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● O significado compreendido como uma relação entre sujeitos, e não entre formas [...].
(p. 161)
● Não há, assim, no universo de Bakhtin, nenhuma diferença essencial, metafísica, entre
“linguagem prática” (ou qualquer outro nome que se dê ao uso cotidiano da linguagem),
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pedro@nodarimatias.com
tomada em sua estrutura formal, e “linguagem poética” (em qualquer manifestação
artística, poética stricto sensu ou lato sensu), também tomada em sua estrutura formal;
não há absolutamente nada nessas formas históricas, consideradas em seus sinais, que
nos autorize a delas extrair ou não a sua esteticidade. O estético nasce de uma relação
viva de consciências sociais, não de uma relação reiterável de sinais axiologicamente
neutros. (p. 163)
○ [...] uma das categorias mais sugestivas de Bakhtin, a da exotopia, o fato de, no
mundo estético (ao contrário da vida, quando só podemos ser completados
pelos outros, num processo de falta absolutamente insuperável), o autor-criador
saber mais, ter um excedente de visão com relação ao herói [...] (p. 163)
○ [...] o fato de concordarmos ou não com Raskolnikoff não afeta em nada, para
nós, o valor estético de Crime e Castigo. Mas se um Raskolnikoff da Silva
escrevesse um artigo em um jornal defendendo os pontos de vista que defendia
no romance, com exatamente as mesmas palavras, com a mesma composição
formal, com o mesmo ritmo, sintaxe, paralelismos, assonâncias e dissonâncias,
essas palavras, não submetidas ao um todo excedente, no tempo, no espaço e
nos valores, sem a refração de um outro olhar, entradas diretamente no
ser-evento inescapável da vida, ganhariam um sentido, um significado
essencialmente distinto. (p. 166 e 167)
● [Citação] Na obra de arte, por outro lado, as reações do autor às manifestações isoladas
por parte do herói se fundam na sua reação unitária ao todo do herói: todas as
manifestações particulares do herói têm significância para a caracterização do seu todo
como momentos ou traços constituintes dele. (p. 162)
○ A diferença entre a vida e a arte, aqui, está no fato de que as reações cotidianas
são isoladas, “caso a caso”, por assim dizer; já na obra de arte há uma reação
ao todo [...] (p. 162)
○ Mas bastará lembrar, no nosso caso, que o segundo participante de que ele fala
não é nenhum interlocutor, no sentido tradicional da palavra; é a consciência
contra a qual (e só contra a qual) a nossa consciência ganha sentido, entra no
ser-evento concreto [...]. (p. 166)
● [...] Bakhtin considerará três categorias da constituição do herói: [...] 1. a forma espacial
do herói [...] 2. o todo temporal do herói [...] 3. o todo significante do herói [...] (p. 168)
○ Até aqui, examinamos as condições sob as quais o espaço e o tempo de um ser
humano e de sua vida assumem validade estética. Mas o que também assume
validade estética é a atitude significante do herói no ser – aquele lugar interior
que ele ocupa no evento unitário e único do ser, sua posição axiológica no
evento. (p. 168)
○ E mais: somente considerando o que está fora do texto pode-se enfim chegar ao
momento estético. (p. 168)