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PÓS-GRADUAÇÃO: PASSO

A PASSO DAS SELEÇÕES DE


MESTRADO E DOUTORADO
Esse conteúdo foi elaborado visando auxiliar a preparação de
gradua[n]dos que desejem ingressar no Mestrado e
mestres/mestrandos que queiram dar um passo a mais rumo ao
Doutorado. Abordando desde questões gerais como a estrutura
da Pós-Graduação Stricto sensu e a busca pelo
programa/orientação compatíveis com cada pesquisa, até as
especificidades das etapas do processo seletivo, oferecemos um
plano de ação objetivo para esta preparação.

Minicurso ofertado por Anna Maria Moraes (PPGEO-UERJ) e Camilla Sales Gonçalves (PPGG-UFRJ)
em ocasião do I Colóquio NERU e NEEPG de Divulgação Científica.

Contato
annamariapll21@gmail.com | camilla.sales13@gmail.com
Instagram @neruuff | @neepguff
PÓS-GRADUAÇÃO: PASSO A PASSO DAS SELEÇÕES DE MESTRADO E DOUTORADO

Contextualizando a Pós-Graduação

A pós-graduação no Brasil é dividida em duas naturezas: Lato sensu e Stricto sensu. De


acordo com MEC, a Pós-Graduação Lato sensu compreende programas de especialização e incluem
os cursos designados como MBA (Master Business Administration). Sua duração mínima é de 360
horas e, ao final, o estudante recebe um certificado. Em geral, essa modalidade é mais voltada à
preparação para o mercado de trabalho, com conteúdos mais práticos e de aperfeiçoamento
profissional.
Já a Pós-Graduação Stricto sensu abarca os cursos de Mestrado e Doutorado (acadêmicos
ou profissionais) e está sob responsabilidade direta da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Ensino Superior). A duração é, em média, de 24 meses para o Mestrado e 48 meses
para o Doutorado; ao final de ambos, o estudante recebe um diploma. Nessa modalidade de
Pós-Graduação se desenvolve uma pesquisa científica, visto que o foco do curso é a carreira
acadêmica.
Tanto o Mestrado quanto o Doutorado estão inseridos em um Programa de Pós-Graduação
que, sob os critérios de internacionalização, produções acadêmicas de docentes e discentes, entre
outros, são avaliados com notas de 3 a 7 (3 → regular, 4 → bom, 5 → muito bom, 6 e 7 →
excelência).
Estar ciente de que a complexidade e dedicação nesta etapa serão maiores que na
graduação torna o processo mais tranquilo. Além disso, na Pós-Graduação o tempo é uma questão
chave e saber gerenciá-lo é fundamental para estar em dia com os prazos de leitura, entrega de
atividades disciplinares e o produto final – uma dissertação ou tese. Realizar um curso de
Mestrado ou Doutorado envolve ainda outras habilidades para além do conhecimento acadêmico,
tais como: autonomia, proatividade e senso crítico.
Saiba também que se trata de uma caminhada solitária. O(a) seu(sua) orientador(a) não
necessariamente precisa estabelecer com você um vínculo de amizade, e tampouco é encarregado
de dividir o trabalho contigo. Sua dissertação ou sua tese são de sua inteira responsabilidade e,
sobre o seu tema específico ninguém entenderá mais que você mesmo.

Questões norteadoras

Veja bem, os motivos para cursar uma Pós-Graduação podem ser inúmeros: trabalhar como
pesquisador, melhorar as habilidades para o mercado de trabalho, obter mais um título para
melhorar seu desempenho em concursos, ou simplesmente para aumentar o conhecimento sobre
um determinado campo científico. Como saber se esse caminho é pra você?
Independente do seu objetivo, há de se recuperar sempre que um Mestrado e um Doutorado
exigem, por 2 ou 4 anos, que você TRABALHE COM PESQUISA, que você cumpra o papel de um(a)
PESQUISADOR(A) e que, ao final, exponha o produto deste trabalho. Tenha isso em mente para se

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16, 17 e 18 de Junho de 2021 | UFF - Campos
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preparar caso não seja esse seu objetivo profissional quando terminar o curso, ou se a área
acadêmica não for muito a sua praia, ok?
Use as seguintes perguntas como critério de sua decisão:

- Por que quero cursar Pós-Graduação?


- Estou ciente de que trabalharei como pesquisador durante esse tempo?
- Estou disposto(a) e aberto(a) a estar imerso(a) no contexto de minha pesquisa?
- Estou pronto(a) para cursar a Pós-Graduação mesmo se não houver bolsa?
- Conheço, mesmo que superficialmente, as obrigações que terei enquanto estudante de
Mestrado ou Doutorado? (E aqui vale pontuar: obrigatoriedade de publicação de papers e
participação em eventos científicos, realização de estágio docente para doutorandos etc.)
- Sei o que é uma dissertação/tese e o que esperam de mim nessas produções?

Como encontrar o programa adequado

Essa escolha também precisa de critério e a esse ponto a questão gira em torno do que é
negociável ou não pra você. Comece se perguntando:

- Quanto à localização: desejo fazer Pós-Graduação na minha cidade ou estou disposto a me


mudar em busca de um programa que me seja mais adequado?
- Quanto a nota/referência em seu campo específico de pesquisa: quero um programa
referência na minha área ou quero um programa com nota boa ou quero qualquer
programa?
- Quanto ao orientador: vou em busca de um orientador específico independente do programa
ou me importa mais o curso que o orientador-referência?
- Quanto a área do conhecimento: quero um programa na minha área de formação ou buscarei
um programa em áreas afins/interdisciplinar?

Depois de estabelecer os seus critérios, é hora de procurar por informações mais


detalhadas. Na Plataforma Sucupira da CAPES (https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/) constam
as principais informações de cada programa e seus respectivos sites e e-mails para contato. É aí
que o trabalho começa: vasculhe por tudo que lhe possa ser útil, procure pelos editais de seleção
anteriores, o histórico de atuação do programa, o corpo docente, as disciplinas ofertadas (com seu
turnos e ementas), quantas vagas são abertas em cada processo seletivo e se elas são divididas
por linha de pesquisa ou por orientador, e as obrigações específicas que terá ao ser aprovado. Se o
site estiver desatualizado ou as informações ainda não suprirem todas as suas dúvidas, entre em
contato por e-mail. Só não deixe de se informar e embasar sua escolha!
Se achar pertinente, preste seleção para mais de um programa e faça uma espécie de
ranking com base nos critérios que já estabeleceu. Se ter bolsa, por exemplo, é um critério

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inegociável para você e o seu programa-desejo não contar com amplo financiamento, é válido
tentar simultaneamente algum outro que as ofereça.

Escolhendo o(a) orientador(a)

A escolha do(a) orientador(a) é uma etapa fundamental da Pós-Graduação e deve ser


pensada desde a seleção. Alguns programas, inclusive, solicitam que desde a inscrição seja
indicada a orientação pretendida no caso de aprovação, sobretudo para alunos de Doutorado.
Essa escolha também se baseia em critérios:

- Desejo um(a) orientador(a) específico(a) e vou atrás dele(a) em qualquer programa ou


escolherei primeiro o programa e dentro do quadro docente disponível decidirei a
orientação?
- Busco uma orientação-referência ou prefiro professores que também trabalhem temas
correlatos?

É importante que se opte por alguém especializado ou que já tenha em algum momento
trabalhado com temas afins ao que você quer pesquisar. O trabalho é de sua responsabilidade, mas
com orientação especializada a tendência é de que flua mais tranquilamente. Informações sobre o
histórico de pesquisa dos docentes podem ser encontradas em seus Currículos Lattes
(http://lattes.cnpq.br/).

Processo seletivo: entendendo o edital e se preparando para cada etapa

Chegou a hora da seleção! É imprescindível que o edital seja lido com tranquilidade,
preferencialmente por mais de uma vez e com bastante atenção. É neste documento onde você
encontrará tudo o que precisa saber sobre o processo seletivo, tais como os documentos
solicitados, etapas e prazos. Atente-se sobretudo às seguintes informações:

- Etapas da seleção e atribuição de pontos/pesos a cada uma delas;


- Documentos e comprovações solicitadas;
- Valor da inscrição, prazo de pagamento, pedidos de isenção (se houver);
- Número de vagas e modalidades (cotas, por linha, por orientador).

A seguir, descrevemos as etapas que mais aparecem nos processos seletivos:

Anteprojeto de pesquisa

Se trata de um documento onde você deve expor o assunto que deseja pesquisar,
justificando a relevância do tema e evidenciando seu domínio sobre a literatura. Cada programa

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terá exigências específicas, mas, em geral, os tópicos são: título, introdução, objetivos, justificativa,
metodologia, referencial teórico, cronograma de atividades e referências. Para quem deseja
ingressar ao doutorado, geralmente também se exige a hipótese da investigação.
Dê preferência a utilizar autores do próprio programa pretendido e não esqueça de que seu
texto deve estar alinhado aos eixos de investigação ofertados.
Os principais critérios de avaliação são: clareza do texto, objetividade na apresentação de
ideias, relevância do tema e exequibilidade da proposta. A atribuição de pontos a cada uma das
seções e aspectos é variável e deve ser verificada no edital.

Entrevista

Nesta etapa, a regra é: estudar cada detalhe do seu projeto e estar embasado para todas as
possíveis perguntas. Explique a lógica do seu trabalho, pois o foco de uma entrevista é avaliar se
você argumenta bem a necessidade de sua pesquisa para aquele campo científico.
Não deixe de se atentar a detalhes como: horário e duração da entrevista, e a plataforma de
chamadas de vídeo onde será realizada (para as seleções remotas).
Além disso, esteja ciente de que em alguns programas perguntas mais pessoais são feitas,
tais como se você aceitaria estudar sem bolsa, se trabalha, tem filhos etc.

Arguição

Para alguns programas, essa é uma das etapas realizadas no processo seletivo. Trata-se da
defesa presencial do projeto como uma apresentação formal, ou em alguns casos, uma leitura da
prova escrita realizada.

Memorial

Trata-se de um texto escrito em primeira pessoa onde você narra os aspectos mais
relevantes de sua trajetória acadêmica e profissional e demais pontos exigidos caso essa etapa
conste em seu edital. Em geral, solicitam que apresente sua formação, idiomas que compreende,
atividades de pesquisa ou extensão que tenha desenvolvido durante a graduação, atuação
profissional, entre outros.

Prova escrita

Durante a pandemia vários programas retiraram essa etapa de seus processos seletivos,
mas a tendência é de que elas retornem visto que professores, organizadores e inscritos estão
mais adaptados à atividades remotas.
Sua estrutura é também variável, mas em geral duas possibilidades são recorrentes: 1. a
redação de um único texto problematizando as questões exigidas e 2. prova com 3 a 4 questões
diferentes em que pedem respostas mais curtas e pontuais. Em ambos os casos, o que se avaliará

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é sua capacidade de relacionar teorias, articular temas cotidianos, construir textos elaborados e
que explicitem senso crítico.
Cada programa indica, no edital, a bibliografia de leitura obrigatória para a realização das
provas.

Análise de currículo

Em cada seleção, a análise do currículo Lattes é feita de maneira distinta. Os programas em


geral têm critérios e pontuações próprias para cada seção, e disponibilizam as atribuições via
edital. O seu papel nessa etapa é apresentar as comprovações de cada item que constar em seu
Lattes, e o ideal é que você possua uma pasta (física ou em nuvem) com suas certificações
agrupadas.
Como se sabe, um currículo não se constrói da noite para o dia, e sim ao longo da sua
trajetória acadêmica. Fazer atualizações constantes a partir de eventos, participações em cursos,
publicações, entre outros é fundamental.

Prova ou comprovação de aptidão em língua estrangeira

A comprovação de conhecimentos em um segundo idioma é obrigatória para todas as


seleções, e ela pode ser feita a partir de: 1. exames de proficiência, 2. certificados de cursos, ou 3.
prova realizada pelo próprio programa.
Deve-se atentar aos idiomas aceitos em sua seleção, e essa informação – assim como todas
as outras – consta no edital.
Na realização de prova interna do programa, a intenção é apenas testar sua capacidade de
compreensão e interpretação textuais e, em alguns casos, é permitido a utilização de dicionários
(desde que não sejam bilíngues).
As dúvidas a respeito de outras certificações devem ser sanadas pelo contato via e-mail do
programa.

Elaborando um cronograma de preparação

Chegou o momento de pôr a mão na massa! O ideal é que o planejamento seja feito com
antecedência. Ou seja, se você já sabe o(s) programa(s) que deseja prestar a seleção, já tem uma
ideia da pesquisa a desenvolver e já sabe qual orientador(a) vai escolher, comece a preparação
antes mesmo antes de o edital do ano sair. O tempo é uma vantagem preciosa!
Se esse não for o seu caso, e tiver sido pego de surpresa pela própria decisão, pela
antecipação da publicação de um edital ou coisa do tipo, não há problema! Com um prazo mais
apertado a preparação vai ser mais intensa, mas nem de longe torna impossível sua aprovação.
O primeiro passo a ser dado refere-se aos seus documentos. Depois de ler o edital, tome
nota de todos os documentos necessários e os agrupe em um só lugar (tanto os documentos

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pessoais quanto as comprovações de seu currículo). Se for necessário pedir à coordenação de seu
curso de graduação por algum certificado, o faça com antecedência, pois pode haver um prazo de
entrega maior que o que você precisa. Tenha disponível também uma foto 3x4 atual.
Finalmente, dedique-se ao seu anteprojeto de pesquisa. Aqui, mais que em qualquer parte, o
gerenciamento de tempo é essencial! Aconselhamos a seguinte divisão:

- 20% do tempo: Objetivos (O que quero fazer nessa pesquisa?) e Justificativa (Por que esse
trabalho é relevante cientificamente?)
- 30% do tempo: Referencial teórico (O que a literatura diz sobre o meu tema?)
- 20% do tempo: Metodologia (De que forma eu operacionalizo a minha pesquisa e o que a
literatura discute a esse respeito?)
- 5% do tempo: Cronograma de atividades (Quando vou ler os textos da área? Quando vou
coletar os dados? Em quanto tempo pretendo cumprir os créditos disciplinares? Quando vou
qualificar minha pesquisa? Quando vou escrever? Quando será a defesa final? No caso do
Doutorado, quando cumprirei o estágio docente?)
- 15% do tempo: Introdução – o cartão de visitas da sua pesquisa. Recomendamos que seja a
última seção do anteprojeto a ser escrita pois nela constarão uma espécie de resumo das
demais partes.
- 10% do tempo: Formatação (de acordo com o edital), revisão e ajustes gerais do texto.

Esperamos que esse pequeno manual te ajude de alguma forma. Sua preparação não deve
se esgotar nele e é fundamental a dedicação e autonomia de buscar mais conteúdo.
A Pós-Graduação não é um horizonte tão distante quanto parece e, apesar da situação atual
do país ser de extrema desvalorização do trabalho de pesquisadores, a atividade resiste.

Boa sorte!

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