- Art. 555. A doação pode ser re-
a declaração, entender-se-á que valece cláusula de reversão em vogada por ingratidão do donatá-
aceitou, se a doação não for su- favor de terceiro. rio, ou por inexecução do encargo.
jeita a encargo.
Art. 548. É nula a doação de Art. 556. Não se pode renunciar
Art. 540. A doação feita em todos os bens sem reserva de antecipadamente o direito de re-
contemplação do merecimento parte, ou renda suficiente para vogar a liberalidade por ingratidão
do donatário não perde o cará- a subsistência do doador. do donatário.
ter de liberalidade, como não o
perde a doação remuneratória, Art. 549. Nula é também a do- Art. 557. Podem ser revogadas
ou a gravada, no excedente ao ação quanto à parte que exceder por ingratidão as doações:
valor dos serviços remunerados à de que o doador, no momento I – se o donatário atentou

161
Código Civil
contra a vida do doador ou co- termo do seu valor. II – a pagar pontualmente o
meteu crime de homicídio doloso aluguel nos prazos ajustados,
contra ele; Art. 564. Não se revogam por e, em falta de ajuste, segundo o
II – se cometeu contra ele ingratidão: costume do lugar;
ofensa física; I – as doações puramente III – a levar ao conhecimento
III – se o injuriou gravemente remuneratórias; do locador as turbações de tercei-
ou o caluniou; II – as oneradas com encargo ros, que se pretendam fundadas
IV – se, podendo ministrá-los, já cumprido; em direito;
recusou ao doador os alimentos III – as que se fizerem em IV – a restituir a coisa, finda
de que este necessitava. cumprimento de obrigação na- a locação, no estado em que a
tural; recebeu, salvas as deteriorações
Art. 558. Pode ocorrer também IV – as feitas para determi- naturais ao uso regular.
a revogação quando o ofendido, nado casamento.
nos casos do artigo anterior, for Art. 570. Se o locatário empre-
o cônjuge, ascendente, descen- gar a coisa em uso diverso do
dente, ainda que adotivo, ou irmão CAPÍTULO V – DA LOCAÇÃO ajustado, ou do a que se destina,
do doador. DE COISAS ou se ela se danificar por abuso
do locatário, poderá o locador,
Art. 559. A revogação por qual- Art. 565. Na locação de coisas, além de rescindir o contrato, exi-
quer desses motivos deverá ser uma das partes se obriga a ceder gir perdas e danos.
pleiteada dentro de um ano, a à outra, por tempo determinado
contar de quando chegue ao co- ou não, o uso e gozo de coisa Art. 571. Havendo prazo estipu-
nhecimento do doador o fato que não fungível, mediante certa re- lado à duração do contrato, antes
a autorizar, e de ter sido o dona- tribuição. do vencimento não poderá o loca-
tário o seu autor. dor reaver a coisa alugada, senão
Art. 566. O locador é obrigado: ressarcindo ao locatário as perdas
Art. 560. O direito de revogar I – a entregar ao locatário e danos resultantes, nem o loca-
a doação não se transmite aos a coisa alugada, com suas per- tário devolvê-la ao locador, senão
herdeiros do doador, nem preju- tenças, em estado de servir ao pagando, proporcionalmente, a
dica os do donatário. Mas aque- uso a que se destina, e a mantê- multa prevista no contrato.
les podem prosseguir na ação -la nesse estado, pelo tempo do Parágrafo único. O locatário
iniciada pelo doador, continu- contrato, salvo cláusula expressa gozará do direito de retenção, en-
ando-a contra os herdeiros do em contrário; quanto não for ressarcido.
donatário, se este falecer depois II – a garantir-lhe, durante o
de ajuizada a lide. tempo do contrato, o uso pacífi- Art. 572. Se a obrigação de pa-
co da coisa. gar o aluguel pelo tempo que fal-
Art. 561. No caso de homicídio tar constituir indenização exces-
doloso do doador, a ação caberá Art. 567. Se, durante a locação, siva, será facultado ao juiz fixá-la
aos seus herdeiros, exceto se se deteriorar a coisa alugada, sem em bases razoáveis.
aquele houver perdoado. culpa do locatário, a este caberá
pedir redução proporcional do Art. 573. A locação por tem-
Art. 562. A doação onerosa pode aluguel, ou resolver o contrato, po determinado cessa de pleno
ser revogada por inexecução do caso já não sirva a coisa para o direito findo o prazo estipulado,
encargo, se o donatário incorrer fim a que se destinava. independentemente de notifica-
em mora. Não havendo prazo ção ou aviso.
para o cumprimento, o doador Art. 568. O locador resguardará
poderá notificar judicialmente o locatário dos embaraços e tur- Art. 574. Se, findo o prazo, o
o donatário, assinando-lhe pra- bações de terceiros, que tenham locatário continuar na posse da
zo razoável para que cumpra a ou pretendam ter direitos sobre coisa alugada, sem oposição do
obrigação assumida. a coisa alugada, e responderá locador, presumir-se-á prorroga-
pelos seus vícios, ou defeitos, da a locação pelo mesmo aluguel,
Art. 563. A revogação por in- anteriores à locação. mas sem prazo determinado.
gratidão não prejudica os direi-
tos adquiridos por terceiros, nem Art. 569. O locatário é obrigado: Art. 575. Se, notificado o locatá-
obriga o donatário a restituir os I – a servir-se da coisa aluga- rio, não restituir a coisa, pagará,
frutos percebidos antes da cita- da para os usos convencionados enquanto a tiver em seu poder, o
ção válida; mas sujeita-o a pagar ou presumidos, conforme a na- aluguel que o locador arbitrar, e
os posteriores, e, quando não pos- tureza dela e as circunstâncias, responderá pelo dano que ela ve-
sa restituir em espécie as coisas bem como tratá-la com o mesmo nha a sofrer, embora proveniente
doadas, a indenizá-la pelo meio cuidado como se sua fosse; de caso fortuito.

162
Código Civil
Parágrafo único. Se o aluguel mir-se-lhe-á o necessário para daquele sob cuja guarda esti-
arbitrado for manifestamente ex- o uso concedido; não podendo o ver, não pode ser reavido nem do
cessivo, poderá o juiz reduzi-lo, comodante, salvo necessidade mutuário, nem de seus fiadores.
mas tendo sempre em conta o imprevista e urgente, reconhe-
seu caráter de penalidade. cida pelo juiz, suspender o uso e Art. 589. Cessa a disposição do
gozo da coisa emprestada, antes artigo antecedente:
Art. 576. Se a coisa for alienada de findo o prazo convencional, I – se a pessoa, de cuja auto-
durante a locação, o adquirente ou o que se determine pelo uso rização necessitava o mutuário
não ficará obrigado a respeitar o outorgado. para contrair o empréstimo, o
contrato, se nele não for consig- ratificar posteriormente;
nada a cláusula da sua vigência no Art. 582. O comodatário é obri- II – se o menor, estando au-
caso de alienação, e não constar gado a conservar, como se sua sente essa pessoa, se viu obri-
de registro. própria fora, a coisa empresta- gado a contrair o empréstimo
§ 1o O registro a que se refere da, não podendo usá-la senão de para os seus alimentos habituais;
este artigo será o de Títulos e Do- acordo com o contrato ou a natu- III – se o menor tiver bens ga-
cumentos do domicílio do locador, reza dela, sob pena de responder nhos com o seu trabalho. Mas, em
quando a coisa for móvel; e será o por perdas e danos. O comoda- tal caso, a execução do credor não
Registro de Imóveis da respectiva tário constituído em mora, além lhes poderá ultrapassar as forças;
circunscrição, quando imóvel. de por ela responder, pagará, até IV – se o empréstimo reverteu
§ 2o Em se tratando de imó- restituí-la, o aluguel da coisa que em benefício do menor;
vel, e ainda no caso em que o for arbitrado pelo comodante. V – se o menor obteve o em-
locador não esteja obrigado a préstimo maliciosamente.
respeitar o contrato, não poderá Art. 583. Se, correndo risco o
ele despedir o locatário, senão objeto do comodato juntamente Art. 590. O mutuante pode exigir
observado o prazo de noventa com outros do comodatário, an- garantia da restituição, se antes
dias após a notificação. tepuser este a salvação dos seus do vencimento o mutuário sofrer
abandonando o do comodante, notória mudança em sua situação
Art. 577. Morrendo o locador ou responderá pelo dano ocorrido, econômica.
o locatário, transfere-se aos seus ainda que se possa atribuir a caso
herdeiros a locação por tempo fortuito, ou força maior. Art. 591. Destinando-se o mútuo
determinado. a fins econômicos, presumem-se
Art. 584. O comodatário não devidos juros, os quais, sob pena
Art. 578. Salvo disposição em poderá jamais recobrar do como- de redução, não poderão exceder
contrário, o locatário goza do dante as despesas feitas com o a taxa a que se refere o art. 406,
direito de retenção, no caso de uso e gozo da coisa emprestada. permitida a capitalização anual.
benfeitorias necessárias, ou no de
benfeitorias úteis, se estas hou- Art. 585. Se duas ou mais pes- Art. 592. Não se tendo conven-
verem sido feitas com expresso soas forem simultaneamente co- cionado expressamente, o prazo
consentimento do locador. modatárias de uma coisa, ficarão do mútuo será:
solidariamente responsáveis para I – até a próxima colheita, se o
com o comodante. mútuo for de produtos agrícolas,
CAPÍTULO VI – DO assim para o consumo, como para
EMPRÉSTIMO semeadura;
Seção II – Do Mútuo II – de trinta dias, pelo menos,
Seção I – Do Comodato
se for de dinheiro;
Art. 586. O mútuo é o emprés- III – do espaço de tempo que
Art. 579. O comodato é o em- timo de coisas fungíveis. O mu- declarar o mutuante, se for de
préstimo gratuito de coisas não tuário é obrigado a restituir ao qualquer outra coisa fungível.
fungíveis. Perfaz-se com a tradi- mutuante o que dele recebeu em
ção do objeto. coisa do mesmo gênero, qualida-
de e quantidade. CAPÍTULO VII – DA
Art. 580. Os tutores, curadores e PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
em geral todos os administrado- Art. 587. Este empréstimo
res de bens alheios não poderão transfere o domínio da coisa em- Art. 593. A prestação de servi-
dar em comodato, sem autoriza- prestada ao mutuário, por cuja ço, que não estiver sujeita às leis
ção especial, os bens confiados conta correm todos os riscos trabalhistas ou a lei especial, re-
à sua guarda. dela desde a tradição. ger-se-á pelas disposições deste
Capítulo.
Art. 581. Se o comodato não Art. 588. O mútuo feito a pessoa
tiver prazo convencional, presu- menor, sem prévia autorização Art. 594. Toda a espécie de ser-

163
Código Civil
viço ou trabalho lícito, material ou de serviço contratado para certo dem pública.
imaterial, pode ser contratada e determinado trabalho, enten-
mediante retribuição. der-se-á que se obrigou a todo Art. 607. O contrato de presta-
e qualquer serviço compatível ção de serviço acaba com a morte
Art. 595. No contrato de presta- com as suas forças e condições. de qualquer das partes. Termina,
ção de serviço, quando qualquer ainda, pelo escoamento do pra-
das partes não souber ler, nem Art. 602. O prestador de servi- zo, pela conclusão da obra, pela
escrever, o instrumento poderá ço contratado por tempo certo, rescisão do contrato mediante
ser assinado a rogo e subscrito ou por obra determinada, não se aviso prévio, por inadimplemento
por duas testemunhas. pode ausentar, ou despedir, sem de qualquer das partes ou pela
justa causa, antes de preenchido impossibilidade da continuação
Art. 596. Não se tendo estipu- o tempo, ou concluída a obra. do contrato, motivada por for-
lado, nem chegado a acordo as Parágrafo único. Se se des- ça maior.
partes, fixar-se-á por arbitra- pedir sem justa causa, terá di-
mento a retribuição, segundo o reito à retribuição vencida, mas Art. 608. Aquele que aliciar pes-
costume do lugar, o tempo de responderá por perdas e danos. soas obrigadas em contrato escri-
serviço e sua qualidade. O mesmo dar-se-á, se despedido to a prestar serviço a outrem pa-
por justa causa. gará a este a importância que ao
Art. 597. A retribuição pagar-se- prestador de serviço, pelo ajuste
-á depois de prestado o serviço, Art. 603. Se o prestador de ser- desfeito, houvesse de caber du-
se, por convenção, ou costume, viço for despedido sem justa cau- rante dois anos.
não houver de ser adiantada, ou sa, a outra parte será obrigada a
paga em prestações. pagar-lhe por inteiro a retribuição Art. 609. A alienação do pré-
vencida, e por metade a que lhe dio agrícola, onde a prestação
Art. 598. A prestação de serviço tocaria de então ao termo legal dos serviços se opera, não im-
não se poderá convencionar por do contrato. porta a rescisão do contrato,
mais de quatro anos, embora o salvo ao prestador opção entre
contrato tenha por causa o paga- Art. 604. Findo o contrato, o continuá-lo com o adquirente da
mento de dívida de quem o presta, prestador de serviço tem direi- propriedade ou com o primitivo
ou se destine à execução de certa to a exigir da outra parte a de- contratante.
e determinada obra. Neste caso, claração de que o contrato está
decorridos quatro anos, dar-se-á findo. Igual direito lhe cabe, se
por findo o contrato, ainda que for despedido sem justa causa, CAPÍTULO VIII – DA
não concluída a obra. ou se tiver havido motivo justo EMPREITADA
para deixar o serviço.
Art. 599. Não havendo prazo es- Art. 610. O empreiteiro de uma
tipulado, nem se podendo inferir Art. 605. Nem aquele a quem os obra pode contribuir para ela só
da natureza do contrato, ou do serviços são prestados, poderá com seu trabalho ou com ele e
costume do lugar, qualquer das transferir a outrem o direito aos os materiais.
partes, a seu arbítrio, median- serviços ajustados, nem o presta- § 1o A obrigação de fornecer
te prévio aviso, pode resolver o dor de serviços, sem aprazimento os materiais não se presume;
contrato. da outra parte, dar substituto que resulta da lei ou da vontade das
Parágrafo único. Dar-se-á os preste. partes.
o aviso: § 2o O contrato para elabo-
I – com antecedência de oito Art. 606. Se o serviço for presta- ração de um projeto não implica
dias, se o salário se houver fixado do por quem não possua título de a obrigação de executá-lo, ou de
por tempo de um mês, ou mais; habilitação, ou não satisfaça re- fiscalizar-lhe a execução.
II – com antecipação de qua- quisitos outros estabelecidos em
tro dias, se o salário se tiver ajus- lei, não poderá quem os prestou Art. 611. Quando o empreiteiro
tado por semana, ou quinzena; cobrar a retribuição normalmen- fornece os materiais, correm por
III – de véspera, quando se te correspondente ao trabalho sua conta os riscos até o momen-
tenha contratado por menos de executado. Mas se deste resul- to da entrega da obra, a contento
sete dias. tar benefício para a outra parte, de quem a encomendou, se este
o juiz atribuirá a quem o prestou não estiver em mora de receber.
Art. 600. Não se conta no prazo uma compensação razoável, des- Mas se estiver, por sua conta cor-
do contrato o tempo em que o de que tenha agido com boa-fé. rerão os riscos.
prestador de serviço, por culpa Parágrafo único. Não se apli-
sua, deixou de servir. ca a segunda parte deste artigo, Art. 612. Se o empreiteiro só
quando a proibição da prestação forneceu mão de obra, todos os
Art. 601. Não sendo o prestador de serviço resultar de lei de or- riscos em que não tiver culpa cor-

164
Código Civil
rerão por conta do dono. como do solo. no art. 618 e seu parágrafo único.
Parágrafo único. Decairá do
Art. 613. Sendo a empreitada direito assegurado neste artigo o Art. 623. Mesmo após iniciada a
unicamente de lavor (art. 610), se a dono da obra que não propuser construção, pode o dono da obra
coisa perecer antes de entregue, a ação contra o empreiteiro, nos suspendê-la, desde que pague
sem mora do dono nem culpa do cento e oitenta dias seguintes ao ao empreiteiro as despesas e
empreiteiro, este perderá a retri- aparecimento do vício ou defeito. lucros relativos aos serviços já
buição, se não provar que a perda feitos, mais indenização razoável,
resultou de defeito dos materiais Art. 619. Salvo estipulação em calculada em função do que ele
e que em tempo reclamara contra contrário, o empreiteiro que se teria ganho, se concluída a obra.
a sua quantidade ou qualidade. incumbir de executar uma obra,
segundo plano aceito por quem Art. 624. Suspensa a execução
Art. 614. Se a obra constar de a encomendou, não terá direito a da empreitada sem justa causa,
partes distintas, ou for de na- exigir acréscimo no preço, ainda responde o empreiteiro por per-
tureza das que se determinam que sejam introduzidas modifi- das e danos.
por medida, o empreiteiro terá cações no projeto, a não ser que
direito a que também se verifi- estas resultem de instruções es- Art. 625. Poderá o empreiteiro
que por medida, ou segundo as critas do dono da obra. suspender a obra:
partes em que se dividir, podendo Parágrafo único. Ainda que I – por culpa do dono, ou por
exigir o pagamento na proporção não tenha havido autorização es- motivo de força maior;
da obra executada. crita, o dono da obra é obrigado a II – quando, no decorrer dos
§ 1o Tudo o que se pagou pre- pagar ao empreiteiro os aumentos serviços, se manifestarem dificul-
sume-se verificado. e acréscimos, segundo o que for dades imprevisíveis de execução,
§ 2o O que se mediu presu- arbitrado, se, sempre presente resultantes de causas geológicas
me-se verificado se, em trinta à obra, por continuadas visitas, ou hídricas, ou outras semelhan-
dias, a contar da medição, não não podia ignorar o que se esta- tes, de modo que torne a emprei-
forem denunciados os vícios ou va passando, e nunca protestou. tada excessivamente onerosa, e
defeitos pelo dono da obra ou o dono da obra se opuser ao rea-
por quem estiver incumbido da Art. 620. Se ocorrer diminuição juste do preço inerente ao projeto
sua fiscalização. no preço do material ou da mão por ele elaborado, observados
de obra superior a um décimo os preços;
Art. 615. Concluída a obra de do preço global convencionado, III – se as modificações exi-
acordo com o ajuste, ou o cos- poderá este ser revisto, a pedido gidas pelo dono da obra, por seu
tume do lugar, o dono é obriga- do dono da obra, para que se lhe vulto e natureza, forem despro-
do a recebê-la. Poderá, porém, assegure a diferença apurada. porcionais ao projeto aprovado,
rejeitá-la, se o empreiteiro se ainda que o dono se disponha a
afastou das instruções recebi- Art. 621. Sem anuência de seu arcar com o acréscimo de preço.
das e dos planos dados, ou das autor, não pode o proprietário da
regras técnicas em trabalhos de obra introduzir modificações no Art. 626. Não se extingue o con-
tal natureza. projeto por ele aprovado, ainda trato de empreitada pela morte
que a execução seja confiada a de qualquer das partes, salvo se
Art. 616. No caso da segunda terceiros, a não ser que, por moti- ajustado em consideração às qua-
parte do artigo antecedente, pode vos supervenientes ou razões de lidades pessoais do empreiteiro.
quem encomendou a obra, em ordem técnica, fique comprovada
vez de enjeitá-la, recebê-la com a inconveniência ou a excessi-
abatimento no preço. va onerosidade de execução do CAPÍTULO IX – DO
projeto em sua forma originária. DEPÓSITO
Art. 617. O empreiteiro é obri- Parágrafo único. A proibição
Seção I – Do Depósito
gado a pagar os materiais que deste artigo não abrange altera-
recebeu, se por imperícia ou ne- ções de pouca monta, ressalva- Voluntário
gligência os inutilizar. da sempre a unidade estética da
obra projetada. Art. 627. Pelo contrato de de-
Art. 618. Nos contratos de em- pósito recebe o depositário um
preitada de edifícios ou outras Art. 622. Se a execução da obra objeto móvel, para guardar, até
construções consideráveis, o for confiada a terceiros, a res- que o depositante o reclame.
empreiteiro de materiais e exe- ponsabilidade do autor do pro-
cução responderá, durante o pra- jeto respectivo, desde que não Art. 628. O contrato de depó-
zo irredutível de cinco anos, pela assuma a direção ou fiscalização sito é gratuito, exceto se houver
solidez e segurança do trabalho, daquela, ficará limitada aos danos convenção em contrário, se re-
assim em razão dos materiais, resultantes de defeitos previstos sultante de atividade negocial

165
Código Civil
ou se o depositário o praticar possa guardar, e o depositante Art. 643. O depositante é obri-
por profissão. não queira recebê-la. gado a pagar ao depositário as
Parágrafo único. Se o depó- despesas feitas com a coisa, e
sito for oneroso e a retribuição do Art. 636. O depositário, que por os prejuízos que do depósito pro-
depositário não constar de lei, força maior houver perdido a coi- vierem.
nem resultar de ajuste, será de- sa depositada e recebido outra
terminada pelos usos do lugar, e, em seu lugar, é obrigado a entre- Art. 644. O depositário pode-
na falta destes, por arbitramento. gar a segunda ao depositante, e rá reter o depósito até que se
ceder-lhe as ações que no caso lhe pague a retribuição devida,
Art. 629. O depositário é obriga- tiver contra o terceiro responsá- o líquido valor das despesas, ou
do a ter na guarda e conservação vel pela restituição da primeira. dos prejuízos a que se refere o
da coisa depositada o cuidado e artigo anterior, provando ime-
diligência que costuma com o Art. 637. O herdeiro do depositá- diatamente esses prejuízos ou
que lhe pertence, bem como a rio, que de boa-fé vendeu a coisa essas despesas.
restituí-la, com todos os frutos depositada, é obrigado a assistir Parágrafo único. Se essas dí-
e acrescidos, quando o exija o o depositante na reivindicação, e vidas, despesas ou prejuízos não
depositante. a restituir ao comprador o preço forem provados suficientemente,
recebido. ou forem ilíquidos, o depositário
Art. 630. Se o depósito se en- poderá exigir caução idônea do
tregou fechado, colado, selado, Art. 638. Salvo os casos pre- depositante ou, na falta desta, a
ou lacrado, nesse mesmo estado vistos nos arts.  633 e 634, não remoção da coisa para o Depó-
se manterá. poderá o depositário furtar-se à sito Público, até que se liquidem.
restituição do depósito, alegando
Art. 631. Salvo disposição em não pertencer a coisa ao depo- Art. 645. O depósito de coisas
contrário, a restituição da coisa sitante, ou opondo compensa- fungíveis, em que o depositário
deve dar-se no lugar em que tiver ção, exceto se noutro depósito se obrigue a restituir objetos do
de ser guardada. As despesas de se fundar. mesmo gênero, qualidade e quan-
restituição correm por conta do tidade, regular-se-á pelo disposto
depositante. Art. 639. Sendo dois ou mais acerca do mútuo.
depositantes, e divisível a coisa,
Art. 632. Se a coisa houver sido a cada um só entregará o deposi- Art. 646. O depósito voluntário
depositada no interesse de ter- tário a respectiva parte, salvo se provar-se-á por escrito.
ceiro, e o depositário tiver sido houver entre eles solidariedade.
cientificado deste fato pelo de-
positante, não poderá ele exone- Art. 640. Sob pena de responder
Seção II – Do Depósito
rar-se restituindo a coisa a este, por perdas e danos, não poderá o Necessário
sem consentimento daquele. depositário, sem licença expres-
sa do depositante, servir-se da Art. 647. É depósito necessário:
Art. 633. Ainda que o contrato coisa depositada, nem a dar em I – o que se faz em desempe-
fixe prazo à restituição, o depo- depósito a outrem. nho de obrigação legal;
sitário entregará o depósito logo Parágrafo único. Se o depo- II – o que se efetua por oca-
que se lhe exija, salvo se tiver o sitário, devidamente autoriza- sião de alguma calamidade, como
direito de retenção a que se refere do, confiar a coisa em depósito o incêndio, a inundação, o naufrá-
o art. 644, se o objeto for judicial- a terceiro, será responsável se gio ou o saque.
mente embargado, se sobre ele agiu com culpa na escolha deste.
pender execução, notificada ao Art. 648. O depósito a que se
depositário, ou se houver motivo Art. 641. Se o depositário se refere o inciso I do artigo antece-
razoável de suspeitar que a coisa tornar incapaz, a pessoa que lhe dente, reger-se-á pela disposição
foi dolosamente obtida. assumir a administração dos bens da respectiva lei, e, no silêncio
diligenciará imediatamente res- ou deficiência dela, pelas con-
Art. 634. No caso do artigo an- tituir a coisa depositada e, não cernentes ao depósito voluntário.
tecedente, última parte, o deposi- querendo ou não podendo o de- Parágrafo único. As disposi-
tário, expondo o fundamento da positante recebê-la, recolhê-la-á ções deste artigo aplicam-se aos
suspeita, requererá que se reco- ao Depósito Público ou promoverá depósitos previstos no inciso II do
lha o objeto ao Depósito Público. nomeação de outro depositário. artigo antecedente, podendo es-
tes certificarem-se por qualquer
Art. 635. Ao depositário será Art. 642. O depositário não res- meio de prova.
facultado, outrossim, requerer ponde pelos casos de força maior;
depósito judicial da coisa, quan- mas, para que lhe valha a escusa, Art. 649. Aos depósitos pre-
do, por motivo plausível, não a terá de prová-los. vistos no artigo antecedente é

166
Código Civil
equiparado o das bagagens dos público, pode substabelecer-se Art. 663. Sempre que o manda-
viajantes ou hóspedes nas hos- mediante instrumento particular. tário estipular negócios expres-
pedarias onde estiverem. samente em nome do mandante,
Parágrafo único. Os hospe- Art. 656. O mandato pode ser será este o único responsável; fi-
deiros responderão como depo- expresso ou tácito, verbal ou es- cará, porém, o mandatário pesso-
sitários, assim como pelos furtos crito. almente obrigado, se agir no seu
e roubos que perpetrarem as pes- próprio nome, ainda que o negó-
soas empregadas ou admitidas Art. 657. A outorga do mandato cio seja de conta do mandante.
nos seus estabelecimentos. está sujeita à forma exigida por
lei para o ato a ser praticado. Art. 664. O mandatário tem
Art. 650. Cessa, nos casos do Não se admite mandato verbal o direito de reter, do objeto da
artigo antecedente, a responsa- quando o ato deva ser celebrado operação que lhe foi cometida,
bilidade dos hospedeiros, se pro- por escrito. quanto baste para pagamento
varem que os fatos prejudiciais de tudo que lhe for devido em
aos viajantes ou hóspedes não Art. 658. O mandato presume- consequência do mandato.
podiam ter sido evitados. -se gratuito quando não houver
sido estipulada retribuição, exce- Art. 665. O mandatário que ex-
Art. 651. O depósito necessário to se o seu objeto corresponder ceder os poderes do mandato, ou
não se presume gratuito. Na hipó- ao daqueles que o mandatário proceder contra eles, será consi-
tese do art. 649, a remuneração trata por ofício ou profissão lu- derado mero gestor de negócios,
pelo depósito está incluída no crativa. enquanto o mandante lhe não
preço da hospedagem. Parágrafo único. Se o man- ratificar os atos.
dato for oneroso, caberá ao man-
Art. 652. Seja o depósito volun- datário a retribuição prevista em Art. 666. O maior de dezesseis e
tário ou necessário, o depositário lei ou no contrato. Sendo estes menor de dezoito anos não eman-
que não o restituir quando exigido omissos, será ela determinada cipado pode ser mandatário, mas
será compelido a fazê-lo median- pelos usos do lugar, ou, na falta o mandante não tem ação contra
te prisão não excedente a um ano, destes, por arbitramento. ele senão de conformidade com
e ressarcir os prejuízos. as regras gerais, aplicáveis às
Art. 659. A aceitação do man- obrigações contraídas por me-
dato pode ser tácita, e resulta nores.
CAPÍTULO X – DO MANDATO do começo de execução.
Seção I – Disposições Gerais Seção II – Das Obrigações do
Art. 660. O mandato pode ser
Art. 653. Opera-se o mandato especial a um ou mais negócios Mandatário
quando alguém recebe de outrem determinadamente, ou geral a
poderes para, em seu nome, pra- todos os do mandante. Art. 667. O mandatário é obri-
ticar atos ou administrar interes- gado a aplicar toda sua diligência
ses. A procuração é o instrumento Art. 661. O mandato em termos habitual na execução do mandato,
do mandato. gerais só confere poderes de ad- e a indenizar qualquer prejuízo
ministração. causado por culpa sua ou da-
Art. 654. Todas as pessoas ca- § 1o Para alienar, hipotecar, quele a quem substabelecer, sem
pazes são aptas para dar pro- transigir, ou praticar outros quais- autorização, poderes que devia
curação mediante instrumento quer atos que exorbitem da ad- exercer pessoalmente.
particular, que valerá desde que ministração ordinária, depende a § 1o Se, não obstante proibi-
tenha a assinatura do outorgante. procuração de poderes especiais ção do mandante, o mandatário
§ 1o O instrumento particular e expressos. se fizer substituir na execução
deve conter a indicação do lugar § 2o O poder de transigir não do mandato, responderá ao seu
onde foi passado, a qualificação importa o de firmar compromisso. constituinte pelos prejuízos ocor-
do outorgante e do outorgado, a ridos sob a gerência do substituto,
data e o objetivo da outorga com Art. 662. Os atos praticados por embora provenientes de caso for-
a designação e a extensão dos quem não tenha mandato, ou o tuito, salvo provando que o caso
poderes conferidos. tenha sem poderes suficientes, teria sobrevindo, ainda que não ti-
§ 2o O terceiro com quem o são ineficazes em relação àquele vesse havido substabelecimento.
mandatário tratar poderá exigir em cujo nome foram praticados, § 2o Havendo poderes de
que a procuração traga a firma salvo se este os ratificar. substabelecer, só serão impu-
reconhecida. Parágrafo único. A ratifica- táveis ao mandatário os danos
ção há de ser expressa, ou resul- causados pelo substabelecido,
Art. 655. Ainda quando se ou- tar de ato inequívoco, e retroagirá se tiver agido com culpa na es-
torgue mandato por instrumento à data do ato. colha deste ou nas instruções

167
Código Civil
dadas a ele. não tem ação contra o mandatá- os compromissos e efeitos do
§ 3o Se a proibição de subs- rio, salvo se este lhe prometeu mandato, salvo direito regressivo,
tabelecer constar da procuração, ratificação do mandante ou se pelas quantias que pagar, contra
os atos praticados pelo substabe- responsabilizou pessoalmente. os outros mandantes.
lecido não obrigam o mandante,
salvo ratificação expressa, que Art. 674. Embora ciente da Art. 681. O mandatário tem so-
retroagirá à data do ato. morte, interdição ou mudança bre a coisa de que tenha a posse
§ 4o Sendo omissa a procura- de estado do mandante, deve o em virtude do mandato, direito de
ção quanto ao substabelecimen- mandatário concluir o negócio retenção, até se reembolsar do
to, o procurador será responsável já começado, se houver perigo que no desempenho do encargo
se o substabelecido proceder na demora. despendeu.
culposamente.

Art. 668. O mandatário é obriga-


Seção III – Das Obrigações Seção IV – Da Extinção do
do a dar contas de sua gerência do Mandante Mandato
ao mandante, transferindo-lhe as
vantagens provenientes do man- Art. 675. O mandante é obrigado Art. 682. Cessa o mandato:
dato, por qualquer título que seja. a satisfazer todas as obrigações I – pela revogação ou pela
contraídas pelo mandatário, na renúncia;
Art. 669. O mandatário não pode conformidade do mandato con- II – pela morte ou interdição
compensar os prejuízos a que deu ferido, e adiantar a importância de uma das partes;
causa com os proveitos que, por das despesas necessárias à exe- III – pela mudança de estado
outro lado, tenha granjeado ao cução dele, quando o mandatário que inabilite o mandante a con-
seu constituinte. lho pedir. ferir os poderes, ou o mandatário
para os exercer;
Art. 670. Pelas somas que devia Art. 676. É obrigado o mandante IV – pelo término do prazo ou
entregar ao mandante ou recebeu a pagar ao mandatário a remune- pela conclusão do negócio.
para despesa, mas empregou em ração ajustada e as despesas da
proveito seu, pagará o mandatá- execução do mandato, ainda que Art. 683. Quando o mandato
rio juros, desde o momento em o negócio não surta o esperado contiver a cláusula de irrevoga-
que abusou. efeito, salvo tendo o mandatá- bilidade e o mandante o revogar,
rio culpa. pagará perdas e danos.
Art. 671. Se o mandatário, tendo
fundos ou crédito do mandante, Art. 677. As somas adiantadas Art. 684. Quando a cláusula de
comprar, em nome próprio, algo pelo mandatário, para a execução irrevogabilidade for condição de
que devera comprar para o man- do mandato, vencem juros desde um negócio bilateral, ou tiver sido
dante, por ter sido expressamente a data do desembolso. estipulada no exclusivo interesse
designado no mandato, terá este do mandatário, a revogação do
ação para obrigá-lo à entrega da Art. 678. É igualmente obrigado mandato será ineficaz.
coisa comprada. o mandante a ressarcir ao man-
datário as perdas que este sofrer Art. 685. Conferido o mandato
Art. 672. Sendo dois ou mais os com a execução do mandato, com a cláusula “em causa própria”,
mandatários nomeados no mes- sempre que não resultem de culpa a sua revogação não terá eficácia,
mo instrumento, qualquer deles sua ou de excesso de poderes. nem se extinguirá pela morte de
poderá exercer os poderes ou- qualquer das partes, ficando o
torgados, se não forem expressa- Art. 679. Ainda que o manda- mandatário dispensado de pres-
mente declarados conjuntos, nem tário contrarie as instruções do tar contas, e podendo transferir
especificamente designados para mandante, se não exceder os li- para si os bens móveis ou imóveis
atos diferentes, ou subordinados mites do mandato, ficará o man- objeto do mandato, obedecidas
a atos sucessivos. Se os mandatá- dante obrigado para com aqueles as formalidades legais.
rios forem declarados conjuntos, com quem o seu procurador con-
não terá eficácia o ato praticado tratou; mas terá contra este ação Art. 686. A revogação do man-
sem interferência de todos, salvo pelas perdas e danos resultantes dato, notificada somente ao man-
havendo ratificação, que retroa- da inobservância das instruções. datário, não se pode opor aos
girá à data do ato. terceiros que, ignorando-a, de
Art. 680. Se o mandato for ou- boa-fé com ele trataram; mas
Art. 673. O terceiro que, depois torgado por duas ou mais pesso- ficam salvas ao constituinte as
de conhecer os poderes do man- as, e para negócio comum, cada ações que no caso lhe possam
datário, com ele celebrar negócio uma ficará solidariamente res- caber contra o procurador.
jurídico exorbitante do mandato, ponsável ao mandatário por todos Parágrafo único. É irrevo-

168
CAPÍTULO XI – DA

Código Civil
gável o mandato que contenha estipulação em contrário, o co-
poderes de cumprimento ou con- COMISSÃO missário tem direito a remunera-
firmação de negócios encetados, ção mais elevada, para compen-
aos quais se ache vinculado. Art. 693. O contrato de comis- sar o ônus assumido.
são tem por objeto a aquisição ou
Art. 687. Tanto que for comuni- a venda de bens pelo comissário, Art. 699. Presume-se o comis-
cada ao mandatário a nomeação em seu próprio nome, à conta do sário autorizado a conceder dila-
de outro, para o mesmo negócio, comitente. ção do prazo para pagamento, na
considerar-se-á revogado o man- conformidade dos usos do lugar
dato anterior. Art. 694. O comissário fica di- onde se realizar o negócio, se
retamente obrigado para com não houver instruções diversas
Art. 688. A renúncia do mandato as pessoas com quem contra- do comitente.
será comunicada ao mandante, tar, sem que estas tenham ação
que, se for prejudicado pela sua contra o comitente, nem este Art. 700. Se houver instruções
inoportunidade, ou pela falta de contra elas, salvo se o comissá- do comitente proibindo prorroga-
tempo, a fim de prover à substi- rio ceder seus direitos a qualquer ção de prazos para pagamento,
tuição do procurador, será inde- das partes. ou se esta não for conforme os
nizado pelo mandatário, salvo se usos locais, poderá o comitente
este provar que não podia con- Art. 695. O comissário é obriga- exigir que o comissário pague
tinuar no mandato sem prejuízo do a agir de conformidade com incontinenti ou responda pelas
considerável, e que não lhe era as ordens e instruções do comi- consequências da dilação con-
dado substabelecer. tente, devendo, na falta destas, cedida, procedendo-se de igual
não podendo pedi-las a tempo, modo se o comissário não der
Art. 689. São válidos, a respei- proceder segundo os usos em ciência ao comitente dos pra-
to dos contratantes de boa-fé, casos semelhantes. zos concedidos e de quem é seu
os atos com estes ajustados em Parágrafo único. Ter-se-ão beneficiário.
nome do mandante pelo man- por justificados os atos do comis-
datário, enquanto este ignorar sário, se deles houver resultado Art. 701. Não estipulada a re-
a morte daquele ou a extinção vantagem para o comitente, e muneração devida ao comissário,
do mandato, por qualquer ou- ainda no caso em que, não ad- será ela arbitrada segundo os
tra causa. mitindo demora a realização do usos correntes no lugar.
negócio, o comissário agiu de
Art. 690. Se falecer o manda- acordo com os usos. Art. 702. No caso de morte do
tário, pendente o negócio a ele comissário, ou, quando, por mo-
cometido, os herdeiros, tendo Art. 696. No desempenho das tivo de força maior, não puder
ciência do mandato, avisarão o suas incumbências o comissário concluir o negócio, será devida
mandante, e providenciarão a é obrigado a agir com cuidado pelo comitente uma remunera-
bem dele, como as circunstân- e diligência, não só para evitar ção proporcional aos trabalhos
cias exigirem. qualquer prejuízo ao comitente, realizados.
mas ainda para lhe proporcionar o
Art. 691. Os herdeiros, no caso lucro que razoavelmente se podia Art. 703. Ainda que tenha dado
do artigo antecedente, devem esperar do negócio. motivo à dispensa, terá o comis-
limitar-se às medidas conserva- Parágrafo único. Responde- sário direito a ser remunerado
tórias, ou continuar os negócios rá o comissário, salvo motivo de pelos serviços úteis prestados
pendentes que se não possam de- força maior, por qualquer pre- ao comitente, ressalvado a este
morar sem perigo, regulando-se juízo que, por ação ou omissão, o direito de exigir daquele os pre-
os seus serviços dentro desse li- ocasionar ao comitente. juízos sofridos.
mite, pelas mesmas normas a que
os do mandatário estão sujeitos. Art. 697. O comissário não res- Art. 704. Salvo disposição em
ponde pela insolvência das pes- contrário, pode o comitente, a
soas com quem tratar, exceto qualquer tempo, alterar as ins-
Seção V – Do Mandato em caso de culpa e no do artigo truções dadas ao comissário,
Judicial seguinte. entendendo-se por elas regidos
também os negócios pendentes.
Art. 692. O mandato judicial Art. 698. Se do contrato de co-
fica subordinado às normas que missão constar a cláusula del Art. 705. Se o comissário for
lhe dizem respeito, constantes credere, responderá o comissário despedido sem justa causa, terá
da legislação processual, e, su- solidariamente com as pessoas direito a ser remunerado pelos
pletivamente, às estabelecidas com que houver tratado em nome trabalhos prestados, bem como a
neste Código. do comitente, caso em que, salvo ser ressarcido pelas perdas e da-

169
Código Civil
nos resultantes de sua dispensa. agir com toda diligência, atendo- Parágrafo único. No caso de
-se às instruções recebidas do divergência entre as partes, o juiz
Art. 706. O comitente e o comis- proponente. decidirá da razoabilidade do prazo
sário são obrigados a pagar juros e do valor devido.
um ao outro; o primeiro pelo que o Art. 713. Salvo estipulação di-
comissário houver adiantado para versa, todas as despesas com a Art. 721. Aplicam-se ao contrato
cumprimento de suas ordens; e agência ou distribuição correm a de agência e distribuição, no que
o segundo pela mora na entrega cargo do agente ou distribuidor. couber, as regras concernentes
dos fundos que pertencerem ao ao mandato e à comissão e as
comitente. Art. 714. Salvo ajuste, o agente constantes de lei especial.
ou distribuidor terá direito à re-
Art. 707. O crédito do comissá- muneração correspondente aos
rio, relativo a comissões e despe- negócios concluídos dentro de CAPÍTULO XIII – DA
sas feitas, goza de privilégio geral, sua zona, ainda que sem a sua CORRETAGEM
no caso de falência ou insolvência interferência.
do comitente. Art. 722. Pelo contrato de cor-
Art. 715. O agente ou distribui- retagem, uma pessoa, não ligada
Art. 708. Para reembolso das dor tem direito à indenização se a outra em virtude de mandato,
despesas feitas, bem como para o proponente, sem justa causa, de prestação de serviços ou por
recebimento das comissões de- cessar o atendimento das pro- qualquer relação de dependência,
vidas, tem o comissário direito postas ou reduzi-lo tanto que se obriga-se a obter para a segunda
de retenção sobre os bens e va- torna antieconômica a continu- um ou mais negócios, conforme
lores em seu poder em virtude ação do contrato. as instruções recebidas.
da comissão.
Art. 716. A remuneração será Art. 723. O corretor é obrigado
Art. 709. São aplicáveis à co- devida ao agente também quando a executar a mediação com dili-
missão, no que couber, as regras o negócio deixar de ser realizado gência e prudência, e a prestar ao
sobre mandato. por fato imputável ao proponente. cliente, espontaneamente, todas
as informações sobre o andamen-
Art. 717. Ainda que dispensado to do negócio.
CAPÍTULO XII – DA por justa causa, terá o agente Parágrafo único. Sob pena de
AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO direito a ser remunerado pelos responder por perdas e danos, o
serviços úteis prestados ao pro- corretor prestará ao cliente todos
Art. 710. Pelo contrato de agên- ponente, sem embargo de haver os esclarecimentos acerca da se-
cia, uma pessoa assume, em ca- este perdas e danos pelos preju- gurança ou do risco do negócio,
ráter não eventual e sem víncu- ízos sofridos. das alterações de valores e de
los de dependência, a obrigação outros fatores que possam influir
de promover, à conta de outra, Art. 718. Se a dispensa se der nos resultados da incumbência.
mediante retribuição, a realiza- sem culpa do agente, terá ele
ção de certos negócios, em zona direito à remuneração até então Art. 724. A remuneração do cor-
determinada, caracterizando-se devida, inclusive sobre os negó- retor, se não estiver fixada em lei,
a distribuição quando o agente cios pendentes, além das indeni- nem ajustada entre as partes,
tiver à sua disposição a coisa a zações previstas em lei especial. será arbitrada segundo a natu-
ser negociada. reza do negócio e os usos locais.
Parágrafo único. O propo- Art. 719. Se o agente não puder
nente pode conferir poderes ao continuar o trabalho por motivo Art. 725. A remuneração é devi-
agente para que este o represen- de força maior, terá direito à re- da ao corretor uma vez que tenha
te na conclusão dos contratos. muneração correspondente aos conseguido o resultado previs-
serviços realizados, cabendo esse to no contrato de mediação, ou
Art. 711. Salvo ajuste, o propo- direito aos herdeiros no caso de ainda que este não se efetive
nente não pode constituir, ao morte. em virtude de arrependimento
mesmo tempo, mais de um agen- das partes.
te, na mesma zona, com idêntica Art. 720. Se o contrato for por
incumbência; nem pode o agente tempo indeterminado, qualquer Art. 726. Iniciado e concluído
assumir o encargo de nela tratar das partes poderá resolvê-lo, me- o negócio diretamente entre as
de negócios do mesmo gênero, diante aviso prévio de noventa partes, nenhuma remuneração
à conta de outros proponentes. dias, desde que transcorrido pra- será devida ao corretor; mas se,
zo compatível com a natureza e por escrito, for ajustada a corre-
Art. 712. O agente, no desem- o vulto do investimento exigido tagem com exclusividade, terá o
penho que lhe foi cometido, deve do agente. corretor direito à remuneração

170
Código Civil
integral, ainda que realizado o respectivo percurso, responden- ção normal do serviço.
negócio sem a sua mediação, do pelos danos nele causados a Parágrafo único. Se o pre-
salvo se comprovada sua inércia pessoas e coisas. juízo sofrido pela pessoa trans-
ou ociosidade. § 1o O dano, resultante do portada for atribuível à trans-
atraso ou da interrupção da via- gressão de normas e instruções
Art. 727. Se, por não haver prazo gem, será determinado em razão regulamentares, o juiz reduzirá
determinado, o dono do negócio da totalidade do percurso. equitativamente a indenização,
dispensar o corretor, e o negó- § 2o Se houver substituição na medida em que a vítima hou-
cio se realizar posteriormente, de algum dos transportadores no ver concorrido para a ocorrência
como fruto da sua mediação, a decorrer do percurso, a responsa- do dano.
corretagem lhe será devida; igual bilidade solidária estender-se-á
solução se adotará se o negócio ao substituto. Art. 739. O transportador não
se realizar após a decorrência do pode recusar passageiros, salvo
prazo contratual, mas por efeito os casos previstos nos regula-
dos trabalhos do corretor.
Seção II – Do Transporte de mentos, ou se as condições de
Pessoas higiene ou de saúde do interes-
Art. 728. Se o negócio se con- sado o justificarem.
cluir com a intermediação de mais Art. 734. O transportador res-
de um corretor, a remuneração ponde pelos danos causados às Art. 740. O passageiro tem di-
será paga a todos em partes pessoas transportadas e suas reito a rescindir o contrato de
iguais, salvo ajuste em contrário. bagagens, salvo motivo de for- transporte antes de iniciada a
ça maior, sendo nula qualquer viagem, sendo-lhe devida a res-
Art. 729. Os preceitos sobre cor- cláusula excludente da respon- tituição do valor da passagem,
retagem constantes deste Código sabilidade. desde que feita a comunicação
não excluem a aplicação de outras Parágrafo único. É lícito ao ao transportador em tempo de
normas da legislação especial. transportador exigir a declara- ser renegociada.
ção do valor da bagagem a fim § 1o Ao passageiro é faculta-
de fixar o limite da indenização. do desistir do transporte, mes-
CAPÍTULO XIV – DO mo depois de iniciada a viagem,
TRANSPORTE Art. 735. A responsabilidade sendo-lhe devida a restituição do
contratual do transportador por valor correspondente ao trecho
Seção I – Disposições Gerais
acidente com o passageiro não não utilizado, desde que provado
é elidida por culpa de terceiro, que outra pessoa haja sido trans-
Art. 730. Pelo contrato de trans- contra o qual tem ação regressiva. portada em seu lugar.
porte alguém se obriga, median- § 2o Não terá direito ao re-
te retribuição, a transportar, de Art. 736. Não se subordina às embolso do valor da passagem o
um lugar para outro, pessoas ou normas do contrato de trans- usuário que deixar de embarcar,
coisas. porte o feito gratuitamente, por salvo se provado que outra pes-
amizade ou cortesia. soa foi transportada em seu lugar,
Art. 731. O transporte exercido Parágrafo único. Não se caso em que lhe será restituído
em virtude de autorização, per- considera gratuito o transporte o valor do bilhete não utilizado.
missão ou concessão, rege-se quando, embora feito sem remu- § 3o Nas hipóteses previstas
pelas normas regulamentares e neração, o transportador auferir neste artigo, o transportador terá
pelo que for estabelecido naque- vantagens indiretas. direito de reter até cinco por cen-
les atos, sem prejuízo do disposto to da importância a ser restituída
neste Código. Art. 737. O transportador está ao passageiro, a título de multa
sujeito aos horários e itinerários compensatória.
Art. 732. Aos contratos de previstos, sob pena de responder
transporte, em geral, são apli- por perdas e danos, salvo motivo Art. 741. Interrompendo-se
cáveis, quando couber, desde de força maior. a viagem por qualquer motivo
que não contrariem as disposi- alheio à vontade do transporta-
ções deste Código, os preceitos Art. 738. A pessoa transportada dor, ainda que em consequência
constantes da legislação espe- deve sujeitar-se às normas es- de evento imprevisível, fica ele
cial e de tratados e convenções tabelecidas pelo transportador, obrigado a concluir o transpor-
internacionais. constantes no bilhete ou afixadas te contratado em outro veículo
à vista dos usuários, abstendo-se da mesma categoria, ou, com a
Art. 733. Nos contratos de de quaisquer atos que causem anuência do passageiro, por mo-
transporte cumulativo, cada incômodo ou prejuízo aos passa- dalidade diferente, à sua custa,
transportador se obriga a cum- geiros, danifiquem o veículo, ou correndo também por sua conta
prir o contrato relativamente ao dificultem ou impeçam a execu- as despesas de estada e alimen-

171
Código Civil
tação do usuário, durante a es- zação não sejam permitidos, ou le depositar a coisa em juízo, ou
pera de novo transporte. que venha desacompanhada dos vendê-la, obedecidos os preceitos
documentos exigidos por lei ou legais e regulamentares, ou os
Art. 742. O transportador, uma regulamento. usos locais, depositando o valor.
vez executado o transporte, tem § 2o Se o impedimento for
direito de retenção sobre a baga- Art. 748. Até a entrega da coi- responsabilidade do transpor-
gem de passageiro e outros obje- sa, pode o remetente desistir do tador, este poderá depositar a
tos pessoais deste, para garan- transporte e pedi-la de volta, ou coisa, por sua conta e risco, mas
tir-se do pagamento do valor da ordenar seja entregue a outro só poderá vendê-la se perecível.
passagem que não tiver sido feito destinatário, pagando, em am- § 3o Em ambos os casos, o
no início ou durante o percurso. bos os casos, os acréscimos de transportador deve informar o
despesa decorrentes da contra- remetente da efetivação do de-
ordem, mais as perdas e danos pósito ou da venda.
Seção III – Do Transporte de que houver. § 4o Se o transportador man-
Coisas tiver a coisa depositada em seus
Art. 749. O transportador con- próprios armazéns, continuará
Art. 743. A coisa, entregue ao duzirá a coisa ao seu destino, a responder pela sua guarda e
transportador, deve estar carac- tomando todas as cautelas ne- conservação, sendo-lhe devi-
terizada pela sua natureza, valor, cessárias para mantê-la em bom da, porém, uma remuneração
peso e quantidade, e o mais que estado e entregá-la no prazo ajus- pela custódia, a qual poderá ser
for necessário para que não se tado ou previsto. contratualmente ajustada ou se
confunda com outras, devendo conformará aos usos adotados
o destinatário ser indicado ao Art. 750. A responsabilidade do em cada sistema de transporte.
menos pelo nome e endereço. transportador, limitada ao valor
constante do conhecimento, co- Art. 754. As mercadorias devem
Art. 744. Ao receber a coisa, o meça no momento em que ele, ser entregues ao destinatário, ou
transportador emitirá conheci- ou seus prepostos, recebem a a quem apresentar o conheci-
mento com a menção dos dados coisa; termina quando é entre- mento endossado, devendo aque-
que a identifiquem, obedecido o gue ao destinatário, ou deposi- le que as receber conferi-las e
disposto em lei especial. tada em juízo, se aquele não for apresentar as reclamações que
Parágrafo único. O transpor- encontrado. tiver, sob pena de decadência
tador poderá exigir que o reme- dos direitos.
tente lhe entregue, devidamente Art. 751. A coisa, depositada ou Parágrafo único. No caso de
assinada, a relação discriminada guardada nos armazéns do trans- perda parcial ou de avaria não
das coisas a serem transportadas, portador, em virtude de contrato perceptível à primeira vista, o
em duas vias, uma das quais, por de transporte, rege-se, no que destinatário conserva a sua ação
ele devidamente autenticada, fi- couber, pelas disposições rela- contra o transportador, desde que
cará fazendo parte integrante do tivas a depósito. denuncie o dano em dez dias a
conhecimento. contar da entrega.
Art. 752. Desembarcadas as
Art. 745. Em caso de informa- mercadorias, o transportador Art. 755. Havendo dúvida acer-
ção inexata ou falsa descrição no não é obrigado a dar aviso ao ca de quem seja o destinatário,
documento a que se refere o arti- destinatário, se assim não foi con- o transportador deve depositar a
go antecedente, será o transpor- vencionado, dependendo também mercadoria em juízo, se não lhe
tador indenizado pelo prejuízo que de ajuste a entrega a domicílio, e for possível obter instruções do
sofrer, devendo a ação respectiva devem constar do conhecimen- remetente; se a demora puder
ser ajuizada no prazo de cento e to de embarque as cláusulas de ocasionar a deterioração da coisa,
vinte dias, a contar daquele ato, aviso ou de entrega a domicílio. o transportador deverá vendê-la,
sob pena de decadência. depositando o saldo em juízo.
Art. 753. Se o transporte não
Art. 746. Poderá o transporta- puder ser feito ou sofrer longa Art. 756. No caso de transporte
dor recusar a coisa cuja embala- interrupção, o transportador soli- cumulativo, todos os transporta-
gem seja inadequada, bem como citará, incontinenti, instruções ao dores respondem solidariamen-
a que possa pôr em risco a saúde remetente, e zelará pela coisa, por te pelo dano causado perante
das pessoas, ou danificar o veí- cujo perecimento ou deterioração o remetente, ressalvada a apu-
culo e outros bens. responderá, salvo força maior. ração final da responsabilidade
§ 1o Perdurando o impedi- entre eles, de modo que o res-
Art. 747. O transportador deverá mento, sem motivo imputável ao sarcimento recaia, por inteiro,
obrigatoriamente recusar a coisa transportador e sem manifesta- ou proporcionalmente, naquele
cujo transporte ou comerciali- ção do remetente, poderá aque- ou naqueles em cujo percurso

172
Código Civil
houver ocorrido o dano. denização o segurado que estiver por escrito, de sua decisão de
em mora no pagamento do prê- resolver o contrato.
mio, se ocorrer o sinistro antes § 2o A resolução só será efi-
CAPÍTULO XV – DO de sua purgação. caz trinta dias após a notificação,
SEGURO devendo ser restituída pelo se-
Art. 764. Salvo disposição espe- gurador a diferença do prêmio.
Seção I – Disposições Gerais
cial, o fato de se não ter verificado
o risco, em previsão do qual se faz Art. 770. Salvo disposição em
Art. 757. Pelo contrato de se- o seguro, não exime o segurado contrário, a diminuição do risco
guro, o segurador se obriga, me- de pagar o prêmio. no curso do contrato não acarreta
diante o pagamento do prêmio, a redução do prêmio estipulado;
a garantir interesse legítimo do Art. 765. O segurado e o segu- mas, se a redução do risco for
segurado, relativo a pessoa ou rador são obrigados a guardar considerável, o segurado poderá
a coisa, contra riscos predeter- na conclusão e na execução do exigir a revisão do prêmio, ou a
minados. contrato, a mais estrita boa-fé e resolução do contrato.
Parágrafo único. Somente veracidade, tanto a respeito do
pode ser parte, no contrato de objeto como das circunstâncias Art. 771. Sob pena de perder o
seguro, como segurador, enti- e declarações a ele concernentes. direito à indenização, o segurado
dade para tal fim legalmente au- participará o sinistro ao segura-
torizada. Art. 766. Se o segurado, por si dor, logo que o saiba, e tomará
ou por seu representante, fizer as providências imediatas para
Art. 758. O contrato de segu- declarações inexatas ou omitir minorar-lhe as consequências.
ro prova-se com a exibição da circunstâncias que possam influir Parágrafo único. Correm à
apólice ou do bilhete do seguro, na aceitação da proposta ou na conta do segurador, até o limite
e, na falta deles, por documento taxa do prêmio, perderá o direito fixado no contrato, as despesas
comprobatório do pagamento do à garantia, além de ficar obrigado de salvamento consequente ao
respectivo prêmio. ao prêmio vencido. sinistro.
Parágrafo único. Se a inexa-
Art. 759. A emissão da apólice tidão ou omissão nas declarações Art. 772. A mora do segurador
deverá ser precedida de proposta não resultar de má-fé do segu- em pagar o sinistro obriga à atua-
escrita com a declaração dos ele- rado, o segurador terá direito a lização monetária da indenização
mentos essenciais do interesse a resolver o contrato, ou a cobrar, devida segundo índices oficiais
ser garantido e do risco. mesmo após o sinistro, a diferen- regularmente estabelecidos, sem
ça do prêmio. prejuízo dos juros moratórios.
Art. 760. A apólice ou o bilhete
de seguro serão nominativos, à Art. 767. No seguro à conta de Art. 773. O segurador que, ao
ordem ou ao portador, e men- outrem, o segurador pode opor tempo do contrato, sabe estar
cionarão os riscos assumidos, o ao segurado quaisquer defesas passado o risco de que o segurado
início e o fim de sua validade, o que tenha contra o estipulante, se pretende cobrir, e, não obstan-
limite da garantia e o prêmio de- por descumprimento das normas te, expede a apólice, pagará em
vido, e, quando for o caso, o nome de conclusão do contrato, ou de dobro o prêmio estipulado.
do segurado e o do beneficiário. pagamento do prêmio.
Parágrafo único. No seguro Art. 774. A recondução tácita
de pessoas, a apólice ou o bilhete Art. 768. O segurado perderá do contrato pelo mesmo prazo,
não podem ser ao portador. o direito à garantia se agravar mediante expressa cláusula con-
intencionalmente o risco objeto tratual, não poderá operar mais
Art. 761. Quando o risco for as- do contrato. de uma vez.
sumido em cosseguro, a apólice
indicará o segurador que admi- Art. 769. O segurado é obrigado Art. 775. Os agentes autoriza-
nistrará o contrato e represen- a comunicar ao segurador, logo dos do segurador presumem-se
tará os demais, para todos os que saiba, todo incidente suscetí- seus representantes para todos
seus efeitos. vel de agravar consideravelmente os atos relativos aos contratos
o risco coberto, sob pena de per- que agenciarem.
Art. 762. Nulo será o contrato der o direito à garantia, se provar
para garantia de risco provenien- que silenciou de má-fé. Art. 776. O segurador é obriga-
te de ato doloso do segurado, do § 1o O segurador, desde que do a pagar em dinheiro o prejuízo
beneficiário, ou de representante o faça nos quinze dias seguin- resultante do risco assumido,
de um ou de outro. tes ao recebimento do aviso da salvo se convencionada a repo-
agravação do risco sem culpa do sição da coisa.
Art. 763. Não terá direito a in- segurado, poderá dar-lhe ciência,

173
Código Civil
Art. 777. O disposto no presente intrínseco da coisa segurada, não lide ao segurador.
Capítulo aplica-se, no que cou- declarado pelo segurado. § 4o Subsistirá a responsa-
ber, aos seguros regidos por leis Parágrafo único. Entende- bilidade do segurado perante o
próprias. -se por vício intrínseco o defeito terceiro, se o segurador for in-
próprio da coisa, que se não en- solvente.
contra normalmente em outras
Seção II – Do Seguro de Dano da mesma espécie. Art. 788. Nos seguros de res-
ponsabilidade legalmente obriga-
Art. 778. Nos seguros de dano, Art. 785. Salvo disposição em tórios, a indenização por sinistro
a garantia prometida não pode contrário, admite-se a transferên- será paga pelo segurador direta-
ultrapassar o valor do interesse cia do contrato a terceiro com a mente ao terceiro prejudicado.
segurado no momento da con- alienação ou cessão do interesse Parágrafo único. Demanda-
clusão do contrato, sob pena do segurado. do em ação direta pela vítima do
disposto no art. 766, e sem pre- § 1o Se o instrumento contra- dano, o segurador não poderá
juízo da ação penal que no caso tual é nominativo, a transferência opor a exceção de contrato não
couber. só produz efeitos em relação ao cumprido pelo segurado, sem
segurador mediante aviso escri- promover a citação deste para
Art. 779. O risco do seguro com- to assinado pelo cedente e pelo integrar o contraditório.
preenderá todos os prejuízos re- cessionário.
sultantes ou consequentes, como § 2o A apólice ou o bilhete à
sejam os estragos ocasionados ordem só se transfere por endos-
Seção III – Do Seguro de
para evitar o sinistro, minorar o so em preto, datado e assinado Pessoa
dano, ou salvar a coisa. pelo endossante e pelo endos-
satário. Art. 789. Nos seguros de pesso-
Art. 780. A vigência da garantia, as, o capital segurado é livremen-
no seguro de coisas transporta- Art. 786. Paga a indenização, o te estipulado pelo proponente,
das, começa no momento em que segurador sub-roga-se, nos limi- que pode contratar mais de um
são pelo transportador recebidas, tes do valor respectivo, nos direi- seguro sobre o mesmo interes-
e cessa com a sua entrega ao tos e ações que competirem ao se, com o mesmo ou diversos
destinatário. segurado contra o autor do dano. seguradores.
§ 1o Salvo dolo, a sub-roga-
Art. 781. A indenização não pode ção não tem lugar se o dano foi Art. 790. No seguro sobre a
ultrapassar o valor do interesse causado pelo cônjuge do segura- vida de outros, o proponente é
segurado no momento do sinistro, do, seus descendentes ou ascen- obrigado a declarar, sob pena
e, em hipótese alguma, o limite dentes, consanguíneos ou afins. de falsidade, o seu interesse pela
máximo da garantia fixado na § 2o É ineficaz qualquer ato preservação da vida do segurado.
apólice, salvo em caso de mora do segurado que diminua ou ex- Parágrafo único. Até prova
do segurador. tinga, em prejuízo do segurador, em contrário, presume-se o inte-
os direitos a que se refere este resse, quando o segurado é côn-
Art. 782. O segurado que, na artigo. juge, ascendente ou descendente
vigência do contrato, pretender do proponente.
obter novo seguro sobre o mes- Art. 787. No seguro de respon-
mo interesse, e contra o mesmo sabilidade civil, o segurador ga- Art. 791. Se o segurado não re-
risco junto a outro segurador, rante o pagamento de perdas e nunciar à faculdade, ou se o segu-
deve previamente comunicar sua danos devidos pelo segurado a ro não tiver como causa declarada
intenção por escrito ao primeiro, terceiro. a garantia de alguma obrigação,
indicando a soma por que preten- § 1o Tão logo saiba o segu- é lícita a substituição do benefi-
de segurar-se, a fim de se com- rado das consequências de ato ciário, por ato entre vivos ou de
provar a obediência ao disposto seu, suscetível de lhe acarretar última vontade.
no art. 778. a responsabilidade incluída na Parágrafo único. O segura-
garantia, comunicará o fato ao dor, que não for cientificado opor-
Art. 783. Salvo disposição em segurador. tunamente da substituição, de-
contrário, o seguro de um inte- § 2o É defeso ao segurado re- sobrigar-se-á pagando o capital
resse por menos do que valha conhecer sua responsabilidade ou segurado ao antigo beneficiário.
acarreta a redução proporcional confessar a ação, bem como tran-
da indenização, no caso de sinis- sigir com o terceiro prejudicado, Art. 792. Na falta de indicação
tro parcial. ou indenizá-lo diretamente, sem da pessoa ou beneficiário, ou se
anuência expressa do segurador. por qualquer motivo não preva-
Art. 784. Não se inclui na garan- § 3o Intentada a ação contra lecer a que for feita, o capital
tia o sinistro provocado por vício o segurado, dará este ciência da segurado será pago por metade

174
Código Civil
ao cônjuge não separado judicial- cia inicial do contrato, ou da sua Art. 804. O contrato pode ser
mente, e o restante aos herdeiros recondução depois de suspenso, também a título oneroso, entre-
do segurado, obedecida a ordem observado o disposto no parágra- gando-se bens móveis ou imóveis
da vocação hereditária. fo único do artigo antecedente. à pessoa que se obriga a satis-
Parágrafo único. Na falta das Parágrafo único. Ressalvada fazer as prestações a favor do
pessoas indicadas neste artigo, a hipótese prevista neste artigo, credor ou de terceiros.
serão beneficiários os que pro- é nula a cláusula contratual que
varem que a morte do segurado exclui o pagamento do capital por Art. 805. Sendo o contrato a
os privou dos meios necessários suicídio do segurado. título oneroso, pode o credor,
à subsistência. ao contratar, exigir que o ren-
Art. 799. O segurador não pode deiro lhe preste garantia real, ou
Art. 793. É válida a instituição do eximir-se ao pagamento do segu- fidejussória.
companheiro como beneficiário, ro, ainda que da apólice conste a
se ao tempo do contrato o segura- restrição, se a morte ou a inca- Art. 806. O contrato de consti-
do era separado judicialmente, ou pacidade do segurado provier da tuição de renda será feito a pra-
já se encontrava separado de fato. utilização de meio de transporte zo certo, ou por vida, podendo
mais arriscado, da prestação de ultrapassar a vida do devedor
Art. 794. No seguro de vida ou serviço militar, da prática de es- mas não a do credor, seja ele o
de acidentes pessoais para o caso porte, ou de atos de humanidade contratante, seja terceiro.
de morte, o capital estipulado não em auxílio de outrem.
está sujeito às dívidas do segu- Art. 807. O contrato de consti-
rado, nem se considera herança Art. 800. Nos seguros de pes- tuição de renda requer escritura
para todos os efeitos de direito. soas, o segurador não pode sub- pública.
-rogar-se nos direitos e ações
Art. 795. É nula, no seguro de do segurado, ou do beneficiário, Art. 808. É nula a constituição
pessoa, qualquer transação para contra o causador do sinistro. de renda em favor de pessoa já
pagamento reduzido do capital falecida, ou que, nos trinta dias
segurado. Art. 801. O seguro de pessoas seguintes, vier a falecer de mo-
pode ser estipulado por pessoa léstia que já sofria, quando foi
Art. 796. O prêmio, no seguro de natural ou jurídica em proveito celebrado o contrato.
vida, será conveniado por prazo de grupo que a ela, de qualquer
limitado, ou por toda a vida do modo, se vincule. Art. 809. Os bens dados em
segurado. § 1o O estipulante não re- compensação da renda caem,
Parágrafo único. Em qual- presenta o segurador perante o desde a tradição, no domínio da
quer hipótese, no seguro individu- grupo segurado, e é o único res- pessoa que por aquela se obrigou.
al, o segurador não terá ação para ponsável, para com o segurador,
cobrar o prêmio vencido, cuja pelo cumprimento de todas as Art. 810. Se o rendeiro, ou cen-
falta de pagamento, nos prazos obrigações contratuais. suário, deixar de cumprir a obri-
previstos, acarretará, conforme § 2o A modificação da apólice gação estipulada, poderá o credor
se estipular, a resolução do con- em vigor dependerá da anuência da renda acioná-lo, tanto para que
trato, com a restituição da reserva expressa de segurados que repre- lhe pague as prestações atrasa-
já formada, ou a redução do capi- sentem três quartos do grupo. das como para que lhe dê ga-
tal garantido proporcionalmente rantias das futuras, sob pena de
ao prêmio pago. Art. 802. Não se compreende rescisão do contrato.
nas disposições desta Seção a
Art. 797. No seguro de vida para garantia do reembolso de des- Art. 811. O credor adquire o di-
o caso de morte, é lícito estipular- pesas hospitalares ou de trata- reito à renda dia a dia, se a pres-
-se um prazo de carência, durante mento médico, nem o custeio das tação não houver de ser paga
o qual o segurador não responde despesas de luto e de funeral do adiantada, no começo de cada
pela ocorrência do sinistro. segurado. um dos períodos prefixos.
Parágrafo único. No caso
deste artigo o segurador é obri- Art. 812. Quando a renda for
gado a devolver ao beneficiário CAPÍTULO XVI – DA constituída em benefício de duas
o montante da reserva técnica CONSTITUIÇÃO DE RENDA ou mais pessoas, sem determina-
já formada. ção da parte de cada uma, enten-
Art. 803. Pode uma pessoa, pelo de-se que os seus direitos são
Art. 798. O beneficiário não contrato de constituição de ren- iguais; e, salvo estipulação diver-
tem direito ao capital estipula- da, obrigar-se para com outra a sa, não adquirirão os sobrevivos
do quando o segurado se suicida uma prestação periódica, a título direito à parte dos que morrerem.
nos primeiros dois anos de vigên- gratuito.

175
Código Civil
Art. 813. A renda constituída partilha ou processo de transa- pode ser obrigado a aceitá-lo se
por título gratuito pode, por ato ção, conforme o caso. não for pessoa idônea, domici-
do instituidor, ficar isenta de to- liada no município onde tenha
das as execuções pendentes e de prestar a fiança, e não possua
futuras. CAPÍTULO XVIII – DA bens suficientes para cumprir a
Parágrafo único. A isenção FIANÇA obrigação.
prevista neste artigo prevalece de
Seção I – Disposições Gerais
pleno direito em favor dos mon- Art. 826. Se o fiador se tornar
tepios e pensões alimentícias. insolvente ou incapaz, poderá o
Art. 818. Pelo contrato de fiança, credor exigir que seja substituído.
uma pessoa garante satisfazer ao
CAPÍTULO XVII – DO JOGO credor uma obrigação assumida
E DA APOSTA pelo devedor, caso este não a
Seção II – Dos Efeitos da
cumpra. Fiança
Art. 814. As dívidas de jogo ou
de aposta não obrigam a paga- Art. 819. A fiança dar-se-á por Art. 827. O fiador demandado
mento; mas não se pode recobrar escrito, e não admite interpreta- pelo pagamento da dívida tem
a quantia, que voluntariamente ção extensiva. direito a exigir, até a contesta-
se pagou, salvo se foi ganha por ção da lide, que sejam primeiro
dolo, ou se o perdente é menor Art. 819-A. (Vetado) executados os bens do devedor.
ou interdito. Parágrafo único. O fiador que
§ 1o Estende-se esta disposi- Art. 820. Pode-se estipular a alegar o benefício de ordem, a
ção a qualquer contrato que encu- fiança, ainda que sem consen- que se refere este artigo, deve
bra ou envolva reconhecimento, timento do devedor ou contra a nomear bens do devedor, sitos
novação ou fiança de dívida de sua vontade. no mesmo município, livres e de-
jogo; mas a nulidade resultante sembargados, quantos bastem
não pode ser oposta ao terceiro Art. 821. As dívidas futuras po- para solver o débito.
de boa-fé. dem ser objeto de fiança; mas o
§ 2o O preceito contido neste fiador, neste caso, não será de- Art. 828. Não aproveita este be-
artigo tem aplicação, ainda que mandado senão depois que se nefício ao fiador:
se trate de jogo não proibido, só fizer certa e líquida a obrigação I – se ele o renunciou expres-
se excetuando os jogos e apostas do principal devedor. samente;
legalmente permitidos. II – se se obrigou como princi-
§ 3o Excetuam-se, igual- Art. 822. Não sendo limitada, pal pagador, ou devedor solidário;
mente, os prêmios oferecidos a fiança compreenderá todos os III – se o devedor for insol-
ou prometidos para o vencedor acessórios da dívida principal, vente, ou falido.
em competição de natureza es- inclusive as despesas judiciais,
portiva, intelectual ou artística, desde a citação do fiador. Art. 829. A fiança conjuntamen-
desde que os interessados se te prestada a um só débito por
submetam às prescrições legais Art. 823. A fiança pode ser de mais de uma pessoa importa o
e regulamentares. valor inferior ao da obrigação compromisso de solidariedade
principal e contraída em condi- entre elas, se declaradamente
Art. 815. Não se pode exigir re- ções menos onerosas, e, quando não se reservarem o benefício
embolso do que se emprestou exceder o valor da dívida, ou for de divisão.
para jogo ou aposta, no ato de mais onerosa que ela, não valerá Parágrafo único. Estipula-
apostar ou jogar. senão até ao limite da obrigação do este benefício, cada fiador
afiançada. responde unicamente pela parte
Art. 816. As disposições dos que, em proporção, lhe couber no
arts.  814 e 815 não se aplicam Art. 824. As obrigações nulas pagamento.
aos contratos sobre títulos de não são suscetíveis de fiança,
bolsa, mercadorias ou valores, exceto se a nulidade resultar ape- Art. 830. Cada fiador pode fixar
em que se estipulem a liquida- nas de incapacidade pessoal do no contrato a parte da dívida que
ção exclusivamente pela dife- devedor. toma sob sua responsabilidade,
rença entre o preço ajustado e Parágrafo único. A exceção caso em que não será por mais
a cotação que eles tiverem no estabelecida neste artigo não obrigado.
vencimento do ajuste. abrange o caso de mútuo feito
a menor. Art. 831. O fiador que pagar in-
Art. 817. O sorteio para dirimir tegralmente a dívida fica sub-ro-
questões ou dividir coisas co- Art. 825. Quando alguém houver gado nos direitos do credor; mas
muns considera-se sistema de de oferecer fiador, o credor não só poderá demandar a cada um

176
Código Civil
dos outros fiadores pela respec- III – se o credor, em pagamen- codevedores.
tiva quota. to da dívida, aceitar amigavelmen-
Parágrafo único. A parte do te do devedor objeto diverso do Art. 845. Dada a evicção da coi-
fiador insolvente distribuir-se-á que este era obrigado a lhe dar, sa renunciada por um dos tran-
pelos outros. ainda que depois venha a perdê-lo sigentes, ou por ele transferida
por evicção. à outra parte, não revive a obri-
Art. 832. O devedor responde gação extinta pela transação;
também perante o fiador por to- Art. 839. Se for invocado o be- mas ao evicto cabe o direito de
das as perdas e danos que este nefício da excussão e o devedor, reclamar perdas e danos.
pagar, e pelos que sofrer em ra- retardando-se a execução, cair Parágrafo único. Se um dos
zão da fiança. em insolvência, ficará exonerado transigentes adquirir, depois da
o fiador que o invocou, se provar transação, novo direito sobre a
Art. 833. O fiador tem direito aos que os bens por ele indicados coisa renunciada ou transferida,
juros do desembolso pela taxa es- eram, ao tempo da penhora, su- a transação feita não o inibirá de
tipulada na obrigação principal, e, ficientes para a solução da dívida exercê-lo.
não havendo taxa convencionada, afiançada.
aos juros legais da mora. Art. 846. A transação concer-
nente a obrigações resultantes
Art. 834. Quando o credor, sem CAPÍTULO XIX – DA de delito não extingue a ação
justa causa, demorar a execu- TRANSAÇÃO penal pública.
ção iniciada contra o devedor,
poderá o fiador promover-lhe o Art. 840. É lícito aos interessa- Art. 847. É admissível, na tran-
andamento. dos prevenirem ou terminarem sação, a pena convencional.
o litígio mediante concessões
Art. 835. O fiador poderá exo- mútuas. Art. 848. Sendo nula qualquer
nerar-se da fiança que tiver as- das cláusulas da transação, nula
sinado sem limitação de tempo, Art. 841. Só quanto a direitos será esta.
sempre que lhe convier, ficando patrimoniais de caráter privado Parágrafo único. Quando a
obrigado por todos os efeitos se permite a transação. transação versar sobre diversos
da fiança, durante sessenta dias direitos contestados, indepen-
após a notificação do credor. Art. 842. A transação far-se-á dentes entre si, o fato de não
por escritura pública, nas obriga- prevalecer em relação a um não
Art. 836. A obrigação do fiador ções em que a lei o exige, ou por prejudicará os demais.
passa aos herdeiros; mas a res- instrumento particular, nas em
ponsabilidade da fiança se limita que ela o admite; se recair sobre Art. 849. A transação só se anu-
ao tempo decorrido até a morte direitos contestados em juízo, la por dolo, coação, ou erro es-
do fiador, e não pode ultrapassar será feita por escritura pública, sencial quanto à pessoa ou coisa
as forças da herança. ou por termo nos autos, assinado controversa.
pelos transigentes e homologado Parágrafo único. A transação
pelo juiz. não se anula por erro de direito
Seção III – Da Extinção da a respeito das questões que fo-
Fiança Art. 843. A transação interpre- ram objeto de controvérsia entre
ta-se restritivamente, e por ela as partes.
Art. 837. O fiador pode opor ao não se transmitem, apenas se
credor as exceções que lhe fo- declaram ou reconhecem direitos. Art. 850. É nula a transação a
rem pessoais, e as extintivas da respeito do litígio decidido por
obrigação que competem ao de- Art. 844. A transação não apro- sentença passada em julgado,
vedor principal, se não provierem veita, nem prejudica senão aos se dela não tinha ciência algum
simplesmente de incapacidade que nela intervierem, ainda que dos transatores, ou quando, por
pessoal, salvo o caso do mútuo diga respeito a coisa indivisível. título ulteriormente descoberto,
feito a pessoa menor. § 1o Se for concluída entre o se verificar que nenhum deles
credor e o devedor, desobrigará tinha direito sobre o objeto da
Art. 838. O fiador, ainda que so- o fiador. transação.
lidário, ficará desobrigado: § 2o Se entre um dos credo-
I – se, sem consentimento res solidários e o devedor, extin-
seu, o credor conceder moratória gue a obrigação deste para com CAPÍTULO XX – DO
ao devedor; os outros credores. COMPROMISSO
II – se, por fato do credor, for § 3o Se entre um dos deve-
impossível a sub-rogação nos dores solidários e seu credor, Art. 851. É admitido compromis-
seus direitos e preferências; extingue a dívida em relação aos so, judicial ou extrajudicial, para

177
Código Civil
resolver litígios entre pessoas esta não for divisível, conferir- comunicará o gestor ao dono do
que podem contratar. -se-á por sorteio, e o que obtiver negócio a gestão que assumiu,
a coisa dará ao outro o valor de aguardando-lhe a resposta, se
Art. 852. É vedado compromis- seu quinhão. da espera não resultar perigo.
so para solução de questões de
estado, de direito pessoal de fa- Art. 859. Nos concursos que se Art. 865. Enquanto o dono não
mília e de outras que não tenham abrirem com promessa pública de providenciar, velará o gestor pelo
caráter estritamente patrimonial. recompensa, é condição essen- negócio, até o levar a cabo, espe-
cial, para valerem, a fixação de rando, se aquele falecer durante a
Art. 853. Admite-se nos con- um prazo, observadas também gestão, as instruções dos herdei-
tratos a cláusula compromissó- as disposições dos parágrafos ros, sem se descuidar, entretanto,
ria, para resolver divergências seguintes. das medidas que o caso reclame.
mediante juízo arbitral, na forma § 1o A decisão da pessoa no-
estabelecida em lei especial. meada, nos anúncios, como juiz, Art. 866. O gestor envidará toda
obriga os interessados. sua diligência habitual na admi-
§ 2o Em falta de pessoa de- nistração do negócio, ressarcindo
TÍTULO VII – DOS ATOS signada para julgar o mérito dos ao dono o prejuízo resultante de
UNILATERAIS trabalhos que se apresentarem, qualquer culpa na gestão.
entender-se-á que o promitente
CAPÍTULO I – DA se reservou essa função. Art. 867. Se o gestor se fizer
PROMESSA DE § 3o Se os trabalhos tiverem substituir por outrem, respon-
RECOMPENSA mérito igual, proceder-se-á de derá pelas faltas do substituto,
acordo com os arts. 857 e 858. ainda que seja pessoa idônea,
Art. 854. Aquele que, por anún- sem prejuízo da ação que a ele,
cios públicos, se comprometer Art. 860. As obras premiadas, ou ao dono do negócio, contra ela
a recompensar, ou gratificar, a nos concursos de que trata o possa caber.
quem preencha certa condição, artigo antecedente, só ficarão Parágrafo único. Havendo
ou desempenhe certo serviço, pertencendo ao promitente, se mais de um gestor, solidária será
contrai obrigação de cumprir o assim for estipulado na publica- a sua responsabilidade.
prometido. ção da promessa.
Art. 868. O gestor responde pelo
Art. 855. Quem quer que, nos caso fortuito quando fizer ope-
termos do artigo antecedente, CAPÍTULO II – DA GESTÃO rações arriscadas, ainda que o
fizer o serviço, ou satisfizer a DE NEGÓCIOS dono costumasse fazê-las, ou
condição, ainda que não pelo inte- quando preterir interesse deste
resse da promessa, poderá exigir Art. 861. Aquele que, sem auto- em proveito de interesses seus.
a recompensa estipulada. rização do interessado, intervém Parágrafo único. Querendo
na gestão de negócio alheio, di- o dono aproveitar-se da gestão,
Art. 856. Antes de prestado o rigi-lo-á segundo o interesse e a será obrigado a indenizar o gestor
serviço ou preenchida a condição, vontade presumível de seu dono, das despesas necessárias, que ti-
pode o promitente revogar a pro- ficando responsável a este e às ver feito, e dos prejuízos, que por
messa, contanto que o faça com pessoas com que tratar. motivo da gestão, houver sofrido.
a mesma publicidade; se houver
assinado prazo à execução da ta- Art. 862. Se a gestão foi inicia- Art. 869. Se o negócio for util-
refa, entender-se-á que renuncia da contra a vontade manifesta mente administrado, cumprirá ao
o arbítrio de retirar, durante ele, ou presumível do interessado, dono as obrigações contraídas
a oferta. responderá o gestor até pelos em seu nome, reembolsando ao
Parágrafo único. O candidato casos fortuitos, não provando que gestor as despesas necessárias
de boa-fé, que houver feito des- teriam sobrevindo, ainda quando ou úteis que houver feito, com os
pesas, terá direito a reembolso. se houvesse abatido. juros legais, desde o desembolso,
respondendo ainda pelos preju-
Art. 857. Se o ato contemplado Art. 863. No caso do artigo an- ízos que este houver sofrido por
na promessa for praticado por tecedente, se os prejuízos da ges- causa da gestão.
mais de um indivíduo, terá direi- tão excederem o seu proveito, § 1o A utilidade, ou necessi-
to à recompensa o que primeiro poderá o dono do negócio exigir dade, da despesa, apreciar-se-á
o executou. que o gestor restitua as coisas ao não pelo resultado obtido, mas
estado anterior, ou o indenize da segundo as circunstâncias da
Art. 858. Sendo simultânea a diferença. ocasião em que se fizerem.
execução, a cada um tocará qui- § 2o Vigora o disposto neste
nhão igual na recompensa; se Art. 864. Tanto que se possa, artigo, ainda quando o gestor, em

178
CAPÍTULO III – DO

Código Civil
erro quanto ao dono do negócio, Art. 883. Não terá direito à re-
der a outra pessoa as contas da PAGAMENTO INDEVIDO petição aquele que deu alguma
gestão. coisa para obter fim ilícito, imoral,
Art. 876. Todo aquele que rece- ou proibido por lei.
Art. 870. Aplica-se a disposição beu o que lhe não era devido fica Parágrafo único. No caso
do artigo antecedente, quando obrigado a restituir; obrigação deste artigo, o que se deu re-
a gestão se proponha a acudir a que incumbe àquele que recebe verterá em favor de estabeleci-
prejuízos iminentes, ou redunde dívida condicional antes de cum- mento local de beneficência, a
em proveito do dono do negócio prida a condição. critério do juiz.
ou da coisa; mas a indenização
ao gestor não excederá, em im- Art. 877. Àquele que voluntaria-
portância, as vantagens obtidas mente pagou o indevido incumbe CAPÍTULO IV – DO
com a gestão. a prova de tê-lo feito por erro. ENRIQUECIMENTO SEM
CAUSA
Art. 871. Quando alguém, na Art. 878. Aos frutos, acessões,
ausência do indivíduo obrigado benfeitorias e deteriorações so- Art. 884. Aquele que, sem jus-
a alimentos, por ele os prestar brevindas à coisa dada em pa- ta causa, se enriquecer à custa
a quem se devem, poder-lhes-á gamento indevido, aplica-se o de outrem, será obrigado a res-
reaver do devedor a importância, disposto neste Código sobre o tituir o indevidamente auferido,
ainda que este não ratifique o ato. possuidor de boa-fé ou de má-fé, feita a atualização dos valores
conforme o caso. monetários.
Art. 872. Nas despesas do en- Parágrafo único. Se o enri-
terro, proporcionadas aos usos Art. 879. Se aquele que indevi- quecimento tiver por objeto coisa
locais e à condição do falecido, damente recebeu um imóvel o ti- determinada, quem a recebeu é
feitas por terceiro, podem ser ver alienado em boa-fé, por título obrigado a restituí-la, e, se a coisa
cobradas da pessoa que teria a oneroso, responde somente pela não mais subsistir, a restituição
obrigação de alimentar a que veio quantia recebida; mas, se agiu de se fará pelo valor do bem na época
a falecer, ainda mesmo que esta má-fé, além do valor do imóvel, em que foi exigido.
não tenha deixado bens. responde por perdas e danos.
Parágrafo único. Cessa o Parágrafo único. Se o imóvel Art. 885. A restituição é devida,
disposto neste artigo e no ante- foi alienado por título gratuito, ou não só quando não tenha havido
cedente, em se provando que o se, alienado por título oneroso, o causa que justifique o enrique-
gestor fez essas despesas com terceiro adquirente agiu de má- cimento, mas também se esta
o simples intento de bem-fazer. -fé, cabe ao que pagou por erro deixou de existir.
o direito de reivindicação.
Art. 873. A ratificação pura e Art. 886. Não caberá a resti-
simples do dono do negócio re- Art. 880. Fica isento de restituir tuição por enriquecimento, se
troage ao dia do começo da ges- pagamento indevido aquele que, a lei conferir ao lesado outros
tão, e produz todos os efeitos do recebendo-o como parte de dívi- meios para se ressarcir do pre-
mandato. da verdadeira, inutilizou o título, juízo sofrido.
deixou prescrever a pretensão
Art. 874. Se o dono do negócio, ou abriu mão das garantias que
ou da coisa, desaprovar a ges- asseguravam seu direito; mas TÍTULO VIII – DOS TÍTULOS
tão, considerando-a contrária aquele que pagou dispõe de ação DE CRÉDITO
aos seus interesses, vigorará o regressiva contra o verdadeiro
disposto nos arts. 862 e 863, salvo devedor e seu fiador. CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
o estabelecido nos arts. 869 e 870. GERAIS
Art. 881. Se o pagamento inde-
Art. 875. Se os negócios alheios vido tiver consistido no desem- Art. 887. O título de crédito, do-
forem conexos ao do gestor, de penho de obrigação de fazer ou cumento necessário ao exercício
tal arte que se não possam ge- para eximir-se da obrigação de do direito literal e autônomo nele
rir separadamente, haver-se-á não fazer, aquele que recebeu a contido, somente produz efeito
o gestor por sócio daquele cujos prestação fica na obrigação de quando preencha os requisitos
interesses agenciar de envolta indenizar o que a cumpriu, na da lei.
com os seus. medida do lucro obtido.
Parágrafo único. No caso Art. 888. A omissão de qualquer
deste artigo, aquele em cujo be- Art. 882. Não se pode repetir o requisito legal, que tire ao escri-
nefício interveio o gestor só é que se pagou para solver dívida to a sua validade como título de
obrigado na razão das vantagens prescrita, ou cumprir obrigação crédito, não implica a invalidade
que lograr. judicialmente inexigível. do negócio jurídico que lhe deu

179
Código Civil
origem. representativo de mercadoria no vencimento, sem oposição,
tem o direito de transferi-lo, de salvo se agiu de má-fé.
Art. 889. Deve o título de cré- conformidade com as normas que Parágrafo único. Pagando,
dito conter a data da emissão, regulam a sua circulação, ou de pode o devedor exigir do credor,
a indicação precisa dos direitos receber aquela independente- além da entrega do título, quita-
que confere, e a assinatura do mente de quaisquer formalida- ção regular.
emitente. des, além da entrega do título
§ 1o É à vista o título de cré- devidamente quitado. Art. 902. Não é o credor obriga-
dito que não contenha indicação do a receber o pagamento antes
de vencimento. Art. 895. Enquanto o título de do vencimento do título, e aquele
§ 2o Considera-se lugar de crédito estiver em circulação, só que o paga, antes do vencimento,
emissão e de pagamento, quando ele poderá ser dado em garantia, fica responsável pela validade do
não indicado no título, o domicílio ou ser objeto de medidas judiciais, pagamento.
do emitente. e não, separadamente, os direitos § 1o No vencimento, não pode
§ 3o O título poderá ser emiti- ou mercadorias que representa. o credor recusar pagamento, ain-
do a partir dos caracteres criados da que parcial.
em computador ou meio técnico Art. 896. O título de crédito não § 2o No caso de pagamento
equivalente e que constem da pode ser reivindicado do por- parcial, em que se não opera a
escrituração do emitente, ob- tador que o adquiriu de boa-fé tradição do título, além da qui-
servados os requisitos mínimos e na conformidade das normas tação em separado, outra deve-
previstos neste artigo. que disciplinam a sua circulação. rá ser firmada no próprio título.

Art. 890. Consideram-se não Art. 897. O pagamento de título Art. 903. Salvo disposição di-
escritas no título a cláusula de de crédito, que contenha obriga- versa em lei especial, regem-se
juros, a proibitiva de endosso, a ção de pagar soma determinada, os títulos de crédito pelo disposto
excludente de responsabilidade pode ser garantido por aval. neste Código.
pelo pagamento ou por despesas, Parágrafo único. É vedado o
a que dispense a observância de aval parcial.
termos e formalidade prescritas, CAPÍTULO II – DO TÍTULO
e a que, além dos limites fixados Art. 898. O aval deve ser dado AO PORTADOR
em lei, exclua ou restrinja direitos no verso ou no anverso do pró-
e obrigações. prio título. Art. 904. A transferência de tí-
§ 1o Para a validade do aval, tulo ao portador se faz por sim-
Art. 891. O título de crédito, in- dado no anverso do título, é su- ples tradição.
completo ao tempo da emissão, ficiente a simples assinatura do
deve ser preenchido de conformi- avalista. Art. 905. O possuidor de título ao
dade com os ajustes realizados. § 2o Considera-se não escri- portador tem direito à prestação
Parágrafo único. O descum- to o aval cancelado. nele indicada, mediante a sua
primento dos ajustes previstos simples apresentação ao devedor.
neste artigo pelos que deles par- Art. 899. O avalista equipara-se Parágrafo único. A prestação
ticiparam, não constitui motivo àquele cujo nome indicar; na fal- é devida ainda que o título tenha
de oposição ao terceiro portador, ta de indicação, ao emitente ou entrado em circulação contra a
salvo se este, ao adquirir o título, devedor final. vontade do emitente.
tiver agido de má-fé. § 1o Pagando o título, tem o
avalista ação de regresso contra Art. 906. O devedor só poderá
Art. 892. Aquele que, sem ter o seu avalizado e demais coobri- opor ao portador exceção fun-
poderes, ou excedendo os que gados anteriores. dada em direito pessoal, ou em
tem, lança a sua assinatura em § 2o Subsiste a responsabi- nulidade de sua obrigação.
título de crédito, como mandatá- lidade do avalista, ainda que nula
rio ou representante de outrem, a obrigação daquele a quem se Art. 907. É nulo o título ao por-
fica pessoalmente obrigado, e, equipara, a menos que a nulidade tador emitido sem autorização
pagando o título, tem ele os mes- decorra de vício de forma. de lei especial.
mos direitos que teria o suposto
mandante ou representado. Art. 900. O aval posterior ao Art. 908. O possuidor de título
vencimento produz os mesmos dilacerado, porém identificável,
Art. 893. A transferência do tí- efeitos do anteriormente dado. tem direito a obter do emitente
tulo de crédito implica a de todos a substituição do anterior, me-
os direitos que lhe são inerentes. Art. 901. Fica validamente deso- diante a restituição do primeiro
nerado o devedor que paga título e o pagamento das despesas.
Art. 894. O portador de título de crédito ao legítimo portador,

180
Código Civil
Art. 909. O proprietário, que expressa em contrário, constante ao endossatário de endosso-pe-
perder ou extraviar título, ou for do endosso, não responde o en- nhor as exceções que tinha con-
injustamente desapossado dele, dossante pelo cumprimento da tra o endossante, salvo se aquele
poderá obter novo título em juízo, prestação constante do título. tiver agido de má-fé.
bem como impedir sejam pagos § 1o Assumindo responsabi-
a outrem capital e rendimentos. lidade pelo pagamento, o endos- Art. 919. A aquisição de título à
Parágrafo único. O pagamen- sante se torna devedor solidário. ordem, por meio diverso do en-
to, feito antes de ter ciência da § 2o Pagando o título, tem dosso, tem efeito de cessão civil.
ação referida neste artigo, exo- o endossante ação de regresso
nera o devedor, salvo se se pro- contra os coobrigados anteriores. Art. 920. O endosso posterior ao
var que ele tinha conhecimento vencimento produz os mesmos
do fato. Art. 915. O devedor, além das efeitos do anterior.
exceções fundadas nas relações
pessoais que tiver com o por-
CAPÍTULO III – DO TÍTULO tador, só poderá opor a este as CAPÍTULO IV – DO TÍTULO
À ORDEM exceções relativas à forma do NOMINATIVO
título e ao seu conteúdo literal, à
Art. 910. O endosso deve ser lan- falsidade da própria assinatura, Art. 921. É título nominativo
çado pelo endossante no verso ou a defeito de capacidade ou de o emitido em favor de pessoa
anverso do próprio título. representação no momento da cujo nome conste no registro do
§ 1o Pode o endossante de- subscrição, e à falta de requisito emitente.
signar o endossatário, e para va- necessário ao exercício da ação.
lidade do endosso, dado no verso Art. 922. Transfere-se o título
do título, é suficiente a simples Art. 916. As exceções, fundadas nominativo mediante termo, em
assinatura do endossante. em relação do devedor com os registro do emitente, assinado
§ 2o A transferência por en- portadores precedentes, somente pelo proprietário e pelo adqui-
dosso completa-se com a tradi- poderão ser por ele opostas ao rente.
ção do título. portador, se este, ao adquirir o
§ 3o Considera-se não escri- título, tiver agido de má-fé. Art. 923. O título nominativo
to o endosso cancelado, total ou também pode ser transferido por
parcialmente. Art. 917. A cláusula constitutiva endosso que contenha o nome do
de mandato, lançada no endosso, endossatário.
Art. 911. Considera-se legítimo confere ao endossatário o exer- § 1o A transferência mediante
possuidor o portador do título à cício dos direitos inerentes ao endosso só tem eficácia perante
ordem com série regular e inin- título, salvo restrição expressa- o emitente, uma vez feita a com-
terrupta de endossos, ainda que mente estatuída. petente averbação em seu regis-
o último seja em branco. § 1o O endossatário de en- tro, podendo o emitente exigir do
Parágrafo único. Aquele que dosso-mandato só pode endossar endossatário que comprove a
paga o título está obrigado a ve- novamente o título na qualidade autenticidade da assinatura do
rificar a regularidade da série de de procurador, com os mesmos endossante.
endossos, mas não a autenticida- poderes que recebeu. § 2o O endossatário, legiti-
de das assinaturas. § 2o Com a morte ou a su- mado por série regular e ininter-
perveniente incapacidade do en- rupta de endossos, tem o direito
Art. 912. Considera-se não es- dossante, não perde eficácia o de obter a averbação no registro
crita no endosso qualquer con- endosso-mandato. do emitente, comprovada a au-
dição a que o subordine o en- § 3o Pode o devedor opor ao tenticidade das assinaturas de
dossante. endossatário de endosso-manda- todos os endossantes.
Parágrafo único. É nulo o en- to somente as exceções que tiver § 3o Caso o título original
dosso parcial. contra o endossante. contenha o nome do primitivo
proprietário, tem direito o adqui-
Art. 913. O endossatário de en- Art. 918. A cláusula constitutiva rente a obter do emitente novo
dosso em branco pode mudá-lo de penhor, lançada no endos- título, em seu nome, devendo a
para endosso em preto, comple- so, confere ao endossatário o emissão do novo título constar
tando-o com o seu nome ou de exercício dos direitos inerentes no registro do emitente.
terceiro; pode endossar nova- ao título.
mente o título, em branco ou em § 1o O endossatário de en- Art. 924. Ressalvada proibição
preto; ou pode transferi-lo sem dosso-penhor só pode endossar legal, pode o título nominativo ser
novo endosso. novamente o título na qualidade transformado em à ordem ou ao
de procurador. portador, a pedido do proprietário
Art. 914. Ressalvada cláusula § 2o Não pode o devedor opor e à sua custa.

181
Código Civil
Art. 925. Fica desonerado de em defesa de quem se causou o causado, se não provar culpa da
responsabilidade o emitente que dano (art. 188, inciso I). vítima ou força maior.
de boa-fé fizer a transferência pe-
los modos indicados nos artigos Art. 931. Ressalvados outros Art. 937. O dono de edifício ou
antecedentes. casos previstos em lei especial, construção responde pelos da-
os empresários individuais e as nos que resultarem de sua ru-
Art. 926. Qualquer negócio ou empresas respondem indepen- ína, se esta provier de falta de
medida judicial, que tenha por dentemente de culpa pelos danos reparos, cuja necessidade fosse
objeto o título, só produz efeito causados pelos produtos postos manifesta.
perante o emitente ou terceiros, em circulação. § 1o (Vetado)
uma vez feita a competente aver- § 2o (Vetado)
bação no registro do emitente. Art. 932. São também respon-
sáveis pela reparação civil: Art. 938. Aquele que habitar
I – os pais, pelos filhos meno- prédio, ou parte dele, responde
TÍTULO IX – DA res que estiverem sob sua autori- pelo dano proveniente das coisas
RESPONSABILIDADE CIVIL dade e em sua companhia; que dele caírem ou forem lança-
II – o tutor e o curador, pe- das em lugar indevido.
CAPÍTULO I – DA los pupilos e curatelados, que se
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR acharem nas mesmas condições; Art. 939. O credor que deman-
III – o empregador ou comi- dar o devedor antes de vencida
Art. 927. Aquele que, por ato ilí- tente, por seus empregados, ser- a dívida, fora dos casos em que
cito (arts. 186 e 187), causar dano a viçais e prepostos, no exercício a lei o permita, ficará obrigado a
outrem, fica obrigado a repará-lo. do trabalho que lhes competir, esperar o tempo que faltava para
Parágrafo único. Haverá obri- ou em razão dele; o vencimento, a descontar os
gação de reparar o dano, inde- IV – os donos de hotéis, hos- juros correspondentes, embora
pendentemente de culpa, nos pedarias, casas ou estabeleci- estipulados, e a pagar as custas
casos especificados em lei, ou mentos onde se albergue por di- em dobro.
quando a atividade normalmente nheiro, mesmo para fins de edu-
desenvolvida pelo autor do dano cação, pelos seus hóspedes, mo- Art. 940. Aquele que demandar
implicar, por sua natureza, risco radores e educandos; por dívida já paga, no todo ou em
para os direitos de outrem. V – os que gratuitamente hou- parte, sem ressalvar as quantias
verem participado nos produ- recebidas ou pedir mais do que
Art. 928. O incapaz responde tos do crime, até a concorrente for devido, ficará obrigado a pa-
pelos prejuízos que causar, se quantia. gar ao devedor, no primeiro caso,
as pessoas por ele responsáveis o dobro do que houver cobrado
não tiverem obrigação de fazê- Art. 933. As pessoas indicadas e, no segundo, o equivalente do
-lo ou não dispuserem de meios nos incisos I a V do artigo antece- que dele exigir, salvo se houver
suficientes. dente, ainda que não haja culpa prescrição.
Parágrafo único. A indeni- de sua parte, responderão pelos
zação prevista neste artigo, que atos praticados pelos terceiros Art. 941. As penas previstas nos
deverá ser equitativa, não terá ali referidos. arts. 939 e 940 não se aplicarão
lugar se privar do necessário o quando o autor desistir da ação
incapaz ou as pessoas que dele Art. 934. Aquele que ressarcir antes de contestada a lide, salvo
dependem. o dano causado por outrem pode ao réu o direito de haver indeniza-
reaver o que houver pago daquele ção por algum prejuízo que prove
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou por quem pagou, salvo se o cau- ter sofrido.
o dono da coisa, no caso do inciso sador do dano for descendente
II do art. 188, não forem culpados seu, absoluta ou relativamente Art. 942. Os bens do respon-
do perigo, assistir-lhes-á direito incapaz. sável pela ofensa ou violação do
à indenização do prejuízo que direito de outrem ficam sujeitos
sofreram. Art. 935. A responsabilidade à reparação do dano causado;
civil é independente da crimi- e, se a ofensa tiver mais de um
Art. 930. No caso do inciso II do nal, não se podendo questionar autor, todos responderão solida-
art. 188, se o perigo ocorrer por mais sobre a existência do fato, riamente pela reparação.
culpa de terceiro, contra este terá ou sobre quem seja o seu autor, Parágrafo único. São solida-
o autor do dano ação regressiva quando estas questões se acha- riamente responsáveis com os
para haver a importância que tiver rem decididas no juízo criminal. autores os coautores e as pessoas
ressarcido ao lesado. designadas no art. 932.
Parágrafo único. A mesma Art. 936. O dono, ou detentor, do
ação competirá contra aquele animal ressarcirá o dano por este Art. 943. O direito de exigir re-

182
Código Civil
paração e a obrigação de prestá- nização, além das despesas do I – o cárcere privado;
-la transmitem-se com a herança. tratamento e lucros cessantes II – a prisão por queixa ou de-
até ao fim da convalescença, in- núncia falsa e de má-fé;
cluirá pensão correspondente à III – a prisão ilegal.
CAPÍTULO II – DA importância do trabalho para que
INDENIZAÇÃO se inabilitou, ou da depreciação
que ele sofreu. TÍTULO X – DAS
Art. 944. A indenização mede- Parágrafo único. O prejudi- PREFERÊNCIAS E
-se pela extensão do dano. cado, se preferir, poderá exigir PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS
Parágrafo único. Se houver que a indenização seja arbitrada
excessiva desproporção entre e paga de uma só vez. Art. 955. Procede-se à declara-
a gravidade da culpa e o dano, ção de insolvência toda vez que
poderá o juiz reduzir, equitati- Art. 951. O disposto nos as dívidas excedam à importância
vamente, a indenização. arts.  948, 949 e 950 aplica-se dos bens do devedor.
ainda no caso de indenização
Art. 945. Se a vítima tiver con- devida por aquele que, no exer- Art. 956. A discussão entre os
corrido culposamente para o cício de atividade profissional, credores pode versar quer sobre a
evento danoso, a sua indenização por negligência, imprudência ou preferência entre eles disputada,
será fixada tendo-se em conta a imperícia, causar a morte do pa- quer sobre a nulidade, simulação,
gravidade de sua culpa em con- ciente, agravar-lhe o mal, causar- fraude, ou falsidade das dívidas
fronto com a do autor do dano. -lhe lesão, ou inabilitá-lo para o e contratos.
trabalho.
Art. 946. Se a obrigação for in- Art. 957. Não havendo título le-
determinada, e não houver na lei Art. 952. Havendo usurpação ou gal à preferência, terão os credo-
ou no contrato disposição fixando esbulho do alheio, além da res- res igual direito sobre os bens do
a indenização devida pelo inadim- tituição da coisa, a indenização devedor comum.
plente, apurar-se-á o valor das consistirá em pagar o valor das
perdas e danos na forma que a suas deteriorações e o devido a Art. 958. Os títulos legais de
lei processual determinar. título de lucros cessantes; faltan- preferência são os privilégios e
do a coisa, dever-se-á reembolsar os direitos reais.
Art. 947. Se o devedor não puder o seu equivalente ao prejudicado.
cumprir a prestação na espécie Parágrafo único. Para se res- Art. 959. Conservam seus res-
ajustada, substituir-se-á pelo seu tituir o equivalente, quando não pectivos direitos os credores, hi-
valor, em moeda corrente. exista a própria coisa, estimar-se- potecários ou privilegiados:
-á ela pelo seu preço ordinário e I – sobre o preço do seguro da
Art. 948. No caso de homicídio, pelo de afeição, contanto que este coisa gravada com hipoteca ou
a indenização consiste, sem ex- não se avantaje àquele. privilégio, ou sobre a indenização
cluir outras reparações: devida, havendo responsável pela
I – no pagamento das despe- Art. 953. A indenização por in- perda ou danificação da coisa;
sas com o tratamento da vítima, júria, difamação ou calúnia con- II – sobre o valor da indeniza-
seu funeral e o luto da família; sistirá na reparação do dano que ção, se a coisa obrigada a hipote-
II – na prestação de alimentos delas resulte ao ofendido. ca ou privilégio for desapropriada.
às pessoas a quem o morto os Parágrafo único. Se o ofen-
devia, levando-se em conta a du- dido não puder provar prejuízo Art. 960. Nos casos a que se
ração provável da vida da vítima. material, caberá ao juiz fixar, refere o artigo antecedente, o
equitativamente, o valor da in- devedor do seguro, ou da indeni-
Art. 949. No caso de lesão ou denização, na conformidade das zação, exonera-se pagando sem
outra ofensa à saúde, o ofen- circunstâncias do caso. oposição dos credores hipotecá-
sor indenizará o ofendido das rios ou privilegiados.
despesas do tratamento e dos Art. 954. A indenização por
lucros cessantes até ao fim da ofensa à liberdade pessoal con- Art. 961. O crédito real prefere
convalescença, além de algum sistirá no pagamento das per- ao pessoal de qualquer espécie;
outro prejuízo que o ofendido das e danos que sobrevierem o crédito pessoal privilegiado, ao
prove haver sofrido. ao ofendido, e se este não puder simples; e o privilégio especial,
provar prejuízo, tem aplicação o ao geral.
Art. 950. Se da ofensa resultar disposto no parágrafo único do
defeito pelo qual o ofendido não artigo antecedente. Art. 962. Quando concorrerem
possa exercer o seu ofício ou Parágrafo único. Conside- aos mesmos bens, e por título
profissão, ou se lhe diminua a ram-se ofensivos da liberdade igual, dois ou mais credores da
capacidade de trabalho, a inde- pessoal: mesma classe especialmente

183
Código Civil
privilegiados, haverá entre eles I – o crédito por despesa de sário far-se-á mediante requeri-
rateio proporcional ao valor dos seu funeral, feito segundo a con- mento que contenha:
respectivos créditos, se o produ- dição do morto e o costume do I – o seu nome, nacionalidade,
to não bastar para o pagamento lugar; domicílio, estado civil e, se casa-
integral de todos. II – o crédito por custas judi- do, o regime de bens;
ciais, ou por despesas com a ar- II – a firma, com a respectiva
Art. 963. O privilégio especial recadação e liquidação da massa; assinatura autógrafa que poderá
só compreende os bens sujei- III – o crédito por despesas ser substituída pela assinatu-
tos, por expressa disposição de com o luto do cônjuge sobrevivo ra autenticada com certificação
lei, ao pagamento do crédito que e dos filhos do devedor falecido, digital ou meio equivalente que
ele favorece; e o geral, todos os se foram moderadas; comprove a sua autenticidade,
bens não sujeitos a crédito real IV – o crédito por despesas ressalvado o disposto no inciso I
nem a privilégio especial. com a doença de que faleceu o do § 1o do art. 4o da Lei Comple-
devedor, no semestre anterior à mentar no 123, de 14 de dezembro
Art. 964. Têm privilégio espe- sua morte; de 2006;
cial: V – o crédito pelos gastos III – o capital;
I – sobre a coisa arrecadada necessários à mantença do de- IV – o objeto e a sede da em-
e liquidada, o credor de custas e vedor falecido e sua família, no presa.
despesas judiciais feitas com a trimestre anterior ao falecimento; § 1o Com as indicações esta-
arrecadação e liquidação; VI – o crédito pelos impostos belecidas neste artigo, a inscrição
II – sobre a coisa salvada, devidos à Fazenda Pública, no ano será tomada por termo no livro
o credor por despesas de sal- corrente e no anterior; próprio do Registro Público de
vamento; VII – o crédito pelos salários Empresas Mercantis, e obedecerá
III – sobre a coisa beneficiada, dos empregados do serviço do- a número de ordem contínuo para
o credor por benfeitorias neces- méstico do devedor, nos seus todos os empresários inscritos.
sárias ou úteis; derradeiros seis meses de vida; § 2o À margem da inscrição,
IV – sobre os prédios rústicos VIII – os demais créditos de e com as mesmas formalidades,
ou urbanos, fábricas, oficinas, ou privilégio geral. serão averbadas quaisquer mo-
quaisquer outras construções, o dificações nela ocorrentes.
credor de materiais, dinheiro, ou § 3o Caso venha a admitir
serviços para a sua edificação, LIVRO II – DO DIREITO DE sócios, o empresário individual
reconstrução, ou melhoramento; EMPRESA poderá solicitar ao Registro Pú-
V – sobre os frutos agrícolas, blico de Empresas Mercantis a
o credor por sementes, instru- TÍTULO I – DO EMPRESÁRIO transformação de seu registro
mentos e serviços à cultura, ou CAPÍTULO I – DA de empresário para registro de
à colheita; sociedade empresária, obser-
VI – sobre as alfaias e utensí- CARACTERIZAÇÃO E DA vado, no que couber, o disposto
lios de uso doméstico, nos prédios INSCRIÇÃO nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.
rústicos ou urbanos, o credor de § 4o O processo de abertu-
aluguéis, quanto às prestações do Art. 966. Considera-se empre- ra, registro, alteração e baixa do
ano corrente e do anterior; sário quem exerce profissional- microempreendedor individual
VII – sobre os exemplares da mente atividade econômica or- de que trata o art.  18-A da Lei
obra existente na massa do editor, ganizada para a produção ou a Complementar no  123, de 14 de
o autor dela, ou seus legítimos circulação de bens ou de serviços. dezembro de 2006, bem como
representantes, pelo crédito fun- Parágrafo único. Não se con- qualquer exigência para o início
dado contra aquele no contrato sidera empresário quem exerce de seu funcionamento deverão
da edição; profissão intelectual, de natureza ter trâmite especial e simplifica-
VIII – sobre o produto da co- científica, literária ou artística, do, preferentemente eletrônico,
lheita, para a qual houver con- ainda com o concurso de auxilia- opcional para o empreendedor,
corrido com o seu trabalho, e res ou colaboradores, salvo se o na forma a ser disciplinada pelo
precipuamente a quaisquer ou- exercício da profissão constituir Comitê para Gestão da Rede Na-
tros créditos, ainda que reais, o elemento de empresa. cional para a Simplificação do
trabalhador agrícola, quanto à Registro e da Legalização de Em-
dívida dos seus salários; Art. 967. É obrigatória a inscri- presas e Negócios – CGSIM, de
IX – sobre os produtos do aba- ção do empresário no Registro que trata o inciso III do art. 2o da
te, o credor por animais. Público de Empresas Mercantis mesma Lei.
da respectiva sede, antes do iní- § 5o Para fins do disposto no
Art. 965. Goza de privilégio ge- cio de sua atividade. § 4o, poderão ser dispensados o
ral, na ordem seguinte, sobre os uso da firma, com a respectiva
bens do devedor: Art. 968. A inscrição do empre- assinatura autógrafa, o capital,

184
Código Civil
requerimentos, demais assinatu- própria de empresário, se a exer- da responsabilidade pelos atos
ras, informações relativas à na- cer, responderá pelas obrigações dos gerentes nomeados.
cionalidade, estado civil e regime contraídas.
de bens, bem como remessa de Art. 976. A prova da emancipa-
documentos, na forma estabele- Art. 974. Poderá o incapaz, por ção e da autorização do incapaz,
cida pelo CGSIM. meio de representante ou devi- nos casos do art. 974, e a de even-
damente assistido, continuar a tual revogação desta, serão ins-
Art. 969. O empresário que ins- empresa antes exercida por ele critas ou averbadas no Registro
tituir sucursal, filial ou agência, enquanto capaz, por seus pais ou Público de Empresas Mercantis.
em lugar sujeito à jurisdição de pelo autor de herança. Parágrafo único. O uso da
outro Registro Público de Em- § 1o Nos casos deste artigo, nova firma caberá, conforme o
presas Mercantis, neste deverá precederá autorização judicial, caso, ao gerente; ou ao repre-
também inscrevê-la, com a prova após exame das circunstâncias sentante do incapaz; ou a este,
da inscrição originária. e dos riscos da empresa, bem quando puder ser autorizado.
Parágrafo único. Em qual- como da conveniência em con-
quer caso, a constituição do es- tinuá-la, podendo a autorização Art. 977. Faculta-se aos cônju-
tabelecimento secundário deverá ser revogada pelo juiz, ouvidos os ges contratar sociedade, entre si
ser averbada no Registro Público pais, tutores ou representantes ou com terceiros, desde que não
de Empresas Mercantis da res- legais do menor ou do interdito, tenham casado no regime da co-
pectiva sede. sem prejuízo dos direitos adqui- munhão universal de bens, ou no
ridos por terceiros. da separação obrigatória.
Art. 970. A lei assegurará trata- § 2o Não ficam sujeitos ao
mento favorecido, diferenciado e resultado da empresa os bens que Art. 978. O empresário casado
simplificado ao empresário rural o incapaz já possuía, ao tempo da pode, sem necessidade de outor-
e ao pequeno empresário, quanto sucessão ou da interdição, desde ga conjugal, qualquer que seja o
à inscrição e aos efeitos daí de- que estranhos ao acervo daquela, regime de bens, alienar os imóveis
correntes. devendo tais fatos constar do al- que integrem o patrimônio da em-
vará que conceder a autorização. presa ou gravá-los de ônus real.
Art. 971. O empresário, cuja ati- § 3o O Registro Público de
vidade rural constitua sua princi- Empresas Mercantis a cargo das Art. 979. Além de no Registro
pal profissão, pode, observadas Juntas Comerciais deverá re- Civil, serão arquivados e aver-
as formalidades de que tratam gistrar contratos ou alterações bados, no Registro Público de
o art. 968 e seus parágrafos, re- contratuais de sociedade que Empresas Mercantis, os pactos
querer inscrição no Registro Pú- envolva sócio incapaz, desde que e declarações antenupciais do
blico de Empresas Mercantis da atendidos, de forma conjunta, os empresário, o título de doação,
respectiva sede, caso em que, seguintes pressupostos: herança, ou legado, de bens clau-
depois de inscrito, ficará equi- I – o sócio incapaz não pode sulados de incomunicabilidade ou
parado, para todos os efeitos, exercer a administração da so- inalienabilidade.
ao empresário sujeito a registro. ciedade;
Parágrafo único. Aplica-se o II – o capital social deve ser Art. 980. A sentença que de-
disposto no caput deste artigo à totalmente integralizado; cretar ou homologar a separação
associação que desenvolva ati- III – o sócio relativamente judicial do empresário e o ato
vidade futebolística em caráter incapaz deve ser assistido e o de reconciliação não podem ser
habitual e profissional, caso em absolutamente incapaz deve ser opostos a terceiros, antes de ar-
que, com a inscrição, será con- representado por seus represen- quivados e averbados no Registro
siderada empresária, para todos tantes legais. Público de Empresas Mercantis.
os efeitos.
Art. 975. Se o representante ou
assistente do incapaz for pessoa TÍTULO I-A – DA
CAPÍTULO II – DA que, por disposição de lei, não EMPRESA INDIVIDUAL
CAPACIDADE puder exercer atividade de em- DE RESPONSABILIDADE
presário, nomeará, com a aprova- LIMITADA
Art. 972. Podem exercer a ativi- ção do juiz, um ou mais gerentes.
dade de empresário os que esti- § 1o Do mesmo modo será Art. 980-A. (Revogado)
verem em pleno gozo da capaci- nomeado gerente em todos os
dade civil e não forem legalmente casos em que o juiz entender ser
impedidos. conveniente.
§ 2o A aprovação do juiz não
Art. 973. A pessoa legalmente exime o representante ou assis-
impedida de exercer atividade tente do menor ou do interdito

185
Código Civil
TÍTULO II – DA SOCIEDADE constituída a sociedade segun- CAPÍTULO II – DA
do um daqueles tipos, o pedido SOCIEDADE EM CONTA DE
CAPÍTULO ÚNICO – de inscrição se subordinará, no
PARTICIPAÇÃO
DISPOSIÇÕES GERAIS que for aplicável, às normas que
regem a transformação.
Art. 981. Celebram contrato de Art. 991. Na sociedade em conta
sociedade as pessoas que reci- Art. 985. A sociedade adqui- de participação, a atividade cons-
procamente se obrigam a contri- re personalidade jurídica com titutiva do objeto social é exercida
buir, com bens ou serviços, para a inscrição, no registro próprio unicamente pelo sócio ostensivo,
o exercício de atividade econô- e na forma da lei, dos seus atos em seu nome individual e sob sua
mica e a partilha, entre si, dos constitutivos (arts. 45 e 1.150). própria e exclusiva responsabi-
resultados. lidade, participando os demais
Parágrafo único. A atividade dos resultados correspondentes.
pode restringir-se à realização SUBTÍTULO I – DA Parágrafo único. Obriga-se
de um ou mais negócios deter- SOCIEDADE NÃO perante terceiro tão somente o
minados. PERSONIFICADA sócio ostensivo; e, exclusivamen-
te perante este, o sócio partici-
Art. 982. Salvo as exceções ex- CAPÍTULO I – DA pante, nos termos do contrato
pressas, considera-se empresária SOCIEDADE EM COMUM social.
a sociedade que tem por objeto
o exercício de atividade própria Art. 986. Enquanto não inscritos Art. 992. A constituição da so-
de empresário sujeito a registro os atos constitutivos, reger-se-á ciedade em conta de participação
(art. 967); e, simples, as demais. a sociedade, exceto por ações independe de qualquer formali-
Parágrafo único. Indepen- em organização, pelo disposto dade e pode provar-se por todos
dentemente de seu objeto, con- neste Capítulo, observadas, sub- os meios de direito.
sidera-se empresária a sociedade sidiariamente e no que com ele
por ações; e, simples, a coope- forem compatíveis, as normas da Art. 993. O contrato social pro-
rativa. sociedade simples. duz efeito somente entre os só-
cios, e a eventual inscrição de seu
Art. 983. A sociedade empresá- Art. 987. Os sócios, nas relações instrumento em qualquer registro
ria deve constituir-se segundo um entre si ou com terceiros, so- não confere personalidade jurídi-
dos tipos regulados nos arts. 1.039 mente por escrito podem provar ca à sociedade.
a 1.092; a sociedade simples pode a existência da sociedade, mas Parágrafo único. Sem pre-
constituir-se de conformidade os terceiros podem prová-la de juízo do direito de fiscalizar a
com um desses tipos, e, não o qualquer modo. gestão dos negócios sociais, o
fazendo, subordina-se às normas sócio participante não pode to-
que lhe são próprias. Art. 988. Os bens e dívidas so- mar parte nas relações do sócio
Parágrafo único. Ressalvam- ciais constituem patrimônio es- ostensivo com terceiros, sob pena
-se as disposições concernentes pecial, do qual os sócios são ti- de responder solidariamente com
à sociedade em conta de partici- tulares em comum. este pelas obrigações em que
pação e à cooperativa, bem como intervier.
as constantes de leis especiais Art. 989. Os bens sociais res-
que, para o exercício de certas pondem pelos atos de gestão pra- Art. 994. A contribuição do só-
atividades, imponham a cons- ticados por qualquer dos sócios, cio participante constitui, com
tituição da sociedade segundo salvo pacto expresso limitativo a do sócio ostensivo, patrimô-
determinado tipo. de poderes, que somente terá nio especial, objeto da conta de
eficácia contra o terceiro que o participação relativa aos negó-
Art. 984. A sociedade que tenha conheça ou deva conhecer. cios sociais.
por objeto o exercício de atividade § 1o A especialização patri-
própria de empresário rural e seja Art. 990. Todos os sócios res- monial somente produz efeitos
constituída, ou transformada, de pondem solidária e ilimitada- em relação aos sócios.
acordo com um dos tipos de so- mente pelas obrigações sociais, § 2o A falência do sócio os-
ciedade empresária, pode, com as excluído do benefício de ordem, tensivo acarreta a dissolução da
formalidades do art. 968, requerer previsto no art. 1.024, aquele que sociedade e a liquidação da res-
inscrição no Registro Público de contratou pela sociedade. pectiva conta, cujo saldo consti-
Empresas Mercantis da sua sede, tuirá crédito quirografário.
caso em que, depois de inscrita, § 3o Falindo o sócio partici-
ficará equiparada, para todos os pante, o contrato social fica su-
efeitos, à sociedade empresária. jeito às normas que regulam os
Parágrafo único. Embora já efeitos da falência nos contratos

186
Seção II – Dos Direitos e

Código Civil
bilaterais do falido. VII – a participação de cada
sócio nos lucros e nas perdas; Obrigações dos Sócios
Art. 995. Salvo estipulação em VIII – se os sócios respondem,
contrário, o sócio ostensivo não ou não, subsidiariamente, pelas Art. 1.001. As obrigações dos
pode admitir novo sócio sem o obrigações sociais. sócios começam imediatamente
consentimento expresso dos Parágrafo único. É ineficaz com o contrato, se este não fixar
demais. em relação a terceiros qualquer outra data, e terminam quando, li-
pacto separado, contrário ao dis- quidada a sociedade, se extingui-
Art. 996. Aplica-se à sociedade posto no instrumento do contrato. rem as responsabilidades sociais.
em conta de participação, sub-
sidiariamente e no que com ela Art. 998. Nos trinta dias sub- Art. 1.002. O sócio não pode ser
for compatível, o disposto para sequentes à sua constituição, substituído no exercício das suas
a sociedade simples, e a sua li- a sociedade deverá requerer a funções, sem o consentimento
quidação rege-se pelas normas inscrição do contrato social no dos demais sócios, expresso em
relativas à prestação de contas, Registro Civil das Pessoas Jurí- modificação do contrato social.
na forma da lei processual. dicas do local de sua sede.
Parágrafo único. Havendo § 1o O pedido de inscrição Art. 1.003. A cessão total ou par-
mais de um sócio ostensivo, as será acompanhado do instru- cial de quota, sem a correspon-
respectivas contas serão pres- mento autenticado do contrato, dente modificação do contrato
tadas e julgadas no mesmo pro- e, se algum sócio nele houver sido social com o consentimento dos
cesso. representado por procurador, o demais sócios, não terá eficácia
da respectiva procuração, bem quanto a estes e à sociedade.
como, se for o caso, da prova de Parágrafo único. Até dois
SUBTÍTULO II – autorização da autoridade com- anos depois de averbada a mo-
DA SOCIEDADE petente. dificação do contrato, responde
PERSONIFICADA § 2o Com todas as indicações o cedente solidariamente com o
enumeradas no artigo antece- cessionário, perante a sociedade
CAPÍTULO I – DA dente, será a inscrição tomada e terceiros, pelas obrigações que
SOCIEDADE SIMPLES por termo no livro de registro tinha como sócio.
próprio, e obedecerá a número
Seção I – Do Contrato Social de ordem contínua para todas Art. 1.004. Os sócios são obri-
as sociedades inscritas. gados, na forma e prazo previs-
Art. 997. A sociedade constitui- tos, às contribuições estabeleci-
-se mediante contrato escrito, Art. 999. As modificações do das no contrato social, e aquele
particular ou público, que, além contrato social, que tenham que deixar de fazê-lo, nos trinta
de cláusulas estipuladas pelas por objeto matéria indicada no dias seguintes ao da notificação
partes, mencionará: art. 997, dependem do consen- pela sociedade, responderá pe-
I – nome, nacionalidade, es- timento de todos os sócios; as rante esta pelo dano emergente
tado civil, profissão e residência demais podem ser decididas por da mora.
dos sócios, se pessoas naturais, maioria absoluta de votos, se o Parágrafo único. Verificada a
e a firma ou a denominação, na- contrato não determinar a neces- mora, poderá a maioria dos de-
cionalidade e sede dos sócios, sidade de deliberação unânime. mais sócios preferir, à indeniza-
se jurídicas; Parágrafo único. Qualquer ção, a exclusão do sócio remisso,
II – denominação, objeto, sede modificação do contrato social ou reduzir-lhe a quota ao mon-
e prazo da sociedade; será averbada, cumprindo-se as tante já realizado, aplicando-se,
III – capital da sociedade, ex- formalidades previstas no artigo em ambos os casos, o disposto
presso em moeda corrente, po- antecedente. no § 1o do art. 1.031.
dendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de Art. 1.000. A sociedade sim- Art. 1.005. O sócio que, a título
avaliação pecuniária; ples que instituir sucursal, filial de quota social, transmitir domí-
IV – a quota de cada sócio ou agência na circunscrição de nio, posse ou uso, responde pela
no capital social, e o modo de outro Registro Civil das Pessoas evicção; e pela solvência do deve-
realizá-la; Jurídicas, neste deverá também dor, aquele que transferir crédito.
V – as prestações a que se inscrevê-la, com a prova da ins-
obriga o sócio, cuja contribuição crição originária. Art. 1.006. O sócio, cuja contri-
consista em serviços; Parágrafo único. Em qual- buição consista em serviços, não
VI – as pessoas naturais in- quer caso, a constituição da su- pode, salvo convenção em con-
cumbidas da administração da cursal, filial ou agência deverá trário, empregar-se em atividade
sociedade, e seus poderes e atri- ser averbada no Registro Civil da estranha à sociedade, sob pena
buições; respectiva sede. de ser privado de seus lucros e

187
Código Civil
dela excluído. que temporariamente, o acesso a Art. 1.016. Os administradores
cargos públicos; ou por crime fali- respondem solidariamente pe-
Art. 1.007. Salvo estipulação em mentar, de prevaricação, peita ou rante a sociedade e os terceiros
contrário, o sócio participa dos suborno, concussão, peculato; ou prejudicados, por culpa no de-
lucros e das perdas, na propor- contra a economia popular, con- sempenho de suas funções.
ção das respectivas quotas, mas tra o sistema financeiro nacional,
aquele, cuja contribuição consiste contra as normas de defesa da Art. 1.017. O administrador que,
em serviços, somente participa concorrência, contra as relações sem consentimento escrito dos
dos lucros na proporção da média de consumo, a fé pública ou a pro- sócios, aplicar créditos ou bens
do valor das quotas. priedade, enquanto perdurarem sociais em proveito próprio ou
os efeitos da condenação. de terceiros, terá de restituí-los
Art. 1.008. É nula a estipulação § 2o Aplicam-se à atividade à sociedade, ou pagar o equiva-
contratual que exclua qualquer dos administradores, no que cou- lente, com todos os lucros resul-
sócio de participar dos lucros e ber, as disposições concernentes tantes, e, se houver prejuízo, por
das perdas. ao mandato. ele também responderá.
Parágrafo único. Fica sujeito
Art. 1.009. A distribuição de lu- Art. 1.012. O administrador, no- às sanções o administrador que,
cros ilícitos ou fictícios acarreta meado por instrumento em sepa- tendo em qualquer operação inte-
responsabilidade solidária dos rado, deve averbá-lo à margem da resse contrário ao da sociedade,
administradores que a realizarem inscrição da sociedade, e, pelos tome parte na correspondente
e dos sócios que os receberem, atos que praticar, antes de re- deliberação.
conhecendo ou devendo conhe- querer a averbação, responde
cer-lhes a ilegitimidade. pessoal e solidariamente com a Art. 1.018. Ao administrador é
sociedade. vedado fazer-se substituir no
exercício de suas funções, sen-
Seção III – Da Administração Art. 1.013. A administração da do-lhe facultado, nos limites de
sociedade, nada dispondo o con- seus poderes, constituir man-
Art. 1.010. Quando, por lei ou trato social, compete separada- datários da sociedade, especifi-
pelo contrato social, competir aos mente a cada um dos sócios. cados no instrumento os atos e
sócios decidir sobre os negócios § 1o Se a administração com- operações que poderão praticar.
da sociedade, as deliberações petir separadamente a vários ad-
serão tomadas por maioria de ministradores, cada um pode im- Art. 1.019. São irrevogáveis os
votos, contados segundo o valor pugnar operação pretendida por poderes do sócio investido na ad-
das quotas de cada um. outro, cabendo a decisão aos só- ministração por cláusula expres-
§ 1o Para formação da maio- cios, por maioria de votos. sa do contrato social, salvo justa
ria absoluta são necessários vo- § 2o Responde por perdas causa, reconhecida judicialmente,
tos correspondentes a mais de e danos perante a sociedade o a pedido de qualquer dos sócios.
metade do capital. administrador que realizar opera- Parágrafo único. São revogá-
§ 2o Prevalece a decisão su- ções, sabendo ou devendo saber veis, a qualquer tempo, os pode-
fragada por maior número de só- que estava agindo em desacordo res conferidos a sócio por ato se-
cios no caso de empate, e, se este com a maioria. parado, ou a quem não seja sócio.
persistir, decidirá o juiz.
§ 3o Responde por perdas e Art. 1.014. Nos atos de compe- Art. 1.020. Os administradores
danos o sócio que, tendo em algu- tência conjunta de vários admi- são obrigados a prestar aos só-
ma operação interesse contrário nistradores, torna-se necessário cios contas justificadas de sua
ao da sociedade, participar da o concurso de todos, salvo nos administração, e apresentar-lhes
deliberação que a aprove graças casos urgentes, em que a omis- o inventário anualmente, bem
a seu voto. são ou retardo das providências como o balanço patrimonial e o
possa ocasionar dano irreparável de resultado econômico.
Art. 1.011. O administrador da ou grave.
sociedade deverá ter, no exercí- Art. 1.021. Salvo estipulação que
cio de suas funções, o cuidado e Art. 1.015. No silêncio do con- determine época própria, o sócio
a diligência que todo homem ati- trato, os administradores podem pode, a qualquer tempo, exami-
vo e probo costuma empregar na praticar todos os atos pertinentes nar os livros e documentos, e o
administração de seus próprios à gestão da sociedade; não cons- estado da caixa e da carteira da
negócios. tituindo objeto social, a onera- sociedade.
§ 1o Não podem ser adminis- ção ou a venda de bens imóveis
tradores, além das pessoas im- depende do que a maioria dos
pedidas por lei especial, os con- sócios decidir.
denados a pena que vede, ainda Parágrafo único. (Revogado)

188
Seção IV – Das Relações com

Código Civil
de sócio, liquidar-se-á sua quo- Art. 1.032. A retirada, exclusão
Terceiros ta, salvo: ou morte do sócio, não o exime,
I – se o contrato dispuser di- ou a seus herdeiros, da responsa-
Art. 1.022. A sociedade adquire ferentemente; bilidade pelas obrigações sociais
direitos, assume obrigações e II – se os sócios remanes- anteriores, até dois anos após
procede judicialmente, por meio centes optarem pela dissolução averbada a resolução da socie-
de administradores com poderes da sociedade; dade; nem nos dois primeiros ca-
especiais, ou, não os havendo, III – se, por acordo com os sos, pelas posteriores e em igual
por intermédio de qualquer ad- herdeiros, regular-se a substi- prazo, enquanto não se requerer
ministrador. tuição do sócio falecido. a averbação.

Art. 1.023. Se os bens da socie- Art. 1.029. Além dos casos pre-
dade não lhe cobrirem as dívidas, vistos na lei ou no contrato, qual-
Seção VI – Da Dissolução
respondem os sócios pelo saldo, quer sócio pode retirar-se da so-
na proporção em que participem ciedade; se de prazo indetermi- Art. 1.033. Dissolve-se a socie-
das perdas sociais, salvo cláusula nado, mediante notificação aos dade quando ocorrer:
de responsabilidade solidária. demais sócios, com antecedência I – o vencimento do prazo de
mínima de sessenta dias; se de duração, salvo se, vencido este e
Art. 1.024. Os bens particulares prazo determinado, provando ju- sem oposição de sócio, não entrar
dos sócios não podem ser execu- dicialmente justa causa. a sociedade em liquidação, caso
tados por dívidas da sociedade, Parágrafo único. Nos trinta em que se prorrogará por tempo
senão depois de executados os dias subsequentes à notificação, indeterminado;
bens sociais. podem os demais sócios optar II – o consenso unânime dos
pela dissolução da sociedade. sócios;
Art. 1.025. O sócio, admitido em III – a deliberação dos sócios,
sociedade já constituída, não se Art. 1.030. Ressalvado o dispos- por maioria absoluta, na socieda-
exime das dívidas sociais ante- to no art. 1.004 e seu parágrafo de de prazo indeterminado;
riores à admissão. único, pode o sócio ser excluído IV – (Revogado);
judicialmente, mediante iniciati- V – a extinção, na forma da
Art. 1.026. O credor particular va da maioria dos demais sócios, lei, de autorização para funcionar.
de sócio pode, na insuficiência por falta grave no cumprimento Parágrafo único. (Revogado)
de outros bens do devedor, fazer de suas obrigações, ou, ainda,
recair a execução sobre o que a por incapacidade superveniente. Art. 1.034. A sociedade pode
este couber nos lucros da socie- Parágrafo único. Será de ple- ser dissolvida judicialmente, a
dade, ou na parte que lhe tocar no direito excluído da sociedade o requerimento de qualquer dos
em liquidação. sócio declarado falido, ou aquele sócios, quando:
Parágrafo único. Se a socie- cuja quota tenha sido liquidada I – anulada a sua constituição;
dade não estiver dissolvida, pode nos termos do parágrafo único II – exaurido o fim social, ou
o credor requerer a liquidação da do art. 1.026. verificada a sua inexequibilidade.
quota do devedor, cujo valor, apu-
rado na forma do art. 1.031, será Art. 1.031. Nos casos em que a Art. 1.035. O contrato pode pre-
depositado em dinheiro, no juízo sociedade se resolver em relação ver outras causas de dissolução,
da execução, até noventa dias a um sócio, o valor da sua quota, a serem verificadas judicialmente
após aquela liquidação. considerada pelo montante efeti- quando contestadas.
vamente realizado, liquidar-se-á,
Art. 1.027. Os herdeiros do côn- salvo disposição contratual em Art. 1.036. Ocorrida a dissolu-
juge de sócio, ou o cônjuge do contrário, com base na situação ção, cumpre aos administradores
que se separou judicialmente, patrimonial da sociedade, à data providenciar imediatamente a in-
não podem exigir desde logo a da resolução, verificada em ba- vestidura do liquidante, e restrin-
parte que lhes couber na quota lanço especialmente levantado. gir a gestão própria aos negócios
social, mas concorrer à divisão § 1o O capital social sofrerá inadiáveis, vedadas novas opera-
periódica dos lucros, até que se a correspondente redução, salvo ções, pelas quais responderão
liquide a sociedade. se os demais sócios suprirem o solidária e ilimitadamente.
valor da quota. Parágrafo único. Dissolvida
§ 2o A quota liquidada será de pleno direito a sociedade, pode
Seção V – Da Resolução da paga em dinheiro, no prazo de o sócio requerer, desde logo, a
Sociedade em Relação a um noventa dias, a partir da liquida- liquidação judicial.
Sócio ção, salvo acordo, ou estipulação
contratual em contrário. Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese
Art. 1.028. No caso de morte prevista no inciso V do art. 1.033,

189
Código Civil
o Ministério Público, tão logo lhe Art. 1.040. A sociedade em Parágrafo único. Aos co-
comunique a autoridade com- nome coletivo se rege pelas manditados cabem os mesmos
petente, promoverá a liquidação normas deste Capítulo e, no que direitos e obrigações dos sócios
judicial da sociedade, se os ad- seja omisso, pelas do Capítulo da sociedade em nome coletivo.
ministradores não o tiverem feito antecedente.
nos trinta dias seguintes à perda Art. 1.047. Sem prejuízo da fa-
da autorização, ou se o sócio não Art. 1.041. O contrato deve men- culdade de participar das deli-
houver exercido a faculdade as- cionar, além das indicações refe- berações da sociedade e de lhe
segurada no parágrafo único do ridas no art. 997, a firma social. fiscalizar as operações, não pode
artigo antecedente. o comanditário praticar qualquer
Parágrafo único. Caso o Mi- Art. 1.042. A administração da ato de gestão, nem ter o nome na
nistério Público não promova a sociedade compete exclusiva- firma social, sob pena de ficar
liquidação judicial da sociedade mente a sócios, sendo o uso da sujeito às responsabilidades de
nos quinze dias subsequentes ao firma, nos limites do contrato, sócio comanditado.
recebimento da comunicação, privativo dos que tenham os ne- Parágrafo único. Pode o co-
a autoridade competente para cessários poderes. manditário ser constituído pro-
conceder a autorização nomea- curador da sociedade, para negó-
rá interventor com poderes para Art. 1.043. O credor particular cio determinado e com poderes
requerer a medida e administrar a de sócio não pode, antes de dis- especiais.
sociedade até que seja nomeado solver-se a sociedade, pretender
o liquidante. a liquidação da quota do devedor. Art. 1.048. Somente após aver-
Parágrafo único. Poderá fa- bada a modificação do contrato,
Art. 1.038. Se não estiver desig- zê-lo quando: produz efeito, quanto a terceiros,
nado no contrato social, o liqui- I – a sociedade houver sido a diminuição da quota do coman-
dante será eleito por deliberação prorrogada tacitamente; ditário, em consequência de ter
dos sócios, podendo a escolha II – tendo ocorrido prorroga- sido reduzido o capital social,
recair em pessoa estranha à so- ção contratual, for acolhida ju- sempre sem prejuízo dos credo-
ciedade. dicialmente oposição do credor, res preexistentes.
§ 1o O liquidante pode ser levantada no prazo de noventa
destituído, a todo tempo: dias, contado da publicação do Art. 1.049. O sócio comanditá-
I – se eleito pela forma pre- ato dilatório. rio não é obrigado à reposição de
vista neste artigo, mediante de- lucros recebidos de boa-fé e de
liberação dos sócios; Art. 1.044. A sociedade se dis- acordo com o balanço.
II – em qualquer caso, por solve de pleno direito por qual- Parágrafo único. Diminuído o
via judicial, a requerimento de quer das causas enumeradas no capital social por perdas superve-
um ou mais sócios, ocorrendo art. 1.033 e, se empresária, tam- nientes, não pode o comanditário
justa causa. bém pela declaração da falência. receber quaisquer lucros, antes
§ 2o A liquidação da socieda- de reintegrado aquele.
de se processa de conformidade
com o disposto no Capítulo IX, CAPÍTULO III – DA Art. 1.050. No caso de morte de
deste Subtítulo. SOCIEDADE EM COMANDITA sócio comanditário, a socieda-
SIMPLES de, salvo disposição do contrato,
continuará com os seus suces-
CAPÍTULO II – DA Art. 1.045. Na sociedade em sores, que designarão quem os
SOCIEDADE EM NOME comandita simples tomam par- represente.
COLETIVO te sócios de duas categorias: os
comanditados, pessoas físicas, Art. 1.051. Dissolve-se de pleno
Art. 1.039. Somente pessoas responsáveis solidária e ilimitada- direito a sociedade:
físicas podem tomar parte na mente pelas obrigações sociais; I – por qualquer das causas
sociedade em nome coletivo, e os comanditários, obrigados previstas no art. 1.044;
respondendo todos os sócios, somente pelo valor de sua quota. II – quando por mais de cen-
solidária e ilimitadamente, pelas Parágrafo único. O contrato to e oitenta dias perdurar a falta
obrigações sociais. deve discriminar os comandita- de uma das categorias de sócio.
Parágrafo único. Sem preju- dos e os comanditários. Parágrafo único. Na falta de
ízo da responsabilidade perante sócio comanditado, os comandi-
terceiros, podem os sócios, no Art. 1.046. Aplicam-se à socie- tários nomearão administrador
ato constitutivo, ou por unânime dade em comandita simples as provisório para praticar, durante o
convenção posterior, limitar entre normas da sociedade em nome período referido no inciso II e sem
si a responsabilidade de cada um. coletivo, no que forem compatí- assumir a condição de sócio, os
veis com as deste Capítulo. atos de administração.

190
CAPÍTULO IV – DA

Código Civil
tes somente podem ser exercidos ministradores não sócios depen-
SOCIEDADE LIMITADA pelo condômino representante, derá de aprovação da unanimida-
ou pelo inventariante do espólio de dos sócios, enquanto o capital
Seção I – Disposições de sócio falecido. não estiver integralizado, e de 2/3
Preliminares § 2o Sem prejuízo do dispos- (dois terços), no mínimo, após a
to no art. 1.052, os cond minos integralização.
Art. 1.052. Na sociedade limi- de quota indivisa respondem so-
tada, a responsabilidade de cada lidariamente pelas prestações Art. 1.062. O administrador de-
sócio é restrita ao valor de suas necessárias à sua integralização. signado em ato separado inves-
quotas, mas todos respondem tir-se-á no cargo mediante termo
solidariamente pela integraliza- Art. 1.057. Na omissão do con- de posse no livro de atas da ad-
ção do capital social. trato, o sócio pode ceder sua ministração.
§ 1o A sociedade limitada quota, total ou parcialmente, a § 1o Se o termo não for as-
pode ser constituída por 1 (uma) quem seja sócio, independente- sinado nos trinta dias seguintes
ou mais pessoas. mente de audiência dos outros, à designação, esta se tornará
§ 2o Se for unipessoal, apli- ou a estranho, se não houver opo- sem efeito.
car-se-ão ao documento de cons- sição de titulares de mais de um § 2o Nos dez dias seguintes
tituição do sócio único, no que quarto do capital social. ao da investidura, deve o adminis-
couber, as disposições sobre o Parágrafo único. A cessão trador requerer seja averbada sua
contrato social. terá eficácia quanto à sociedade nomeação no registro competen-
e terceiros, inclusive para os fins te, mencionando o seu nome, na-
Art. 1.053. A sociedade limita- do parágrafo único do art. 1.003, cionalidade, estado civil, residên-
da rege-se, nas omissões deste a partir da averbação do respec- cia, com exibição de documento
Capítulo, pelas normas da socie- tivo instrumento, subscrito pelos de identidade, o ato e a data da
dade simples. sócios anuentes. nomeação e o prazo de gestão.
Parágrafo único. O contrato
social poderá prever a regência Art. 1.058. Não integralizada a Art. 1.063. O exercício do car-
supletiva da sociedade limita- quota de sócio remisso, os outros go de administrador cessa pela
da pelas normas da sociedade sócios podem, sem prejuízo do destituição, em qualquer tem-
anônima. disposto no art. 1.004 e seu pa- po, do titular, ou pelo término
rágrafo único, tomá-la para si ou do prazo se, fixado no contrato
Art. 1.054. O contrato mencio- transferi-la a terceiros, excluindo ou em ato separado, não houver
nará, no que couber, as indica- o primitivo titular e devolvendo- recondução.
ções do art. 997, e, se for o caso, -lhe o que houver pago, deduzidos § 1o Tratando-se de sócio no-
a firma social. os juros da mora, as prestações meado administrador no contrato,
estabelecidas no contrato mais sua destituição somente se ope-
as despesas. ra pela aprovação de titulares de
Seção II – Das Quotas quotas correspondentes a mais
Art. 1.059. Os sócios serão obri- da metade do capital social, salvo
Art. 1.055. O capital social divi- gados à reposição dos lucros e disposição contratual diversa.
de-se em quotas, iguais ou desi- das quantias retiradas, a qual- § 2o A cessação do exercício
guais, cabendo uma ou diversas quer título, ainda que autorizados do cargo de administrador deve
a cada sócio. pelo contrato, quando tais lucros ser averbada no registro com-
§ 1o Pela exata estimação de ou quantia se distribuírem com petente, mediante requerimento
bens conferidos ao capital so- prejuízo do capital. apresentado nos dez dias seguin-
cial respondem solidariamente tes ao da ocorrência.
todos os sócios, até o prazo de § 3o A renúncia de adminis-
cinco anos da data do registro
Seção III – Da Administração trador torna-se eficaz, em relação
da sociedade. à sociedade, desde o momento
§ 2o É vedada contribuição Art. 1.060. A sociedade limitada em que esta toma conhecimento
que consista em prestação de é administrada por uma ou mais da comunicação escrita do renun-
serviços. pessoas designadas no contrato ciante; e, em relação a terceiros,
social ou em ato separado. após a averbação e publicação.
Art. 1.056. A quota é indivisível Parágrafo único. A adminis-
em relação à sociedade, salvo tração atribuída no contrato a to- Art. 1.064. O uso da firma ou
para efeito de transferência, caso dos os sócios não se estende de denominação social é privativo
em que se observará o disposto pleno direito aos que posterior- dos administradores que tenham
no artigo seguinte. mente adquiram essa qualidade. os necessários poderes.
§ 1o No caso de condomínio
de quota, os direitos a ela ineren- Art. 1.061. A designação de ad- Art. 1.065. Ao término de cada

191
Código Civil
exercício social, proceder-se-á deveres seguintes: administração;
à elaboração do inventário, do I – examinar, pelo menos tri- II – a designação dos admi-
balanço patrimonial e do balanço mestralmente, os livros e papéis nistradores, quando feita em ato
de resultado econômico. da sociedade e o estado da caixa separado;
e da carteira, devendo os adminis- III – a destituição dos admi-
tradores ou liquidantes prestar- nistradores;
Seção IV – Do Conselho -lhes as informações solicitadas; IV – o modo de sua remune-
Fiscal II – lavrar no livro de atas e ração, quando não estabelecido
pareceres do conselho fiscal o no contrato;
Art. 1.066. Sem prejuízo dos po- resultado dos exames referidos V – a modificação do con-
deres da assembleia dos sócios, no inciso I deste artigo; trato social;
pode o contrato instituir conselho III – exarar no mesmo livro e VI – a incorporação, a fusão
fiscal composto de três ou mais apresentar à assembleia anual e a dissolução da sociedade, ou a
membros e respectivos suplen- dos sócios parecer sobre os ne- cessação do estado de liquidação;
tes, sócios ou não, residentes no gócios e as operações sociais VII – a nomeação e destitui-
País, eleitos na assembleia anual do exercício em que servirem, ção dos liquidantes e o julgamen-
prevista no art. 1.078. tomando por base o balanço pa- to das suas contas;
§ 1o Não podem fazer parte trimonial e o de resultado eco- VIII – o pedido de concordata.
do conselho fiscal, além dos ine- nômico;
legíveis enumerados no §  1o do IV – denunciar os erros, frau- Art. 1.072. As deliberações dos
art. 1.011, os membros dos demais des ou crimes que descobrirem, sócios, obedecido o disposto no
órgãos da sociedade ou de outra sugerindo providências úteis à art. 1.010, serão tomadas em reu-
por ela controlada, os emprega- sociedade; nião ou em assembleia, confor-
dos de quaisquer delas ou dos V – convocar a assembleia me previsto no contrato social,
respectivos administradores, o dos sócios se a diretoria retar- devendo ser convocadas pelos
cônjuge ou parente destes até o dar por mais de trinta dias a sua administradores nos casos pre-
terceiro grau. convocação anual, ou sempre vistos em lei ou no contrato.
§ 2o É assegurado aos sócios que ocorram motivos graves e § 1o A deliberação em assem-
minoritários, que representarem urgentes; bleia será obrigatória se o número
pelo menos um quinto do capital VI – praticar, durante o perío- dos sócios for superior a dez.
social, o direito de eleger, sepa- do da liquidação da sociedade, os § 2o Dispensam-se as for-
radamente, um dos membros do atos a que se refere este artigo, malidades de convocação previs-
conselho fiscal e o respectivo tendo em vista as disposições es- tas no § 3o do art. 1.152, quando
suplente. peciais reguladoras da liquidação. todos os sócios comparecerem
ou se declararem, por escrito,
Art. 1.067. O membro ou suplen- Art. 1.070. As atribuições e cientes do local, data, hora e or-
te eleito, assinando termo de pos- poderes conferidos pela lei ao dem do dia.
se lavrado no livro de atas e pare- conselho fiscal não podem ser § 3o A reunião ou a assem-
ceres do conselho fiscal, em que outorgados a outro órgão da so- bleia tornam-se dispensáveis
se mencione o seu nome, nacio- ciedade, e a responsabilidade de quando todos os sócios decidi-
nalidade, estado civil, residência e seus membros obedece à regra rem, por escrito, sobre a matéria
a data da escolha, ficará investido que define a dos administradores que seria objeto delas.
nas suas funções, que exercerá, (art. 1.016). § 4o No caso do inciso VIII
salvo cessação anterior, até a Parágrafo único. O conselho do artigo antecedente, os admi-
subsequente assembleia anual. fiscal poderá escolher para assis- nistradores, se houver urgência
Parágrafo único. Se o termo ti-lo no exame dos livros, dos ba- e com autorização de titulares
não for assinado nos trinta dias lanços e das contas, contabilista de mais da metade do capital so-
seguintes ao da eleição, esta se legalmente habilitado, mediante cial, podem requerer concordata
tornará sem efeito. remuneração aprovada pela as- preventiva.
sembleia dos sócios. § 5o As deliberações toma-
Art. 1.068. A remuneração dos das de conformidade com a lei
membros do conselho fiscal será e o contrato vinculam todos os
fixada, anualmente, pela assem-
Seção V – Das Deliberações sócios, ainda que ausentes ou
bleia dos sócios que os eleger. dos Sócios dissidentes.
§ 6o Aplica-se às reuniões
Art. 1.069. Além de outras atri- Art. 1.071. Dependem da delibe- dos sócios, nos casos omissos no
buições determinadas na lei ou ração dos sócios, além de outras contrato, o disposto na presente
no contrato social, aos membros matérias indicadas na lei ou no Seção sobre a assembleia.
do conselho fiscal incumbem, contrato:
individual ou conjuntamente, os I – a aprovação das contas da Art. 1.073. A reunião ou a as-

192
Código Civil
sembleia podem também ser I – pelos votos corresponden- de responsabilidade os membros
convocadas: tes, no mínimo, a três quartos do da administração e, se houver, os
I – por sócio, quando os ad- capital social, nos casos previstos do conselho fiscal.
ministradores retardarem a con- nos incisos V e VI do art. 1.071; § 4o Extingue-se em dois
vocação, por mais de sessenta II – pelos votos corresponden- anos o direito de anular a apro-
dias, nos casos previstos em lei tes a mais de metade do capital vação a que se refere o parágrafo
ou no contrato, ou por titulares social, nos casos previstos nos antecedente.
de mais de um quinto do capital, incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071;
quando não atendido, no prazo de III – pela maioria de votos Art. 1.079. Aplica-se às reuni-
oito dias, pedido de convocação dos presentes, nos demais casos ões dos sócios, nos casos omis-
fundamentado, com indicação previstos na lei ou no contrato, sos no contrato, o estabelecido
das matérias a serem tratadas; se este não exigir maioria mais nesta Seção sobre a assembleia,
II – pelo conselho fiscal, se elevada. obedecido o disposto no § 1o do
houver, nos casos a que se refere art. 1.072.
o inciso V do art. 1.069. Art. 1.077. Quando houver mo-
dificação do contrato, fusão da Art. 1.080. As deliberações in-
Art. 1.074. A assembleia dos só- sociedade, incorporação de ou- fringentes do contrato ou da lei
cios instala-se com a presença, tra, ou dela por outra, terá o sócio tornam ilimitada a responsabili-
em primeira convocação, de titu- que dissentiu o direito de retirar- dade dos que expressamente as
lares de no mínimo três quartos -se da sociedade, nos trinta dias aprovaram.
do capital social, e, em segunda, subsequentes à reunião, aplican-
com qualquer número. do-se, no silêncio do contrato Art. 1.080-A. O sócio poderá
§ 1o O sócio pode ser repre- social antes vigente, o disposto participar e votar a distância em
sentado na assembleia por outro no art. 1.031. reunião ou em assembleia, nos
sócio, ou por advogado, mediante termos do regulamento do órgão
outorga de mandato com espe- Art. 1.078. A assembleia dos só- competente do Poder Executivo
cificação dos atos autorizados, cios deve realizar-se ao menos federal.
devendo o instrumento ser levado uma vez por ano, nos quatro me- Parágrafo único. A reunião ou
a registro, juntamente com a ata. ses seguintes ao término do exer- a assembleia poderá ser realizada
§ 2o Nenhum sócio, por si cício social, com o objetivo de: de forma digital, respeitados os
ou na condição de mandatário, I – tomar as contas dos ad- direitos legalmente previstos de
pode votar matéria que lhe diga ministradores e deliberar sobre participação e de manifestação
respeito diretamente. o balanço patrimonial e o de re- dos sócios e os demais requisitos
sultado econômico; regulamentares.
Art. 1.075. A assembleia será II – designar administradores,
presidida e secretariada por só- quando for o caso;
cios escolhidos entre os presen- III – tratar de qualquer ou-
Seção VI – Do Aumento e da
tes. tro assunto constante da ordem Redução do Capital
§ 1o Dos trabalhos e delibe- do dia.
rações será lavrada, no livro de § 1o Até trinta dias antes da Art. 1.081. Ressalvado o dispos-
atas da assembleia, ata assinada data marcada para a assembleia, to em lei especial, integralizadas
pelos membros da mesa e por os documentos referidos no inci- as quotas, pode ser o capital au-
sócios participantes da reunião, so I deste artigo devem ser pos- mentado, com a correspondente
quantos bastem à validade das tos, por escrito, e com a prova do modificação do contrato.
deliberações, mas sem prejuízo respectivo recebimento, à dispo- § 1o Até trinta dias após a
dos que queiram assiná-la. sição dos sócios que não exerçam deliberação, terão os sócios pre-
§ 2o Cópia da ata autenticada a administração. ferência para participar do au-
pelos administradores, ou pela § 2o Instalada a assembleia, mento, na proporção das quotas
mesa, será, nos vinte dias subse- proceder-se-á à leitura dos do- de que sejam titulares.
quentes à reunião, apresentada cumentos referidos no parágra- § 2o À cessão do direito de
ao Registro Público de Empresas fo antecedente, os quais serão preferência, aplica-se o disposto
Mercantis para arquivamento e submetidos, pelo presidente, a no caput do art. 1.057.
averbação. discussão e votação, nesta não § 3o Decorrido o prazo da
§ 3o Ao sócio, que a solicitar, podendo tomar parte os membros preferência, e assumida pelos
será entregue cópia autenticada da administração e, se houver, os sócios, ou por terceiros, a totali-
da ata. do conselho fiscal. dade do aumento, haverá reunião
§ 3o A aprovação, sem reser- ou assembleia dos sócios, para
Art. 1.076. Ressalvado o dispos- va, do balanço patrimonial e do que seja aprovada a modificação
to no art. 1.061, as deliberações de resultado econômico, salvo do contrato.
dos sócios serão tomadas: erro, dolo ou simulação, exonera

193
Código Civil
Art. 1.082. Pode a sociedade de atos de inegável gravidade, Art. 1.091. Somente o acionista
reduzir o capital, mediante a poderá excluí-los da sociedade, tem qualidade para administrar a
correspondente modificação do mediante alteração do contrato sociedade e, como diretor, res-
contrato: social, desde que prevista neste ponde subsidiária e ilimitadamen-
I – depois de integralizado, a exclusão por justa causa. te pelas obrigações da sociedade.
se houver perdas irreparáveis; Parágrafo único. Ressalvado § 1o Se houver mais de um
II – se excessivo em relação o caso em que haja apenas dois diretor, serão solidariamente res-
ao objeto da sociedade. sócios na sociedade, a exclusão ponsáveis, depois de esgotados
de um sócio somente poderá ser os bens sociais.
Art. 1.083. No caso do inciso I determinada em reunião ou as- § 2o Os diretores serão no-
do artigo antecedente, a redução sembleia especialmente convoca- meados no ato constitutivo da so-
do capital será realizada com a da para esse fim, ciente o acusado ciedade, sem limitação de tempo,
diminuição proporcional do valor em tempo hábil para permitir seu e somente poderão ser destituí-
nominal das quotas, tornando-se comparecimento e o exercício do dos por deliberação de acionistas
efetiva a partir da averbação, no direito de defesa. que representem no mínimo dois
Registro Público de Empresas terços do capital social.
Mercantis, da ata da assembleia Art. 1.086. Efetuado o registro § 3o O diretor destituído ou
que a tenha aprovado. da alteração contratual, aplicar- exonerado continua, durante dois
-se-á o disposto nos arts.  1.031 anos, responsável pelas obriga-
Art. 1.084. No caso do inciso II e 1.032. ções sociais contraídas sob sua
do art. 1.082, a redução do capital administração.
será feita restituindo-se parte do
valor das quotas aos sócios, ou
Seção VIII – Da Dissolução Art. 1.092. A assembleia geral
dispensando-se as prestações não pode, sem o consentimento
ainda devidas, com diminuição Art. 1.087. A sociedade dissolve- dos diretores, mudar o objeto
proporcional, em ambos os ca- -se, de pleno direito, por qualquer essencial da sociedade, prorro-
sos, do valor nominal das quotas. das causas previstas no art. 1.044. gar-lhe o prazo de duração, au-
§ 1o No prazo de noventa mentar ou diminuir o capital so-
dias, contado da data da publi- cial, criar debêntures, ou partes
cação da ata da assembleia que CAPÍTULO V – DA beneficiárias.
aprovar a redução, o credor qui- SOCIEDADE ANÔNIMA
rografário, por título líquido ante-
Seção Única – Da CAPÍTULO VII – DA
rior a essa data, poderá opor-se
ao deliberado. Caracterização SOCIEDADE COOPERATIVA
§ 2o A redução somente se
tornará eficaz se, no prazo esta- Art. 1.088. Na sociedade anô- Art. 1.093. A sociedade coope-
belecido no parágrafo antece- nima ou companhia, o capital rativa reger-se-á pelo disposto
dente, não for impugnada, ou se divide-se em ações, obrigando-se no presente Capítulo, ressalvada
provado o pagamento da dívida cada sócio ou acionista somente a legislação especial.
ou o depósito judicial do respec- pelo preço de emissão das ações
tivo valor. que subscrever ou adquirir. Art. 1.094. São características
§ 3o Satisfeitas as condições da sociedade cooperativa:
estabelecidas no parágrafo ante- Art. 1.089. A sociedade anônima I – variabilidade, ou dispensa
cedente, proceder-se-á à aver- rege-se por lei especial, aplican- do capital social;
bação, no Registro Público de do-se-lhe, nos casos omissos, as II – concurso de sócios em
Empresas Mercantis, da ata que disposições deste Código. número mínimo necessário a
tenha aprovado a redução. compor a administração da so-
ciedade, sem limitação de nú-
CAPÍTULO VI – DA mero máximo;
Seção VII – Da Resolução SOCIEDADE EM COMANDITA III – limitação do valor da
da Sociedade em Relação a POR AÇÕES soma de quotas do capital so-
Sócios Minoritários cial que cada sócio poderá tomar;
Art. 1.090. A sociedade em co- IV – intransferibilidade das
Art. 1.085. Ressalvado o dispos- mandita por ações tem o capital quotas do capital a terceiros es-
to no art. 1.030, quando a maio- dividido em ações, regendo-se tranhos à sociedade, ainda que
ria dos sócios, representativa de pelas normas relativas à socie- por herança;
mais da metade do capital social, dade anônima, sem prejuízo das V – quórum, para a assem-
entender que um ou mais sócios modificações constantes deste bleia geral funcionar e deliberar,
estão pondo em risco a conti- Capítulo, e opera sob firma ou fundado no número de sócios
nuidade da empresa, em virtude denominação. presentes à reunião, e não no

194
Código Civil
capital social representado; referido no inciso antecedente, quer que estejam;
VI – direito de cada sócio a esteja em poder de outra, me- III – proceder, nos quinze dias
um só voto nas deliberações, te- diante ações ou quotas possuídas seguintes ao da sua investidura
nha ou não capital a sociedade, e por sociedades ou sociedades por e com a assistência, sempre que
qualquer que seja o valor de sua esta já controladas. possível, dos administradores, à
participação; elaboração do inventário e do ba-
VII – distribuição dos resulta- Art. 1.099. Diz-se coligada ou lanço geral do ativo e do passivo;
dos, proporcionalmente ao valor filiada a sociedade de cujo capi- IV – ultimar os negócios da
das operações efetuadas pelo tal outra sociedade participa com sociedade, realizar o ativo, pa-
sócio com a sociedade, podendo dez por cento ou mais, do capital gar o passivo e partilhar o re-
ser atribuído juro fixo ao capital da outra, sem controlá-la. manescente entre os sócios ou
realizado; acionistas;
VIII – indivisibilidade do fundo Art. 1.100. É de simples partici- V – exigir dos quotistas, quan-
de reserva entre os sócios, ainda pação a sociedade de cujo capital do insuficiente o ativo à solução
que em caso de dissolução da outra sociedade possua menos do passivo, a integralização de
sociedade. de dez por cento do capital com suas quotas e, se for o caso, as
direito de voto. quantias necessárias, nos limites
Art. 1.095. Na sociedade co- da responsabilidade de cada um e
operativa, a responsabilidade Art. 1.101. Salvo disposição es- proporcionalmente à respectiva
dos sócios pode ser limitada ou pecial de lei, a sociedade não participação nas perdas, repartin-
ilimitada. pode participar de outra, que seja do-se, entre os sócios solventes
§ 1o É limitada a responsa- sua sócia, por montante supe- e na mesma proporção, o devido
bilidade na cooperativa em que rior, segundo o balanço, ao das pelo insolvente;
o sócio responde somente pelo próprias reservas, excluída a re- VI – convocar assembleia dos
valor de suas quotas e pelo pre- serva legal. quotistas, cada seis meses, para
juízo verificado nas operações Parágrafo único. Aprovado apresentar relatório e balanço
sociais, guardada a proporção o balanço em que se verifique do estado da liquidação, pres-
de sua participação nas mesmas ter sido excedido esse limite, a tando conta dos atos praticados
operações. sociedade não poderá exercer o durante o semestre, ou sempre
§ 2o É ilimitada a responsa- direito de voto correspondente que necessário;
bilidade na cooperativa em que às ações ou quotas em excesso, VII – confessar a falência da
o sócio responde solidária e ili- as quais devem ser alienadas nos sociedade e pedir concordata,
mitadamente pelas obrigações cento e oitenta dias seguintes de acordo com as formalidades
sociais. àquela aprovação. prescritas para o tipo de socie-
dade liquidanda;
Art. 1.096. No que a lei for omis- VIII – finda a liquidação, apre-
sa, aplicam-se as disposições CAPÍTULO IX – DA sentar aos sócios o relatório da
referentes à sociedade simples, LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE liquidação e as suas contas finais;
resguardadas as características IX – averbar a ata da reunião
estabelecidas no art. 1.094. Art. 1.102. Dissolvida a socie- ou da assembleia, ou o instrumen-
dade e nomeado o liquidante na to firmado pelos sócios, que con-
forma do disposto neste Livro, siderar encerrada a liquidação.
CAPÍTULO VIII – DAS procede-se à sua liquidação, de Parágrafo único. Em todos
SOCIEDADES COLIGADAS conformidade com os preceitos os atos, documentos ou publi-
deste Capítulo, ressalvado o dis- cações, o liquidante empregará
Art. 1.097. Consideram-se co- posto no ato constitutivo ou no a firma ou denominação social
ligadas as sociedades que, em instrumento da dissolução. sempre seguida da cláusula “em
suas relações de capital, são con- Parágrafo único. O liquidan- liquidação” e de sua assinatura
troladas, filiadas, ou de simples te, que não seja administrador da individual, com a declaração de
participação, na forma dos artigos sociedade, investir-se-á nas fun- sua qualidade.
seguintes. ções, averbada a sua nomeação
no registro próprio. Art. 1.104. As obrigações e a
Art. 1.098. É controlada: responsabilidade do liquidante
I – a sociedade de cujo capital Art. 1.103. Constituem deveres regem-se pelos preceitos pecu-
outra sociedade possua a maioria do liquidante: liares às dos administradores da
dos votos nas deliberações dos I – averbar e publicar a ata, sociedade liquidanda.
quotistas ou da assembleia geral sentença ou instrumento de dis-
e o poder de eleger a maioria dos solução da sociedade; Art. 1.105. Compete ao liquidan-
administradores; II – arrecadar os bens, livros e te representar a sociedade e pra-
II – a sociedade cujo controle, documentos da sociedade, onde ticar todos os atos necessários à

195
Código Civil
sua liquidação, inclusive alienar de perdas e danos. respectivos tipos.
bens móveis ou imóveis, transigir,
receber e dar quitação. Art. 1.111. No caso de liquidação Art. 1.117. A deliberação dos só-
Parágrafo único. Sem estar judicial, será observado o dispos- cios da sociedade incorporada
expressamente autorizado pelo to na lei processual. deverá aprovar as bases da ope-
contrato social, ou pelo voto da ração e o projeto de reforma do
maioria dos sócios, não pode o Art. 1.112. No curso de liquidação ato constitutivo.
liquidante gravar de ônus reais judicial, o juiz convocará, se ne- § 1o A sociedade que houver
os móveis e imóveis, contrair cessário, reunião ou assembleia de ser incorporada tomará conhe-
empréstimos, salvo quando in- para deliberar sobre os interes- cimento desse ato, e, se o aprovar,
dispensáveis ao pagamento de ses da liquidação, e as presidi- autorizará os administradores a
obrigações inadiáveis, nem pros- rá, resolvendo sumariamente as praticar o necessário à incor-
seguir, embora para facilitar a questões suscitadas. poração, inclusive a subscrição
liquidação, na atividade social. Parágrafo único. As atas das em bens pelo valor da diferença
assembleias serão, em cópia au- que se verificar entre o ativo e
Art. 1.106. Respeitados os direi- têntica, apensadas ao processo o passivo.
tos dos credores preferenciais, judicial. § 2o A deliberação dos só-
pagará o liquidante as dívidas cios da sociedade incorporadora
sociais proporcionalmente, sem compreenderá a nomeação dos
distinção entre vencidas e vin- CAPÍTULO X – DA peritos para a avaliação do patri-
cendas, mas, em relação a estas, TRANSFORMAÇÃO, DA mônio líquido da sociedade, que
com desconto. INCORPORAÇÃO, DA tenha de ser incorporada.
Parágrafo único. Se o ativo FUSÃO E DA CISÃO DAS
for superior ao passivo, pode o SOCIEDADES Art. 1.118. Aprovados os atos da
liquidante, sob sua responsabili- incorporação, a incorporadora
dade pessoal, pagar integralmen- Art. 1.113. O ato de transforma- declarará extinta a incorporada,
te as dívidas vencidas. ção independe de dissolução ou e promoverá a respectiva aver-
liquidação da sociedade, e obede- bação no registro próprio.
Art. 1.107. Os sócios podem re- cerá aos preceitos reguladores da
solver, por maioria de votos, an- constituição e inscrição próprios Art. 1.119. A fusão determina a
tes de ultimada a liquidação, mas do tipo em que vai converter-se. extinção das sociedades que se
depois de pagos os credores, que unem, para formar sociedade
o liquidante faça rateios por ante- Art. 1.114. A transformação de- nova, que a elas sucederá nos
cipação da partilha, à medida em pende do consentimento de todos direitos e obrigações.
que se apurem os haveres sociais. os sócios, salvo se prevista no ato
constitutivo, caso em que o dis- Art. 1.120. A fusão será decidi-
Art. 1.108. Pago o passivo e par- sidente poderá retirar-se da so- da, na forma estabelecida para
tilhado o remanescente, convo- ciedade, aplicando-se, no silêncio os respectivos tipos, pelas so-
cará o liquidante assembleia dos do estatuto ou do contrato social, ciedades que pretendam unir-se.
sócios para a prestação final de o disposto no art. 1.031. § 1o Em reunião ou assem-
contas. bleia dos sócios de cada socie-
Art. 1.115. A transformação não dade, deliberada a fusão e apro-
Art. 1.109. Aprovadas as con- modificará nem prejudicará, em vado o projeto do ato constitutivo
tas, encerra-se a liquidação, e qualquer caso, os direitos dos da nova sociedade, bem como o
a sociedade se extingue, ao ser credores. plano de distribuição do capital
averbada no registro próprio a Parágrafo único. A falên- social, serão nomeados os peritos
ata da assembleia. cia da sociedade transformada para a avaliação do patrimônio da
Parágrafo único. O dissidente somente produzirá efeitos em sociedade.
tem o prazo de trinta dias, a con- relação aos sócios que, no tipo § 2o Apresentados os laudos,
tar da publicação da ata, devida- anterior, a eles estariam sujeitos, os administradores convocarão
mente averbada, para promover se o pedirem os titulares de cré- reunião ou assembleia dos sócios
a ação que couber. ditos anteriores à transformação, para tomar conhecimento deles,
e somente a estes beneficiará. decidindo sobre a constituição
Art. 1.110. Encerrada a liquida- definitiva da nova sociedade.
ção, o credor não satisfeito só Art. 1.116. Na incorporação, uma § 3o É vedado aos sócios vo-
terá direito a exigir dos sócios, ou várias sociedades são absor- tar o laudo de avaliação do pa-
individualmente, o pagamento do vidas por outra, que lhes sucede trimônio da sociedade de que
seu crédito, até o limite da soma em todos os direitos e obriga- façam parte.
por eles recebida em partilha, e a ções, devendo todas aprová-la,
propor contra o liquidante ação na forma estabelecida para os Art. 1.121. Constituída a nova

196
Código Civil
sociedade, aos administradores no seu estatuto. autorização, cumprirá à socieda-
incumbe fazer inscrever, no re- de publicar os atos referidos nos
gistro próprio da sede, os atos arts. 1.128 e 1.129, em trinta dias,
relativos à fusão.
Seção II – Da Sociedade no órgão oficial da União, cujo
Nacional exemplar representará prova para
Art. 1.122. Até noventa dias após inscrição, no registro próprio, dos
publicados os atos relativos à in- Art. 1.126. É nacional a socieda- atos constitutivos da sociedade.
corporação, fusão ou cisão, o cre- de organizada de conformidade Parágrafo único. A sociedade
dor anterior, por ela prejudicado, com a lei brasileira e que tenha no promoverá, também no órgão ofi-
poderá promover judicialmente a País a sede de sua administração. cial da União e no prazo de trinta
anulação deles. Parágrafo único. Quando a lei dias, a publicação do termo de
§ 1o A consignação em pa- exigir que todos ou alguns sócios inscrição.
gamento prejudicará a anulação sejam brasileiros, as ações da
pleiteada. sociedade anônima revestirão, Art. 1.132. As sociedades anôni-
§ 2o Sendo ilíquida a dívida, no silêncio da lei, a forma nomi- mas nacionais, que dependam de
a sociedade poderá garantir-lhe nativa. Qualquer que seja o tipo autorização do Poder Executivo
a execução, suspendendo-se o da sociedade, na sua sede fica- para funcionar, não se consti-
processo de anulação. rá arquivada cópia autêntica do tuirão sem obtê-la, quando seus
§ 3o Ocorrendo, no prazo documento comprobatório da fundadores pretenderem recor-
deste artigo, a falência da so- nacionalidade dos sócios. rer a subscrição pública para a
ciedade incorporadora, da socie- formação do capital.
dade nova ou da cindida, qualquer Art. 1.127. Não haverá mudança § 1o Os fundadores deverão
credor anterior terá direito a pe- de nacionalidade de sociedade juntar ao requerimento cópias
dir a separação dos patrimônios, brasileira sem o consentimento autênticas do projeto do estatuto
para o fim de serem os créditos unânime dos sócios ou acionistas. e do prospecto.
pagos pelos bens das respecti- § 2o Obtida a autorização e
vas massas. Art. 1.128. O requerimento de constituída a sociedade, proce-
autorização de sociedade na- der-se-á à inscrição dos seus atos
cional deve ser acompanhado de constitutivos.
CAPÍTULO XI – DA cópia do contrato, assinada por
SOCIEDADE DEPENDENTE todos os sócios, ou, tratando-se Art. 1.133. Dependem de apro-
DE AUTORIZAÇÃO de sociedade anônima, de cópia, vação as modificações do con-
autenticada pelos fundadores, trato ou do estatuto de sociedade
Seção I – Disposições Gerais dos documentos exigidos pela sujeita a autorização do Poder
lei especial. Executivo, salvo se decorrerem
Art. 1.123. A sociedade que de- Parágrafo único. Se a socie- de aumento do capital social, em
penda de autorização do Poder dade tiver sido constituída por virtude de utilização de reservas
Executivo para funcionar reger- escritura pública, bastará juntar- ou reavaliação do ativo.
-se-á por este título, sem prejuízo -se ao requerimento a respectiva
do disposto em lei especial. certidão.
Parágrafo único. A compe-
Seção III – Da Sociedade
tência para a autorização será Art. 1.129. Ao Poder Executivo é Estrangeira
sempre do Poder Executivo fe- facultado exigir que se procedam
deral. a alterações ou aditamento no Art. 1.134. A sociedade estran-
contrato ou no estatuto, devendo geira, qualquer que seja o seu
Art. 1.124. Na falta de prazo esti- os sócios, ou, tratando-se de so- objeto, não pode, sem autorização
pulado em lei ou em ato do poder ciedade anônima, os fundadores, do Poder Executivo, funcionar no
público, será considerada caduca cumprir as formalidades legais País, ainda que por estabeleci-
a autorização se a sociedade não para revisão dos atos constitu- mentos subordinados, podendo,
entrar em funcionamento nos tivos, e juntar ao processo pro- todavia, ressalvados os casos
doze meses seguintes à respec- va regular. expressos em lei, ser acionista
tiva publicação. de sociedade anônima brasileira.
Art. 1.130. Ao Poder Executivo é § 1o Ao requerimento de au-
Art. 1.125. Ao Poder Executivo facultado recusar a autorização, torização devem juntar-se:
é facultado, a qualquer tempo, se a sociedade não atender às I – prova de se achar a socie-
cassar a autorização concedida condições econômicas, finan- dade constituída conforme a lei
a sociedade nacional ou estran- ceiras ou jurídicas especifica- de seu país;
geira que infringir disposição de das em lei. II – inteiro teor do contrato
ordem pública ou praticar atos ou do estatuto;
contrários aos fins declarados Art. 1.131. Expedido o decreto de III – relação dos membros de

197
Código Civil
todos os órgãos da administração sede da sociedade no estrangeiro; econômico das sucursais, filiais
da sociedade, com nome, nacio- II – lugar da sucursal, filial ou ou agências existentes no País.
nalidade, profissão, domicílio e, agência, no País;
salvo quanto a ações ao portador, III – data e número do decreto Art. 1.141. Mediante autorização
o valor da participação de cada de autorização; do Poder Executivo, a sociedade
um no capital da sociedade; IV – capital destinado às ope- estrangeira admitida a funcio-
IV – cópia do ato que auto- rações no País; nar no País pode nacionalizar-
rizou o funcionamento no Brasil V – individuação do seu re- -se, transferindo sua sede para
e fixou o capital destinado às presentante permanente. o Brasil.
operações no território nacional; § 3o Inscrita a sociedade, § 1o Para o fim previsto neste
V – prova de nomeação do promover-se-á a publicação de- artigo, deverá a sociedade, por
representante no Brasil, com po- terminada no parágrafo único seus representantes, oferecer,
deres expressos para aceitar as do art. 1.131. com o requerimento, os docu-
condições exigidas para a auto- mentos exigidos no art. 1.134, e
rização; Art. 1.137. A sociedade estran- ainda a prova da realização do
VI – último balanço. geira autorizada a funcionar fica- capital, pela forma declarada no
§ 2o Os documentos serão rá sujeita às leis e aos tribunais contrato, ou no estatuto, e do
autenticados, de conformidade brasileiros, quanto aos atos ou ato em que foi deliberada a na-
com a lei nacional da sociedade operações praticados no Brasil. cionalização.
requerente, legalizados no consu- Parágrafo único. A sociedade § 2o O Poder Executivo pode-
lado brasileiro da respectiva sede estrangeira funcionará no territó- rá impor as condições que julgar
e acompanhados de tradução em rio nacional com o nome que tiver convenientes à defesa dos inte-
vernáculo. em seu país de origem, podendo resses nacionais.
acrescentar as palavras “do Brasil” § 3o Aceitas as condições
Art. 1.135. É facultado ao Po- ou “para o Brasil”. pelo representante, proceder-se-
der Executivo, para conceder a -á, após a expedição do decreto
autorização, estabelecer condi- Art. 1.138. A sociedade estran- de autorização, à inscrição da
ções convenientes à defesa dos geira autorizada a funcionar é sociedade e publicação do res-
interesses nacionais. obrigada a ter, permanentemen- pectivo termo.
Parágrafo único. Aceitas as te, representante no Brasil, com
condições, expedirá o Poder Exe- poderes para resolver quaisquer
cutivo decreto de autorização, questões e receber citação judi- TÍTULO III – DO
do qual constará o montante de cial pela sociedade. ESTABELECIMENTO
capital destinado às operações Parágrafo único. O represen-
no País, cabendo à sociedade tante somente pode agir perante CAPÍTULO ÚNICO –
promover a publicação dos atos terceiros depois de arquivado e DISPOSIÇÕES GERAIS
referidos no art. 1.131 e no § 1o do averbado o instrumento de sua
art. 1.134. nomeação. Art. 1.142. Considera-se esta-
belecimento todo complexo de
Art. 1.136. A sociedade autoriza- Art. 1.139. Qualquer modificação bens organizado, para exercício
da não pode iniciar sua ativida- no contrato ou no estatuto de- da empresa, por empresário, ou
de antes de inscrita no registro penderá da aprovação do Poder por sociedade empresária.
próprio do lugar em que se deva Executivo, para produzir efeitos § 1o O estabelecimento não
estabelecer. no território nacional. se confunde com o local onde se
§ 1o O requerimento de ins- exerce a atividade empresarial,
crição será instruído com exem- Art. 1.140. A sociedade estran- que poderá ser físico ou virtual.
plar da publicação exigida no pa- geira deve, sob pena de lhe ser § 2o Quando o local onde se
rágrafo único do artigo antece- cassada a autorização, reproduzir exerce a atividade empresarial
dente, acompanhado de docu- no órgão oficial da União, e do Es- for virtual, o endereço informa-
mento do depósito em dinheiro, tado, se for o caso, as publicações do para fins de registro poderá
em estabelecimento bancário que, segundo a sua lei nacional, ser, conforme o caso, o endere-
oficial, do capital ali mencionado. seja obrigada a fazer relativamen- ço do empresário individual ou o
§ 2o Arquivados esses do- te ao balanço patrimonial e ao de de um dos sócios da sociedade
cumentos, a inscrição será feita resultado econômico, bem como empresária.
por termo em livro especial para aos atos de sua administração. § 3o Quando o local onde se
as sociedades estrangeiras, com Parágrafo único. Sob pena, exerce a atividade empresarial
número de ordem contínuo para também, de lhe ser cassada a for físico, a fixação do horário
todas as sociedades inscritas; no autorização, a sociedade estran- de funcionamento competirá ao
termo constarão: geira deverá publicar o balan- Município, observada a regra geral
I – nome, objeto, duração e ço patrimonial e o de resultado prevista no inciso II do caput do

198
Código Civil
art. 3o da Lei no 13.874, de 20 de se não tiverem caráter pessoal, com o disposto nos parágrafos
setembro de 2019. podendo os terceiros rescindir o deste artigo.
contrato em noventa dias a contar § 1o Salvo exceção expressa,
Art. 1.143. Pode o estabeleci- da publicação da transferência, se as publicações ordenadas neste
mento ser objeto unitário de di- ocorrer justa causa, ressalvada, Livro serão feitas no órgão oficial
reitos e de negócios jurídicos, neste caso, a responsabilidade da União ou do Estado, conforme
translativos ou constitutivos, que do alienante. o local da sede do empresário
sejam compatíveis com a sua ou da sociedade, e em jornal de
natureza. Art. 1.149. A cessão dos créditos grande circulação.
referentes ao estabelecimento § 2o As publicações das so-
Art. 1.144. O contrato que tenha transferido produzirá efeito em ciedades estrangeiras serão fei-
por objeto a alienação, o usu- relação aos respectivos deve- tas nos órgãos oficiais da União
fruto ou arrendamento do esta- dores, desde o momento da pu- e do Estado onde tiverem sucur-
belecimento, só produzirá efei- blicação da transferência, mas o sais, filiais ou agências.
tos quanto a terceiros depois de devedor ficará exonerado se de § 3o O anúncio de convo-
averbado à margem da inscrição boa-fé pagar ao cedente. cação da assembleia de sócios
do empresário, ou da sociedade será publicado por três vezes,
empresária, no Registro Público ao menos, devendo mediar, en-
de Empresas Mercantis, e de pu- TÍTULO IV – DOS tre a data da primeira inserção e
blicado na imprensa oficial. INSTITUTOS a da realização da assembleia, o
COMPLEMENTARES prazo mínimo de oito dias, para a
Art. 1.145. Se ao alienante não primeira convocação, e de cinco
restarem bens suficientes para CAPÍTULO I – DO REGISTRO dias, para as posteriores.
solver o seu passivo, a eficácia
da alienação do estabelecimento Art. 1.150. O empresário e a so- Art. 1.153. Cumpre à autoridade
depende do pagamento de todos ciedade empresária vinculam-se competente, antes de efetivar o
os credores, ou do consentimen- ao Registro Público de Empresas registro, verificar a autenticidade
to destes, de modo expresso ou Mercantis a cargo das Juntas Co- e a legitimidade do signatário do
tácito, em trinta dias a partir de merciais, e a sociedade simples requerimento, bem como fiscali-
sua notificação. ao Registro Civil das Pessoas Ju- zar a observância das prescrições
rídicas, o qual deverá obedecer legais concernentes ao ato ou
Art. 1.146. O adquirente do es- às normas fixadas para aquele aos documentos apresentados.
tabelecimento responde pelo pa- registro, se a sociedade simples Parágrafo único. Das irregu-
gamento dos débitos anteriores adotar um dos tipos de sociedade laridades encontradas deve ser
à transferência, desde que regu- empresária. notificado o requerente, que, se
larmente contabilizados, conti- for o caso, poderá saná-las, obe-
nuando o devedor primitivo soli- Art. 1.151. O registro dos atos decendo às formalidades da lei.
dariamente obrigado pelo prazo sujeitos à formalidade exigida no
de um ano, a partir, quanto aos artigo antecedente será requerido Art. 1.154. O ato sujeito a re-
créditos vencidos, da publicação, pela pessoa obrigada em lei, e, no gistro, ressalvadas disposições
e, quanto aos outros, da data do caso de omissão ou demora, pelo especiais da lei, não pode, antes
vencimento. sócio ou qualquer interessado. do cumprimento das respecti-
§ 1o Os documentos neces- vas formalidades, ser oposto a
Art. 1.147. Não havendo auto- sários ao registro deverão ser terceiro, salvo prova de que este
rização expressa, o alienante do apresentados no prazo de trinta o conhecia.
estabelecimento não pode fa- dias, contado da lavratura dos Parágrafo único. O terceiro
zer concorrência ao adquirente, atos respectivos. não pode alegar ignorância, des-
nos cinco anos subsequentes à § 2o Requerido além do prazo de que cumpridas as referidas
transferência. previsto neste artigo, o registro formalidades.
Parágrafo único. No caso de somente produzirá efeito a partir
arrendamento ou usufruto do es- da data de sua concessão.
tabelecimento, a proibição previs- § 3o As pessoas obrigadas a CAPÍTULO II – DO NOME
ta neste artigo persistirá durante requerer o registro responderão EMPRESARIAL
o prazo do contrato. por perdas e danos, em caso de
omissão ou demora. Art. 1.155. Considera-se nome
Art. 1.148. Salvo disposição em empresarial a firma ou a deno-
contrário, a transferência impor- Art. 1.152. Cabe ao órgão in- minação adotada, de conformi-
ta a sub-rogação do adquirente cumbido do registro verificar a dade com este Capítulo, para o
nos contratos estipulados para regularidade das publicações exercício de empresa.
exploração do estabelecimento, determinadas em lei, de acordo Parágrafo único. Equipara-se

199
Código Civil
ao nome empresarial, para os tar da denominação o nome do ressado, quando cessar o exer-
efeitos da proteção da lei, a deno- fundador, acionista, ou pessoa cício da atividade para que foi
minação das sociedades simples, que haja concorrido para o bom adotado, ou quando ultimar-se
associações e fundações. êxito da formação da empresa. a liquidação da sociedade que o
inscreveu.
Art. 1.156. O empresário opera Art. 1.161. A sociedade em co-
sob firma constituída por seu mandita por ações pode, em lugar
nome, completo ou abreviado, de firma, adotar denominação CAPÍTULO III – DOS
aditando-lhe, se quiser, designa- aditada da expressão comandita PREPOSTOS
ção mais precisa da sua pessoa por ações, facultada a designação
Seção I – Disposições Gerais
ou do gênero de atividade. do objeto social.

Art. 1.157. A sociedade em que Art. 1.162. A sociedade em con- Art. 1.169. O preposto não pode,
houver sócios de responsabilida- ta de participação não pode ter sem autorização escrita, fazer-
de ilimitada operará sob firma, na firma ou denominação. -se substituir no desempenho
qual somente os nomes daqueles da preposição, sob pena de res-
poderão figurar, bastando para Art. 1.163. O nome de empre- ponder pessoalmente pelos atos
formá-la aditar ao nome de um sário deve distinguir-se de qual- do substituto e pelas obrigações
deles a expressão “e companhia” quer outro já inscrito no mesmo por ele contraídas.
ou sua abreviatura. registro.
Parágrafo único. Ficam soli- Parágrafo único. Se o empre- Art. 1.170. O preposto, salvo
dária e ilimitadamente responsá- sário tiver nome idêntico ao de autorização expressa, não pode
veis pelas obrigações contraídas outros já inscritos, deverá acres- negociar por conta própria ou
sob a firma social aqueles que, centar designação que o distinga. de terceiro, nem participar, em-
por seus nomes, figurarem na bora indiretamente, de operação
firma da sociedade de que trata Art. 1.164. O nome empresarial do mesmo gênero da que lhe foi
este artigo. não pode ser objeto de alienação. cometida, sob pena de responder
Parágrafo único. O adquiren- por perdas e danos e de serem
Art. 1.158. Pode a sociedade li- te de estabelecimento, por ato retidos pelo preponente os lucros
mitada adotar firma ou denomina- entre vivos, pode, se o contrato da operação.
ção, integradas pela palavra final o permitir, usar o nome do alie-
“limitada” ou a sua abreviatura. nante, precedido do seu próprio, Art. 1.171. Considera-se perfei-
§ 1o A firma será composta com a qualificação de sucessor. ta a entrega de papéis, bens ou
com o nome de um ou mais só- valores ao preposto, encarregado
cios, desde que pessoas físicas, Art. 1.165. O nome de sócio que pelo preponente, se os recebeu
de modo indicativo da relação vier a falecer, for excluído ou se sem protesto, salvo nos casos em
social. retirar, não pode ser conservado que haja prazo para reclamação.
§ 2o A denominação deve de- na firma social.
signar o objeto da sociedade, sen-
do permitido nela figurar o nome Art. 1.166. A inscrição do em-
Seção II – Do Gerente
de um ou mais sócios. presário, ou dos atos constitu-
§ 3o A omissão da palavra tivos das pessoas jurídicas, ou Art. 1.172. Considera-se gerente
“limitada” determina a respon- as respectivas averbações, no o preposto permanente no exer-
sabilidade solidária e ilimitada registro próprio, asseguram o uso cício da empresa, na sede desta,
dos administradores que assim exclusivo do nome nos limites do ou em sucursal, filial ou agência.
empregarem a firma ou a deno- respectivo Estado.
minação da sociedade. Parágrafo único. O uso pre- Art. 1.173. Quando a lei não exigir
visto neste artigo estender-se-á poderes especiais, considera-se o
Art. 1.159. A sociedade coope- a todo o território nacional, se re- gerente autorizado a praticar to-
rativa funciona sob denominação gistrado na forma da lei especial. dos os atos necessários ao exer-
integrada pelo vocábulo “coope- cício dos poderes que lhe foram
rativa”. Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a outorgados.
qualquer tempo, ação para anular Parágrafo único. Na falta de
Art. 1.160. A sociedade anônima a inscrição do nome empresarial estipulação diversa, consideram-
opera sob denominação integrada feita com violação da lei ou do -se solidários os poderes confe-
pelas expressões sociedade anô- contrato. ridos a dois ou mais gerentes.
nima ou companhia, por extenso
ou abreviadamente, facultada a Art. 1.168. A inscrição do nome Art. 1.174. As limitações conti-
designação do objeto social. empresarial será cancelada, a das na outorga de poderes, para
Parágrafo único. Pode cons- requerimento de qualquer inte- serem opostas a terceiros, depen-

200
CAPÍTULO IV – DA

Código Civil
dem do arquivamento e averba- rasuras, emendas ou transportes
ção do instrumento no Registro ESCRITURAÇÃO para as margens.
Público de Empresas Mercantis, Parágrafo único. É permitido
salvo se provado serem conhe- Art. 1.179. O empresário e a so- o uso de código de números ou
cidas da pessoa que tratou com ciedade empresária são obriga- de abreviaturas, que constem
o gerente. dos a seguir um sistema de conta- de livro próprio, regularmente
Parágrafo único. Para o mes- bilidade, mecanizado ou não, com autenticado.
mo efeito e com idêntica ressalva, base na escrituração uniforme de
deve a modificação ou revoga- seus livros, em correspondência Art. 1.184. No Diário serão lan-
ção do mandato ser arquivada e com a documentação respectiva, çadas, com individuação, clareza
averbada no Registro Público de e a levantar anualmente o balan- e caracterização do documento
Empresas Mercantis. ço patrimonial e o de resultado respectivo, dia a dia, por escrita
econômico. direta ou reprodução, todas as
Art. 1.175. O preponente res- § 1o Salvo o disposto no operações relativas ao exercício
ponde com o gerente pelos atos art. 1.180, o número e a espécie da empresa.
que este pratique em seu próprio de livros ficam a critério dos in- § 1o Admite-se a escrituração
nome, mas à conta daquele. teressados. resumida do Diário, com totais
§ 2o É dispensado das exi- que não excedam o período de
Art. 1.176. O gerente pode estar gências deste artigo o peque- trinta dias, relativamente a contas
em juízo em nome do preponente, no empresário a que se refere cujas operações sejam numero-
pelas obrigações resultantes do o art. 970. sas ou realizadas fora da sede
exercício da sua função. do estabelecimento, desde que
Art. 1.180. Além dos demais utilizados livros auxiliares regular-
livros exigidos por lei, é indis- mente autenticados, para registro
Seção III – Do Contabilista e pensável o Diário, que pode ser individualizado, e conservados os
Outros Auxiliares substituído por fichas no caso documentos que permitam a sua
de escrituração mecanizada ou perfeita verificação.
Art. 1.177. Os assentos lançados eletrônica. § 2o Serão lançados no Diá-
nos livros ou fichas do preponen- Parágrafo único. A adoção de rio o balanço patrimonial e o de
te, por qualquer dos prepostos fichas não dispensa o uso de livro resultado econômico, devendo
encarregados de sua escritura- apropriado para o lançamento ambos ser assinados por técnico
ção, produzem, salvo se houver do balanço patrimonial e do de em Ciências Contábeis legalmen-
procedido de má-fé, os mesmos resultado econômico. te habilitado e pelo empresário ou
efeitos como se o fossem por sociedade empresária.
aquele. Art. 1.181. Salvo disposição es-
Parágrafo único. No exercício pecial de lei, os livros obrigatórios Art. 1.185. O empresário ou so-
de suas funções, os prepostos são e, se for o caso, as fichas, antes ciedade empresária que adotar o
pessoalmente responsáveis, pe- de postos em uso, devem ser au- sistema de fichas de lançamentos
rante os preponentes, pelos atos tenticados no Registro Público de poderá substituir o livro Diário
culposos; e, perante terceiros, so- Empresas Mercantis. pelo livro Balancetes Diários e
lidariamente com o preponente, Parágrafo único. A autenti- Balanços, observadas as mesmas
pelos atos dolosos. cação não se fará sem que es- formalidades extrínsecas exigidas
teja inscrito o empresário, ou a para aquele.
Art. 1.178. Os preponentes são sociedade empresária, que po-
responsáveis pelos atos de quais- derá fazer autenticar livros não Art. 1.186. O livro Balancetes Di-
quer prepostos, praticados nos obrigatórios. ários e Balanços será escriturado
seus estabelecimentos e relati- de modo que registre:
vos à atividade da empresa, ainda Art. 1.182. Sem prejuízo do dis- I – a posição diária de cada
que não autorizados por escrito. posto no art. 1.174, a escrituração uma das contas ou títulos con-
Parágrafo único. Quando tais ficará sob a responsabilidade de tábeis, pelo respectivo saldo, em
atos forem praticados fora do contabilista legalmente habilita- forma de balancetes diários;
estabelecimento, somente obri- do, salvo se nenhum houver na II – o balanço patrimonial e o
garão o preponente nos limites localidade. de resultado econômico, no en-
dos poderes conferidos por es- cerramento do exercício.
crito, cujo instrumento pode ser Art. 1.183. A escrituração será
suprido pela certidão ou cópia feita em idioma e moeda corrente Art. 1.187. Na coleta dos elemen-
autêntica do seu teor. nacionais e em forma contábil, tos para o inventário serão obser-
por ordem cronológica de dia, vados os critérios de avaliação a
mês e ano, sem intervalos em seguir determinados:
branco, nem entrelinhas, borrões, I – os bens destinados à ex-

201
Código Civil
ploração da atividade serão ava- Art. 1.188. O balanço patrimonial Parágrafo único. A confis-
liados pelo custo de aquisição, deverá exprimir, com fidelidade e são resultante da recusa pode
devendo, na avaliação dos que se clareza, a situação real da empre- ser elidida por prova documental
desgastam ou depreciam com o sa e, atendidas as peculiaridades em contrário.
uso, pela ação do tempo ou ou- desta, bem como as disposições
tros fatores, atender-se à desva- das leis especiais, indicará, dis- Art. 1.193. As restrições estabe-
lorização respectiva, criando-se tintamente, o ativo e o passivo. lecidas neste Capítulo ao exame
fundos de amortização para as- Parágrafo único. Lei especial da escrituração, em parte ou por
segurar-lhes a substituição ou a disporá sobre as informações que inteiro, não se aplicam às autori-
conservação do valor; acompanharão o balanço patri- dades fazendárias, no exercício
II – os valores mobiliários, monial, em caso de sociedades da fiscalização do pagamento de
matéria-prima, bens destinados coligadas. impostos, nos termos estritos das
à alienação, ou que constituem respectivas leis especiais.
produtos ou artigos da indústria Art. 1.189. O balanço de resul-
ou comércio da empresa, podem tado econômico, ou demonstra- Art. 1.194. O empresário e a so-
ser estimados pelo custo de aqui- ção da conta de lucros e perdas, ciedade empresária são obriga-
sição ou de fabricação, ou pelo acompanhará o balanço patri- dos a conservar em boa guarda
preço corrente, sempre que este monial e dele constarão crédito toda a escrituração, correspon-
for inferior ao preço de custo, e e débito, na forma da lei especial. dência e mais papéis concernen-
quando o preço corrente ou venal tes à sua atividade, enquanto não
estiver acima do valor do custo Art. 1.190. Ressalvados os ca- ocorrer prescrição ou decadência
de aquisição, ou fabricação, e os sos previstos em lei, nenhuma no tocante aos atos neles con-
bens forem avaliados pelo preço autoridade, juiz ou tribunal, sob signados.
corrente, a diferença entre este e qualquer pretexto, poderá fazer
o preço de custo não será levada ou ordenar diligência para verifi- Art. 1.195. As disposições deste
em conta para a distribuição de car se o empresário ou a socie- Capítulo aplicam-se às sucursais,
lucros, nem para as percentagens dade empresária observam, ou filiais ou agências, no Brasil, do
referentes a fundos de reserva; não, em seus livros e fichas, as empresário ou sociedade com
III – o valor das ações e dos formalidades prescritas em lei. sede em país estrangeiro.
títulos de renda fixa pode ser de-
terminado com base na respecti- Art. 1.191. O juiz só poderá auto-
va cotação da Bolsa de Valores; rizar a exibição integral dos livros LIVRO III – DO DIREITO DAS
os não cotados e as participações e papéis de escrituração quando COISAS
não acionárias serão considera- necessária para resolver questões
dos pelo seu valor de aquisição; relativas a sucessão, comunhão TÍTULO I – DA POSSE
IV – os créditos serão consi- ou sociedade, administração ou CAPÍTULO I – DA POSSE E
derados de conformidade com o gestão à conta de outrem, ou em
presumível valor de realização, caso de falência. SUA CLASSIFICAÇÃO
não se levando em conta os pres- § 1o O juiz ou tribunal que
critos ou de difícil liquidação, sal- conhecer de medida cautelar ou Art. 1.196. Considera-se pos-
vo se houver, quanto aos últimos, de ação pode, a requerimento ou suidor todo aquele que tem de
previsão equivalente. de ofício, ordenar que os livros de fato o exercício, pleno ou não,
Parágrafo único. Entre os va- qualquer das partes, ou de ambas, de algum dos poderes inerentes
lores do ativo podem figurar, des- sejam examinados na presença à propriedade.
de que se preceda, anualmente, do empresário ou da sociedade
à sua amortização: empresária a que pertencerem, Art. 1.197. A posse direta, de pes-
I – as despesas de instalação ou de pessoas por estes nome- soa que tem a coisa em seu poder,
da sociedade, até o limite cor- adas, para deles se extrair o que temporariamente, em virtude de
respondente a dez por cento do interessar à questão. direito pessoal, ou real, não anu-
capital social; § 2o Achando-se os livros em la a indireta, de quem aquela foi
II – os juros pagos aos acio- outra jurisdição, nela se fará o havida, podendo o possuidor di-
nistas da sociedade anônima, no exame, perante o respectivo juiz. reto defender a sua posse contra
período antecedente ao início das o indireto.
operações sociais, à taxa não su- Art. 1.192. Recusada a apresen-
perior a doze por cento ao ano, tação dos livros, nos casos do Art. 1.198. Considera-se deten-
fixada no estatuto; artigo antecedente, serão apre- tor aquele que, achando-se em
III – a quantia efetivamente endidos judicialmente e, no do seu relação de dependência para com
paga a título de aviamento de § 1o, ter-se-á como verdadeiro o outro, conserva a posse em nome
estabelecimento adquirido pelo alegado pela parte contrária para deste e em cumprimento de or-
empresário ou sociedade. se provar pelos livros. dens ou instruções suas.

202
Código Civil
Parágrafo único. Aquele -se aos herdeiros ou legatários gos antecedentes não se aplica
que começou a comportar-se do possuidor com os mesmos às servidões não aparentes, sal-
do modo como prescreve este ar- caracteres. vo quando os respectivos títulos
tigo, em relação ao bem e à outra provierem do possuidor do prédio
pessoa, presume-se detentor, até Art. 1.207. O sucessor universal serviente, ou daqueles de quem
que prove o contrário. continua de direito a posse do seu este o houve.
antecessor; e ao sucessor singu-
Art. 1.199. Se duas ou mais pes- lar é facultado unir sua posse à do Art. 1.214. O possuidor de boa-fé
soas possuírem coisa indivisa, antecessor, para os efeitos legais. tem direito, enquanto ela durar,
poderá cada uma exercer sobre aos frutos percebidos.
ela atos possessórios, contanto Art. 1.208. Não induzem posse Parágrafo único. Os frutos
que não excluam os dos outros os atos de mera permissão ou pendentes ao tempo em que
compossuidores. tolerância assim como não au- cessar a boa-fé devem ser res-
torizam a sua aquisição os atos tituídos, depois de deduzidas as
Art. 1.200. É justa a posse que violentos, ou clandestinos, senão despesas da produção e custeio;
não for violenta, clandestina ou depois de cessar a violência ou a devem ser também restituídos os
precária. clandestinidade. frutos colhidos com antecipação.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, Art. 1.209. A posse do imóvel Art. 1.215. Os frutos naturais
se o possuidor ignora o vício, ou faz presumir, até prova contrá- e industriais reputam-se colhi-
o obstáculo que impede a aqui- ria, a das coisas móveis que nele dos e percebidos, logo que são
sição da coisa. estiverem. separados; os civis reputam-se
Parágrafo único. O possui- percebidos dia por dia.
dor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo pro- CAPÍTULO III – DOS Art. 1.216. O possuidor de má-
va em contrário, ou quando a lei EFEITOS DA POSSE -fé responde por todos os frutos
expressamente não admite esta colhidos e percebidos, bem como
presunção. Art. 1.210. O possuidor tem di- pelos que, por culpa sua, deixou
reito a ser mantido na posse em de perceber, desde o momento
Art. 1.202. A posse de boa-fé caso de turbação, restituído no de em que se constituiu de má-fé;
só perde este caráter no caso esbulho, e segurado de violência tem direito às despesas da pro-
e desde o momento em que as iminente, se tiver justo receio de dução e custeio.
circunstâncias façam presumir ser molestado.
que o possuidor não ignora que § 1o O possuidor turbado, ou Art. 1.217. O possuidor de boa-
possui indevidamente. esbulhado, poderá manter-se ou -fé não responde pela perda ou
restituir-se por sua própria força, deterioração da coisa, a que não
Art. 1.203. Salvo prova em con- contanto que o faça logo; os atos der causa.
trário, entende-se manter a pos- de defesa, ou de desforço, não
se o mesmo caráter com que foi podem ir além do indispensável Art. 1.218. O possuidor de má-fé
adquirida. à manutenção, ou restituição da responde pela perda, ou deterio-
posse. ração da coisa, ainda que aciden-
§ 2o Não obsta à manuten- tais, salvo se provar que de igual
CAPÍTULO II – DA ção ou reintegração na posse a modo se teriam dado, estando ela
AQUISIÇÃO DA POSSE alegação de propriedade, ou de na posse do reivindicante.
outro direito sobre a coisa.
Art. 1.204. Adquire-se a posse Art. 1.219. O possuidor de boa-
desde o momento em que se tor- Art. 1.211. Quando mais de uma -fé tem direito à indenização das
na possível o exercício, em nome pessoa se disser possuidora, benfeitorias necessárias e úteis,
próprio, de qualquer dos poderes manter-se-á provisoriamente a bem como, quanto às voluptuá-
inerentes à propriedade. que tiver a coisa, se não estiver rias, se não lhe forem pagas, a
manifesto que a obteve de algu- levantá-las, quando o puder sem
Art. 1.205. A posse pode ser ma das outras por modo vicioso. detrimento da coisa, e poderá
adquirida: exercer o direito de retenção pelo
I – pela própria pessoa que Art. 1.212. O possuidor pode in- valor das benfeitorias necessá-
a pretende ou por seu represen- tentar a ação de esbulho, ou a de rias e úteis.
tante; indenização, contra o terceiro,
II – por terceiro sem mandato, que recebeu a coisa esbulhada Art. 1.220. Ao possuidor de má-
dependendo de ratificação. sabendo que o era. -fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe
Art. 1.206. A posse transmite- Art. 1.213. O disposto nos arti- assiste o direito de retenção pela

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Código Civil
importância destas, nem o de le- tituídos, ou transmitidos por atos siderados pelo juiz de interesse
vantar as voluptuárias. entre vivos, só se adquirem com social e econômico relevante.
a tradição. § 5o No caso do parágrafo
Art. 1.221. As benfeitorias com- antecedente, o juiz fixará a justa
pensam-se com os danos, e só Art. 1.227. Os direitos reais indenização devida ao proprietá-
obrigam ao ressarcimento se ao sobre imóveis constituídos, ou rio; pago o preço, valerá a senten-
tempo da evicção ainda existirem. transmitidos por atos entre vivos, ça como título para o registro do
só se adquirem com o registro no imóvel em nome dos possuidores.
Art. 1.222. O reivindicante, obri- Cartório de Registro de Imóveis
gado a indenizar as benfeitorias dos referidos títulos (arts. 1.245 a Art. 1.229. A propriedade do solo
ao possuidor de má-fé, tem o 1.247), salvo os casos expressos abrange a do espaço aéreo e sub-
direito de optar entre o seu va- neste Código. solo correspondentes, em altura
lor atual e o seu custo; ao pos- e profundidade úteis ao seu exer-
suidor de boa-fé indenizará pelo cício, não podendo o proprietário
valor atual. TÍTULO III – DA opor-se a atividades que sejam
PROPRIEDADE realizadas, por terceiros, a uma
altura ou profundidade tais, que
CAPÍTULO IV – DA PERDA CAPÍTULO I – DA não tenha ele interesse legítimo
DA POSSE PROPRIEDADE EM GERAL em impedi-las.
Seção I – Disposições
Art. 1.223. Perde-se a posse Art. 1.230. A propriedade do solo
quando cessa, embora contra a Preliminares não abrange as jazidas, minas
vontade do possuidor, o poder e demais recursos minerais, os
sobre o bem, ao qual se refere Art. 1.228. O proprietário tem a potenciais de energia hidráulica,
o art. 1.196. faculdade de usar, gozar e dispor os monumentos arqueológicos
da coisa, e o direito de reavê-la e outros bens referidos por leis
Art. 1.224. Só se considera per- do poder de quem quer que in- especiais.
dida a posse para quem não pre- justamente a possua ou detenha. Parágrafo único. O proprie-
senciou o esbulho, quando, tendo § 1o O direito de proprieda- tário do solo tem o direito de ex-
notícia dele, se abstém de retor- de deve ser exercido em conso- plorar os recursos minerais de
nar a coisa, ou, tentando recupe- nância com as suas finalidades emprego imediato na construção
rá-la, é violentamente repelido. econômicas e sociais e de modo civil, desde que não submetidos a
que sejam preservados, de con- transformação industrial, obede-
formidade com o estabelecido cido o disposto em lei especial.
TÍTULO II – DOS DIREITOS em lei especial, a flora, a fauna,
REAIS as belezas naturais, o equilíbrio Art. 1.231. A propriedade pre-
ecológico e o patrimônio histórico sume-se plena e exclusiva, até
CAPÍTULO ÚNICO – e artístico, bem como evitada a prova em contrário.
DISPOSIÇÕES GERAIS poluição do ar e das águas.
§ 2o São defesos os atos que Art. 1.232. Os frutos e mais pro-
Art. 1.225. São direitos reais: não trazem ao proprietário qual- dutos da coisa pertencem, ainda
I – a propriedade; quer comodidade, ou utilidade, e quando separados, ao seu pro-
II – a superfície; sejam animados pela intenção de prietário, salvo se, por precei-
III – as servidões; prejudicar outrem. to jurídico especial, couberem
IV – o usufruto; § 3o O proprietário pode ser a outrem.
V – o uso; privado da coisa, nos casos de
VI – a habitação; desapropriação, por necessidade
VII – o direito do promitente ou utilidade pública ou interesse
Seção II – Da Descoberta
comprador do imóvel; social, bem como no de requisi-
VIII – o penhor; ção, em caso de perigo público Art. 1.233. Quem quer que ache
IX – a hipoteca; iminente. coisa alheia perdida há de resti-
X – a anticrese; § 4o O proprietário também tuí-la ao dono ou legítimo pos-
XI – a concessão de uso espe- pode ser privado da coisa se o suidor.
cial para fins de moradia; imóvel reivindicado consistir em Parágrafo único. Não o co-
XII – a concessão de direito extensa área, na posse ininterrup- nhecendo, o descobridor fará por
real de uso; e ta e de boa-fé, por mais de cinco encontrá-lo, e, se não o encontrar,
XIII – a laje. anos, de considerável número de entregará a coisa achada à auto-
pessoas, e estas nela houverem ridade competente.
Art. 1.226. Os direitos reais so- realizado, em conjunto ou sepa-
bre coisas móveis, quando cons- radamente, obras e serviços con- Art. 1.234. Aquele que restituir

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Código Civil
a coisa achada, nos termos do ça, a qual servirá de título para o § 2o (Vetado)
artigo antecedente, terá direito registro no Cartório de Registro
a uma recompensa não inferior de Imóveis. Art. 1.241. Poderá o possuidor
a cinco por cento do seu valor, e Parágrafo único. O prazo es- requerer ao juiz seja declarada
à indenização pelas despesas que tabelecido neste artigo reduzir- adquirida, mediante usucapião,
houver feito com a conservação -se-á a dez anos se o possuidor a propriedade imóvel.
e transporte da coisa, se o dono houver estabelecido no imóvel Parágrafo único. A declara-
não preferir abandoná-la. a sua moradia habitual, ou nele ção obtida na forma deste arti-
Parágrafo único. Na determi- realizado obras ou serviços de go constituirá título hábil para o
nação do montante da recompen- caráter produtivo. registro no Cartório de Registro
sa, considerar-se-á o esforço de- de Imóveis.
senvolvido pelo descobridor para Art. 1.239. Aquele que, não sen-
encontrar o dono, ou o legítimo do proprietário de imóvel rural ou Art. 1.242. Adquire também a
possuidor, as possibilidades que urbano, possua como sua, por propriedade do imóvel aquele
teria este de encontrar a coisa e cinco anos ininterruptos, sem que, contínua e incontestada-
a situação econômica de ambos. oposição, área de terra em zona mente, com justo título e boa-fé,
rural não superior a cinquenta o possuir por dez anos.
Art. 1.235. O descobridor res- hectares, tornando-a produtiva Parágrafo único. Será de cin-
ponde pelos prejuízos causados por seu trabalho ou de sua família, co anos o prazo previsto neste
ao proprietário ou possuidor le- tendo nela sua moradia, adquirir- artigo se o imóvel houver sido
gítimo, quando tiver procedido -lhe-á a propriedade. adquirido, onerosamente, com
com dolo. base no registro constante do
Art. 1.240. Aquele que possuir, respectivo cartório, cancelada
Art. 1.236. A autoridade com- como sua, área urbana de até posteriormente, desde que os
petente dará conhecimento da duzentos e cinquenta metros possuidores nele tiverem estabe-
descoberta através da imprensa quadrados, por cinco anos inin- lecido a sua moradia, ou realizado
e outros meios de informação, terruptamente e sem oposição, investimentos de interesse social
somente expedindo editais se o utilizando-a para sua moradia e econômico.
seu valor os comportar. ou de sua família, adquirir-lhe-á
o domínio, desde que não seja Art. 1.243. O possuidor pode,
Art. 1.237. Decorridos sessen- proprietário de outro imóvel ur- para o fim de contar o tempo exi-
ta dias da divulgação da notícia bano ou rural. gido pelos artigos antecedentes,
pela imprensa, ou do edital, não § 1o O título de domínio e a acrescentar à sua posse a dos
se apresentando quem comprove concessão de uso serão confe- seus antecessores (art.  1.207),
a propriedade sobre a coisa, será ridos ao homem ou à mulher, ou contanto que todas sejam con-
esta vendida em hasta pública e, a ambos, independentemente do tínuas, pacíficas e, nos casos do
deduzidas do preço as despesas, estado civil. art. 1.242, com justo título e de
mais a recompensa do descobri- § 2o O direito previsto no pa- boa-fé.
dor, pertencerá o remanescente rágrafo antecedente não será re-
ao Município em cuja circunscri- conhecido ao mesmo possuidor Art. 1.244. Estende-se ao pos-
ção se deparou o objeto perdido. mais de uma vez. suidor o disposto quanto ao deve-
Parágrafo único. Sendo de dor acerca das causas que obs-
diminuto valor, poderá o Municí- Art. 1.240-A. Aquele que exer- tam, suspendem ou interrompem
pio abandonar a coisa em favor cer, por 2 (dois) anos ininterrup- a prescrição, as quais também se
de quem a achou. tamente e sem oposição, posse aplicam à usucapião.
direta, com exclusividade, sobre
imóvel urbano de até 250m² (du-
CAPÍTULO II – DA zentos e cinquenta metros qua-
Seção II – Da Aquisição pelo
AQUISIÇÃO DA drados) cuja propriedade divida Registro do Título
PROPRIEDADE IMÓVEL com ex-cônjuge ou ex-compa-
nheiro que abandonou o lar, uti- Art. 1.245. Transfere-se entre
Seção I – Da Usucapião lizando-o para sua moradia ou vivos a propriedade mediante o
de sua família, adquirir-lhe-á o registro do título translativo no
Art. 1.238. Aquele que, por quin- domínio integral, desde que não Registro de Imóveis.
ze anos, sem interrupção, nem seja proprietário de outro imóvel § 1o Enquanto não se regis-
oposição, possuir como seu um urbano ou rural. trar o título translativo, o alienante
imóvel, adquire-lhe a proprieda- § 1o O direito previsto no continua a ser havido como dono
de, independentemente de título caput não será reconhecido ao do imóvel.
e boa-fé; podendo requerer ao juiz mesmo possuidor mais de uma § 2o Enquanto não se pro-
que assim o declare por senten- vez. mover, por meio de ação própria,

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Código Civil
a decretação de invalidade do Subseção II – Da Aluvião planta ou edifica em terreno pró-
registro, e o respectivo cance- prio com sementes, plantas ou
lamento, o adquirente continua a Art. 1.250. Os acréscimos for- materiais alheios, adquire a pro-
ser havido como dono do imóvel. mados, sucessiva e impercepti- priedade destes; mas fica obriga-
velmente, por depósitos e aterros do a pagar-lhes o valor, além de
Art. 1.246. O registro é eficaz naturais ao longo das margens responder por perdas e danos, se
desde o momento em que se das correntes, ou pelo desvio das agiu de má-fé.
apresentar o título ao oficial do águas destas, pertencem aos do-
registro, e este o prenotar no nos dos terrenos marginais, sem Art. 1.255. Aquele que semeia,
protocolo. indenização. planta ou edifica em terreno
Parágrafo único. O terreno alheio perde, em proveito do pro-
Art. 1.247. Se o teor do registro aluvial, que se formar em frente prietário, as sementes, plantas
não exprimir a verdade, poderá de prédios de proprietários dife- e construções; se procedeu de
o interessado reclamar que se rentes, dividir-se-á entre eles, na boa-fé, terá direito a indenização.
retifique ou anule. proporção da testada de cada um Parágrafo único. Se a cons-
Parágrafo único. Cancelado sobre a antiga margem. trução ou a plantação exceder
o registro, poderá o proprietário consideravelmente o valor do
reivindicar o imóvel, independen- terreno, aquele que, de boa-fé,
temente da boa-fé ou do título do
Subseção III – Da Avulsão plantou ou edificou, adquirirá a
terceiro adquirente. propriedade do solo, mediante
Art. 1.251. Quando, por força na- pagamento da indenização fixa-
tural violenta, uma porção de ter- da judicialmente, se não houver
Seção III – Da Aquisição por ra se destacar de um prédio e se acordo.
Acessão juntar a outro, o dono deste adqui-
rirá a propriedade do acréscimo, Art. 1.256. Se de ambas as par-
Art. 1.248. A acessão pode dar- se indenizar o dono do primeiro tes houve má-fé, adquirirá o pro-
-se: ou, sem indenização, se, em um prietário as sementes, plantas e
I – por formação de ilhas; ano, ninguém houver reclamado. construções, devendo ressarcir
II – por aluvião; Parágrafo único. Recusan- o valor das acessões.
III – por avulsão; do-se ao pagamento de indeni- Parágrafo único. Presume-se
IV – por abandono de álveo; zação, o dono do prédio a que se má-fé no proprietário, quando o
V – por plantações ou cons- juntou a porção de terra deverá trabalho de construção, ou lavou-
truções. aquiescer a que se remova a parte ra, se fez em sua presença e sem
acrescida. impugnação sua.
Subseção I – Das Ilhas Art. 1.257. O disposto no artigo
Subseção IV – Do Álveo antecedente aplica-se ao caso
Art. 1.249. As ilhas que se for- Abandonado de não pertencerem as semen-
marem em correntes comuns ou tes, plantas ou materiais a quem
particulares pertencem aos pro- Art. 1.252. O álveo abandonado de boa-fé os empregou em solo
prietários ribeirinhos fronteiros, de corrente pertence aos pro- alheio.
observadas as regras seguintes: prietários ribeirinhos das duas Parágrafo único. O proprie-
I – as que se formarem no margens, sem que tenham in- tário das sementes, plantas ou
meio do rio consideram-se acrés- denização os donos dos terrenos materiais poderá cobrar do pro-
cimos sobrevindos aos terrenos por onde as águas abrirem novo prietário do solo a indenização
ribeirinhos fronteiros de ambas curso, entendendo-se que os pré- devida, quando não puder havê-la
as margens, na proporção de suas dios marginais se estendem até do plantador ou construtor.
testadas, até a linha que dividir o o meio do álveo.
álveo em duas partes iguais; Art. 1.258. Se a construção, fei-
II – as que se formarem entre ta parcialmente em solo próprio,
a referida linha e uma das mar-
Subseção V – Das invade solo alheio em proporção
gens consideram-se acréscimos Construções e Plantações não superior à vigésima parte
aos terrenos ribeirinhos frontei- deste, adquire o construtor de
ros desse mesmo lado; Art. 1.253. Toda construção ou boa-fé a propriedade da parte do
III – as que se formarem pelo plantação existente em um ter- solo invadido, se o valor da cons-
desdobramento de um novo bra- reno presume-se feita pelo pro- trução exceder o dessa parte, e
ço do rio continuam a pertencer prietário e à sua custa, até que responde por indenização que
aos proprietários dos terrenos à se prove o contrário. represente, também, o valor da
custa dos quais se constituíram. área perdida e a desvalorização
Art. 1.254. Aquele que semeia, da área remanescente.

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Seção III – Do Achado do Seção V – Da Especificação

Código Civil
Parágrafo único. Pagando em
décuplo as perdas e danos previs- Tesouro
tos neste artigo, o construtor de Art. 1.269. Aquele que, traba-
má-fé adquire a propriedade da Art. 1.264. O depósito antigo de lhando em matéria-prima em par-
parte do solo que invadiu, se em coisas preciosas, oculto e de cujo te alheia, obtiver espécie nova,
proporção à vigésima parte deste dono não haja memória, será divi- desta será proprietário, se não se
e o valor da construção exceder dido por igual entre o proprietário puder restituir à forma anterior.
consideravelmente o dessa parte do prédio e o que achar o tesouro
e não se puder demolir a porção casualmente. Art. 1.270. Se toda a matéria
invasora sem grave prejuízo para for alheia, e não se puder redu-
a construção. Art. 1.265. O tesouro pertence- zir à forma precedente, será do
rá por inteiro ao proprietário do especificador de boa-fé a espé-
Art. 1.259. Se o construtor esti- prédio, se for achado por ele, ou cie nova.
ver de boa-fé, e a invasão do solo em pesquisa que ordenou, ou por § 1o Sendo praticável a re-
alheio exceder a vigésima parte terceiro não autorizado. dução, ou quando impraticável,
deste, adquire a propriedade da se a espécie nova se obteve de
parte do solo invadido, e responde Art. 1.266. Achando-se em ter- má-fé, pertencerá ao dono da
por perdas e danos que abranjam reno aforado, o tesouro será divi- matéria-prima.
o valor que a invasão acrescer à dido por igual entre o descobridor § 2o Em qualquer caso, in-
construção, mais o da área per- e o enfiteuta, ou será deste por clusive o da pintura em relação
dida e o da desvalorização da inteiro quando ele mesmo seja o à tela, da escultura, escritura e
área remanescente; se de má-fé, descobridor. outro qualquer trabalho gráfico
é obrigado a demolir o que nele em relação à matéria-prima, a es-
construiu, pagando as perdas e pécie nova será do especificador,
danos apurados, que serão devi-
Seção IV – Da Tradição se o seu valor exceder conside-
dos em dobro. ravelmente o da matéria-prima.
Art. 1.267. A propriedade das
coisas não se transfere pelos ne- Art. 1.271. Aos prejudicados, nas
CAPÍTULO III – DA gócios jurídicos antes da tradição. hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270,
AQUISIÇÃO DA Parágrafo único. Subenten- se ressarcirá o dano que sofre-
PROPRIEDADE MÓVEL de-se a tradição quando o trans- rem, menos ao especificador de
mitente continua a possuir pelo má-fé, no caso do § 1o do artigo
Seção I – Da Usucapião constituto possessório; quando antecedente, quando irredutível
cede ao adquirente o direito à a especificação.
Art. 1.260. Aquele que possuir restituição da coisa, que se en-
coisa móvel como sua, contínua contra em poder de terceiro; ou
e incontestadamente durante quando o adquirente já está na
Seção VI – Da Confusão, da
três anos, com justo título e boa- posse da coisa, por ocasião do Comissão e da Adjunção
-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. negócio jurídico.
Art. 1.272. As coisas pertencen-
Art. 1.261. Se a posse da coi- Art. 1.268. Feita por quem não tes a diversos donos, confundi-
sa móvel se prolongar por cinco seja proprietário, a tradição não das, misturadas ou adjuntadas
anos, produzirá usucapião, in- aliena a propriedade, exceto se sem o consentimento deles, con-
dependentemente de título ou a coisa, oferecida ao público, em tinuam a pertencer-lhes, sendo
boa-fé. leilão ou estabelecimento comer- possível separá-las sem dete-
cial, for transferida em circuns- rioração.
Art. 1.262. Aplica-se à usuca- tâncias tais que, ao adquirente de § 1o Não sendo possível a se-
pião das coisas móveis o disposto boa-fé, como a qualquer pessoa, paração das coisas, ou exigindo
nos arts. 1.243 e 1.244. o alienante se afigurar dono. dispêndio excessivo, subsiste in-
§ 1o Se o adquirente estiver diviso o todo, cabendo a cada um
de boa-fé e o alienante adquirir dos donos quinhão proporcional
Seção II – Da Ocupação depois a propriedade, conside- ao valor da coisa com que entrou
ra-se realizada a transferência para a mistura ou agregado.
Art. 1.263. Quem se assenhorear desde o momento em que ocor- § 2o Se uma das coisas puder
de coisa sem dono para logo lhe reu a tradição. considerar-se principal, o dono
adquire a propriedade, não sen- § 2o Não transfere a proprie- sê-lo-á do todo, indenizando os
do essa ocupação defesa por lei. dade a tradição, quando tiver por outros.
título um negócio jurídico nulo.
Art. 1.273. Se a confusão, co-
missão ou adjunção se operou

207
Código Civil
de má-fé, à outra parte caberá CAPÍTULO V – DOS me-se pertencer em comum aos
escolher entre adquirir a proprie- DIREITOS DE VIZINHANÇA donos dos prédios confinantes.
dade do todo, pagando o que não
for seu, abatida a indenização que Seção I – Do Uso Anormal da Art. 1.283. As raízes e os ramos
lhe for devida, ou renunciar ao que Propriedade de árvore, que ultrapassarem a
lhe pertencer, caso em que será estrema do prédio, poderão ser
indenizado. Art. 1.277. O proprietário ou o cortados, até o plano vertical di-
possuidor de um prédio tem o visório, pelo proprietário do ter-
Art. 1.274. Se da união de maté- direito de fazer cessar as interfe- reno invadido.
rias de natureza diversa se formar rências prejudiciais à segurança,
espécie nova, à confusão, comis- ao sossego e à saúde dos que o Art. 1.284. Os frutos caídos de
são ou adjunção aplicam-se as habitam, provocadas pela utili- árvore do terreno vizinho perten-
normas dos arts. 1.272 e 1.273. zação de propriedade vizinha. cem ao dono do solo onde caí-
Parágrafo único. Proíbem-se ram, se este for de propriedade
as interferências considerando- particular.
CAPÍTULO IV – DA PERDA -se a natureza da utilização, a
DA PROPRIEDADE localização do prédio, atendidas
as normas que distribuem as edi-
Seção III – Da Passagem
Art. 1.275. Além das causas con- ficações em zonas, e os limites Forçada
sideradas neste Código, perde-se ordinários de tolerância dos mo-
a propriedade: radores da vizinhança. Art. 1.285. O dono do prédio que
I – por alienação; não tiver acesso a via pública,
II – pela renúncia; Art. 1.278. O direito a que se re- nascente ou porto, pode, me-
III – por abandono; fere o artigo antecedente não pre- diante pagamento de indenização
IV – por perecimento da coisa; valece quando as interferências cabal, constranger o vizinho a lhe
V – por desapropriação. forem justificadas por interesse dar passagem, cujo rumo será ju-
Parágrafo único. Nos casos público, caso em que o proprie- dicialmente fixado, se necessário.
dos incisos I e II, os efeitos da per- tário ou o possuidor, causador § 1o Sofrerá o constrangi-
da da propriedade imóvel serão delas, pagará ao vizinho indeni- mento o vizinho cujo imóvel mais
subordinados ao registro do título zação cabal. natural e facilmente se prestar à
transmissivo ou do ato renuncia- passagem.
tivo no Registro de Imóveis. Art. 1.279. Ainda que por deci- § 2o Se ocorrer alienação
são judicial devam ser toleradas parcial do prédio, de modo que
Art. 1.276. O imóvel urbano que as interferências, poderá o vizinho uma das partes perca o acesso a
o proprietário abandonar, com a exigir a sua redução, ou elimina- via pública, nascente ou porto, o
intenção de não mais o conservar ção, quando estas se tornarem proprietário da outra deve tolerar
em seu patrimônio, e que se não possíveis. a passagem.
encontrar na posse de outrem, § 3o Aplica-se o disposto
poderá ser arrecadado, como bem Art. 1.280. O proprietário ou no parágrafo antecedente ainda
vago, e passar, três anos depois, o possuidor tem direito a exigir quando, antes da alienação, exis-
à propriedade do Município ou à do dono do prédio vizinho a de- tia passagem através de imóvel
do Distrito Federal, se se achar molição, ou a reparação deste, vizinho, não estando o proprietá-
nas respectivas circunscrições. quando ameace ruína, bem como rio deste constrangido, depois, a
§ 1o O imóvel situado na zona que lhe preste caução pelo dano dar uma outra.
rural, abandonado nas mesmas iminente.
circunstâncias, poderá ser arre-
cadado, como bem vago, e passar, Art. 1.281. O proprietário ou o
Seção IV – Da Passagem de
três anos depois, à propriedade possuidor de um prédio, em que Cabos e Tubulações
da União, onde quer que ele se alguém tenha direito de fazer
localize. obras, pode, no caso de dano Art. 1.286. Mediante recebimen-
§ 2o Presumir-se-á de modo iminente, exigir do autor delas to de indenização que atenda,
absoluto a intenção a que se refe- as necessárias garantias contra também, à desvalorização da área
re este artigo, quando, cessados o prejuízo eventual. remanescente, o proprietário é
os atos de posse, deixar o proprie- obrigado a tolerar a passagem,
tário de satisfazer os ônus fiscais. através de seu imóvel, de ca-
Seção II – Das Árvores bos, tubulações e outros condu-
Limítrofes tos subterrâneos de serviços de
utilidade pública, em proveito de
Art. 1.282. A árvore, cujo tronco proprietários vizinhos, quando
estiver na linha divisória, presu- de outro modo for impossível ou

208
Código Civil
excessivamente onerosa. direito de construir barragens, previstos no art. 1.293, mediante
Parágrafo único. O proprietá- açudes, ou outras obras para pagamento de indenização aos
rio prejudicado pode exigir que a represamento de água em seu proprietários prejudicados e ao
instalação seja feita de modo me- prédio; se as águas represadas dono do aqueduto, de importân-
nos gravoso ao prédio onerado, invadirem prédio alheio, será o cia equivalente às despesas que
bem como, depois, seja removi- seu proprietário indenizado pelo então seriam necessárias para a
da, à sua custa, para outro local dano sofrido, deduzido o valor do condução das águas até o ponto
do imóvel. benefício obtido. de derivação.
Parágrafo único. Têm prefe-
Art. 1.287. Se as instalações Art. 1.293. É permitido a quem rência os proprietários dos imó-
oferecerem grave risco, será fa- quer que seja, mediante prévia veis atravessados pelo aqueduto.
cultado ao proprietário do prédio indenização aos proprietários
onerado exigir a realização de prejudicados, construir canais,
obras de segurança. através de prédios alheios, para
Seção VI – Dos Limites entre
receber as águas a que tenha di- Prédios e do Direito de
reito, indispensáveis às primeiras Tapagem
Seção V – Das Águas necessidades da vida, e, desde
que não cause prejuízo conside- Art. 1.297. O proprietário tem
Art. 1.288. O dono ou o possui- rável à agricultura e à indústria, direito a cercar, murar, valar ou
dor do prédio inferior é obrigado bem como para o escoamento de tapar de qualquer modo o seu
a receber as águas que correm águas supérfluas ou acumuladas, prédio, urbano ou rural, e pode
naturalmente do superior, não ou a drenagem de terrenos. constranger o seu confinante a
podendo realizar obras que em- § 1o Ao proprietário prejudi- proceder com ele à demarcação
baracem o seu fluxo; porém a cado, em tal caso, também assis- entre os dois prédios, a aviven-
condição natural e anterior do te direito a ressarcimento pelos tar rumos apagados e a renovar
prédio inferior não pode ser agra- danos que de futuro lhe adve- marcos destruídos ou arruinados,
vada por obras feitas pelo dono nham da infiltração ou irrupção repartindo-se proporcionalmente
ou possuidor do prédio superior. das águas, bem como da dete- entre os interessados as respec-
rioração das obras destinadas a tivas despesas.
Art. 1.289. Quando as águas, canalizá-las. § 1o Os intervalos, muros,
artificialmente levadas ao prédio § 2o O proprietário prejudica- cercas e os tapumes divisórios,
superior, ou aí colhidas, correrem do poderá exigir que seja subter- tais como sebes vivas, cercas de
dele para o inferior, poderá o dono rânea a canalização que atravessa arame ou de madeira, valas ou
deste reclamar que se desviem, áreas edificadas, pátios, hortas, banquetas, presumem-se, até
ou se lhe indenize o prejuízo que jardins ou quintais. prova em contrário, pertencer
sofrer. § 3o O aqueduto será cons- a ambos os proprietários confi-
Parágrafo único. Da indeni- truído de maneira que cause o nantes, sendo estes obrigados, de
zação será deduzido o valor do menor prejuízo aos proprietá- conformidade com os costumes
benefício obtido. rios dos imóveis vizinhos, e a da localidade, a concorrer, em
expensas do seu dono, a quem partes iguais, para as despesas
Art. 1.290. O proprietário de incumbem também as despesas de sua construção e conservação.
nascente, ou do solo onde caem de conservação. § 2o As sebes vivas, as ár-
águas pluviais, satisfeitas as ne- vores, ou plantas quaisquer, que
cessidades de seu consumo, não Art. 1.294. Aplica-se ao direi- servem de marco divisório, só
pode impedir, ou desviar o curso to de aqueduto o disposto nos podem ser cortadas, ou arran-
natural das águas remanescentes arts. 1.286 e 1.287. cadas, de comum acordo entre
pelos prédios inferiores. proprietários.
Art. 1.295. O aqueduto não im- § 3o A construção de tapu-
Art. 1.291. O possuidor do imó- pedirá que os proprietários cer- mes especiais para impedir a
vel superior não poderá poluir as quem os imóveis e construam passagem de animais de peque-
águas indispensáveis às primeiras sobre ele, sem prejuízo para a no porte, ou para outro fim, pode
necessidades da vida dos possui- sua segurança e conservação; os ser exigida de quem provocou
dores dos imóveis inferiores; as proprietários dos imóveis pode- a necessidade deles, pelo pro-
demais, que poluir, deverá recu- rão usar das águas do aqueduto prietário, que não está obrigado
perar, ressarcindo os danos que para as primeiras necessidades a concorrer para as despesas.
estes sofrerem, se não for possí- da vida.
vel a recuperação ou o desvio do Art. 1.298. Sendo confusos, os
curso artificial das águas. Art. 1.296. Havendo no aque- limites, em falta de outro meio,
duto águas supérfluas, outros se determinarão de conformida-
Art. 1.292. O proprietário tem poderão canalizá-las, para os fins de com a posse justa; e, não se

209
Código Civil
achando ela provada, o terreno ções a menos de três metros do rências prejudiciais ao vizinho.
contestado se dividirá por par- terreno vizinho. Parágrafo único. A dispo-
tes iguais entre os prédios, ou, sição anterior não abrange as
não sendo possível a divisão cô- Art. 1.304. Nas cidades, vilas chaminés ordinárias e os fogões
moda, se adjudicará a um deles, e povoados cuja edificação es- de cozinha.
mediante indenização ao outro. tiver adstrita a alinhamento, o
dono de um terreno pode nele Art. 1.309. São proibidas cons-
edificar, madeirando na parede truções capazes de poluir, ou inu-
Seção VII – Do Direito de divisória do prédio contíguo, se tilizar, para uso ordinário, a água
Construir ela suportar a nova construção; do poço, ou nascente alheia, a
mas terá de embolsar ao vizinho elas preexistentes.
Art. 1.299. O proprietário pode metade do valor da parede e do
levantar em seu terreno as cons- chão correspondentes. Art. 1.310. Não é permitido fazer
truções que lhe aprouver, salvo o escavações ou quaisquer obras
direito dos vizinhos e os regula- Art. 1.305. O confinante, que que tirem ao poço ou à nascente
mentos administrativos. primeiro construir, pode assen- de outrem a água indispensável
tar a parede divisória até meia às suas necessidades normais.
Art. 1.300. O proprietário cons- espessura no terreno contíguo,
truirá de maneira que o seu prédio sem perder por isso o direito a Art. 1.311. Não é permitida a
não despeje águas, diretamente, haver meio valor dela se o vizinho execução de qualquer obra ou
sobre o prédio vizinho. a travejar, caso em que o primeiro serviço suscetível de provocar
fixará a largura e a profundidade desmoronamento ou deslocação
Art. 1.301. É defeso abrir janelas, do alicerce. de terra, ou que comprometa
ou fazer eirado, terraço ou varan- Parágrafo único. Se a pare- a segurança do prédio vizinho,
da, a menos de metro e meio do de divisória pertencer a um dos senão após haverem sido feitas
terreno vizinho. vizinhos, e não tiver capacidade as obras acautelatórias.
§ 1o As janelas cuja visão não para ser travejada pelo outro, não Parágrafo único. O proprietá-
incida sobre a linha divisória, bem poderá este fazer-lhe alicerce ao rio do prédio vizinho tem direito
como as perpendiculares, não pé sem prestar caução àquele, a ressarcimento pelos prejuízos
poderão ser abertas a menos pelo risco a que expõe a cons- que sofrer, não obstante haverem
de setenta e cinco centímetros. trução anterior. sido realizadas as obras acaute-
§ 2o As disposições deste ar- latórias.
tigo não abrangem as aberturas Art. 1.306. O condômino da pa-
para luz ou ventilação, não maio- rede-meia pode utilizá-la até ao Art. 1.312. Todo aquele que violar
res de dez centímetros de largura meio da espessura, não pondo as proibições estabelecidas nes-
sobre vinte de comprimento e em risco a segurança ou a sepa- ta Seção é obrigado a demolir as
construídas a mais de dois metros ração dos dois prédios, e avisando construções feitas, respondendo
de altura de cada piso. previamente o outro condômino por perdas e danos.
das obras que ali tenciona fazer;
Art. 1.302. O proprietário pode, não pode sem consentimento Art. 1.313. O proprietário ou ocu-
no lapso de ano e dia após a con- do outro, fazer, na parede-meia, pante do imóvel é obrigado a tole-
clusão da obra, exigir que se des- armários, ou obras semelhan- rar que o vizinho entre no prédio,
faça janela, sacada, terraço ou tes, correspondendo a outras, mediante prévio aviso, para:
goteira sobre o seu prédio; es- da mesma natureza, já feitas do I – dele temporariamente
coado o prazo, não poderá, por lado oposto. usar, quando indispensável à
sua vez, edificar sem atender ao reparação, construção, recons-
disposto no artigo antecedente, Art. 1.307. Qualquer dos confi- trução ou limpeza de sua casa
nem impedir, ou dificultar, o esco- nantes pode altear a parede divi- ou do muro divisório;
amento das águas da goteira, com sória, se necessário reconstruin- II – apoderar-se de coisas
prejuízo para o prédio vizinho. do-a, para suportar o alteamento; suas, inclusive animais que aí se
Parágrafo único. Em se tra- arcará com todas as despesas, encontrem casualmente.
tando de vãos, ou aberturas para inclusive de conservação, ou com § 1o O disposto neste artigo
luz, seja qual for a quantidade, metade, se o vizinho adquirir mea- aplica-se aos casos de limpeza
altura e disposição, o vizinho po- ção também na parte aumentada. ou reparação de esgotos, gotei-
derá, a todo tempo, levantar a sua ras, aparelhos higiênicos, poços
edificação, ou contramuro, ainda Art. 1.308. Não é lícito encostar e nascentes e ao aparo de cer-
que lhes vede a claridade. à parede divisória chaminés, fo- ca viva.
gões, fornos ou quaisquer apare- § 2o Na hipótese do inciso
Art. 1.303. Na zona rural, não lhos ou depósitos suscetíveis de II, uma vez entregues as coisas
será permitido levantar edifica- produzir infiltrações ou interfe- buscadas pelo vizinho, poderá ser

210
Código Civil
impedida a sua entrada no imóvel. gou proporcionalmente ao seu a quem afinal oferecer melhor
§ 3o Se do exercício do direito quinhão na coisa comum. lanço, preferindo, em condições
assegurado neste artigo provier iguais, o condômino ao estranho.
dano, terá o prejudicado direito Art. 1.318. As dívidas contraí-
a ressarcimento. das por um dos condôminos em
proveito da comunhão, e durante
Subseção II – Da
ela, obrigam o contratante; mas Administração do
CAPÍTULO VI – DO terá este ação regressiva contra Condomínio
CONDOMÍNIO GERAL os demais.
Art. 1.323. Deliberando a maio-
Seção I – Do Condomínio
Art. 1.319. Cada condômino res- ria sobre a administração da coisa
Voluntário ponde aos outros pelos frutos que comum, escolherá o administra-
Subseção I – Dos Direitos e percebeu da coisa e pelo dano dor, que poderá ser estranho ao
Deveres dos Condôminos que lhe causou. condomínio; resolvendo alugá-
-la, preferir-se-á, em condições
Art. 1.314. Cada condômino Art. 1.320. A todo tempo será lí- iguais, o condômino ao que não
pode usar da coisa conforme cito ao condômino exigir a divisão o é.
sua destinação, sobre ela exer- da coisa comum, respondendo
cer todos os direitos compatíveis o quinhão de cada um pela sua Art. 1.324. O condômino que
com a indivisão, reivindicá-la de parte nas despesas da divisão. administrar sem oposição dos
terceiro, defender a sua posse e § 1o Podem os condôminos outros presume-se representan-
alhear a respectiva parte ideal, acordar que fique indivisa a coisa te comum.
ou gravá-la. comum por prazo não maior de
Parágrafo único. Nenhum cinco anos, suscetível de prorro- Art. 1.325. A maioria será cal-
dos condôminos pode alterar a gação ulterior. culada pelo valor dos quinhões.
destinação da coisa comum, nem § 2o Não poderá exceder de § 1o As deliberações serão
dar posse, uso ou gozo dela a cinco anos a indivisão estabele- obrigatórias, sendo tomadas por
estranhos, sem o consenso dos cida pelo doador ou pelo testador. maioria absoluta.
outros. § 3o A requerimento de qual- § 2o Não sendo possível al-
quer interessado e se graves ra- cançar maioria absoluta, decidirá
Art. 1.315. O condômino é obri- zões o aconselharem, pode o juiz o juiz, a requerimento de qualquer
gado, na proporção de sua parte, determinar a divisão da coisa condômino, ouvidos os outros.
a concorrer para as despesas de comum antes do prazo. § 3o Havendo dúvida quanto
conservação ou divisão da coisa, ao valor do quinhão, será este
e a suportar os ônus a que esti- Art. 1.321. Aplicam-se à divisão avaliado judicialmente.
ver sujeita. do condomínio, no que couber,
Parágrafo único. Presumem- as regras de partilha de herança Art. 1.326. Os frutos da coisa
-se iguais as partes ideais dos (arts. 2.013 a 2.022). comum, não havendo em contrá-
condôminos. rio estipulação ou disposição de
Art. 1.322. Quando a coisa for última vontade, serão partilhados
Art. 1.316. Pode o condômino indivisível, e os consortes não na proporção dos quinhões.
eximir-se do pagamento das des- quiserem adjudicá-la a um só, in-
pesas e dívidas, renunciando à denizando os outros, será vendida
parte ideal. e repartido o apurado, preferin-
Seção II – Do Condomínio
§ 1o Se os demais condômi- do-se, na venda, em condições Necessário
nos assumem as despesas e as iguais de oferta, o condômino
dívidas, a renúncia lhes aproveita, ao estranho, e entre os condô- Art. 1.327. O condomínio por
adquirindo a parte ideal de quem minos aquele que tiver na coisa meação de paredes, cercas, mu-
renunciou, na proporção dos pa- benfeitorias mais valiosas, e, não ros e valas regula-se pelo dis-
gamentos que fizerem. as havendo, o de quinhão maior. posto neste Código (arts. 1.297 e
§ 2o Se não há condômino Parágrafo único. Se nenhum 1.298; 1.304 a 1.307).
que faça os pagamentos, a coisa dos condôminos tem benfeitorias
comum será dividida. na coisa comum e participam Art. 1.328. O proprietário que
todos do condomínio em partes tiver direito a estremar um imóvel
Art. 1.317. Quando a dívida hou- iguais, realizar-se-á licitação en- com paredes, cercas, muros, va-
ver sido contraída por todos os tre estranhos e, antes de adjudi- las ou valados, tê-lo-á igualmen-
condôminos, sem se discriminar cada a coisa àquele que ofereceu te a adquirir meação na parede,
a parte de cada um na obrigação, maior lanço, proceder-se-á à li- muro, valado ou cerca do vizinho,
nem se estipular solidariedade, citação entre os condôminos, a embolsando-lhe metade do que
entende-se que cada qual se obri- fim de que a coisa seja adjudicada atualmente valer a obra e o ter-

211
Código Civil
reno por ela ocupado (art. 1.297). biliária pode ser privada do acesso feita por escritura pública ou por
ao logradouro público. instrumento particular.
Art. 1.329. Não convindo os dois § 5o O terraço de cobertura § 2o São equiparados aos
no preço da obra, será este arbi- é parte comum, salvo disposição proprietários, para os fins deste
trado por peritos, a expensas de contrária da escritura de consti- artigo, salvo disposição em con-
ambos os confinantes. tuição do condomínio. trário, os promitentes comprado-
res e os cessionários de direitos
Art. 1.330. Qualquer que seja o Art. 1.332. Institui-se o condo- relativos às unidades autônomas.
valor da meação, enquanto aque- mínio edilício por ato entre vivos
le que pretender a divisão não o ou testamento, registrado no Car- Art. 1.335. São direitos do con-
pagar ou depositar, nenhum uso tório de Registro de Imóveis, de- dômino:
poderá fazer na parede, muro, vendo constar daquele ato, além I – usar, fruir e livremente
vala, cerca ou qualquer outra obra do disposto em lei especial: dispor das suas unidades;
divisória. I – a discriminação e individu- II – usar das partes comuns,
alização das unidades de proprie- conforme a sua destinação, e
dade exclusiva, estremadas uma contanto que não exclua a utiliza-
CAPÍTULO VII – DO das outras e das partes comuns; ção dos demais compossuidores;
CONDOMÍNIO EDILÍCIO II – a determinação da fração III – votar nas deliberações
ideal atribuída a cada unidade, da assembleia e delas participar,
Seção I – Disposições Gerais
relativamente ao terreno e par- estando quite.
tes comuns;
Art. 1.331. Pode haver, em edifi- III – o fim a que as unidades Art. 1.336. São deveres do con-
cações, partes que são proprie- se destinam. dômino:
dade exclusiva, e partes que são I – contribuir para as despe-
propriedade comum dos con- Art. 1.333. A convenção que sas do condomínio na proporção
dôminos. constitui o condomínio edilício das suas frações ideais, salvo
§ 1o As partes suscetíveis deve ser subscrita pelos titulares disposição em contrário na con-
de utilização independente, tais de, no mínimo, dois terços das venção;
como apartamentos, escritórios, frações ideais e torna-se, desde II – não realizar obras que
salas, lojas e sobrelojas, com as logo, obrigatória para os titulares comprometam a segurança da
respectivas frações ideais no solo de direito sobre as unidades, ou edificação;
e nas outras partes comuns, su- para quantos sobre elas tenham III – não alterar a forma e a
jeitam-se a propriedade exclusiva, posse ou detenção. cor da fachada, das partes e es-
podendo ser alienadas e gravadas Parágrafo único. Para ser quadrias externas;
livremente por seus proprietários, oponível contra terceiros, a con- IV – dar às suas partes a mes-
exceto os abrigos para veículos, venção do condomínio deverá ser ma destinação que tem a edifica-
que não poderão ser alienados registrada no Cartório de Registro ção, e não as utilizar de maneira
ou alugados a pessoas estranhas de Imóveis. prejudicial ao sossego, salubrida-
ao condomínio, salvo autoriza- de e segurança dos possuidores,
ção expressa na convenção de Art. 1.334. Além das cláusulas ou aos bons costumes.
condomínio. referidas no art. 1.332 e das que § 1o O condômino que não
§ 2o O solo, a estrutura do os interessados houverem por pagar a sua contribuição fica-
prédio, o telhado, a rede geral bem estipular, a convenção de- rá sujeito aos juros moratórios
de distribuição de água, esgoto, terminará: convencionados ou, não sendo
gás e eletricidade, a calefação e I – a quota proporcional e o previstos, os de um por cento
refrigeração centrais, e as de- modo de pagamento das contri- ao mês e multa de até dois por
mais partes comuns, inclusive buições dos condôminos para cento sobre o débito.
o acesso ao logradouro público, atender às despesas ordinárias § 2o O condômino, que não
são utilizados em comum pe- e extraordinárias do condomínio; cumprir qualquer dos deveres
los condôminos, não podendo II – sua forma de adminis- estabelecidos nos incisos II a IV,
ser alienados separadamente, tração; pagará a multa prevista no ato
ou divididos. III – a competência das as- constitutivo ou na convenção, não
§ 3o A cada unidade imobiliá- sembleias, forma de sua convo- podendo ela ser superior a cinco
ria caberá, como parte insepará- cação e quórum exigido para as vezes o valor de suas contribui-
vel, uma fração ideal no solo e nas deliberações; ções mensais, independentemen-
outras partes comuns, que será IV – as sanções a que estão te das perdas e danos que se apu-
identificada em forma decimal sujeitos os condôminos, ou pos- rarem; não havendo disposição
ou ordinária no instrumento de suidores; expressa, caberá à assembleia
instituição do condomínio. V – o regimento interno. geral, por dois terços no mínimo
§ 4o Nenhuma unidade imo- § 1o A convenção poderá ser dos condôminos restantes, deli-

212
Código Civil
berar sobre a cobrança da multa. Art. 1.341. A realização de obras de modo que não haja danos às
no condomínio depende: unidades imobiliárias inferiores.
Art. 1337. O condômino, ou pos- I – se voluptuárias, de voto
suidor, que não cumpre reitera- de dois terços dos condôminos; Art. 1.345. O adquirente de uni-
damente com os seus deveres II – se úteis, de voto da maio- dade responde pelos débitos do
perante o condomínio poderá, ria dos condôminos. alienante, em relação ao condo-
por deliberação de três quar- § 1o As obras ou reparações mínio, inclusive multas e juros
tos dos condôminos restantes, necessárias podem ser realiza- moratórios.
ser constrangido a pagar multa das, independentemente de au-
correspondente até ao quíntuplo torização, pelo síndico, ou, em Art. 1.346. É obrigatório o segu-
do valor atribuído à contribuição caso de omissão ou impedimento ro de toda a edificação contra o
para as despesas condominiais, deste, por qualquer condômino. risco de incêndio ou destruição,
conforme a gravidade das faltas § 2o Se as obras ou reparos total ou parcial.
e a reiteração, independente- necessários forem urgentes e
mente das perdas e danos que importarem em despesas exces-
se apurem. sivas, determinada sua realiza-
Seção II – Da Administração
Parágrafo único. O condô- ção, o síndico ou o condômino do Condomínio
mino ou possuidor que, por seu que tomou a iniciativa delas dará
reiterado comportamento antis- ciência à assembleia, que deverá Art. 1.347. A assembleia esco-
social, gerar incompatibilidade de ser convocada imediatamente. lherá um síndico, que poderá não
convivência com os demais con- § 3o Não sendo urgentes, as ser condômino, para administrar
dôminos ou possuidores, poderá obras ou reparos necessários, o condomínio, por prazo não su-
ser constrangido a pagar multa que importarem em despesas perior a dois anos, o qual poderá
correspondente ao décuplo do excessivas, somente poderão ser renovar-se.
valor atribuído à contribuição para efetuadas após autorização da as-
as despesas condominiais, até ul- sembleia, especialmente convo- Art. 1.348. Compete ao síndico:
terior deliberação da assembleia. cada pelo síndico, ou, em caso de I – convocar a assembleia dos
omissão ou impedimento deste, condôminos;
Art. 1.338. Resolvendo o con- por qualquer dos condôminos. II – representar, ativa e pas-
dômino alugar área no abrigo § 4o O condômino que reali- sivamente, o condomínio, prati-
para veículos, preferir-se-á, em zar obras ou reparos necessários cando, em juízo ou fora dele, os
condições iguais, qualquer dos será reembolsado das despesas atos necessários à defesa dos
condôminos a estranhos, e, entre que efetuar, não tendo direito interesses comuns;
todos, os possuidores. à restituição das que fizer com III – dar imediato conheci-
obras ou reparos de outra nature- mento à assembleia da existên-
Art. 1.339. Os direitos de cada za, embora de interesse comum. cia de procedimento judicial ou
condômino às partes comuns são administrativo, de interesse do
inseparáveis de sua propriedade Art. 1.342. A realização de condomínio;
exclusiva; são também insepará- obras, em partes comuns, em IV – cumprir e fazer cumprir a
veis das frações ideais correspon- acréscimo às já existentes, a fim convenção, o regimento interno e
dentes as unidades imobiliárias, de lhes facilitar ou aumentar a as determinações da assembleia;
com as suas partes acessórias. utilização, depende da aprova- V – diligenciar a conservação
§ 1o Nos casos deste artigo ção de dois terços dos votos dos e a guarda das partes comuns e
é proibido alienar ou gravar os condôminos, não sendo permiti- zelar pela prestação dos serviços
bens em separado. das construções, nas partes co- que interessem aos possuidores;
§ 2o É permitido ao condô- muns, suscetíveis de prejudicar VI – elaborar o orçamento
mino alienar parte acessória de a utilização, por qualquer dos da receita e da despesa relativa
sua unidade imobiliária a outro condôminos, das partes próprias, a cada ano;
condômino, só podendo fazê-lo a ou comuns. VII – cobrar dos condôminos
terceiro se essa faculdade cons- as suas contribuições, bem como
tar do ato constitutivo do condo- Art. 1.343. A construção de ou- impor e cobrar as multas devidas;
mínio, e se a ela não se opuser a tro pavimento, ou, no solo comum, VIII – prestar contas à as-
respectiva assembleia geral. de outro edifício, destinado a con- sembleia, anualmente e quando
ter novas unidades imobiliárias, exigidas;
Art. 1.340. As despesas relativas depende da aprovação da unani- IX – realizar o seguro da edi-
a partes comuns de uso exclusivo midade dos condôminos. ficação.
de um condômino, ou de alguns § 1o Poderá a assembleia in-
deles, incumbem a quem delas Art. 1.344. Ao proprietário do vestir outra pessoa, em lugar do
se serve. terraço de cobertura incumbem síndico, em poderes de repre-
as despesas da sua conservação, sentação.

213
Código Civil
§ 2o O síndico pode transferir presentes, salvo quando exigido Art. 1.354-A. A convocação,
a outrem, total ou parcialmente, quórum especial. a realização e a deliberação de
os poderes de representação ou § 1o Quando a deliberação quaisquer modalidades de assem-
as funções administrativas, me- exigir quórum especial previsto bleia poderão dar-se de forma
diante aprovação da assembleia, em lei ou em convenção e ele eletrônica, desde que:
salvo disposição em contrário da não for atingido, a assembleia I – tal possibilidade não seja
convenção. poderá, por decisão da maioria vedada na convenção de con-
dos presentes, autorizar o presi- domínio;
Art. 1.349. A assembleia, espe- dente a converter a reunião em II – sejam preservados aos
cialmente convocada para o fim sessão permanente, desde que condôminos os direitos de voz,
estabelecido no § 2o do artigo an- cumulativamente: de debate e de voto.
tecedente, poderá, pelo voto da I – sejam indicadas a data e a § 1o Do instrumento de con-
maioria absoluta de seus mem- hora da sessão em seguimento, vocação deverá constar que a
bros, destituir o síndico que pra- que não poderá ultrapassar 60 assembleia será realizada por
ticar irregularidades, não prestar (sessenta) dias, e identificadas meio eletrônico, bem como as
contas, ou não administrar con- as deliberações pretendidas, em instruções sobre acesso, mani-
venientemente o condomínio. razão do quórum especial não festação e forma de coleta de
atingido; votos dos condôminos.
Art. 1.350. Convocará o síndi- II – fiquem expressamente § 2o A administração do
co, anualmente, reunião da as- convocados os presentes e sejam condomínio não poderá ser res-
sembleia dos condôminos, na obrigatoriamente convocadas ponsabilizada por problemas
forma prevista na convenção, as unidades ausentes, na forma decorrentes dos equipamentos
a fim de aprovar o orçamento prevista em convenção; de informática ou da conexão à
das despesas, as contribuições III – seja lavrada ata parcial, internet dos condôminos ou de
dos condôminos e a prestação relativa ao segmento presencial seus representantes nem por
de contas, e eventualmente ele- da reunião da assembleia, da qual quaisquer outras situações que
ger-lhe o substituto e alterar o deverão constar as transcrições não estejam sob o seu controle.
regimento interno. circunstanciadas de todos os ar- § 3o Somente após a soma-
§ 1o Se o síndico não convo- gumentos até então apresenta- tória de todos os votos e a sua
car a assembleia, um quarto dos dos relativos à ordem do dia, que divulgação será lavrada a res-
condôminos poderá fazê-lo. deverá ser remetida aos condô- pectiva ata, também eletrônica,
§ 2o Se a assembleia não se minos ausentes; e encerrada a assembleia geral.
reunir, o juiz decidirá, a requeri- IV – seja dada continuidade § 4o A assembleia eletrônica
mento de qualquer condômino. às deliberações no dia e na hora deverá obedecer aos preceitos
designados, e seja a ata corres- de instalação, de funcionamento
Art. 1.351. Depende da aprova- pondente lavrada em seguimento e de encerramento previstos no
ção de 2/3 (dois terços) dos votos à que estava parcialmente redigi- edital de convocação e poderá
dos condôminos a alteração da da, com a consolidação de todas ser realizada de forma híbrida,
convenção, bem como a mudança as deliberações. com a presença física e virtual de
da destinação do edifício ou da § 2o Os votos consignados na condôminos concomitantemente
unidade imobiliária. primeira sessão ficarão registra- no mesmo ato.
dos, sem que haja necessidade de § 5o Normas complementa-
Art. 1.352. Salvo quando exigido comparecimento dos condôminos res relativas às assembleias ele-
quórum especial, as deliberações para sua confirmação, os quais trônicas poderão ser previstas no
da assembleia serão tomadas, em poderão, se estiverem presentes regimento interno do condomínio
primeira convocação, por maioria no encontro seguinte, requerer a e definidas mediante aprovação
de votos dos condôminos presen- alteração do seu voto até o des- da maioria simples dos presentes
tes que representem pelo menos fecho da deliberação pretendida. em assembleia convocada para
metade das frações ideais. § 3o A sessão permanente essa finalidade.
Parágrafo único. Os votos poderá ser prorrogada tantas ve- § 6o Os documentos perti-
serão proporcionais às frações zes quantas necessárias, desde nentes à ordem do dia poderão
ideais no solo e nas outras partes que a assembleia seja concluí- ser disponibilizados de forma
comuns pertencentes a cada con- da no prazo total de 90 (noven- física ou eletrônica aos partici-
dômino, salvo disposição diversa ta) dias, contado da data de sua pantes.
da convenção de constituição do abertura inicial.
condomínio. Art. 1.355. Assembleias extraor-
Art. 1.354. A assembleia não dinárias poderão ser convocadas
Art. 1.353. Em segunda convo- poderá deliberar se todos os con- pelo síndico ou por um quarto dos
cação, a assembleia poderá deli- dôminos não forem convocados condôminos.
berar por maioria dos votos dos para a reunião.

214
Código Civil
Art. 1.356. Poderá haver no con- corporações imobiliárias de que II – flutuante, caso em que
domínio um conselho fiscal, com- trata o Capítulo I do Título II da a determinação do período será
posto de três membros, eleitos Lei no 4.591, de 16 de dezembro realizada de forma periódica, me-
pela assembleia, por prazo não de 1964, equiparando-se o empre- diante procedimento objetivo que
superior a dois anos, ao qual com- endedor ao incorporador quanto respeite, em relação a todos os
pete dar parecer sobre as contas aos aspectos civis e registrários. multiproprietários, o princípio
do síndico. § 3o Para fins de incorpo- da isonomia, devendo ser pre-
ração imobiliária, a implantação viamente divulgado; ou
de toda a infraestrutura ficará a III – misto, combinando os
Seção III – Da Extinção do cargo do empreendedor. sistemas fixo e flutuante.
Condomínio § 2o Todos os multiproprie-
tários terão direito a uma mesma
Art. 1.357. Se a edificação for to- CAPÍTULO VII-A – quantidade mínima de dias segui-
tal ou consideravelmente destru- DO CONDOMÍNIO EM dos durante o ano, podendo haver
ída, ou ameace ruína, os condô- MULTIPROPRIEDADE a aquisição de frações maiores
minos deliberarão em assembleia que a mínima, com o correspon-
sobre a reconstrução, ou venda, Seção I – Disposições Gerais dente direito ao uso por períodos
por votos que representem meta- também maiores.
de mais uma das frações ideais. Art. 1.358-B. A multipropriedade
§ 1o Deliberada a reconstru- reger-se-á pelo disposto neste
ção, poderá o condômino eximir- Capítulo e, de forma supletiva e
Seção II – Da Instituição da
-se do pagamento das despesas subsidiária, pelas demais dispo- Multipropriedade
respectivas, alienando os seus sições deste Código e pelas dis-
direitos a outros condôminos, posições das Leis nos 4.591, de 16 Art. 1.358-F. Institui-se a mul-
mediante avaliação judicial. de dezembro de 1964, e 8.078, de tipropriedade por ato entre vi-
§ 2o Realizada a venda, em 11 de setembro de 1990 (Código de vos ou testamento, registrado no
que se preferirá, em condições Defesa do Consumidor). competente cartório de registro
iguais de oferta, o condômino ao de imóveis, devendo constar da-
estranho, será repartido o apu- Art. 1.358-C. Multipropriedade é quele ato a duração dos períodos
rado entre os condôminos, pro- o regime de condomínio em que correspondentes a cada fração
porcionalmente ao valor das suas cada um dos proprietários de um de tempo.
unidades imobiliárias. mesmo imóvel é titular de uma
fração de tempo, à qual corres- Art. 1.358-G. Além das cláusulas
Art. 1.358. Se ocorrer desapro- ponde a faculdade de uso e gozo, que os multiproprietários deci-
priação, a indenização será repar- com exclusividade, da totalidade direm estipular, a convenção de
tida na proporção a que se refere do imóvel, a ser exercida pelos condomínio em multipropriedade
o § 2o do artigo antecedente. proprietários de forma alternada. determinará:
Parágrafo único. A multipro- I – os poderes e deveres dos
priedade não se extinguirá auto- multiproprietários, especialmen-
Seção IV – Do Condomínio de maticamente se todas as frações te em matéria de instalações,
Lotes de tempo forem do mesmo mul- equipamentos e mobiliário do
tiproprietário. imóvel, de manutenção ordinária
Art. 1.358-A. Pode haver, em e extraordinária, de conservação
terrenos, partes designadas de Art. 1.358-D. O imóvel objeto da e limpeza e de pagamento da con-
lotes que são propriedade exclu- multipropriedade: tribuição condominial;
siva e partes que são propriedade I – é indivisível, não se su- II – o número máximo de pes-
comum dos condôminos. jeitando a ação de divisão ou de soas que podem ocupar simul-
§ 1o A fração ideal de cada extinção de condomínio; taneamente o imóvel no período
condômino poderá ser propor- II – inclui as instalações, os correspondente a cada fração
cional à área do solo de cada equipamentos e o mobiliário des- de tempo;
unidade autônoma, ao respec- tinados a seu uso e gozo. III – as regras de acesso do
tivo potencial construtivo ou a administrador condominial ao
outros critérios indicados no ato Art. 1.358-E. Cada fração de imóvel para cumprimento do de-
de instituição. tempo é indivisível. ver de manutenção, conservação
§ 2o Aplica-se, no que cou- § 1o O período corresponden- e limpeza;
ber, ao condomínio de lotes: te a cada fração de tempo será de, IV – a criação de fundo de
I – o disposto sobre condomí- no mínimo, 7 (sete) dias, seguidos reserva para reposição e manu-
nio edilício neste Capítulo, respei- ou intercalados, e poderá ser: tenção dos equipamentos, insta-
tada a legislação urbanística; e I – fixo e determinado, no lações e mobiliário;
II – o regime jurídico das in- mesmo período de cada ano; V – o regime aplicável em

215
Código Civil
caso de perda ou destruição par- de tempo no imóvel; IX – permitir a realização de
cial ou total do imóvel, inclusive b) assembleia geral do con- obras ou reparos urgentes.
para efeitos de participação no domínio edilício, quando for o § 1o Conforme previsão que
risco ou no valor do seguro, da caso, e o voto do multiproprie- deverá constar da respectiva con-
indenização ou da parte restante; tário corresponderá à quota de venção de condomínio em multi-
VI – as multas aplicáveis ao sua fração de tempo em relação propriedade, o multiproprietário
multiproprietário nas hipóteses à quota de poder político atribuído estará sujeito a:
de descumprimento de deveres. à unidade autônoma na respec- I – multa, no caso de descum-
tiva convenção de condomínio primento de qualquer de seus
Art. 1.358-H. O instrumento de edilício. deveres;
instituição da multiproprieda- II – multa progressiva e perda
de ou a convenção de condomí- Art. 1.358-J. São obrigações temporária do direito de utilização
nio em multipropriedade poderá do multiproprietário, além da- do imóvel no período correspon-
estabelecer o limite máximo de quelas previstas no instrumento dente à sua fração de tempo, no
frações de tempo no mesmo imó- de instituição e na convenção de caso de descumprimento reite-
vel que poderão ser detidas pela condomínio em multipropriedade: rado de deveres.
mesma pessoa natural ou jurídica. I – pagar a contribuição con- § 2o A responsabilidade pelas
Parágrafo único. Em caso dominial do condomínio em multi- despesas referentes a reparos
de instituição da multiproprie- propriedade e, quando for o caso, no imóvel, bem como suas ins-
dade para posterior venda das do condomínio edilício, ainda que talações, equipamentos e mobi-
frações de tempo a terceiros, renuncie ao uso e gozo, total ou liário, será:
o atendimento a eventual limite parcial, do imóvel, das áreas co- I – de todos os multiproprie-
de frações de tempo por titular muns ou das respectivas instala- tários, quando decorrentes do
estabelecido no instrumento de ções, equipamentos e mobiliário; uso normal e do desgaste natural
instituição será obrigatório so- II – responder por danos cau- do imóvel;
mente após a venda das frações. sados ao imóvel, às instalações, II – exclusivamente do mul-
aos equipamentos e ao mobiliá- tiproprietário responsável pelo
rio por si, por qualquer de seus uso anormal, sem prejuízo de
Seção III – Dos Direitos acompanhantes, convidados ou multa, quando decorrentes de
e das Obrigações do prepostos ou por pessoas por ele uso anormal do imóvel.
Multiproprietário autorizadas; § 3o (Vetado)
III – comunicar imediatamen- § 4o (Vetado)
Art. 1.358-I. São direitos do te ao administrador os defeitos, § 5o (Vetado)
multiproprietário, além daque- avarias e vícios no imóvel dos
les previstos no instrumento de quais tiver ciência durante a uti- Art. 1.358-K. Para os efeitos do
instituição e na convenção de lização; disposto nesta Seção, são equi-
condomínio em multipropriedade: IV – não modificar, alterar ou parados aos multiproprietários
I – usar e gozar, durante o substituir o mobiliário, os equi- os promitentes compradores e os
período correspondente à sua pamentos e as instalações do cessionários de direitos relativos
fração de tempo, do imóvel e de imóvel; a cada fração de tempo.
suas instalações, equipamentos V – manter o imóvel em es-
e mobiliário; tado de conservação e limpeza
II – ceder a fração de tempo condizente com os fins a que
Seção IV – Da Transferência
em locação ou comodato; se destina e com a natureza da da Multipropriedade
III – alienar a fração de tem- respectiva construção;
po, por ato entre vivos ou por VI – usar o imóvel, bem como Art. 1.358-L. A transferência
causa de morte, a título oneroso suas instalações, equipamentos e do direito de multipropriedade e
ou gratuito, ou onerá-la, devendo mobiliário, conforme seu destino a sua produção de efeitos peran-
a alienação e a qualificação do e natureza; te terceiros dar-se-ão na forma
sucessor, ou a oneração, ser in- VII – usar o imóvel exclusiva- da lei civil e não dependerão da
formadas ao administrador; mente durante o período corres- anuência ou cientificação dos
IV – participar e votar, pes- pondente à sua fração de tempo; demais multiproprietários.
soalmente ou por intermédio de VIII – desocupar o imóvel, im- § 1o Não haverá direito de
representante ou procurador, preterivelmente, até o dia e hora preferência na alienação de fra-
desde que esteja quite com as fixados no instrumento de insti- ção de tempo, salvo se estabele-
obrigações condominiais, em: tuição ou na convenção de con- cido no instrumento de instituição
a) assembleia geral do con- domínio em multipropriedade, sob ou na convenção do condomínio
domínio em multipropriedade, e pena de multa diária, conforme em multipropriedade em favor
o voto do multiproprietário cor- convencionado no instrumento dos demais multiproprietários
responderá à quota de sua fração pertinente; ou do instituidor do condomínio

216
Código Civil
em multipropriedade. do condomínio edilício ou vo- art.  1.358-O, a convenção de
§ 2o O adquirente será soli- luntário, com os fundos comuns condomínio edilício deve prever,
dariamente responsável com o arrecadados, de todas as despe- além das matérias elencadas nos
alienante pelas obrigações de que sas comuns. arts. 1.332, 1.334 e, se for o caso,
trata o § 5o do art. 1.358- deste § 2o A convenção de condo- 1.358-G deste Código:
Código caso não obtenha a decla- mínio em multipropriedade po- I – a identificação das unida-
ração de inexistência de débitos derá regrar de forma diversa a des sujeitas ao regime da multi-
referente à fração de tempo no atribuição prevista no inciso IV propriedade, no caso de empre-
momento de sua aquisição. do § 1o deste artigo. endimentos mistos;
II – a indicação da duração
Art. 1.358-N. O instrumento de das frações de tempo de cada
Seção V – Da Administração instituição poderá prever fração unidade autônoma sujeita ao re-
da Multipropriedade de tempo destinada à realização, gime da multipropriedade;
no imóvel e em suas instalações, III – a forma de rateio, entre os
Art. 1.358-M. A administração em seus equipamentos e em seu multiproprietários de uma mesma
do imóvel e de suas instalações, mobiliário, de reparos indispensá- unidade autônoma, das contri-
equipamentos e mobiliário será veis ao exercício normal do direito buições condominiais relativas à
de responsabilidade da pessoa de multipropriedade. unidade, que, salvo se disciplinada
indicada no instrumento de ins- § 1o A fração de tempo de que de forma diversa no instrumento
tituição ou na convenção de con- trata o caput deste artigo poderá de instituição ou na convenção de
domínio em multipropriedade, ou, ser atribuída: condomínio em multiproprieda-
na falta de indicação, de pessoa I – ao instituidor da multipro- de, será proporcional à fração de
escolhida em assembleia geral priedade; ou tempo de cada multiproprietário;
dos condôminos. II – aos multiproprietários, IV – a especificação das des-
§ 1o O administrador exerce- proporcionalmente às respecti- pesas ordinárias, cujo custeio
rá, além daquelas previstas no vas frações. será obrigatório, independente-
instrumento de instituição e na § 2o Em caso de emergência, mente do uso e gozo do imóvel e
convenção de condomínio em os reparos de que trata o caput das áreas comuns;
multipropriedade, as seguintes deste artigo poderão ser feitos V – os órgãos de administra-
atribuições: durante o período corresponden- ção da multipropriedade;
I – coordenação da utilização te à fração de tempo de um dos VI – a indicação, se for o caso,
do imóvel pelos multiproprietários multiproprietários. de que o empreendimento conta
durante o período corresponden- com sistema de administração de
te a suas respectivas frações de intercâmbio, na forma prevista no
tempo;
Seção VI – Disposições § 2o do art. 23 da Lei no 11.771, de
II – determinação, no caso dos Específicas Relativas às 17 de setembro de 2008, seja do
sistemas flutuante ou misto, dos Unidades Autônomas de período de fruição da fração de
períodos concretos de uso e gozo Condomínios Edilícios tempo, seja do local de fruição,
exclusivos de cada multiproprie- caso em que a responsabilidade
tário em cada ano; Art. 1.358-O. O condomínio edi- e as obrigações da companhia de
III – manutenção, conserva- lício poderá adotar o regime de intercâmbio limitam-se ao con-
ção e limpeza do imóvel; multipropriedade em parte ou tido na documentação de sua
IV – troca ou substituição de na totalidade de suas unidades contratação;
instalações, equipamentos ou autônomas, mediante: VII – a competência para a im-
mobiliário, inclusive: I – previsão no instrumento posição de sanções e o respectivo
a) determinar a necessidade de instituição; ou procedimento, especialmente nos
da troca ou substituição; II – deliberação da maioria casos de mora no cumprimento
b) providenciar os orçamen- absoluta dos condôminos. das obrigações de custeio e nos
tos necessários para a troca ou Parágrafo único. No caso casos de descumprimento da
substituição; previsto no inciso I do caput deste obrigação de desocupar o imóvel
c) submeter os orçamentos artigo, a iniciativa e a responsa- até o dia e hora previstos;
à aprovação pela maioria simples bilidade para a instituição do re- VIII – o quórum exigido para
dos condôminos em assembleia; gime da multipropriedade serão a deliberação de adjudicação da
V – elaboração do orçamento atribuídas às mesmas pessoas e fração de tempo na hipótese de
anual, com previsão das receitas observarão os mesmos requisitos inadimplemento do respectivo
e despesas; indicados nas alíneas “a”, “b” e “c” multiproprietário;
VI – cobrança das quotas de e no § 1o do art. 31 da Lei no 4.591, IX – o quórum exigido para
custeio de responsabilidade dos de 16 de dezembro de 1964. a deliberação de alienação, pelo
multiproprietários; condomínio edilício, da fração de
VII – pagamento, por conta Art. 1.358-P. Na hipótese do tempo adjudicada em virtude do

217
Código Civil
inadimplemento do respectivo mento particular. condomínio edilício regrar que em
multiproprietário. caso de inadimplência:
Art. 1.358-R. O condomínio edi- I – o inadimplente fique proi-
Art. 1.358-Q. Na hipótese do lício em que tenha sido instituído bido de utilizar o imóvel até a in-
art. 1.358-O deste Código, o re- o regime de multipropriedade em tegral quitação da dívida;
gimento interno do condomínio parte ou na totalidade de suas II – a fração de tempo do ina-
edilício deve prever: unidades autônomas terá neces- dimplente passe a integrar o pool
I – os direitos dos multipro- sariamente um administrador da administradora;
prietários sobre as partes comuns profissional. III – a administradora do sis-
do condomínio edilício; § 1o O prazo de duração do tema de locação fique automa-
II – os direitos e obrigações do contrato de administração será ticamente munida de poderes
administrador, inclusive quanto livremente convencionado. e obrigada a, por conta e ordem
ao acesso ao imóvel para cumpri- § 2o O administrador do con- do inadimplente, utilizar a inte-
mento do dever de manutenção, domínio referido no caput deste gralidade dos valores líquidos a
conservação e limpeza; artigo será também o administra- que o inadimplente tiver direito
III – as condições e regras dor de todos os condomínios em para amortizar suas dívidas con-
para uso das áreas comuns; multipropriedade de suas unida- dominiais, seja do condomínio
IV – os procedimentos a se- des autônomas. edilício, seja do condomínio em
rem observados para uso e gozo § 3o O administrador será multipropriedade, até sua integral
dos imóveis e das instalações, mandatário legal de todos os mul- quitação, devendo eventual saldo
equipamentos e mobiliário des- tiproprietários, exclusivamente ser imediatamente repassado ao
tinados ao regime da multipro- para a realização dos atos de ges- multiproprietário.
priedade; tão ordinária da multipropriedade,
V – o número máximo de pes- incluindo manutenção, conser- Art. 1.358-T. O multiproprietá-
soas que podem ocupar simul- vação e limpeza do imóvel e de rio somente poderá renunciar de
taneamente o imóvel no período suas instalações, equipamentos forma translativa a seu direito de
correspondente a cada fração e mobiliário. multipropriedade em favor do
de tempo; § 4o O administrador pode- condomínio edilício.
VI – as regras de convivência rá modificar o regimento inter- Parágrafo único. A renúncia
entre os multiproprietários e os no quanto aos aspectos estrita- de que trata o caput deste artigo
ocupantes de unidades autôno- mente operacionais da gestão da só é admitida se o multiproprie-
mas não sujeitas ao regime da multipropriedade no condomínio tário estiver em dia com as con-
multipropriedade, quando se tra- edilício. tribuições condominiais, com os
tar de empreendimentos mistos; § 5o O administrador pode tributos imobiliários e, se houver,
VII – a forma de contribuição, ser ou não um prestador de ser- com o foro ou a taxa de ocupação.
destinação e gestão do fundo de viços de hospedagem.
reserva específico para cada imó- Art. 1.358-U. As convenções dos
vel, para reposição e manutenção Art. 1.358-S. Na hipótese de condomínios edilícios, os memo-
dos equipamentos, instalações e inadimplemento, por parte do riais de loteamentos e os instru-
mobiliário, sem prejuízo do fundo multiproprietário, da obrigação mentos de venda dos lotes em
de reserva do condomínio edilício; de custeio das despesas ordiná- loteamentos urbanos poderão
VIII – a possibilidade de rea- rias ou extraordinárias, é cabível, limitar ou impedir a instituição da
lização de assembleias não pre- na forma da lei processual civil, a multipropriedade nos respectivos
senciais, inclusive por meio ele- adjudicação ao condomínio edi- imóveis, vedação que somente
trônico; lício da fração de tempo corres- poderá ser alterada no mínimo
IX – os mecanismos de par- pondente. pela maioria absoluta dos con-
ticipação e representação dos Parágrafo único. Na hipótese dôminos.
titulares; de o imóvel objeto da multipro-
X – o funcionamento do siste- priedade ser parte integrante de
ma de reserva, os meios de con- empreendimento em que haja CAPÍTULO VIII – DA
firmação e os requisitos a serem sistema de locação das frações PROPRIEDADE RESOLÚVEL
cumpridos pelo multiproprietário de tempo no qual os titulares
quando não exercer diretamente possam ou sejam obrigados a Art. 1.359. Resolvida a proprie-
sua faculdade de uso; locar suas frações de tempo ex- dade pelo implemento da condi-
XI – a descrição dos servi- clusivamente por meio de uma ção ou pelo advento do termo, en-
ços adicionais, se existentes, e administração única, repartindo tendem-se também resolvidos os
as regras para seu uso e custeio. entre si as receitas das locações direitos reais concedidos na sua
Parágrafo único. O regimento independentemente da efetiva pendência, e o proprietário, em
interno poderá ser instituído por ocupação de cada unidade au- cujo favor se opera a resolução,
escritura pública ou por instru- tônoma, poderá a convenção do pode reivindicar a coisa do poder

218
Código Civil
de quem a possua ou detenha. e risco, pode usar a coisa segundo não for incompatível com a legis-
sua destinação, sendo obrigado, lação especial.
Art. 1.360. Se a propriedade se como depositário:
resolver por outra causa super- I – a empregar na guarda da Art. 1.368-B. A alienação fidu-
veniente, o possuidor, que a tiver coisa a diligência exigida por sua ciária em garantia de bem móvel
adquirido por título anterior à natureza; ou imóvel confere direito real de
sua resolução, será considerado II – a entregá-la ao credor, aquisição ao fiduciante, seu ces-
proprietário perfeito, restando à se a dívida não for paga no ven- sionário ou sucessor.
pessoa, em cujo benefício houve cimento. Parágrafo único. O credor
a resolução, ação contra aque- fiduciário que se tornar proprie-
le cuja propriedade se resolveu Art. 1.364. Vencida a dívida, e tário pleno do bem, por efeito de
para haver a própria coisa ou o não paga, fica o credor obrigado realização da garantia, mediante
seu valor. a vender, judicial ou extrajudi- consolidação da propriedade, ad-
cialmente, a coisa a terceiros, judicação, dação ou outra forma
a aplicar o preço no pagamento pela qual lhe tenha sido transmi-
CAPÍTULO IX – DA de seu crédito e das despesas de tida a propriedade plena, passa a
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA cobrança, e a entregar o saldo, se responder pelo pagamento dos
houver, ao devedor. tributos sobre a propriedade e a
Art. 1.361. Considera-se fidu- posse, taxas, despesas condomi-
ciária a propriedade resolúvel Art. 1.365. É nula a cláusula que niais e quaisquer outros encar-
de coisa móvel infungível que o autoriza o proprietário fiduciário gos, tributários ou não, incidentes
devedor, com escopo de garantia, a ficar com a coisa alienada em sobre o bem objeto da garantia,
transfere ao credor. garantia, se a dívida não for paga a partir da data em que vier a ser
§ 1o Constitui-se a proprie- no vencimento. imitido na posse direta do bem.
dade fiduciária com o registro Parágrafo único. O devedor
do contrato, celebrado por ins- pode, com a anuência do credor,
trumento público ou particular, dar seu direito eventual à coisa CAPÍTULO X – DO FUNDO
que lhe serve de título, no Regis- em pagamento da dívida, após o DE INVESTIMENTO
tro de Títulos e Documentos do vencimento desta.
domicílio do devedor, ou, em se Art. 1.368-C. O fundo de investi-
tratando de veículos, na reparti- Art. 1.366. Quando, vendida a mento é uma comunhão de recur-
ção competente para o licencia- coisa, o produto não bastar para sos, constituído sob a forma de
mento, fazendo-se a anotação no o pagamento da dívida e das des- condomínio de natureza especial,
certificado de registro. pesas de cobrança, continuará o destinado à aplicação em ativos
§ 2o Com a constituição da devedor obrigado pelo restante. financeiros, bens e direitos de
propriedade fiduciária, dá-se o qualquer natureza.
desdobramento da posse, tor- Art. 1.367. A propriedade fiduci- § 1o Não se aplicam ao fun-
nando-se o devedor possuidor ária em garantia de bens móveis do de investimento as disposi-
direto da coisa. ou imóveis sujeita-se às disposi- ções constantes dos arts.  1.314
§ 3o A propriedade superve- ções do Capítulo I do Título X do ao 1.358-A deste Código.
niente, adquirida pelo devedor, Livro III da Parte Especial deste § 2o Competirá à Comissão
torna eficaz, desde o arquivamen- Código e, no que for específico, de Valores Mobiliários disciplinar
to, a transferência da propriedade à legislação especial pertinente, o disposto no caput deste artigo.
fiduciária. não se equiparando, para quais- § 3o O registro dos regula-
quer efeitos, à propriedade plena mentos dos fundos de investi-
Art. 1.362. O contrato, que serve de que trata o art. 1.231. mentos na Comissão de Valores
de título à propriedade fiduciária, Mobiliários é condição suficiente
conterá: Art. 1.368. O terceiro, interes- para garantir a sua publicidade
I – o total da dívida, ou sua sado ou não, que pagar a dívida, e a oponibilidade de efeitos em
estimativa; se sub-rogará de pleno direito relação a terceiros.
II – o prazo, ou a época do no crédito e na propriedade fi-
pagamento; duciária. Art. 1.368-D. O regulamento do
III – a taxa de juros, se houver; fundo de investimento poderá,
IV – a descrição da coisa ob- Art. 1.368-A. As demais espé- observado o disposto na regu-
jeto da transferência, com os cies de propriedade fiduciária lamentação a que se refere o
elementos indispensáveis à sua ou de titularidade fiduciária sub- §  2o do art.  1.368-C desta Lei,
identificação. metem-se à disciplina específica estabelecer:
das respectivas leis especiais, I – a limitação da responsabi-
Art. 1.363. Antes de vencida a somente se aplicando as dispo- lidade de cada investidor ao valor
dívida, o devedor, a suas expensas sições deste Código naquilo que de suas cotas;

219
Código Civil
II – a limitação da responsabi- timento constituído por lei es- Art. 1.376. No caso de extinção
lidade, bem como parâmetros de pecífica e regulamentado pela do direito de superfície em con-
sua aferição, dos prestadores de Comissão de Valores Mobiliários sequência de desapropriação, a
serviços do fundo de investimen- deverá, no que couber, seguir as indenização cabe ao proprietá-
to, perante o condomínio e entre disposições deste Capítulo. rio e ao superficiário, no valor
si, ao cumprimento dos deveres correspondente ao direito real
particulares de cada um, sem de cada um.
solidariedade; e TÍTULO IV – DA
III – classes de cotas com SUPERFÍCIE Art. 1.377. O direito de super-
direitos e obrigações distintos, fície, constituído por pessoa ju-
com possibilidade de constituir Art. 1.369. O proprietário pode rídica de direito público interno,
patrimônio segregado para cada conceder a outrem o direito de rege-se por este Código, no que
classe. construir ou de plantar em seu não for diversamente disciplinado
§ 1o A adoção da responsa- terreno, por tempo determinado, em lei especial.
bilidade limitada por fundo de mediante escritura pública devi-
investimento constituído sem a damente registrada no Cartório
limitação de responsabilidade de Registro de Imóveis. TÍTULO V – DAS
somente abrangerá fatos ocor- Parágrafo único. O direito SERVIDÕES
ridos após a respectiva mudança de superfície não autoriza obra
em seu regulamento. no subsolo, salvo se for inerente CAPÍTULO I – DA
§ 2o A avaliação de respon- ao objeto da concessão. CONSTITUIÇÃO DAS
sabilidade dos prestadores de SERVIDÕES
serviço deverá levar sempre em Art. 1.370. A concessão da su-
consideração os riscos inerentes perfície será gratuita ou onerosa; Art. 1.378. A servidão proporcio-
às aplicações nos mercados de se onerosa, estipularão as partes na utilidade para o prédio domi-
atuação do fundo de investimen- se o pagamento será feito de uma nante, e grava o prédio serviente,
to e a natureza de obrigação de só vez, ou parceladamente. que pertence a diverso dono, e
meio de seus serviços. constitui-se mediante declaração
§ 3o O patrimônio segrega- Art. 1.371. O superficiário res- expressa dos proprietários, ou
do referido no inciso III do caput ponderá pelos encargos e tribu- por testamento, e subsequente
deste artigo só responderá por tos que incidirem sobre o imóvel. registro no Cartório de Registro
obrigações vinculadas à classe de Imóveis.
respectiva, nos termos do re- Art. 1.372. O direito de superfí-
gulamento. cie pode transferir-se a terceiros Art. 1.379. O exercício incontes-
e, por morte do superficiário, aos tado e contínuo de uma servidão
Art. 1.368-E. Os fundos de in- seus herdeiros. aparente, por dez anos, nos ter-
vestimento respondem direta- Parágrafo único. Não poderá mos do art. 1.242, autoriza o in-
mente pelas obrigações legais e ser estipulado pelo concedente, teressado a registrá-la em seu
contratuais por eles assumidas, a nenhum título, qualquer paga- nome no Registro de Imóveis,
e os prestadores de serviço não mento pela transferência. valendo-lhe como título a sen-
respondem por essas obrigações, tença que julgar consumado a
mas respondem pelos prejuízos Art. 1.373. Em caso de alienação usucapião.
que causarem quando procede- do imóvel ou do direito de super- Parágrafo único. Se o pos-
rem com dolo ou má-fé. fície, o superficiário ou o proprie- suidor não tiver título, o prazo
§ 1o Se o fundo de investi- tário tem direito de preferência, da usucapião será de vinte anos.
mento com limitação de respon- em igualdade de condições.
sabilidade não possuir patrimô-
nio suficiente para responder Art. 1.374. Antes do termo fi- CAPÍTULO II – DO
por suas dívidas, aplicam-se as nal, resolver-se-á a concessão EXERCÍCIO DAS SERVIDÕES
regras de insolvência previstas se o superficiário der ao terreno
nos arts. 955 a 965 deste Código. destinação diversa daquela para Art. 1.380. O dono de uma ser-
§ 2o A insolvência pode ser que foi concedida. vidão pode fazer todas as obras
requerida judicialmente por cre- necessárias à sua conservação
dores, por deliberação própria dos Art. 1.375. Extinta a concessão, e uso, e, se a servidão perten-
cotistas do fundo de investimen- o proprietário passará a ter a pro- cer a mais de um prédio, serão
to, nos termos de seu regulamen- priedade plena sobre o terreno, as despesas rateadas entre os
to, ou pela Comissão de Valores construção ou plantação, inde- respectivos donos.
Mobiliários. pendentemente de indenização,
se as partes não houverem esti- Art. 1.381. As obras a que se re-
Art. 1.368-F. O fundo de inves- pulado o contrário. fere o artigo antecedente devem

220
Código Civil
ser feitas pelo dono do prédio ou de outro. quando não resulte de usuca-
dominante, se o contrário não pião, constituir-se-á mediante
dispuser expressamente o título. registro no Cartório de Registro
CAPÍTULO III – DA de Imóveis.
Art. 1.382. Quando a obrigação EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES
incumbir ao dono do prédio ser- Art. 1.392. Salvo disposição em
viente, este poderá exonerar-se, Art. 1.387. Salvo nas desapro- contrário, o usufruto estende-se
abandonando, total ou parcial- priações, a servidão, uma vez aos acessórios da coisa e seus
mente, a propriedade ao dono registrada, só se extingue, com acrescidos.
do dominante. respeito a terceiros, quando can- § 1o Se, entre os acessórios
Parágrafo único. Se o pro- celada. e os acrescidos, houver coisas
prietário do prédio dominante se Parágrafo único. Se o prédio consumíveis, terá o usufrutuário
recusar a receber a propriedade dominante estiver hipotecado, e o dever de restituir, findo o usu-
do serviente, ou parte dela, ca- a servidão se mencionar no título fruto, as que ainda houver e, das
ber-lhe-á custear as obras. hipotecário, será também preciso, outras, o equivalente em gênero,
para a cancelar, o consentimento qualidade e quantidade, ou, não
Art. 1.383. O dono do prédio ser- do credor. sendo possível, o seu valor, esti-
viente não poderá embaraçar de mado ao tempo da restituição.
modo algum o exercício legítimo Art. 1.388. O dono do prédio ser- § 2o Se há no prédio em que
da servidão. viente tem direito, pelos meios recai o usufruto florestas ou os
judiciais, ao cancelamento do recursos minerais a que se re-
Art. 1.384. A servidão pode ser registro, embora o dono do prédio fere o art. 1.230, devem o dono
removida, de um local para outro, dominante lho impugne: e o usufrutuário prefixar-lhe a
pelo dono do prédio serviente e à I – quando o titular houver extensão do gozo e a maneira
sua custa, se em nada diminuir as renunciado a sua servidão; de exploração.
vantagens do prédio dominante, II – quando tiver cessado, para § 3o Se o usufruto recai sobre
ou pelo dono deste e à sua custa, o prédio dominante, a utilidade ou universalidade ou quota-parte de
se houver considerável incremen- a comodidade, que determinou a bens, o usufrutuário tem direito
to da utilidade e não prejudicar o constituição da servidão; à parte do tesouro achado por
prédio serviente. III – quando o dono do prédio outrem, e ao preço pago pelo vi-
serviente resgatar a servidão. zinho do prédio usufruído, para
Art. 1.385. Restringir-se-á o obter meação em parede, cerca,
exercício da servidão às neces- Art. 1.389. Também se extin- muro, vala ou valado.
sidades do prédio dominante, evi- gue a servidão, ficando ao dono
tando-se, quanto possível, agra- do prédio serviente a faculdade Art. 1.393. Não se pode transfe-
var o encargo ao prédio serviente. de fazê-la cancelar, mediante a rir o usufruto por alienação; mas
§ 1o Constituída para certo prova da extinção: o seu exercício pode ceder-se por
fim, a servidão não se pode am- I – pela reunião dos dois pré- título gratuito ou oneroso.
pliar a outro. dios no domínio da mesma pes-
§ 2o Nas servidões de trân- soa;
sito, a de maior inclui a de menor II – pela supressão das res- CAPÍTULO II –
ônus, e a menor exclui a mais pectivas obras por efeito de con- DOS DIREITOS DO
onerosa. trato, ou de outro título expresso; USUFRUTUÁRIO
§ 3o Se as necessidades da III – pelo não uso, durante dez
cultura, ou da indústria, do prédio anos contínuos. Art. 1.394. O usufrutuário tem
dominante impuserem à servi- direito à posse, uso, administra-
dão maior largueza, o dono do ção e percepção dos frutos.
serviente é obrigado a sofrê-la; TÍTULO VI – DO USUFRUTO
mas tem direito a ser indenizado CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES Art. 1.395. Quando o usufruto
pelo excesso. recai em títulos de crédito, o usu-
GERAIS frutuário tem direito a perceber
Art. 1.386. As servidões pre- os frutos e a cobrar as respecti-
diais são indivisíveis, e subsistem, Art. 1.390. O usufruto pode re- vas dívidas.
no caso de divisão dos imóveis, cair em um ou mais bens, móveis Parágrafo único. Cobradas as
em benefício de cada uma das ou imóveis, em um patrimônio dívidas, o usufrutuário aplicará,
porções do prédio dominante, inteiro, ou parte deste, abran- de imediato, a importância em tí-
e continuam a gravar cada uma gendo-lhe, no todo ou em parte, tulos da mesma natureza, ou em
das do prédio serviente, salvo os frutos e utilidades. títulos da dívida pública federal,
se, por natureza, ou destino, só com cláusula de atualização mo-
se aplicarem a certa parte de um Art. 1.391. O usufruto de imóveis, netária segundo índices oficiais

221
Código Civil
regularmente estabelecidos. pesas de administração, entre as -rogado no valor da indenização
quais se incluirá a quantia fixada do seguro.
Art. 1.396. Salvo direito adquiri- pelo juiz como remuneração do
do por outrem, o usufrutuário faz administrador. Art. 1.408. Se um edifício sujeito
seus os frutos naturais, penden- a usufruto for destruído sem cul-
tes ao começar o usufruto, sem Art. 1.402. O usufrutuário não é pa do proprietário, não será este
encargo de pagar as despesas obrigado a pagar as deteriorações obrigado a reconstruí-lo, nem o
de produção. resultantes do exercício regular usufruto se restabelecerá, se o
Parágrafo único. Os frutos do usufruto. proprietário reconstruir à sua
naturais, pendentes ao tempo em custa o prédio; mas se a inde-
que cessa o usufruto, pertencem Art. 1.403. Incumbem ao usu- nização do seguro for aplicada à
ao dono, também sem compen- frutuário: reconstrução do prédio, restabe-
sação das despesas. I – as despesas ordinárias de lecer-se-á o usufruto.
conservação dos bens no estado
Art. 1.397. As crias dos animais em que os recebeu; Art. 1.409. Também fica sub-
pertencem ao usufrutuário, dedu- II – as prestações e os tribu- -rogada no ônus do usufruto, em
zidas quantas bastem para intei- tos devidos pela posse ou rendi- lugar do prédio, a indenização
rar as cabeças de gado existentes mento da coisa usufruída. paga, se ele for desapropriado, ou
ao começar o usufruto. a importância do dano, ressarcido
Art. 1.404. Incumbem ao dono pelo terceiro responsável no caso
Art. 1.398. Os frutos civis, ven- as reparações extraordinárias e de danificação ou perda.
cidos na data inicial do usufruto, as que não forem de custo módi-
pertencem ao proprietário, e ao co; mas o usufrutuário lhe pagará
usufrutuário os vencidos na data os juros do capital despendido CAPÍTULO IV – DA
em que cessa o usufruto. com as que forem necessárias à EXTINÇÃO DO USUFRUTO
conservação, ou aumentarem o
Art. 1.399. O usufrutuário pode rendimento da coisa usufruída. Art. 1.410. O usufruto extingue-
usufruir em pessoa, ou mediante § 1o Não se consideram mó- -se, cancelando-se o registro no
arrendamento, o prédio, mas não dicas as despesas superiores a Cartório de Registro de Imóveis:
mudar-lhe a destinação econômi- dois terços do líquido rendimento I – pela renúncia ou morte do
ca, sem expressa autorização do em um ano. usufrutuário;
proprietário. § 2o Se o dono não fizer as II – pelo termo de sua du-
reparações a que está obrigado, ração;
e que são indispensáveis à con- III – pela extinção da pessoa
CAPÍTULO III – servação da coisa, o usufrutuário jurídica, em favor de quem o usu-
DOS DEVERES DO pode realizá-las, cobrando da- fruto foi constituído, ou, se ela
USUFRUTUÁRIO quele a importância despendida. perdurar, pelo decurso de trinta
anos da data em que se começou
Art. 1.400. O usufrutuário, antes Art. 1.405. Se o usufruto recair a exercer;
de assumir o usufruto, inventa- num patrimônio, ou parte deste, IV – pela cessação do motivo
riará, à sua custa, os bens que será o usufrutuário obrigado aos de que se origina;
receber, determinando o estado juros da dívida que onerar o pa- V – pela destruição da coisa,
em que se acham, e dará cau- trimônio ou a parte dele. guardadas as disposições dos
ção, fidejussória ou real, se lha arts. 1.407, 1.408, 2a parte, e 1.409;
exigir o dono, de velar-lhes pela Art. 1.406. O usufrutuário é obri- VI – pela consolidação;
conservação, e entregá-los findo gado a dar ciência ao dono de VII – por culpa do usufrutu-
o usufruto. qualquer lesão produzida contra ário, quando aliena, deteriora,
Parágrafo único. Não é obri- a posse da coisa, ou os direitos ou deixa arruinar os bens, não
gado à caução o doador que se re- deste. lhes acudindo com os reparos
servar o usufruto da coisa doada. de conservação, ou quando, no
Art. 1.407. Se a coisa estiver usufruto de títulos de crédito, não
Art. 1.401. O usufrutuário que segurada, incumbe ao usufrutu- dá às importâncias recebidas a
não quiser ou não puder dar cau- ário pagar, durante o usufruto, as aplicação prevista no parágrafo
ção suficiente perderá o direito de contribuições do seguro. único do art. 1.395;
administrar o usufruto; e, neste § 1o Se o usufrutuário fizer VIII – pelo não uso, ou não
caso, os bens serão administra- o seguro, ao proprietário caberá fruição, da coisa em que o usu-
dos pelo proprietário, que ficará o direito dele resultante contra fruto recai (arts. 1.390 e 1.399).
obrigado, mediante caução, a o segurador.
entregar ao usufrutuário o ren- § 2o Em qualquer hipótese, o Art. 1.411. Constituído o usu-
dimento deles, deduzidas as des- direito do usufrutuário fica sub- fruto em favor de duas ou mais

222
Código Civil
pessoas, extinguir-se-á a parte não pactuou arrependimento, penhada, e preferir, no pagamen-
em relação a cada uma das que celebrada por instrumento públi- to, a outros credores, observada,
falecerem, salvo se, por estipu- co ou particular, e registrada no quanto à hipoteca, a prioridade
lação expressa, o quinhão desses Cartório de Registro de Imóveis, no registro.
couber ao sobrevivente. adquire o promitente comprador Parágrafo único. Excetuam-
direito real à aquisição do imóvel. -se da regra estabelecida neste
artigo as dívidas que, em virtude
TÍTULO VII – DO USO Art. 1.418. O promitente compra- de outras leis, devam ser pagas
dor, titular de direito real, pode precipuamente a quaisquer ou-
Art. 1.412. O usuário usará da exigir do promitente vendedor, ou tros créditos.
coisa e perceberá os seus frutos, de terceiros, a quem os direitos
quanto o exigirem as necessida- deste forem cedidos, a outorga Art. 1.423. O credor anticrético
des suas e de sua família. da escritura definitiva de com- tem direito a reter em seu poder
§ 1o Avaliar-se-ão as neces- pra e venda, conforme o disposto o bem, enquanto a dívida não for
sidades pessoais do usuário con- no instrumento preliminar; e, se paga; extingue-se esse direito
forme a sua condição social e o houver recusa, requerer ao juiz a decorridos quinze anos da data
lugar onde viver. adjudicação do imóvel. de sua constituição.
§ 2o As necessidades da fa-
mília do usuário compreendem as Art. 1.424. Os contratos de pe-
de seu cônjuge, dos filhos soltei- TÍTULO X – DO PENHOR, DA nhor, anticrese ou hipoteca de-
ros e das pessoas de seu serviço HIPOTECA E DA ANTICRESE clararão, sob pena de não terem
doméstico. eficácia:
CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES I – o valor do crédito, sua es-
Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, GERAIS timação, ou valor máximo;
no que não for contrário à sua na- II – o prazo fixado para pa-
tureza, as disposições relativas Art. 1.419. Nas dívidas garanti- gamento;
ao usufruto. das por penhor, anticrese ou hi- III – a taxa dos juros, se hou-
poteca, o bem dado em garantia ver;
fica sujeito, por vínculo real, ao IV – o bem dado em garantia
TÍTULO VIII – DA cumprimento da obrigação. com as suas especificações.
HABITAÇÃO
Art. 1.420. Só aquele que pode Art. 1.425. A dívida considera-
Art. 1.414. Quando o uso consis- alienar poderá empenhar, hipo- -se vencida:
tir no direito de habitar gratuita- tecar ou dar em anticrese; só I – se, deteriorando-se, ou
mente casa alheia, o titular deste os bens que se podem alienar depreciando-se o bem dado em
direito não a pode alugar, nem poderão ser dados em penhor, segurança, desfalcar a garantia,
emprestar, mas simplesmente anticrese ou hipoteca. e o devedor, intimado, não a re-
ocupá-la com sua família. § 1o A propriedade superve- forçar ou substituir;
niente torna eficaz, desde o re- II – se o devedor cair em in-
Art. 1.415. Se o direito real de gistro, as garantias reais estabe- solvência ou falir;
habitação for conferido a mais lecidas por quem não era dono. III – se as prestações não fo-
de uma pessoa, qualquer delas § 2o A coisa comum a dois rem pontualmente pagas, toda
que sozinha habite a casa não ou mais proprietários não pode vez que deste modo se achar
terá de pagar aluguel à outra, ou ser dada em garantia real, na sua estipulado o pagamento. Neste
às outras, mas não as pode inibir totalidade, sem o consentimen- caso, o recebimento posterior
de exercerem, querendo, o direi- to de todos; mas cada um pode da prestação atrasada importa
to, que também lhes compete, de individualmente dar em garantia renúncia do credor ao seu direito
habitá-la. real a parte que tiver. de execução imediata;
IV – se perecer o bem dado
Art. 1.416. São aplicáveis à ha- Art. 1.421. O pagamento de uma em garantia, e não for substituído;
bitação, no que não for contrário ou mais prestações da dívida não V – se se desapropriar o bem
à sua natureza, as disposições importa exoneração correspon- dado em garantia, hipótese na
relativas ao usufruto. dente da garantia, ainda que esta qual se depositará a parte do
compreenda vários bens, salvo preço que for necessária para o
disposição expressa no título ou pagamento integral do credor.
TÍTULO IX – DO DIREITO DO na quitação. § 1o Nos casos de perecimen-
PROMITENTE COMPRADOR to da coisa dada em garantia, esta
Art. 1.422. O credor hipotecário se sub-rogará na indenização
Art. 1.417. Mediante promessa e o pignoratício têm o direito de do seguro, ou no ressarcimento
de compra e venda, em que se excutir a coisa hipotecada ou em- do dano, em benefício do cre-

223
Código Civil
dor, a quem assistirá sobre ela CAPÍTULO II – DO PENHOR Art. 1.434. O credor não pode
preferência até seu completo ser constrangido a devolver a coi-
reembolso. Seção I – Da Constituição do sa empenhada, ou uma parte dela,
§ 2o Nos casos dos incisos Penhor antes de ser integralmente pago,
IV e V, só se vencerá a hipoteca podendo o juiz, a requerimento do
antes do prazo estipulado, se o Art. 1.431. Constitui-se o penhor proprietário, determinar que seja
perecimento, ou a desapropria- pela transferência efetiva da pos- vendida apenas uma das coisas,
ção recair sobre o bem dado em se que, em garantia do débito ao ou parte da coisa empenhada,
garantia, e esta não abranger credor ou a quem o represente, suficiente para o pagamento do
outras; subsistindo, no caso con- faz o devedor, ou alguém por ele, credor.
trário, a dívida reduzida, com a de uma coisa móvel, suscetível
respectiva garantia sobre os de- de alienação.
mais bens, não desapropriados Parágrafo único. No penhor
Seção III – Das Obrigações
ou destruídos. rural, industrial, mercantil e de do Credor Pignoratício
veículos, as coisas empenhadas
Art. 1.426. Nas hipóteses do ar- continuam em poder do devedor, Art. 1.435. O credor pignoratício
tigo anterior, de vencimento ante- que as deve guardar e conservar. é obrigado:
cipado da dívida, não se compre- I – à custódia da coisa, como
endem os juros correspondentes Art. 1.432. O instrumento do depositário, e a ressarcir ao dono
ao tempo ainda não decorrido. penhor deverá ser levado a re- a perda ou deterioração de que
gistro, por qualquer dos contra- for culpado, podendo ser com-
Art. 1.427. Salvo cláusula ex- tantes; o do penhor comum será pensada na dívida, até a concor-
pressa, o terceiro que presta ga- registrado no Cartório de Títulos rente quantia, a importância da
rantia real por dívida alheia não e Documentos. responsabilidade;
fica obrigado a substituí-la, ou II – à defesa da posse da coi-
reforçá-la, quando, sem culpa sa empenhada e a dar ciência, ao
sua, se perca, deteriore, ou des-
Seção II – Dos Direitos do dono dela, das circunstâncias que
valorize. Credor Pignoratício tornarem necessário o exercício
de ação possessória;
Art. 1.428. É nula a cláusula que Art. 1.433. O credor pignoratício III – a imputar o valor dos fru-
autoriza o credor pignoratício, tem direito: tos, de que se apropriar (art. 1.433,
anticrético ou hipotecário a ficar I – à posse da coisa empe- inciso V) nas despesas de guarda
com o objeto da garantia, se a dí- nhada; e conservação, nos juros e no
vida não for paga no vencimento. II – à retenção dela, até que capital da obrigação garantida,
Parágrafo único. Após o ven- o indenizem das despesas devi- sucessivamente;
cimento, poderá o devedor dar a damente justificadas, que tiver IV – a restituí-la, com os res-
coisa em pagamento da dívida. feito, não sendo ocasionadas por pectivos frutos e acessões, uma
culpa sua; vez paga a dívida;
Art. 1.429. Os sucessores do III – ao ressarcimento do pre- V – a entregar o que sobeje do
devedor não podem remir par- juízo que houver sofrido por vício preço, quando a dívida for paga,
cialmente o penhor ou a hipoteca da coisa empenhada; no caso do inciso IV do art. 1.433.
na proporção dos seus quinhões; IV – a promover a execução
qualquer deles, porém, pode fa- judicial, ou a venda amigável, se
zê-lo no todo. lhe permitir expressamente o
Seção IV – Da Extinção do
Parágrafo único. O herdeiro contrato, ou lhe autorizar o de- Penhor
ou sucessor que fizer a remição vedor mediante procuração;
fica sub-rogado nos direitos do V – a apropriar-se dos frutos Art. 1.436. Extingue-se o pe-
credor pelas quotas que houver da coisa empenhada que se en- nhor:
satisfeito. contra em seu poder; I – extinguindo-se a obriga-
VI – a promover a venda an- ção;
Art. 1.430. Quando, excutido o tecipada, mediante prévia auto- II – perecendo a coisa;
penhor, ou executada a hipoteca, rização judicial, sempre que haja III – renunciando o credor;
o produto não bastar para paga- receio fundado de que a coisa IV – confundindo-se na mes-
mento da dívida e despesas judi- empenhada se perca ou deteriore, ma pessoa as qualidades de cre-
ciais, continuará o devedor obri- devendo o preço ser depositado. dor e de dono da coisa;
gado pessoalmente pelo restante. O dono da coisa empenhada pode V – dando-se a adjudicação
impedir a venda antecipada, subs- judicial, a remissão ou a venda
tituindo-a, ou oferecendo outra da coisa empenhada, feita pelo
garantia real idônea. credor ou por ele autorizada.
§ 1o Presume-se a renúncia

224
Código Civil
do credor quando consentir na empenhadas, inspecionando-as ma espécie, comprados para
venda particular do penhor sem onde se acharem, por si ou por substituir os mortos, ficam sub-
reserva de preço, quando resti- pessoa que credenciar. -rogados no penhor.
tuir a sua posse ao devedor, ou Parágrafo único. Presume-
quando anuir à sua substituição -se a substituição prevista nes-
por outra garantia.
Subseção II – Do Penhor te artigo, mas não terá eficácia
§ 2o Operando-se a confu- Agrícola contra terceiros, se não constar
são tão somente quanto a parte de menção adicional ao respec-
da dívida pignoratícia, subsistirá Art. 1.442. Podem ser objeto tivo contrato, a qual deverá ser
inteiro o penhor quanto ao resto. de penhor: averbada.
I – máquinas e instrumentos
Art. 1.437. Produz efeitos a ex- de agricultura;
tinção do penhor depois de aver- II – colheitas pendentes, ou
Seção VI – Do Penhor
bado o cancelamento do registro, em via de formação; Industrial e Mercantil
à vista da respectiva prova. III – frutos acondicionados ou
armazenados; Art. 1.447. Podem ser objeto
IV – lenha cortada e carvão de penhor máquinas, aparelhos,
Seção V – Do Penhor Rural vegetal; materiais, instrumentos, instala-
Subseção I – Disposições V – animais do serviço ordiná- dos e em funcionamento, com os
Gerais rio de estabelecimento agrícola. acessórios ou sem eles; animais,
utilizados na indústria; sal e bens
Art. 1.438. Constitui-se o penhor Art. 1.443. O penhor agrícola destinados à exploração das sa-
rural mediante instrumento pú- que recai sobre colheita penden- linas; produtos de suinocultura,
blico ou particular, registrado no te, ou em via de formação, abran- animais destinados à industria-
Cartório de Registro de Imóveis da ge a imediatamente seguinte, no lização de carnes e derivados;
circunscrição em que estiverem caso de frustrar-se ou ser insufi- matérias-primas e produtos in-
situadas as coisas empenhadas. ciente a que se deu em garantia. dustrializados.
Parágrafo único. Prometen- Parágrafo único. Se o credor Parágrafo único. Regula-se
do pagar em dinheiro a dívida, não financiar a nova safra, poderá pelas disposições relativas aos
que garante com penhor rural, o o devedor constituir com outrem armazéns gerais o penhor das
devedor poderá emitir, em favor novo penhor, em quantia máxima mercadorias neles depositadas.
do credor, cédula rural pignora- equivalente à do primeiro; o se-
tícia, na forma determinada em gundo penhor terá preferência Art. 1.448. Constitui-se o pe-
lei especial. sobre o primeiro, abrangendo nhor industrial, ou o mercantil,
este apenas o excesso apurado mediante instrumento público
Art. 1.439. O penhor agrícola na colheita seguinte. ou particular, registrado no Car-
e o penhor pecuário não podem tório de Registro de Imóveis da
ser convencionados por prazos circunscrição onde estiverem
superiores aos das obrigações
Subseção III – Do Penhor situadas as coisas empenhadas.
garantidas. Pecuário Parágrafo único. Prometendo
§ 1o Embora vencidos os pra- pagar em dinheiro a dívida, que
zos, permanece a garantia, en- Art. 1.444. Podem ser objeto de garante com penhor industrial
quanto subsistirem os bens que penhor os animais que integram ou mercantil, o devedor poderá
a constituem. a atividade pastoril, agrícola ou emitir, em favor do credor, cédula
§ 2o A prorrogação deve ser de lacticínios. do respectivo crédito, na forma
averbada à margem do registro e para os fins que a lei especial
respectivo, mediante requeri- Art. 1.445. O devedor não pode- determinar.
mento do credor e do devedor. rá alienar os animais empenhados
sem prévio consentimento, por Art. 1.449. O devedor não pode,
Art. 1.440. Se o prédio estiver escrito, do credor. sem o consentimento por escrito
hipotecado, o penhor rural poderá Parágrafo único. Quando o do credor, alterar as coisas em-
constituir-se independentemente devedor pretende alienar o gado penhadas ou mudar-lhes a situa-
da anuência do credor hipotecá- empenhado ou, por negligência, ção, nem delas dispor. O devedor
rio, mas não lhe prejudica o direi- ameace prejudicar o credor, po- que, anuindo o credor, alienar
to de preferência, nem restringe derá este requerer se depositem as coisas empenhadas, deverá
a extensão da hipoteca, ao ser os animais sob a guarda de ter- repor outros bens da mesma na-
executada. ceiro, ou exigir que se lhe pague tureza, que ficarão sub-rogados
a dívida de imediato. no penhor.
Art. 1.441. Tem o credor direito
a verificar o estado das coisas Art. 1.446. Os animais da mes- Art. 1.450. Tem o credor direito

225
Código Civil
a verificar o estado das coisas só ao credor pignoratício, cujo Seção VIII – Do Penhor de
empenhadas, inspecionando-as direito prefira aos demais, o de- Veículos
onde se acharem, por si ou por vedor deve pagar; responde por
pessoa que credenciar. perdas e danos aos demais cre- Art. 1.461. Podem ser objeto de
dores o credor preferente que, penhor os veículos empregados
notificado por qualquer um deles, em qualquer espécie de trans-
Seção VII – Do Penhor de não promover oportunamente a porte ou condução.
Direitos e Títulos de Crédito cobrança.
Art. 1.462. Constitui-se o pe-
Art. 1.451. Podem ser objeto de Art. 1.457. O titular do crédi- nhor, a que se refere o artigo
penhor direitos, suscetíveis de to empenhado só pode receber antecedente, mediante instru-
cessão, sobre coisas móveis. o pagamento com a anuência, mento público ou particular, re-
por escrito, do credor pignora- gistrado no Cartório de Títulos e
Art. 1.452. Constitui-se o penhor tício, caso em que o penhor se Documentos do domicílio do de-
de direito mediante instrumento extinguirá. vedor, e anotado no certificado
público ou particular, registrado de propriedade.
no Registro de Títulos e Docu- Art. 1.458. O penhor, que recai Parágrafo único. Prometendo
mentos. sobre título de crédito, constitui- pagar em dinheiro a dívida ga-
Parágrafo único. O titular de -se mediante instrumento público rantida com o penhor, poderá o
direito empenhado deverá entre- ou particular ou endosso pigno- devedor emitir cédula de crédito,
gar ao credor pignoratício os do- ratício, com a tradição do título na forma e para os fins que a lei
cumentos comprobatórios desse ao credor, regendo-se pelas Dis- especial determinar.
direito, salvo se tiver interesse posições Gerais deste Título e, no
legítimo em conservá-los. que couber, pela presente Seção. Art. 1.463. (Revogado)

Art. 1.453. O penhor de crédito Art. 1.459. Ao credor, em penhor Art. 1.464. Tem o credor direito
não tem eficácia senão quando de título de crédito, compete o a verificar o estado do veículo em-
notificado ao devedor; por noti- direito de: penhado, inspecionando-o onde
ficado tem-se o devedor que, em I – conservar a posse do título se achar, por si ou por pessoa que
instrumento público ou particular, e recuperá-la de quem quer que credenciar.
declarar-se ciente da existência o detenha;
do penhor. II – usar dos meios judiciais Art. 1.465. A alienação, ou a
convenientes para assegurar os mudança, do veículo empenha-
Art. 1.454. O credor pignoratício seus direitos, e os do credor do do sem prévia comunicação ao
deve praticar os atos necessários título empenhado; credor importa no vencimento an-
à conservação e defesa do direi- III – fazer intimar ao devedor tecipado do crédito pignoratício.
to empenhado e cobrar os juros do título que não pague ao seu
e mais prestações acessórias credor, enquanto durar o penhor; Art. 1.466. O penhor de veí-
compreendidas na garantia. IV – receber a importância culos só se pode convencionar
consubstanciada no título e os pelo prazo máximo de dois anos,
Art. 1.455. Deverá o credor pig- respectivos juros, se exigíveis, prorrogável até o limite de igual
noratício cobrar o crédito em- restituindo o título ao devedor, tempo, averbada a prorrogação à
penhado, assim que se torne quando este solver a obrigação. margem do registro respectivo.
exigível. Se este consistir numa
prestação pecuniária, depositará Art. 1.460. O devedor do título
a importância recebida, de acordo empenhado que receber a inti-
Seção IX – Do Penhor Legal
com o devedor pignoratício, ou mação prevista no inciso III do
onde o juiz determinar; se con- artigo antecedente, ou se der Art. 1.467. São credores pigno-
sistir na entrega da coisa, nesta por ciente do penhor, não poderá ratícios, independentemente de
se sub-rogará o penhor. pagar ao seu credor. Se o fizer, convenção:
Parágrafo único. Estando responderá solidariamente por I – os hospedeiros, ou forne-
vencido o crédito pignoratício, este, por perdas e danos, perante cedores de pousada ou alimento,
tem o credor direito a reter, da o credor pignoratício. sobre as bagagens, móveis, joias
quantia recebida, o que lhe é de- Parágrafo único. Se o cre- ou dinheiro que os seus consumi-
vido, restituindo o restante ao dor der quitação ao devedor do dores ou fregueses tiverem con-
devedor; ou a excutir a coisa a título empenhado, deverá saldar sigo nas respectivas casas ou es-
ele entregue. imediatamente a dívida, em cuja tabelecimentos, pelas despesas
garantia se constituiu o penhor. ou consumo que aí tiverem feito;
Art. 1.456. Se o mesmo crédito II – o dono do prédio rústico
for objeto de vários penhores, ou urbano, sobre os bens móveis

226
Código Civil
que o rendeiro ou inquilino tiver § 1o A hipoteca dos navios e execução da hipoteca, o credor da
guarnecendo o mesmo prédio, das aeronaves reger-se-á pelo segunda depositará a importância
pelos aluguéis ou rendas. disposto em lei especial. do débito e as despesas judiciais.
§ 2o Os direitos de garantia
Art. 1.468. A conta das dívidas instituídos nas hipóteses dos in- Art. 1.479. O adquirente do imó-
enumeradas no inciso I do artigo cisos IX e X do caput deste artigo vel hipotecado, desde que não se
antecedente será extraída con- ficam limitados à duração da con- tenha obrigado pessoalmente a
forme a tabela impressa, prévia e cessão ou direito de superfície, pagar as dívidas aos credores
ostensivamente exposta na casa, caso tenham sido transferidos hipotecários, poderá exonerar-se
dos preços de hospedagem, da por período determinado. da hipoteca, abandonando-lhes
pensão ou dos gêneros forne- o imóvel.
cidos, sob pena de nulidade do Art. 1.474. A hipoteca abrange
penhor. todas as acessões, melhoramen- Art. 1.480. O adquirente noti-
tos ou construções do imóvel. ficará o vendedor e os credores
Art. 1.469. Em cada um dos ca- Subsistem os ônus reais cons- hipotecários, deferindo-lhes, con-
sos do art. 1.467, o credor poderá tituídos e registrados, anterior- juntamente, a posse do imóvel, ou
tomar em garantia um ou mais mente à hipoteca, sobre o mes- o depositará em juízo.
objetos até o valor da dívida. mo imóvel. Parágrafo único. Poderá o
adquirente exercer a faculdade de
Art. 1.470. Os credores, com- Art. 1.475. É nula a cláusula que abandonar o imóvel hipotecado,
preendidos no art. 1.467, podem proíbe ao proprietário alienar imó- até as vinte e quatro horas sub-
fazer efetivo o penhor, antes de vel hipotecado. sequentes à citação, com que se
recorrerem à autoridade judici- Parágrafo único. Pode con- inicia o procedimento executivo.
ária, sempre que haja perigo na vencionar-se que vencerá o cré-
demora, dando aos devedores dito hipotecário, se o imóvel for Art. 1.481. Dentro em trinta dias,
comprovante dos bens de que alienado. contados do registro do título
se apossarem. aquisitivo, tem o adquirente do
Art. 1.476. O dono do imóvel imóvel hipotecado o direito de
Art. 1.471. Tomado o penhor, re- hipotecado pode constituir outra remi-lo, citando os credores hi-
quererá o credor, ato contínuo, a hipoteca sobre ele, mediante novo potecários e propondo importân-
sua homologação judicial. título, em favor do mesmo ou de cia não inferior ao preço por que
outro credor. o adquiriu.
Art. 1.472. Pode o locatário im- § 1o Se o credor impugnar o
pedir a constituição do penhor Art. 1.477. Salvo o caso de in- preço da aquisição ou a impor-
mediante caução idônea. solvência do devedor, o credor da tância oferecida, realizar-se-á
segunda hipoteca, embora venci- licitação, efetuando-se a venda
da, não poderá executar o imóvel judicial a quem oferecer maior
CAPÍTULO III – DA antes de vencida a primeira. preço, assegurada preferência
HIPOTECA Parágrafo único. Não se con- ao adquirente do imóvel.
sidera insolvente o devedor por § 2o Não impugnado pelo
Seção I – Disposições Gerais
faltar ao pagamento das obriga- credor, o preço da aquisição ou
ções garantidas por hipotecas o preço proposto pelo adquirente,
Art. 1.473. Podem ser objeto posteriores à primeira. haver-se-á por definitivamente
de hipoteca: fixado para a remissão do imóvel,
I – os imóveis e os acessó- Art. 1.478. Se o devedor da obri- que ficará livre de hipoteca, uma
rios dos imóveis conjuntamente gação garantida pela primeira vez pago ou depositado o preço.
com eles; hipoteca não se oferecer, no ven- § 3o Se o adquirente deixar
II – o domínio direto; cimento, para pagá-la, o credor de remir o imóvel, sujeitando-o a
III – o domínio útil; da segunda pode promover-lhe execução, ficará obrigado a res-
IV – as estradas de ferro; a extinção, consignando a im- sarcir os credores hipotecários da
V – os recursos naturais a que portância e citando o primeiro desvalorização que, por sua culpa,
se refere o art. 1.230, independen- credor para recebê-la e o devedor o mesmo vier a sofrer, além das
temente do solo onde se acham; para pagá-la; se este não pagar, despesas judiciais da execução.
VI – os navios; o segundo credor, efetuando o § 4o Disporá de ação regres-
VII – as aeronaves; pagamento, se sub-rogará nos siva contra o vendedor o adqui-
VIII – o direito de uso especial direitos da hipoteca anterior, sem rente que ficar privado do imóvel
para fins de moradia; prejuízo dos que lhe competirem em consequência de licitação ou
IX – o direito real de uso; contra o devedor comum. penhora, o que pagar a hipoteca,
X – a propriedade superfi- Parágrafo único. Se o primei- o que, por causa de adjudicação
ciária. ro credor estiver promovendo a ou licitação, desembolsar com o

227
Código Civil
pagamento da hipoteca impor- lote ou unidade autônoma, se o tulos da dívida pública federal ou
tância excedente à da compra e requererem ao juiz o credor, o estadual, recebidos pelo valor de
o que suportar custas e despesas devedor ou os donos, obedecida sua cotação mínima no ano cor-
judiciais. a proporção entre o valor de cada rente; ou por outra garantia, a
um deles e o crédito. critério do juiz, a requerimento
Art. 1.482. (Revogado) § 1o O credor só poderá se do devedor.
opor ao pedido de desmembra-
Art. 1.483. (Revogado) mento do ônus, provando que o
mesmo importa em diminuição
Seção III – Do Registro da
Art. 1.484. É lícito aos interessa- de sua garantia. Hipoteca
dos fazer constar das escrituras o § 2o Salvo convenção em
valor entre si ajustado dos imóveis contrário, todas as despesas ju- Art. 1.492. As hipotecas serão
hipotecados, o qual, devidamente diciais ou extrajudiciais neces- registradas no cartório do lugar
atualizado, será a base para as sárias ao desmembramento do do imóvel, ou no de cada um de-
arrematações, adjudicações e ônus correm por conta de quem les, se o título se referir a mais
remições, dispensada a avaliação. o requerer. de um.
§ 3o O desmembramento Parágrafo único. Compete
Art. 1.485. Mediante simples do ônus não exonera o devedor aos interessados, exibido o título,
averbação, requerida por ambas originário da responsabilidade a requerer o registro da hipoteca.
as partes, poderá prorrogar-se que se refere o art. 1.430, salvo
a hipoteca, até 30 (trinta) anos anuência do credor. Art. 1.493. Os registros e aver-
da data do contrato. Desde que bações seguirão a ordem em que
perfaça esse prazo, só poderá forem requeridas, verificando-se
subsistir o contrato de hipoteca
Seção II – Da Hipoteca Legal ela pela da sua numeração suces-
reconstituindo-se por novo título siva no protocolo.
e novo registro; e, nesse caso, lhe Art. 1.489. A lei confere hipo- Parágrafo único. O número
será mantida a precedência, que teca: de ordem determina a priorida-
então lhe competir. I – às pessoas de direito pú- de, e esta a preferência entre as
blico interno (art.  41) sobre os hipotecas.
Art. 1.486. Podem o credor e o imóveis pertencentes aos encar-
devedor, no ato constitutivo da regados da cobrança, guarda ou Art. 1.494. (Revogado)
hipoteca, autorizar a emissão administração dos respectivos
da correspondente cédula hipo- fundos e rendas; Art. 1.495. Quando se apresen-
tecária, na forma e para os fins II – aos filhos, sobre os imó- tar ao oficial do registro título de
previstos em lei especial. veis do pai ou da mãe que passar hipoteca que mencione a consti-
a outras núpcias, antes de fazer tuição de anterior, não registra-
Art. 1.487. A hipoteca pode ser o inventário do casal anterior; da, sobrestará ele na inscrição
constituída para garantia de dívi- III – ao ofendido, ou aos seus da nova, depois de a prenotar,
da futura ou condicionada, desde herdeiros, sobre os imóveis do até trinta dias, aguardando que
que determinado o valor máximo delinquente, para satisfação do o interessado inscreva a prece-
do crédito a ser garantido. dano causado pelo delito e pa- dente; esgotado o prazo, sem que
§ 1o Nos casos deste artigo, gamento das despesas judiciais; se requeira a inscrição desta, a
a execução da hipoteca depen- IV – ao coerdeiro, para ga- hipoteca ulterior será registrada
derá de prévia e expressa con- rantia do seu quinhão ou torna e obterá preferência.
cordância do devedor quanto à da partilha, sobre o imóvel ad-
verificação da condição, ou ao judicado ao herdeiro reponente; Art. 1.496. Se tiver dúvida sobre
montante da dívida. V – ao credor sobre o imóvel a legalidade do registro requerido,
§ 2o Havendo divergência en- arrematado, para garantia do pa- o oficial fará, ainda assim, a pre-
tre o credor e o devedor, caberá gamento do restante do preço da notação do pedido. Se a dúvida,
àquele fazer prova de seu crédito. arrematação. dentro em noventa dias, for julga-
Reconhecido este, o devedor res- da improcedente, o registro efe-
ponderá, inclusive, por perdas e Art. 1.490. O credor da hipote- tuar-se-á com o mesmo número
danos, em razão da superveniente ca legal, ou quem o represente, que teria na data da prenotação;
desvalorização do imóvel. poderá, provando a insuficiência no caso contrário, cancelada esta,
dos imóveis especializados, exigir receberá o registro o número
Art. 1.488. Se o imóvel, dado do devedor que seja reforçado correspondente à data em que
em garantia hipotecária, vier a com outros. se tornar a requerer.
ser loteado, ou se nele se consti-
tuir condomínio edilício, poderá o Art. 1.491. A hipoteca legal pode Art. 1.497. As hipotecas legais,
ônus ser dividido, gravando cada ser substituída por caução de tí- de qualquer natureza, deverão

228
Código Civil
ser registradas e especializadas. Art. 1.503. Os credores hipo- anualmente balanço, exato e fiel,
§ 1o O registro e a especia- tecários não podem embaraçar de sua administração.
lização das hipotecas legais in- a exploração da linha, nem con- § 1o Se o devedor anticrético
cumbem a quem está obrigado trariar as modificações, que a ad- não concordar com o que se con-
a prestar a garantia, mas os in- ministração deliberar, no leito da tém no balanço, por ser inexato,
teressados podem promover a estrada, em suas dependências, ou ruinosa a administração, po-
inscrição delas, ou solicitar ao ou no seu material. derá impugná-lo, e, se o quiser,
Ministério Público que o faça. requerer a transformação em
§ 2o As pessoas, às quais in- Art. 1.504. A hipoteca será cir- arrendamento, fixando o juiz o
cumbir o registro e a especializa- cunscrita à linha ou às linhas valor mensal do aluguel, o qual
ção das hipotecas legais, estão especificadas na escritura e ao poderá ser corrigido anualmente.
sujeitas a perdas e danos pela respectivo material de explora- § 2 o O credor anticréti-
omissão. ção, no estado em que ao tempo co pode, salvo pacto em senti-
da execução estiverem; mas os do contrário, arrendar os bens
Art. 1.498. Vale o registro da credores hipotecários poderão dados em anticrese a terceiro,
hipoteca, enquanto a obrigação opor-se à venda da estrada, à de mantendo, até ser pago, direito
perdurar; mas a especialização, suas linhas, de seus ramais ou de de retenção do imóvel, embora o
em completando vinte anos, deve parte considerável do material aluguel desse arrendamento não
ser renovada. de exploração; bem como à fu- seja vinculativo para o devedor.
são com outra empresa, sempre
que com isso a garantia do débito Art. 1.508. O credor anticrético
Seção IV – Da Extinção da enfraquecer. responde pelas deteriorações
Hipoteca que, por culpa sua, o imóvel vier
Art. 1.505. Na execução das hi- a sofrer, e pelos frutos e rendi-
Art. 1.499. A hipoteca extin- potecas será intimado o repre- mentos que, por sua negligência,
gue-se: sentante da União ou do Estado, deixar de perceber.
I – pela extinção da obrigação para, dentro em quinze dias, remir
principal; a estrada de ferro hipotecada, Art. 1.509. O credor anticrético
II – pelo perecimento da coi- pagando o preço da arrematação pode vindicar os seus direitos
sa; ou da adjudicação. contra o adquirente dos bens,
III – pela resolução da pro- os credores quirografários e os
priedade; hipotecários posteriores ao re-
IV – pela renúncia do credor; CAPÍTULO IV – DA gistro da anticrese.
V – pela remição; ANTICRESE § 1o Se executar os bens por
VI – pela arrematação ou ad- falta de pagamento da dívida, ou
judicação. Art. 1.506. Pode o devedor ou permitir que outro credor o exe-
outrem por ele, com a entrega cute, sem opor o seu direito de
Art. 1.500. Extingue-se ainda do imóvel ao credor, ceder-lhe retenção ao exequente, não terá
a hipoteca com a averbação, no o direito de perceber, em com- preferência sobre o preço.
Registro de Imóveis, do cance- pensação da dívida, os frutos e § 2o O credor anticrético não
lamento do registro, à vista da rendimentos. terá preferência sobre a indeni-
respectiva prova. § 1o É permitido estipular que zação do seguro, quando o pré-
os frutos e rendimentos do imóvel dio seja destruído, nem, se forem
Art. 1.501. Não extinguirá a hi- sejam percebidos pelo credor à desapropriados os bens, com re-
poteca, devidamente registrada, conta de juros, mas se o seu valor lação à desapropriação.
a arrematação ou adjudicação, ultrapassar a taxa máxima per-
sem que tenham sido notifica- mitida em lei para as operações Art. 1.510. O adquirente dos bens
dos judicialmente os respectivos financeiras, o remanescente será dados em anticrese poderá re-
credores hipotecários, que não imputado ao capital. mi-los, antes do vencimento da
forem de qualquer modo partes § 2o Quando a anticrese re- dívida, pagando a sua totalidade
na execução. cair sobre bem imóvel, este pode- à data do pedido de remição e
rá ser hipotecado pelo devedor ao imitir-se-á, se for o caso, na sua
credor anticrético, ou a terceiros, posse.
Seção V – Da Hipoteca de assim como o imóvel hipotecado
Vias Férreas poderá ser dado em anticrese.
TÍTULO XI – DA LAJE
Art. 1.502. As hipotecas sobre Art. 1.507. O credor anticrético
as estradas de ferro serão regis- pode administrar os bens dados Art. 1.510-A. O proprietário de
tradas no Município da estação em anticrese e fruir seus frutos e uma construção-base poderá
inicial da respectiva linha. utilidades, mas deverá apresentar ceder a superfície superior ou

229
Código Civil
inferior de sua construção a fim e o titular da laje, na proporção sobre o subsolo;
de que o titular da laje mantenha que venha a ser estipulada em II – se a construção-base for
unidade distinta daquela original- contrato. reconstruída no prazo de 5 (cin-
mente construída sobre o solo. § 1o São partes que servem co) anos.
§ 1o O direito real de laje a todo o edifício: Parágrafo único. O disposto
contempla o espaço aéreo ou o I – os alicerces, colunas, pila- neste artigo não afasta o direito
subsolo de terrenos públicos ou res, paredes-mestras e todas as a eventual reparação civil contra
privados, tomados em projeção partes restantes que constituam o culpado pela ruína.
vertical, como unidade imobiliária a estrutura do prédio;
autônoma, não contemplando as II – o telhado ou os terraços de
demais áreas edificadas ou não cobertura, ainda que destinados LIVRO IV – DO DIREITO DE
pertencentes ao proprietário da ao uso exclusivo do titular da laje; FAMÍLIA
construção-base. III – as instalações gerais de
§ 2o O titular do direito real água, esgoto, eletricidade, aque- TÍTULO I – DO DIREITO
de laje responderá pelos encargos cimento, ar condicionado, gás, PESSOAL
e tributos que incidirem sobre a comunicações e semelhantes
sua unidade. que sirvam a todo o edifício; e SUBTÍTULO I – DO
§ 3o Os titulares da laje, uni- IV – em geral, as coisas que CASAMENTO
dade imobiliária autônoma cons- sejam afetadas ao uso de todo
tituída em matrícula própria, po- o edifício.
CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
derão dela usar, gozar e dispor. § 2o É assegurado, em qual- GERAIS
§ 4o A instituição do direito quer caso, o direito de qualquer
real de laje não implica a atribui- interessado em promover repa- Art. 1.511. O casamento esta-
ção de fração ideal de terreno ao rações urgentes na construção belece comunhão plena de vida,
titular da laje ou a participação na forma do parágrafo único do com base na igualdade de direitos
proporcional em áreas já edi- art. 249 deste Código. e deveres dos cônjuges.
ficadas.
§ 5o Os Municípios e o Distri- Art. 1.510-D. Em caso de alie- Art. 1.512. O casamento é civil e
to Federal poderão dispor sobre nação de qualquer das unidades gratuita a sua celebração.
posturas edilícias e urbanísticas sobrepostas, terão direito de pre- Parágrafo único. A habilita-
associadas ao direito real de laje. ferência, em igualdade de condi- ção para o casamento, o registro e
§ 6o O titular da laje poderá ções com terceiros, os titulares a primeira certidão serão isentos
ceder a superfície de sua cons- da construção-base e da laje, de selos, emolumentos e custas,
trução para a instituição de um nessa ordem, que serão cienti- para as pessoas cuja pobreza for
sucessivo direito real de laje, des- ficados por escrito para que se declarada, sob as penas da lei.
de que haja autorização expressa manifestem no prazo de trinta
dos titulares da construção-base dias, salvo se o contrato dispuser Art. 1.513. É defeso a qualquer
e das demais lajes, respeitadas as de modo diverso. pessoa, de direito público ou pri-
posturas edilícias e urbanísticas § 1o O titular da construção- vado, interferir na comunhão de
vigentes. -base ou da laje a quem não se vida instituída pela família.
der conhecimento da alienação
Art. 1.510-B. É expressamente poderá, mediante depósito do Art. 1.514. O casamento se reali-
vedado ao titular da laje preju- respectivo preço, haver para si za no momento em que o homem
dicar com obras novas ou com a parte alienada a terceiros, se e a mulher manifestam, perante
falta de reparação a segurança, o requerer no prazo decadencial o juiz, a sua vontade de estabe-
a linha arquitetônica ou o arranjo de cento e oitenta dias, contado lecer vínculo conjugal, e o juiz os
estético do edifício, observadas da data de alienação. declara casados.
as posturas previstas em legis- § 2o Se houver mais de uma
lação local. laje, terá preferência, sucessi- Art. 1.515. O casamento religio-
vamente, o titular das lajes as- so, que atender às exigências da
Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no cendentes e o titular das lajes lei para a validade do casamento
que couber, das normas aplicá- descendentes, assegurada a civil, equipara-se a este, desde
veis aos condomínios edilícios, prioridade para a laje mais pró- que registrado no registro pró-
para fins do direito real de laje, xima à unidade sobreposta a ser prio, produzindo efeitos a partir
as despesas necessárias à con- alienada. da data de sua celebração.
servação e fruição das partes que
sirvam a todo o edifício e ao pa- Art. 1.510-E. A ruína da cons- Art. 1.516. O registro do casa-
gamento de serviços de interesse trução-base implica extinção do mento religioso submete-se aos
comum serão partilhadas entre o direito real de laje, salvo: mesmos requisitos exigidos para
proprietário da construção-base I – se este tiver sido instituído o casamento civil.

230
CAPÍTULO III – DOS

Código Civil
§ 1o O registro civil do casa- as causas suspensivas previstas
mento religioso deverá ser pro- IMPEDIMENTOS nos incisos I, III e IV deste artigo,
movido dentro de noventa dias de provando-se a inexistência de
sua realização, mediante comu- Art. 1.521. Não podem casar: prejuízo, respectivamente, para o
nicação do celebrante ao ofício I – os ascendentes com os herdeiro, para o ex-cônjuge e para
competente, ou por iniciativa de descendentes, seja o parentesco a pessoa tutelada ou curatelada;
qualquer interessado, desde que natural ou civil; no caso do inciso II, a nubente de-
haja sido homologada previamen- II – os afins em linha reta; verá provar nascimento de filho,
te a habilitação regulada neste III – o adotante com quem foi ou inexistência de gravidez, na
Código. Após o referido prazo, cônjuge do adotado e o adotado fluência do prazo.
o registro dependerá de nova com quem o foi do adotante;
habilitação. IV – os irmãos, unilaterais ou Art. 1.524. As causas suspensi-
§ 2o O casamento religioso, bilaterais, e demais colaterais, até vas da celebração do casamento
celebrado sem as formalidades o terceiro grau inclusive; podem ser arguidas pelos pa-
exigidas neste Código, terá efeitos V – o adotado com o filho do rentes em linha reta de um dos
civis se, a requerimento do casal, adotante; nubentes, sejam consanguíneos
for registrado, a qualquer tempo, VI – as pessoas casadas; ou afins, e pelos colaterais em
no registro civil, mediante prévia VII – o cônjuge sobrevivente segundo grau, sejam também
habilitação perante a autoridade com o condenado por homicídio consanguíneos ou afins.
competente e observado o prazo ou tentativa de homicídio contra
do art. 1.532. o seu consorte.
§ 3o Será nulo o registro civil CAPÍTULO V – DO
do casamento religioso se, antes Art. 1.522. Os impedimentos po- PROCESSO DE
dele, qualquer dos consorciados dem ser opostos, até o momento HABILITAÇÃO PARA O
houver contraído com outrem da celebração do casamento, por CASAMENTO
casamento civil. qualquer pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou Art. 1.525. O requerimento de
o oficial de registro, tiver conhe- habilitação para o casamento
CAPÍTULO II – DA cimento da existência de algum será firmado por ambos os nuben-
CAPACIDADE PARA O impedimento, será obrigado a tes, de próprio punho, ou, a seu
CASAMENTO declará-lo. pedido, por procurador, e deve
ser instruído com os seguintes
Art. 1.517. O homem e a mulher documentos:
com dezesseis anos podem casar, CAPÍTULO IV – DAS I – certidão de nascimento ou
exigindo-se autorização de ambos CAUSAS SUSPENSIVAS documento equivalente;
os pais, ou de seus representan- II – autorização por escrito
tes legais, enquanto não atingida Art. 1.523. Não devem casar: das pessoas sob cuja dependên-
a maioridade civil. I – o viúvo ou a viúva que tiver cia legal estiverem, ou ato judicial
Parágrafo único. Se houver filho do cônjuge falecido, enquan- que a supra;
divergência entre os pais, apli- to não fizer inventário dos bens do III – declaração de duas tes-
ca-se o disposto no parágrafo casal e der partilha aos herdeiros; temunhas maiores, parentes ou
único do art. 1.631. II – a viúva, ou a mulher cujo não, que atestem conhecê-los e
casamento se desfez por ser nulo afirmem não existir impedimento
Art. 1.518. Até a celebração do ou ter sido anulado, até dez meses que os iniba de casar;
casamento podem os pais ou depois do começo da viuvez, ou da IV – declaração do estado ci-
tutores revogar a autorização. dissolução da sociedade conjugal; vil, do domicílio e da residência
III – o divorciado, enquan- atual dos contraentes e de seus
Art. 1.519. A denegação do con- to não houver sido homologada pais, se forem conhecidos;
sentimento, quando injusta, pode ou decidida a partilha dos bens V – certidão de óbito do côn-
ser suprida pelo juiz. do casal; juge falecido, de sentença decla-
IV – o tutor ou o curador e os ratória de nulidade ou de anulação
Art. 1.520. Não será permitido, seus descendentes, ascendentes, de casamento, transitada em jul-
em qualquer caso, o casamento irmãos, cunhados ou sobrinhos, gado, ou do registro da sentença
de quem não atingiu a idade núbil, com a pessoa tutelada ou cura- de divórcio.
observado o disposto no art. 1.517 telada, enquanto não cessar a tu-
deste Código. tela ou curatela, e não estiverem Art. 1.526. A habilitação será fei-
saldadas as respectivas contas. ta pessoalmente perante o oficial
Parágrafo único. É permiti- do Registro Civil, com a audiência
do aos nubentes solicitar ao juiz do Ministério Público.
que não lhes sejam aplicadas Parágrafo único. Caso haja

231
Código Civil
impugnação do oficial, do Minis- CAPÍTULO VI – DA mes, datas de nascimento ou
tério Público ou de terceiro, a ha- CELEBRAÇÃO DO de morte, domicílio e residência
bilitação será submetida ao juiz. atual dos pais;
CASAMENTO III – o prenome e sobrenome
Art. 1.527. Estando em ordem a do cônjuge precedente e a data
documentação, o oficial extrairá Art. 1.533. Celebrar-se-á o ca- da dissolução do casamento an-
o edital, que se afixará durante samento, no dia, hora e lugar pre- terior;
quinze dias nas circunscrições viamente designados pela autori- IV – a data da publicação dos
do Registro Civil de ambos os dade que houver de presidir o ato, proclamas e da celebração do
nubentes, e, obrigatoriamente, mediante petição dos contraen- casamento;
se publicará na imprensa local, tes, que se mostrem habilitados V – a relação dos documen-
se houver. com a certidão do art. 1.531. tos apresentados ao oficial do
Parágrafo único. A autori- registro;
dade competente, havendo ur- Art. 1.534. A solenidade reali- VI – o prenome, sobrenome,
gência, poderá dispensar a pu- zar-se-á na sede do cartório, com profissão, domicílio e residência
blicação. toda publicidade, a portas aber- atual das testemunhas;
tas, presentes pelo menos duas VII – o regime do casamen-
Art. 1.528. É dever do oficial do testemunhas, parentes ou não to, com a declaração da data e
registro esclarecer os nubentes dos contraentes, ou, querendo do cartório em cujas notas foi
a respeito dos fatos que podem as partes e consentindo a auto- lavrada a escritura antenupcial,
ocasionar a invalidade do casa- ridade celebrante, noutro edifício quando o regime não for o da
mento, bem como sobre os di- público ou particular. comunhão parcial, ou o obriga-
versos regimes de bens. § 1o Quando o casamento for toriamente estabelecido.
em edifício particular, ficará este
Art. 1.529. Tanto os impedimen- de portas abertas durante o ato. Art. 1.537. O instrumento da au-
tos quanto as causas suspensivas § 2o Serão quatro as teste- torização para casar transcrever-
serão opostos em declaração es- munhas na hipótese do parágrafo -se-á integralmente na escritura
crita e assinada, instruída com as anterior e se algum dos contra- antenupcial.
provas do fato alegado, ou com a entes não souber ou não puder
indicação do lugar onde possam escrever. Art. 1.538. A celebração do
ser obtidas. casamento será imediatamen-
Art. 1.535. Presentes os contra- te suspensa se algum dos con-
Art. 1.530. O oficial do regis- entes, em pessoa ou por procu- traentes:
tro dará aos nubentes ou a seus rador especial, juntamente com I – recusar a solene afirmação
representantes nota da oposi- as testemunhas e o oficial do da sua vontade;
ção, indicando os fundamentos, registro, o presidente do ato, ou- II – declarar que esta não é
as provas e o nome de quem a vida aos nubentes a afirmação de livre e espontânea;
ofereceu. que pretendem casar por livre e III – manifestar-se arrepen-
Parágrafo único. Podem os espontânea vontade, declarará dido.
nubentes requerer prazo razo- efetuado o casamento, nestes Parágrafo único. O nubente
ável para fazer prova contrária termos: que, por algum dos fatos mencio-
aos fatos alegados, e promover “De acordo com a vontade nados neste artigo, der causa à
as ações civis e criminais contra que ambos acabais de afirmar suspensão do ato, não será admi-
o oponente de má-fé. perante mim, de vos receber- tido a retratar-se no mesmo dia.
des por marido e mulher, eu,
Art. 1.531. Cumpridas as forma- em nome da lei, vos declaro Art. 1.539. No caso de molés-
lidades dos arts. 1.526 e 1.527 e casados.” tia grave de um dos nubentes, o
verificada a inexistência de fato presidente do ato irá celebrá-lo
obstativo, o oficial do registro ex- Art. 1.536. Do casamento, logo onde se encontrar o impedido,
trairá o certificado de habilitação. depois de celebrado, lavrar-se-á sendo urgente, ainda que à noite,
o assento no livro de registro. No perante duas testemunhas que
Art. 1.532. A eficácia da habi- assento, assinado pelo presidente saibam ler e escrever.
litação será de noventa dias, a do ato, pelos cônjuges, as teste- § 1o A falta ou impedimento
contar da data em que foi extraído munhas, e o oficial do registro, da autoridade competente para
o certificado. serão exarados: presidir o casamento suprir-se-á
I – os prenomes, sobrenomes, por qualquer dos seus substitutos
datas de nascimento, profissão, legais, e a do oficial do Registro
domicílio e residência atual dos Civil por outro ad hoc, nomeado
cônjuges; pelo presidente do ato.
II – os prenomes, sobreno- § 2o O termo avulso, lavrado

232
Código Civil
pelo oficial ad hoc, será registrado do registro. celebração legal do casamento
no respectivo registro dentro em resultar de processo judicial, o
cinco dias, perante duas testemu- Art. 1.542. O casamento pode registro da sentença no livro do
nhas, ficando arquivado. celebrar-se mediante procura- Registro Civil produzirá, tanto
ção, por instrumento público, com no que toca aos cônjuges como
Art. 1.540. Quando algum dos poderes especiais. no que respeita aos filhos, todos
contraentes estiver em iminen- § 1o A revogação do mandato os efeitos civis desde a data do
te risco de vida, não obtendo a não necessita chegar ao conhe- casamento.
presença da autoridade à qual cimento do mandatário; mas, ce-
incumba presidir o ato, nem a de lebrado o casamento sem que o Art. 1.547. Na dúvida entre as
seu substituto, poderá o casa- mandatário ou o outro contraente provas favoráveis e contrárias,
mento ser celebrado na presença tivessem ciência da revogação, julgar-se-á pelo casamento, se os
de seis testemunhas, que com os responderá o mandante por per- cônjuges, cujo casamento se im-
nubentes não tenham parentesco das e danos. pugna, viverem ou tiverem vivido
em linha reta, ou, na colateral, até § 2o O nubente que não es- na posse do estado de casados.
segundo grau. tiver em iminente risco de vida
poderá fazer-se representar no
Art. 1.541. Realizado o casa- casamento nuncupativo. CAPÍTULO VIII – DA
mento, devem as testemunhas § 3o A eficácia do mandato INVALIDADE DO
comparecer perante a autoridade não ultrapassará noventa dias. CASAMENTO
judicial mais próxima, dentro em § 4o Só por instrumento pú-
dez dias, pedindo que lhes tome blico se poderá revogar o man- Art. 1.548. É nulo o casamento
por termo a declaração de: dato. contraído:
I – que foram convocadas por I – (Revogado);
parte do enfermo; II – por infringência de im-
II – que este parecia em pe- CAPÍTULO VII – DAS pedimento.
rigo de vida, mas em seu juízo; PROVAS DO CASAMENTO
III – que, em sua presença, Art. 1.549. A decretação de
declararam os contraentes, livre Art. 1.543. O casamento ce- nulidade de casamento, pelos
e espontaneamente, receber-se lebrado no Brasil prova-se pela motivos previstos no artigo an-
por marido e mulher. certidão do registro. tecedente, pode ser promovida
§ 1o Autuado o pedido e to- Parágrafo único. Justificada mediante ação direta, por qual-
madas as declarações, o juiz pro- a falta ou perda do registro civil, quer interessado, ou pelo Minis-
cederá às diligências necessárias é admissível qualquer outra es- tério Público.
para verificar se os contraentes pécie de prova.
podiam ter-se habilitado, na for- Art. 1.550. É anulável o casa-
ma ordinária, ouvidos os interes- Art. 1.544. O casamento de bra- mento:
sados que o requererem, dentro sileiro, celebrado no estrangeiro, I – de quem não completou a
em quinze dias. perante as respectivas autorida- idade mínima para casar;
§ 2o Verificada a idoneidade des ou os cônsules brasileiros, II – do menor em idade núbil,
dos cônjuges para o casamento, deverá ser registrado em cento e quando não autorizado por seu
assim o decidirá a autoridade oitenta dias, a contar da volta de representante legal;
competente, com recurso volun- um ou de ambos os cônjuges ao III – por vício da vontade, nos
tário às partes. Brasil, no cartório do respectivo termos dos arts. 1.556 a 1.558;
§ 3o Se da decisão não se domicílio, ou, em sua falta, no 1o IV – do incapaz de consentir
tiver recorrido, ou se ela passar Ofício da Capital do Estado em ou manifestar, de modo inequí-
em julgado, apesar dos recur- que passarem a residir. voco, o consentimento;
sos interpostos, o juiz mandará V – realizado pelo mandatário,
registrá-la no livro do Registro Art. 1.545. O casamento de pes- sem que ele ou o outro contraente
dos Casamentos. soas que, na posse do estado de soubesse da revogação do man-
§ 4o O assento assim lavra- casadas, não possam manifestar dato, e não sobrevindo coabitação
do retrotrairá os efeitos do ca- vontade, ou tenham falecido, não entre os cônjuges;
samento, quanto ao estado dos se pode contestar em prejuízo da VI – por incompetência da
cônjuges, à data da celebração. prole comum, salvo mediante cer- autoridade celebrante.
§ 5o Serão dispensadas as tidão do Registro Civil que prove § 1o Equipara-se à revogação
formalidades deste e do artigo que já era casada alguma delas, a invalidade do mandato judicial-
antecedente, se o enfermo con- quando contraiu o casamento mente decretada.
valescer e puder ratificar o ca- impugnado. § 2o A pessoa com deficiên-
samento na presença da auto- cia mental ou intelectual em idade
ridade competente e do oficial Art. 1.546. Quando a prova da núbia poderá contrair matrimô-

233
Código Civil
nio, expressando sua vontade Art. 1.557. Considera-se erro § 2o Na hipótese do inciso V
diretamente ou por meio de seu essencial sobre a pessoa do ou- do art. 1.550, o prazo para anula-
responsável ou curador. tro cônjuge: ção do casamento é de cento e
I – o que diz respeito à sua oitenta dias, a partir da data em
Art. 1.551. Não se anulará, por identidade, sua honra e boa fama, que o mandante tiver conheci-
motivo de idade, o casamento sendo esse erro tal que o seu mento da celebração.
de que resultou gravidez. conhecimento ulterior torne in-
suportável a vida em comum ao Art. 1.561. Embora anulável ou
Art. 1.552. A anulação do casa- cônjuge enganado; mesmo nulo, se contraído de bo-
mento dos menores de dezesseis II – a ignorância de crime, a-fé por ambos os cônjuges, o
anos será requerida: anterior ao casamento, que, por casamento, em relação a estes
I – pelo próprio cônjuge me- sua natureza, torne insuportável como aos filhos, produz todos
nor; a vida conjugal; os efeitos até o dia da sentença
II – por seus representantes III – a ignorância, anterior ao anulatória.
legais; casamento, de defeito físico ir- § 1o Se um dos cônjuges es-
III – por seus ascendentes. remediável que não caracterize tava de boa-fé ao celebrar o ca-
deficiência ou de moléstia grave samento, os seus efeitos civis só
Art. 1.553. O menor que não e transmissível, por contágio ou a ele e aos filhos aproveitarão.
atingiu a idade núbil poderá, de- por herança, capaz de pôr em § 2o Se ambos os cônjuges
pois de completá-la, confirmar risco a saúde do outro cônjuge estavam de má-fé ao celebrar o
seu casamento, com a autori- ou de sua descendência; casamento, os seus efeitos civis
zação de seus representantes IV – (Revogado). só aos filhos aproveitarão.
legais, se necessária, ou com
suprimento judicial. Art. 1.558. É anulável o casa- Art. 1.562. Antes de mover a
mento em virtude de coação, ação de nulidade do casamen-
Art. 1.554. Subsiste o casamen- quando o consentimento de um to, a de anulação, a de separa-
to celebrado por aquele que, sem ou de ambos os cônjuges houver ção judicial, a de divórcio direto
possuir a competência exigida sido captado mediante funda- ou a de dissolução de união es-
na lei, exercer publicamente as do temor de mal considerável e tável, poderá requerer a parte,
funções de juiz de casamentos e, iminente para a vida, a saúde e a comprovando sua necessidade,
nessa qualidade, tiver registrado honra, sua ou de seus familiares. a separação de corpos, que será
o ato no Registro Civil. concedida pelo juiz com a possível
Art. 1.559. Somente o cônjuge brevidade.
Art. 1.555. O casamento do me- que incidiu em erro, ou sofreu co-
nor em idade núbil, quando não ação, pode demandar a anulação Art. 1.563. A sentença que de-
autorizado por seu representante do casamento; mas a coabitação, cretar a nulidade do casamento
legal, só poderá ser anulado se havendo ciência do vício, valida retroagirá à data da sua celebra-
a ação for proposta em cento e o ato, ressalvadas as hipóteses ção, sem prejudicar a aquisição
oitenta dias, por iniciativa do in- dos incisos III e IV do art. 1.557. de direitos, a título oneroso, por
capaz, ao deixar de sê-lo, de seus terceiros de boa-fé, nem a re-
representantes legais ou de seus Art. 1.560. O prazo para ser in- sultante de sentença transitada
herdeiros necessários. tentada a ação de anulação do em julgado.
§ 1o O prazo estabelecido casamento, a contar da data da
neste artigo será contado do dia celebração, é de: Art. 1.564. Quando o casamento
em que cessou a incapacidade, no I – cento e oitenta dias, no for anulado por culpa de um dos
primeiro caso; a partir do casa- caso do inciso IV do art. 1.550; cônjuges, este incorrerá:
mento, no segundo; e, no terceiro, II – dois anos, se incompe- I – na perda de todas as van-
da morte do incapaz. tente a autoridade celebrante; tagens havidas do cônjuge ino-
§ 2o Não se anulará o casa- III – três anos, nos casos dos cente;
mento quando à sua celebração incisos I a IV do art. 1.557; II – na obrigação de cumprir
houverem assistido os represen- IV – quatro anos, se houver as promessas que lhe fez no con-
tantes legais do incapaz, ou tive- coação. trato antenupcial.
rem, por qualquer modo, manifes- § 1o Extingue-se, em cento
tado sua aprovação. e oitenta dias, o direito de anu-
lar o casamento dos menores de CAPÍTULO IX – DA
Art. 1.556. O casamento pode dezesseis anos, contado o prazo EFICÁCIA DO CASAMENTO
ser anulado por vício da vonta- para o menor do dia em que per-
de, se houve por parte de um dos fez essa idade; e da data do casa- Art. 1.565. Pelo casamento, ho-
nubentes, ao consentir, erro es- mento, para seus representantes mem e mulher assumem mutua-
sencial quanto à pessoa do outro. legais ou ascendentes. mente a condição de consortes,

234
Código Civil
companheiros e responsáveis acidente, o outro exercerá com mento, e se o regime dos bens
pelos encargos da família. exclusividade a direção da famí- adotado o permitir, a meação
§ 1o Qualquer dos nubentes, lia, cabendo-lhe a administração dos adquiridos na constância da
querendo, poderá acrescer ao seu dos bens. sociedade conjugal.
o sobrenome do outro.
§ 2o O planejamento fami- Art. 1.573. Podem caracterizar
liar é de livre decisão do casal, CAPÍTULO X – DA a impossibilidade da comunhão
competindo ao Estado propiciar DISSOLUÇÃO DA de vida a ocorrência de algum dos
recursos educacionais e financei- SOCIEDADE E DO VÍNCULO seguintes motivos:
ros para o exercício desse direito, CONJUGAL I – adultério;
vedado qualquer tipo de coerção II – tentativa de morte;
por parte de instituições privadas Art. 1.571. A sociedade conjugal III – sevícia ou injúria grave;
ou públicas. termina: IV – abandono voluntário do
I – pela morte de um dos côn- lar conjugal, durante um ano con-
Art. 1.566. São deveres de am- juges; tínuo;
bos os cônjuges: II – pela nulidade ou anulação V – condenação por crime
I – fidelidade recíproca; do casamento; infamante;
II – vida em comum, no do- III – pela separação judicial; VI – conduta desonrosa.
micílio conjugal; IV – pelo divórcio. Parágrafo único. O juiz po-
III – mútua assistência; § 1o O casamento válido só derá considerar outros fatos que
IV – sustento, guarda e edu- se dissolve pela morte de um tornem evidente a impossibilida-
cação dos filhos; dos cônjuges ou pelo divórcio, de da vida em comum.
V – respeito e consideração aplicando-se a presunção es-
mútuos. tabelecida neste Código quanto Art. 1.574. Dar-se-á a separação
ao ausente. judicial por mútuo consentimento
Art. 1.567. A direção da socie- § 2o Dissolvido o casamento dos cônjuges se forem casados
dade conjugal será exercida, em pelo divórcio direto ou por conver- por mais de um ano e o manifes-
colaboração, pelo marido e pela são, o cônjuge poderá manter o tarem perante o juiz, sendo por
mulher, sempre no interesse do nome de casado; salvo, no segun- ele devidamente homologada a
casal e dos filhos. do caso, dispondo em contrário a convenção.
Parágrafo único. Havendo sentença de separação judicial. Parágrafo único. O juiz pode
divergência, qualquer dos cônju- recusar a homologação e não de-
ges poderá recorrer ao juiz, que Art. 1.572. Qualquer dos côn- cretar a separação judicial se apu-
decidirá tendo em consideração juges poderá propor a ação de rar que a convenção não preserva
aqueles interesses. separação judicial, imputando ao suficientemente os interesses
outro qualquer ato que importe dos filhos ou de um dos cônjuges.
Art. 1.568. Os cônjuges são obri- grave violação dos deveres do
gados a concorrer, na proporção casamento e torne insuportável Art. 1.575. A sentença de se-
de seus bens e dos rendimentos a vida em comum. paração judicial importa a se-
do trabalho, para o sustento da § 1o A separação judicial pode paração de corpos e a partilha
família e a educação dos filhos, também ser pedida se um dos de bens.
qualquer que seja o regime pa- cônjuges provar ruptura da vida Parágrafo único. A partilha
trimonial. em comum há mais de um ano de bens poderá ser feita median-
e a impossibilidade de sua re- te proposta dos cônjuges e ho-
Art. 1.569. O domicílio do ca- constituição. mologada pelo juiz ou por este
sal será escolhido por ambos os § 2o O cônjuge pode ainda decidida.
cônjuges, mas um e outro podem pedir a separação judicial quan-
ausentar-se do domicílio conjugal do o outro estiver acometido de Art. 1.576. A separação judicial
para atender a encargos públicos, doença mental grave, manifesta- põe termo aos deveres de coabi-
ao exercício de sua profissão, da após o casamento, que torne tação e fidelidade recíproca e ao
ou a interesses particulares re- impossível a continuação da vida regime de bens.
levantes. em comum, desde que, após uma Parágrafo único. O proce-
duração de dois anos, a enfermi- dimento judicial da separação
Art. 1.570. Se qualquer dos côn- dade tenha sido reconhecida de caberá somente aos cônjuges, e,
juges estiver em lugar remoto ou cura improvável. no caso de incapacidade, serão
não sabido, encarcerado por mais § 3o No caso do parágrafo 2o, representados pelo curador, pelo
de cento e oitenta dias, interdi- reverterão ao cônjuge enfermo, ascendente ou pelo irmão.
tado judicialmente ou privado, que não houver pedido a separa-
episodicamente, de consciência, ção judicial, os remanescentes Art. 1.577. Seja qual for a causa
em virtude de enfermidade ou de dos bens que levou para o casa- da separação judicial e o modo

235
Código Civil
como esta se faça, é lícito aos Art. 1.581. O divórcio pode ser I – requerida, por consenso,
cônjuges restabelecer, a todo concedido sem que haja prévia pelo pai e pela mãe, ou por qual-
tempo, a sociedade conjugal, por partilha de bens. quer deles, em ação autônoma
ato regular em juízo. de separação, de divórcio, de dis-
Parágrafo único. A reconci- Art. 1.582. O pedido de divórcio solução de união estável ou em
liação em nada prejudicará o di- somente competirá aos cônjuges. medida cautelar;
reito de terceiros, adquirido antes Parágrafo único. Se o cônju- II – decretada pelo juiz, em
e durante o estado de separado, ge for incapaz para propor a ação atenção a necessidades espe-
seja qual for o regime de bens. ou defender-se, poderá fazê-lo o cíficas do filho, ou em razão da
curador, o ascendente ou o irmão. distribuição de tempo necessá-
Art. 1.578. O cônjuge declarado rio ao convívio deste com o pai e
culpado na ação de separação com a mãe.
judicial perde o direito de usar o CAPÍTULO XI – DA § 1o Na audiência de conci-
sobrenome do outro, desde que PROTEÇÃO DA PESSOA DOS liação, o juiz informará ao pai e
expressamente requerido pelo FILHOS à mãe o significado da guarda
cônjuge inocente e se a alteração compartilhada, a sua importân-
não acarretar: Art. 1.583. A guarda será unila- cia, a similitude de deveres e di-
I – evidente prejuízo para a teral ou compartilhada. reitos atribuídos aos genitores e
sua identificação; § 1 o Compreende-se por as sanções pelo descumprimento
II – manifesta distinção entre guarda unilateral a atribuída a de suas cláusulas.
o seu nome de família e o dos fi- um só dos genitores ou a alguém § 2o Quando não houver acor-
lhos havidos da união dissolvida; que o substitua (art. 1.584, § 5o) do entre a mãe e o pai quanto à
III – dano grave reconhecido e, por guarda compartilhada a guarda do filho, encontrando-se
na decisão judicial. responsabilização conjunta e o ambos os genitores aptos a exer-
§ 1o O cônjuge inocente na exercício de direitos e deveres do cer o poder familiar, será aplicada
ação de separação judicial poderá pai e da mãe que não vivam sob a guarda compartilhada, salvo se
renunciar, a qualquer momento, o mesmo teto, concernentes ao um dos genitores declarar ao ma-
ao direito de usar o sobrenome poder familiar dos filhos comuns. gistrado que não deseja a guarda
do outro. § 2o Na guarda compartilha- do menor.
§ 2o Nos demais casos ca- da, o tempo de convívio com os § 3o Para estabelecer as atri-
berá a opção pela conservação filhos deve ser dividido de forma buições do pai e da mãe e os pe-
do nome de casado. equilibrada com a mãe e com o ríodos de convivência sob guarda
pai, sempre tendo em vista as compartilhada, o juiz, de ofício
Art. 1.579. O divórcio não modi- condições fáticas e os interesses ou a requerimento do Ministério
ficará os direitos e deveres dos dos filhos: Público, poderá basear-se em
pais em relação aos filhos. I – (Revogado); orientação técnico-profissional
Parágrafo único. Novo casa- II – (Revogado); ou de equipe interdisciplinar, que
mento de qualquer dos pais, ou III – (Revogado). deverá visar à divisão equilibrada
de ambos, não poderá importar § 3o Na guarda compartilha- do tempo com o pai e com a mãe.
restrições aos direitos e deveres da, a cidade considerada base de § 4o A alteração não autori-
previstos neste artigo. moradia dos filhos será aquela zada ou o descumprimento imo-
que melhor atender aos interes- tivado de cláusula de guarda uni-
Art. 1.580. Decorrido um ano do ses dos filhos. lateral ou compartilhada poderá
trânsito em julgado da sentença § 4o (Vetado) implicar a redução de prerroga-
que houver decretado a separa- § 5o A guarda unilateral obri- tivas atribuídas ao seu detentor.
ção judicial, ou da decisão con- ga o pai ou a mãe que não a dete- § 5o Se o juiz verificar que o
cessiva da medida cautelar de nha a supervisionar os interesses filho não deve permanecer sob a
separação de corpos, qualquer dos filhos, e, para possibilitar tal guarda do pai ou da mãe, deferi-
das partes poderá requerer sua supervisão, qualquer dos geni- rá a guarda a pessoa que revele
conversão em divórcio. tores sempre será parte legítima compatibilidade com a natureza
§ 1o A conversão em divórcio para solicitar informações e/ou da medida, considerados, de pre-
da separação judicial dos cônju- prestação de contas, objetivas ferência, o grau de parentesco e
ges será decretada por sentença, ou subjetivas, em assuntos ou as relações de afinidade e afe-
da qual não constará referência à situações que direta ou indire- tividade.
causa que a determinou. tamente afetem a saúde física § 6o Qualquer estabeleci-
§ 2o O divórcio poderá ser e psicológica e a educação de mento público ou privado é obri-
requerido, por um ou por ambos seus filhos. gado a prestar informações a
os cônjuges, no caso de compro- qualquer dos genitores sobre os
vada separação de fato por mais Art. 1.584. A guarda, unilateral filhos destes, sob pena de mul-
de dois anos. ou compartilhada, poderá ser: ta de R$ 200,00 (duzentos reais)

236
SUBTÍTULO II – DAS

Código Civil
a R$  500,00 (quinhentos reais) II – nascidos nos trezentos
por dia pelo não atendimento da RELAÇÕES DE dias subsequentes à dissolução
solicitação. da sociedade conjugal, por mor-
PARENTESCO te, separação judicial, nulidade e
Art. 1.585. Em sede de medida CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES anulação do casamento;
cautelar de separação de corpos, GERAIS III – havidos por fecundação
em sede de medida cautelar de artificial homóloga, mesmo que
guarda ou em outra sede de fixa- falecido o marido;
ção liminar de guarda, a decisão Art. 1.591. São parentes em linha IV – havidos, a qualquer tem-
sobre guarda de filhos, mesmo reta as pessoas que estão umas po, quando se tratar de embriões
que provisória, será proferida para com as outras na relação excedentários, decorrentes de
preferencialmente após a oitiva de ascendentes e descendentes. concepção artificial homóloga;
de ambas as partes perante o juiz, V – havidos por insemina-
salvo se a proteção aos interesses Art. 1.592. São parentes em li- ção artificial heteróloga, desde
dos filhos exigir a concessão de nha colateral ou transversal, até que tenha prévia autorização do
liminar sem a oitiva da outra par- o quarto grau, as pessoas pro- marido.
te, aplicando-se as disposições venientes de um só tronco, sem
do art. 1.584. descenderem uma da outra. Art. 1.598. Salvo prova em con-
trário, se, antes de decorrido o
Art. 1.586. Havendo motivos Art. 1.593. O parentesco é natu- prazo previsto no inciso II do
graves, poderá o juiz, em qualquer ral ou civil, conforme resulte de art. 1.523, a mulher contrair no-
caso, a bem dos filhos, regular de consanguinidade ou outra origem. vas núpcias e lhe nascer algum
maneira diferente da estabele- filho, este se presume do primei-
cida nos artigos antecedentes a Art. 1.594. Contam-se, na linha ro marido, se nascido dentro dos
situação deles para com os pais. reta, os graus de parentesco pelo trezentos dias a contar da data
número de gerações, e, na cola- do falecimento deste e, do se-
Art. 1.587. No caso de invalida- teral, também pelo número delas, gundo, se o nascimento ocorrer
de do casamento, havendo filhos subindo de um dos parentes até após esse período e já decorrido
comuns, observar-se-á o disposto ao ascendente comum, e descen- o prazo a que se refere o inciso I
nos arts. 1.584 e 1.586. do até encontrar o outro parente. do art. 1.597.

Art. 1.588. O pai ou a mãe que Art. 1.595. Cada cônjuge ou Art. 1.599. A prova da impotên-
contrair novas núpcias não perde companheiro é aliado aos pa- cia do cônjuge para gerar, à época
o direito de ter consigo os filhos, rentes do outro pelo vínculo da da concepção, ilide a presunção
que só lhe poderão ser retirados afinidade. da paternidade.
por mandado judicial, provado § 1o O parentesco por afini-
que não são tratados convenien- dade limita-se aos ascendentes, Art. 1.600. Não basta o adultério
temente. aos descendentes e aos irmãos do da mulher, ainda que confessado,
cônjuge ou companheiro. para ilidir a presunção legal da
Art. 1.589. O pai ou a mãe, em § 2o Na linha reta, a afinida- paternidade.
cuja guarda não estejam os filhos, de não se extingue com a disso-
poderá visitá-los e tê-los em sua lução do casamento ou da união Art. 1.601. Cabe ao marido o di-
companhia, segundo o que acor- estável. reito de contestar a paternidade
dar com o outro cônjuge, ou for dos filhos nascidos de sua mu-
fixado pelo juiz, bem como fisca- lher, sendo tal ação imprescritível.
lizar sua manutenção e educação. CAPÍTULO II – DA FILIAÇÃO Parágrafo único. Contestada
Parágrafo único. O direito de a filiação, os herdeiros do impug-
visita estende-se a qualquer dos Art. 1.596. Os filhos, havidos ou nante têm direito de prosseguir
avós, a critério do juiz, observa- não da relação de casamento, ou na ação.
dos os interesses da criança ou por adoção, terão os mesmos di-
do adolescente. reitos e qualificações, proibidas Art. 1.602. Não basta a confis-
quaisquer designações discrimi- são materna para excluir a pa-
Art. 1.590. As disposições rela- natórias relativas à filiação. ternidade.
tivas à guarda e prestação de ali-
mentos aos filhos menores esten- Art. 1.597. Presumem-se con- Art. 1.603. A filiação prova-se
dem-se aos maiores incapazes. cebidos na constância do casa- pela certidão do termo de nas-
mento os filhos: cimento registrada no Registro
I – nascidos cento e oitenta Civil.
dias, pelo menos, depois de esta-
belecida a convivência conjugal; Art. 1.604. Ninguém pode vindi-

237
Código Civil
car estado contrário ao que re- descendentes. de 18 (dezoito) anos dependerá da
sulta do registro de nascimento, assistência efetiva do poder pú-
salvo provando-se erro ou falsi- Art. 1.610. O reconhecimento blico e de sentença constitutiva,
dade do registro. não pode ser revogado, nem mes- aplicando-se, no que couber, as
mo quando feito em testamento. regras gerais da Lei no 8.069, de
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, 13 de julho de 1990 – Estatuto da
do termo de nascimento, poderá Art. 1.611. O filho havido fora do Criança e do Adolescente.
provar-se a filiação por qualquer casamento, reconhecido por um
modo admissível em direito: dos cônjuges, não poderá residir Arts. 1.620 a 1.629. (Revogados)
I – quando houver começo de no lar conjugal sem o consenti-
prova por escrito, proveniente dos mento do outro.
pais, conjunta ou separadamente; CAPÍTULO V – DO PODER
II – quando existirem vee- Art. 1.612. O filho reconhecido, FAMILIAR
mentes presunções resultantes enquanto menor, ficará sob a
Seção I – Disposições Gerais
de fatos já certos. guarda do genitor que o reco-
nheceu, e, se ambos o reconhe-
Art. 1.606. A ação de prova de ceram e não houver acordo, sob Art. 1.630. Os filhos estão sujei-
filiação compete ao filho, enquan- a de quem melhor atender aos tos ao poder familiar, enquanto
to viver, passando aos herdeiros, interesses do menor. menores.
se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada Art. 1.613. São ineficazes a con- Art. 1.631. Durante o casamento
a ação pelo filho, os herdeiros dição e o termo apostos ao ato de e a união estável, compete o po-
poderão continuá-la, salvo se jul- reconhecimento do filho. der familiar aos pais; na falta ou
gado extinto o processo. impedimento de um deles, o outro
Art. 1.614. O filho maior não o exercerá com exclusividade.
pode ser reconhecido sem o seu Parágrafo único. Divergindo
CAPÍTULO III – DO consentimento, e o menor pode os pais quanto ao exercício do
RECONHECIMENTO DOS impugnar o reconhecimento, nos poder familiar, é assegurado a
FILHOS quatro anos que se seguirem à qualquer deles recorrer ao juiz
maioridade, ou à emancipação. para solução do desacordo.
Art. 1.607. O filho havido fora
do casamento pode ser reco- Art. 1.615. Qualquer pessoa, que Art. 1.632. A separação judicial,
nhecido pelos pais, conjunta ou justo interesse tenha, pode con- o divórcio e a dissolução da união
separadamente. testar a ação de investigação estável não alteram as relações
de paternidade, ou maternidade. entre pais e filhos senão quanto
Art. 1.608. Quando a materni- ao direito, que aos primeiros cabe,
dade constar do termo do nasci- Art. 1.616. A sentença que julgar de terem em sua companhia os
mento do filho, a mãe só poderá procedente a ação de investiga- segundos.
contestá-la, provando a falsidade ção produzirá os mesmos efeitos
do termo, ou das declarações nele do reconhecimento; mas poderá Art. 1.633. O filho, não reco-
contidas. ordenar que o filho se crie e edu- nhecido pelo pai, fica sob poder
que fora da companhia dos pais familiar exclusivo da mãe; se a
Art. 1.609. O reconhecimento ou daquele que lhe contestou mãe não for conhecida ou ca-
dos filhos havidos fora do casa- essa qualidade. paz de exercê-lo, dar-se-á tutor
mento é irrevogável e será feito: ao menor.
I – no registro do nascimento; Art. 1.617. A filiação materna ou
II – por escritura pública ou paterna pode resultar de casa-
escrito particular, a ser arquivado mento declarado nulo, ainda mes-
Seção II – Do Exercício do
em cartório; mo sem as condições do putativo. Poder Familiar
III – por testamento, ainda que
incidentalmente manifestado; Art. 1.634. Compete a ambos os
IV – por manifestação direta CAPÍTULO IV – DA ADOÇÃO pais, qualquer que seja a sua situ-
e expressa perante o juiz, ainda ação conjugal, o pleno exercício
que o reconhecimento não haja Art. 1.618. A adoção de crianças do poder familiar, que consiste
sido o objeto único e principal do e adolescentes será deferida na em, quanto aos filhos:
ato que o contém. forma prevista pela Lei no 8.069, I – dirigir-lhes a criação e a
Parágrafo único. O reconhe- de 13 de julho de 1990 – Estatu- educação;
cimento pode preceder o nasci- to da Criança e do Adolescente. II – exercer a guarda unilate-
mento do filho ou ser posterior ral ou compartilhada nos termos
ao seu falecimento, se ele deixar Art. 1.619. A adoção de maiores do art. 1.584;

238
TÍTULO II – DO DIREITO

Código Civil
III – conceder-lhes ou negar- cabe ao juiz, requerendo algum
-lhes consentimento para ca- parente, ou o Ministério Público, PATRIMONIAL
sarem; adotar a medida que lhe pareça
IV – conceder-lhes ou negar- reclamada pela segurança do me- SUBTÍTULO I – DO REGIME
-lhes consentimento para viaja- nor e seus haveres, até suspen- DE BENS ENTRE OS
rem ao exterior; dendo o poder familiar, quando CÔNJUGES
V – conceder-lhes ou negar- convenha.
-lhes consentimento para muda- Parágrafo único. Suspende- CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
rem sua residência permanente -se igualmente o exercício do po- GERAIS
para outro Município; der familiar ao pai ou à mãe con-
VI – nomear-lhes tutor por denados por sentença irrecorrível,
testamento ou documento au- em virtude de crime cuja pena Art. 1.639. É lícito aos nubentes,
têntico, se o outro dos pais não exceda a dois anos de prisão. antes de celebrado o casamento,
lhe sobreviver, ou o sobrevivo não estipular, quanto aos seus bens,
puder exercer o poder familiar; Art. 1.638. Perderá por ato ju- o que lhes aprouver.
VII – representá-los judicial dicial o poder familiar o pai ou § 1o O regime de bens entre
e extrajudicialmente até os 16 a mãe que: os cônjuges começa a vigorar
(dezesseis) anos, nos atos da vida I – castigar imoderadamen- desde a data do casamento.
civil, e assisti-los, após essa ida- te o filho; § 2o É admissível alteração
de, nos atos em que forem partes, II – deixar o filho em aban- do regime de bens, mediante
suprindo-lhes o consentimento; dono; autorização judicial em pedido
VIII – reclamá-los de quem III – praticar atos contrários motivado de ambos os cônju-
ilegalmente os detenha; à moral e aos bons costumes; ges, apurada a procedência das
IX – exigir que lhes prestem IV – incidir, reiteradamente, razões invocadas e ressalvados
obediência, respeito e os serviços nas faltas previstas no artigo an- os direitos de terceiros.
próprios de sua idade e condição. tecedente;
V – entregar de forma irre- Art. 1.640. Não havendo con-
gular o filho a terceiros para fins venção, ou sendo ela nula ou ine-
Seção III – Da Suspensão e de adoção. ficaz, vigorará, quanto aos bens
Extinção do Poder Familiar Parágrafo único. Perderá entre os cônjuges, o regime da
também por ato judicial o poder comunhão parcial.
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar aquele que: Parágrafo único. Poderão os
familiar: I – praticar contra outrem nubentes, no processo de habi-
I – pela morte dos pais ou igualmente titular do mesmo po- litação, optar por qualquer dos
do filho; der familiar: regimes que este código regula.
II – pela emancipação, nos a) homicídio, feminicídio ou Quanto à forma, reduzir-se-á a
termos do art. 5o, parágrafo único; lesão corporal de natureza grave termo a opção pela comunhão
III – pela maioridade; ou seguida de morte, quando se parcial, fazendo-se o pacto an-
IV – pela adoção; tratar de crime doloso envolvendo tenupcial por escritura pública,
V – por decisão judicial, na violência doméstica e familiar ou nas demais escolhas.
forma do artigo 1.638. menosprezo ou discriminação à
condição de mulher; Art. 1.641. É obrigatório o re-
Art. 1.636. O pai ou a mãe que b) estupro ou outro crime gime da separação de bens no
contrai novas núpcias, ou esta- contra a dignidade sexual sujeito casamento:
belece união estável, não perde, à pena de reclusão; I – das pessoas que o con-
quanto aos filhos do relaciona- II – praticar contra filho, filha traírem com inobservância das
mento anterior, os direitos ao ou outro descendente: causas suspensivas da celebra-
poder familiar, exercendo-os sem a) homicídio, feminicídio ou ção do casamento;
qualquer interferência do novo lesão corporal de natureza grave II – da pessoa maior de 70
cônjuge ou companheiro. ou seguida de morte, quando se (setenta) anos;
Parágrafo único. Igual pre- tratar de crime doloso envolvendo III – de todos os que depen-
ceito ao estabelecido neste artigo violência doméstica e familiar ou derem, para casar, de suprimento
aplica-se ao pai ou à mãe solteiros menosprezo ou discriminação à judicial.
que casarem ou estabelecerem condição de mulher;
união estável. b) estupro, estupro de vul- Art. 1.642. Qualquer que seja o
nerável ou outro crime contra a regime de bens, tanto o marido
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, dignidade sexual sujeito à pena quanto a mulher podem livre-
abusar de sua autoridade, faltan- de reclusão. mente:
do aos deveres a eles inerentes I – praticar todos os atos de
ou arruinando os bens dos filhos, disposição e de administração ne-

239
Código Civil
cessários ao desempenho de sua separação absoluta: I – como usufrutuário, se o
profissão, com as limitações esta- I – alienar ou gravar de ônus rendimento for comum;
belecidas no inciso I do art. 1.647; real os bens imóveis; II – como procurador, se tiver
II – administrar os bens pró- II – pleitear, como autor ou mandato expresso ou tácito para
prios; réu, acerca desses bens ou di- os administrar;
III – desobrigar ou reivindi- reitos; III – como depositário, se não
car os imóveis que tenham sido III – prestar fiança ou aval; for usufrutuário, nem adminis-
gravados ou alienados sem o seu IV – fazer doação, não sendo trador.
consentimento ou sem suprimen- remuneratória, de bens comuns,
to judicial; ou dos que possam integrar fu-
IV – demandar a rescisão dos tura meação. CAPÍTULO II – DO PACTO
contratos de fiança e doação, ou Parágrafo único. São válidas ANTENUPCIAL
a invalidação do aval, realizados as doações nupciais feitas aos
pelo outro cônjuge com infração filhos quando casarem ou esta- Art. 1.653. É nulo o pacto ante-
do disposto nos incisos III e IV do belecerem economia separada. nupcial se não for feito por escri-
art. 1.647; tura pública, e ineficaz se não lhe
V – reivindicar os bens co- Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos ca- seguir o casamento.
muns, móveis ou imóveis, doa- sos do artigo antecedente, suprir
dos ou transferidos pelo outro a outorga, quando um dos cônju- Art. 1.654. A eficácia do pacto
cônjuge ao concubino, desde que ges a denegue sem motivo justo, antenupcial, realizado por menor,
provado que os bens não foram ou lhe seja impossível concedê-la. fica condicionada à aprovação de
adquiridos pelo esforço comum seu representante legal, salvo as
destes, se o casal estiver separa- Art. 1.649. A falta de autoriza- hipóteses de regime obrigatório
do de fato por mais de cinco anos; ção, não suprida pelo juiz, quando de separação de bens.
VI – praticar todos os atos necessária (art.  1.647), tornará
que não lhes forem vedados ex- anulável o ato praticado, poden- Art. 1.655. É nula a convenção
pressamente. do o outro cônjuge pleitear-lhe a ou cláusula dela que contravenha
anulação, até dois anos depois de disposição absoluta de lei.
Art. 1.643. Podem os cônjuges, terminada a sociedade conjugal.
independentemente de autoriza- Parágrafo único. A aprova- Art. 1.656. No pacto antenup-
ção um do outro: ção torna válido o ato, desde que cial, que adotar o regime de par-
I – comprar, ainda a crédito, feita por instrumento público, ou ticipação final nos aquestos, po-
as coisas necessárias à economia particular, autenticado. der-se-á convencionar a livre dis-
doméstica; posição dos bens imóveis, desde
II – obter, por empréstimo, as Art. 1.650. A decretação de in- que particulares.
quantias que a aquisição dessas validade dos atos praticados sem
coisas possa exigir. outorga, sem consentimento, ou Art. 1.657. As convenções ante-
sem suprimento do juiz, só pode- nupciais não terão efeito perante
Art. 1.644. As dívidas contraídas rá ser demandada pelo cônjuge terceiros senão depois de regis-
para os fins do artigo antecedente a quem cabia concedê-la, ou por tradas, em livro especial, pelo
obrigam solidariamente ambos seus herdeiros. oficial do Registro de Imóveis do
os cônjuges. domicílio dos cônjuges.
Art. 1.651. Quando um dos côn-
Art. 1.645. As ações fundadas juges não puder exercer a ad-
nos incisos III, IV e V do art. 1.642 ministração dos bens que lhe CAPÍTULO III – DO REGIME
competem ao cônjuge prejudica- incumbe, segundo o regime de DE COMUNHÃO PARCIAL
do e a seus herdeiros. bens, caberá ao outro:
I – gerir os bens comuns e os Art. 1.658. No regime de comu-
Art. 1.646. No caso dos incisos do consorte; nhão parcial, comunicam-se os
III e IV do art.  1.642, o terceiro, II – alienar os bens móveis bens que sobrevierem ao casal, na
prejudicado com a sentença fa- comuns; constância do casamento, com as
vorável ao autor, terá direito re- III – alienar os imóveis co- exceções dos artigos seguintes.
gressivo contra o cônjuge, que muns e os móveis ou imóveis do
realizou o negócio jurídico, ou consorte, mediante autorização Art. 1.659. Excluem-se da co-
seus herdeiros. judicial. munhão:
I – os bens que cada côn-
Art. 1.647. Ressalvado o dis- Art. 1.652. O cônjuge, que esti- juge possuir ao casar, e os que
posto no art. 1.648, nenhum dos ver na posse dos bens particula- lhe sobrevierem, na constância
cônjuges pode, sem autorização res do outro, será para com este do casamento, por doação ou
do outro, exceto no regime da e seus herdeiros responsável: sucessão, e os sub-rogados em

240
Código Civil
seu lugar; e os do outro na razão do proveito outro com a cláusula de incomu-
II – os bens adquiridos com que houver auferido. nicabilidade;
valores exclusivamente perten- § 2o A anuência de ambos V – os bens referidos nos in-
centes a um dos cônjuges em os cônjuges é necessária para os cisos V a VII do art. 1.659.
sub-rogação dos bens particu- atos, a título gratuito, que impli-
lares; quem cessão do uso ou gozo dos Art. 1.669. A incomunicabilidade
III – as obrigações anteriores bens comuns. dos bens enumerados no artigo
ao casamento; § 3o Em caso de malversação antecedente não se estende aos
IV – as obrigações provenien- dos bens, o juiz poderá atribuir a frutos, quando se percebam ou
tes de atos ilícitos, salvo reversão administração a apenas um dos vençam durante o casamento.
em proveito do casal; cônjuges.
V – os bens de uso pesso- Art. 1.670. Aplica-se ao regime
al, os livros e instrumentos de Art. 1.664. Os bens da comu- da comunhão universal o disposto
profissão; nhão respondem pelas obriga- no Capítulo antecedente, quanto
VI – os proventos do trabalho ções contraídas pelo marido ou à administração dos bens.
pessoal de cada cônjuge; pela mulher para atender aos en-
VII – as pensões, meios-sol- cargos da família, às despesas de Art. 1.671. Extinta a comunhão,
dos, montepios e outras rendas administração e às decorrentes e efetuada a divisão do ativo e do
semelhantes. de imposição legal. passivo, cessará a responsabili-
dade de cada um dos cônjuges
Art. 1.660. Entram na comu- Art. 1.665. A administração e a para com os credores do outro.
nhão: disposição dos bens constitutivos
I – os bens adquiridos na do patrimônio particular compe-
constância do casamento por tem ao cônjuge proprietário, sal- CAPÍTULO V – DO REGIME
título oneroso, ainda que só em vo convenção diversa em pacto DE PARTICIPAÇÃO FINAL
nome de um dos cônjuges; antenupcial. NOS AQUESTOS
II – os bens adquiridos por
fato eventual, com ou sem o con- Art. 1.666. As dívidas, contra- Art. 1.672. No regime de parti-
curso de trabalho ou despesa ídas por qualquer dos cônjuges cipação final nos aquestos, cada
anterior; na administração de seus bens cônjuge possui patrimônio pró-
III – os bens adquiridos por particulares e em benefício des- prio, consoante disposto no artigo
doação, herança ou legado, em tes, não obrigam os bens comuns. seguinte, e lhe cabe, à época da
favor de ambos os cônjuges; dissolução da sociedade conjugal,
IV – as benfeitorias em bens direito à metade dos bens adqui-
particulares de cada cônjuge; CAPÍTULO IV – DO REGIME ridos pelo casal, a título oneroso,
V – os frutos dos bens co- DE COMUNHÃO UNIVERSAL na constância do casamento.
muns, ou dos particulares de cada
cônjuge, percebidos na constân- Art. 1.667. O regime de comu- Art. 1.673. Integram o patrimô-
cia do casamento, ou pendentes nhão universal importa a comuni- nio próprio os bens que cada côn-
ao tempo de cessar a comunhão. cação de todos os bens presentes juge possuía ao casar e os por ele
e futuros dos cônjuges e suas dí- adquiridos, a qualquer título, na
Art. 1.661. São incomunicáveis vidas passivas, com as exceções constância do casamento.
os bens cuja aquisição tiver por do artigo seguinte. Parágrafo único. A adminis-
título uma causa anterior ao ca- tração desses bens é exclusiva de
samento. Art. 1.668. São excluídos da co- cada cônjuge, que os poderá livre-
munhão: mente alienar, se forem móveis.
Art. 1.662. No regime da co- I – os bens doados ou herda-
munhão parcial, presumem-se dos com a cláusula de incomuni- Art. 1.674. Sobrevindo a dissolu-
adquiridos na constância do ca- cabilidade e os sub-rogados em ção da sociedade conjugal, apu-
samento os bens móveis, quando seu lugar; rar-se-á o montante dos aques-
não se provar que o foram em II – os bens gravados de fidei- tos, excluindo-se da soma dos
data anterior. comisso e o direito do herdeiro fi- patrimônios próprios:
deicomissário, antes de realizada I – os bens anteriores ao ca-
Art. 1.663. A administração do a condição suspensiva; samento e os que em seu lugar
patrimônio comum compete a III – as dívidas anteriores ao se sub-rogaram;
qualquer dos cônjuges. casamento, salvo se provierem de II – os que sobrevieram a cada
§ 1o As dívidas contraídas no despesas com seus aprestos, ou cônjuge por sucessão ou libe-
exercício da administração obri- reverterem em proveito comum; ralidade;
gam os bens comuns e particula- IV – as doações antenupciais III – as dívidas relativas a es-
res do cônjuge que os administra, feitas por um dos cônjuges ao ses bens.

241
Código Civil
Parágrafo único. Salvo prova não é renunciável, cessível ou SUBTÍTULO II – DO
em contrário, presumem-se ad- penhorável na vigência do regime USUFRUTO E DA
quiridos durante o casamento os matrimonial.
bens móveis.
ADMINISTRAÇÃO DOS BENS
Art. 1.683. Na dissolução do re- DE FILHOS MENORES
Art. 1.675. Ao determinar-se o gime de bens por separação judi-
montante dos aquestos, com- cial ou por divórcio, verificar-se-á Art. 1.689. O pai e a mãe, en-
putar-se-á o valor das doações o montante dos aquestos à data quanto no exercício do poder
feitas por um dos cônjuges, sem em que cessou a convivência. familiar:
a necessária autorização do ou- I – são usufrutuários dos bens
tro; nesse caso, o bem poderá ser Art. 1.684. Se não for possível dos filhos;
reivindicado pelo cônjuge preju- nem conveniente a divisão de II – têm a administração dos
dicado ou por seus herdeiros, ou todos os bens em natureza, cal- bens dos filhos menores sob sua
declarado no monte partilhável, cular-se-á o valor de alguns ou de autoridade.
por valor equivalente ao da época todos para reposição em dinheiro
da dissolução. ao cônjuge não proprietário. Art. 1.690. Compete aos pais,
Parágrafo único. Não se po- e na falta de um deles ao outro,
Art. 1.676. Incorpora-se ao mon- dendo realizar a reposição em di- com exclusividade, representar
te o valor dos bens alienados em nheiro, serão avaliados e, median- os filhos menores de dezesseis
detrimento da meação, se não te autorização judicial, alienados anos, bem como assisti-los até
houver preferência do cônjuge tantos bens quantos bastarem. completarem a maioridade ou
lesado, ou de seus herdeiros, de serem emancipados.
os reivindicar. Art. 1.685. Na dissolução da so- Parágrafo único. Os pais de-
ciedade conjugal por morte, veri- vem decidir em comum as ques-
Art. 1.677. Pelas dívidas poste- ficar-se-á a meação do cônjuge tões relativas aos filhos e a seus
riores ao casamento, contraídas sobrevivente de conformidade bens; havendo divergência, po-
por um dos cônjuges, somente com os artigos antecedentes, derá qualquer deles recorrer ao
este responderá, salvo prova de deferindo-se a herança aos her- juiz para a solução necessária.
terem revertido, parcial ou total- deiros na forma estabelecida nes-
mente, em benefício do outro. te Código. Art. 1.691. Não podem os pais
alienar, ou gravar de ônus real os
Art. 1.678. Se um dos cônjuges Art. 1.686. As dívidas de um dos imóveis dos filhos, nem contrair,
solveu uma dívida do outro com cônjuges, quando superiores à em nome deles, obrigações que
bens do seu patrimônio, o valor do sua meação, não obrigam ao ou- ultrapassem os limites da simples
pagamento deve ser atualizado e tro, ou a seus herdeiros. administração, salvo por neces-
imputado, na data da dissolução, sidade ou evidente interesse da
à meação do outro cônjuge. prole, mediante prévia autoriza-
CAPÍTULO VI – DO REGIME ção do juiz.
Art. 1.679. No caso de bens ad- DE SEPARAÇÃO DE BENS Parágrafo único. Podem plei-
quiridos pelo trabalho conjunto, tear a declaração de nulidade dos
terá cada um dos cônjuges uma Art. 1.687. Estipulada a separa- atos previstos neste artigo:
quota igual no condomínio ou ção de bens, estes permanecerão I – os filhos;
no crédito por aquele modo es- sob a administração exclusiva II – os herdeiros;
tabelecido. de cada um dos cônjuges, que III – o representante legal.
os poderá livremente alienar ou
Art. 1.680. As coisas móveis, em gravar de ônus real. Art. 1.692. Sempre que no exer-
face de terceiros, presumem-se cício do poder familiar colidir o
do domínio do cônjuge devedor, Art. 1.688. Ambos os cônjuges interesse dos pais com o do fi-
salvo se o bem for de uso pessoal são obrigados a contribuir para as lho, a requerimento deste ou do
do outro. despesas do casal na proporção Ministério Público o juiz lhe dará
dos rendimentos de seu traba- curador especial.
Art. 1.681. Os bens imóveis são lho e de seus bens, salvo esti-
de propriedade do cônjuge cujo pulação em contrário no pacto Art. 1.693. Excluem-se do usu-
nome constar no registro. antenupcial. fruto e da administração dos pais:
Parágrafo único. Impugnada I – os bens adquiridos pelo
a titularidade, caberá ao cônjuge filho havido fora do casamento,
proprietário provar a aquisição antes do reconhecimento;
regular dos bens. II – os valores auferidos pelo
filho maior de dezesseis anos, no
Art. 1.682. O direito à meação exercício de atividade profissio-

242
Código Civil
nal e os bens com tais recursos de grau imediato; sendo várias obrigado a assegurá-los, fixan-
adquiridos; as pessoas obrigadas a prestar do o juiz o valor indispensável à
III – os bens deixados ou do- alimentos, todas devem concor- sobrevivência.
ados ao filho, sob a condição de rer na proporção dos respectivos
não serem usufruídos, ou admi- recursos, e, intentada ação contra Art. 1.705. Para obter alimentos,
nistrados, pelos pais; uma delas, poderão as demais ser o filho havido fora do casamen-
IV – os bens que aos filhos chamadas a integrar a lide. to pode acionar o genitor, sendo
couberem na herança, quando os facultado ao juiz determinar, a
pais forem excluídos da sucessão. Art. 1.699. Se, fixados os ali- pedido de qualquer das partes,
mentos, sobrevier mudança na que a ação se processe em se-
situação financeira de quem os gredo de justiça.
SUBTÍTULO III – DOS supre, ou na de quem os recebe,
ALIMENTOS poderá o interessado reclamar ao Art. 1.706. Os alimentos provi-
juiz, conforme as circunstâncias, sionais serão fixados pelo juiz,
Art. 1.694. Podem os parentes, exoneração, redução ou majora- nos termos da lei processual.
os cônjuges ou companheiros ção do encargo.
pedir uns aos outros os alimen- Art. 1.707. Pode o credor não
tos de que necessitem para viver Art. 1.700. A obrigação de pres- exercer, porém lhe é vedado re-
de modo compatível com a sua tar alimentos transmite-se aos nunciar o direito a alimentos, sen-
condição social, inclusive para herdeiros do devedor, na forma do o respectivo crédito insusce-
atender às necessidades de sua do art. 1.694. tível de cessão, compensação
educação. ou penhora.
§ 1o Os alimentos devem ser Art. 1.701. A pessoa obrigada a
fixados na proporção das neces- suprir alimentos poderá pensio- Art. 1.708. Com o casamento, a
sidades do reclamante e dos re- nar o alimentando, ou dar-lhe hos- união estável ou o concubinato do
cursos da pessoa obrigada. pedagem e sustento, sem prejuízo credor, cessa o dever de prestar
§ 2o Os alimentos serão ape- do dever de prestar o necessário alimentos.
nas os indispensáveis à subsis- à sua educação, quando menor. Parágrafo único. Com rela-
tência, quando a situação de ne- Parágrafo único. Compete ção ao credor cessa, também, o
cessidade resultar de culpa de ao juiz, se as circunstâncias o direito a alimentos, se tiver pro-
quem os pleiteia. exigirem, fixar a forma do cum- cedimento indigno em relação
primento da prestação. ao devedor.
Art. 1.695. São devidos os ali-
mentos quando quem os pretende Art. 1.702. Na separação judi- Art. 1.709. O novo casamento do
não tem bens suficientes, nem cial litigiosa, sendo um dos côn- cônjuge devedor não extingue a
pode prover, pelo seu trabalho, juges inocente e desprovido de obrigação constante da sentença
à própria mantença, e aquele, de recursos, prestar-lhe-á o outro de divórcio.
quem se reclamam, pode fornecê- a pensão alimentícia que o juiz
-los, sem desfalque do necessário fixar, obedecidos os critérios es- Art. 1.710. As prestações ali-
ao seu sustento. tabelecidos no art. 1.694. mentícias, de qualquer natureza,
serão atualizadas segundo índice
Art. 1.696. O direito à prestação Art. 1.703. Para a manutenção oficial regularmente estabelecido.
de alimentos é recíproco entre dos filhos, os cônjuges separa-
pais e filhos, e extensivo a to- dos judicialmente contribuirão
dos os ascendentes, recaindo na proporção de seus recursos. SUBTÍTULO IV – DO BEM
a obrigação nos mais próximos DE FAMÍLIA
em grau, uns em falta de outros. Art. 1.704. Se um dos cônjuges
separados judicialmente vier a Art. 1.711. Podem os cônjuges,
Art. 1.697. Na falta dos ascen- necessitar de alimentos, será o ou a entidade familiar, mediante
dentes cabe a obrigação aos des- outro obrigado a prestá-los me- escritura pública ou testamento,
cendentes, guardada a ordem de diante pensão a ser fixada pelo destinar parte de seu patrimônio
sucessão e, faltando estes, aos juiz, caso não tenha sido decla- para instituir bem de família, des-
irmãos, assim germanos como rado culpado na ação de separa- de que não ultrapasse um terço
unilaterais. ção judicial. do patrimônio líquido existente ao
Parágrafo único. Se o côn- tempo da instituição, mantidas as
Art. 1.698. Se o parente, que juge declarado culpado vier a regras sobre a impenhorabilidade
deve alimentos em primeiro lu- necessitar de alimentos, e não do imóvel residencial estabeleci-
gar, não estiver em condições de tiver parentes em condições de da em lei especial.
suportar totalmente o encargo, prestá-los, nem aptidão para o Parágrafo único. O terceiro
serão chamados a concorrer os trabalho, o outro cônjuge será poderá igualmente instituir bem

243
Código Civil
de família por testamento ou doa- tento familiar, salvo se motivos do casal.
ção, dependendo a eficácia do ato relevantes aconselharem outra
da aceitação expressa de ambos solução, a critério do juiz. Art. 1.722. Extingue-se, igual-
os cônjuges beneficiados ou da mente, o bem de família com a
entidade familiar beneficiada. Art. 1.716. A isenção de que trata morte de ambos os cônjuges e a
o artigo antecedente durará en- maioridade dos filhos, desde que
Art. 1.712. O bem de família con- quanto viver um dos cônjuges, ou, não sujeitos a curatela.
sistirá em prédio residencial urba- na falta destes, até que os filhos
no ou rural, com suas pertenças completem a maioridade.
e acessórios, destinando-se em TÍTULO III – DA UNIÃO
ambos os casos a domicílio fa- Art. 1.717. O prédio e os valores ESTÁVEL
miliar, e poderá abranger valores mobiliários, constituídos como
mobiliários, cuja renda será apli- bem da família, não podem ter Art. 1.723. É reconhecida como
cada na conservação do imóvel e destino diverso do previsto no entidade familiar a união estável
no sustento da família. art. 1.712 ou serem alienados sem entre o homem e a mulher, con-
o consentimento dos interessa- figurada na convivência pública,
Art. 1.713. Os valores mobiliá- dos e seus representantes legais, contínua e duradoura e estabe-
rios, destinados aos fins previs- ouvido o Ministério Público. lecida com o objetivo de consti-
tos no artigo antecedente, não tuição de família.3
poderão exceder o valor do prédio Art. 1.718. Qualquer forma de § 1o A união estável não se
instituído em bem de família, à liquidação da entidade adminis- constituirá se ocorrerem os im-
época de sua instituição. tradora, a que se refere o § 3o do pedimentos do art. 1.521; não se
§ 1o Deverão os valores mo- art. 1.713, não atingirá os valores aplicando a incidência do inciso
biliários ser devidamente indi- a ela confiados, ordenando o juiz VI no caso de a pessoa casada
vidualizados no instrumento de a sua transferência para outra se achar separada de fato ou ju-
instituição do bem de família. instituição semelhante, obede- dicialmente.
§ 2o Se se tratar de títulos cendo-se, no caso de falência, § 2o As causas suspensivas
nominativos, a sua instituição ao disposto sobre pedido de res- do art. 1.523 não impedirão a ca-
como bem de família deverá tituição. racterização da união estável.
constar dos respectivos livros
de registro. Art. 1.719. Comprovada a im- Art. 1.724. As relações pessoais
§ 3o O instituidor poderá de- possibilidade da manutenção do entre os companheiros obedece-
terminar que a administração dos bem de família nas condições em rão aos deveres de lealdade, res-
valores mobiliários seja confiada a que foi instituído, poderá o juiz, a peito e assistência, e de guarda,
instituição financeira, bem como requerimento dos interessados, sustento e educação dos filhos.
disciplinar a forma de pagamento extingui-lo ou autorizar a sub-ro-
da respectiva renda aos benefi- gação dos bens que o constituem Art. 1.725. Na união estável,
ciários, caso em que a respon- em outros, ouvidos o instituidor salvo contrato escrito entre os
sabilidade dos administradores e o Ministério Público. companheiros, aplica-se às rela-
obedecerá às regras do contrato ções patrimoniais, no que couber,
de depósito. Art. 1.720. Salvo disposição em o regime da comunhão parcial
contrário do ato de instituição, a de bens.
Art. 1.714. O bem de família, quer administração do bem de família
instituído pelos cônjuges ou por compete a ambos os cônjuges, Art. 1.726. A união estável po-
terceiro, constitui-se pelo re- resolvendo o juiz em caso de di- derá converter-se em casamen-
gistro de seu título no Registro vergência. to, mediante pedido dos com-
de Imóveis. Parágrafo único. Com o fale- panheiros ao juiz e assento no
cimento de ambos os cônjuges, Registro Civil.
Art. 1.715. O bem de família é a administração passará ao filho
isento de execução por dívidas mais velho, se for maior, e, do Art. 1.727. As relações não even-
posteriores à sua instituição, sal- contrário, a seu tutor. tuais entre o homem e a mulher,
vo as que provierem de tributos impedidos de casar, constituem
relativos ao prédio, ou de despe- Art. 1.721. A dissolução da so- concubinato.
sas de condomínio. ciedade conjugal não extingue o
Parágrafo único. No caso de bem de família.
execução pelas dívidas referidas Parágrafo único. Dissolvida a
neste artigo, o saldo existente sociedade conjugal pela morte de
será aplicado em outro prédio, um dos cônjuges, o sobrevivente
como bem de família, ou em tí- poderá pedir a extinção do bem
tulos da dívida pública, para sus- de família, se for o único bem 3
NE: ver ADI no 4.277 e ADPF no 132.

244
TÍTULO IV – DA TUTELA, DA Seção III – Da Escusa dos

Código Civil
testamentária sem indicação de
CURATELA E DA TOMADA precedência, entende-se que a Tutores
tutela foi cometida ao primeiro, e
DE DECISÃO APOIADA que os outros lhe sucederão pela Art. 1.736. Podem escusar-se
CAPÍTULO I – DA TUTELA ordem de nomeação, se ocorrer da tutela:
morte, incapacidade, escusa ou I – mulheres casadas;
Seção I – Dos Tutores qualquer outro impedimento. II – maiores de sessenta anos;
§ 2o Quem institui um menor III – aqueles que tiverem sob
Art. 1.728. Os filhos menores herdeiro, ou legatário seu, poderá sua autoridade mais de três filhos;
são postos em tutela: nomear-lhe curador especial para IV – os impossibilitados por
I – com o falecimento dos os bens deixados, ainda que o enfermidade;
pais, ou sendo estes julgados beneficiário se encontre sob o V – aqueles que habitarem
ausentes; poder familiar, ou tutela. longe do lugar onde se haja de
II – em caso de os pais deca- exercer a tutela;
írem do poder familiar. Art. 1.734. As crianças e os VI – aqueles que já exercerem
adolescentes cujos pais forem tutela ou curatela;
Art. 1.729. O direito de nome- desconhecidos, falecidos ou que VII – militares em serviço.
ar tutor compete aos pais, em tiverem sido suspensos ou des-
conjunto. tituídos do poder familiar terão Art. 1.737. Quem não for parente
Parágrafo único. A nomea- tutores nomeados pelo Juiz ou do menor não poderá ser obriga-
ção deve constar de testamento serão incluídos em programa de do a aceitar a tutela, se houver
ou de qualquer outro documento colocação familiar, na forma pre- no lugar parente idôneo, consan-
autêntico. vista pela Lei no 8.069, de 13 de ju- guíneo ou afim, em condições de
lho de 1990 – Estatuto da Criança exercê-la.
Art. 1.730. É nula a nomeação de e do Adolescente.
tutor pelo pai ou pela mãe que, ao Art. 1.738. A escusa apresentar-
tempo de sua morte, não tinha o -se-á nos dez dias subsequentes
poder familiar.
Seção II – Dos Incapazes de à designação, sob pena de enten-
Exercer a Tutela der-se renunciado o direito de
Art. 1.731. Em falta de tutor no- alegá-la; se o motivo escusatório
meado pelos pais incumbe a tu- Art. 1.735. Não podem ser tuto- ocorrer depois de aceita a tutela,
tela aos parentes consanguíneos res e serão exonerados da tutela, os dez dias contar-se-ão do em
do menor, por esta ordem: caso a exerçam: que ele sobrevier.
I – aos ascendentes, prefe- I – aqueles que não tiverem a
rindo o de grau mais próximo ao livre administração de seus bens; Art. 1.739. Se o juiz não admitir
mais remoto; II – aqueles que, no momento a escusa, exercerá o nomeado a
II – aos colaterais até o ter- de lhes ser deferida a tutela, se tutela, enquanto o recurso in-
ceiro grau, preferindo os mais acharem constituídos em obriga- terposto não tiver provimento,
próximos aos mais remotos, e, ção para com o menor, ou tiverem e responderá desde logo pelas
no mesmo grau, os mais velhos que fazer valer direitos contra perdas e danos que o menor ve-
aos mais moços; em qualquer dos este, e aqueles cujos pais, filhos nha a sofrer.
casos, o juiz escolherá entre eles ou cônjuges tiverem demanda
o mais apto a exercer a tutela em contra o menor;
benefício do menor. III – os inimigos do menor, ou
Seção IV – Do Exercício da
de seus pais, ou que tiverem sido Tutela
Art. 1.732. O juiz nomeará tutor por estes expressamente excluí-
idôneo e residente no domicílio dos da tutela; Art. 1.740. Incumbe ao tutor,
do menor: IV – os condenados por cri- quanto à pessoa do menor:
I – na falta de tutor testamen- me de furto, roubo, estelionato, I – dirigir-lhe a educação, de-
tário ou legítimo; falsidade, contra a família ou os fendê-lo e prestar-lhe alimen-
II – quando estes forem ex- costumes, tenham ou não cum- tos, conforme os seus haveres
cluídos ou escusados da tutela; prido pena; e condição;
III – quando removidos por V – as pessoas de mau proce- II – reclamar do juiz que pro-
não idôneos o tutor legítimo e o dimento, ou falhas em probidade, videncie, como houver por bem,
testamentário. e as culpadas de abuso em tuto- quando o menor haja mister cor-
rias anteriores; reção;
Art. 1.733. Aos irmãos órfãos VI – aqueles que exercerem III – adimplir os demais de-
dar-se-á um só tutor. função pública incompatível com veres que normalmente cabem
§ 1o No caso de ser nomeado a boa administração da tutela. aos pais, ouvida a opinião do me-
mais de um tutor por disposição nor, se este já contar doze anos

245
Código Civil
de idade. II – receber as rendas e pen- que não conhecia o débito quando
sões do menor, e as quantias a a assumiu.
Art. 1.741. Incumbe ao tutor, sob ele devidas;
a inspeção do juiz, administrar III – fazer-lhe as despesas de Art. 1.752. O tutor responde pe-
os bens do tutelado, em proveito subsistência e educação, bem los prejuízos que, por culpa, ou
deste, cumprindo seus deveres como as de administração, con- dolo, causar ao tutelado; mas tem
com zelo e boa-fé. servação e melhoramentos de direito a ser pago pelo que real-
seus bens; mente despender no exercício da
Art. 1.742. Para fiscalização dos IV – alienar os bens do menor tutela, salvo no caso do art. 1.734,
atos do tutor, pode o juiz nomear destinados a venda; e a perceber remuneração pro-
um protutor. V – promover-lhe, mediante porcional à importância dos bens
preço conveniente, o arrenda- administrados.
Art. 1.743. Se os bens e inte- mento de bens de raiz. § 1o Ao protutor será arbitra-
resses administrativos exigirem da uma gratificação módica pela
conhecimentos técnicos, forem Art. 1.748. Compete também ao fiscalização efetuada.
complexos, ou realizados em tutor, com autorização do juiz: § 2o São solidariamente res-
lugares distantes do domicílio I – pagar as dívidas do menor; ponsáveis pelos prejuízos as pes-
do tutor, poderá este, mediante II – aceitar por ele heranças, soas às quais competia fiscalizar
aprovação judicial, delegar a ou- legados ou doações, ainda que a atividade do tutor, e as que
tras pessoas físicas ou jurídicas o com encargos; concorreram para o dano.
exercício parcial da tutela. III – transigir;
IV – vender-lhe os bens mó-
Art. 1.744. A responsabilidade veis, cuja conservação não con-
Seção V – Dos Bens do
do juiz será: vier, e os imóveis nos casos em Tutelado
I – direta e pessoal, quando que for permitido;
não tiver nomeado o tutor, ou não V – propor em juízo as ações, Art. 1.753. Os tutores não podem
o houver feito oportunamente; ou nelas assistir o menor, e pro- conservar em seu poder dinheiro
II – subsidiária, quando não mover todas as diligências a bem dos tutelados, além do necessário
tiver exigido garantia legal do deste, assim como defendê-lo nos para as despesas ordinárias com
tutor, nem o removido, tanto que pleitos contra ele movidos. o seu sustento, a sua educação
se tornou suspeito. Parágrafo único. No caso de e a administração de seus bens.
falta de autorização, a eficácia de § 1o Se houver necessidade,
Art. 1.745. Os bens do menor ato do tutor depende da aprova- os objetos de ouro e prata, pedras
serão entregues ao tutor me- ção ulterior do juiz. preciosas e móveis serão avalia-
diante termo especificado deles dos por pessoa idônea e, após
e seus valores, ainda que os pais Art. 1.749. Ainda com a autori- autorização judicial, alienados,
o tenham dispensado. zação judicial, não pode o tutor, e o seu produto convertido em
Parágrafo único. Se o pa- sob pena de nulidade: títulos, obrigações e letras de
trimônio do menor for de valor I – adquirir por si, ou por in- responsabilidade direta ou in-
considerável, poderá o juiz con- terposta pessoa, mediante con- direta da União ou dos Estados,
dicionar o exercício da tutela à trato particular, bens móveis ou atendendo-se preferentemente
prestação de caução bastante, imóveis pertencentes ao menor; à rentabilidade, e recolhidos ao
podendo dispensá-la se o tutor II – dispor dos bens do menor estabelecimento bancário oficial
for de reconhecida idoneidade. a título gratuito; ou aplicado na aquisição de imó-
III – constituir-se cessionário veis, conforme for determinado
Art. 1.746. Se o menor possuir de crédito ou de direito, contra pelo juiz.
bens, será sustentado e educado o menor. § 2o O mesmo destino pre-
a expensas deles, arbitrando o visto no parágrafo antecedente
juiz para tal fim as quantias que Art. 1.750. Os imóveis perten- terá o dinheiro proveniente de
lhe pareçam necessárias, consi- centes aos menores sob tutela qualquer outra procedência.
derado o rendimento da fortuna somente podem ser vendidos § 3o Os tutores respondem
do pupilo quando o pai ou a mãe quando houver manifesta vanta- pela demora na aplicação dos
não as houver fixado. gem, mediante prévia avaliação valores acima referidos, pagan-
judicial e aprovação do juiz. do os juros legais desde o dia em
Art. 1.747. Compete mais ao que deveriam dar esse destino, o
tutor: Art. 1.751. Antes de assumir a que não os exime da obrigação,
I – representar o menor, até tutela, o tutor declarará tudo o que o juiz fará efetiva, da referida
os dezesseis anos, nos atos da que o menor lhe deva, sob pena aplicação.
vida civil, e assisti-lo, após essa de não lhe poder cobrar, enquanto
idade, nos atos em que for parte; exerça a tutoria, salvo provando Art. 1.754. Os valores que exis-

246
Código Civil
tirem em estabelecimento ban- Art. 1.759. Nos casos de morte, tela:
cário oficial, na forma do artigo ausência, ou interdição do tu- I – aqueles que, por causa
antecedente, não se poderão re- tor, as contas serão prestadas transitória ou permanente, não
tirar, senão mediante ordem do por seus herdeiros ou represen- puderem exprimir sua vontade;
juiz, e somente: tantes. II – (Revogado);
I – para as despesas com o III – os ébrios habituais e os
sustento e educação do tutelado, Art. 1.760. Serão levadas a cré- viciados em tóxico;
ou a administração de seus bens; dito do tutor todas as despesas IV – (Revogado);
II – para se comprarem bens justificadas e reconhecidamente V – os pródigos.
imóveis e títulos, obrigações ou proveitosas ao menor.
letras, nas condições previstas no Arts. 1.768 a 1.773. (Revogados)
§ 1o do artigo antecedente; Art. 1.761. As despesas com a
III – para se empregarem em prestação das contas serão pa- Art. 1.774. Aplicam-se à curatela
conformidade com o disposto gas pelo tutelado. as disposições concernentes à
por quem os houver doado, ou tutela, com as modificações dos
deixado; Art. 1.762. O alcance do tutor, artigos seguintes.
IV – para se entregarem aos bem como o saldo contra o tute-
órfãos, quando emancipados, ou lado, são dívidas de valor e ven- Art. 1.775. O cônjuge ou compa-
maiores, ou, mortos eles, aos seus cem juros desde o julgamento nheiro, não separado judicialmen-
herdeiros. definitivo das contas. te ou de fato, é, de direito, curador
do outro, quando interdito.
§ 1o Na falta do cônjuge ou
Seção VI – Da Prestação de Seção VII – Da Cessação da companheiro, é curador legítimo
Contas Tutela o pai ou a mãe; na falta destes, o
descendente que se demonstrar
Art. 1.755. Os tutores, embora Art. 1.763. Cessa a condição de mais apto.
o contrário tivessem disposto tutelado: § 2o Entre os descendentes,
os pais dos tutelados, são obri- I – com a maioridade ou a os mais próximos precedem aos
gados a prestar contas da sua emancipação do menor; mais remotos.
administração. II – ao cair o menor sob o § 3o Na falta das pessoas
poder familiar, no caso de reco- mencionadas neste artigo, com-
Art. 1.756. No fim de cada ano nhecimento ou adoção. pete ao juiz a escolha do curador.
de administração, os tutores sub-
meterão ao juiz o balanço respec- Art. 1.764. Cessam as funções Art. 1.775-A. Na nomeação de
tivo, que, depois de aprovado, se do tutor: curador para a pessoa com defi-
anexará aos autos do inventário. I – ao expirar o termo, em que ciência, o juiz poderá estabelecer
era obrigado a servir; curatela compartilhada a mais de
Art. 1.757. Os tutores prestarão II – ao sobrevir escusa le- uma pessoa.
contas de dois em dois anos, e gítima;
também quando, por qualquer III – ao ser removido. Art. 1.776. (Revogado)
motivo, deixarem o exercício da
tutela ou toda vez que o juiz achar Art. 1.765. O tutor é obrigado a Art. 1.777. As pessoas referidas
conveniente. servir por espaço de dois anos. no inciso I do art. 1.767 receberão
Parágrafo único. As contas Parágrafo único. Pode o tutor todo o apoio necessário para ter
serão prestadas em juízo, e jul- continuar no exercício da tute- preservado o direito à convivên-
gadas depois da audiência dos la, além do prazo previsto neste cia familiar e comunitária, sendo
interessados, recolhendo o tutor artigo, se o quiser e o juiz julgar evitado o seu recolhimento em
imediatamente a estabelecimen- conveniente ao menor. estabelecimento que os afaste
to bancário oficial os saldos, ou desse convívio.
adquirindo bens imóveis, ou tí- Art. 1.766. Será destituído o tu-
tulos, obrigações ou letras, na tor, quando negligente, prevarica- Art. 1.778. A autoridade do cura-
forma do § 1o do art. 1.753. dor ou incurso em incapacidade. dor estende-se à pessoa e aos
bens dos filhos do curatelado,
Art. 1.758. Finda a tutela pela observado o art. 5o.
emancipação ou maioridade, a CAPÍTULO II – DA
quitação do menor não produ- CURATELA
zirá efeito antes de aprovadas
Seção I – Dos Interditos
as contas pelo juiz, subsistindo
inteira, até então, a responsabi-
lidade do tutor. Art. 1.767. Estão sujeitos a cura-

247
Código Civil
Seção II – Da Curatela do tes do apoio a ser oferecido e os matéria.
Nascituro e do Enfermo ou compromissos dos apoiadores, § 11. Aplicam-se à tomada
Portador de Deficiência inclusive o prazo de vigência do de decisão apoiada, no que cou-
Física acordo e o respeito à vontade, ber, as disposições referentes à
aos direitos e aos interesses da prestação de contas na curatela.
Art. 1.779. Dar-se-á curador ao pessoa que devem apoiar.
nascituro, se o pai falecer estando § 2o O pedido de tomada de
grávida a mulher, e não tendo o decisão apoiada será requerido LIVRO V – DO DIREITO DAS
poder familiar. pela pessoa a ser apoiada, com SUCESSÕES
Parágrafo único. Se a mulher indicação expressa das pessoas
estiver interdita, seu curador será aptas a prestarem o apoio previs- TÍTULO I – DA SUCESSÃO
o do nascituro. to no caput deste artigo. EM GERAL
§ 3o Antes de se pronunciar
Art. 1.780. (Revogado) sobre o pedido de tomada de CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES
decisão apoiada, o juiz, assistido GERAIS
por equipe multidisciplinar, após
Seção III – Do Exercício da oitiva do Ministério Público, ouvirá Art. 1.784. Aberta a sucessão,
Curatela pessoalmente o requerente e as a herança transmite-se, desde
pessoas que lhe prestarão apoio. logo, aos herdeiros legítimos e
Art. 1.781. As regras a respeito § 4o A decisão tomada por testamentários.
do exercício da tutela aplicam-se pessoa apoiada terá validade e
ao da curatela, com a restrição do efeitos sobre terceiros, sem res- Art. 1.785. A sucessão abre-se
art. 1.772 e as desta Seção. trições, desde que esteja inserida no lugar do último domicílio do
nos limites do apoio acordado. falecido.
Art. 1.782. A interdição do pró- § 5o Terceiro com quem a
digo só o privará de, sem curador, pessoa apoiada mantenha rela- Art. 1.786. A sucessão dá-se
emprestar, transigir, dar quitação, ção negocial pode solicitar que por lei ou por disposição de últi-
alienar, hipotecar, demandar ou os apoiadores contra-assinem ma vontade.
ser demandado, e praticar, em o contrato ou acordo, especifi-
geral, os atos que não sejam de cando, por escrito, sua função Art. 1.787. Regula a sucessão e
mera administração. em relação ao apoiado. a legitimação para suceder a lei
§ 6o Em caso de negócio ju- vigente ao tempo da abertura
Art. 1.783. Quando o curador rídico que possa trazer risco ou daquela.
for o cônjuge e o regime de bens prejuízo relevante, havendo diver-
do casamento for de comunhão gência de opiniões entre a pessoa Art. 1.788. Morrendo a pessoa
universal, não será obrigado à apoiada e um dos apoiadores, sem testamento, transmite a he-
prestação de contas, salvo de- deverá o juiz, ouvido o Ministério rança aos herdeiros legítimos; o
terminação judicial. Público, decidir sobre a questão. mesmo ocorrerá quanto aos bens
§ 7o Se o apoiador agir com que não forem compreendidos
negligência, exercer pressão in- no testamento; e subsiste a su-
CAPÍTULO III – DA TOMADA devida ou não adimplir as obriga- cessão legítima se o testamento
DE DECISÃO APOIADA ções assumidas, poderá a pes- caducar, ou for julgado nulo.
soa apoiada ou qualquer pessoa
Art. 1.783-A. A tomada de de- apresentar denúncia ao Ministério Art. 1.789. Havendo herdeiros
cisão apoiada é o processo pelo Público ou ao juiz. necessários, o testador só pode-
qual a pessoa com deficiência § 8o Se procedente a denún- rá dispor da metade da herança.
elege pelo menos 2 (duas) pesso- cia, o juiz destituirá o apoiador e
as idôneas, com as quais mante- nomeará, ouvida a pessoa apoiada Art. 1.790. A companheira ou
nha vínculos e que gozem de sua e se for de seu interesse, outra o companheiro participará da
confiança, para prestar-lhe apoio pessoa para prestação de apoio. sucessão do outro, quanto aos
na tomada de decisão sobre atos § 9o A pessoa apoiada pode, a bens adquiridos onerosamente
da vida civil, fornecendo-lhes os qualquer tempo, solicitar o térmi- na vigência da união estável, nas
elementos e informações neces- no de acordo firmado em proces- condições seguintes:
sários para que possa exercer sua so de tomada de decisão apoiada. I – se concorrer com filhos
capacidade. § 10. O apoiador pode so- comuns, terá direito a uma quo-
§ 1o Para formular pedido licitar ao juiz a exclusão de sua ta equivalente à que por lei for
de tomada de decisão apoiada, participação do processo de to- atribuída ao filho;
a pessoa com deficiência e os mada de decisão apoiada, sendo II – se concorrer com des-
apoiadores devem apresentar seu desligamento condicionado cendentes só do autor da he-
termo em que constem os limi- à manifestação do juiz sobre a rança, tocar-lhe-á a metade do

248
Código Civil
que couber a cada um daqueles; são, poderá, depositado o preço, do artigo antecedente, os bens da
III – se concorrer com outros haver para si a quota cedida a es- herança serão confiados, após a
parentes sucessíveis, terá direito tranho, se o requerer até cento e liquidação ou partilha, a curador
a um terço da herança; oitenta dias após a transmissão. nomeado pelo juiz.
IV – não havendo parentes Parágrafo único. Sendo vá- § 1o Salvo disposição testa-
sucessíveis, terá direito à tota- rios os coerdeiros a exercer a mentária em contrário, a curatela
lidade da herança. preferência, entre eles se distri- caberá à pessoa cujo filho o tes-
buirá o quinhão cedido, na pro- tador esperava ter por herdeiro,
porção das respectivas quotas e, sucessivamente, às pessoas
CAPÍTULO II – DA HERANÇA hereditárias. indicadas no art. 1.775.
E DE SUA ADMINISTRAÇÃO § 2o Os poderes, deveres e
Art. 1.796. No prazo de trinta responsabilidades do curador,
Art. 1.791. A herança defere-se dias, a contar da abertura da su- assim nomeado, regem-se pe-
como um todo unitário, ainda que cessão, instaurar-se-á inventário las disposições concernentes à
vários sejam os herdeiros. do patrimônio hereditário, peran- curatela dos incapazes, no que
Parágrafo único. Até a par- te o juízo competente no lugar da couber.
tilha, o direito dos coerdeiros, sucessão, para fins de liquidação § 3o Nascendo com vida o
quanto à propriedade e posse da e, quando for o caso, de partilha herdeiro esperado, ser-lhe-á de-
herança, será indivisível, e regu- da herança. ferida a sucessão, com os frutos
lar-se-á pelas normas relativas e rendimentos relativos à deixa,
ao condomínio. Art. 1.797. Até o compromisso do a partir da morte do testador.
inventariante, a administração da § 4o Se, decorridos dois anos
Art. 1.792. O herdeiro não res- herança caberá, sucessivamente: após a abertura da sucessão, não
ponde por encargos superiores I – ao cônjuge ou companhei- for concebido o herdeiro espera-
às forças da herança; incumbe- ro, se com o outro convivia ao do, os bens reservados, salvo dis-
-lhe, porém, a prova do excesso, tempo da abertura da sucessão; posição em contrário do testador,
salvo se houver inventário que a II – ao herdeiro que estiver na caberão aos herdeiros legítimos.
escuse, demostrando o valor dos posse e administração dos bens,
bens herdados. e, se houver mais de um nessas Art. 1.801. Não podem ser nome-
condições, ao mais velho; ados herdeiros nem legatários:
Art. 1.793. O direito à sucessão III – ao testamenteiro; I – a pessoa que, a rogo, es-
aberta, bem como o quinhão de IV – a pessoa de confiança do creveu o testamento, nem o seu
que disponha o coerdeiro, pode juiz, na falta ou escusa das indi- cônjuge ou companheiro, ou os
ser objeto de cessão por escri- cadas nos incisos antecedentes, seus ascendentes e irmãos;
tura pública. ou quando tiverem de ser afas- II – as testemunhas do tes-
§ 1o Os direitos, conferidos tadas por motivo grave levado ao tamento;
ao herdeiro em consequência conhecimento do juiz. III – o concubino do testador
de substituição ou de direito casado, salvo se este, sem culpa
de acrescer, presumem-se não sua, estiver separado de fato do
abrangidos pela cessão feita an- CAPÍTULO III – DA cônjuge há mais de cinco anos;
teriormente. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA IV – o tabelião, civil ou militar,
§ 2o É ineficaz a cessão, pelo ou o comandante ou escrivão, pe-
coerdeiro, de seu direito heredi- Art. 1.798. Legitimam-se a su- rante quem se fizer, assim como o
tário sobre qualquer bem da he- ceder as pessoas nascidas ou que fizer ou aprovar o testamento.
rança considerado singularmente. já concebidas no momento da
§ 3o Ineficaz é a disposição, abertura da sucessão. Art. 1.802. São nulas as disposi-
sem prévia autorização do juiz ções testamentárias em favor de
da sucessão, por qualquer her- Art. 1.799. Na sucessão testa- pessoas não legitimadas a suce-
deiro, de bem componente do mentária podem ainda ser cha- der, ainda quando simuladas sob a
acervo hereditário, pendente a mados a suceder: forma de contrato oneroso, ou fei-
indivisibilidade. I – os filhos, ainda não conce- tas mediante interposta pessoa.
bidos, de pessoas indicadas pelo Parágrafo único. Presumem-
Art. 1.794. O coerdeiro não po- testador, desde que vivas estas -se pessoas interpostas os ascen-
derá ceder a sua quota hereditária ao abrir-se a sucessão; dentes, os descendentes, os ir-
a pessoa estranha à sucessão, se II – as pessoas jurídicas; mãos e o cônjuge ou companheiro
outro coerdeiro a quiser, tanto III – as pessoas jurídicas, cuja do não legitimado a suceder.
por tanto. organização for determinada pelo
testador sob a forma de fundação. Art. 1.803. É lícita a deixa ao
Art. 1.795. O coerdeiro, a quem filho do concubino, quando tam-
não se der conhecimento da ces- Art. 1.800. No caso do inciso I bém o for do testador.

249
Código Civil
CAPÍTULO IV – DA Art. 1.809. Falecendo o herdeiro ge, companheiro, ascendente ou
ACEITAÇÃO E RENÚNCIA antes de declarar se aceita a he- descendente;
rança, o poder de aceitar passa- II – que houverem acusado
DA HERANÇA -lhe aos herdeiros, a menos que caluniosamente em juízo o autor
se trate de vocação adstrita a da herança ou incorrerem em cri-
Art. 1.804. Aceita a herança, tor- uma condição suspensiva, ainda me contra a sua honra, ou de seu
na-se definitiva a sua transmissão não verificada. cônjuge ou companheiro;
ao herdeiro, desde a abertura da Parágrafo único. Os chama- III – que, por violência ou
sucessão. dos à sucessão do herdeiro faleci- meios fraudulentos, inibirem ou
Parágrafo único. A transmis- do antes da aceitação, desde que obstarem o autor da herança de
são tem-se por não verificada concordem em receber a segunda dispor livremente de seus bens
quando o herdeiro renuncia à herança, poderão aceitar ou re- por ato de última vontade.
herança. nunciar a primeira.
Art. 1.815. A exclusão do her-
Art. 1.805. A aceitação da he- Art. 1.810. Na sucessão legítima, deiro ou legatário, em qualquer
rança, quando expressa, faz-se a parte do renunciante acresce à desses casos de indignidade, será
por declaração escrita; quando dos outros herdeiros da mesma declarada por sentença.
tácita, há de resultar tão somente classe e, sendo ele o único desta, § 1o O direito de demandar a
de atos próprios da qualidade de devolve-se aos da subsequente. exclusão do herdeiro ou legatário
herdeiro. extingue-se em quatro anos, con-
§ 1o Não exprimem aceita- Art. 1.811. Ninguém pode su- tados da abertura da sucessão.
ção de herança os atos oficio- ceder, representando herdeiro § 2o Na hipótese do inciso I
sos, como o funeral do finado, renunciante. Se, porém, ele for do art. 1.814, o Ministério Público
os meramente conservatórios, o único legítimo da sua classe, tem legitimidade para demandar a
ou os de administração e guarda ou se todos os outros da mesma exclusão do herdeiro ou legatário.
provisória. classe renunciarem a herança,
§ 2o Não importa igualmente poderão os filhos vir à sucessão, Art. 1.816. São pessoais os efei-
aceitação a cessão gratuita, pura por direito próprio, e por cabeça. tos da exclusão; os descendentes
e simples, da herança, aos demais do herdeiro excluído sucedem,
coerdeiros. Art. 1.812. São irrevogáveis os como se ele morto fosse antes
atos de aceitação ou de renúncia da abertura da sucessão.
Art. 1.806. A renúncia da heran- da herança. Parágrafo único. O excluído
ça deve constar expressamente da sucessão não terá direito ao
de instrumento público ou termo Art. 1.813. Quando o herdeiro usufruto ou à administração dos
judicial. prejudicar os seus credores, re- bens que a seus sucessores cou-
nunciando à herança, poderão berem na herança, nem à suces-
Art. 1.807. O interessado em que eles, com autorização do juiz, são eventual desses bens.
o herdeiro declare se aceita, ou aceitá-la em nome do renun-
não, a herança, poderá, vinte dias ciante. Art. 1.817. São válidas as aliena-
após aberta a sucessão, requerer § 1o A habilitação dos cre- ções onerosas de bens hereditá-
ao juiz prazo razoável, não maior dores se fará no prazo de trinta rios a terceiros de boa-fé, e os
de trinta dias, para, nele, se pro- dias seguintes ao conhecimento atos de administração legalmente
nunciar o herdeiro, sob pena de do fato. praticados pelo herdeiro, antes
se haver a herança por aceita. § 2o Pagas as dívidas do re- da sentença de exclusão; mas
nunciante, prevalece a renúncia aos herdeiros subsiste, quando
Art. 1.808. Não se pode aceitar quanto ao remanescente, que prejudicados, o direito de deman-
ou renunciar a herança em parte, será devolvido aos demais her- dar-lhe perdas e danos.
sob condição ou a termo. deiros. Parágrafo único. O excluído
§ 1o O herdeiro, a quem se da sucessão é obrigado a res-
testarem legados, pode aceitá- tituir os frutos e rendimentos
-los, renunciando a herança; ou, CAPÍTULO V – DOS que dos bens da herança houver
aceitando-a, repudiá-los. EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO percebido, mas tem direito a ser
§ 2o O herdeiro, chamado, indenizado das despesas com a
na mesma sucessão, a mais de Art. 1.814. São excluídos da su- conservação deles.
um quinhão hereditário, sob tí- cessão os herdeiros ou legatários:
tulos sucessórios diversos, pode I – que houverem sido auto- Art. 1.818. Aquele que incorreu
livremente deliberar quanto aos res, coautores ou partícipes de em atos que determinem a ex-
quinhões que aceita e aos que homicídio doloso, ou tentativa clusão da herança será admi-
renuncia. deste, contra a pessoa de cuja tido a suceder, se o ofendido o
sucessão se tratar, seu cônju- tiver expressamente reabilitado

250
CAPÍTULO VII – DA

Código Civil
em testamento, ou em outro ato vente, salvo se casado este com o
autêntico. PETIÇÃO DE HERANÇA falecido no regime da comunhão
Parágrafo único. Não haven- universal, ou no da separação
do reabilitação expressa, o indig- Art. 1.824. O herdeiro pode, em obrigatória de bens (art.  1.640,
no, contemplado em testamento ação de petição de herança, de- parágrafo único); ou se, no regime
do ofendido, quando o testador, mandar o reconhecimento de da comunhão parcial, o autor da
ao testar, já conhecia a causa da seu direito sucessório, para ob- herança não houver deixado bens
indignidade, pode suceder no li- ter a restituição da herança, ou particulares;
mite da disposição testamentária. de parte dela, contra quem, na II – aos ascendentes, em con-
qualidade de herdeiro, ou mesmo corrência com o cônjuge;
sem título, a possua. III – ao cônjuge sobrevivente;
CAPÍTULO VI – DA IV – aos colaterais.
HERANÇA JACENTE Art. 1.825. A ação de petição
de herança, ainda que exercida Art. 1.830. Somente é reconhe-
Art. 1.819. Falecendo alguém por um só dos herdeiros, poderá cido direito sucessório ao côn-
sem deixar testamento nem compreender todos os bens he- juge sobrevivente se, ao tempo
herdeiro legítimo notoriamente reditários. da morte do outro, não estavam
conhecido, os bens da herança, separados judicialmente, nem se-
depois de arrecadados, ficarão Art. 1.826. O possuidor da he- parados de fato há mais de dois
sob a guarda e administração de rança está obrigado à restituição anos, salvo prova, neste caso, de
um curador, até a sua entrega ao dos bens do acervo, fixando-se- que essa convivência se tornara
sucessor devidamente habilitado -lhe a responsabilidade segundo a impossível sem culpa do sobre-
ou à declaração de sua vacância. sua posse, observado o disposto vivente.
nos arts. 1.214 a 1.222.
Art. 1.820. Praticadas as diligên- Parágrafo único. A partir da Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevi-
cias de arrecadação e ultimado o citação, a responsabilidade do vente, qualquer que seja o regime
inventário, serão expedidos edi- possuidor se há de aferir pelas de bens, será assegurado, sem
tais na forma da lei processual, e, regras concernentes à posse de prejuízo da participação que lhe
decorrido um ano de sua primeira má-fé e à mora. caiba na herança, o direito real
publicação, sem que haja herdeiro de habitação relativamente ao
habilitado, ou penda habilitação, Art. 1.827. O herdeiro pode de- imóvel destinado à residência da
será a herança declarada vacante. mandar os bens da herança, mes- família, desde que seja o único
mo em poder de terceiros, sem daquela natureza a inventariar.
Art. 1.821. É assegurado aos cre- prejuízo da responsabilidade do
dores o direito de pedir o paga- possuidor originário pelo valor Art. 1.832. Em concorrência
mento das dívidas reconhecidas, dos bens alienados. com os descendentes (art. 1.829,
nos limites das forças da herança. Parágrafo único. São efica- inciso I) caberá ao cônjuge qui-
zes as alienações feitas, a título nhão igual ao dos que sucederem
Art. 1.822. A declaração de va- oneroso, pelo herdeiro aparente por cabeça, não podendo a sua
cância da herança não prejudica- a terceiro de boa-fé. quota ser inferior à quarta parte
rá os herdeiros que legalmente se da herança, se for ascendente
habilitarem; mas, decorridos cin- Art. 1.828. O herdeiro aparen- dos herdeiros com que concorrer.
co anos da abertura da sucessão, te, que de boa-fé houver pago
os bens arrecadados passarão um legado, não está obrigado a Art. 1.833. Entre os descenden-
ao domínio do Município ou do prestar o equivalente ao verdadei- tes, os em grau mais próximo ex-
Distrito Federal, se localizados ro sucessor, ressalvado a este o cluem os mais remotos, salvo o
nas respectivas circunscrições, direito de proceder contra quem direito de representação.
incorporando-se ao domínio da o recebeu.
União quando situados em ter- Art. 1.834. Os descendentes da
ritório federal. mesma classe têm os mesmos
Parágrafo único. Não se habi- TÍTULO II – DA SUCESSÃO direitos à sucessão de seus as-
litando até a declaração de vacân- LEGÍTIMA cendentes.
cia, os colaterais ficarão excluídos
da sucessão. CAPÍTULO I – DA ORDEM DA Art. 1.835. Na linha descenden-
VOCAÇÃO HEREDITÁRIA te, os filhos sucedem por cabeça,
Art. 1.823. Quando todos os cha- e os outros descendentes, por
mados a suceder renunciarem à Art. 1.829. A sucessão legítima cabeça ou por estirpe, conforme
herança, será esta desde logo defere-se na ordem seguinte: se achem ou não no mesmo grau.
declarada vacante. I – aos descendentes, em con-
corrência com o cônjuge sobrevi- Art. 1.836. Na falta de descen-

251
Código Civil
dentes, são chamados à sucessão de irmãos unilaterais, herdarão templar.
os ascendentes, em concorrên- por igual.
cia com o cônjuge sobrevivente.
§ 1o Na classe dos ascenden- Art. 1.844. Não sobrevivendo CAPÍTULO III – DO DIREITO
tes, o grau mais próximo exclui cônjuge, ou companheiro, nem DE REPRESENTAÇÃO
o mais remoto, sem distinção parente algum sucessível, ou ten-
de linhas. do eles renunciado a herança, Art. 1.851. Dá-se o direito de
§ 2o Havendo igualdade em esta se devolve ao Município ou representação, quando a lei cha-
grau e diversidade em linha, os ao Distrito Federal, se localizada ma certos parentes do falecido a
ascendentes da linha paterna her- nas respectivas circunscrições, suceder em todos os direitos, em
dam a metade, cabendo a outra ou à União, quando situada em que ele sucederia, se vivo fosse.
aos da linha materna. território federal.
Art. 1.852. O direito de represen-
Art. 1.837. Concorrendo com tação dá-se na linha reta descen-
ascendente em primeiro grau, CAPÍTULO II – DOS dente, mas nunca na ascendente.
ao cônjuge tocará um terço da HERDEIROS NECESSÁRIOS
herança; caber-lhe-á a metade Art. 1.853. Na linha transversal,
desta se houver um só ascenden- Art. 1.845. São herdeiros ne- somente se dá o direito de repre-
te, ou se maior for aquele grau. cessários os descendentes, os sentação em favor dos filhos de
ascendentes e o cônjuge. irmãos do falecido, quando com
Art. 1.838. Em falta de descen- irmãos deste concorrerem.
dentes e ascendentes, será de- Art. 1.846. Pertence aos herdei-
ferida a sucessão por inteiro ao ros necessários, de pleno direito, Art. 1.854. Os representantes
cônjuge sobrevivente. a metade dos bens da herança, só podem herdar, como tais, o
constituindo a legítima. que herdaria o representado, se
Art. 1.839. Se não houver côn- vivo fosse.
juge sobrevivente, nas condições Art. 1.847. Calcula-se a legítima
estabelecidas no art. 1.830, serão sobre o valor dos bens existentes Art. 1.855. O quinhão do repre-
chamados a suceder os colaterais na abertura da sucessão, abatidas sentado partir-se-á por igual en-
até o quarto grau. as dívidas e as despesas do fune- tre os representantes.
ral, adicionando-se, em seguida, o
Art. 1.840. Na classe dos cola- valor dos bens sujeitos a colação. Art. 1.856. O renunciante à he-
terais, os mais próximos excluem rança de uma pessoa poderá re-
os mais remotos, salvo o direito Art. 1.848. Salvo se houver justa presentá-la na sucessão de outra.
de representação concedido aos causa, declarada no testamento,
filhos de irmãos. não pode o testador estabelecer
cláusula de inalienabilidade, im- TÍTULO III – DA SUCESSÃO
Art. 1.841. Concorrendo à heran- penhorabilidade, e de incomu- TESTAMENTÁRIA
ça do falecido irmãos bilaterais nicabilidade, sobre os bens da
com irmãos unilaterais, cada um legítima. CAPÍTULO I – DO
destes herdará metade do que § 1o Não é permitido ao tes- TESTAMENTO EM GERAL
cada um daqueles herdar. tador estabelecer a conversão
dos bens da legítima em outros Art. 1.857. Toda pessoa capaz
Art. 1.842. Não concorrendo à de espécie diversa. pode dispor, por testamento, da
herança irmão bilateral, herdarão, § 2o Mediante autorização totalidade dos seus bens, ou de
em partes iguais, os unilaterais. judicial e havendo justa causa, parte deles, para depois de sua
podem ser alienados os bens gra- morte.
Art. 1.843. Na falta de irmãos, vados, convertendo-se o produto § 1o A legítima dos herdei-
herdarão os filhos destes e, não em outros bens, que ficarão sub- ros necessários não poderá ser
os havendo, os tios. -rogados nos ônus dos primeiros. incluída no testamento.
§ 1o Se concorrerem à he- § 2o São válidas as disposi-
rança somente filhos de irmãos Art. 1.849. O herdeiro necessá- ções testamentárias de caráter
falecidos, herdarão por cabeça. rio, a quem o testador deixar a sua não patrimonial, ainda que o tes-
§ 2o Se concorrem filhos de parte disponível, ou algum legado, tador somente a elas se tenha
irmãos bilaterais com filhos de ir- não perderá o direito à legítima. limitado.
mãos unilaterais, cada um destes
herdará a metade do que herdar Art. 1.850. Para excluir da su- Art. 1.858. O testamento é ato
cada um daqueles. cessão os herdeiros colaterais, personalíssimo, podendo ser mu-
§ 3o Se todos forem filhos basta que o testador disponha dado a qualquer tempo.
de irmãos bilaterais, ou todos de seu patrimônio sem os con-

252
Código Civil
Art. 1.859. Extingue-se em cin- pelo tabelião. mento cerrado pode ser escrito
co anos o direito de impugnar a Parágrafo único. O testamen- mecanicamente, desde que seu
validade do testamento, contado to público pode ser escrito manu- subscritor numere e autentique,
o prazo da data do seu registro. almente ou mecanicamente, bem com a sua assinatura, todas as
como ser feito pela inserção da páginas.
declaração de vontade em partes
CAPÍTULO II – DA impressas de livro de notas, desde Art. 1.869. O tabelião deve co-
CAPACIDADE DE TESTAR que rubricadas todas as páginas meçar o auto de aprovação ime-
pelo testador, se mais de uma. diatamente depois da última pa-
Art. 1.860. Além dos incapazes, lavra do testador, declarando,
não podem testar os que, no ato Art. 1.865. Se o testador não sob sua fé, que o testador lhe
de fazê-lo, não tiverem pleno dis- souber, ou não puder assinar, o entregou para ser aprovado na
cernimento. tabelião ou seu substituto legal presença das testemunhas; pas-
Parágrafo único. Podem tes- assim o declarará, assinando, sando a cerrar e coser o instru-
tar os maiores de dezesseis anos. neste caso, pelo testador, e, a mento aprovado.
seu rogo, uma das testemunhas Parágrafo único. Se não hou-
Art. 1.861. A incapacidade su- instrumentárias. ver espaço na última folha do
perveniente do testador não in- testamento, para início da apro-
valida o testamento, nem o tes- Art. 1.866. O indivíduo inteira- vação, o tabelião aporá nele o
tamento do incapaz se valida com mente surdo, sabendo ler, lerá o seu sinal público, mencionando
a superveniência da capacidade. seu testamento, e, se não o sou- a circunstância no auto.
ber, designará quem o leia em seu
lugar, presentes as testemunhas. Art. 1.870. Se o tabelião tiver
CAPÍTULO III – DAS escrito o testamento a rogo do
FORMAS ORDINÁRIAS DO Art. 1.867. Ao cego só se per- testador, poderá, não obstante,
TESTAMENTO mite o testamento público, que aprová-lo.
lhe será lido, em voz alta, duas
Seção I – Disposições Gerais vezes, uma pelo tabelião ou por Art. 1.871. O testamento pode
seu substituto legal, e a outra por ser escrito em língua nacional ou
Art. 1.862. São testamentos or- uma das testemunhas, designa- estrangeira, pelo próprio testador,
dinários: da pelo testador, fazendo-se de ou por outrem, a seu rogo.
I – o público; tudo circunstanciada menção no
II – o cerrado; testamento. Art. 1.872. Não pode dispor de
III – o particular. seus bens em testamento cerrado
quem não saiba ou não possa ler.
Art. 1.863. É proibido o testa-
Seção III – Do Testamento
mento conjuntivo, seja simultâ- Cerrado Art. 1.873. Pode fazer testamen-
neo, recíproco ou correspectivo. to cerrado o surdo-mudo, contan-
Art. 1.868. O testamento es- to que o escreva todo, e o assine
crito pelo testador, ou por outra de sua mão, e que, ao entregá-lo
Seção II – Do Testamento pessoa, a seu rogo, e por aquele ao oficial público, ante as duas
Público assinado, será válido se aprovado testemunhas, escreva, na face
pelo tabelião ou seu substituto externa do papel ou do envoltório,
Art. 1.864. São requisitos es- legal, observadas as seguintes que aquele é o seu testamento,
senciais do testamento público: formalidades: cuja aprovação lhe pede.
I – ser escrito por tabelião ou I – que o testador o entregue
por seu substituto legal em seu ao tabelião em presença de duas Art. 1.874. Depois de aprovado
livro de notas, de acordo com as testemunhas; e cerrado, será o testamento en-
declarações do testador, podendo II – que o testador declare que tregue ao testador, e o tabelião
este servir-se de minuta, notas aquele é o seu testamento e quer lançará, no seu livro, nota do lu-
ou apontamentos; que seja aprovado; gar, dia, mês e ano em que o tes-
II – lavrado o instrumento, ser III – que o tabelião lavre, des- tamento foi aprovado e entregue.
lido em voz alta pelo tabelião ao de logo, o auto de aprovação, na
testador e a duas testemunhas, presença de duas testemunhas, Art. 1.875. Falecido o testador, o
a um só tempo; ou pelo testador, e o leia, em seguida, ao testador testamento será apresentado ao
se o quiser, na presença destas e testemunhas; juiz, que o abrirá e o fará registrar,
e do oficial; IV – que o auto de aprovação ordenando seja cumprido, se não
III – ser o instrumento, em seja assinado pelo tabelião, pe- achar vício externo que o torne
seguida à leitura, assinado pelo las testemunhas e pelo testador. eivado de nulidade ou suspeito
testador, pelas testemunhas e Parágrafo único. O testa- de falsidade.

253
Código Civil
Seção IV – Do Testamento particular seu, datado e assinado, tamento público ou ao cerrado.
Particular fazer disposições especiais sobre Parágrafo único. O registro
o seu enterro, sobre esmolas de do testamento será feito no di-
Art. 1.876. O testamento par- pouca monta a certas e deter- ário de bordo.
ticular pode ser escrito de pró- minadas pessoas, ou, indetermi-
prio punho ou mediante processo nadamente, aos pobres de certo Art. 1.889. Quem estiver em via-
mecânico. lugar, assim como legar móveis, gem, a bordo de aeronave militar
§ 1o Se escrito de próprio pu- roupas ou joias, de pouco valor, ou comercial, pode testar perante
nho, são requisitos essenciais à de seu uso pessoal. pessoa designada pelo coman-
sua validade seja lido e assinado dante, observado o disposto no
por quem o escreveu, na presença Art. 1.882. Os atos a que se re- artigo antecedente.
de pelo menos três testemunhas, fere o artigo antecedente, salvo
que o devem subscrever. direito de terceiro, valerão como Art. 1.890. O testamento marí-
§ 2o Se elaborado por pro- codicilos, deixe ou não testamen- timo ou aeronáutico ficará sob
cesso mecânico, não pode con- to o autor. a guarda do comandante, que o
ter rasuras ou espaços em bran- entregará às autoridades admi-
co, devendo ser assinado pelo Art. 1.883. Pelo modo estabe- nistrativas do primeiro porto ou
testador, depois de o ter lido na lecido no art. 1.881, poder-se-ão aeroporto nacional, contra reci-
presença de pelo menos três tes- nomear ou substituir testamen- bo averbado no diário de bordo.
temunhas, que o subscreverão. teiros.
Art. 1.891. Caducará o testamen-
Art. 1.877. Morto o testador, pu- Art. 1.884. Os atos previstos nos to marítimo, ou aeronáutico, se o
blicar-se-á em juízo o testamen- artigos antecedentes revogam-se testador não morrer na viagem,
to, com citação dos herdeiros por atos iguais, e consideram- nem nos noventa dias subsequen-
legítimos. -se revogados, se, havendo tes- tes ao seu desembarque em terra,
tamento posterior, de qualquer onde possa fazer, na forma ordi-
Art. 1.878. Se as testemunhas natureza, este os não confirmar nária, outro testamento.
forem contestes sobre o fato da ou modificar.
disposição, ou, ao menos, sobre Art. 1.892. Não valerá o testa-
a sua leitura perante elas, e se Art. 1.885. Se estiver fechado mento marítimo, ainda que feito
reconhecerem as próprias assina- o codicilo, abrir-se-á do mesmo no curso de uma viagem, se, ao
turas, assim como a do testador, modo que o testamento cerrado. tempo em que se fez, o navio
o testamento será confirmado. estava em porto onde o testador
Parágrafo único. Se falta- pudesse desembarcar e testar na
rem testemunhas, por morte ou CAPÍTULO V – DOS forma ordinária.
ausência, e se pelo menos uma TESTAMENTOS ESPECIAIS
delas o reconhecer, o testamen-
Seção I – Disposições Gerais Seção III – Do Testamento
to poderá ser confirmado, se, a
critério do juiz, houver prova su- Militar
ficiente de sua veracidade. Art. 1.886. São testamentos
especiais: Art. 1.893. O testamento dos mi-
Art. 1.879. Em circunstâncias I – o marítimo; litares e demais pessoas a serviço
excepcionais declaradas na cé- II – o aeronáutico; das Forças Armadas em campa-
dula, o testamento particular de III – o militar. nha, dentro do País ou fora dele,
próprio punho e assinado pelo assim como em praça sitiada, ou
testador, sem testemunhas, po- Art. 1.887. Não se admitem ou- que esteja de comunicações in-
derá ser confirmado, a critério tros testamentos especiais além terrompidas, poderá fazer-se, não
do juiz. dos contemplados neste Código. havendo tabelião ou seu substitu-
to legal, ante duas, ou três teste-
Art. 1.880. O testamento parti- munhas, se o testador não puder,
cular pode ser escrito em língua
Seção II – Do Testamento ou não souber assinar, caso em
estrangeira, contanto que as tes- Marítimo e do Testamento que assinará por ele uma delas.
temunhas a compreendam. Aeronáutico § 1o Se o testador perten-
cer a corpo ou seção de corpo
Art. 1.888. Quem estiver em via- destacado, o testamento será
CAPÍTULO IV – DOS gem, a bordo de navio nacional, de escrito pelo respectivo coman-
CODICILOS guerra ou mercante, pode testar dante, ainda que de graduação
perante o comandante, em pre- ou posto inferior.
Art. 1.881. Toda pessoa capaz de sença de duas testemunhas, por § 2o Se o testador estiver em
testar poderá, mediante escrito forma que corresponda ao tes- tratamento em hospital, o testa-

254
Código Civil
mento será escrito pelo respecti- nas disposições fideicomissárias, Art. 1.903. O erro na designação
vo oficial de saúde, ou pelo diretor ter-se-á por não escrita. da pessoa do herdeiro, do lega-
do estabelecimento. tário, ou da coisa legada anula a
§ 3o Se o testador for o ofi- Art. 1.899. Quando a cláusula disposição, salvo se, pelo con-
cial mais graduado, o testamen- testamentária for suscetível de texto do testamento, por outros
to será escrito por aquele que o interpretações diferentes, pre- documentos, ou por fatos ine-
substituir. valecerá a que melhor assegu- quívocos, se puder identificar a
re a observância da vontade do pessoa ou coisa a que o testador
Art. 1.894. Se o testador souber testador. queria referir-se.
escrever, poderá fazer o testa-
mento de seu punho, contanto Art. 1.900. É nula a disposição: Art. 1.904. Se o testamento
que o date e assine por extenso, I – que institua herdeiro ou le- nomear dois ou mais herdeiros,
e o apresente aberto ou cerrado, gatário sob a condição captatória sem discriminar a parte de cada
na presença de duas testemu- de que este disponha, também um, partilhar-se-á por igual, en-
nhas ao auditor, ou ao oficial de por testamento, em benefício do tre todos, a porção disponível do
patente, que lhe faça as vezes testador, ou de terceiro; testador.
neste mister. II – que se refira a pessoa
Parágrafo único. O auditor, incerta, cuja identidade não se Art. 1.905. Se o testador nomear
ou o oficial a quem o testamento possa averiguar; certos herdeiros individualmente
se apresente notará, em qualquer III – que favoreça a pessoa e outros coletivamente, a herança
parte dele, lugar, dia, mês e ano, incerta, cometendo a determina- será dividida em tantas quotas
em que lhe for apresentado, nota ção de sua identidade a terceiro; quantos forem os indivíduos e
esta que será assinada por ele e IV – que deixe a arbítrio do os grupos designados.
pelas testemunhas. herdeiro, ou de outrem, fixar o
valor do legado; Art. 1.906. Se forem determina-
Art. 1.895. Caduca o testamento V – que favoreça as pessoas das as quotas de cada herdeiro, e
militar, desde que, depois dele, a que se referem os arts.  1.801 não absorverem toda a herança,
o testador esteja, noventa dias e 1.802. o remanescente pertencerá aos
seguidos, em lugar onde possa herdeiros legítimos, segundo a
testar na forma ordinária, sal- Art. 1.901. Valerá a disposição: ordem da vocação hereditária.
vo se esse testamento apresen- I – em favor de pessoa incer-
tar as solenidades prescritas no ta que deva ser determinada por Art. 1.907. Se forem determina-
parágrafo único do artigo ante- terceiro, dentre duas ou mais pes- dos os quinhões de uns e não os
cedente. soas mencionadas pelo testador, de outros herdeiros, distribuir-
ou pertencentes a uma família, ou -se-á por igual a estes últimos
Art. 1.896. As pessoas designa- a um corpo coletivo, ou a um es- o que restar, depois de comple-
das no art. 1.893, estando empe- tabelecimento por ele designado; tas as porções hereditárias dos
nhadas em combate, ou feridas, II – em remuneração de ser- primeiros.
podem testar oralmente, confian- viços prestados ao testador, por
do a sua última vontade a duas ocasião da moléstia de que fale- Art. 1.908. Dispondo o testador
testemunhas. ceu, ainda que fique ao arbítrio do que não caiba ao herdeiro insti-
Parágrafo único. Não terá herdeiro ou de outrem determinar tuído certo e determinado objeto,
efeito o testamento se o testador o valor do legado. dentre os da herança, tocará ele
não morrer na guerra ou conva- aos herdeiros legítimos.
lescer do ferimento. Art. 1.902. A disposição geral em
favor dos pobres, dos estabeleci- Art. 1.909. São anuláveis as dis-
mentos particulares de caridade, posições testamentárias inqui-
CAPÍTULO VI – ou dos de assistência pública, en- nadas de erro, dolo ou coação.
DAS DISPOSIÇÕES tender-se-á relativa aos pobres Parágrafo único. Extingue-se
TESTAMENTÁRIAS do lugar do domicílio do testador em quatro anos o direito de anular
ao tempo de sua morte, ou dos a disposição, contados de quando
Art. 1.897. A nomeação de her- estabelecimentos aí sitos, salvo o interessado tiver conhecimen-
deiro, ou legatário, pode fazer-se se manifestamente constar que to do vício.
pura e simplesmente, sob condi- tinha em mente beneficiar os de
ção, para certo fim ou modo, ou outra localidade. Art. 1.910. A ineficácia de uma
por certo motivo. Parágrafo único. Nos casos disposição testamentária impor-
deste artigo, as instituições par- ta a das outras que, sem aquela,
Art. 1.898. A designação do tem- ticulares preferirão sempre às não teriam sido determinadas
po em que deva começar ou ces- públicas. pelo testador.
sar o direito do herdeiro, salvo

255
Código Civil
Art. 1.911. A cláusula de inaliena- título transitório. existente na herança transfere
bilidade, imposta aos bens por ato também ao legatário os frutos
de liberalidade, implica impenho- Art. 1.918. O legado de crédito, que produzir, desde a morte do
rabilidade e incomunicabilidade. ou de quitação de dívida, terá efi- testador, exceto se dependente
Parágrafo único. No caso de cácia somente até a importância de condição suspensiva, ou de
desapropriação de bens clausu- desta, ou daquele, ao tempo da termo inicial.
lados, ou de sua alienação, por morte do testador.
conveniência econômica do do- § 1o Cumpre-se o legado, en- Art. 1.924. O direito de pedir o
natário ou do herdeiro, mediante tregando o herdeiro ao legatário legado não se exercerá, enquan-
autorização judicial, o produto da o título respectivo. to se litigue sobre a validade do
venda converter-se-á em outros § 2o Este legado não com- testamento, e, nos legados con-
bens, sobre os quais incidirão as preende as dívidas posteriores dicionais, ou a prazo, enquanto
restrições apostas aos primeiros. à data do testamento. esteja pendente a condição ou
o prazo não se vença.
Art. 1.919. Não o declarando ex-
CAPÍTULO VII – DOS pressamente o testador, não se Art. 1.925. O legado em dinheiro
LEGADOS reputará compensação da sua só vence juros desde o dia em que
dívida o legado que ele faça ao se constituir em mora a pessoa
Seção I – Disposições Gerais
credor. obrigada a prestá-lo.
Parágrafo único. Subsistirá
Art. 1.912. É ineficaz o legado de integralmente o legado, se a dí- Art. 1.926. Se o legado consis-
coisa certa que não pertença ao vida lhe foi posterior, e o testador tir em renda vitalícia ou pensão
testador no momento da abertura a solveu antes de morrer. periódica, esta ou aquela correrá
da sucessão. da morte do testador.
Art. 1.920. O legado de alimen-
Art. 1.913. Se o testador ordenar tos abrange o sustento, a cura, Art. 1.927. Se o legado for de
que o herdeiro ou legatário en- o vestuário e a casa, enquanto o quantidades certas, em presta-
tregue coisa de sua propriedade legatário viver, além da educação, ções periódicas, datará da morte
a outrem, não o cumprindo ele, se ele for menor. do testador o primeiro período,
entender-se-á que renunciou à e o legatário terá direito a cada
herança ou ao legado. Art. 1.921. O legado de usufruto, prestação, uma vez encetado
sem fixação de tempo, entende- cada um dos períodos sucessi-
Art. 1.914. Se tão somente em -se deixado ao legatário por toda vos, ainda que venha a falecer
parte a coisa legada pertencer a sua vida. antes do termo dele.
ao testador, ou, no caso do artigo
antecedente, ao herdeiro ou ao Art. 1.922. Se aquele que legar Art. 1.928. Sendo periódicas as
legatário, só quanto a essa parte um imóvel lhe ajuntar depois no- prestações, só no termo de cada
valerá o legado. vas aquisições, estas, ainda que período se poderão exigir.
contíguas, não se compreendem Parágrafo único. Se as pres-
Art. 1.915. Se o legado for de coi- no legado, salvo expressa decla- tações forem deixadas a título de
sa que se determine pelo gênero, ração em contrário do testador. alimentos, pagar-se-ão no come-
será o mesmo cumprido, ainda Parágrafo único. Não se apli- ço de cada período, sempre que
que tal coisa não exista entre ca o disposto neste artigo às ben- outra coisa não tenha disposto
os bens deixados pelo testador. feitorias necessárias, úteis ou vo- o testador.
luptuárias feitas no prédio legado.
Art. 1.916. Se o testador legar Art. 1.929. Se o legado consiste
coisa sua, singularizando-a, só em coisa determinada pelo gêne-
terá eficácia o legado se, ao tem-
Seção II – Dos Efeitos do ro, ao herdeiro tocará escolhê-la,
po do seu falecimento, ela se Legado e do Seu Pagamento guardando o meio-termo entre
achava entre os bens da heran- as congêneres da melhor e pior
ça; se a coisa legada existir en- Art. 1.923. Desde a abertura da qualidade.
tre os bens do testador, mas em sucessão, pertence ao legatário
quantidade inferior à do legado, a coisa certa, existente no acer- Art. 1.930. O estabelecido no ar-
este será eficaz apenas quanto vo, salvo se o legado estiver sob tigo antecedente será observado,
à existente. condição suspensiva. quando a escolha for deixada a
§ 1o Não se defere de ime- arbítrio de terceiro; e, se este não
Art. 1.917. O legado de coisa que diato a posse da coisa, nem nela a quiser ou não a puder exercer,
deva encontrar-se em determina- pode o legatário entrar por auto- ao juiz competirá fazê-la, guar-
do lugar só terá eficácia se nele ridade própria. dado o disposto na última parte
for achada, salvo se removida a § 2o O legado de coisa certa do artigo antecedente.

256
Seção III – Da Caducidade

Código Civil
Art. 1.931. Se a opção foi dei- do artigo antecedente, morrer
xada ao legatário, este poderá dos Legados antes do testador; se renunciar a
escolher, do gênero determinado, herança ou legado, ou destes for
a melhor coisa que houver na he- Art. 1.939. Caducará o legado: excluído, e, se a condição sob a
rança; e, se nesta não existir coisa I – se, depois do testamen- qual foi instituído não se verificar,
de tal gênero, dar-lhe-á de outra to, o testador modificar a coisa acrescerá o seu quinhão, salvo
congênere o herdeiro, observada legada, ao ponto de já não ter a o direito do substituto, à parte
a disposição na última parte do forma nem lhe caber a denomi- dos coerdeiros ou colegatários
art. 1.929. nação que possuía; conjuntos.
II – se o testador, por qual- Parágrafo único. Os coer-
Art. 1.932. No legado alternativo, quer título, alienar no todo ou em deiros ou colegatários, aos quais
presume-se deixada ao herdeiro parte a coisa legada; nesse caso, acresceu o quinhão daquele que
a opção. caducará até onde ela deixou de não quis ou não pôde suceder,
pertencer ao testador; ficam sujeitos às obrigações ou
Art. 1.933. Se o herdeiro ou le- III – se a coisa perecer ou encargos que o oneravam.
gatário a quem couber a opção for evicta, vivo ou morto o tes-
falecer antes de exercê-la, passa- tador, sem culpa do herdeiro ou Art. 1.944. Quando não se efe-
rá este poder aos seus herdeiros. legatário incumbido do seu cum- tua o direito de acrescer, trans-
primento; mite-se aos herdeiros legítimos
Art. 1.934. No silêncio do tes- IV – se o legatário for exclu- a quota vaga do nomeado.
tamento, o cumprimento dos le- ído da sucessão, nos termos do Parágrafo único. Não exis-
gados incumbe aos herdeiros e, art. 1.815; tindo o direito de acrescer entre
não os havendo, aos legatários, V – se o legatário falecer an- os colegatários, a quota do que
na proporção do que herdaram. tes do testador. faltar acresce ao herdeiro ou ao
Parágrafo único. O encargo legatário incumbido de satisfazer
estabelecido neste artigo, não ha- Art. 1.940. Se o legado for de esse legado, ou a todos os her-
vendo disposição testamentária duas ou mais coisas alternati- deiros, na proporção dos seus
em contrário, caberá ao herdei- vamente, e algumas delas pe- quinhões, se o legado se deduziu
ro ou legatário incumbido pelo recerem, subsistirá quanto às da herança.
testador da execução do legado; restantes; perecendo parte de
quando indicados mais de um, os uma, valerá, quanto ao seu re- Art. 1.945. Não pode o benefi-
onerados dividirão entre si o ônus, manescente, o legado. ciário do acréscimo repudiá-lo
na proporção do que recebam da separadamente da herança ou
herança. legado que lhe caiba, salvo se o
CAPÍTULO VIII – DO acréscimo comportar encargos
Art. 1.935. Se algum legado con- DIREITO DE ACRESCER especiais impostos pelo testador;
sistir em coisa pertencente a her- ENTRE HERDEIROS E nesse caso, uma vez repudiado,
deiro ou legatário (art. 1.913), só LEGATÁRIOS reverte o acréscimo para a pes-
a ele incumbirá cumpri-lo, com soa a favor de quem os encargos
regresso contra os coerdeiros, Art. 1.941. Quando vários herdei- foram instituídos.
pela quota de cada um, salvo se o ros, pela mesma disposição tes-
contrário expressamente dispôs tamentária, forem conjuntamente Art. 1.946. Legado um só usu-
o testador. chamados à herança em quinhões fruto conjuntamente a duas ou
não determinados, e qualquer mais pessoas, a parte da que
Art. 1.936. As despesas e os ris- deles não puder ou não quiser faltar acresce aos colegatários.
cos da entrega do legado correm aceitá-la, a sua parte acrescerá Parágrafo único. Se não hou-
à conta do legatário, se não dis- à dos coerdeiros, salvo o direito ver conjunção entre os colegatá-
puser diversamente o testador. do substituto. rios, ou se, apesar de conjuntos,
só lhes foi legada certa parte do
Art. 1.937. A coisa legada entre- Art. 1.942. O direito de acres- usufruto, consolidar-se-ão na
gar-se-á, com seus acessórios, no cer competirá aos colegatários, propriedade as quotas dos que
lugar e estado em que se achava quando nomeados conjuntamen- faltarem, à medida que eles fo-
ao falecer o testador, passando ao te a respeito de uma só coisa, rem faltando.
legatário com todos os encargos determinada e certa, ou quando
que a onerarem. o objeto do legado não puder ser
dividido sem risco de desvalori-
Art. 1.938. Nos legados com zação.
encargo, aplica-se ao legatário
o disposto neste Código quanto Art. 1.943. Se um dos coerdeiros
às doações de igual natureza. ou colegatários, nas condições

257
Código Civil
CAPÍTULO IX – DAS em favor dos não concebidos ao CAPÍTULO X – DA
SUBSTITUIÇÕES tempo da morte do testador. DESERDAÇÃO
Parágrafo único. Se, ao tem-
Seção I – Da Substituição po da morte do testador, já hou- Art. 1.961. Os herdeiros neces-
Vulgar e da Recíproca ver nascido o fideicomissário, sários podem ser privados de sua
adquirirá este a propriedade dos legítima, ou deserdados, em to-
Art. 1.947. O testador pode bens fideicometidos, converten- dos os casos em que podem ser
substituir outra pessoa ao herdei- do-se em usufruto o direito do excluídos da sucessão.
ro ou ao legatário nomeado, para fiduciário.
o caso de um ou outro não querer Art. 1.962. Além das causas
ou não poder aceitar a herança Art. 1.953. O fiduciário tem a mencionadas no art. 1.814, auto-
ou o legado, presumindo-se que propriedade da herança ou le- rizam a deserdação dos descen-
a substituição foi determinada gado, mas restrita e resolúvel. dentes por seus ascendentes:
para as duas alternativas, ainda Parágrafo único. O fiduciário I – ofensa física;
que o testador só a uma se refira. é obrigado a proceder ao inventá- II – injúria grave;
rio dos bens gravados, e a prestar III – relações ilícitas com a
Art. 1.948. Também é lícito ao caução de restituí-los se o exigir madrasta ou com o padrasto;
testador substituir muitas pes- o fideicomissário. IV – desamparo do ascenden-
soas por uma só, ou vice-versa, te em alienação mental ou grave
e ainda substituir com reciproci- Art. 1.954. Salvo disposição em enfermidade.
dade ou sem ela. contrário do testador, se o fidu-
ciário renunciar a herança ou o Art. 1.963. Além das causas enu-
Art. 1.949. O substituto fica legado, defere-se ao fideicomis- meradas no art. 1.814, autorizam
sujeito à condição ou encargo sário o poder de aceitar. a deserdação dos ascendentes
imposto ao substituído, quando pelos descendentes:
não for diversa a intenção ma- Art. 1.955. O fideicomissário I – ofensa física;
nifestada pelo testador, ou não pode renunciar a herança ou o II – injúria grave;
resultar outra coisa da natureza legado, e, neste caso, o fideico- III – relações ilícitas com a
da condição ou do encargo. misso caduca, deixando de ser mulher ou companheira do filho
resolúvel a propriedade do fidu- ou a do neto, ou com o marido ou
Art. 1.950. Se, entre muitos co- ciário, se não houver disposição companheiro da filha ou o da neta;
erdeiros ou legatários de partes contrária do testador. IV – desamparo do filho ou
desiguais, for estabelecida subs- neto com deficiência mental ou
tituição recíproca, a proporção Art. 1.956. Se o fideicomissário grave enfermidade.
dos quinhões fixada na primeira aceitar a herança ou o legado, terá
disposição entender-se-á man- direito à parte que, ao fiduciário, Art. 1.964. Somente com ex-
tida na segunda; se, com as ou- em qualquer tempo acrescer. pressa declaração de causa pode
tras anteriormente nomeadas, a deserdação ser ordenada em
for incluída mais alguma pessoa Art. 1.957. Ao sobrevir a suces- testamento.
na substituição, o quinhão vago são, o fideicomissário responde
pertencerá em partes iguais aos pelos encargos da herança que Art. 1.965. Ao herdeiro institu-
substitutos. ainda restarem. ído, ou àquele a quem aproveite
a deserdação, incumbe provar
Art. 1.958. Caduca o fideicomis- a veracidade da causa alegada
Seção II – Da Substituição so se o fideicomissário morrer pelo testador.
Fideicomissária antes do fiduciário, ou antes de Parágrafo único. O direito
realizar-se a condição resolutó- de provar a causa da deserdação
Art. 1.951. Pode o testador ins- ria do direito deste último; nesse extingue-se no prazo de quatro
tituir herdeiros ou legatários, es- caso, a propriedade consolida- anos, a contar da data da aber-
tabelecendo que, por ocasião de -se no fiduciário, nos termos do tura do testamento.
sua morte, a herança ou o lega- art. 1.955.
do se transmita ao fiduciário,
resolvendo-se o direito deste, Art. 1.959. São nulos os fidei- CAPÍTULO XI – DA
por sua morte, a certo tempo ou comissos além do segundo grau. REDUÇÃO DAS
sob certa condição, em favor de DISPOSIÇÕES
outrem, que se qualifica de fidei- Art. 1.960. A nulidade da substi- TESTAMENTÁRIAS
comissário. tuição ilegal não prejudica a insti-
tuição, que valerá sem o encargo Art. 1.966. O remanescente per-
Art. 1.952. A substituição fidei- resolutório. tencerá aos herdeiros legítimos,
comissária somente se permite quando o testador só em parte

258
Código Civil
dispuser da quota hereditária Parágrafo único. Se parcial, ceder ao testamenteiro a posse e
disponível. ou se o testamento posterior não a administração da herança, ou de
contiver cláusula revogatória ex- parte dela, não havendo cônjuge
Art. 1.967. As disposições que pressa, o anterior subsiste em ou herdeiros necessários.
excederem a parte disponível re- tudo que não for contrário ao Parágrafo único. Qualquer
duzir-se-ão aos limites dela, de posterior. herdeiro pode requerer partilha
conformidade com o disposto imediata, ou devolução da heran-
nos parágrafos seguintes. Art. 1.971. A revogação produ- ça, habilitando o testamenteiro
§ 1o Em se verificando exce- zirá seus efeitos, ainda quando o com os meios necessários para
derem as disposições testamen- testamento, que a encerra, vier o cumprimento dos legados, ou
tárias a porção disponível, serão a caducar por exclusão, incapa- dando caução de prestá-los.
proporcionalmente reduzidas as cidade ou renúncia do herdeiro
quotas do herdeiro ou herdeiros nele nomeado; não valerá, se o Art. 1.978. Tendo o testamentei-
instituídos, até onde baste, e, não testamento revogatório for anu- ro a posse e a administração dos
bastando, também os legados, na lado por omissão ou infração de bens, incumbe-lhe requerer in-
proporção do seu valor. solenidades essenciais ou por ventário e cumprir o testamento.
§ 2o Se o testador, preve- vícios intrínsecos.
nindo o caso, dispuser que se Art. 1.979. O testamenteiro no-
inteirem, de preferência, certos Art. 1.972. O testamento cerrado meado, ou qualquer parte interes-
herdeiros e legatários, a redução que o testador abrir ou dilacerar, sada, pode requerer, assim como
far-se-á nos outros quinhões ou ou for aberto ou dilacerado com o juiz pode ordenar, de ofício, ao
legados, observando-se a seu seu consentimento, haver-se-á detentor do testamento, que o
respeito a ordem estabelecida como revogado. leve a registro.
no parágrafo antecedente.
Art. 1.980. O testamenteiro é
Art. 1.968. Quando consistir em CAPÍTULO XIII – DO obrigado a cumprir as disposições
prédio divisível o legado sujeito a ROMPIMENTO DO testamentárias, no prazo marca-
redução, far-se-á esta dividindo-o TESTAMENTO do pelo testador, e a dar contas
proporcionalmente. do que recebeu e despendeu,
§ 1o Se não for possível a Art. 1.973. Sobrevindo descen- subsistindo sua responsabilida-
divisão, e o excesso do legado dente sucessível ao testador, que de enquanto durar a execução do
montar a mais de um quarto do não o tinha ou não o conhecia testamento.
valor do prédio, o legatário dei- quando testou, rompe-se o tes-
xará inteiro na herança o imóvel tamento em todas as suas dis- Art. 1.981. Compete ao testa-
legado, ficando com o direito de posições, se esse descendente menteiro, com ou sem o concurso
pedir aos herdeiros o valor que sobreviver ao testador. do inventariante e dos herdeiros
couber na parte disponível; se o instituídos, defender a validade
excesso não for de mais de um Art. 1.974. Rompe-se também do testamento.
quarto, aos herdeiros fará tornar o testamento feito na ignorân-
em dinheiro o legatário, que ficará cia de existirem outros herdeiros Art. 1.982. Além das atribuições
com o prédio. necessários. exaradas nos artigos anteceden-
§ 2o Se o legatário for ao tes, terá o testamenteiro as que
mesmo tempo herdeiro neces- Art. 1.975. Não se rompe o tes- lhe conferir o testador, nos limi-
sário, poderá inteirar sua legítima tamento, se o testador dispuser tes da lei.
no mesmo imóvel, de preferência da sua metade, não contemplando
aos outros, sempre que ela e a os herdeiros necessários de cuja Art. 1.983. Não concedendo o
parte subsistente do legado lhe existência saiba, ou quando os testador prazo maior, cumprirá
absorverem o valor. exclua dessa parte. o testamenteiro o testamento e
prestará contas em cento e oiten-
ta dias, contados da aceitação da
CAPÍTULO XII – DA CAPÍTULO XIV – DO testamentaria.
REVOGAÇÃO DO TESTAMENTEIRO Parágrafo único. Pode esse
TESTAMENTO prazo ser prorrogado se houver
Art. 1.976. O testador pode no- motivo suficiente.
Art. 1.969. O testamento pode mear um ou mais testamenteiros,
ser revogado pelo mesmo modo conjuntos ou separados, para lhe Art. 1.984. Na falta de testa-
e forma como pode ser feito. darem cumprimento às disposi- menteiro nomeado pelo testa-
ções de última vontade. dor, a execução testamentária
Art. 1.970. A revogação do tes- compete a um dos cônjuges, e,
tamento pode ser total ou parcial. Art. 1.977. O testador pode con- em falta destes, ao herdeiro no-

259
Código Civil
meado pelo juiz. TÍTULO IV – DO clarar-se no inventário que não
INVENTÁRIO E DA os possui.
Art. 1.985. O encargo da testa-
mentaria não se transmite aos
PARTILHA
herdeiros do testamenteiro, nem CAPÍTULO III – DO
CAPÍTULO I – DO
é delegável; mas o testamenteiro PAGAMENTO DAS DÍVIDAS
pode fazer-se representar em
INVENTÁRIO
juízo e fora dele, mediante man- Art. 1.997. A herança responde
datário com poderes especiais. Art. 1.991. Desde a assinatura do pelo pagamento das dívidas do
compromisso até a homologação falecido; mas, feita a partilha,
Art. 1.986. Havendo simultane- da partilha, a administração da só respondem os herdeiros, cada
amente mais de um testamentei- herança será exercida pelo in- qual em proporção da parte que
ro, que tenha aceitado o cargo, ventariante. na herança lhe coube.
poderá cada qual exercê-lo, em § 1o Quando, antes da parti-
falta dos outros; mas todos ficam lha, for requerido no inventário o
solidariamente obrigados a dar CAPÍTULO II – DOS pagamento de dívidas constantes
conta dos bens que lhes forem SONEGADOS de documentos, revestidos de
confiados, salvo se cada um tiver, formalidades legais, constituin-
pelo testamento, funções distin- Art. 1.992. O herdeiro que sone- do prova bastante da obrigação,
tas, e a elas se limitar. gar bens da herança, não os des- e houver impugnação, que não se
crevendo no inventário quando funde na alegação de pagamento,
Art. 1.987. Salvo disposição tes- estejam em seu poder, ou, com o acompanhada de prova valiosa, o
tamentária em contrário, o testa- seu conhecimento, no de outrem, juiz mandará reservar, em poder
menteiro, que não seja herdeiro ou que os omitir na colação, a do inventariante, bens suficientes
ou legatário, terá direito a um que os deva levar, ou que deixar para solução do débito, sobre os
prêmio, que, se o testador não o de restituí-los, perderá o direito quais venha a recair oportuna-
houver fixado, será de um a cin- que sobre eles lhe cabia. mente a execução.
co por cento, arbitrado pelo juiz, § 2o No caso previsto no pa-
sobre a herança líquida, confor- Art. 1.993. Além da pena comi- rágrafo antecedente, o credor
me a importância dela e maior ou nada no artigo antecedente, se o será obrigado a iniciar a ação de
menor dificuldade na execução sonegador for o próprio inventa- cobrança no prazo de trinta dias,
do testamento. riante, remover-se-á, em se pro- sob pena de se tornar de nenhum
Parágrafo único. O prêmio vando a sonegação, ou negando efeito a providência indicada.
arbitrado será pago à conta da ele a existência dos bens, quando
parte disponível, quando houver indicados. Art. 1.998. As despesas funerá-
herdeiro necessário. rias, haja ou não herdeiros legíti-
Art. 1.994. A pena de sonegados mos, sairão do monte da herança;
Art. 1.988. O herdeiro ou o lega- só se pode requerer e impor em mas as de sufrágios por alma do
tário nomeado testamenteiro po- ação movida pelos herdeiros ou falecido só obrigarão a herança
derá preferir o prêmio à herança pelos credores da herança. quando ordenadas em testamen-
ou ao legado. Parágrafo único. A sentença to ou codicilo.
que se proferir na ação de sone-
Art. 1.989. Reverterá à herança gados, movida por qualquer dos Art. 1.999. Sempre que houver
o prêmio que o testamenteiro herdeiros ou credores, aproveita ação regressiva de uns contra
perder, por ser removido ou por aos demais interessados. outros herdeiros, a parte do co-
não ter cumprido o testamento. erdeiro insolvente dividir-se-á
Art. 1.995. Se não se restituí- em proporção entre os demais.
Art. 1.990. Se o testador tiver rem os bens sonegados, por já
distribuído toda a herança em não os ter o sonegador em seu Art. 2.000. Os legatários e cre-
legados, exercerá o testamen- poder, pagará ele a importância dores da herança podem exigir
teiro as funções de inventariante. dos valores que ocultou, mais as que do patrimônio do falecido
perdas e danos. se discrimine o do herdeiro, e,
em concurso com os credores
Art. 1.996. Só se pode arguir de deste, ser-lhes-ão preferidos no
sonegação o inventariante depois pagamento.
de encerrada a descrição dos
bens, com a declaração, por ele Art. 2.001. Se o herdeiro for de-
feita, de não existirem outros por vedor ao espólio, sua dívida será
inventariar e partir, assim como partilhada igualmente entre to-
arguir o herdeiro, depois de de- dos, salvo se a maioria consentir

260
Código Civil
que o débito seja imputado intei- colação as doações que o doa- o hajam herdado, o que os pais
ramente no quinhão do devedor. dor determinar saiam da parte teriam de conferir.
disponível, contanto que não a
excedam, computado o seu valor Art. 2.010. Não virão à colação
CAPÍTULO IV – DA ao tempo da doação. os gastos ordinários do ascen-
COLAÇÃO Parágrafo único. Presume-se dente com o descendente, en-
imputada na parte disponível a quanto menor, na sua educação,
Art. 2.002. Os descendentes liberalidade feita a descendente estudos, sustento, vestuário, tra-
que concorrerem à sucessão do que, ao tempo do ato, não seria tamento nas enfermidades, en-
ascendente comum são obriga- chamado à sucessão na qualidade xoval, assim como as despesas
dos, para igualar as legítimas, a de herdeiro necessário. de casamento, ou as feitas no
conferir o valor das doações que interesse de sua defesa em pro-
dele em vida receberam, sob pena Art. 2.006. A dispensa da cola- cesso-crime.
de sonegação. ção pode ser outorgada pelo doa-
Parágrafo único. Para cálcu- dor em testamento, ou no próprio Art. 2.011. As doações remu-
lo da legítima, o valor dos bens título de liberalidade. neratórias de serviços feitos ao
conferidos será computado na ascendente também não estão
parte indisponível, sem aumentar Art. 2.007. São sujeitas à redu- sujeitas a colação.
a disponível. ção as doações em que se apurar
excesso quanto ao que o doador Art. 2.012. Sendo feita a doação
Art. 2.003. A colação tem por poderia dispor, no momento da por ambos os cônjuges, no inven-
fim igualar, na proporção estabe- liberalidade. tário de cada um se conferirá por
lecida neste Código, as legítimas § 1o O excesso será apurado metade.
dos descendentes e do cônjuge com base no valor que os bens
sobrevivente, obrigando também doados tinham, no momento da
os donatários que, ao tempo do liberalidade. CAPÍTULO V – DA
falecimento do doador, já não § 2o A redução da liberalida- PARTILHA
possuírem os bens doados. de far-se-á pela restituição ao
Parágrafo único. Se, com- monte do excesso assim apura- Art. 2.013. O herdeiro pode sem-
putados os valores das doações do; a restituição será em espécie, pre requerer a partilha, ainda que
feitas em adiantamento de legí- ou, se não mais existir o bem em o testador o proíba, cabendo igual
tima, não houver no acervo bens poder do donatário, em dinheiro, faculdade aos seus cessionários
suficientes para igualar as legí- segundo o seu valor ao tempo e credores.
timas dos descendentes e do da abertura da sucessão, obser-
cônjuge, os bens assim doados vadas, no que forem aplicáveis, Art. 2.014. Pode o testador indi-
serão conferidos em espécie, ou, as regras deste Código sobre a car os bens e valores que devem
quando deles já não disponha o redução das disposições testa- compor os quinhões hereditários,
donatário, pelo seu valor ao tempo mentárias. deliberando ele próprio a partilha,
da liberalidade. § 3o Sujeita-se a redução, que prevalecerá, salvo se o valor
nos termos do parágrafo ante- dos bens não corresponder às
Art. 2.004. O valor de colação cedente, a parte da doação feita quotas estabelecidas.
dos bens doados será aquele, cer- a herdeiros necessários que ex-
to ou estimativo, que lhes atribuir ceder a legítima e mais a quota Art. 2.015. Se os herdeiros fo-
o ato de liberalidade. disponível. rem capazes, poderão fazer parti-
§ 1o Se do ato de doação não § 4o Sendo várias as doações lha amigável, por escritura públi-
constar valor certo, nem houver a herdeiros necessários, feitas ca, termo nos autos do inventário,
estimação feita naquela época, os em diferentes datas, serão elas ou escrito particular, homologado
bens serão conferidos na partilha reduzidas a partir da última, até pelo juiz.
pelo que então se calcular vales- a eliminação do excesso.
sem ao tempo da liberalidade. Art. 2.016. Será sempre judicial
§ 2o Só o valor dos bens do- Art. 2.008. Aquele que renun- a partilha, se os herdeiros divergi-
ados entrará em colação; não as- ciou a herança ou dela foi excluí- rem, assim como se algum deles
sim o das benfeitorias acrescidas, do, deve, não obstante, conferir as for incapaz.
as quais pertencerão ao herdeiro doações recebidas, para o fim de
donatário, correndo também à repor o que exceder o disponível. Art. 2.017. No partilhar os bens,
conta deste os rendimentos ou observar-se-á, quanto ao seu va-
lucros, assim como os danos e Art. 2.009. Quando os netos, re- lor, natureza e qualidade, a maior
perdas que eles sofrerem. presentando os seus pais, suce- igualdade possível.
derem aos avós, serão obrigados
Art. 2.005. São dispensadas da a trazer à colação, ainda que não Art. 2.018. É válida a partilha fei-

261
Código Civil
ta por ascendente, por ato entre CAPÍTULO VI – DA rágrafo único do art. 1.242 serão
vivos ou de última vontade, con- GARANTIA DOS QUINHÕES acrescidos de dois anos, qualquer
tanto que não prejudique a legí- que seja o tempo transcorrido na
tima dos herdeiros necessários.
HEREDITÁRIOS vigência do anterior, Lei no 3.071,
de 1o de janeiro de 1916.
Art. 2.019. Os bens insuscetí- Art. 2.023. Julgada a partilha,
veis de divisão cômoda, que não fica o direito de cada um dos Art. 2.030. O acréscimo de que
couberem na meação do cônjuge herdeiros circunscrito aos bens trata o artigo antecedente, será
sobrevivente ou no quinhão de do seu quinhão. feito nos casos a que se refere o
um só herdeiro, serão vendidos § 4o do art. 1.228.
judicialmente, partilhando-se o Art. 2.024. Os coerdeiros são
valor apurado, a não ser que haja reciprocamente obrigados a in- Art. 2.031. As associações, so-
acordo para serem adjudicados denizar-se no caso de evicção ciedades e fundações, constituí-
a todos. dos bens aquinhoados. das na forma das leis anteriores,
§ 1o Não se fará a venda ju- bem como os empresários, de-
dicial se o cônjuge sobrevivente Art. 2.025. Cessa a obrigação verão se adaptar às disposições
ou um ou mais herdeiros reque- mútua estabelecida no artigo an- deste Código até 11 de janeiro
rerem lhes seja adjudicado o bem, tecedente, havendo convenção de 2007.
repondo aos outros, em dinhei- em contrário, e bem assim dando- Parágrafo único. O disposto
ro, a diferença, após avaliação -se a evicção por culpa do evicto, neste artigo não se aplica às or-
atualizada. ou por fato posterior à partilha. ganizações religiosas nem aos
§ 2o Se a adjudicação for re- partidos políticos.
querida por mais de um herdei- Art. 2.026. O evicto será indeni-
ro, observar-se-á o processo da zado pelos coerdeiros na propor- Art. 2.032. As fundações, insti-
licitação. ção de suas quotas hereditárias, tuídas segundo a legislação ante-
mas, se algum deles se achar rior, inclusive as de fins diversos
Art. 2.020. Os herdeiros em pos- insolvente, responderão os de- dos previstos no parágrafo único
se dos bens da herança, o cônjuge mais na mesma proporção, pela do art. 62, subordinam-se, quanto
sobrevivente e o inventariante são parte desse, menos a quota que ao seu funcionamento, ao dispos-
obrigados a trazer ao acervo os corresponderia ao indenizado. to neste Código.
frutos que perceberam, desde a
abertura da sucessão; têm direito Art. 2.033. Salvo o disposto em
ao reembolso das despesas ne- CAPÍTULO VII – DA lei especial, as modificações dos
cessárias e úteis que fizeram, e ANULAÇÃO DA PARTILHA atos constitutivos das pessoas
respondem pelo dano a que, por jurídicas referidas no art. 44, bem
dolo ou culpa, deram causa. Art. 2.027. A partilha é anulá- como a sua transformação, incor-
vel pelos vícios e defeitos que poração, cisão ou fusão, regem-
Art. 2.021. Quando parte da he- invalidam, em geral, os negócios -se desde logo por este Código.
rança consistir em bens remotos jurídicos.
do lugar do inventário, litigiosos, Parágrafo único. Extingue-se Art. 2.034. A dissolução e a li-
ou de liquidação morosa ou difí- em um ano o direito de anular a quidação das pessoas jurídicas
cil, poderá proceder-se, no prazo partilha. referidas no artigo antecedente,
legal, à partilha dos outros, reser- quando iniciadas antes da vigên-
vando-se aqueles para uma ou cia deste Código, obedecerão ao
mais sobrepartilhas, sob a guarda LIVRO COMPLEMENTAR – disposto nas leis anteriores.
e a administração do mesmo ou DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E
diverso inventariante, e consen- TRANSITÓRIAS Art. 2.035. A validade dos ne-
timento da maioria dos herdeiros. gócios e demais atos jurídicos,
Art. 2.028. Serão os da lei an- constituídos antes da entrada
Art. 2.022. Ficam sujeitos a so- terior os prazos, quando redu- em vigor deste Código, obedece
brepartilha os bens sonegados e zidos por este Código, e se, na ao disposto nas leis anteriores,
quaisquer outros bens da heran- data de sua entrada em vigor, referidas no art.  2.045, mas os
ça de que se tiver ciência após já houver transcorrido mais da seus efeitos, produzidos após a
a partilha. metade do tempo estabelecido vigência deste Código, aos precei-
na lei revogada. tos dele se subordinam, salvo se
houver sido prevista pelas partes
Art. 2.029. Até dois anos após determinada forma de execução.
a entrada em vigor deste Código, Parágrafo único. Nenhuma
os prazos estabelecidos no pará- convenção prevalecerá se con-
grafo único do art. 1.238 e no pa- trariar preceitos de ordem pú-

262
Código Civil
blica, tais como os estabelecidos Art. 2.042. Aplica-se o dispos-
por este Código para assegurar to no caput do art. 1.848, quando
a função social da propriedade aberta a sucessão no prazo de um
e dos contratos. ano após a entrada em vigor deste
Código, ainda que o testamento
Art. 2.036. A locação de pré- tenha sido feito na vigência do an-
dio urbano, que esteja sujeita à terior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro
lei especial, por esta continua a de 1916; se, no prazo, o testador
ser regida. não aditar o testamento para de-
clarar a justa causa de cláusula
Art. 2.037. Salvo disposição em aposta à legítima, não subsistirá
contrário, aplicam-se aos empre- a restrição.
sários e sociedades empresárias
as disposições de lei não revoga- Art. 2.043. Até que por outra
das por este Código, referentes forma se disciplinem, continu-
a comerciantes, ou a sociedades am em vigor as disposições de
comerciais, bem como a ativida- natureza processual, adminis-
des mercantis. trativa ou penal, constantes de
leis cujos preceitos de natureza
Art. 2.038. Fica proibida a cons- civil hajam sido incorporados a
tituição de enfiteuses e suben- este Código.
fiteuses, subordinando-se as
existentes, até sua extinção, às Art. 2.044. Este Código entrará
disposições do Código Civil ante- em vigor 1 (um) ano após a sua
rior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro publicação.
de 1916, e leis posteriores.
§ 1o Nos aforamentos a que Art. 2.045. Revogam-se a Lei
se refere este artigo é defeso: no 3.071, de 1o de janeiro de 1916
I – cobrar laudêmio ou pres- – Código Civil e a Parte Primeira
tação análoga nas transmissões do Código Comercial, Lei no 556,
de bem aforado, sobre o valor de 25 de junho de 1850.
das construções ou plantações;
II – constituir subenfiteuse. Art. 2.046. Todas as remissões,
§ 2o A enfiteuse dos terrenos em diplomas legislativos, aos Có-
de marinha e acrescidos regula- digos referidos no artigo ante-
-se por lei especial. cedente, consideram-se feitas
às disposições correspondentes
Art. 2.039. O regime de bens deste Código.
nos casamentos celebrados na
vigência do Código Civil ante- Brasília, 10 de janeiro de 2002;
rior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro 181o da Independência e 114o da
de 1916, é o por ele estabelecido. República.

Art. 2.040. A hipoteca legal dos FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


bens do tutor ou curador, inscrita
em conformidade com o inciso IV Promulgada em 10/1/2002 e publicada
do art. 827 do Código Civil ante- no DOU de 11/1/2002.
rior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de
1916, poderá ser cancelada, obe-
decido o disposto no parágrafo
único do art. 1.745 deste Código.

Art. 2.041. As disposições des-


te Código relativas à ordem da
vocação hereditária (arts.  1.829
a 1.844) não se aplicam à suces-
são aberta antes de sua vigên-
cia, prevalecendo o disposto na
lei anterior (Lei no 3.071, de 1o de
janeiro de 1916).

263
Código de Processo Civil
ATUALIZADA ATÉ SETEMBRO DE 2022

Atualização e revisão técnica: Coordenação de Edições Técnicas


A norma aqui apresentada não substitui as publicações do Diário Oficial da União.
Sumário

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Lei no 1 .10 /201


275 PARTE GERAL
275 LIVRO I – DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS
275 TÍTULO ÚNICO – DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS
PROCESSUAIS
275 CAPÍTULO I – DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
276 CAPÍTULO II – DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
276 LIVRO II – DA FUNÇÃO JURISDICIONAL
276 TÍTULO I – DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO
276 TÍTULO II – DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
276 CAPÍTULO I – DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL
277 CAPÍTULO II – DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
277 Seção I – Disposições Gerais
277 Seção II – Do Auxílio Direto
278 Seção III – Da Carta Rogatória
278 Seção IV – Disposições Comuns às Seções Anteriores
278 TÍTULO III – DA COMPETÊNCIA INTERNA
278 CAPÍTULO I – DA COMPETÊNCIA
278 Seção I – Disposições Gerais
279 Seção II – Da Modificação da Competência
280 Seção III – Da Incompetência
280 CAPÍTULO II – DA COOPERAÇÃO NACIONAL
280 LIVRO III – DOS SUJEITOS DO PROCESSO
280 TÍTULO I – DAS PARTES E DOS PROCURADORES
280 CAPÍTULO I – DA CAPACIDADE PROCESSUAL
281 CAPÍTULO II – DOS DEVERES DAS PARTES E DE SEUS PROCURADORES
281 Seção I – Dos Deveres
282 Seção II – Da Responsabilidade das Partes por Dano Processual
282 Seção III – Das Despesas, dos Honorários Advocatícios e das Multas
285 Seção IV – Da Gratuidade da Justiça
286 CAPÍTULO III – DOS PROCURADORES
287 CAPÍTULO IV – DA SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES
287 TÍTULO II – DO LITISCONSÓRCIO
288 TÍTULO III – DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
288 CAPÍTULO I – DA ASSISTÊNCIA
288 Seção I – Disposições Comuns
288 Seção II – Da Assistência Simples
288 Seção III – Da Assistência Litisconsorcial
288 CAPÍTULO II – DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE
289 CAPÍTULO III – DO CHAMAMENTO AO PROCESSO
289 CAPÍTULO IV – DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
289 CAPÍTULO V – DO AMICUS CURIAE
289 TÍTULO IV – DO JUIZ E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA
289 CAPÍTULO I – DOS PODERES, DOS DEVERES E DA RESPONSABILIDADE DO JUIZ
290 CAPÍTULO II – DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
291 CAPÍTULO III – DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA
291 Seção I – Do Escrivão, do Chefe de Secretaria e do Oficial de ustiça
292 Seção II – Do Perito
293 Seção III – Do Depositário e do Administrador
293 Seção IV – Do Intérprete e do Tradutor
293 Seção V – Dos Conciliadores e Mediadores Judiciais
295 TÍTULO V – DO MINISTÉRIO PÚBLICO
295 TÍTULO VI – DA ADVOCACIA PÚBLICA
295 TÍTULO VII – DA DEFENSORIA PÚBLICA
295 LIVRO IV – DOS ATOS PROCESSUAIS
295 TÍTULO I – DA FORMA, DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS
295 CAPÍTULO I – DA FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS
295 Seção I – Dos Atos em Geral
296 Seção II – Da Prática Eletrônica de Atos Processuais
296 Seção III – Dos Atos das Partes
297 Seção IV – Dos Pronunciamentos do Juiz
297 Seção V – Dos Atos do Escrivão ou do Chefe de Secretaria
297 CAPÍTULO II – DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS
297 Seção I – Do Tempo
298 Seção II – Do Lugar
298 CAPÍTULO III – DOS PRAZOS
298 Seção I – Disposições Gerais
299 Seção II – Da Verificação dos Prazos e das Penalidades
300 TÍTULO II – DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
300 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
300 CAPÍTULO II – DA CITAÇÃO
303 CAPÍTULO III – DAS CARTAS
304 CAPÍTULO IV – DAS INTIMAÇÕES
304 TÍTULO III – DAS NULIDADES
305 TÍTULO IV – DA DISTRIBUIÇÃO E DO REGISTRO
305 TÍTULO V – DO VALOR DA CAUSA
306 LIVRO V – DA TUTELA PROVISÓRIA
306 TÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
306 TÍTULO II – DA TUTELA DE URGÊNCIA
306 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
306 CAPÍTULO II – DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER
ANTECEDENTE
307 CAPÍTULO III – DO PROCEDIMENTO DA TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM CARÁTER
ANTECEDENTE
307 TÍTULO III – DA TUTELA DA EVIDÊNCIA
308 LIVRO VI – DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO
308 TÍTULO I – DA FORMAÇÃO DO PROCESSO
308 TÍTULO II – DA SUSPENSÃO DO PROCESSO
309 TÍTULO III – DA EXTINÇÃO DO PROCESSO
309 PARTE ESPECIAL
309 LIVRO I – DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
309 TÍTULO I – DO PROCEDIMENTO COMUM
309 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
309 CAPÍTULO II – DA PETIÇÃO INICIAL
309 Seção I – Dos Requisitos da Petição Inicial
309 Seção II – Do Pedido
310 Seção III – Do Indeferimento da Petição Inicial
310 CAPÍTULO III – DA IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO
310 CAPÍTULO IV – DA CONVERSÃO DA AÇÃO INDIVIDUAL EM AÇÃO COLETIVA
310 CAPÍTULO V – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO
311 CAPÍTULO VI – DA CONTESTAÇÃO
312 CAPÍTULO VII – DA RECONVENÇÃO
312 CAPÍTULO VIII – DA REVELIA
312 CAPÍTULO IX – DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO SANEAMENTO
312 Seção I – Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia
313 Seção II – Do Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo do Direito do Autor
313 Seção III – Das Alegações do Réu
313 CAPÍTULO X – DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
313 Seção I – Da Extinção do Processo
313 Seção II – Do Julgamento Antecipado do Mérito
313 Seção III – Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito
313 Seção IV – Do Saneamento e da Organização do Processo
314 CAPÍTULO XI – DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
315 CAPÍTULO XII – DAS PROVAS
315 Seção I – Disposições Gerais
315 Seção II – Da Produção Antecipada da Prova
316 Seção III – Da Ata Notarial
316 Seção IV – Do Depoimento Pessoal
316 Seção V – Da Confissão
317 Seção VI – Da Exibição de Documento ou Coisa
317 Seção VII – Da Prova Documental
317 Subseção I – Da Força Probante dos Documentos
319 Subseção II – Da Arguição de Falsidade
320 Subseção III – Da Produção da Prova Documental
320 Seção VIII – Dos Documentos Eletrônicos
320 Seção IX – Da Prova Testemunhal
320 Subseção I – Da Admissibilidade e do Valor da Prova Testemunhal
321 Subseção II – Da Produção da Prova Testemunhal
323 Seção X – Da Prova Pericial
325 Seção XI – Da Inspeção Judicial
325 CAPÍTULO XIII – DA SENTENÇA E DA COISA JULGADA
325 Seção I – Disposições Gerais
326 Seção II – Dos Elementos e dos Efeitos da Sentença
327 Seção III – Da Remessa Necessária
327 Seção IV – Do Julgamento das Ações Relativas às Prestações de Fazer, de Não Fazer e de
Entregar Coisa
327 Seção V – Da Coisa Julgada
328 CAPÍTULO XIV – DA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
328 TÍTULO II – DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA
328 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
329 CAPÍTULO II – DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A
EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA
330 CAPÍTULO III – DO CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A
EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA
331 CAPÍTULO IV – DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE
OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS
332 CAPÍTULO V – DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE
OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA PELA FAZENDA PÚBLICA
333 CAPÍTULO VI – DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER OU DE ENTREGAR COISA
333 Seção I – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de
Fazer ou de Não Fazer
334 Seção II – Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de
Entregar Coisa
334 TÍTULO III – DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
334 CAPÍTULO I – DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
335 CAPÍTULO II – DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS
335 CAPÍTULO III – DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
335 Seção I – Disposições Gerais
336 Seção II – Da Manutenção e da Reintegração de Posse
336 Seção III – Do Interdito Proibitório
336 CAPÍTULO IV – DA AÇÃO DE DIVISÃO E DA DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES
336 Seção I – Disposições Gerais
337 Seção II – Da Demarcação
337 Seção III – Da Divisão
338 CAPÍTULO V – DA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE
340 CAPÍTULO VI – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA
340 Seção I – Disposições Gerais
340 Seção II – Da Legitimidade para Requerer o Inventário
340 Seção III – Do Inventariante e das Primeiras Declarações
341 Seção IV – Das Citações e das Impugnações
342 Seção V – Da Avaliação e do Cálculo do Imposto
342 Seção VI – Das Colações
343 Seção VII – Do Pagamento das Dívidas
343 Seção VIII – Da Partilha
344 Seção IX – Do Arrolamento
345 Seção X – Disposições Comuns a Todas as Seções
345 CAPÍTULO VII – DOS EMBARGOS DE TERCEIRO
346 CAPÍTULO VIII – DA OPOSIÇÃO
346 CAPÍTULO IX – DA HABILITAÇÃO
346 CAPÍTULO X – DAS AÇÕES DE FAMÍLIA
347 CAPÍTULO XI – DA AÇÃO MONITÓRIA
348 CAPÍTULO XII – DA HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL
348 CAPÍTULO XIII – DA REGULAÇÃO DE AVARIA GROSSA
349 CAPÍTULO XIV – DA RESTAURAÇÃO DE AUTOS
349 CAPÍTULO XV – DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
349 Seção I – Disposições Gerais
350 Seção II – Da Notificação e da Interpelação
350 Seção III – Da Alienação Judicial
350 Seção IV – Do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção Consensual de União
Estável e da Alteração do Regime de Bens do Matrimônio
351 Seção V – Dos Testamentos e dos Codicilos
351 Seção VI – Da Herança Jacente
352 Seção VII – Dos Bens dos Ausentes
352 Seção VIII – Das Coisas Vagas
352 Seção IX – Da Interdição
353 Seção X – Disposições Comuns à Tutela e à Curatela
354 Seção XI – Da Organização e da Fiscalização das Fundações
354 Seção XII – Da Ratificação dos Protestos Marítimos e dos Processos Testemunháveis
Formados a Bordo
355 LIVRO II – DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
355 TÍTULO I – DA EXECUÇÃO EM GERAL
355 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
355 CAPÍTULO II – DAS PARTES
355 CAPÍTULO III – DA COMPETÊNCIA
356 CAPÍTULO IV – DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO
356 Seção I – Do Título Executivo
356 Seção II – Da Exigibilidade da Obrigação
357 CAPÍTULO V – DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
358 TÍTULO II – DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO
358 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
359 CAPÍTULO II – DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA
359 Seção I – Da Entrega de Coisa Certa
359 Seção II – Da Entrega de Coisa Incerta
359 CAPÍTULO III – DA EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER OU DE NÃO FAZER
359 Seção I – Disposições Comuns
360 Seção II – Da Obrigação de Fazer
360 Seção III – Da Obrigação de Não Fazer
360 CAPÍTULO IV – DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA
360 Seção I – Disposições Gerais
360 Seção II – Da Citação do Devedor e do Arresto
361 Seção III – Da Penhora, do Depósito e da Avaliação
361 Subseção I – Do Objeto da Penhora
362 Subseção II – Da Documentação da Penhora, de seu Registro e do Depósito
363 Subseção III – Do Lugar de Realização da Penhora
363 Subseção IV – Das Modificações da Penhora
364 Subseção V – Da Penhora de Dinheiro em Depósito ou em Aplicação Financeira
364 Subseção VI – Da Penhora de Créditos
365 Subseção VII – Da Penhora das uotas ou das Ações de Sociedades Personificadas
365 Subseção VIII – Da Penhora de Empresa, de Outros Estabelecimentos e de Semoventes
366 Subseção IX – Da Penhora de Percentual de Faturamento de Empresa
366 Subseção X – Da Penhora de Frutos e Rendimentos de Coisa Móvel ou Imóvel
366 Subseção XI – Da Avaliação
367 Seção IV – Da Expropriação de Bens
367 Subseção I – Da Adjudicação
367 Subseção II – Da Alienação
371 Seção V – Da Satisfação do Crédito
371 CAPÍTULO V – DA EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
371 CAPÍTULO VI – DA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
372 TÍTULO III – DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO
373 TÍTULO IV – DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
373 CAPÍTULO I – DA SUSPENSÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
374 CAPÍTULO II – DA EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO
374 LIVRO III – DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES
JUDICIAIS
374 TÍTULO I – DA ORDEM DOS PROCESSOS E DOS PROCESSOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA
DOS TRIBUNAIS
374 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
374 CAPÍTULO II – DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL
377 CAPÍTULO III – DO INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA
377 CAPÍTULO IV – DO INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
377 CAPÍTULO V – DO CONFLITO DE COMPETÊNCIA
378 CAPÍTULO VI – DA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA E DA CONCESSÃO DO
EXEQUATUR À CARTA ROGATÓRIA
378 CAPÍTULO VII – DA AÇÃO RESCISÓRIA
380 CAPÍTULO VIII – DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
381 CAPÍTULO IX – DA RECLAMAÇÃO
382 TÍTULO II – DOS RECURSOS
382 CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
383 CAPÍTULO II – DA APELAÇÃO
384 CAPÍTULO III – DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
385 CAPÍTULO IV – DO AGRAVO INTERNO
385 CAPÍTULO V – DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
386 CAPÍTULO VI – DOS RECURSOS PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E PARA O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
386 Seção I – Do Recurso Ordinário
386 Seção II – Do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial
386 Subseção I – Disposições Gerais
388 Subseção II – Do Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especial Repetitivos
390 Seção III – Do Agravo em Recurso Especial e em Recurso Extraordinário
390 Seção IV – Dos Embargos de Divergência
391 LIVRO COMPLEMENTAR – DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Código de Processo Civil

Lei no 1 .10 /201

Código de Processo Civil. § 1o É permitida a arbitragem, e observando a proporcionalida-


na forma da lei. de, a razoabilidade, a legalidade, a
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA § 2o O Estado promoverá, publicidade e a eficiência.
sempre que possível, a solução
Faço saber que o Congresso Na- consensual dos conflitos. Art. 9o Não se proferirá decisão
cional decreta e eu sanciono a § 3o A conciliação, a media- contra uma das partes sem que
seguinte Lei:1 ção e outros métodos de solução ela seja previamente ouvida.
consensual de conflitos deverão Parágrafo único. O disposto
ser estimulados por juízes, ad- no caput não se aplica:
PARTE GERAL vogados, defensores públicos e I – à tutela provisória de ur-
LIVRO I – DAS NORMAS membros do Ministério Público, gência;
inclusive no curso do processo II – às hipóteses de tutela da
PROCESSUAIS CIVIS judicial. evidência previstas no art.  311,
TÍTULO ÚNICO – DAS incisos II e III;
Art. 4o As partes têm o direito III – à decisão prevista no
NORMAS FUNDAMENTAIS de obter em prazo razoável a so- art. 701.
E DA APLICAÇÃO DAS lução integral do mérito, incluída
NORMAS PROCESSUAIS a atividade satisfativa. Art. 10. O juiz não pode decidir,
em grau algum de jurisdição, com
CAPÍTULO I – DAS NORMAS Art. 5o Aquele que de qualquer base em fundamento a respeito
FUNDAMENTAIS DO forma participa do processo deve do qual não se tenha dado às par-
PROCESSO CIVIL comportar-se de acordo com a tes oportunidade de se manifes-
boa-fé. tar, ainda que se trate de matéria
Art. 1o O processo civil será orde- sobre a qual deva decidir de ofício.
nado, disciplinado e interpretado Art. 6o Todos os sujeitos do pro-
conforme os valores e as normas cesso devem cooperar entre si Art. 11. Todos os julgamentos
fundamentais estabelecidos na para que se obtenha, em tempo dos órgãos do Poder Judiciário
Constituição da República Fede- razoável, decisão de mérito justa serão públicos, e fundamenta-
rativa do Brasil, observando-se as e efetiva. das todas as decisões, sob pena
disposições deste Código. de nulidade.
Art. 7o É assegurada às partes Parágrafo único. Nos casos
Art. 2o O processo começa por paridade de tratamento em rela- de segredo de justiça, pode ser
iniciativa da parte e se desenvolve ção ao exercício de direitos e fa- autorizada a presença somente
por impulso oficial, salvo as ex- culdades processuais, aos meios das partes, de seus advogados,
ceções previstas em lei. de defesa, aos ônus, aos deveres de defensores públicos ou do
e à aplicação de sanções proces- Ministério Público.
Art. 3o Não se excluirá da apre- suais, competindo ao juiz zelar
ciação jurisdicional ameaça ou pelo efetivo contraditório. Art. 12. Os juízes e os tribunais
lesão a direito. atenderão, preferencialmente,
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento à ordem cronológica de conclu-
jurídico, o juiz atenderá aos fins são para proferir sentença ou
1
Nota do Editor (NE): nos dispositivos que sociais e às exigências do bem co- acórdão.
alteram normas, suprimiram-se as alterações
determinadas uma vez que já foram incor- mum, resguardando e promoven- § 1o A lista de processos ap-
poradas às normas às quais se destinam. do a dignidade da pessoa humana tos a julgamento deverá estar per-

275
Código de Processo Civil
manentemente à disposição para CAPÍTULO II – DA falsidade de documento.
consulta pública em cartório e na APLICAÇÃO DAS NORMAS
rede mundial de computadores. Art. 20. É admissível a ação
§ 2o Estão excluídos da regra
PROCESSUAIS meramente declaratória, ainda
do caput: que tenha ocorrido a violação
I – as sentenças proferidas Art. 13. A jurisdição civil será do direito.
em audiência, homologatórias regida pelas normas processu-
de acordo ou de improcedência ais brasileiras, ressalvadas as
liminar do pedido; disposições específicas previs- TÍTULO II – DOS LIMITES
II – o julgamento de processos tas em tratados, convenções ou DA JURISDIÇÃO NACIONAL
em bloco para aplicação de tese acordos internacionais de que o E DA COOPERAÇÃO
jurídica firmada em julgamento Brasil seja parte. INTERNACIONAL
de casos repetitivos;
III – o julgamento de recursos Art. 14. A norma processual não CAPÍTULO I – DOS LIMITES
repetitivos ou de incidente de re- retroagirá e será aplicável imedia- DA JURISDIÇÃO NACIONAL
solução de demandas repetitivas; tamente aos processos em curso,
IV – as decisões proferidas respeitados os atos processuais Art. 21. Compete à autoridade
com base nos arts. 485 e 932; praticados e as situações jurídi- judiciária brasileira processar e
V – o julgamento de embargos cas consolidadas sob a vigência julgar as ações em que:
de declaração; da norma revogada. I – o réu, qualquer que seja a
VI – o julgamento de agravo sua nacionalidade, estiver domi-
interno; Art. 15. Na ausência de normas ciliado no Brasil;
VII – as preferências legais que regulem processos eleitorais, II – no Brasil tiver de ser cum-
e as metas estabelecidas pelo trabalhistas ou administrativos, prida a obrigação;
Conselho Nacional de ustiça; as disposições deste Código lhes III – o fundamento seja fato
VIII – os processos criminais, serão aplicadas supletiva e sub- ocorrido ou ato praticado no
nos órgãos jurisdicionais que te- sidiariamente. Brasil.
nham competência penal; Parágrafo único. Para o fim
IX – a causa que exija urgência do disposto no inciso I, considera-
no julgamento, assim reconhecida LIVRO II – DA FUNÇÃO -se domiciliada no Brasil a pessoa
por decisão fundamentada. JURISDICIONAL jurídica estrangeira que nele tiver
§ 3o Após elaboração de lista agência, filial ou sucursal.
própria, respeitar-se-á a ordem TÍTULO I – DA JURISDIÇÃO
cronológica das conclusões entre E DA AÇÃO Art. 22. Compete, ainda, à au-
as preferências legais. toridade judiciária brasileira pro-
§ 4o Após a inclusão do pro- Art. 16. A jurisdição civil é exer- cessar e julgar as ações:
cesso na lista de que trata o § 1o, cida pelos juízes e pelos tribu- I – de alimentos, quando:
o requerimento formulado pela nais em todo o território nacional, a) o credor tiver domicílio ou
parte não altera a ordem cro- conforme as disposições deste residência no Brasil;
nológica para a decisão, exceto Código. b) o réu mantiver vínculos no
quando implicar a reabertura da Brasil, tais como posse ou pro-
instrução ou a conversão do jul- Art. 17. Para postular em juízo priedade de bens, recebimento de
gamento em diligência. é necessário ter interesse e le- renda ou obtenção de benefícios
§ 5o Decidido o requerimen- gitimidade. econ micos;
to previsto no §  4o, o processo II – decorrentes de relações
retornará à mesma posição em Art. 18. Ninguém poderá pleitear de consumo, quando o consumi-
que anteriormente se encontra- direito alheio em nome próprio, dor tiver domicílio ou residência
va na lista. salvo quando autorizado pelo or- no Brasil;
§ 6o Ocupará o primeiro lu- denamento jurídico. III – em que as partes, expres-
gar na lista prevista no §  1o ou, Parágrafo único. Havendo sa ou tacitamente, se submete-
conforme o caso, no § 3o, o pro- substituição processual, o subs- rem à jurisdição nacional.
cesso que: tituído poderá intervir como as-
I – tiver sua sentença ou acór- sistente litisconsorcial. Art. 23. Compete à autoridade
dão anulado, salvo quando houver judiciária brasileira, com exclusão
necessidade de realização de di- Art. 19. O interesse do autor de qualquer outra:
ligência ou de complementação pode limitar-se à declaração: I – conhecer de ações relati-
da instrução; I – da existência, da inexis- vas a imóveis situados no Brasil;
II – se enquadrar na hipótese tência ou do modo de ser de uma II – em matéria de sucessão
do art. 1.040, inciso II. relação jurídica; hereditária, proceder à confirma-
II – da autenticidade ou da ção de testamento particular e ao

276
Código de Processo Civil
inventário e à partilha de bens si- relação ao acesso à justiça e à Art. 29. A solicitação de auxílio
tuados no Brasil, ainda que o autor tramitação dos processos, asse- direto será encaminhada pelo
da herança seja de nacionalidade gurando-se assistência judiciária órgão estrangeiro interessado
estrangeira ou tenha domicílio aos necessitados; à autoridade central, cabendo
fora do território nacional; III – a publicidade processu- ao Estado requerente assegu-
III – em divórcio, separação al, exceto nas hipóteses de sigilo rar a autenticidade e a clareza
judicial ou dissolução de união previstas na legislação brasileira do pedido.
estável, proceder à partilha de ou na do Estado requerente;
bens situados no Brasil, ainda que IV – a existência de autori- Art. 30. Além dos casos previs-
o titular seja de nacionalidade es- dade central para recepção e tos em tratados de que o Brasil
trangeira ou tenha domicílio fora transmissão dos pedidos de co- faz parte, o auxílio direto terá os
do território nacional. operação; seguintes objetos:
V – a espontaneidade na I – obtenção e prestação de
Art. 24. A ação proposta peran- transmissão de informações a informações sobre o ordenamen-
te tribunal estrangeiro não induz autoridades estrangeiras. to jurídico e sobre processos ad-
litispendência e não obsta a que § 1o Na ausência de tratado, a ministrativos ou jurisdicionais
a autoridade judiciária brasileira cooperação jurídica internacional findos ou em curso;
conheça da mesma causa e das poderá realizar-se com base em II – colheita de provas, sal-
que lhe são conexas, ressalvadas reciprocidade, manifestada por vo se a medida for adotada em
as disposições em contrário de via diplomática. processo, em curso no estran-
tratados internacionais e acor- § 2o Não se exigirá a recipro- geiro, de competência exclusiva
dos bilaterais em vigor no Brasil. cidade referida no § 1o para homo- de autoridade judiciária brasileira;
Parágrafo único. A pendência logação de sentença estrangeira. III – qualquer outra medida
de causa perante a jurisdição bra- § 3o Na cooperação jurídica judicial ou extrajudicial não proi-
sileira não impede a homologação internacional não será admitida bida pela lei brasileira.
de sentença judicial estrangeira a prática de atos que contrariem
quando exigida para produzir efei- ou que produzam resultados in- Art. 31. A autoridade central
tos no Brasil. compatíveis com as normas fun- brasileira comunicar-se-á dire-
damentais que regem o Estado tamente com suas congêneres e,
Art. 25. Não compete à autori- brasileiro. se necessário, com outros órgãos
dade judiciária brasileira o pro- § 4o O Ministério da Justiça estrangeiros responsáveis pela
cessamento e o julgamento da exercerá as funções de autorida- tramitação e pela execução de
ação quando houver cláusula de de central na ausência de desig- pedidos de cooperação enviados
eleição de foro exclusivo estran- nação específica. e recebidos pelo Estado brasilei-
geiro em contrato internacional, ro, respeitadas disposições es-
arguida pelo réu na contestação. Art. 27. A cooperação jurídica pecíficas constantes de tratado.
§ 1o Não se aplica o disposto internacional terá por objeto:
no caput às hipóteses de com- I – citação, intimação e no- Art. 32. No caso de auxílio di-
petência internacional exclusiva tificação judicial e extrajudicial; reto para a prática de atos que,
previstas neste Capítulo. II – colheita de provas e ob- segundo a lei brasileira, não ne-
§ 2o Aplica-se à hipótese do tenção de informações; cessitem de prestação jurisdicio-
caput o art. 63, §§ 1o a 4o. III – homologação e cumpri- nal, a autoridade central adotará
mento de decisão; as providências necessárias para
IV – concessão de medida seu cumprimento.
CAPÍTULO II – DA judicial de urgência;
COOPERAÇÃO V – assistência jurídica in- Art. 33. Recebido o pedido de
INTERNACIONAL ternacional; auxílio direto passivo, a autori-
VI – qualquer outra medida dade central o encaminhará à
Seção I – Disposições Gerais judicial ou extrajudicial não proi- Advocacia-Geral da União, que
bida pela lei brasileira. requererá em juízo a medida so-
Art. 26. A cooperação jurídi- licitada.
ca internacional será regida por Parágrafo único. O Ministé-
tratado de que o Brasil faz parte
Seção II – Do Auxílio Direto rio Público requererá em juízo
e observará: a medida solicitada quando for
I – o respeito às garantias do Art. 28. Cabe auxílio direto autoridade central.
devido processo legal no Estado quando a medida não decorrer
requerente; diretamente de decisão de auto- Art. 34. Compete ao juízo fe-
II – a igualdade de tratamento ridade jurisdicional estrangeira a deral do lugar em que deva ser
entre nacionais e estrangeiros, ser submetida a juízo de delibação executada a medida apreciar pe-
residentes ou não no Brasil, em no Brasil. dido de auxílio direto passivo que

277
Código de Processo Civil
demande prestação de atividade Art. 41. Considera-se autêntico ção de atividade profissional, na
jurisdicional. o documento que instruir pedido qualidade de parte ou de terceiro
de cooperação jurídica interna- interveniente, exceto as ações:
cional, inclusive tradução para a I – de recuperação judicial,
Seção III – Da Carta língua portuguesa, quando enca- falência, insolvência civil e aci-
Rogatória minhado ao Estado brasileiro por dente de trabalho;
meio de autoridade central ou por II – sujeitas à justiça eleitoral
Art. 35. (Vetado) via diplomática, dispensando-se e à justiça do trabalho.
ajuramentação, autenticação ou § 1o Os autos não serão re-
Art. 36. O procedimento da car- qualquer procedimento de lega- metidos se houver pedido cuja
ta rogatória perante o Superior lização. apreciação seja de competência
Tribunal de Justiça é de jurisdi- Parágrafo único. O disposto do juízo perante o qual foi pro-
ção contenciosa e deve assegurar no caput não impede, quando ne- posta a ação.
às partes as garantias do devido cessária, a aplicação pelo Estado § 2o Na hipótese do §  1o, o
processo legal. brasileiro do princípio da recipro- juiz, ao não admitir a cumulação
§ 1o A defesa restringir-se-á cidade de tratamento. de pedidos em razão da incom-
à discussão quanto ao atendimen- petência para apreciar qualquer
to dos requisitos para que o pro- deles, não examinará o mérito
nunciamento judicial estrangeiro TÍTULO III – DA daquele em que exista interesse
produza efeitos no Brasil. COMPETÊNCIA INTERNA da União, de suas entidades au-
§ 2o Em qualquer hipótese, tárquicas ou de suas empresas
é vedada a revisão do mérito do CAPÍTULO I – DA públicas.
pronunciamento judicial estran- COMPETÊNCIA § 3o O juízo federal restituirá
geiro pela autoridade judiciária Seção I – Disposições Gerais os autos ao juízo estadual sem
brasileira. suscitar conflito se o ente federal
cuja presença ensejou a remessa
Art. 42. As causas cíveis serão for excluído do processo.
Seção IV – Disposições processadas e decididas pelo juiz
Comuns às Seções nos limites de sua competência, Art. 46. A ação fundada em di-
Anteriores ressalvado às partes o direito reito pessoal ou em direito real
de instituir juízo arbitral, na for- sobre bens móveis será propos-
Art. 37. O pedido de cooperação ma da lei. ta, em regra, no foro de domicí-
jurídica internacional oriundo de lio do réu.
autoridade brasileira competente Art. 43. Determina-se a compe- § 1o Tendo mais de um do-
será encaminhado à autoridade tência no momento do registro ou micílio, o réu será demandado
central para posterior envio ao da distribuição da petição inicial, no foro de qualquer deles.
Estado requerido para lhe dar sendo irrelevantes as modifica- § 2o Sendo incerto ou des-
andamento. ções do estado de fato ou de di- conhecido o domicílio do réu, ele
reito ocorridas posteriormente, poderá ser demandado onde for
Art. 38. O pedido de cooperação salvo quando suprimirem órgão encontrado ou no foro de domi-
oriundo de autoridade brasileira judiciário ou alterarem a compe- cílio do autor.
competente e os documentos tência absoluta. § 3o Quando o réu não tiver
anexos que o instruem serão en- domicílio ou residência no Brasil,
caminhados à autoridade cen- Art. 44. Obedecidos os limites a ação será proposta no foro de
tral, acompanhados de tradução estabelecidos pela Constituição domicílio do autor, e, se este tam-
para a língua oficial do Estado Federal, a competência é deter- bém residir fora do Brasil, a ação
requerido. minada pelas normas previstas será proposta em qualquer foro.
neste Código ou em legislação § 4o Havendo 2 (dois) ou mais
Art. 39. O pedido passivo de co- especial, pelas normas de or- réus com diferentes domicílios,
operação jurídica internacional ganização judiciária e, ainda, no serão demandados no foro de
será recusado se configurar ma- que couber, pelas constituições qualquer deles, à escolha do au-
nifesta ofensa à ordem pública. dos Estados. tor.
§ 5o A execução fiscal será
Art. 40. A cooperação jurídi- Art. 45. Tramitando o proces- proposta no foro de domicílio do
ca internacional para execução so perante outro juízo, os autos réu, no de sua residência ou no
de decisão estrangeira dar-se- serão remetidos ao juízo federal do lugar onde for encontrado.
-á por meio de carta rogatória competente se nele intervier a
ou de ação de homologação de União, suas empresas públicas, Art. 47. Para as ações fundadas
sentença estrangeira, de acordo entidades autárquicas e funda- em direito real sobre imóveis é
com o art. 960. ções, ou conselho de fiscaliza- competente o foro de situação

278
Código de Processo Civil
da coisa. em que seja autor Estado ou o ração de dano sofrido em razão
§ 1o O autor pode optar pelo Distrito Federal. de delito ou acidente de veículos,
foro de domicílio do réu ou pelo Parágrafo único. Se Estado inclusive aeronaves.
foro de eleição se o litígio não re- ou o Distrito Federal for o deman-
cair sobre direito de propriedade, dado, a ação poderá ser proposta
vizinhança, servidão, divisão e no foro de domicílio do autor, no
Seção II – Da Modificação da
demarcação de terras e de nun- de ocorrência do ato ou fato que Competência
ciação de obra nova. originou a demanda, no de situ-
§ 2o A ação possessória imo- ação da coisa ou na capital do Art. 54. A competência relativa
biliária será proposta no foro de respectivo ente federado. poderá modificar-se pela conexão
situação da coisa, cujo juízo tem ou pela continência, observado o
competência absoluta. Art. 53. É competente o foro: disposto nesta Seção.
I – para a ação de divórcio, se-
Art. 48. O foro de domicílio do paração, anulação de casamento Art. 55. Reputam-se conexas
autor da herança, no Brasil, é o e reconhecimento ou dissolução 2 (duas) ou mais ações quando
competente para o inventário, a de união estável: lhes for comum o pedido ou a
partilha, a arrecadação, o cum- a) de domicílio do guardião causa de pedir.
primento de disposições de úl- de filho incapaz; § 1o Os processos de ações
tima vontade, a impugnação ou b) do último domicílio do ca- conexas serão reunidos para de-
anulação de partilha extrajudicial sal, caso não haja filho incapaz; cisão conjunta, salvo se um deles
e para todas as ações em que o c) de domicílio do réu, se já houver sido sentenciado.
espólio for réu, ainda que o óbito nenhuma das partes residir no § 2o Aplica-se o disposto no
tenha ocorrido no estrangeiro. antigo domicílio do casal; caput:
Parágrafo único. Se o autor d) de domicílio da vítima de I – à execução de título extra-
da herança não possuía domicílio violência doméstica e familiar, judicial e à ação de conhecimento
certo, é competente: nos termos da Lei no  11.340, de relativa ao mesmo ato jurídico;
I – o foro de situação dos bens 7 de agosto de 2006 (Lei Maria II – às execuções fundadas no
imóveis; da Penha); mesmo título executivo.
II – havendo bens imóveis em II – de domicílio ou residência § 3o Serão reunidos para jul-
foros diferentes, qualquer destes; do alimentando, para a ação em gamento conjunto os processos
III – não havendo bens imó- que se pedem alimentos; que possam gerar risco de pro-
veis, o foro do local de qualquer III – do lugar: lação de decisões conflitantes
dos bens do espólio. a) onde está a sede, para a ou contraditórias caso decididos
ação em que for ré pessoa ju- separadamente, mesmo sem co-
Art. 49. A ação em que o ausen- rídica; nexão entre eles.
te for réu será proposta no foro b) onde se acha agência ou
de seu último domicílio, também sucursal, quanto às obrigações Art. 56. Dá-se a continência en-
competente para a arrecadação, que a pessoa jurídica contraiu; tre 2 (duas) ou mais ações quan-
o inventário, a partilha e o cum- c) onde exerce suas ativi- do houver identidade quanto às
primento de disposições testa- dades, para a ação em que for partes e à causa de pedir, mas o
mentárias. ré sociedade ou associação sem pedido de uma, por ser mais am-
personalidade jurídica; plo, abrange o das demais.
Art. 50. A ação em que o incapaz d) onde a obrigação deve ser
for réu será proposta no foro de satisfeita, para a ação em que se Art. 57. Quando houver conti-
domicílio de seu representante lhe exigir o cumprimento; nência e a ação continente tiver
ou assistente. e) de residência do idoso, sido proposta anteriormente, no
para a causa que verse sobre processo relativo à ação contida
Art. 51. É competente o foro de direito previsto no respectivo será proferida sentença sem re-
domicílio do réu para as causas estatuto; solução de mérito, caso contrário,
em que seja autora a União. f) da sede da serventia nota- as ações serão necessariamente
Parágrafo único. Se a União rial ou de registro, para a ação de reunidas.
for a demandada, a ação poderá reparação de dano por ato prati-
ser proposta no foro de domicílio cado em razão do ofício; Art. 58. A reunião das ações
do autor, no de ocorrência do ato IV – do lugar do ato ou fato propostas em separado far-se-á
ou fato que originou a demanda, para a ação: no juízo prevento, onde serão de-
no de situação da coisa ou no a) de reparação de dano; cididas simultaneamente.
Distrito Federal. b) em que for réu administra-
dor ou gestor de negócios alheios; Art. 59. O registro ou a distri-
Art. 52. É competente o foro de V – de domicílio do autor ou do buição da petição inicial torna
domicílio do réu para as causas local do fato, para a ação de repa- prevento o juízo.

279
Código de Processo Civil
Art. 60. Se o imóvel se achar em sentido contrário, conser- IV – atos concertados entre
situado em mais de um Estado, var-se-ão os efeitos de decisão os juízes cooperantes.
comarca, seção ou subseção ju- proferida pelo juízo incompetente § 1o As cartas de ordem, pre-
diciária, a competência territorial até que outra seja proferida, se catória e arbitral seguirão o regi-
do juízo prevento estender-se-á for o caso, pelo juízo competente. me previsto neste Código.
sobre a totalidade do imóvel. § 2o Os atos concertados
Art. 65. Prorrogar-se-á a com- entre os juízes cooperantes po-
Art. 61. A ação acessória será petência relativa se o réu não derão consistir, além de outros,
proposta no juízo competente alegar a incompetência em pre- no estabelecimento de procedi-
para a ação principal. liminar de contestação. mento para:
Parágrafo único. A incompe- I – a prática de citação, in-
Art. 62. A competência deter- tência relativa pode ser alegada timação ou notificação de ato;
minada em razão da matéria, da pelo Ministério Público nas causas II – a obtenção e apresenta-
pessoa ou da função é inderro- em que atuar. ção de provas e a coleta de de-
gável por convenção das partes. poimentos;
Art. 66. Há conflito de compe- III – a efetivação de tutela
Art. 63. As partes podem modi- tência quando: provisória;
ficar a competência em razão do I – 2 (dois) ou mais juízes se IV – a efetivação de medidas e
valor e do território, elegendo foro declaram competentes; providências para recuperação e
onde será proposta ação oriunda II – 2 (dois) ou mais juízes preservação de empresas;
de direitos e obrigações. se consideram incompetentes, V – a facilitação de habilita-
§ 1o A eleição de foro só atribuindo um ao outro a com- ção de créditos na falência e na
produz efeito quando constar petência; recuperação judicial;
de instrumento escrito e aludir III – entre 2 (dois) ou mais VI – a centralização de pro-
expressamente a determinado juízes surge controvérsia acer- cessos repetitivos;
negócio jurídico. ca da reunião ou separação de VII – a execução de decisão
§ 2o O foro contratual obriga processos. jurisdicional.
os herdeiros e sucessores das Parágrafo único. O juiz que § 3o O pedido de cooperação
partes. não acolher a competência decli- judiciária pode ser realizado entre
§ 3o Antes da citação, a cláu- nada deverá suscitar o conflito, órgãos jurisdicionais de diferen-
sula de eleição de foro, se abusi- salvo se a atribuir a outro juízo. tes ramos do Poder Judiciário.
va, pode ser reputada ineficaz de
ofício pelo juiz, que determinará
a remessa dos autos ao juízo do CAPÍTULO II – DA LIVRO III – DOS SUJEITOS
foro de domicílio do réu. COOPERAÇÃO NACIONAL DO PROCESSO
§ 4o Citado, incumbe ao réu
alegar a abusividade da cláusula Art. 67. Aos órgãos do Poder TÍTULO I – DAS PARTES E
de eleição de foro na contestação, Judiciário, estadual ou federal, DOS PROCURADORES
sob pena de preclusão. especializado ou comum, em to-
das as instâncias e graus de ju- CAPÍTULO I – DA
risdição, inclusive aos tribunais CAPACIDADE PROCESSUAL
Seção III – Da Incompetência superiores, incumbe o dever de
recíproca cooperação, por meio Art. 70. Toda pessoa que se en-
Art. 64. A incompetência, ab- de seus magistrados e servidores. contre no exercício de seus direi-
soluta ou relativa, será alega- tos tem capacidade para estar
da como questão preliminar de Art. 68. Os juízos poderão for- em juízo.
contestação. mular entre si pedido de coope-
§ 1o A incompetência absolu- ração para prática de qualquer Art. 71. O incapaz será repre-
ta pode ser alegada em qualquer ato processual. sentado ou assistido por seus
tempo e grau de jurisdição e deve pais, por tutor ou por curador,
ser declarada de ofício. Art. 69. O pedido de cooperação na forma da lei.
§ 2o Após manifestação da jurisdicional deve ser prontamen-
parte contrária, o juiz decidirá te atendido, prescinde de forma Art. 72. O juiz nomeará curador
imediatamente a alegação de específica e pode ser executa- especial ao:
incompetência. do como: I – incapaz, se não tiver repre-
§ 3o Caso a alegação de in- I – auxílio direto; sentante legal ou se os interesses
competência seja acolhida, os II – reunião ou apensamento deste colidirem com os daquele,
autos serão remetidos ao juízo de processos; enquanto durar a incapacidade;
competente. III – prestação de informa- II – réu preso revel, bem como
§ 4o Salvo decisão judicial ções; ao réu revel citado por edital ou

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Código de Processo Civil
com hora certa, enquanto não for quando expressamente autori- objeto das medidas judiciais.
constituído advogado. zada;
Parágrafo único. A curatela IV – a autarquia e a fundação Art. 76. Verificada a incapacida-
especial será exercida pela Defen- de direito público, por quem a lei de processual ou a irregularidade
soria Pública, nos termos da lei. do ente federado designar; da representação da parte, o juiz
V – a massa falida, pelo ad- suspenderá o processo e desig-
Art. 73. O cônjuge necessitará ministrador judicial; nará prazo razoável para que seja
do consentimento do outro para VI – a herança jacente ou va- sanado o vício.
propor ação que verse sobre di- cante, por seu curador; § 1o Descumprida a determi-
reito real imobiliário, salvo quando VII – o espólio, pelo inven- nação, caso o processo esteja na
casados sob o regime de separa- tariante; instância originária:
ção absoluta de bens. VIII – a pessoa jurídica, por I – o processo será extinto,
§ 1o Ambos os cônjuges serão quem os respectivos atos cons- se a providência couber ao autor;
necessariamente citados para titutivos designarem ou, não ha- II – o réu será considerado
a ação: vendo essa designação, por seus revel, se a providência lhe couber;
I – que verse sobre direito real diretores; III – o terceiro será considera-
imobiliário, salvo quando casados IX – a sociedade e a associa- do revel ou excluído do processo,
sob o regime de separação abso- ção irregulares e outros entes dependendo do polo em que se
luta de bens; organizados sem personalidade encontre.
II – resultante de fato que diga jurídica, pela pessoa a quem cou- § 2o Descumprida a determi-
respeito a ambos os cônjuges ou ber a administração de seus bens; nação em fase recursal perante
de ato praticado por eles; X – a pessoa jurídica estran- tribunal de justiça, tribunal regio-
III – fundada em dívida con- geira, pelo gerente, representan- nal federal ou tribunal superior,
traída por um dos cônjuges a bem te ou administrador de sua filial, o relator:
da família; agência ou sucursal aberta ou I – não conhecerá do recur-
IV – que tenha por objeto o re- instalada no Brasil; so, se a providência couber ao
conhecimento, a constituição ou XI – o condomínio, pelo ad- recorrente;
a extinção de ônus sobre imóvel ministrador ou síndico. II – determinará o desentra-
de um ou de ambos os cônjuges. § 1o Quando o inventariante nhamento das contrarrazões, se a
§ 2o Nas ações possessó- for dativo, os sucessores do fale- providência couber ao recorrido.
rias, a participação do cônjuge cido serão intimados no processo
do autor ou do réu somente é no qual o espólio seja parte.
indispensável nas hipóteses de § 2o A sociedade ou associa- CAPÍTULO II – DOS
composse ou de ato por ambos ção sem personalidade jurídica DEVERES DAS PARTES E
praticado. não poderá opor a irregularida- DE SEUS PROCURADORES
§ 3o Aplica-se o dispos- de de sua constituição quando
to neste artigo à união estável demandada. Seção I – Dos Deveres
comprovada nos autos. § 3o O gerente de filial ou
agência presume-se autorizado Art. 77. Além de outros previstos
Art. 74. O consentimento pre- pela pessoa jurídica estrangeira neste Código, são deveres das
visto no art. 73 pode ser suprido a receber citação para qualquer partes, de seus procuradores e
judicialmente quando for negado processo. de todos aqueles que de qualquer
por um dos cônjuges sem justo § 4o Os Estados e o Distrito forma participem do processo:
motivo, ou quando lhe seja im- Federal poderão ajustar com- I – expor os fatos em juízo
possível concedê-lo. promisso recíproco para práti- conforme a verdade;
Parágrafo único. A falta de ca de ato processual por seus II – não formular pretensão
consentimento, quando necessá- procuradores em favor de outro ou de apresentar defesa quando
rio e não suprido pelo juiz, invalida ente federado, mediante convê- cientes de que são destituídas de
o processo. nio firmado pelas respectivas fundamento;
procuradorias. III – não produzir provas e não
Art. 75. Serão representados § 5o A representação judicial praticar atos inúteis ou desneces-
em juízo, ativa e passivamente: do Município pela Associação de sários à declaração ou à defesa
I – a União, pela Advocacia- Representação de Municípios so- do direito;
-Geral da União, diretamente ou mente poderá ocorrer em ques- IV – cumprir com exatidão as
mediante órgão vinculado; tões de interesse comum dos decisões jurisdicionais, de na-
II – o Estado e o Distrito Fe- Municípios associados e depen- tureza provisória ou final, e não
deral, por seus procuradores; derá de autorização do respectivo criar embaraços à sua efetivação;
III – o Município, por seu pre- chefe do Poder Executivo muni- V – declinar, no primeiro mo-
feito, procurador ou Associação cipal, com indicação específica mento que lhes couber falar nos
de Representação de Municípios, do direito ou da obrigação a ser autos, o endereço residencial

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