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TEMA 1

Fatores de saúde
e risco associados
à prática desportiva.
Prof. Sandra Pereira
Subdepartamento de Ed. Física // Nov. 2022

DOPAGEM E RISCOS DE VIDA E/OU SAÚDE


Doping é o uso de substâncias, proibidas pela regulamentação desportiva. Estas
substâncias melhoram o desempenho físico e/ou mental dos atletas, tornando-os mais
capazes de atingir os objetivos com mais facilidade, atribuindo-lhes vantagens
competitivas desleais comparando com os atletas que não recorrem a estas substâncias.

O primeiro registo de abuso de drogas verificou-se em 1896, durante uma prova de


ciclismo, onde o inglês Arthur Linton que tomava estimulantes durante o percurso para
aumentar a resistência à fadiga, após ter percorrido alguns quilómetros alucinado, tombou
com o coração desfeito devido a uma dose excessiva de nitroglicerina.

Nos primeiros Jogos Olímpicos da Antiguidade (realizados na Grécia em 776 a.C.), os


atletas gregos utilizavam com grande frequência plantas e sangue de cabra.

Nos últimos Jogos Olímpicos da Era Moderna (Japão 2020) os atletas consumiram, entre
outras substâncias, esteroides anabolizantes, narcóticos, estimulantes, diuréticos e agentes
mascarantes, etc.

Seja sangue de cabra ou diurético, a finalidade é sempre a mesma: correr mais depressa,
saltar mais alto, lançar mais longe.

Um caso real .……………………………………………………….…………..…………………..……….

Campeão, herói, lenda, fraude

Um jornalista irlandês começa a desconfiar que o sucesso do ciclista,


Lance Armstrong, está afogado em fraude. Baseada na biografia do
ciclista norte-americano Lance Armstrong, a impressionante história da
sua carreira, desde a ascensão e consagração no Tour de France até à
desgraça pelas acusações de doping.

Atualmente cada nova descoberta da ciência, cada novo fármaco investigado, é


também alvo de estudo no sentido de aumentar as performances dos atletas de modo
ilegal e indetetável.

Consequentemente, os métodos de deteção têm de estar também em constante


evolução, para que consigam encontrar o máximo de substâncias ilegais utilizadas.
Os riscos associados ao doping variam consoante:

§ a substância consumida,

§ a frequência e o tempo de consumo,

§ o sexo e a idade de quem consome.

A luta contra a dopagem no Desporto tem três vertentes essenciais:

§ a do controlo de dopagem,

§ a educacional,

§ a investigacional.

COMO SE DESENVOLVE A LUTA CONTRA A DOPAGEM NO DESPORTO?


Controlo de Dopagem
O programa do controlo de dopagem, implementado em cada modalidade, depende
de diversos fatores: calendário competitivo, regime de treino, tipo de atividade e
predisposição para a utilização de substâncias dopantes.

O Conselho Nacional Antidopagem (CNAD), organismo que em Portugal tem a


responsabilidade de definir o programa de Luta contra a Dopagem, em colaboração com
as Federações, estabelece anualmente o Plano Nacional de Antidopagem tanto em
competição como fora de competição.

Para além disso, qualquer agente desportivo tem o dever, perante a lei, de informar a sua
Federação de qualquer suspeita de dopagem. Esta informará o CNAD, que tomará as
medidas adequadas para clarificar a situação. O CNAD pode, sempre que quiser, realizar
controlos de dopagem por sua iniciativa própria e sem o conhecimento prévio da
Federação Desportiva em causa.

Os atletas de mais alto nível competitivo (atletas com estatuto de alta competição, das
seleções Nacionais, entre outros), principalmente aqueles que se preparam para grandes
competições internacionais, têm geralmente programas específicos de controlo de
dopagem.

Vertente Educacional

A educação dos agentes desportivos em relação à problemática da dopagem deverá


incidir sobre a divulgação dos malefícios orgânicos que podem resultar da ingestão de
substâncias dopantes e no facto de a dopagem representar um ato de deslealdade e
batota. A dopagem é assim eticamente reprovável, fazendo com que os atletas se
apresentem em competição em situação de desigualdade.

As campanhas de educação deverão ser específicas em relação aos grupos alvo que
queremos atingir. Desse modo as estratégias a implementar numa campanha educativa
nos atletas de alta competição deverão ser diferentes das utilizadas numa campanha a
nível da população escolar.
TEMA 1 Vertente Investigacional

A Comissão Médica do Comité Olímpico Internacional premeia e apoia anualmente,


trabalhos de investigação que visem a implementação de medidas visando a luta contra
a dopagem no Desporto. Esses trabalhos procuram atingir os seguintes objetivos:

§ Otimização do rendimento desportivo por métodos fisiológicos (estudos sobre


biomecânica, sobre nutrição, sobre metodologia de treino, entre outros).
§ Despiste dos fatores sociológicos envolvidos na problemática da dopagem no
Desporto (estudos sobre os fatores que conduzem à utilização de substâncias
dopantes e sobre a imagem corporal, entre outros).

A Agência Mundial Antidopagem, através da sua Comissão de Saúde, Medicina e


Investigação subsidia anualmente, e de igual modo, a realização de diversos estudos
científicos no âmbito, principalmente, de novas tecnologias de deteção de substâncias
dopantes.

CONSTITUIÇÃO DA LISTA DE SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDAS


Substâncias dopantes:

§ Estimulantes;
§ Narcóticos;
§ Esteroides anabolizantes;
§ Glicoproteínas, Hormonas Peptídicas;
§ Betabloqueadores;
§ Diuréticos.

Estimulantes

Os estimulantes são substâncias que têm um efeito direto sobre o Sistema Nervoso Central,
porque aumentam a estimulação do sistema cardiovascular e do metabolismo orgânico
em geral. Os estimulantes mais disseminados no desporto são: anfetaminas, cocaína e
efedrina.
Efeitos Riscos
§ Aumentam o estado de alerta. § Dependência química.
§ Reduzem a fadiga. § Doenças cardiovasculares.
§ Aumentam a competitividade. § Insónias.

Narcóticos

Os analgésicos narcóticos proibidos no Desporto estão representados pela morfina e


compostos químicos e farmacológicos similares. São derivados do ópio que por sua vez se
extrai da papoila (papaver somniferum). Atuam ao nível do sistema nervoso central,
diminuindo a sensação de dor.
Efeitos Riscos
§ Diminuem a sensação de dor. § Dependência física e psíquica.
§ Reduz a sensação de dor, agravando a
lesão.
§ Perda de equilíbrio e coordenação.
§ Náuseas, vómitos, insónia, depressão.
§ Diminuição de: ritmo cardíaco e
respiratório e da concentração.
Esteroides anabolizantes

Os esteroides anabolizantes são derivados de uma hormona masculina, a testosterona. O


termo anabolizante significa que provoca a hipertrofia (aumento) tecidular,
nomeadamente muscular.
Efeitos Riscos
§ Aumentam a força muscular. § Perda de cabelo.
§ Hipertrofia muscular. § Perturbação no crescimento ósseo.
§ Aumento do risco de doenças
cardíacas.
§ Toxicidade hepática (cancro fígado).
§ Irritabilidade.

Glicoproteínas, Hormonas Peptídicas

Este tipo de substâncias atua no organismo como mensageiros que levam à produção de
outras hormonas endógenas, como a testosterona e os glucocorticosteroides. Aceleram o
crescimento corporal e diminuem a sensação de dor. Como similares existem substâncias
sintéticas que têm efeitos análogos às hormonas peptídicas. HCG, HGH, ACTH, EPO e
insulina, pertencem a este grupo.
HCG – esteroides endógenos

HGH – hormona do crescimento

ACTH – corticosteroides endógenos

EPO – glóbulos vermelhos (eritrócitos)

Efeitos Riscos
§ Aumentam a produção de hormonas § HCG- Aumento da glândula mamária
endógenas como testosterona e no homem e, alteração menstrual na
corticosteroides. mulher.
§ Aceleram crescimento corporal. § HGH – crescimento de mãos, pés e cara;
diabetes; doenças articulares;
crescimento de órgãos internos.
§ Diminui a sensação de dor. § ACTH - Insónia; hipertensão;
enfraquecimento muscular; perda de
massa óssea.
§ EPO- Hipertensão; enfarte; embolia.

Betabloqueadores

Os betabloqueadores são medicamentos capazes de diminuir o stresse no coração e nos


vasos sanguíneos. Eles também podem ajudar a controlar a enxaqueca, a ansiedade, o
tremor e outras condições.
Efeitos Riscos
§ Diminui a ansiedade de competir. § Hipotensão arterial.
§ Controla o Ritmo Cardíaco. § Braquicardia.
§ Diminui a pressão arterial. § Falência cardíaca.
TEMA 1 Diuréticos (agente mascarante)

Os diuréticos são drogas que aumentam a produção e a excreção de urina. Em Medicina


são usados como medicamentos para controlar a hipertensão arterial, diminuir edemas
(inchaços) ou para combater a insuficiência cardíaca congestiva (doença originada pela
falência do coração).

Os agentes mascarantes são utilizados para dissimular a presença de uma substância ou


de método dopante.
Efeitos Riscos
§ Redução rápida do peso. § Desidratação.
§ Aumenta excreção da urina, para § Caibras.
eliminar mais rápido as substâncias
dopantes.
§ Doenças renais.
§ Perda de sais minerais.
§ Problemas cardíacos.

Dopagem sanguínea

A dopagem sanguínea consiste na administração de sangue ou derivados a um atleta


sem ser por motivos médicos. A administração pode ser autóloga (a extração do sangue
do próprio atleta, sua conservação e posterior reintrodução, dias antes de uma
competição), ou homóloga (proveniente de dadores).
Efeitos Riscos
§ Aumenta o oxigénio nos tecidos e pode § Embolia pulmonar ou cerebral.
aumentar a capacidade aeróbia dos
atletas.
§ Choque anafilático.
§ Hepatite.
§ Sida.
§ Reação alérgica.

Doping genético

Utilização não terapêutica de genes, elementos genéticos ou células que potenciem o


desempenho atlético, fazendo uso de substâncias ou métodos capazes de incrementar
artificialmente o desempenho desportivo.

O doping envolve uma inserção de ADN com o objetivo de melhorar o desempenho


atlético. O atleta que pratica este tipo de doping incorpora um gene extra na sua
informação genética (ADN ou RNA).
Efeitos Riscos
§ Aumento na captação de oxigénio. § Deficiência imunológica.
§ Otimização do metabolismo § Contaminação com químicos.
energético.
§ Rápidos ganhos de massa muscular. § Cancro.
§ Redução da dor e processos § Falência de órgãos.
inflamatórios.
§ Trombose cardiovascular.
PORQUE É QUE O DOPING É PROIBIDO?
O doping é proibido no desporto porque, além de prejudicar a saúde, trata-se de uma
conduta antiética do atleta ao proporcionar uma vantagem competitiva desleal em
relação aos outros atletas.

A Luta contra a Dopagem no Desporto representa um pilar fundamental na preservação


de determinados valores que nos habituámos a ver ligados com o desporto.

A prática do desporto deve implicar honestidade e igualdade. Competir não significa ser
melhor a qualquer custo, significa esforço, dedicação e verdade.

O PROCESSO DE CONTROLE ANTIDOPING PARA ATLETAS

COMBATE À DOPAGEM NO DESPORTO


São três os motivos basilares do combate à dopagem no desporto:

§ Preservação da verdade desportiva;

§ Preservação da saúde do praticante desportivo;

§ Preservação do espírito desportivo.

Preservação da verdade desportiva

O desporto, e sobretudo o desporto de competição, pressupõe a igualdade de


oportunidades. Todos devem competir nas mesmas condições, e os resultados não podem
depender da utilização de substâncias e/ou métodos proibidos, já que corrompem a
verdade desportiva e é uma forma desleal e desonesta de atingir o êxito. Ou seja, recorrer
à dopagem é fazer batota!

Preservação da saúde do praticante desportivo

Da utilização de substâncias e métodos proibidos no desporto podem resultar sérios


malefícios para a saúde do praticante, pondo em risco a sua vida.

Se as substâncias proibidas utilizadas em doses terapêuticas já têm efeitos secundários,


imagine-se o que pode resultar das doses utilizadas em estratégias de dopagem.
TEMA 1 Preservação da saúde do praticante desportivo

Os procedimentos usados na utilização dos métodos proibidos no desporto não seguem,


geralmente, as boas práticas médicas, o que se traduz num sério risco para a saúde.

Preservação do espírito desportivo

A sociedade considera que o desporto é uma verdadeira escola de virtudes.

Valores éticos como, por exemplo, a lealdade, a honestidade e o trabalho são


indissociáveis da boa prática desportiva. Espera-se que o praticante desportivo seja um
espelho destas características e do verdadeiro espírito desportivo, um exemplo para todos,
em especial para os mais jovens.

Campanha “Desporto Saudável”

A grande maioria das pessoas associa a utilização de substâncias dopantes ao desporto


de alta competição, no entanto, o âmbito de utilização destas substâncias é muito mais
alargado atingindo os utentes de ginásios de musculação, os jovens em idade escolar ou
até mesmo pessoas que não estão envolvidas diretamente em qualquer tipo de prática
desportiva.

As razões que levam a que as pessoas utilizem este tipo de substâncias são muito variadas,
dependendo dos objetivos que cada um procura atingir com a sua utilização.

Os atletas de competição e alguns jovens em idade escolar procuram nestas substâncias


uma forma de melhorarem o seu rendimento desportivo, cedendo às pressões de uma
sociedade que exige prestações desportivas cada vez mais elevadas.

Os utentes de ginásios e alguns jovens utilizam estas substâncias com o objetivo de


melhorarem a sua imagem corporal, tentando dar resposta a uma sociedade onde a
imagem exterior é sobrevalorizada em relação ao aspeto interior.

Os cidadãos em geral procuram, através da utilização destas substâncias, melhorar o seu


rendimento a nível profissional ou mesmo a nível social, pois a sociedade atual é cada vez
mais competitiva e exige que se faça quase tudo depressa e bem.

Se queres ser um jovem bem informado e preparado para vencer e ultrapassar os


obstáculos que vais ter que ultrapassar ao longo da tua vida, deverás por isso adquirir mais
conhecimentos sobre a utilização destas substâncias e colaborar na Luta contra a
Dopagem.

Em 2003 A Agência Mundial Antidopagem (AMA) publicou o Código Mundial Anti-


dopagem que define os critérios para que uma substância ou um método possa ser
considerado como dopante.

A maioria das Federações Desportivas Internacionais adota a lista de substâncias e


métodos proibidos da Agência Mundial Antidopagem. Esta lista é regularmente atualizada
pela AMA, à medida que vão aparecendo novas substâncias e métodos dopantes na
atividade desportiva.

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