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Os diferentes tipos de doping

Estimulantes
Presente em um vasto número de fontes, os estimulantes podem ter origem natural, como a
cafeína e a efedrina; ou sintetizada, como a anfetamina. Seu uso é feito desde 2.737 a.C. na
China, e avançou entre os atletas a partir do começo do século 19, quando surgiram as
primeiras versões sintetizadas.

Eles agem diretamente no sistema nervoso, e entre os seus efeitos estão a melhora da força
e da agressividade, e a diminuição da fadiga e da sonolência – soldados dos EUA e do Reino
Unido utilizaram anfetaminas durante a Segunda Guerra Mundial.

No mundo esportivo, o craque argentino Diego Maradona foi flagrado duas vezes com
estimulantes. A primeira vez, em 1991, certamente tinha menos a ver com resultados
esportivos do que com um vício e um estilo de vida – foi o caso de cocaína. Já o segundo
caso aconteceu durante a Copa de 1994, após uma partida contra a Nigéria, o que produziu
a clássica imagem dele deixando o campo de mão dadas com uma enfermeira.
Em 25 de junho de 1994, o jogador Diego Maradona teve de deixar um jogo durante a Copa
do Mundo. Crédito: Joe Cavaretta/AP

Maradona foi pego com efedrina e outras quatro substâncias da mesma família – norefedrina,
pseudoefedrina, norpseudoefedrina e metaefedrina. Apesar de o craque nunca ter admitido o
doping, o uso de estimulantes faz sentido para um atleta que vivia com problemas físicos
claros. Além de reduzir a fadiga e aumentar os reflexos, os estimulantes também auxiliam na
redução de peso.
Esteroides anabolizantes
No dia 24 de setembro de 1988, o corredor canadense Ben Johnson se tornou o maior nome
dos jogos de Seul. Ele ganhou a prova dos 100 metros e, de brinde, detonou o recorde
mundial da competição, atingindo a marca de 9,79 segundos. Três dias depois, veio um dos
maiores escândalos da história do esporte: Johnson correu dopado. Na sua urina foi
encontrado estanozolol, um tipo de esteroide anabolizante sintetizado pela primeira vez em
1962.

Canadense Ben Johnson comemora chega na prova dos 100 m, durante os jogos olímpicos
de Seul, em 1988. Sua medalha teve de ser devolvida, pois testou positivo no antidoping.
Crédito: Fred Chartrand/AP

Desenvolvidos nos anos 1930, os esteroides anabolizantes são versões sintéticas do


hormônio masculino, a testosterona. O seu uso aumenta a formação de massa muscular ao
estimular as células dos ossos e músculos a sintetizar proteína. O resultado disso é ganho de
força, de potência e de agressividade – atrativos importantes para quem quer roubar no
esporte. Por isso, seu uso já foi detectado em diferentes modalidades, de atletismo à
natação, do ciclismo ao pugilismo.

Com Johnson, o fiasco foi enorme. Ele perdeu a medalha e o recorde de 1988. E em pouco
tempo, a sua carreira foi para o buraco – em 1993, ele foi flagrado por excesso de
testosterona e foi banido para sempre do esporte pela IAFF. Justo.
Betabloqueador
Quando falamos de doping, o comum é pensar em produtos que aumentam a força e a
explosão. Mas em alguns esportes, o mais importante é reduzir a influência dos músculos e
do coração.

Isso vale para o tiro com arco e o tiro com pistola, nas quais qualquer tremor pode levar o tiro
para bem longe do alvo. Nessas modalidades, o doping acontece por meio de drogas que
reduzem a pressão arterial, a frequência cardíaca e os tremores musculares. Essas
substâncias são chamadas de betabloqueadores.

Elas foram desenvolvidas nos anos 1960 com o objetivo de tratar hipertensão, quadros de
pós-infarto e outras doenças cardíacas. Em modalidades como o tiro, os atletas tentam
efetuar disparos entre as batidas do coração, e os betabloqueadores aumentam essa janela.

Na edição de 2008 dos jogos, o atirador norte-coreano Kim Jong-su foi flagrado com o
betabloqueador propranalol. Ele perdeu as duas medalhas, prata na prova da pistola de 50m
e bronze na pistola de ar de 10m, que havia conquistado.

Atleta norte-coreano Kim Jong Su testou positivo durante as Olimpíadas de Pequim, na


China. Crédito: Charlie Riedel/AP
Diuréticos
Algumas substâncias são proibidas no esporte não porque aumentam o rendimento dos
atletas, mas porque são capazes de esconder o uso dessas drogas.

Os diuréticos paralisam a reabsorção de água e aumenta o fluxo de urina – até seis litros por
dia. Com isso, outras substâncias dopantes são diluídas na urina e podem passar
despercebidas por exames. Logo, quando são detectados, os diuréticos podem indicar o uso
de outras drogas, como estimulantes e esteroides. Por isso, os diuréticos podem ser
detectados em atletas de diversas modalidades.

Duas estrelas do esporte brasileiro já foram flagradas. Em 2009, Daiane dos Santos foi
suspensa por cinco meses pelo uso de furosemida, um diurético bem comum. Dois anos
depois, César Cielo também foi flagrado por furosemida, embora tenha recebido apenas uma
advertência.

Nadador brasileiro Cesar Cielo testou positivo para substância proibida em 2011, porém foi
apenas advertido. Crédito: Jeff Roberson/AP

O uso de diuréticos é feito desde o século 16, mas a partir da década de 1940 versões
sintéticas passaram a ser adotadas no tratamento de doenças cardíacas e renais. No
esporte, seu uso só foi proibido a partir de 1988. Em modalidades com categorias de peso,
como boxe e judô, os diuréticos também são vilões justamente por permitirem o controle
ilegal do peso.
Narcóticos analgésicos
Difícil imaginar um atleta competindo chapado de morfina ou heroína, mas a classe a qual
elas pertecem, os narcóticos analgésicos, é proibida no esporte.

Elas são substâncias derivadas do ópio (quando naturais ou semissintéticas são opiáceas;
quando totalmente sintéticas, são chamados de opioides) e agem no sistema nervoso central,
reduzindo a dor. Por isso, seu uso aparece em modalidades que causam muita dor.

Em 2008, um grupo de levantadores de peso da Grécia foi suspenso por dois anos pelo uso
de buprenorfina, uma droga usada no tratamento contra a dependência de opioides, que
também alivia dores. No mesmo ano, o lutador de MMA James Irvin foi pego com metadona e
oximorfina. Ele admitiu que usou as drogas quando estava lesionado e acabou se viciando
nelas.
Doping sanguíneo
É uma técnica que usa o próprio sangue do atleta para melhorar sua performance.

Nela, o sangue do atleta é removido e armazenado em ambiente refrigerado. Perto da


competição, o sangue é reinjetado no organismo. O resultado é que a corrente sanguínea fica
com glóbulos vermelhos em excesso – a célula responsável por transportar o oxigênio no
sangue entre pulmões e músculos. Assim, existe ganho de força, velocidade e resistência.

Essa é uma das técnicas que, em 2012, foram detectadas e acabaram com a carreira do
ciclista Lance Armstrong. Em 2013, em uma clássica entrevista com a apresentadora Oprah
Winfrey, o atleta admitiu o doping.

Ciclista americano Lance Armstrong contava com um esquema sofisticado de doping.


Crédito: Bas Czerwinski/AP

Eritropoietina (EPO)
O arsenal de Lance Armstrong para roubar no esporte também inclui o uso de EPO, sigla
para o hormônio Eritropoietina. Normalmente, esse é um hormônio produzido pelo rim que
estimula a medula a produzir glóbulos vermelhos. A versão sintética do EPO é utilizada no
tratamento de pacientes com problemas renais, câncer e AIDS.

No esporte, o uso funciona como o doping sanguíneo: faz aumentar a hemoglobina para
transportar oxigênio no sangue. A partir da segunda metade da década de 80, a técnica
passou a substituir o doping sanguíneo. Desde então, vários ciclistas foram flagrados com
EPO.
Hormônio do crescimento humano (hGH)
Mais uma substância encontrada no próprio corpo humano, o hormônio do crescimento é
produzido pela hipófise e estimula a reprodução celular. Antes das versões produzidas em
laboratório, o que ocorreu só na década de 1980, a única fonte para esse hormônio era
removê-la de cadáveres.

No esporte, ela tem função parecida com a de anabolizantes: aumentar a massa muscular, o
que gera ganhos de força e agressividade. Mas com uma diferença fundamental de que são
mais difíceis de detectar nos exames antidoping.

A substância foi banida do esporte em 1989. No final do ano passado, um documentário da Al


Jazeera afirmou que o astro da NFL Peyton Manning e outros quatro atletas da liga de futebol
americano utilizaram hGH. A investigação ainda está rolando, e o futuro do jogador está em
aberto.
Um breve histórico do doping
Ainda assim, é incrível pensar que não faz nem 50 anos que as federações esportivas
começaram a fiscalizar o doping. Foi apenas nos jogos do México, em 1968, que os primeiros
exames começaram a ser feitos. Mesmo assim, apenas um único atleta, o sueco Hans
Liljenwallv do pentatlo moderno, foi excluído. Motivo: estava bêbado.

Anteriormente, a farra rolava solta. Nas Olimpíadas de Tóquio (1964), no auge da Guerra
Fria, eram fortes os boatos de que muitos atletas competiam dopados. Lembre-se, nessa
época, vitórias esportivas eram encharcadas de significado político. Quatro anos antes, em
Roma, o ciclista dinamarquês Knut Jensen morreu de overdose. Suspeitou-se que foi por uso
de substâncias de melhoria de performance.

Relatos do tipo vão até os jogos da Antiguidade, entre 776 a.C. e 393 d.C., como cogumelos
e chás. Mas foi em Berlim, em 1936, na Olimpíada Nazista, que os experimentos e o
consumo de substâncias para aumentar o desempenho se intensificaram. Esporte, afinal, era
propaganda. Os esteroides, por exemplo, foram criados entre as décadas de 1930 e 1950
para auxiliar na recuperação de feridos em guerra – e logo percebe-se que poderiam ser
usados em atletas.

Foi só em 1999 que o COI criou a Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês)
para combater substâncias de desempenho no esporte – no Rio, os exames antidoping
ficarão sob a responsabilidade da Agência Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que
recebeu investimentos de R$ 188 milhões para se ajustar aos padrões da WADA

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