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Este capítulo reunirá as experiências de três profissionais que trabalham diretamente com
orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso, os tão temidos, amados e/ou odiados TCCs, e
fornecerá dicas e alguns “macetes” que poderão ser úteis para aqueles que estão iniciando sua
vida como pesquisadores.
Quase todos os alunos de graduação em Psicologia, e também de outras áreas, têm seu
primeiro contato com a produção de uma pesquisa segundo o rigor científico quando fazem o seu
primeiro TCC. Para alguns, tal atividade é realizada com entusiasmo e satisfação, mas para uma
parte dos alunos o TCC é motivo de insônia, discussões com colegas e com o orientador, e é
realizado somente como mais uma das muitas exigências da vida acadêmica. A crítica que os
autores fazem é que muitos acadêmicos veem a realização do TCC como mais uma “matéria” que
eles têm de cumprir para tirar nota, não dando a si mesmos a oportunidade de aprender e estudar
com prazer.
Embora a realização de uma pesquisa científica envolva passos cuidadosamente planejados e
exija habilidades bastante complexas, estas podem ser exercitadas em atividades aparentemente
banais. Pode-se citar como exemplo o fazer o planejamento de uma festa, o arrumar uma mala
para uma viagem ou mesmo preparar uma feijoada. Na verdade, é bastante simples e vamos
utilizar o exemplo da mala de viagem fazendo uma analogia com o planejamento de uma pesquisa.
Em primeiro lugar, quando se prepara uma mala para qualquer viagem, deve-se ter em mente
para onde se vai e quanto tempo se ficará fora, ou seja, por analogia, qual o objetivo da pesquisa
e quanto tempo ela vai durar. Mesmo que você não saiba ao certo quanto tempo demorará a
viagem, saberá o seu objetivo e poderá trabalhar com hipóteses na preparação da mala. É o que
também ocorre com o planejamento de uma pesquisa (expresso no Capítulo 4, Construção de
Instrumentos de Avaliação: Operacionalizando Construtos para Pesquisa). Quando se elabora um
projeto de pesquisa, está se aprendendo a planejar, ou seja, pensar antecipadamente nas mais
variadas situações e possibilidades que poderão ser enfrentadas durante o desenvolvimento da
pesquisa e, apesar de ser um momento maçante para alguns, este exercício geralmente nos
proporciona um aprendizado que extrapola o projeto e a execução da pesquisa, a qual nos poderá
ser útil quando depararmos com experiências profissionais futuras (e até estritamente pessoais)
na vida, fora do ambiente acadêmico. Portanto, planejar uma pesquisa é um ótimo treino para a
profissão como um todo.
Quando você entra em um estágio novo, poderá ter de coletar dados, o que pode ser feito por
meio de observação sistematizada, de questionários ou de qualquer outro meio, para então
planejar a sua ação, o que é muito parecido com a pesquisa. Quando você é convidado para
estagiar em um hospital, por exemplo, é importante saber com antecedência em que serviço
atuará, quantos profissionais trabalham no departamento, quantos são da sua área e quantos atuam
em áreas de convergência, quem é atendido pelo serviço, quais as características desse serviço,
qual a média de atendimento exercido pelos profissionais, quais os tipos de atendimento que estão
disponíveis para os pacientes, qual ou quais a(s) linha(s) teórica(s) de base dos profissionais da
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BAPTISTA, Makilim Nunes; MORAIS, Paulo Rogério; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Iniciando uma pesquisa: dicas de
planejamento e execução. In: BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa. Metodologias de Pesquisa em
Ciências: análises quantitativa e qualitativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019, p. 9-26.
sua área, quem é quem, entre outras tantas informações. Estamos, portanto, mais uma vez falando
de planejamento e de pesquisa.
Da mesma forma, quando você é chamado para uma entrevista em uma organização, deve ir
preparado para o encontro tendo o máximo possível de informações sobre ela, como, por exemplo,
qual é o seguimento de mercado que ela cobre, quantos funcionários possui, a reputação no
mercado de trabalho, qual o perfil dos funcionários etc. Com essas informações você pode causar
uma melhor impressão no seu entrevistador, bem como evitar comentários irreais ou
descontextualizados. Planejar, portanto, é uma importante ferramenta na vida das pessoas, pois
aquele que conhece as variáveis do problema pode ter mais chances de articulá-las no sentido de
avaliar melhor os problemas enfrentados nos diferentes ambientes e responder a eles de maneira
mais eficaz.
As pessoas com grande capacidade de planejamento geralmente são aquelas que mais
conseguem chegar aos melhores cargos, ao status e salários mais altos em uma sociedade
competitiva e que oferece uma gama infindável de informação. Da mesma forma, os
pesquisadores mais bem-sucedidos são aqueles que desenvolvem, no decorrer da sua prática, uma
boa capacidade de planejar suas pesquisas, além de criticidade, concentração, determinação,
espírito investigativo, entre outras dezenas de qualidades que um pesquisador de qualidade deve
ter. Inclusive, saber separar as informações mais relevantes também faz parte de um bom
planejamento, o que também ocorre com a pesquisa, pois, a partir do momento em que o
pesquisador está delimitando o seu tema, deverá saber separar as pesquisas mais confiáveis
daquelas cuja metodologia é duvidosa; isso requer prática e conhecimento do tema que se vai
pesquisar. Mesmo que seja a primeira pesquisa que você irá desenvolver, e mesmo que você não
tenha prática nem conhecimento, seu orientador poderá ajudá-lo (dependendo do objetivo, da
visão teórica e das hipóteses) a separar autores mais conhecidos e mais confiáveis no meio
científico, bem como artigos indexados em bases de dados e/ou artigos que foram publicados em
periódicos de prestígio.
PLANEJAMENTO DA PESQUISA
Como já foi citado, o planejamento da pesquisa pode ser uma fase crucial para todo o trabalho
subsequente. É comum alunos desejarem iniciar a pesquisa o mais cedo possível. Afinal de contas,
no caso de um TCC, o tempo urge, é exíguo, escasso e diminuto. Mas toda essa pressa, em geral,
é quase invariavelmente contida pelos professores orientadores, a contragosto dos alunos. No
entanto, uma pesquisa executada sem o planejamento adequado pode ser como preparar a mala
para viagem com os olhos vendados e sem saber qual o destino.
Vale lembrar que todas as decisões, tomadas ou não quando se está planejando a pesquisa
terão, mais cedo um mais tarde, consequências. Um planejamento mal conduzido pode
comprometer todo o trabalho, da mesma forma que um bom planejamento poderá evitar muitos
contratempos. Tenha em mente que o tempo gasto em fazer o planejamento dificilmente será um
tempo perdido.
Em algumas instituições existem linhas de pesquisa já preestabelecidas; em outras, o aluno
deve fazer a pesquisa de acordo com pesquisas já desenvolvidas pelo seu professor orientador; e,
em outras, o aluno escolhe seu tema de pesquisa. Seja como for, um momento decisivo para uma
pesquisa é a escolha do tema. Por isso, na escolha do tema da pesquisa há a necessidade de pensar
antecipadamente em uma série de questões relacionadas com a execução da pesquisa.
Existe uma série de fatores que influenciam na escolha do tema e podem ser divididos
(didaticamente) em internos e externos. Podemos chamar de fatores internos aqueles relacionados
mais fortemente com as características pessoais do pesquisador, e de fatores externos aqueles
ligados a questões que o pesquisador tem pouca ou nenhuma possibilidade de modificar.
Ao pensar na escolha de um tema de pesquisa, lembre-se de:
•Escolher um tema que lhe agrade. Normalmente, um TCC é feito ao longo de um ano.
Imagine-se fazendo um trabalho sobre um tema que não lhe desperte nenhum interesse
pessoal ou com o qual você não tenha a menor afinidade. Para você fazer um bom trabalho é
preciso que este lhe traga um mínimo de prazer. É certo que o trabalho de pesquisa poderá
ser desgastante e até mesmo estressante em alguns momentos, mas o fardo do TCC ficará
bem mais leve se o tema lhe agradar. No entanto, nem sempre isto será possível de ocorrer,
pois dependerá de uma série de variáveis, tais como: se existem linhas de pesquisa por
orientador, a flexibilidade do seu orientador, entre outras.
•Pensar no tempo que você pretende despender na pesquisa. Mesmo que você escolha um
tema com o qual tenha profunda afinidade pessoal, pesquisar alguns temas pode exigir de
você mais tempo do que dispõe ou está disposto a gastar na pesquisa. Por exemplo, se você
pretende fazer uma pesquisa sobre diferenças nos níveis de estresse de trabalhadores de
diferentes turnos de serviço, isso poderá lhe custar algumas noites e fins de semana coletando
dados. Além disso, você terá de conciliar as atividades da pesquisa com outras atividades
acadêmicas e pessoais.
•Fazer uma estimativa de quanto dinheiro você poderá gastar na pesquisa. São relativamente
raros os TCCs que recebem algum tipo de subsídio financeiro; por isso, é interessante escolher
temas que não estejam além das suas reservas. Pense nos gastos que você teria se seu tema de
pesquisa fosse a avaliação das características psicológicas de índios do Xingu… Não só você
teria que gastar bastante dinheiro, como também dispor de bastante tempo para fazer tal
pesquisa. Além disso, mesmo que você disponha de alguma bolsa de iniciação científica ou
apoio financeiro para realizar a pesquisa, tanto a bolsa como o apoio têm limites e você não
poderá extrapolá-los.
•Alinhar sua bagagem teórica com o tema. Não adianta muito escolher um tema apaixonante,
mas sobre o qual você não disponha de informação teórica alguma ou cuja investigação seja
incompatível com sua visão de mundo. Imagine um pesquisador com inclinações
comportamentalistas tentando fazer uma pesquisa acerca da expressão de comportamentos
relacionados com o complexo de Édipo freudiano ou um pesquisador que tenha afinidade
com as ideias da fenomenologia fazer um estudo sobre os procedimentos adotados por
terapeutas comportamentalistas para tratar transtorno obsessivo-compulsivo. A realização de
tais pesquisas não é inviável, mas certamente será mais trabalhosa do que se os pressupostos
teóricos dos pesquisadores forem coerentes com os temas. Do mesmo modo, a escolha de um
tema sobre o qual você tem pouca ou nenhuma bagagem teórica poderá resultar em um gasto
de tempo (geralmente escasso) para se familiarizar com aspectos teóricos relevantes ao tema,
o que será evitado se você escolher um tema com o qual já esteja familiarizado, pelo menos
quanto aos principais aspectos teóricos. Uma saída para quem não pretende entrar em méritos
teóricos seria pesquisar um construto que não tenha, pelo menos diretamente, relação com
alguma linha teórica. Por exemplo, você pode realizar uma pesquisa de levantamento sobre
ideação suicida sem necessariamente abordar as explicações de alguma linha teórica para o
fenômeno.
Além desses fatores que são fortemente ligados ao pesquisador, existem outros que são
situacionais e com os quais o pesquisador terá que lidar, queira ou não. Ao contrário dos citados
anteriormente, na maioria das vezes, o aluno pesquisador tem pouca ou nenhuma condição de
modificar os fatores apontados a seguir. Por isso, é bom pensar cuidadosamente em aspectos
como:
•Perfil pessoal do orientador. É péssimo, mas é não raro ocorrer (principalmente em nível de
graduação) que o aluno se veja “obrigado” a fazer uma pesquisa sob a orientação de um
profissional que não tem a mesma orientação teórica que ele, ou que tem interesses de
pesquisa que não combinam com os seus. Este tipo de situação apresenta vantagens e
desvantagens. Uma das vantagens é que, a priori, o orientador terá, nesses casos, muito mais
interesse e condições de fazer contribuições substanciais para a pesquisa, já que a pesquisa
abordará um tema que é do seu escopo teórico e profissional. A principal desvantagem talvez
seja o aluno ter que “engavetar” aquele tema que tanto lhe interessa e deixar para pesquisar
sobre ele em outro momento. É natural, quando se apresentam temas sobre os quais o
orientador não dispõe de conhecimentos suficientes para orientar, que os temas sejam
postergados para o mestrado ou que o aluno busque a coorientação de alguém que domine e
tenha interesse pelo tema. Caso esta seja uma condição que você tenha de enfrentar, a melhor
maneira de fazer isso é encará-la como uma oportunidade de aprender coisas diferentes, novos
modos de pensar e até mesmo passar a gostar de um tema que não lhe ocorrera. É sempre
interessante tentar evitar atrito nas relações, ainda que isto não seja possível todas as vezes.
Isto porque você pode também “bater o pé” e decidir, mesmo contrariando seu orientador,
fazer o que bem entender — ciente de que não pode esperar colaboração substancial da parte
dele.
•Significado e relevância do tema. Há temas de pesquisa que são bastante interessantes mas
sobre os quais já existem tantas pesquisas feitas, que a realização de mais uma seria como
“chover no molhado” ou tentar reinventar a roda. Há também temas que são atraentes para o
pesquisador mas que não são vistos como relevantes pela maioria das pessoas. Exemplos
interessantes de pesquisas não tão populares que são realizadas, até mesmo por pesquisadores
renomados, podem ser encontrados entre os premiados anualmente pelo Prêmio IgNobel, uma
versão bem-humorada do famoso Prêmio Nobel. Entre as pesquisas “laureadas” com tal
prêmio consta o primeiro relato de necrofilia homossexual entre patos, ou os efeitos da
música country sobre o suicídio, ou pesquisadores japoneses que investigaram as
características químicas de uma estátua de bronze que não atraía
pombos.2 Independentemente das nossas concepções sobre a ciência como uma atividade do
homem em busca de conhecimento acerca da natureza, um trabalho de iniciação científica
não é o melhor espaço para se investigar temas impopulares.
•O tempo disponível para a conclusão do trabalho. Uma pesquisa — de TCC, de mestrado
ou de doutorado — deve ser realizada dentro de limites claros de tempo, ou seja, o
pesquisador não dispõe de tempo ilimitado para entregar sua pesquisa pronta. Por este motivo,
na escolha do tema este é um fator que deve ser muito bem avaliado, pois um mau
dimensionamento do tempo para a realização da pesquisa pode gerar mais estresse do que o
necessário, ou mesmo resultar em uma eventual reprovação. Quando a pesquisa precisa
respeitar prazos, é interessante escolher um tema e propor objetivos de pesquisa passíveis de
serem alcançados dentro do prazo. Em um TCC, é muito mais viável fazer uma pesquisa
transversal (uma coleta) do que propor uma avaliação longitudinal (várias coletas de dados
em um espaço de tempo).
•Disponibilidade de material teórico sobre o tema. Assim como não é interessante tentar
reinventar a roda com sua pesquisa, não é interessante que seu tema seja tão novo a ponto de
não haver estudos sobre ele. Não é proibitivo fazer pesquisas sobre assuntos novos, mas para
quem está começando a lidar com pesquisa é mais seguro escolher um tema de pesquisa que
disponha de material para ser consultado. Alguns temas são tão pouco explorados que o
pesquisador se vê obrigado a buscar informações em fontes que podem exigir certa
experiência com pesquisa bibliográfica, e também proficiência em língua inglesa, já que a
maior parte das publicações se encontra nesta língua. Quando o material bibliográfico
disponível é escasso, o pesquisador pode necessitar de dinheiro extra para comutar (pedir para
trazer) dissertações ou teses de outros estados. Em relação a esse ponto, é interessante lembrar
que o aluno pode pedir para trazer um artigo ou dissertação ou tese de uma biblioteca de outro
estado (se a biblioteca fizer parte dos convênios), por meio de serviços como o Comut
(Programa de Comutação Bibliográfica) ou o Bireme/BVS (Biblioteca Regional de
Medicina/Biblioteca Virtual de Saúde), que cobram uma taxa específica por número de
páginas do material encomendado.
A EXECUÇÃO DA PESQUISA
A execução da pesquisa é a prova de fogo para o seu planejamento. A partir do momento em
que seu planejamento foi benfeito, a probabilidade de você realizar uma pesquisa sem grandes
problemas está quase garantida. Dizemos “quase” porque, na hora de ir a campo coletar dados,
podem acontecer imprevistos. Por esse motivo, é bom estabelecer um projeto cujo planejamento
permita certa flexibilidade para sofrer eventuais alterações decorrentes de eventos que só
conheceremos no momento em que ocorrerem.
A execução daquilo que foi planejado não tem grandes segredos e envolve mais as questões
éticas do que propriamente técnicas, além da observação cuidadosa do cumprimento dos prazos
estabelecidos em um cronograma.
A seguir, são apresentadas algumas dicas que poderão ser úteis para a execução da sua
pesquisa.
Imagine que, para o exemplo proposto do consumo de bebidas alcoólicas por universitários,
o pesquisador tenha um questionário com cerca de 30 questões dispostas em cinco páginas
impressas. Ele faz um determinado número de fotocópias dos questionários e aplica seu
questionário coletivamente em sala de aula de uma universidade. No momento de fazer a
tabulação dos dados para análise posterior, o pesquisador percebe que o questionário contém
questões que podem ser interpretadas de maneira dúbia e que não há uma questão que identifique
o gênero do participante. Caso as respostas para as questões dúbias e o gênero dos participantes
sejam informações fundamentais para a realização da análise, todo o tempo e dinheiro gastos terão
sido praticamente “jogados fora”, pois os dados coletados podem não ter nenhuma utilidade e é
possível que a coleta de dados tenha que ser feita novamente.
•Tenha cuidado com questões éticas. Algumas pesquisas, em sua fase de execução, podem
envolver questões éticas divididas em dois grandes grupos:
a. Aspectos éticos relacionados com os participantes. Tanto as pesquisas feitas com seres
humanos quanto as pesquisas realizadas com animais devem obedecer a princípios e
normas nacionais e/ou internacionais de conduta que visam a preservar a integridade do
participante. No Brasil já existe uma resolução que estabelece normas de conduta que
deverão ser respeitadas por pesquisadores que pretendam realizar pesquisas com seres
humanos, a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A leitura cuidadosa e
uma discussão constante dessa resolução com seu orientador, tanto no planejamento da
pesquisa quanto no decorrer da coleta dos dados, devem ser atividades rotineiras.
b. Aspectos éticos relacionados à fidedignidade dos dados. A atividade científica só
produz conhecimento válido quando realizada de maneira honesta. A fraude em pesquisa
caracteriza-se por condutas que, deliberadamente, poderão redundar em resultados que
não representam de modo fidedigno a realidade. De acordo com Goldim (2002), a fraude
pode acontecer em todas as fases da pesquisa, desde o planejamento até a divulgação dos
resultados. Durante a coleta e análise dos dados, existem muitas maneiras de fraudar os
resultados finais de uma pesquisa, tais como:
■Utilizar propositalmente de amostras de conveniência enviesadas. Exemplos citados
por Huff (1954) mostram que você pode conseguir provar qualquer coisa em sua
pesquisa, bastando para isso buscar os elementos que forneçam as respostas que você
deseja. Por exemplo, se seu desejo é mostrar que a incidência de sintomas de
depressão em idosos é alta, basta que a coleta dos dados seja feita principalmente de
indivíduos de aparência tristonha ou que se queixem de tristeza.
■Inventar os dados. Goldim (2002) cita que o pesquisador pode, deliberadamente,
criar dados que nunca foram de fato coletados, ou mesmo forjar dados a partir de uns
poucos casos efetivamente coletados.
■“Maquiar” os dados. Um pesquisador pode deliberadamente se utilizar de recursos
não muito lícitos para tornar seus dados mais apresentáveis. Por exemplo, é sabido
que dados obtidos de amostras homogêneas são mais confiáveis do que dados
oriundos de amostras heterogêneas, por isso o pesquisador pode optar por apresentar
a variabilidade da idade de sua amostra não pelo desvio padrão das idades, mas sim
pelo erro padrão da média,3 o que dá a impressão de haver uma variabilidade menor
para esta variável.
■Inclusão ou exclusão de dados de acordo com os pressupostos teóricos do trabalho
(Goldim, 2002). Ao fazer isso, o pesquisador poderá ter em mãos resultados que,
embora inválidos, são mais fáceis de discutir. Imagine que você vá fazer uma
pesquisa para verificar se existe correlação entre suporte familiar e quantidade de
álcool ingerida por adolescente e que, ao fazer a revisão da literatura, você observa
que diferentes autores já verificaram que, quanto maiores a quantidade e a frequência
de consumo de bebida alcoólica por adolescente, mais pobres são as suas relações
familiares. É mais fácil discutir resultados que estejam em concordância com outros
estudos já realizados do que buscar explicações alternativas para uma eventual
discordância entre seus resultados e os dados da literatura.
■Análise enviesada dos dados. Mesmo que os dados tenham sido obtidos da maneira
mais honesta possível, ainda assim um pesquisador mal-intencionado poderá
modificar seus resultados fazendo uma análise propositalmente inadequada dos seus
dados. É sabido que, pelas mais diversas questões, é muito difícil um pesquisador
conseguir publicar um trabalho no qual não haja a tal diferença estatisticamente
significante em seus resultados (o famoso p < 0,05). Por isso, o pesquisador pode
optar por utilizar provas estatísticas variadas para fazer seu teste de hipóteses, mesmo
sabendo que seus dados não obedecem aos critérios necessários a tais provas. Da
mesma maneira, o tratamento de dados qualitativos também pode ser feito de modo
deliberadamente equivocado e gerar resultados que vão ao encontro dos pressupostos
teóricos do pesquisador, como, por exemplo, não adotar corretamente o julgamento
cego.
Para os casos de fraude em pesquisa, vale o provérbio popular: “a mentira tem pernas curtas.”
Mais cedo ou mais tarde, as fraudes tendem a ser descobertas, o que resulta em grandes prejuízos
acadêmicos, profissionais e morais para todos os envolvidos. Além disso, gastar tempo e
inspiração para forjar dados e resultados pode trazer benefícios imediatos, mas em nada
contribuem para o crescimento pessoal e profissional do pesquisador, muito menos para o
aumento do conhecimento acumulado em uma determinada área. Um dos pilares que sustentam
o aprendizado científico é a honestidade. Imagine uma situação em que você foi orientado em
uma pesquisa e o seu orientador propõe a publicação. Depois da publicação, seu orientador e você
recebem uma intimação para prestarem contas de cópia de material (de ideias), e mesmo que o
orientador tenha acompanhado de perto a pesquisa, o orientador acreditou na sua integridade
científica. Você poderá ser processado por plágio, pelo autor do artigo ou livro original que foi
copiado, e também pelo seu próprio orientador, que pode se sentir enganado, além das
consequências morais para você, para o seu orientador e para a universidade. Pense nisto.
•Prepare todo o material para a coleta dos dados. No momento da coleta dos dados não é
nada elegante, além de poder alterar o teor das respostas dos participantes, você não ter em
mãos todo o material necessário para a coleta de dados. Imagine ir aplicar um questionário
coletivamente em sala de aula e o número de cópias do questionário não ser suficiente para o
número de alunos presentes em sala, ou então ter que interromper a aplicação de um teste
porque se esqueceu de pegar um cronômetro. Uma boa maneira de evitar esses pequenos
aborrecimentos é fazer uma lista especificando o tipo e a quantidade de todos os materiais
necessários para a coleta de dados e fazer a checagem de tal lista antes de sair a campo para
coletar dados.
•Padronize a coleta dos dados. O teor das respostas dadas pelos participantes e até mesmo
o comportamento de animais de laboratório podem sofrer grande influência pelo modo como
o pesquisador se comporta, pelas suas características físicas e por outros aspectos que podem
facilmente ser controlados para evitar a geração de dados pouco confiáveis. Por esse motivo,
é recomendável que as pessoas que serão responsáveis pela coleta de dados sejam treinadas,
que as instruções para o preenchimento dos questionários sejam sempre as mesmas, e que
outras variáveis (sexo, idade, tipo de roupa, entre outras) sejam controladas para evitar que
influam nos resultados. Existem pesquisas mostrando a decisão de médicos em prescrever ou
não medicamentos ansiolíticos devido à influência do gênero do paciente e mulheres tendem
a receber mais prescrições de calmantes do que homens que apresentam as mesmas queixas
e semelhante quadro clínico.
•Evite “terceirizar” as atividades que não exigem conhecimento específico acerca do
tema da pesquisa (coleta, tabulação e análise estatística dos dados). Mesmo que, para fins
de aprendizado, seja de fundamental importância acompanhar todas as etapas da produção de
uma pesquisa, muitas vezes a escassez de tempo, ou a simples comodidade, pode levar o
pesquisador iniciante a contratar os serviços de outras pessoas para executarem as tarefas
“braçais” da pesquisa. De fato, algumas atividades que compõem a produção de uma pesquisa
científica não exigem nenhum conhecimento específico acerca do que está sendo pesquisado
e outras ainda sequer requerem formação específica. A coleta de dados, por exemplo, é uma
atividade que não exige formação ou conhecimentos específicos. Por esse motivo, é uma
etapa da pesquisa que poderá ser “terceirizada”, ou seja, o pesquisador poderá delegar essa
tarefa a outras pessoas especialmente treinadas para isto. Esta estratégia poderá ser útil
quando a quantidade de dados a serem coletados é demasiadamente grande, ou quando o
pesquisador dispõe de pouco tempo para realizar as demais atividades relacionadas com a
pesquisa, tais como ler material bibliográfico e redigir partes do trabalho que não exigem a
existência de dados, como a introdução, por exemplo. Vale lembrar que as pessoas que irão
coletar os dados devem ter muito claros os aspectos éticos relacionados com a coleta de dados,
tanto no que se refere aos cuidados com os participantes quanto no que diz respeito à
importância da fidedignidade dos dados obtidos. De maneira geral, é sempre interessante que
haja um treino de quem irá coletar os dados, pois muitas dúvidas podem ser sanadas nesse
treinamento, evitando consequentes problemas na coleta. É interessante lembrar que você
poderá utilizar um instrumento válido e fidedigno; no entanto, se a coleta de dados for feita
de maneira inadequada, de nada valerão as qualidades psicométricas do seu instrumento (ver
o Capítulo 6, “Relação entre metodologia e avaliação psicológica”).
Da mesma maneira, a tabulação é uma tarefa que pode ser delegada a uma pessoa que tenha
conhecimentos básicos de informática, uma vez que se poupa muito tempo fazendo a tabulação
dos dados diretamente em alguma planilha eletrônica. Mesmo que você não terceirize esta tarefa,
não é recomendável fazer a tabulação dos dados sozinho, pois é grande a probabilidade de cometer
erros de digitação que podem comprometer a fidedignidade dos seus resultados. Sugerimos que
você convide um amigo para auxiliá-lo nesta empreitada. Enquanto um digita, o outro dita os
dados que devem ser inseridos na planilha.
Outra tarefa que geralmente consome tempo e exige conhecimentos consistentes em
Estatística é a análise estatística dos dados. Como você deve saber por experiência própria, é
relativamente raro um estudante ou profissional de Psicologia que goste de cálculos, de números
e tudo mais que lembre Matemática ou Estatística. No entanto, como se pode constatar
no Capítulo 17, “Estatística e delineamentos de pesquisa”, a Estatística é uma ferramenta
indispensável para a análise dos dados. Somente após ter submetido os dados coletados a alguma
prova estatística o pesquisador saberá qual a probabilidade de estar cometendo um erro em suas
conclusões.
Por esse motivo, é bastante comum que mestrandos, doutorandos e pesquisadores experientes
deixem a análise estatística de seus resultados por conta de um estatístico ou algum outro
profissional que saiba escolher e aplicar provas estatísticas aos dados. Essa prática apresenta
vantagens e desvantagens. As principais vantagens são a economia de tempo e a confiança em
que os resultados estarão corretos. (Se você não domina a análise estatística, é muito provável que
cometa algum erro, tanto na escolha e/ou execução da prova estatística quanto na interpretação
do resultado de tal prova.) Como desvantagens podemos citar o custo (uma análise estatística não
é barata) e a falta de aprendizado para situações futuras (se você paga a outra pessoa para fazer a
análise estatística dos seus resultados, você não aprende nada relacionado com essa atividade e,
portanto, precisará recorrer a terceiros sempre que precisar analisar dados de pesquisas).
Tais informações não são úteis somente para circunstâncias extremas como a citada, mas
também para outras situações em que é importante conhecer a história de uma dada informação.
•Guarde com cuidado os dados coletados. Depois de coletados, os dados devem ser
devidamente identificados e guardados em local seguro. Não é raro que pesquisadores
iniciantes relatem problemas relativos à perda de questionários preenchidos ou a dificuldades
de localizar um determinado questionário no meio de todos coletados. Uma estratégia é
atribuir uma identificação numérica a cada um dos elementos que compõem a amostra,
escrevendo o número de identificação do participante em todos os questionários e outros
materiais referentes aos seus dados. Além disso, sempre que os dados forem coletados em
locais ou momentos diferentes, é recomendável manter os materiais arquivados juntos. Por
exemplo, se os dados forem coletados em duas escolas diferentes (escola A e escola B), você
poderá guardar os materiais da escola A em uma pasta e os da escola B em outra. Além disso,
alguns periódicos exigem que os materiais originais contendo os dados da pesquisa sejam
armazenados por um período de até cinco anos. Por isso, é interessante ter os materiais bem
guardados e preservados, tanto durante a realização como também após o término da
pesquisa.
•Respeite o cronograma de pesquisa. No planejamento da pesquisa, você deverá estipular
prazos para a execução das diversas atividades que compõem a execução de uma pesquisa
científica. Esses prazos não são meras formalidades; o rigoroso cumprimento dos prazos
certamente evitará dores de cabeça no final. É comum que não nos preocupemos com
pequenos atrasos na execução de uma ou outra tarefa, mas tais atrasos tendem a se acumular
e, no final, o já escasso tempo para a conclusão da pesquisa poderá estar comprometido. Por
isso, evite atrasos e, sempre que for possível, adiante a execução de alguma tarefa listada no
cronograma de pesquisa.
Por mais interessante que seja o seu problema de pesquisa, por mais vasta que tenha sido a
sua revisão teórica ou por mais que você domine o seu tema de pesquisa, nada disso terá valor se
você não executar de fato a pesquisa. Um bom projeto de pesquisa não tem muito valor se a
pesquisa não for realizada.
A REDAÇÃO DO TRABALHO
Escrever o trabalho, dar forma aos dados coletados, é a tarefa que materializa todo o trabalho
que você teve para planejar e executar a sua pesquisa. Embora “escrever” seja um verbo que nos
lembra uma habilidade adquirida tão precocemente e que tanto utilizamos nas mais diversas
situações do dia a dia, a ponto de acharmos que é uma ação automática, escrever um trabalho de
pesquisa não é simplesmente “escrever”. É escrever obedecendo às regras ortográficas e
gramaticais que aprendemos nos ensinos fundamental e médio, e também criar um texto inédito.
Existem no mercado muitos manuais de redação científica que poderão ser úteis a você ao
redigir o seu relatório de pesquisa. Por esse motivo, não iremos aqui abordar aspectos formais da
redação de um relatório de pesquisa, tais como o que deve conter um texto introdutório, ou como
devem ser apresentados os resultados. Buscaremos apresentar questões pertinentes ao labor de
escrever cientificamente.
O texto científico tem características bastante distintas dos textos literários, jornalísticos ou
publicitários. De modo geral, só temos contato com textos científicos quando ingressamos em um
curso universitário. Antes disso, os textos que lemos e dos quais reproduzimos o estilo quando
somos solicitados a escrever muito pouco se parecem com os estilos de redação utilizados em
relatórios de pesquisa ou em artigos que relatam pesquisas.
Dadas as especificidades da redação científica, mesmo pessoas que desenvolveram uma ótima
redação durante os ensinos fundamental e médio podem sentir certo desconforto quando se põem
a escrever um texto científico.
Certamente você já ouviu alguém dizer que “só escreve bem quem lê muito”. De fato, parece
existir uma correlação positiva entre o montante de leitura e a qualidade da redação. Esse aforismo
também se aplica à redação de um texto científico, ou seja, quanto mais textos científicos você
ler, maior será sua familiaridade com esse estilo pouco comum de redação e mais fácil será redigir
um texto nos mesmos moldes.
Antes de começar a redigir o relatório da sua pesquisa, é importante saber por que essa tarefa
é tão importante para os cientistas. Afinal, por que um cientista faz o relato escrito de suas
pesquisas?
Algumas características da atividade científica ajudam a responder a esta questão:
a. A pesquisa de qualquer pesquisador não terá utilidade se não for divulgada. Mais do
que qualquer outro tipo de conhecimento produzido pela nossa espécie, o conhecimento
científico é um conhecimento público por natureza. A comunicação dos resultados de
uma pesquisa faz parte do “ciclo vital” da pesquisa. Da mesma maneira que os seres vivos
nascem, crescem, reproduzem-se e morrem, uma pesquisa também segue um ciclo: o
pesquisador formula seu problema de pesquisa e faz o planejamento; executa a pesquisa
e interpreta os resultados; e, finalmente, divulga os resultados. Uma pesquisa realizada e
não divulgada é como uma gigantesca árvore que viveu durante décadas no meio da
floresta, morreu e se decompôs sem nunca ter sido vista por ninguém. Pense da seguinte
maneira: você irá despender um tempo razoável e energia na realização de uma tarefa.
Por que, então, não fazer uma tarefa com qualidade, que poderá ser divulgada (publicada)
para a comunidade científica? Nunca teríamos ouvido falar em Einstein, Pavlov, Skinner,
Freud ou qualquer outro estudioso se eles fizessem suas pesquisas e não as divulgassem.
Como em qualquer outra profissão, o reconhecimento só vem se forem divulgados os
resultados do que foi feito.
b. O pesquisador precisa ter certeza de que suas descobertas são válidas. O
conhecimento produzido em uma pesquisa não vai se consolidar caso não seja avaliado
minuciosamente por outros cientistas e pelo púbico em geral. Somente o que é tornado
público pode ser avaliado por outros pesquisadores. Os cientistas quase sempre avaliam
o trabalho de um colega de profissão ou têm seu trabalho avaliado por outros cientistas,
de maneira “cega” — ou seja, o consultor de uma revista científica, que avalia artigos
para serem, ou não, aceitos para publicação, desconhece quem é o autor do trabalho.
c. A ciência é uma atividade social. Apesar de o cientista ser apresentado muitas vezes
como um ser isolado em seu laboratório, nada pode estar mais longe da realidade. É certo
que existem algumas pessoas que se dedicam à ciência e cabem nesse molde, mas essa
não é a regra. A atividade científica normalmente envolve fortes questões de cunho social.
Após concluir uma pesquisa, em geral, os pesquisadores a submetem à apreciação pública
em congressos, em que seu trabalho será visto por outros pesquisadores que irão fazer
críticas, elogios e/ou sugestões acerca do que foi descoberto e também do método
empregado para chegar a tal descoberta. A partir daí se poderá optar por uma publicação;
no entanto, nem sempre trabalhos publicados foram apresentados em congressos.
d. O pesquisador precisa “fazer currículo”. Se você perguntar a diferentes pesquisadores
qual foi a maior exigência feita pelas instituições que financiam suas pesquisas,
certamente ouvirá a seguinte resposta: “publicação”. E mais, publicações em veículos que
sejam conceituados. O número de publicações é o principal meio utilizado pelos órgãos
que fomentam a pesquisa para avaliar a produtividade de um pesquisador. De nada
adianta um pesquisador ficar 14 horas por dia e sete dias por semana fazendo pesquisas
e mais pesquisas se elas não forem tornadas públicas. Para isso, o pesquisador tem que
publicar, seja um resumo para um congresso, seja um artigo completo para uma revista
ou o capítulo de um livro. A ascensão na carreira acadêmico-científica tanto no local de
trabalho (geralmente uma universidade) como na comunidade científica se dá com base
na produtividade do pesquisador, ou seja, na comunicação das pesquisas que ele realizou.
A moeda do cientista é a publicação que ele realiza, e pode-se considerar que a sua riqueza
é o reconhecimento que ele tem no meio acadêmico-científico.
•Legibilidade: certamente esta não é uma exigência que se aplica somente a um texto
científico. Um relatório de pesquisa precisa ser escrito de uma maneira que torne a leitura e a
compreensão do texto tarefas fáceis e agradáveis. Geralmente, um texto científico contém
termos e expressões que são de difícil compreensão para alguém que não seja familiarizado
com o tema da pesquisa; imagine se, além disso, o texto também for redigido em estilo pouco
claro e desinteressante.
•Acurácia: o texto deve ser escrito de modo a possibilitar que outros pesquisadores sejam
capazes de reproduzir sua pesquisa. Um texto só terá valor científico se apresentar um nível
de detalhamento, objetividade e exatidão que permita a outro leitor minimamente treinado em
ciência replicar seu estudo.
•Concisão: embora deva apresentar um alto nível de detalhamento das informações nele
contidas, o texto científico não deve ser prolixo — ou seja, deve ser breve e compacto. Se
você já iniciou o planejamento de sua pesquisa ou já realizou alguma pesquisa, deve saber
por experiência própria que não há tempo para ler textos extensos. Um texto organizado
logicamente, com sentenças e parágrafos curtos, sem redundâncias, sem o uso de palavras
desnecessárias para a compreensão, obedece à exigência da concisão. De modo geral, as
revistas e congressos prezam pelo poder de concisão dos trabalhos, pois espaço é dinheiro
nos meios de comunicação. Aqui, faz-se necessária uma discussão sobre quantidade e
qualidade. Algumas vezes os alunos se preocupam em escrever muito, o que não significa
necessariamente escrever bem. Uma introdução bibliográfica bem organizada em 15 laudas
(folhas), por exemplo, pode ser muito melhor do que uma introdução desorganizada que
ocupe 50 laudas.
Lacaz-Ruiz (2005) oferece as seguintes dicas que podem ser proveitosas no momento de
redigir o seu relatório de pesquisa, ou qualquer outro texto de cunho acadêmico:
•Organize um roteiro em que conste o que deve aparecer no texto e quando devem aparecer.
•Escreva em ordem direta.
•Escreva frases curtas e apresente-as de maneira ordenada e com lógica (evite “colchas de
retalhos”).
•Evite usar adjetivos, advérbios e metáforas.
•Prefira frases afirmativas.
•Não deixe seu texto com ecos (por exemplo, verificação da alteração na avaliação da
depressão no cidadão) e cacófatos (“… uma por cada sintoma…”, não equivale a uma
porcada).
•Não utilize gírias, regionalismos ou jargões.
•Após redigir:
■leia o parágrafo cinco vezes;
■verifique se está tudo na ordem direta e faça as modificações necessárias;
■procure repetições, ecos, cacófatos, orações intercaladas e elimine-os;
■localize e elimine todas as palavras desnecessárias, adjetivos, advérbios e metáforas;
■procure e corrija erros de grafia, gramaticais e de digitação;
■verifique se as informações estão corretas e claras. Avalie se você está adivinhando pelo
contexto a informação de uma frase mal redigida.
•Leia o texto final três vezes:
■observe se o texto está organizado segundo um plano lógico e coerente;
■verifique se os parágrafos estão bem integrados entre si ou se estão parecendo um
“colcha de retalhos”;
■cheque todas as informações (valores numéricos, datas, numeração de figuras, tabelas
e anexos, citações e referências, entre outras).
Além disso, vale lembrar que, embora as normas da ABNT, por exemplo, sejam únicas, você
deve prestar atenção às regras específicas da instituição ou órgão ao qual o relatório está sendo
submetido. De modo semelhante, é bom saber que, mesmo no campo da saúde, diferentes áreas
do conhecimento podem utilizar outras normas de referência bibliográficas (veja o Capítulo 3,
Conhecimentos básicos sobre referências e citações).
Como afirmam Borkowski e Anderson (1981), um bom escritor em ciência não nasce pronto:
se faz com muito estudo, com prática e com paciência. Então, desejamos a você muito estudo e
mãos à obra.
REFERÊNCIAS
BORKOWSKI, J. G.; ANDERSON, D. C. Psicologia Experimental. São Paulo: Cultrix, 1981.
FREITAS, M. E. Viver a Tese É Preciso! Reflexões sobre as aventuras e desventuras da vida
acadêmica. Revista de Administração de Empresas, 42(1): 88-93, 2002.
GOLDIM, J. R. Fraude em Pesquisa Científica. Disponível em:
<http://www.bioetica.ufrgs.br/fraude.htm>. Acesso em: 25 de janeiro de 2005.
HUF, D. How to Lie with Statistics. New York: W. W. Norton, 1954.
LACAZ-RUIZ, R. Notas e Reflexões sobre Redação Científica. Disponível em:
<http://www.hottopos.com.br/vidlib2/Notas.htm>. Acesso em: 29 de janeiro de 2005.
SAGAN, C. O Mundo Assombrado pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
_______________
1
Para saber mais, veja as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas — ABNT ou da American
Psychological Association — APA.
2
Você poderá conferir outros exemplos de pesquisas bem insólitas em (www.improb.com).
3
O desvio padrão é uma medida de dispersão utilizada para descrever os limites de variabilidade dos dados
de uma amostra e empregada na fórmula do Coeficiente de Variabilidade, que indicará se os dados são
homogêneos ou não. Quanto maior o valor do desvio padrão em relação à média, menos homogêneos são os
dados da amostra. O erro padrão da média é uma medida que teoricamente descreve a variabilidade dos dados
de uma população. A obtenção do erro padrão se dá pela divisão do valor do desvio padrão pela raiz quadrada
de n (tamanho da amostra). Nem sempre que emprega o erro padrão da média para representar a variabilidade
de seus dados o pesquisador quer mascarar a real variabilidade; ele pode fazer isso por desconhecer Estatística.