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(IHS) Vida Espiritual A causa determinante da Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo - Página 1 de 8
Fonte: Dr. Pierre Barbet, Cirurgião do Hospital Saint Joseph de Paris, AA Paixão
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o cirurgião@, Paris, 1949, capítulo III, ACausas da
Morte rápida@, item B ACausa determinante@. Com algumas adaptações da tradução e
notas de rodapé explicativas, visando a tornar mais claro o texto. As notas em negrito são
do original. As notas em itálico são do compilador deste excerto.
1 No capítulo anterior do livro, o autor analisa as causas preparatórias ou predisponentes da Morte de Nosso
Senhor. (Observação: As notas em negrito são do original. As notas em itálico são do compilador deste excerto).
2 ALe Supplice de la Croix@, abril de 1925.
3 O autor, como médico, serve-se freqüentemente de termos técnicos. Na medida do possível, serão dados os
significados dos mesmos. ADispnéia@ quer dizer falta de ar.
4 O autor diz Afelizmente para a França@ porque neste país não se permitiam as crueldades registradas em outros,
dentre as quais algumas simulavam o suplício dos crucificados, como logo adiante descreverá.
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(IHS) Vida Espiritual A causa determinante da Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo - Página 2 de 8
músculos, onde ele continua a circular, uma asfixia local com conseqüente acumulação
de ácido carbônico (segundo a exata observação de Le Bec), que por uma espécie de
círculo vicioso, aumenta progressivamente a tetanização destes mesmos músculos.
Vê-se, então, o paciente, com o peito distendido, apresentar todos os sintomas da
asfixia. O rosto fica vermelho e se torna violáceo; abundante suor corre da face e de todo
o corpo. Se não se quiser fazer morrer o infeliz, é necessário soltá-lo. A simples punição
não podia, segundo testemunho de Hynek, durar mais do que dez minutos. Mais tarde,
nos campos de deportação hitlerianos, prolongaram-na até o assassinato.
Podemos ainda citar o testemunho de dois antigos prisioneiros de Dachau12 que,
várias vezes, presenciaram a aplicação do suplício e dele conservam terrificante
lembrança. Este testemunho foi recolhido por Antoine Legrand; não pude ver
pessoalmente as testemunhas.
Suspendiam o condenado pelas duas mãos, quer uma ao lado da outra, quer
separadas. Os pés ficavam a certa distância do solo. Em pouco tempo, o incômodo
respiratório ficava intolerável. O paciente procurava remediá-lo erguendo-se com os
braços para poder retomar fôlego; conseguiam se manter no ar até 30 e 60 segundos.
Prendiam-lhe, então, pesos aos pés para dificultar os soerguimentos. A asfixia se
desfechava então rapidamente, em 3 ou 4 minutos. No último momento, tiravam-lhe os
pesos, permitindo de novo os soerguimentos para que, retomando fôlego, conseguissem
reviver.
A testemunha, que não era médico, não pôde averiguar se estes soerguimentos
eram contrações voluntárias ou tetânicas. Em todo o caso, sempre aliviavam a respiração.
Após uma hora de suspensão, tornavam-se estas contrações cada vez mais
freqüentes, mas também mais fracas e a asfixia se estabelecia progressiva e
definitivamente. A testemunha descreve a caixa torácica intumescida ao máximo, a
cavidade epigástrica13 muito profunda. As pernas rijas pendiam sem se agitar. A pele
ficava violeta. Abundante suor aparecia em todo o corpo, escorrendo até o chão e
manchando o cimento. Especialmente profuso era este suor nos poucos minutos que
precediam a morte; os cabelos e a barba ficavam literalmente ensopados, mesmo em
temperaturas próximas ao zero. Deviam esses agonizantes ter uma temperatura corporal
bem elevada.
Depois da morte ficava o corpo em extrema rigidez. A cabeça caía para a frente,
no eixo do corpo. A morte sobrevinha, em média, ao cabo de 3 horas; ou, um pouco mais
tarde, quando as mãos ficavam separadas.
Resulta deste testemunho, como também da observação, graças a Deus, menos
prolongada de Hynek, que a suspensão pelas mãos acarreta asfixia com contrações
generalizadas, de acordo com as previsões de Le Bec. -- Os crucificados, pois, morriam
menos doloroso que o mesmo esforço sobre as arestas de um cravo quadrado, de 8 mm,
de lado, cravado entre os dois metatarsos15. Poderia então o condenado ficar mais tempo
soerguido, sem que o excesso de dor nos pés o trouxesse de novo ao abatimento.
Também aqui, estava Jesus nas condições as mais terríveis.
Finalmente, quando queriam prolongar o suplício, empregavam o Asedile@ (não
falo do supedâneo16, desconhecido a todos os autores antigos e que não passa de pura
invenção dos artistas). Este pedaço de pau ou ferro, sobre o qual ficava montado o
crucificado, devia tornar-se, rapidamente, causa de atrozes dores no períneo 17 e coxas. No
entanto, a força de tração exercida sobre as mãos ficava muito diminuída, não restando
quase que senão o incômodo respiratório, com a dor que lhe é peculiar, semelhante ao
mesmo incômodo produzido pelos braços estendidos no ar, sem tração. Apesar disto, o
corpo, ainda que assim sustentado, não podia ficar indefinidamente na mesma posição,
devia se inclinar para a frente e se abater. A pressão sobre as mãos aumentava e, com ela,
sobrevinham as câimbras e a asfixia. Apesar de tudo isto, o Asedile@ devia,
indubitavelmente, permitir considerável prolongação do suplício.
Em sentido contrário, dispunham os carrascos de meio seguro para provocar
morte quase instantânea nos crucificados: quebrar-lhes as pernas. Este processo, aliás
muito usado em Roma, era bem conhecido. Encontramo-lo em Sêneca e em Amiano
Marcelino18. Orígenes acrescenta que isto se fazia Asegundo os costumes romanos@. Era o
Acrurifragium@. A palavra talvez tenha sido cunhada por Plauto que faz dizer o escravo
Sinerasto: AContinuo is me ex Synerasto Crurifragium fecerit, que quer dizer: Logo me
fará mudar o nome de Sinerasto em Pernas-Quebradas@19. Foi este Acrurifragium@ que os
judeus, preocupados em fazer desaparecer os corpos antes do pôr do Sol, foram pedir a
Pilatos: AHina kateagõsin auton ta skele, kai arthõsin -- que se lhes quebrassem os ossos e
os retirassem@ (João, 19,31).
Os exegetas e os médicos têm divagado bastante sobre as causas de morte que
acarretaria este crurifrágio. Falou-se de inibição do coração pela dor. A dor de uma
fratura é muito grande, e mesmo a denominam os franceses Adouleur exquise@20. O
adjetivo parece irônico mas não é senão a tradução literal do adjetivo latino Aexquisitus@,
isto é, Aespecial, escolhido, requintado@. Esta dor, que pode aliás ser quase nula no
momento, pode acarretar perda dos sentidos, mas não uma síncope mortal, uma parada
definitiva do coração. É necessário procurarmos a causa alhures.