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ILDIACHAS GAELACH

UMA INTRODUÇÃO AO POLITEÍSMO GAÉLICO

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Angus mac Oisín
2017
“Três velas que iluminam qualquer escuridão: verdade, natureza e conhecimento.”
Tríade irlandesa.

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INTRODUÇÃO

Existe muita informação incorreta e citações obscuras em relação a religião dos


gaélicos, e dos celtas em geral. “Informações” criadas e forjadas pela imaginação e
romantismo de pessoas com pouco ou nenhum saber sobre o tema, propagando fantasias
com bases em obras de ficção e de autores que dominam qualquer outro assunto que não
seja a religião céltica. Por esse motivo, resolvi escrever este pequeno texto introdutório
acerca da religião gaélica reconstruída hoje, explicando de uma forma resumida e rápida
os temas e o porquê de se reconstruir a religião dos gaélicos, quem era esse povo e seus
princípios religiosos.

Em primeiro lugar, ao falarmos sobre os “celtas” hoje, estamos nos referindo a


uma designação dada à alguém que pertencia a alguma comunidade onde uma língua
céltica era falada, sendo, portanto, um termo “guarda-chuva” para um grupo de povos
que tiveram a mesma origem linguística, o Proto-Céltico ou o Céltico Comum (que por
sua vez surgiu do seu ancestral Indo-Europeu), e que compartilham similaridades entre
si: os gaélicos (irlandeses, escoceses e maneses), córnicos, bretões, gauleses, galeses,
etc. Contudo, o termo “celta” é uma denominação puramente moderna, dada pelo
estudioso galês Edward Lhuyd em 1770, ao descobrir que as línguas irlandesa,
escocesa, bretã, córnica e manêsa tinham uma relação com a língua supostamente falada
por algumas tribos que viviam mais ou menos ao norte da Grécia, a quem os gregos
chamaram de “Keltoi” e os romanos, de “Celtae”, “Galli” ou gauleses. Sendo assim, os
povos “célticos” como conhecemos hoje nunca se chamariam por esse título, podendo
ter existido provavelmente designações tribais que cada colônia dava para si.

O reconstrucionismo, de forma geral, é um movimento religioso e cultural que


busca reconstruir a religião pré-cristã de determinados povos, aos quais o
reconstrucionismo é dedicado. No caso do reconstrucionismo céltico, enfrentamos
algumas dificuldades em relação às outras religiões reconstruídas da Europa, uma vez
que, já que os antigos povos celtas não escreviam sobre suas crenças, muito de seu
conhecimento sobre eles e sobre sua fé se perdeu após uma ruptura com o passado
politeísta ocasionado pela chegada do cristianismo na Europa, e consequentemente, a
conversão destes povos.

A expressão “reconstrucionismo céltico” é um termo guarda-chuva, podendo


abranger todas as nações célticas, como os gaélicos, gauleses, galeses, bretões, etc., e
sendo assim, possui muitas ramificações dependendo do foco que o praticante adota em
seu culto, sendo o politeísmo/reconstrucionismo gaélico um desses exemplos, que é o
que trataremos nesse texto. O movimento foi idealizado por volta dos anos 80 por um
grupo de pessoas que queriam seguir uma religiosidade céltica mais “genuína” sem a
interferência de elementos ecléticos ou “New Age”. No entanto, ele só foi realmente
estabelecido em 1985, no Pagan Spirit Gathering, por um grupo de pessoas que
realizaram diversos workshops e debates sobre os temas célticos, e sete anos depois, em
1992, o termo foi cunhado pela primeira vez, sendo usado para diferenciar tais práticas
das tradições wiccanas ou de neo-druidismo em voga na época.

Ao escrever sobre o politeísmo gaélico, um dos “ramos” do reconstrucionismo


céltico, nossa tentativa é de criar um sistema religioso útil e aplicável aos nossos dias
modernos, através de estudos do que restou desses povos pré-cristãos, como a
arqueologia e relatos de autores romanos ao escreverem sobre os celtas (que podem,

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supostamente, serem aplicáveis também aos gaélicos), e materiais produzidos após a
conversão, como o folclore e a mitologia, registrada normalmente por monges cristãos
que colocou sua própria ótica sobre os mitos, fundindo histórias “pagãs” com
acontecimentos bíblicos, impregnando também os contos com um teor cristão; no
entanto, devemos ser gratos a eles, já que sem o seu trabalho, nunca teria chegado até
nós uma tradição literária irlandesa riquíssima que temos hoje. O folclore, no entanto,
apesar de “pertencer” à uma época muito posterior à conversão, reteve traços e
resquícios da cosmovisão e práticas ritualísticas esquecidas, sendo hoje uma fonte
importantíssima para a reconstrução de nossas práticas religiosas.

Muitos são os motivos para uma pessoa querer ingressar em uma religião que
deixou de ser praticada há mais de dois mil anos atrás – seja pelo interesse na mitologia
e pela cultura dos gaélicos ou pela descendência gaélica – o fato é que, desde os
primórdios do reconstrucionismo céltico, somos todos movidos por uma vontade latente
e sincera de cultuar os deuses que os antigos gaélicos cultuavam, adotar sua visão de
mundo e incorporar em nossas vidas e atividades diárias e rotineiras a sua ética,
sabedoria e seus costumes. Apesar de a religião gaélica ser para todos, nem todos são
para ela. O reconstrucionismo hoje está um estado muito incipiente e requer muito
trabalho para reconstruir uma religião que foi praticada há muito tempo antes do
cristianismo, e nem todos estão dispostos ou tem interesse nisso. A religião gaélica
requer estudo, dedicação às tradições culturais dos gaélicos e acima de tudo, um
profundo e sincero desejo de adotar os seus deuses como os nossos. E sendo assim,
espero suprir a todos com informações sobre essa religião, e como estou
profundamente ciente de que ninguém pode ditar ou falar pela religião, muito do que
falarei aqui é baseado no meu ponto de vista e observações de como a nossa fé vem
sendo praticada e observada pelos seus praticantes. Esperando que o texto a seguir
seja útil, cordialmente,

Angus mac Oisín,


21 de janeiro de 2017.

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A HISTÓRIA (RESUMIDA) DOS GAÉLICOS

Antes dos celtas chegarem na Irlanda, os povos pré-célticos habitavam lá, que
viviam em grupos agrícolas (cujos principais cereais cultivados eram o trigo e a cevada)
e pastorais (sendo bois, ovelhas e cabras os principais animais de pastoreio). De acordo
com uma teoria arqueológica, a primeira migração céltica (ou não) que chegou na
Irlanda foi na Idade do Bronze com um povo conhecido como Bell Beaker People
(“Povo da Taça de Sino”), chamados assim devido ao seu estilo de cerâmica que
lembrava um sino invertido. Além de sua peculiar forma de produção de cerâmica, eles
introduziram na Irlanda a metalurgia de metais leves, como o bronze. Foi então que a
Idade do Bronze começou na Irlanda, com o início da produção de artefatos em bronze,
como espadas, machados, utensílios de bebidas, etc. Como a Irlanda era rica em ouro,
diversos artefatos nesse metal também foram produzidos nesse período, como lúnulas e
braceletes. A Idade do Bronze na Irlanda começou por volta de 2.500 a.C. e terminou
em 500 a.C.

Quanto aos celtas propriamente ditos, acredita-se que sua origem remonta aos
indo-europeus, uma denominação linguística dada aos povos que viveram por volta dos
anos 5000 e 4000 a.C. em uma área entre o Mar Negro e o Mar Cáspio. Sua economia
era baseada no pastoreio e sua sociedade era dominada por uma classe bélica que dava
muita importância aos cavalos devido à necessidade que esses povos tinham de se
mover através desses animais por espetes vastas e abertas. Os indo-europeus entraram
na Europa em diferentes movimentos migratórios. Em um desses movimentos,
desenvolveu-se uma cultura em uma área ao sul da Alemanha que marcou a primeira
aparição dos celtas como um povo étnico diferente de seus ancestrais indo-europeus,
possuindo uma nova cultura e uma linguagem ligeiramente distinta de seus
antecessores. Estes celtas davam grande importância aos seus guerreiros e aos cavalos,
assim como seus antecessores, e abandonaram suas práticas funerárias originais (que
consistiam de enterros), adotando a cremação, colocando as cinzas dos mortos em urnas
que eram enterradas em cemitérios. Essa cultura foi denominada pelos arqueólogos
como “Campo de Urnas” (Urnfields) em decorrência dessa característica. Essa
sociedade avançou para grande parte da Europa ocidental, mas ainda não alcançaram à
Irlanda, que até então era habitada pelos povos pré-célticos, se aceitarmos a hipótese de
que o Bell Beaker People teve uma origem não céltica.

Por volta do ano 800 a.C., um novo movimento migratório de indo-europeus


chegou na Europa, e tal como seus antecessores, tinham uma forte ligação com cavalos
e eram pastores. Eles adquiriram a tecnologia do ferro e, junto de sua cavalaria,
desenvolveram uma superioridade militar sobre a Europa ocidental, estabelecendo um
controle sobre importantes rotas de comércio entre o Atlântico, tornando-os ricos. Com
essa riqueza, apareceram também as diferenças sociais devido ao surgimento das classes
de elite entre os chefes e guerreiros. Essa recém-nascida aristocracia espalhou seu
governo por boa parte da Europa central e ocidental, construindo fortalezas nos topos de
colinas, de onde espalhavam comunidades agrícolas e pastoreias. Essa cultura foi
chamada pelos arqueólogos de “Halstatt” em homenagem ao sítio arqueológico de
mesmo nome, localizado na Áustria, onde esses povos celtas construíram sua riqueza
também na produção de sal, que era abundante no local. Foi então nesse movimento
migratório que os celtas chegaram pela primeira vez (ou pela segunda vez, dependendo
da teoria...) na Irlanda, encontrando-se e fundindo-se com os povos pré-célticos da ilha,
dando início à Idade do Ferro que começou em 500 a.C. e durou até 400 d.C.

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Foi nessa época que foi introduzida na Irlanda uma língua céltica, sendo o mais
próximo que temos dessa língua antiga sendo o “Irlandês Primitivo”, que
posteriormente evoluiu para o “Irlandês Médio”, e este por sua vez deu origem ao
“Gaélico escocês” e o “Gaélico manês”. Foi com a introdução da língua céltica na
Irlanda que a cultura gaélica começou lá, se estendendo para a Escócia por volta do ano
200 d.C. ou 400 d.C., através do reinado de Dál Riata, localizado à oeste da Escócia e
ao norte da Irlanda. Antes da introdução da língua e cultura gaélica, a Escócia era
habitada por britônicos e pictos, cuja língua e cultura se originaram provavelmente da
língua e cultura britônica. Na Ilha de Man, a introdução da cultura gaélica se deu por
volta do século 5 d.C., através de migrações irlandesas. Antes disso, acredita-se que a
Ilha de Man era habitada por tribos britônicas que vieram da Grã-Bretanha. Assim,
quando nos referimos ao “povo gaélico”, estamos nos referindo ao povo da Irlanda,
Escócia e Ilha de Man – na Irlanda com a chegada da segunda onda migratória dos
povos da cultura de Halstatt, e na Escócia e Ilha de Man com a propagação da cultura
gaélica para esses dois países através de invasões irlandesas.

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ILDIACHAS GAELACH – O POLITEÍSMO GAÉLICO HOJE

O politeísmo gaélico é uma religião moderna inspirada na religião pré-cristã dos


povos célticos que ocuparam a Irlanda, Escócia e Ilha de Man – os gaélicos. Como o
nome sugere, é uma religião politeísta onde cada deus tem poder ou se manifesta através
de um fenômeno natural, incluindo as atividades humanas. Sendo assim, prestamos
culto e homenagens aos seus deuses dos gaélicos, adotamos a sua visão de mundo,
celebramos seus festivais e ocasionalmente, nos interessamos pela sua cultura e pelas
suas línguas. Enquanto que o termo “gaélico” se refere tanto a Irlanda, como a Escócia e
Ilha de Man, todas essas nações tem crenças, práticas e costumes diferenciados apesar
de sua cultura e língua terem se originado na Irlanda e compartilharem uma certa
similaridade. Assim, um politeísta normalmente adota um sistema de crenças em
particular, sendo as tradições irlandesas as mais comuns, e as de Man, as menos
comuns. Sem deixar de lado, é claro, as outras tradições – como já foi dito, pelo fato
delas terem tido uma origem comum, muitas lacunas em certas tradições podem ser
preenchidas com achados encontrados nas outras tradições.

Não sabemos como os gaélicos chamavam a sua religião, mas hoje, esta pode ser
chamada por muitos nomes, sendo “politeísmo gaélico” o mais comum. Outros podem
se referir à nossa crença como “reconstrucionismo gaélico”, apesar do termo
reconstrucionismo se referir mais à metodologia que usamos do que a religião em si.
Há ainda os termos Senistrognata (“Costume Antigo”, em proto-céltico), Ildiachas
Gaelach, ou simplesmente Ildiachas (“Politeísmo gaélico”, em irlandês), Ioma-
Dhiadhachd (“Politeísmo”, em escocês), Yljeeaghys (“Politeísmo”, em manês),
Paganachd (“Paganismo”, em irlandês) ou Fálachus (“Costumes de Fál”, em irlandês)
– enquanto que o primeiro termo seja mais abrangente ao politeísmo gaélico ou até
mesmo para o reconstrucionismo céltico em geral, os três seguintes são mais usados
quando o praticante tem um foco específico em suas práticas. O termo “paganismo” ou
“pagão” normalmente é evitado por alguns por fazer uma referência ao caráter
pejorativo que a Igreja Católica deu às pessoas que seguiam os costumes antigos, no
entanto, muitos ainda usam.

O aspecto mais fundamental da nossa religião é o politeísmo, isto é, a crença em


vários deuses. Nós acreditamos e cultuamos os deuses que os gaélicos pré-cristãos
cultuavam, prestando-lhes homenagens da forma como se acreditava que tais povos
antigamente faziam. Esses deuses normalmente têm poder ou se manifestam sobre
algum fenômeno natural ou atividade humana, como por exemplo, o Dagda que tem
poder sob o clima e as colheitas, Áine que é considerada ser uma deusa do sol,
Manannán que é dito ser o “filho do mar” e cujos cavalos são as próprias ondas do mar
ou Morrígan, que a deusa da guerra e da morte. Nós também somos animistas, isso quer
dizer que reconhecemos tudo na natureza sendo imbuída por um espírito ou uma
divindade – um animal, uma montanha, um rio. Essa crença animista está muito
presente na religião gaélica – e céltica, em geral – quando lemos as histórias de deusas
que se sacrificaram para “parir” rios, como as deusas Boand e Sinnan, por exemplo, que
personificam os rios Boyne e Shannon respectivamente. Por último, reconhecemos a
importância de nossos Ancestrais, os progenitores de nossas tribos e linhagens, a quem
honramos em nossos rituais ou em datas específicas, e sem os quais certamente não
estaríamos aqui.

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O símbolo mais conhecido no politeísmo gaélico e o que melhor representa é o
triskele, também conhecida como An Tríbis Mhór, a espiral tripla, e muitos praticantes
usam este símbolo para expressar e representar a sua fé, seja como cordão ou em uma
tatuagem, sendo, contudo, extremamente opcional o seu uso. Outros símbolos que um
praticante pode adotar para representar sua fé são letras ogham, símbolos pictos, a cruz
de Brigit, os famosos “entrelaçados célticos”.

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NEM, TALAM AGUS MUIR – A CRIAÇÃO DO MUNDO E A COSMOLOGIA
GAÉLICA

Não existiu, ou pelo menos não chegou até nós, um mito de criação gaélico
explicando a origem do mundo, o nascimento dos deuses, dos homens e o porquê das
coisas serem como são. Tal fato leva muitos praticantes e estudiosos a acreditarem que
o mundo não teve um início – ele sempre existiu, sendo moldado e transformado através
de forças divinas e humanas, cujas ações moldaram o mundo como o temos hoje, e
quando olhamos para os mitos de Boann e Sinann, por exemplo, ambas criando os rios
Boyne e Shannon, respectivamente, vemos alguns vestígios dessa teoria. Similarmente,
na Escócia temos diversas histórias da deusa Cailleach formando as montanhas e rochas
da paisagem escocesa, ao derramar terra e pedras de sua cesta, e na Ilha de Man, há
crenças similares de gigantes que derramaram pedras de suas cestas que deu origem aos
monólitos de hoje. Com isso, podemos ver que embora não tenha existido (ou,
novamente, não tenha chegado até nós...) um mito de criação “geral”, cada local terá a
sua própria história do porquê de sua paisagem ser como é, sendo moldado, criado e
transformado (e nomeado, em muitos casos) através de forças divinas. Muitas dessas
histórias, aliás, podem ser encontradas nos dindshenchas, um conjunto de lendas que
contam a origem dos lugares e o porquê de eles serem chamados como são.

Os antigos gaélicos viam o seu mundo dividido em três grandes reinos: a Terra,
o Céu e o Mar. Na mitologia frequentemente encontramos os três reinos sendo
mencionados em juramentos, sendo vistos como forças destrutivas que puniriam o
jurador caso ele quebrasse sua promessa, e em algumas fontes, estes três reinos são
vistos como formando toda a criação. A Terra (Talam) era o reino dos humanos e era
através dela que as deusas das planícies e dos rios se manifestavam, fornecendo-nos
fertilidade e abundância caso o governo do rei fosse justo e correto. O Mar (Muir) era o
reino de alguns deuses, e de acordo com o que algumas fontes atestam, o reino dos
ancestrais, e era onde se localizava as ilhas governadas por Manannan mac Lir, o deus
do mar, sendo o destino final daqueles que já se foram. Quanto ao Céu (Nem), os
registros gaélicos nos mostram que o Céu era visto principalmente como um meio
através do qual os presságios eram vistos – através dos pássaros, das nuvens, dos ventos
e de mudanças do clima; além disso, o Céu era um coordenador das atividades
humanas, com a Lua, por exemplo, mostrando as épocas propícias para certas práticas e
funcionando como um calendário para os antigos gaélicos que contavam seus meses
através das luas. Ao contrário de outras religiões politeístas da Europa que veem
algumas divindades habitando em um mundo acima do nosso, os deuses dos gaélicos
habitam ao nosso redor – na terra, nas árvores, nas rochas, nos rios e nos mares, e não
há nenhuma evidência de que alguma divindade habitasse o Céu, apesar de termos
deuses que se manifestam e têm poder sobre fenômenos celestiais, como o Dagda que
controlava o clima. O equilíbrio desses três reinos significava a ordem no mundo,
enquanto que o contrário era sinônimo de caos e destruição.

Assim como evidências arqueológicas e mitológicas sugerem, os gaélicos


reconheciam a existência de um “centro sagrado”, sendo representado por uma grande
árvore conhecida como Bile. Achados arqueológicos encontraram estruturas em
madeiras que podem ter sido usadas para representar simbolicamente tais árvores, e
consequentemente, o “centro sagrado”. Na Irlanda, dizia-se que estas árvores eram tão
grandes que poderiam abrigar uma tribo inteira e existiam cinco desse tipo no país,
mostrando-nos de certa forma que tais árvores não simbolizavam o “centro do mundo”

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propriamente dito, mas o centro de determinado local. Tais árvores eram teixos, freixos
e carvalhos, e segundo a mitologia, algumas delas podiam dar três tipos diferentes de
frutos. É provável que esse reconhecimento que os antigos gaélicos davam para tais
árvores seja um reflexo das crenças de outros países politeístas que viam uma grande
árvore cósmica como sendo o pilar que sustentava os mundos, como no politeísmo
nórdico e eslavo.

Existem evidências também que mostram que os gaélicos viam o macrocosmo –


o mundo – estando refletido no microcosmo – o homem – e vice versa, ao verem as
partes dos homens estando relacionadas com elementos naturais conhecidos como
“Duíle”, sendo: a terra representando o corpo (a carne, possivelmente), o mar como o
sangue, o sol como o rosto e o semblante, as nuvens sendo o pensamento, os ventos são
as respirações, as rochas são os ossos, o “Espírito Santo” sendo a alma dos homens e a
“Luz do Mundo”, a piedade. Estes elementos podem talvez refletir em um antigo e
perdido mito de criação, se compararmos com o caso nórdico do gigante Ymir sendo
desmembrado para criar o mundo através das partes de seu corpo.

Além desse mundo, os gaélicos reconheciam a existência de um outro,


conhecido em irlandês como An Saol Eile. O outro mundo era o reino dos espíritos e de
alguns deuses, sendo restrito aos humanos exceto em algumas ocasiões especiais –
quando alguém morria, quando um humano era raptado por uma criatura encantada ou
em certas épocas do ano (normalmente em Dias Trimestrais, como o Samhain e
Beltane). Lá, o tempo passava de forma diferente daqui, ou seja, os dias lá se passavam
como anos aqui, e há evidências que as estações no outro mundo eram o oposto das
estações daqui: se aqui é verão, lá é inverno. O outro mundo podia ser acessado através
de lugares liminares (como praias e fronteiras de territórios), através do mar, nas
profundezas de lagos e no interior de colinas.

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NA DÉITHE – OS DEUSES DOS GAÉLICOS

Muitos são os deuses que se acredita que foram cultuados pelos gaélicos. A
maioria das divindades são encontradas na Irlanda, tal como grande parte da informação
que dispomos sobre seus mitos e seu culto (quando existente). Acredita-se que o culto
de algumas divindades foi tão importantes para os antigos gaélicos que sua fama se
espalhou por todas as terras gaélicas, sendo Manannan mac Lir, Brigit e Cailleach, os
principais. Na Irlanda, por exemplo, Manannan mac Lir tem um lugar extremamente
especial, fornecendo para os deuses a imortalidade através do Banquete das Eras, tal
como na Ilha de Man, que leva seu nome, onde era visto como o rei da ilha, protegendo-
a de invasores e onde seu povo pagava o “aluguel” da ilha para ele em todo solstício de
verão; na Escócia, resquícios de seu culto são encontrados nas práticas folclóricas
associadas com uma entidade denominada “Shony”. Por outro lado, através das fontes
mitológicas e folclóricas que dispomos, podemos perceber que Cailleach tinha um
destaque maior na Escócia, onde era visto como uma divindade criadora, formando
lagos, montanhas e planícies e era tida como a mãe de uma tribo de gigantes chamados
“Fooar”, que pode ser um cognato com os Fomoire irlandeses como veremos mais
abaixo. No entanto, na Escócia em particular, existiam divindades que eram nativas à
paisagem local e não são encontradas em outras terras gaélicas, como Éiteag – uma
divindade tutelar do Lago Etive – e Tatha, a Silenciosa, associada com o Rio Tay.
Ambas as deusas, como podemos ver, possuem uma identidade extremamente local, não
fazendo então sentido de serem conhecidas em outros lugares além da Escócia.

Como dito acima, é na Irlanda que encontramos a maioria das informações sobre
os deuses, e em sua mitologia, notamos a existência de quatro principais tribos de
deuses, distintos entre si, travando grandes batalhas uns contra os outros ou casando-se
entre ele para formar alianças. São eles:

Os Tuatha Dé Danann, sendo a tribo que possui a maior quantidade de deuses


conhecidos e cultuados pelos politeístas gaélicos de hoje. Eles são descritos como
imortais através do Banquete das Eras providenciado por Manannan mac Lir, são
extremamente majestosos e belos e estão relacionados com a civilização, as artes e
atividades humanas, como a metalurgia, guerra e medicina, por exemplo. O nome da
tribo pode ter duas interpretações possíveis, sendo “A Tribo dos Deuses das Artes” a
mais provável, ou “A Tribo dos Deuses de Ána”, sendo Ána uma deusa da prosperidade
e a mãe de todos os deuses dessa tribo. Dagda, Brigit, Lugh, Morrígan, Nuada e Áine
são exemplos de Tuatha Dé Danann.

Os Fomoire possuem características diametralmente opostas aos Tuatha Dé


Danann, representando os aspectos mais sombrios e caóticos da natureza, como a
escuridão, a morte e o inverno. Apesar de serem vistos como inimigos dos Tuatha Dé
Danann, muitos membros de ambas as tribos casaram entre si gerando deuses
importantíssimos no panteão gaélico, como Dagda e Lugh, frutos dessas uniões
interclânicas. Os Fomoire foram os primeiros habitantes da Irlanda, antes de todas as
tribos de deuses chegarem lá, e travaram uma grande batalha contra os Tuatha Dé
Danann na planície de Moytura, onde foram derrotados. Eu realmente fiquei na dúvida
de incluir os Fomoire como uma tribo de deuses ou como uma classe diferente de seres,
já que sua grande maioria, se não todos, não são cultuados, apesar de Cailleach Bheur
(que na Escócia recebe o título de “Mae dos Fooar”, sendo Fooar uma palavra que pode
ser um cognato com a palavra irlandesa “Fomoire”) ser cultuada quando se deseja

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apaziguar uma tempestade ou pôr um fim no inverno. O nome da tribo pode ser
traduzido como “Aqueles que vieram debaixo do mar” ou “Os grandes do submundo”.
Balor, Ceithlenn, Elatha e Tethra são exemplos de Fomoire.

Os Fir Bolg são associados com aspectos ctônicos e agrícolas, sendo conhecidos
por transportar terra fértil em bolsas, com as quais para onde iam eram capazes de tornar
fértil e frutífera uma paisagem estéril e rochosa. Ao chegarem na Irlanda, eles
presenciaram a chegada dos Tuatha De Danann, com os quais também lutaram uma
grande batalha que ficou conhecida como ‘A Primeira Batalha de Moytura’, na qual
foram derrotados. O nome da tribo é traduzido como “Homens das Bolsas”, em
referências às bolsas que usavam para transportar terra. Tailtiu, Eochaid mac Eirc,
Genann e Rudraige são exemplos de Fir Bolg.

O Cland Miled foi a última tribo de deuses a invadir a Irlanda, e representam a


chegada do povo gaélico, do qual são os progenitores. Eles também são conhecidos
como “os filhos de Mil”, e partem em uma jornada para a Irlanda após um de seus reis
avistarem a ilha a partir de sua torre na Espanha. Ao chegarem na Irlanda, um de seus
reis é morto por três reis irmãos dos Tuatha Dé Danann – Mac Greine, Mac Cecht e
Mac Cuill – e eles decidem tomar a ilha por vingança, derrotando os Tuatha Dé Danann
na batalha conhecida como ‘A Batalha de Tailtiu’, obrigando-os a se retiraram para o
subsolo da Irlanda, mas até um pacto ser feito entre as duas tribos, os Tuatha Dé
continuaram azedando seu leite e arruinando suas plantações. Donn, Éber, Érimon e
Amergin são exemplos do Cland Miled.

Por último, vale a pena colocar também que, pela quantidade de deuses
existentes e pela falta de informação que se tem sobre muitos destes, cultuar todos eles
se torna uma tarefa difícil, e sendo assim, aceitamos a constatação de que “apesar de
todos os deuses serem respeitados, nem todos são cultuados”, e é importante lembrar
também que apesar de os deuses gaélicos serem os verdadeiros deuses para nós, não
estamos interessados em proselitismo e nem negamos a existência de deuses de outras
fés politeístas. Para não alongar muito nesta parte, sugiro a leitura do Anexo II – Déithe
para uma lista pequena com alguns dos principais deuses conhecidos e cultuados dentro
do Politeísmo gaélico.

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NA DAOINE MAITH – O POVO ENCANTADO

Não somos os únicos seres que habitam em nosso mundo. A Terra é


compartilhada por outros seres que interagem e moldam essa existência, e como tal, lhe
devemos respeito. O daoine maith, ou “O Bom Povo”, é uma classe de seres que
normalmente são vistos como sendo “espíritos da natureza”, com os quais interagimos e
respeitamos. São também conhecidos como Aes Síde, “O Povo dos Montes”, devido ao
fato da crença popular de que alguns deles habitam em montes ocos e encantados
conhecidos como síde ou síd, dependendo do local. No entanto, além das montanhas,
alguns tipos podem ser associados com árvores, poços, lagos, rios, planícies, rochas e
muitos outros elementos naturais que compõem o nosso mundo.

Existem muitas teorias sobre as origens dos daoine maith. Algumas tradições
apontam que eles são os antigos deuses Tuatha Dé Danann que foram expulsos para o
interior das colinas quando o Cland Miled chegou na Irlanda e os derrotou e outras
dizem que eles são os espíritos dos mortos que passaram a viver debaixo da terra e no
interior de montes funerários. Seja como for, ambas as teorias de fato contêm alguma
verdade, já que existem muitos deuses que carregam bastante características do Bom
Povo e são associados em muitos casos com eles, como Áine que se dizia viver dentro
de Kockaine, a colina que leva seu nome, e possuía a sua própria hoste de “fadas”.
Similarmente, existem muitas tradições que contam que pessoas que morreram
frequentemente são vistas entre as tropas do Bom Povo, especialmente em determinadas
épocas do ano (como no Samhain). Muitas crenças folclóricas também alegam que a
alma dos mortos se retira para o interior das colinas para se juntarem aos seus
ancestrais, mas enquanto alguns mortos podem ser apontados como se tornando parte do
Bom Povo, nem todos do Bom Povo são necessariamente mortos, conforme alguns
registros apontam.

O Bom Povo possui uma hierarquia própria, sendo governados por reis e
rainhas, e possuem seus próprios objetivos e estilos de vida, e assim, diferente do que se
pode imaginar, nem todos são vistos como sendo benevolentes aos humanos ou
interessados em suas atividades. Enquanto algumas criaturas são visivelmente benéficas
para os seres humanos e suas atividades, como o manês Phynodderee que realiza
algumas atividades pastorais para os humanos, como vigiar e guardar ovelhas, e o
Brownie escocês, que realiza tarefas domésticas para a dona de casa se for bem tratado,
outros possuem uma natureza visivelmente maligna, como o Púca irlandês, que faz
travessuras para os humanos na noite do Samhain ou o Each-uisge escocês, que se
transformam em cavalos, e ao serem montados por humanos, os conduzem até as
profundezas de um lago, matando-os.

Tendo em mente que muitos desses espíritos são associados com lugares
específicos e determinadas paisagens, alguns deles são seres extremamente locais,
estando associados à uma localidade em particular, não sendo encontrados em outras
regiões, como é o caso dos Homens Azuis de Minch, que são encontrados em um
estreito do mar entre a Ilha de Lewis e as Ilhas Shant, e são famosos por afundar navios
e marinheiros. Essa questão se torna um pouco complicada para aqueles de nós que
vivem na Diáspora, ou seja, que não moram na Irlanda, Escócia ou Ilha de Man. Apesar
de sermos politeístas gaélicos e cultuarmos deuses e espíritos que são gaélicos, os
deuses e espíritos que encontramos aqui não são. Tendo isso em mente, devemos levar
em consideração as tradições locais que lidem com esses espíritos, respeitando as suas

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próprias crenças e práticas ao fazermos oferendas para honrá-los ou apaziguá-los, assim
como a tradição gaélica nos conta sobre a prática de fazer oferendas aos espíritos locais
quando nos mudamos de residência, de forma a conhecermos e demonstrarmos respeito
para os espíritos daquele novo local. Seja como for, tenhamos em mente de que antes de
chegarmos, estes espíritos já estavam aqui, e para eles, os forasteiros somos nós.

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NA FÉILTE – O ANO FESTIVO DOS GAÉLICOS

Antes de começar a discutir sobre os festivais celebrados na antiga religião


gaélica, precisamos entender como os gaélicos viam as divisões de seu ano. Na tradição
irlandesa, o ano era dividido em duas grandes partes conhecidas como a “metade clara”,
abrangendo os meses de primavera e verão e sendo regida pela deusa Áine, que
representava o esplendor do verão, e a “metade escura”, abrangendo os meses de outono
e inverno, sendo regida pela deusa Grían, irmã de Áine e deusa do sol fraco do inverno.
Ao contrário do que se pode imaginar, não há registros de que essas duas deusas
assumem um papel dualístico, uma contra a outra; pelo contrário, imagina-se que haja
uma relação de interação e troca, assim como o dia precede a noite e o verão precede o
inverno, sendo então duas forças complementares e sem as quais o cosmo seria caótico
e desordenado. Por outro lado, os gaélicos escoceses acreditavam que essas duas partes
do ano eram governados por duas deusas – Cailleach e Brìde – que, enquanto algumas
tradições a viam sendo as mesmas deusas, outras a viam como sendo rivais. Cailleach, a
deusa do inverno e do frio, aprisionava Brìde em sua montanha na metade escura do
ano, que os escoceses chamavam de “o período do Pequeno Sol”, e Brìde era liberta na
metade clara do ano para iniciar o seu reinado no “período do Grande Sol”.

Existem oito festivais no total que são celebrados pela maioria dos politeístas
gaélicos, e desses oito, apenas quatro temos a certeza de que são celebrados por todos,
já que possuem uma origem incontestavelmente gaélica e foram celebrados
supostamente por todas as nações gaélicas, possuindo também equivalentes em outras
nações célticas, sendo eles: Samain, Oímelc, Beltine e Lugnasad. Estes quatro festivais
representavam o início de cada estação e eram conhecidos como os “Dias Trimestrais”,
já que como o nome sugere, eram celebrados de três em três meses.

Os outros, no entanto, acredita-se que tenham uma origem nórdica ou anglo-


saxônica, já que não há menções sobre eles na mitologia ou em outros registros
literários irlandeses, e consequentemente, muitos não os celebram por esse motivo.
Além disso, essas datas caem próximo ou na data de solstícios e equinócios, e apesar de
não haver uma evidência direta de que os antigos gaélicos celebravam essas importantes
datas astronômicas, é inegável que tais datas possuíam uma certa importância para eles,
já que muitos monumentos pré-célticos estão alinhados com a chegada das estações,
como o Loughcrew – que tem suas passagens e tumbas alinhadas com o nascer do sol
dos equinócios – e o Newgrange – com suas passagens e tumbas alinhadas com o nascer
do sol do solstício de inverno. Celebrar ou não estes festivais, no entanto, é uma escolha
inteiramente do praticante ou do grupo ao qual ele faz parte. O calendário religioso,
então, é o que se segue abaixo:

1º de novembro – Samain: É a primeira festa do nosso calendário religioso, sendo o


dia do ano novo para muitos praticantes. Ele marca a chegada do inverno no hemisfério
norte, e por ser um dia limiar – não pertencendo nem a este ano nem ao outro – as
fronteiras do outro mundo estavam acessíveis de ambos os lados, fazendo com que
espíritos e seres do outro mundo pudessem transitar para lá e cá livremente. É a
celebração dos mortos e dos nossos ancestrais, que eram lembrados nessa época do ano.

21-22 de dezembro – Meán Gheimhridh: É o dia do solstício de inverno no hemisfério


norte e a noite mais escura do ano. Nesta época, Cailleach estava mais poderosa e

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homenageia-se Grían em seu reinado invernal. Os mortos também são lembrados nessa
festa.

1º de fevereiro – Oímelc: Marca o início da primavera no hemisfério norte e a chegada


da deusa Brigit que foi liberta da montanha de Cailleach. Acredita-se que nesse dia a
própria deusa até o nosso mundo para abençoar as casas e seu povo, e um lugar na mesa
e próximo da lareira era reservado para ela. Na Escócia, uma efígie em forma de
serpente era destruída para simbolizar o fim do inverno e do frio.

21/22 de março – Latha na Cailleach: É o dia do equinócio de primavera e representa


a despedida de Cailleach, que após inúmeras tentativas de prolongar seu reinado, vai
para sua montanha e adormece até o final do verão, ou, segundo outras tradições, bebe
da fonte da juventude e vira uma donzela novamente, envelhecendo até o outono. Na
Irlanda, a deusa Sheela-na-Gig é comemorada em uma data próxima, 18 de março,
caminhando com seu vestido branco (uma metáfora para a neve), causando ferozes
tempestades no mês de março.

1º de maio – Beltine: Representa a chegada do verão e é uma celebração do seu poder.


Grandes fogueiras eram acesas para simbolizar o poderio solar e usadas para purificar o
gado e as pessoas. O orvalho e a água dos poços tirados na manhã do festival tinha uma
propriedade curativa, e na Irlanda, pequenos arbustos eram decorados coloridamente
para representar o esplendor da estação.

21/22 de junho – Ghrianstad an tSamhraid: É o dia do solstício de verão e representa


o dia mais longo do ano. Grandes fogueiras eram acesas para representar o poder do sol
que estava em seu ponto máximo, e todas as ervas tinham uma especial propriedade
mágica nesse dia. Na Irlanda, homenageava-se a deusa Áine, e na Ilha de Man,
homenagens eram feitas para Manannan mac Lir – o deus do mar, e rolavam rodas de
fogo dos picos dos morros, para simbolizar que da mesma forma que o sol atingia seu
pico, agora ele começava a declinar.

1º de agosto – Lugnasad: O festival foi criado pelo próprio deus Lugh – o deus de
muitas artes – em homenagem à sua mãe adotiva, Tailtiu – uma deusa agrícola – que
morreu de exaustão após tirar toda a vegetação de uma planície para torná-la apropriada
para o cultivo. No hemisfério norte, é comemorado nessa data o início do outono e da
temporada da colheita, e no passado, grandes feiras eram realizadas, onde aconteciam
corridas, jogos, vendas e banquetes.

21/22 de setembro – An Clabhsúr: É o segundo festival da colheita e cai próximo ou


no dia do equinócio de outono. O festival celebrava qualquer tipo de colheita e era
marcado principalmente por banquetes, danças e narrativas de histórias. Na Ilha de
Man, uma efígie na forma de mulher era feita com os últimos feixes de grãos colhidos,
assim como na Irlanda. O festival também celebra os mortos e na Escócia, os túmulos
dos ancestrais eram visitados.

Data móvel em todos os meses – Gealach Úr: Além dos festivais celebrados acima,
todos os meses os politeístas gaélicos fazem celebrações à Lua Nova, conhecida em
escocês como Gealach Úr. Os dias de lua nova representam o início de um novo mês e
muitos realizam ritos de purificação nesses dias.

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Como devem ter observado, todas as datas que coloquei aqui foram baseadas no
calendário do hemisfério norte, que possui as estações inversas as do hemisfério sul –
quando é verão lá, aqui é inverno. Existem muitos argumentos para celebrar os festivais
em suas datas originais ou em datas invertidas para se adaptar ao nosso hemisfério, e
como tal, fica a critério do praticante.

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VALORES E ÉTICA DE UM POLITEÍSTA GAÉLICO

Não existe o equivalente de uma lista de coisas que “você deve fazer” ou de que
“você não deve fazer”, mas existem valores morais que normalmente são adotados por
todos. Tais valores não são encontrados em um único texto como as máximas délficas
do Hellenismos, por exemplo, mas em diversos textos de instruções, tríades e sabedoria,
e muitos desses valores morais são massivamente influenciados pelas atitudes esperadas
que um rei ou guerreiro adote, como “As Instruções de Cormac” ou “As Tríades da
Irlanda”, por exemplo. A partir destes muitos textos, podemos traçar alguns valores que
todo politeísta gaélico normalmente aspira, delineados pela historiadora Annie
Loughlinn em seu artigo “Values” (que está disponível no Anexo IV – Links):

 Enech, a honra e o comportamento adequado


 Gart, a generosidade
 Nert, a força (não apenas no sentido de força física)
 Gaís, a sabedoria
 Breth, o bom julgamento
 Éolus, o conhecimento
 Mes, o discernimento
 Ecna, a iluminação através da sabedoria
 Bés, a observância e manutenção dos costumes e tradições
 Fír, a verdade
 Ordan, a dignidade
 Tairisiu, a lealdade e a fidelidade
 Indracus, o valor e a integridade
 Córae, a retidão
 Subaltaige, as virtudes
 Súan, a moralidade
 Cert, a forma correta de fazer algo
 Díaninim, o estado de se estar imaculado (em um sentido moral)

Para os antigos gaélicos, quando estes valores não eram praticados, sérias
consequências se abatiam sobre a pessoa e até mesmo para a comunidade. Quando uma
transgressão era feita, a pessoa era despida de sua honra, satirizada e muitas vezes era
obrigado a se retirar de sua comunidade, já que uma pessoa sem honra é uma pessoa que
deve ser evitada – eles não poderiam mais ter terras ou propriedades, fazer negócios e
não tinham mais voz dentro de sua tribo. Sendo assim, procuramos nos comportar
dentro desses valores morais, nos portando de forma correta para nossa comunidade,
para aqueles que nos cercam e dando honra aos Deuses. Hoje, quando muito da honra e
da verdade já se perdeu, quando mulheres são agredidas e desrespeitadas, quando
homossexuais são perseguidos por amarem e serem quem são, quando negros são
desrespeitados pela cor de sua pele ou estrangeiros são ridicularizados por sua
nacionalidade e cultura, estes valores são mais necessários do que nunca.

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TRANSMUTAÇÃO, REENCARNAÇÃO OU IMORTALIDADE – E DEPOIS
QUE MORREMOS?

Não há um consenso sobre o que acontece quando morremos e o que nos espera
do outro lado. Existem vestígios de que a reencarnação possa ter sido uma crença
comum entre os celtas gauleses, a partir dos registros de comentadores romanos que
escreveram sobre eles, e assim, pressupõe-se que seja uma crença comum à todas os
povos celtas, o que inclui os gaélicos. Na literatura irlandesa, há alguns exemplos que
dá suporte à esta crença, como na história de Tuan mac Carril, que após envelhecer em
sua forma humana é transformado em um veado, um javali, um falcão e um salmão
(sendo transformado sempre quando envelhece e está perto da morte), que é pescado e
consumido pela rainha de Ulster e “reencarna” como seu filho, lembrando-se de todas as
suas vidas passadas. A deusa Étaín, de forma parecida, é transformada em um inseto,
que cai no copo de uma rainha que engravida, e dá a luz à Étaín novamente. Similar ao
conto de Tuan, o príncipe Mongán mac Fiachna em uma história conta para S. Columba
as suas lembranças da época em que ele viveu na forma de um veado, de um salmão, de
uma foca, de um lobo e de um outro humano, e curiosamente em outro conto, diz-se que
Mongán mac Fiachna é a reencarnação do guerreiro fianna Finn mac Cumhail. Apesar
de tudo isso, no entanto, alguns praticantes não creem na reencarnação e tendem a ver
tais mitos (com exceção da história de Mongán) mais como um processo de
metamorfose do que como uma reencarnação propriamente dita.

Além da reencarnação, existe a crença de que os mortos vão para a Casa de


Donn, ou Tech Duinn, com Donn sendo o deus dos mortos e supostamente, o ancestral
dos gaélicos. Dependendo das fontes, a Casa de Donn pode ser vista como um local
permanente para onde os mortos vão (como no Helheim da crença nórdica) ou como um
local temporário, onde os mortos vão para receber as bênçãos de Donn e partir para uma
outra viagem (reencarnando, talvez?). Em uma tradição mais local, acredita-se no
Condado de Limerick, Irlanda, que Donn entretém os mortos em seus salões dentro de
Knockfierna, a sua colina que leva o nome do deus. Tal como esse exemplo de que os
mortos vão para o interior da colina de Donn, há ainda outros vestígios de que a alma
dos que já se foram vão para as colinas se juntar aos seus ancestrais, que de acordo com
algumas tradições, são na verdade o Povo do Sídhe. Alternativamente, o folclore gaélico
também menciona Tír na nÓg, a Terra dos Jovens, como um destino final para onde os
mortos viajavam e cujo percurso poderia ser visto em noites enluaradas. Por último, há
ainda uma tradição irlandesa que vê os espíritos dos mortos tomando a forma de
pássaros.

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RITOS, ORAÇÕES E OFERENDAS – A PRÁTICA DENTRO DO
POLITEÍSMO GAÉLICO

Existem muitos vestígios de práticas que foram realizadas pelos antigos gaélicos
para honrar seus deuses e os espíritos locais. Enquanto temos alguns desses vestígios e
uma informação ou outra aqui ou ali, não chegou até nós um modelo litúrgico com o
qual os gaélicos pré-cristãos realizavam seus rituais e a forma como faziam suas
oferendas. Contudo, a arqueologia nos mostra diversas oferendas encontradas em lagos,
poços e rios, veneração de árvores e locais sagrados, e o folclore nos conta de oferendas
sendo feitas para os espíritos locais serem apaziguados ou homenageados. Contudo,
antes de começar a falar sobre a parte prática da religião, saiba que o politeísmo gaélico
não é uma religião dogmática – isto é, que se prende a dogmas que são vistos como
verdades indiscutíveis e absolutas. Sendo assim, muito do que será dito aqui são apenas
sugestões baseadas em achados e costumes antigos encontrados principalmente no
folclore, e não quer dizer que todos os praticantes fazem desta forma, mas alteram uma
coisa ou outra que julgarem apropriado.

Os registros nos contam que rituais eram realizados pelos gaélicos para inúmeras
finalidades, como ritos de purificação, ritos de semeadura e colheita, ritos de cura, ritos
de divinação, ritos para honrar deidades e/ou apaziguá-las em tempos de crise e
necessidade, ritos para conceder bênçãos e boa sorte em alguém, e muitos outros. Como
dito acima, não chegou até nós a forma como os gaélicos realizavam estes rituais, temos
apenas vislumbres que nos mostram alguns fragmentos de temas que supostamente
eram encontrados na realização destes ritos, como o reconhecimento dos três reinos, a
crença em um centro sagrado (para estes dois temas, veja a parte de Cosmologia, mais
acima), ignição de uma chama sagrada, banquetes, movimentos e deambulações
circulares no sentido horário, o oferecimento de presentes (oferendas, como veremos
abaixo), e alguns outros temas. Com isso, hoje a nossa estrutura litúrgica segue mais ou
menos a seguinte ordem, havendo variações dependendo do praticante e do grupo: o rito
se inicia com um reconhecimento dos três reinos, normalmente é precedida a ignição de
uma chama sagrada (em rituais abertos, é onde as oferendas são depositadas), oferendas
aos espíritos locais, ancestrais e deuses, honras e oferendas aos deuses homenageados
no ritual, despedidas e um banquete onde todo o grupo participa (esse, obviamente,
sendo mais comum em ritos em grupo). A ordem, é claro, não é rígida e muitas dessas
partes podem ser omitidas e outras, acrescentadas, a depender do praticante e do grupo,
conforme já mencionado.

O motivo de fazermos orações aos deuses, espíritos locais e aos nossos


ancestrais não é muito diferente de outras religiões politeístas – usamos a oração para
nos conectarmos com eles, pedir suas bênçãos, agradecer pelo nosso dia e pela nossa
refeição, ou quaisquer outros motivos particulares de cada indivíduo. Não existe uma
oração padrão, rígida e que deve ser seguida a todo o custo em qualquer cerimônia ou
ritual, como muitas existentes no cristianismo, ao invés disso, deixamos as palavras
fluírem com o calor do momento, expressando os nossos mais sinceros desejos através
delas quando falamos com os deuses. Muitas das orações que vemos por ai são nada
mais que exemplos para criarmos nossas próprias orações e servir como base para nós;
contudo, é claro, nada nos impede de pegarmos orações prontas e usarmos em nossos
rituais ou em nosso cotidiano – não são as palavras organizadas que importam em uma
oração, mas o seu desejo mais honesto. Além disso, fazemos orações também para
honrarmos o sol, a lua, as estrelas, o trovão, a terra, o céu, o mar, as árvores, planícies e

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quaisquer outros elementos naturais que quisermos louvar. Muitas orações desse tipo
podem ser encontradas em uma obra conhecida como “Carmina Gadelica”, que é um
compêndio de orações, hinos e bênçãos registradas oralmente nas Terras Altas da
Escócia que, apesar de conter elementos visivelmente cristãos, contém resquícios de
uma genuína fé politeísta, nos mostrando vislumbres de crenças e práticas pré-cristãs.

As oferendas, de uma maneira bem resumida, funcionam como uma forma de


“um presente por um presente”, sendo em muitos casos, uma espécie de acordo. A
primeira forma de acordo desse tipo que vemos na mitologia é quando após serem
derrotados, os Tuatha Dé Danann azedam o leite e destroem as plantações dos filhos de
Mil (o Cland Miled), até o Dagda fazer um acordo com Eremon, o rei do Cland Miled, e
em troca da paz que os Tuatha Dé Danann lhe dariam, o Cland Miled teria que dar uma
parte de suas colheitas e do seu leite produzido pelas vacas. Assim, podemos ver que as
oferendas é normalmente um sinônimo de reciprocidade – não é uma questão de “só te
dou, se tu me dar”, e sim da mesma forma que os deuses são dignos de nos dar algo,
somos dignos de dar algo para eles também. No entanto, podemos fazer uma oferenda
sem necessariamente pedir nada aos deuses, apenas por honrá-los e querer prestar-lhes
uma homenagem ou presenteá-los com algo que é querido para nós. Hoje, como no
passado, essas ofertas são tradicionalmente queimadas em uma fogueira, atirada em
buracos na terra e enterradas ou colocadas em poços, rios, ou outros corpos hídricos, de
forma que este item “morra” nesse mundo para que possa renascer no outro e ser
recebido pelos deuses e pelos espíritos. Quando isto não for possível, as oferendas
podem ser colocadas próximos de árvores, arbustos, rochas ou, como é a realidade para
muitos de nós hoje em dia, deixarmos simplesmente em nossos altares e nos livrarmos
após algum tempo. É importante salientar também que, diferente de outras religiões
politeístas, estas ofertas jamais podem ser consumidas após terem sido feitas, tanto por
animais humanos como por animais não-humanos, uma vez que a sua essência (a
toradh) é retirada pelos deuses/espíritos, restando apenas compostos inapropriados para
o consumo. Por último, algumas ofertas são bem conhecidas especialmente no folclore,
como leite, manteiga, pão, queijos, mel, grãos, flores, frutas, carne animal, ovos,
trabalhos em metal ou madeira, panos e fitas, poesias, chamas de velas, canções,
moedas, cerveja, hidromel, receitas culinárias tradicionais dos gaélicos, dentre outras
coisas. Enquanto que essas oferendas são vistas como sendo “tradicionais” para todos os
deuses e espíritos, há evidências de que certas divindades tinham preferências por
oferendas específicas, como Dagda que é conhecido pelo seu apetite por mingau ou
Manannan que tinha um gosto muito grande por amoras. Junto com as orações, as
oferendas são a melhor forma de se começar a praticar a religião gaélica. Para ter dicas
práticas e exemplos de como fazer oferendas e orações, veja o Anexo VI – Um guia
simples para a prática de iniciantes.

Eu não poderia encerrar esse capítulo sem falar em uma prática, através da qual
muitos chegam até aqui, que é a magia. A prática de magia é bastante comum dentro do
Politeísmo gaélico, mas não é o aspecto principal da nossa religião. Tradicionalmente,
os encantamentos eram feitos para atrair boa sorte, curar pessoas e o gado, extrair
propriedades “mágicas” de determinadas ervas, atrair um amor, ou encontrar objetos
perdidos (se considerarmos a divinação como um processo “mágico”). Apesar de não
termos nada que regulamente tais práticas, muitos de nossos valores morais orientam
não só nossa atitude em relação à sociedade, mas também nesse tipo de trabalho, e a
mitologia nos fornece diversos exemplos de personagens que usaram magia para
propósitos negativos ou injustos e que consequentemente tiveram fins trágicos. Como

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no passado existiam títulos apropriados para aqueles que trabalhavam com o que hoje
chamamos de “magia” (como bean feasa e fear feasa, “mulher/homem do
conhecimento”, sempre associados com a cura, conhecimento de ervas e adivinhação),
normalmente evitamos o título de “bruxa/bruxo” assim como o termo “bruxaria” para
descrever nossas práticas mágicas, visto que não faz jus à totalidade delas e por já
existirem termos próprios para tal (assim como o Asatrú tem o seidr ou galdr), além de
frequentemente esse termo ter sido usado para designar práticas mágicas maliciosas
dentro de todas as tradições gaélicas, como provocar um clima ruim, adoecer o gado e
pessoas, lançar o mau olhado ou destruir as plantações, por exemplo. Deve-se deixar
claro, no entanto, que nenhum de nós tem o poder de ditar como alguém deve se
intitular, apenas sabemos que existem termos específicos que definem melhor as nossas
práticas que chamamos de “mágicas” e nomear tais praticantes envolvidos com tal
dentro de uma abordagem reconstrucionista, visto que a tradição gaélica dos “homens e
mulheres do conhecimento” ainda vive em áreas falantes de gaélico, e chamar nossas
práticas mágicas de bruxaria seria um insulto a essas tradições vivas.

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DRUIDAS, POETAS, VIDENTES E CURANDEIROS – CAMINHOS E ATRIBUIÇÕES

Nem todo politeísta gaélico é um sacerdote (ou um druida, na crença popular),


assim como nem todo católico é padre. De acordo com os registros sobre os gauleses,
sabemos que existiam três tipos de sacerdotes entre os celtas da Gália – o druida, o vate
e o poeta – e na Irlanda encontramos três categorias equivalentes: o druí, o fáith e o fili,
respectivamente. Historicamente, os druí eram os filósofos da natureza e da ética, os fili
são os cantores sagrados e os poetas e os fáith são os responsáveis pelo culto e estudam
a natureza. É importante frisar que o politeísmo gaélico não possui uma estrutura de
clero organizada e essa divisão não é aceita por todos, já que são mais utilizados por
grupos de neodruidismo que tendem a não considerar conceitos históricos e atestados
através da história ou arqueologia, baseando-se principalmente em especulações e
materiais duvidosos. No entanto, há muitos caminhos que poderíamos considerar como
“sacerdotais” (no meu ponto de vista), mas que podem variar dentro de determinados
grupos, como por exemplo:

 Curandeiros – sobreviveram na tradição popular e folclórica até os dias de hoje.


Manipulam ervas e têm conhecimento da medicina folclórica gaélica.
Normalmente também possuem atribuições do “vidente”, usando sua
clarividência para diagnosticar doenças e conectar-se com o outro mundo para
buscar o conhecimento de como curar.

 Videntes – também sobreviveram na tradição popular gaélica até os dias atuais.


Também podem possuir as atribuições do “curandeiro”. São aqueles que
possuem a clarividência ou, segundo a tradição gaélica, “a segunda visão” – a
habilidade de prever o futuro, interpretar presságios e descobrir o paradeiro de
pessoas desaparecidas e/ou objetos perdidos através de métodos oraculares e
divinatórios tradicionais dos gaélicos.

 Poetas – são os mantenedores da tradição. Conhecem os mitos, as histórias do


povo e as genealogias de reis e rainhas, e são os responsáveis pelas
orações/hinos/poesia de um ritual. Espera-se normalmente que saibam (mesmo
que não fluentemente) alguma língua gaélica, e podem usar algumas habilidades
dos videntes para receber inspiração sobrenatural.

 Druidas – os líderes religiosos. Sua tradição morreu com o último druida, e


como tradicionalmente levava-se anos para uma pessoa se tornar um, é
normalmente mais um título que você obtém dos outros do que algo com o qual
você se intitula. Historicamente, são especialistas em vários assuntos, como
legislação, história e direito, incluindo os já citados acima. Hoje, são os
responsáveis pela condução dos ritos e pela realização das oferendas em ritos
comunitários, se estiver presente.

As funções acima podem se aglutinar ou se separar, ou até mesmo cada um realizar


uma atividade específica dentro do rito sem necessariamente sentir necessidade de ser
chamado por algum título em especial.

Dentre os “caminhos” não sacerdotais dentro do politeísmo gaélico, a grande


maioria dos praticantes realizam um culto doméstico privado (onde normalmente o (a)
chefe(a) de família conduz as cerimônias), enquanto que outros podem se sentir atraídos
23
pelas artes marciais gaélicas e seguir o caminho do guerreiro, devotando-se à divindades
bélicas como Morrígan ou Badb. Os artesãos podem se sentir atraídos pelas artes
gaélicas e serem devotos de deuses artífices como Goibniu e Luchtaine, por exemplo.
Não tem como dizer como cada um se comporta dentro da nossa fé pois as estruturas
sacerdotais e não-sacerdotais variam bastante de grupo em grupo e de pessoa para
pessoa. O importante a se ter em mente é que nem todos são sacerdotes e ninguém
precisa de um ou ser um para realizar um culto ou fazer uma oferta aos deuses. Prestar
culto aos deuses não é o mesmo que exercer o sacerdócio, embora exercer o sacerdócio
significa (também) prestar culto aos deuses.

24
DIFERENÇAS ENTRE O POLITEÍSMO GAÉLICO, O DRUIDISMO E A WICCA

Enquanto que o politeísmo gaélico/reconstrucionismo céltico tem uma tendência


geral em embasar suas crenças em fatos históricos, achados arqueológicos e
crenças/costumes/práticas encontradas na mitologia e no folclore, a maioria das ordens
ditas “druídicas” hoje se baseiam no chamado “Renascimento druídico” do século
XVIII, cujo um dos integrantes principais foi Iolo Morgannwg, o criador dos “Barddas”
– uma obra extremamente ficcional e forjada, e ainda assim, influente em muitos grupos
de druidismo hoje. Além disso, a maioria desses grupos baseiam-se em liturgias e
crenças de movimentos neopagãos que nada tem a ver com as tradições célticas antigas,
como “lançamentos de círculos mágicos” e “invocação dos quadrantes”, e até mesmo
alguns grupos pregam um certo tipo de monoteísmo, o que seria o oposto total das
crenças célticas antigas.

Quanto à Wicca, as diferenças são evidentes em muitas áreas. Os gaélicos


antigos (e os celtas, em geral) eram fortemente politeístas – eles viam cada divindade
dotadas de atributos, personalidades e preferências particulares, sendo cada deus distinto
um do outro, o que se contrapõe completamente às crenças wiccanianas, que professam
que todas as deusas são na verdade uma única deusa (a Grande Mãe), e todos os deuses
são as facetas de um único Deus (o Deus Cornífero). No campo litúrgico, os
wiccanianos lançam círculos mágicos e chamam os quadrantes (ou elementais) para
realizarem seus ritos, enquanto que na tradição gaélica isso é completamente ausente.
Wiccanianos professam que todo os seus praticantes são sacerdotes ou podem ser um,
enquanto que no politeísmo gaélico o sacerdócio não é um requisito ou algo que se
aspira para nossa prática religiosa, ao invés disso, temos muitos outros caminhos “não
sacerdotais”, que é o que uma boa parte adota.

25
E POR ONDE EU COMEÇO?

Não é necessário algum tipo de “iniciação” ou “dedicação” para começar a


praticar o politeísmo gaélico, a não ser que você queira fazer parte de um grupo, e este
requeira algum processo iniciatório para te reconhecer como integrante (os grupos de
praticantes, aliás, podem ser chamados de “lareiras”, “famílias”, dentre outras
denominações). A primeira dica para aqueles que querem adotar o Ildiachas como sua
crença é ler bastante, a começar pela mitologia, lendas e práticas folclóricas. Sobre a
mitologia, uma coisa importante a se saber é que os celtas em geral não escreviam nada
sobre suas crenças, seus mitos e suas práticas religiosas, pois julgavam que todo saber
sagrado não era adequado à escrita. Sendo assim, tudo o que sabemos sobre eles vêm de
olhares de fora e interpretados a partir de uma ótica estrangeira, e com os mitos,
aconteceu da mesma forma, sendo escritos por monges copistas cristãos, que não só
cobriram os mitos com um manto cristão, mas rechearam-nos com simbolismos e
personagens bíblicos, chegando até mesmo, em alguns casos, a fundir acontecimentos
bíblicos com as histórias da mitologia. Tendo isso em mente, existem alguns mitos e
histórias que considero ser os principais dentro da nossa crença, pois contém os
acontecimentos mais importantes e os feitos mais notórios dos deuses. Os que eu
recomendaria, para ter um lugar de partida, são estes (ver Anexo V – Mitos):

 O Livro das Invasões


 A Primeira Batalha de Moytura
 A Segunda Batalha de Moytura
 O Cortejo de Etain
 O Sonho de Angus
 O Progresso dos Filhos de Mil da Espanha até a Irlanda
 A Tomada do Síd
A Lactação da Casa dos Dois Baldes de Leite

Com o passar do tempo você pode se interessar pela história dos povos célticos
(e gaélicos, mais especificamente), estudar as associações que os animais e a plantas
tinham com determinadas virtudes ou características, simbologia céltica, orações,
diferentes tipos de liturgia e teologia gaélica. Aprender alguma língua gaélica também é
recomendado (não é uma obrigação), já que qualquer cultura é expressa e interpretada
através de sua linguagem; consequentemente, o aprendizado de uma língua é importante
para a compreensão de qualquer cultura. No entanto, enquanto alguns veem o
aprendizado de alguma língua gaélico como necessário ou até mesmo fundamental,
existem aqueles que não veem necessidade no aprendizado, e ainda outros, aqueles que
só aprendem uma palavra ou outra, uma frase ou outra para usá-las nos seus rituais e
orações. Enquanto que existem certas vantagens em se aprender (mesmo que não seja
para ficar fluente) alguma língua gaélica, como compor orações e invocações na língua
nativa ou saber pronunciar corretamente os nomes dos deuses, o aprendizado em si é
escolha do praticante e não torna ninguém mais ou menos politeísta.

Obviamente, nem sempre devemos ficar no campo dos estudos, mas também
praticar aquilo que estudamos. Uma boa maneira de começar é erguendo um altar para
os Deuses, que pode ser até mesmo uma pequena mesinha reservada somente para este
fim: basicamente, o altar pode conter representações das divindades, velas, incensos, um
copo para oferendas líquidas e um prato ou recipiente para ofertas sólidas (como pães,
flores, etc.). Orações para o sol quando acordar ou orações para a lua ao dormir são

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bastante comuns e de fácil realização caso erguer um altar não seja possível, assim
como orações específicas para deuses particulares acompanhados com ofertas. Para
algumas opções práticas, veja o Anexo VI – Um guia simples para a prática de
iniciantes. Entre em contato com outros praticantes para trocar ideias, participe de
grupos, e mais uma vez, leia mais! O Politeísmo gaélico ainda é uma religião bastante
incipiente – não possuímos livros dizendo como isto ou aquilo pode ser feito, de que
maneira, por onde começar – e, portanto, requer muito estudo para poder criar uma
prática embasada historicamente sem incorrer no erro de criar algo que fuja
completamente das características das tradições gaélicas. Com toda a informação dada
até aqui, espero ter cumprido com o meu objetivo em ter escrito este pequeno texto
introdutório, para que as velhas tradições possam voltar a ser praticadas e os nomes dos
antigos deuses gaélicos possam voltar a serem honrados.

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ANEXOS

ANEXO I – GLOSSÁRIO

Segue uma pequena lista com o significado dos principais termos mencionados
aqui que podem causar estranhamento para alguns.

Aes Síde. Traduzido como “Povo das Colinas”, é uma das denominações dadas ao Bom
Povo ou o Povo Encantado, uma espécie de semideuses que habitavam no interior de
colinas ou estavam associados à alguma paisagem, local ou elemento natural específico,
como rios, árvores e rochas.

An Saol Eile. O nome dado ao outro mundo gaélico, um local inacessível para os
humanos, mas cujos “portões” ficavam abertos em algumas épocas do ano, como
Samhain e Beltane, permitindo que os humanos e espíritos transitassem de um lado para
o outro.

Bile. Nome dado para uma árvore que normalmente simboliza a árvore cósmica que
sustenta os três reinos na cosmologia gaélica. É também o nome de um deus do Cland
Miled.

Cland Miled. A última tribo de deuses que chegou na Irlanda, lutando contra os Tuatha
Dé Danann e os expulsando para as colinas e para o subsolo, enquanto assumiam o
poder da ilha.

Daoine maith. Traduzido como “Bom Povo” como um eufemismo para o Povo das
Colinas, a fim de não atrair sua atenção indesejada ou provocar a fúria deles. Ver Aes
Síde.

Déithe. Traduzido como “Deuses”, é o plural de Dia, “Deus”, no irlandês moderno.

Dindshenchas. Um riquíssimo corpo literário contendo as histórias (em métrico e em


prosa) da criação de determinados lugares e o porquê de serem chamados como são.

Dúile. Nome dado aos nove elementos que, segundo a tradição irlandesa, com os quais
o homem é formado, atribuindo cada elemento natural à uma parte do corpo humano.

Féilte. Traduzido como “Festivais”, é o plural de féile, “festival”, no irlandês moderno.

Fir Bolg. Uma das tribos de deuses que lutaram contra o Tuatha Dé Danann e
presenciaram a sua chegada na Irlanda. Foram derrotados por eles na Primeira Batalha
de Moytura e foram expulsos para o oeste da Irlanda, para a província de Connacht.

Fomoire. Uma das tribos de deuses da Irlanda, representando as forças caóticas do


cosmo. Estavam na Irlanda antes de todas as outras tribos chegarem e lutaram contra os
Tuatha Dé Danann na Segunda Batalha de Moytura, sendo derrotados.

Muir. Traduzido do irlandês antigo para “mar”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo a morada de Manannán mac Lir e a localização de suas Ilhas
Abençoadas, no oeste.

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Nem. Traduzido do irlandês antigo para “céu”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo o reino que abriga os seres e elementos que trazem presságios, como
pássaros, ventos e nuvens, e elementos que regulam as atividades humanas, como a Lua.

Talam. Traduzido do irlandês antigo para “terra”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo a morada dos humanos, e o reino onde deusas das planícies e de rios se
manifestam.

Tuatha Dé Danann. Uma das tribos dos deuses da Irlanda, personificando a ordem, a
civilização e as atividades humanas. Derrotaram os Fir Bolg e os Fomoire em duas
batalhas, mas foram derrotados pelo Cland Miled, fugindo para o interior das colinas e
para o subterrâneo na Irlanda.

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ANEXO II – DÉITHE

Segue agora uma lista com os principais e mais conhecidos deuses do politeísmo
gaélico. Grande parte dos deuses mencionados pertencem aos Tuatha Dé Danann, e
como tal, se restringem à Irlanda. Quando não for este o caso, será explicado.

Áine – Vista como uma deusa com características solares, Áine reina no período do
verão, enquanto sua irmã Grían reina no período do inverno. Foi cultuada na região de
Munster, em especial em Knockaine, durante o festival do solstício de verão, com
procissões de tochas feitas de feno.

Airmid – Filha do médico-divino Diancécht, Airmid é a deusa das ervas que curam.
Conta-se que quando seu irmão Miach foi morto por Diancécht por ser capaz de
transgredir as leis naturais com suas habilidades de cura, nasceu no túmulo de Miach
365 ervas que Airmid colheu, separando-as pelas suas propriedades medicinais.

Anu – A deusa que provavelmente deu o seu nome à principal tribo dos deuses
irlandeses (Tuatha Dé Danann), foi cultuada em Munster como uma deusa da
prosperidade pelo fato da região ser muito fértil e rica. As montanhas conhecidas como
“As Tetas de Anann”, no formato de dois seios, também leva o seu nome.

Badb – Badb é descrita como uma das três morrígna, junto com Morrígan e Macha,
com as quais fez chover sangue e fogo sobre a tropa dos Fír Bolg durante a guerra
contra eles. É uma deusa da guerra, e como seu nome sugere, tem relação com corvos.

Boann – É a mãe de Óengus mac Óg e é a deusa de um dos principais rios da Irlanda, o


rio Boyne, que o criou quando girou três vezes no sentido anti-horário ao redor de um
poço que nascia no outro mundo e fez com o que o poço explodisse e jogasse suas águas
para fora, criando assim o rio. Tem relações com vacas brancas, como seu nome sugere,
e alguns praticantes normalmente a consideram uma deusa da fertilidade.

Brigit – Filha do Dagda, é a deusa da poesia, da cura e da metalurgia. Seus domínios


também incluem a lareira e as chamas, e na tradição escocesa, representa a chegada da
primavera quando é liberta de sua prisão na montanha de Cailleach, a deusa do inverno.
Brigit também tem relações com a ordenha, parto, vacas e fertilidade. Seu festival é o
Oímelc, que representa a chegada da primavera.

Cailleach – Também conhecida como Buí, é a deusa do inverno e do frio. Ela aprisiona
Brigit em sua montanha quando seu reinado invernal começa, criando ferozes
tempestades de neve com seu martelo. Na Escócia, foi vista como uma deusa criadora,
formando planícies e montanhas quando deixava pedras caírem de sua cesta. Não temos
certeza se ela é uma Tuatha Dé Danann, mas segundo a tradição escocesa, é provável
que ela pertença a tribo dos Fomoire, sendo chamada de “Mãe dos Fooar”. Ela é
homenageada no equinócio de primavera, quando seu reinado oficialmente termina.

Dagda – O pai de muitos deuses da Irlanda, sendo chamado de “O pai de todos” em um


de seus títulos. É o deus do clima e protetor das colheitas, sendo descrito também
possuindo uma harpa que é capaz de mudar as estações do ano, e uma clava capaz de
matar nove homens com um único golpe e ressuscitar os mortos.

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Diancécht – É o médico divino dos Tuatha Dé Danan, sendo mencionado em muitos
encantamentos de cura da Irlanda medieval. Foi Diancécht que forjou um braço de prata
para Nuada quando este o perdeu em uma batalha, mas quando seu filho Miach foi
capaz de fazer com que um novo braço humano nascesse nele, Diancécht o matou por
transgredir as leis naturais. Seus atributos incluem a medicina, a cura e procedimentos
protéticos.

Donn – Pertence ao Cland Miled, ou em outras tradições, aos Tuatha Dé Danann. É o


deus dos mortos e provavelmente o ancestral do povo gaélico. Ao insultar a deusa Ériu,
esta lança uma maldição em seu navio que se aproximava para tomar a Irlanda, fazendo
com que Donn pegasse uma doença e precisasse ser retirado do navio para que não
infectasse a tripulação. Ele foi deixado para morrer em um rochedo que posteriormente
se tornou sua casa, onde recebia a alma dos mortos.

Ériu, Banba e Fótla – São três deusas irmãs que representam a soberania da Irlanda.
Quando o Cland Miled tomou a Irlanda, elas pediram para que seus nomes fossem
dados para a ilha. Cada uma é casada com um dos três reis dos Tuatha Dé Danann –
Mac Cuill, Mac Cécht e Mac Gréine – e são, provavelmente, deusas da terra.

Fand – É a esposa de Manannán mac Lir, e possivelmente, uma deusa do mar. Foi
descrita como uma deusa de beleza tão grande que era capaz de tirar o sentido das
tropas. Morava em Mag Mell, no outro mundo, e teve um romance com o guerreiro
Cúchulainn, mas quando Manannán descobriu, ele sacudiu seu manto de névoas entre
os dois para que não lembrassem nunca mais um do outro.

Flidais – Mãe de Fand, esta deusa possuía uma vaca encantada que podía alimentar 300
homens por noite com o seu leite. Ela deu o poder para seu filho Nia Segamain ser
capaz de ordenhar veados como se ordenha vacas, e diz-se que só ela era capaz de saciar
sexualmente Fergus, que precisava de sete mulheres para se satisfazer.

Goibniu – É o ferreiro-divino dos Tuatha Dé Danann, e junto com Luchtaine (o


madeireiro) e Creidne (o ourives), foi responsável por produzir as armas dos deuses e
diz-se que ele tinha a sua forja na Ilha do Corvo, na Península de Beara. Goibniu
providenciava com Manannán um banquete divino que não deixava os Tuatha Dé
Danann envelhecerem. Um reflexo tardio sugere que talvez ele possa ter sido associado
com a arquitetura também.

Lugh Lámhfada – É o deus de todas as artes. Quando chegou em Tara, ele substitui
Nuada no reinado da Irlanda e ensinou aos Tuatha Dé Danann estratégias militares para
que pudessem derrotar os Fomoire em uma batalha. Supõe-se que ele seja um deus que
presida sobre juramentos, e também sobre o comércio. É homenageado no Lugnassadh,
no festival que criou para honrar sua mãe adotiva, Tailtiu.

Macha – Sendo mencionada em alguns casos com Morrígan e Badb, é possivelmente


uma deusa da guerra. Algumas figuras da mitologia irlandesa são também chamadas de
Macha, mas se são a mesma deusa, é difícil dizer. Diz-se que uma dessas “Macha” era
capaz de correr mais rápido que qualquer cavalo, e ao ser desafiada para uma corrida
com os cavalos do rei estando grávida, Macha vence a corrida e dá a luz a dois gêmeos,
e em seguida, amaldiçoa todos os homens de Ulster a sentirem na batalha as dores que
uma mulher sente no parto.

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Manannán mac Lir – É o deus do mar, das praias, baías e promontórios. Foi descrito
como o protetor dos pescadores, dos viajantes, dos navegantes, mendigos e poetas. Sua
fama foi tão grande que chegou até a Ilha de Man, que leva o seu nome, onde em todo
solstício de verão os nativos pagam o “aluguel” da ilha para ele com oferendas de
juncos. Ele era o rei das ilhas do outro mundo, localizadas no mar oriental, e tinha
diversas posses mágicas, como um cavalo que era capaz de correr na terra ou na água,
uma capa da invisibilidade, uma espada mortífera e um porco que era capaz de renascer
no dia seguinte se fosse abatido para o consumo. Era capaz de prever o tempo e é
sempre descrito como um feiticeiro muito habilidoso.

Midir – Uma divindade um pouco obscura, mas que certamente desempenhou um papel
importante para os gaélicos. Ele morava na colina encantada de Brí Léith, na entrada da
qual tinha três gruas mágicas que negavam a entrada ou hospitalidade para qualquer um
que viesse. Ele se apaixonou por Étaín, causando a ira de sua esposa Fuamnách, uma
poderosa feiticeira, que transformou Étaín em uma borboleta, que caiu na bebida de
uma rainha e renasceu em seu ventre.

Morrígan – É a deusa da guerra e da morte. Em seus mitos, arquitetou diversos eventos


que eclodiu numa grande guerra, e fez sexo com o Dagda para assegurar a vitória da
grande batalha entre os Tuatha Dé Danann e os Fomoire. Um reflexo tardio de Morrígan
persistiu no folclore irlandês, na forma da “Lavadeira dos Rios”, que aparecia nos
sonhos dos soldados fadados a morrer no campo de batalha, lavando a sua roupa suja de
sangue. É provável também que Morrígan tenha sido a responsável por conduzir a alma
dos guerreiros mortos em batalha para o outro mundo, através de um processo funerário
conhecido como “enterro de céu”, onde o morto era deixado a céu aberto para ser
devorado por corvos.

Nuada Airgetlám – Foi um dos reis dos Tuatha Dé Danann, e em seu mito mais
conhecido, conta-se que ele perdeu seu braço na batalha contra os Fír Bolg, e como um
rei deveria ser fisicamente perfeito, perdeu o direito de governar para Brés, filho de
Ériu. Mais tarde, Diancécht forja um braço de prata para ele, e posteriormente, Miach
foi capaz de fazer nascer um novo braço. Seus atributos são um pouco obscuros, mas é
provável que tenha sido associado com o reinado, a lei e a justiça.

Óengus mac Óg – É o filho de Dagda e Boann, sendo concebido, gerado e nascido em


um único dia, quando Dagda fez com que o sol parasse no céu por nove meses para
esconder a gravidez de Boann de seu marido Néchtan. Ele possuía quatro pássaros,
sendo descritos como seus beijos, que ficavam rodeando a cabeça dos jovens irlandeses
zombando deles, e seu principal mito conta que ele se apaixonou por Caer Iborméith
que o visitou em seus sonhos, e após isso, seus pais e sua família fizeram uma busca por
toda a Irlanda por ela, e quando a encontram, os dois voam para o palácio de Óengus no
Newgrange, e cantam uma canção que fez todos adormecerem por três dias. Apesar da
crença popular que o vê como um deus do amor, seus atributos são obscuros.

Ogma – É o deus da fala, da escrita e da eloquência. Foi o criador mítico do alfabeto


ogham, e por sua eloquência, um de seus títulos é “Boca de Mel”. Pouco se sabe sobre
ele, mas seus mitos contam que ele foi um poderoso campeão, de grande força, e ajudou
o Dagda a recuperar sua harpa encantada que mudava as estações do ano após ela ter
sido roubada pelos Fomoire.

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ANEXO III – LIVROS RECOMENDADOS

Segue agora uma lista com os principais livros recomendados, abordando


diversos temas desde a história até o folclore. Alguns podem ser encontrados pela
internet, enquanto que outros são de difícil acesso pelo fato de serem bem antigos e não
serem mais impressos por editoras. Selecionei alguns de maior relevância de uma
grande lista do site “Tairis” que estará disponível no próximo Anexo IV, que
recomendo para que dê uma olhada para uma lista maior e mais abrangente.

Estudos célticos em geral

The Ancient Celts, de Barry Cunliffe


Celtic Culture: A Historical Encyclopedia, de John T. Koch
The Celts: A History from Earliest Times to Present, de Bernhard Maier
Pagan Celtic Britain, de Anne Ross
The Religion of the Ancient Celts, de J. A. MacCulloch (link aqui) (com ressalvas)

Mitologia e lendas da Escócia

Popular Tales of the West Highlands, de J. F. Campbell (link aqui)


Wonder Tales from Scottish Myth and Legend, de Donald Alexander Mackenzie (link
aqui)
Scottish Fairy and Folk Tales, de Sir George Douglas (link aqui)

Folclore da Escócia

Witchcraft and Second Sight in the Highlands and Islands of Scotland: Collected
entirely from oral sources, de J. G. Campbell (link aqui)
Superstitions of the Highlands and Islands of Scotland, de J. G. Campbell (link aqui)
Carmina Gadelica: Volume 1, 2 e 3, de Alexander Carmichael (link aqui, aqui e aqui)
Gaelic Incantations, Charms and Blessings of the Hebrides, de William Mackenzie (link
aqui)
The Silver Bough, de F. Marian McNeill

Mitologia irlandesa

Early Irish Myths and Sagas, de Jeffrey Gantz


The Celtic Heroic Age, de John T. Koch e John Carey
The Waves of Manannán: A Study of the Literary Representations of Manannán mac
Lir from Immram Brain (c700) to Finnegans Wake (1939), de Charles MacQuarrie
The Book of Cailleach, de Gearáid Ó Crualaoich
Gods and Heroes of the Celts, de Marie-Louise Sjoestedt
Ireland’s Immortals: A History of the Gods of Irish Myths, de Mark Williams

Folclore da Irlanda

The Year in Ireland, de Kevin Danaher


Irish Folk Ways, de E. Estyn Evans
The Festival of Lughnasa: A Study of the Survival of the Celtic Festival of the
Beginning of Harvest, de Máire MacNeill

33
Irish Folk Custom and Belief, de Séan Ó Súillebháin (link aqui)
Irish Superstitions, de Sir William Wilde (link aqui)
The Fairy-Faith in Celtic Countries, de W. Y. Evans-Wentz (link aqui) (não só irlandês,
mas abrange todos países gaélicos e da Grã-Bretanha)
The Old Gods of Ireland: the Facts about Irish Fairies, de Patrick Logan
Visions and Beliefs in the West of Ireland, de Lady Gregory (link aqui)
Ancient Legends, Mystic Charms and Superstitions of Ireland, de Lady Wilde (link
aqui)

Mitologia, lendas e folclore da Ilha de Man

Manx Fairy Tales, de Sophia Morrison (link aqui)


The Folklore of the Isle of Man, de A. W. Moore (link aqui)

Língua irlandesa – Gaeilge

Basic Irish: A Grammar and Workbook, de Nancy Stenson (link aqui)


Intermediate Irish: A Grammar and Workbook, de Nancy Stenson (link aqui)
Teach Yourself Irish, de Diarmuid Ó Se e Joseph Sheils (link aqui)
Colloquial Irish: the Complete Course for Beginners, de Thomas Ihde (link aqui)

Trabalhos de outros reconstrucionistas

Land, Sea and Sky, vários autores (link aqui) (com algumas ressalvas)
O CR-FAQ Brasil, vários autores (link aqui)
Pagan Portals – Irish Paganism: Reconstructing Irish Polytheism, de Morgan Daimler

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ANEXO IV – LINKS

Como muitos de nós não temos condições financeiras ou simplesmente não


conseguimos ter acesso à alguns livros, segue agora uma lista com diversos links de
sites, textos e artigos acadêmicos abordando uma variedade de temas.

SITES E BLOGS

Tairis. O site mais completo sobre politeísmo gaélico até agora, com um foco mais nas
tradições escocesas, apesar de abranger todas as tradições gaélicas. (link aqui)

CELT – Corpus of Electronic Texts. Traduções e textos originais de grande parte dos
mitos irlandeses, além de outros textos dos manuscritos medievais. (link aqui)

Celtic Literature Collective. Um compêndio de grande parte dos mitos irlandeses,


alguns diretamente dos manuscritos medievais. (link aqui)

Lorekeepers’ Course. Um curso sobre os principais tópicos da história, língua e


teologia dos povos célticos em geral. Recomendado, porém, com algumas ressalvas na
parte teológica. (link aqui)

Sacred Texts – Celtic Folklore. Um bom site com alguns bons livros – outros nem
tanto – mas que vale a leitura, de qualquer forma. (link aqui)

Gaol Naofa. O site da organização mais conhecida no politeísmo gaélico, com artigos
excelentes e um bom FAQ que dá uma introdução excelente sobre o politeísmo gaélico.
(link aqui)

Living Liminally. Um blog fantástico sobre politeísmo gaélico, porém, a autora


também faz algumas postagens sobre o politeísmo nórdico. No entanto, vale a leitura.
(link aqui)

Slakkos Abonos. Um blog que aborda alguns temas gerais da religiosidade céltica.
(link aqui)

Fine na Dairbre. Site de um grupo reconstrucionista, com alguns artigos que valem a
leitura. (link aqui).

Ildiachas – Politeísmo gaélico. Um blog em português contendo traduções e textos


sobre temas gaélicos. Contém também uma seção com algumas lições de língua
irlandesa. (link aqui)

ARTIGOS SOBRE TEMAS VARIADOS

Imbas Forosnai, por Nora Chadwick (link aqui)


Rowan and Red Thread: Magic and Witchcraft in Gaelic Cultures, por Annie
Loughlin, Treasa Ní Chonchobhair e Kathryn Price NicDhàna (link aqui)
Prayer in Gaelic Polytheism, por Annie Loughlin, Treasa Ní Chonchobhair e Kathryn
Price NicDhàna (link aqui)

35
Breath of Life: The Triple Flame of Brigid, por Treasa Ní Chonchobhair e Kathryn
Price NicDhàna (link aqui)
Tree Huggers – A Methodology for Crann Ogham Work, por Raven Nic Rhóisín e
Kathryn Price NicDhàna (link aqui)
KILLYOUANDEATYOU – Or, a Well-Intentioned Celt’s Guide to Non-Celtic
Bioregions, por Raven Nic Rhóisín e Kathryn Price NicDhàna (link aqui)
Irish Perceptions of the Cosmos, por Liam Mac Mathúna (link aqui)
Water Imagery in Early Irish, por Kay Muhr (link aqui)
The Names of the Dagda, por Scott A. Martin (link aqui)
Hearth Prayers and Others Traditions of Brigit: Celtic Goddess and Holy Woman,
por Séamas Ó Catháin (link aqui)
The Cult of St. Brigid, por Sean O’Riordan (link aqui)
The Place of Manannan mac Lir in Irish Mythology, por David B. Spaan (link aqui)
War Goddess: the Morrígan and her Germano-Celtic Counterparts, por Angelique
Gulermovich Eptsein (link aqui)
The Ancient Irish Goddess of War, por W. M. Hennessey (link aqui)
The Festival of Brigit the Holy Woman, por Séamas Ó Catháin (link aqui)
November Eve Beliefs and Customs in Irish Life and Literature, por Helen Sewell
Johnson (link aqui)
Reading the Bean Feasa, por Gearóid Ó Crualaoich (link aqui)

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ANEXO V – MITOS

Segue agora uma lista dos principais mitos conhecidos na nossa religião, com
um sumário e um link para saber onde encontrar cada um.

O Livro das Invasões da Irlanda. É um texto que narra todas as invasões da Irlanda
por diferentes tribos de deuses, e resumidamente, narra também as batalhas que os
deuses fizeram entre si. Contém um teor cristão forte, especialmente no início, onde é
relatado a criação do mundo pelo deus cristão. Texto traduzido aqui.

A Primeira Batalha de Moytura. Relata a chegada dos Tuatha Dé Danann na Irlanda e


como o rei Eochaid mac Eirc profetizou, através de um sonho, a sua chegada. Foi a
primeira batalha dos Tuatha Dé Danann, que lutaram contra os Fír Bolgs, derrotando-os
e assumindo o controle sobre a Irlanda. Texto traduzido aqui.

A Segunda Batalha de Moytura. Relata a grande batalha dos Tuatha Dé Danann


contra os Fomoire, contendo também muitos mitos dentro desse grande texto, como a
morte de Miach, a cura do braço de Diancecht, o nascimento de Brés, a visita do Dagda
ao acampamento dos Fomoire, a chegada de Lugh em Tara, e muitos outros
acontecimentos bem conhecidos na mitologia. É um dos mitos principais. Texto
traduzido aqui.

O Cortejo de Étaín. Conta a história da deusa Étaín, que foi dada de presente para
Midir, mas devido aos ciúmes de Fuamnách, a esposa de Midir, foi transformada em
uma borboleta por ela e vagou pela Irlanda até cair no copo da rainha de Ulster, e
renascer no ventre dela. Texto traduzido aqui.

O Sonho de Óengus. Narra o episódio em que Óengus se apaixonou por uma donzela
que viu em seu sonho, e após ficar doente de amor por ela, sua família inicia uma
procura por toda a Irlanda para encontrá-la, descobrindo que ela é prisioneira em um
lago com outras cento e cinquenta donzelas que se transformam em cisnes no Samhain.
Texto traduzido aqui.

O Progresso dos Filhos de Mil da Espanha até a Irlanda. Conta a chegada dos Cland
Miled, ou Filhos de Mil, que vieram da Espanha para tomar a Irlanda, após em uma
visita, um de seus reis ter sido assassinado por Mac Cuill, Mac Gréine e Mac Cecht.
Relata a batalha que eles tiveram com os Tuatha Dé Danann, vencendo-os, e assumindo
o controle sobre a Irlanda. Texto traduzido aqui.

A Tomada do Síd. Após serem derrotados, os Tuatha Dé Danann passam a viver no


subsolo e no interior das colinas da Irlanda, mas começam a destruir as plantações e
azedar o leite das vacas do Cland Miled. Para que ambos os lados fiquem em paz, o
Dagda faz um acordo com o Cland Miled. Texto traduzido aqui.

A Lactação da Casa dos Dois Baldes de Leite. O assunto principal do mito é a história
de Eithne, que é adotada por Óengus em seu bando de donzelas, que após ser insultada
por Finnbharr, fica incapaz de comer ou beber qualquer coisa terrestre, se alimentando
apenas do leite de duas vacas – a vaga de Óengus e a vaca de Manannán. Além disso, o
texto relata alguns acontecimentos após a derrota dos Tuatha Dé Danann e os presente

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que Manannán deu para eles, como a imortalidade através do Banquete das Eras e a
invisibilidade através do Feth Fiada. Texto traduzido aqui.

O Destino dos Filhos de Tuireann. Após matarem o pai de Lugh, Brian, Iuchar e
Iucharba são condenados a saírem da Irlanda para procurarem diversos artefatos
mágicos que Lugh posteriormente usará para derrotar os Fomoire na Segunda Batalha
de Moytura. Texto traduzido aqui.

Estes que consultei são alguns dos que considero os principais, um ponto de
partida para se iniciar na mitologia irlandesa. Para ver outro mitos, segue os links
abaixo.

Ildiachas – Politeísmo gaélico: Mitologia. Uma página do meu próprio blog, contendo
diversos mitos traduzidos. Link aqui.

CELT – Corpus of Electronic Texts. Traduções e textos originais de grande parte dos
mitos irlandeses, além de outros textos dos manuscritos medievais. Link aqui. (Em
inglês)

Celtic Literature Collective. Um compêndio de grande parte dos mitos irlandeses,


alguns diretamente dos manuscritos medievais. Link aqui. (Em inglês)

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ANEXO VI – UM GUIA SIMPLES PARA A PRÁTICA DE INICIANTES

Este anexo visa dar um pontapé inicial para se começar a praticar o politeísmo
gaélico. Como uma religião não dogmática, tudo descrito aqui são sugestões podendo
ser adaptadas ou alteradas de forma que o praticante se sinta mais confortável. Minha
intenção não é que esta seja a “bíblia” da prática politeísta gaélica e nem que todos
fiquem presos nisso.

ORAÇÃO MATINAL

I
“Abençoem, ó deuses,
Minha vida e minha saúde;
Abençoem, ó deuses,
Minha crença e minha situação.

Abençoem, ó deuses,
Meu coração e minha fala;
E abençoem, ó deuses,
O que quer que minhas mãos façam.

Que esteja comigo hoje,


O vigor e o trabalho matinal,
O costume e a calma da modéstia,
A força e a sabedoria do pensamento,
E que eu ande em teus caminhos, ó deuses brilhantes,
Até a hora que eu for dormir esta noite.”

Comentários e sugestões: Esta é uma adaptação da oração 222, do livro “Carmina


Gadelica: volume 3”, de Alexander Carmichael. Você pode usar esta oração ou se
inspirar nela para criar algo a se dizer quando acordar. A palavra “deuses” pode ser
adaptada para alguma divindade que você tenha mais afinidade.

ORAÇÕES NOTURNAS

I
“Brigid, proteja essa casa, seus mantimentos, minha família,
Proteja todos os que estão dentro dela essa noite,
Proteja-me e proteja todos aqueles que amo,
Proteja-nos da violência e do dano,
Proteja-nos dos nossos inimigos essa noite,
Grande e brilhante tocha de Leinster,
Nesse lugar e em qualquer lugar onde estão essa noite,
Nessa noite e em todas as noites;
Essa noite e todas as noites.”

II
“Abençoem, ó deuses, esta casa,
E todos que descansam nela essa noite.
Abençoem, ó deuses, meus amados,

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Em qualquer lugar em que estejam dormindo.

Na noite que é hoje,


E todas as noites;
No dia que é hoje,
E todos os dias.”

Comentários e sugestões: Estas são adaptações das orações 43 e 338, do livro “Carmina
Gadelica: volume 1 e 3”, de Alexander Carmichael. Você pode usar esta oração ou se
inspirar nela para criar algo a se dizer quando for dormir. A palavra “deuses”, na
segunda oração, pode ser adaptada para alguma divindade que você tenha mais
afinidade.

OFERENDAS PARA DAGDA

Ao Dagda
“Eu lhe chamo, ó Dagda, poderoso, bondoso,
Generoso, grande deus de muitos talentos,
Pai de filhos fortes e de bom coração,
Mestre de tesouros além da conta, seu caldeirão está
Sempre cheio, suas árvores sempre estão pesadas com frutas doces.
Com sua harpa de carvalho você toca para trazer a terra
A uma nova vida ou a coloca no sono de inverno;
Em sua mão manejas a robusta clava com a qual toma
Ou devolve vidas. Ó Dagda, deus de muitos nomes,
Tu que concedes muitos dons, detentor do conhecimento
E portador da sabedoria, tu que faz maravilhas,
Defenda-nos em segurança, abençoe-nos com abundância.”

Comentários e sugestões: Você pode usar a oração acima ou se inspirar nela enquanto
fizer algumas oferendas para o Dagda, quando quiser honrá-lo ou quando quiser buscar
suas bênçãos. A oração foi retirada e traduzida do blog “Field of Stones”, cujo link está
aqui. Se quiser conhecer mais sobre Dagda, indico este texto.

Sugestões para oferendas: mingau de cereais e carnes, maços de trigo, cerveja, pão, leite
e flores. Se possível, queime, enterre ou libere sua oferenda em um corpo hídrico, caso
contrário, simplesmente embrulhe em um papel e jogue no lixo.

OFERENDAS PARA BRIGID

Para Brigid
“Eu chamo Brigid, deusa gentil e hábil cujo nome
Nunca foi deixado de ser mencionado, cujos presentes nunca
Deixaram de serem dados. Brigid das mãos que curam,
Brigid do martelo e do tenaz, Brigid que adoça
Nossas palavras, que acende o fogo da poesia dentro de nós,
Deusa a quem muitos procuram em tempos
De alegria e desespero, que acalma nossos medos,
Que ilumina nossas vidas, que aquece nossos corações: ó três irmãs
Que possuem todas as artes e ofícios em suas mãos, Brigid das chamas,

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Ó senhora do conforto e da boa alegria, deusa querida,
Peço a vossa compreensão. Conceda a mim,
Ó deusa, a bênção de tua presença.”

Comentários e sugestões: Você pode usar a oração acima ou se inspirar nela enquanto
fizer algumas oferendas para Brigid, quando quiser honrá-la ou buscar suas bênçãos. A
oração foi retirada e traduzida do blog “Field of Stones”, cujo link está aqui. Se quiser
saber mais sobre Brigid, indico este texto.

Sugestões para oferendas: leite e laticínios em geral, colcannon (um purê de batata feito
com alho, cebolinha e repolho), uma chama, poesias e músicas, e água. Se possível,
queime, enterre ou libere sua oferenda em um corpo hídrico, caso contrário,
simplesmente embrulhe em um papel e jogue no lixo.

SAUDAÇÃO AO SOL

I
“Eu te recebo, sol das estações,
Conforme tu viajas nos céus acima;
Seus passos são fortes na asa dos céus,
Tu és a gloriosa mães das estrelas.

Tu desces para o mortal mar


Sem aflição e sem medo;
Tu se levanta na onda da paz,
Como uma jovem Rainha resplandecente.”

Comentários e sugestões: Esta é uma oração retirada do livro “Carmina Gadelica:


volume 3”. Você pode dizer esta oração tradicional para saudar o sol, podendo ser usada
também para saudar Áine ou Grían, ambas deusas com atributos solares. Se for possível
e quiser, pode também ser acompanhada de uma oferenda.

Sugestões para oferendas: leite, pão, feixes de cereais, como trigo e cevada, e flores
amarelas. Se possível, queime sua oferenda, caso contrário, simplesmente embrulhe em
um papel e jogue no lixo.

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