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O Processo de Visualizacao No Curso de Introducao
O Processo de Visualizacao No Curso de Introducao
net/publication/275570025
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Sueli Javaroni
São Paulo State University, UNESP, Brazil
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RESUMO
Este artigo realça a importância do processo de visualização na investigação de modelos mate-
máticos num curso introdutório de equações diferenciais ordinárias (EDO), com ênfase na abordagem
geométrica das soluções, auxiliada pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Apresenta-se
um curso de extensão universitária que foi o cenário de investigação para uma proposta pedagógica
de introdução ao estudo de EDO. Este estudo foi desenvolvido utilizando-se da abordagem qualitativa,
que enfatiza o estudo de aplicações e dos campos de direções de modelos matemáticos. Analisando os
processos de discussão dos alunos durante o desenvolvimento das atividades, pôde-se concluir que a
sua produção matemática foi condicionada pelos softwares que foram utilizados.
ABSTRACT
This paper stresses the importance of the process of visualization in the investigation of mathema-
tical models in an introductory course of ordinary differential equations (ODE) with emphasis in the
geometric approach of the solutions, assisted by the technologies of information and communication
(TIC). A university course of extension is presented. It was the background for the investigation of a
pedagogical proposal of introduction to the ODE study. This study was developed using the qualitative
approach that emphasizes the study of applications and the fields of directions of mathematical mo-
dels. Analyzing the processes of discussion among students, during the development of the activities,
it comes to a conclusion that the mathematical production of the students was related to the software
that they used.
a
Professora Assistente, Doutora do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, Av. Eng. Luiz E. C.
Coube, 14-01, Vargem Limpa, Bauru - SP, CEP 17033-360. Fone: 14 31036086, fax: 14 3103606. E-mail: suelilj@fc.unesp.br
Adriano: Ele vai ser constante em três. (Nesse mo- Esse esboço mostrava que eles estavam con-
mento eles haviam esboçado o gráfico para k = 3). jeturando que a velocidade seria descrita por uma
Com a análise do esboço gerado pelo softwa- parábola. A autora sugeriu então, na sequência
re eles viram o que era despercebido. Essa análi- da atividade, que utilizassem o Winplot para de-
se os ajudou a reorganizar o conceito de solução senhar o campo de direções. Assim, obtiveram o
constante do modelo estudado, conforme obser- gráfico ilustrado na Figura 5.
vamos na fala dos alunos:
Ronaldo: Como nós não achamos isso, cara? Aqui
também óh... (Ele apontou com o mouse para o
eixo das abscissas).
Adriano: Aliás, ele vai ter vários constantes, em
zero...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da análise dos dados coletados neste primei-
ro curso de EDO utilizando as TIC, pode-se afir-
mar que a visualização contribui nas discussões
matemáticas dos alunos. Além disso, consiste em
processos de várias naturezas, pois não somente
organiza os dados em estruturas significativas,
Figura 5 – Esboço do campo feito no Winplot mas constitui um importante fator que guia o de-
senvolvimento analítico de uma solução.
O trecho a seguir ilustra a discussão dos alu- No entanto, temos também de considerar as
nos com a autora acerca do modelo a partir desse dificuldades impostas. Afinal, todos nós vemos
esboço. igual? É atribuída a Goethe a frase “nós não sa-
Sueli: Esse comportamento está parecido com o bemos o que vemos, nós vemos o que sabemos”.
que vocês estavam fazendo aqui? Se você fosse A segunda parte da frase “nós vemos o que sabe-
desenhar com o mouse uma curva que sai do pon- mos” aplica-se para muitas situações nas quais
to (0,0), ou seja, se eu soltar um objeto com veloci- os alunos não necessariamente veem o que pro-
dade inicial zero, o que acontece com a velocidade
fessores e pesquisadores estão vendo.
dele?
Esse fato aconteceu em diversos momentos
Marcos: Aumenta. durante o curso. Por exemplo, quando solicitado
Sueli: Aumenta sempre? Segundo as condições aos alunos, no episódio da lei do resfriamento,
que assumimos aí, ela vai aumentar sempre? que eles avaliassem se os modelos obtidos eram
Shen: Não. compatíveis, parece evidente, analisando as fa-
Marcos: Até aquela força que a resistência do ar las de Adriano e Viviane, que o que se questio-
conseguir anular, não é? Porque ela é em função nava quanto à compatibilidade dos modelos não
da velocidade e a velocidade está aumentando. fazia parte do horizonte dos alunos.
Sueli: E se o peso dele fosse igual à resistência do Outra dificuldade acerca do processo de
ar, o que aconteceria com essa velocidade então? visualização surge da necessidade de transitar
Shen: Zero. pelas representações visuais e analíticas de uma
mesma situação. Esse é um dos processos cen-
Marcos: Ficaria constante.
trais na compreensão da matemática. E apren-
Sueli: Será que seria zero? der a compreender e ter habilidade na manipu-
Marcos: Uma constante. lação de múltiplas representações pode ser um
Sueli: Aí, então, digamos que você saísse com processo demorado, tortuoso e não linear para os
uma velocidade inicial de 100m/s. Como seria uma estudantes.
curva que teria esse comportamento dos vetores? Esse foi um fato recorrente nos vários episó-
Será que a parábola? dios. Podemos observar a importância do enten-
Shen: Aqui assim. (Shen mostra com o mouse uma dimento da equivalência entre as representações
curva parecida com o gráfico de uma função expo- visuais e analíticas nas várias atividades anali-
nencial assintótica). sadas: Marcos e Shen, na atividade do objeto em
Marcos: Vai dar ln esse treco aqui, logaritmo? queda; Viviane e Adriano, na atividade “lei do
Marcos: Exponencial não pode ser. resfriamento”; Ronaldo e Adriano, na atividade
“modelo de Verhulst”.
Sueli: Por que não pode ser exponencial?
A abordagem geométrica para analisar equa-
Marcos: E aqui? Isso é exponencial também? ções diferenciais pode encontrar nesse fato uma
Marcos: Quer dizer que isso ai vai dar uma coisa das dificuldades para seu sucesso. Entender
e elevado a ou a elevado a? É que nós estamos o campo de direções, entender o que é resolver
uma EDO e relacionar esse entendimento com a MACHADO, N. J. Matemática por assunto: noções
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