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MESTRADO PROFISSONAL EM TEOLOGIA

Discente: Gladyston Tavares Ladislau

Docente: Prof. Dr. Rubens Muzio

Disciplina: Democracia, Cidadania e Laicidade.

Referência Bibliográfica:ZABATIEIRO, Júlio P.T.M. O Espírito Santo e a


bisca por justiça. In: MUZIO, Rubens. (Org). Revolução Silenciosa. São
Paulo: Ed. Recriar, 2022.

O texto do Dr. Júlio nos leva a refletir sobre a justiça, sua definição, seus
aspectos, sua relação com a fé cristã e como um desejo latente do próprio
homem. Dentro dessa caminhada é apresentado Deus como àquele que
satisfaz o desejo por justiça, aquele que a promove capacitando seus agentes
e que os impele a serem seus executores no mundo.

Através da análise do texto de Isaias 42 é apresentado e enfatizado a função


do servo/escravo de Deus que, após habilitado pela unção do Espírito Santo,
passa a agir como seu agente na propagação da justiça para o mundo. No
poema esse escravo na Babilônia não seria um cativo do Rei Nabucodonosor
mas do próprio Deus, pré figurando Cristo que assume também esse papel e,
posteriormente, o transfere a igreja.

A estrutura do capítulo parte de uma afirmação da busca pela justiça por parte
do homem e uma análise da justiça retributiva e justiça distributiva,
diferenciando-as. Passa o autor a uma reflexão sobre o Sermão do Monte (ou
Sermão da Justiça) apontando a verdadeira justiça como a “justiça do Reino”,
passando em seguida a focar no agente da Justiça, no texto de Isaias 42, no
“escravo de Deus”. Após esse estudo do “escravo de Deus”, Dr. Júlio
Zambatiero passa a dialogar com teólogos das mais diversas linhas
(reformados, pentecostais e católicos) apontando uma relação entre o Espírito
Santo e a prática da Justiça. Por fim oferece como conclusão conselhos
práticos para aqueles que aceitarem ao convite de, como escravos de Deus,
proclamarem a Sua justiça as nações.

A sede de justiça do ser humano é destacada como algo nato. Seja no âmbito
pessoal ou social a busca pela satisfação da justiça é inerente ao homem que
tenta retribuir os atos negativos de outros pela justiça ou pelos atos positivos
distribuir, com justiça, proporcionalmente aquilo que fazem. Uma questão
incômoda que o texto traz logo nas primeiras páginas é a relação entre os
maiores níveis de justiça social inversamente proporcionais ao nível de
cristianismo em alguns países.

A análise do “Sermão do Monte” (Mateus 5-7), o quanto é relevante a questão


da justiça e ao mesmo tempo como ela esta relacionada felicidade e a injustiça
mediante a perseguição, injuria e mentira, imposta pelo mundo aos agentes
dessa justiça. Essa justiça não é meramente a justiça da Lei, da religião, a
justiça social ou a econômica, é tudo isso e muito mais, é a justiça do Reino. A
felicidade é experimentada por aqueles que tem “fome e sede de justiça” e,
estranhamente, essa felicidade é encontrada nos que tem carência de algo, na
privação e não na abastança de alguma coisa, como se costuma pensar na
sociedade moderna. Isso é explicado porque Deus é o próprio sujeito, causa e
supridor da felicidade destes.

As bem aventuranças alertam que a justiça do Reino não nos conduz a uma
vida fácil e que deve exceder em muito a justiça dos escribas e fariseus
modernos, ou seja, uma justiça excessiva e não exclusiva e excedente, que
pode e deve ser partilhada.

Um foco importante do Autor é a pessoa do promotor da justiça do Reino que


foi usada a figura do escravo de Deus em Isaias 42, tipificando Jesus e,
posteriormente seus enviados, a sua Igreja. Esse escravo é ungido pelo
Espírito Santo e por essa unção é capacitado para ser agente em nome do Rei.
Essa identidade, que vimos ser tríplice (um escravo na Babilônia, Jesus Cristo
e nós, hoje seus agentes) passa a ser de menor importância na análise textual
pois a ênfase recai sobre a ação de Deus pois o escravo é Dele e não da
Babilônia, o sustento vem Dele e não do Império, a unção vem Dele e não do
rei ou do sumo-sacerdote. O próprio Deus chama alguém sem valor, fora das
instituições regulares e o unge com Seu Espírito Santo (e não com óleo)
capacitando-o para a tarefa que deveria executar.

Tal tarefa a ser executada por este escravo ungido seria a de levar a o direito
(justiça) aos povos ou as nações como diz o texto, que seria basicamente o
mesmo projeto de vida social justa e digna que o próprio Deus havia dado a
Israel quando da sua libertação do cativeiro egípcio, promovendo com isso a
abertura de olhos para os cegos, a liberdade da prisão para o cativo e para os
que vivem em trevas. A justiça tem, enfim, intima relação com libertação!

Essa missão do servo-escravo que é assumida por Jesus (Fp 2:6-11) quando
Ele se fez escravo e é transferida para a Igreja (Jo 20:21-22) quando, soprando
sobre seus discípulos o Espírito Santo, também lhes enviou como agentes,
servos e escravos de Deus. A missão dos discípulos é a mesma do servo em
Isaias e a mesma do Cristo, servir a Deus integralmente como escravos da
Justiça onde a busca pela justiça deixa de ser uma opção e passa a ser uma
exigência do evangelho. Buscar a justiça e levar a justiça são duas faces da
mesma moeda e não se pode separar e distinguir essas exigências.

A relação entre Espírito Santo e a prática da justiça é relação indissociável e


fundamental da missão e da espiritualidade. Justiça e amor caminham juntas
na missão do povo de Deus e nem mesmo os dons ou os exercícios deles
seriam superiores ao cumprimento da promoção da justiça em amor, como
critério para se avaliar a plenitude da ação do Espírito Santo na vida de
alguém. Ser espiritual é vivenciar no dia a dia a ética, a missão e a
espiritualidade, de maneira integral e abrangente, buscando a justiça e agindo
na sociedade para o estabelecimento dela em todas as suas dimensões.

O texto foi muito bem trabalhado e apresenta ótimos referenciais para se


construir e se fazer entender frente à idéia proposta. Fica muito claro que sem
a unção e a capacitação do Espírito Santo seria impossível agir buscando e
promovendo a justiça até porque esta justiça não é humana e sim do Reino.
Cabe a cada um de nós, como escravos ungidos do Rei, partirmos para a ação
e, mesmo sabendo das perseguições, mentiras e injustiças que fatalmente se
levantarão contra nós, não nos intimidarmos e passarmos a uma ativa atuação
em meio a sociedade nas mais diversas áreas: economia, cultura, política,
entretenimento, educação e ciência. É preciso nos lembrar que a unção já foi
dada a nós e essa unção exige uma ação que não é opcional mas uma
obrigação de quem, como escravo do Rei, está a seu serviço para a
implantação do Reino de justiça.

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