Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ECONOMIA URBANA
Mas as peças de Uruk foram mais longe: eram usadas para regis-
trar a contagem de várias quantidades diferentes e podiam ser
usadas tanto para adicionar quanto para subtrair. É bom lembrar
que Uruk era uma cidade grande. Uma economia urbana exige
negociação, planejamento e tributação. Imagine os primeiros
contadores do mundo, sentados na porta do armazém do templo,
usando peças de pão para contar os sacos de grãos que chegavam
e partiam.
Denise Schmandt-Besserat destacou outra característica revolucio-
nária. As marcas abstratas nas tábuas cuneiformes combinavam
com as peças. Outros especialistas que se debruçaram sobre elas
não notaram isso porque a escrita não parecia representar imagens
de algo conhecido. Mas Schmandt-Besserat percebeu o que tinha
acontecido ali. As tábuas eram usadas para registrar o vai e vem
das peças que, por correspondência, marcavam o movimento de
ovelhas, grãos e potes de mel.
Talvez as primeiras tábuas tivessem inclusive impressões gravadas
pelas próprias peças pressionadas contra o barro. Até os contado-
res perceberem que talvez fosse mais fácil fazer marcas com uma
cunha, um antigo instrumento de inscrição em tábuas. A escrita
cuneiforme era, portanto, a imagem estilizada da impressão das
peças que representavam determinadas commodities. •
EQUIPAMENTO DE VERIFICAÇÃO
Denise Scfimandt-Besserat resolveu dois problemas de uma só vez.
As tábuas de barro adornadas com a primeira escrita abstrata do
mundo não eram usadas para poesia ou para enviar mensagens a
terras distantes. Elas foram usadas como um pioneiro sistema de
contabilidade. Também eram usadas como os primeiros contratos
escritos do mundo.
A combinação de peças e tábuas de escrita cuneiforme levou a
um dispositivo brilhante: uma bola de argila oca chamada bulia. As
peças representando as obrigações de um acordo eram_colocadas
no interior da bulia, que era então selada. As inscrições das peças
eram igualmente gravadas na parte externa do artefato.
As bulias eram uma espécie de contratos em envelopes, que eram
fechados por segurança para que os termos do acordo não fossem
alterados. A escrita na parte de fora e as peças dentro da bola de
argila deveriam ser iguais.
Não sabemos que tipo de acordo seriam — se eram dízimos reli-
giosos para o templo, impostos ou dívidas particulares. Mas tais
registros eram ordens de compra e recibos que tornavam possível
a complexa vida da cidade.
A maioria das transações hoje é baseada em contratos escritos.
Apólices de seguro, contas bancárias, títulos do governo, ações
corporativas e hipotecas são acordos escritos — e as bulias da Me-
sopotâmia são a primeira prova arqueológica de contratos escritos.
Os contadores de Uruk nos deram ainda outra inovação. Inicialmen-
te, para registrar cinco ovelhas bastava se gravar cinco símbolos de
ovelhas. Mais tarde, um sistema mais avançado envolvia o uso de
símbolos abstratos para diferentes números: cinco traços para o
número cinco, um círculo para dez, dois círculos e três traços para
23. Os números eram sempre usados para se referir à quantidade
de algo: não havia "dez" — e sim "dez ovelhas". Mas o sistema nu-
mérico era forte o suficiente para expressar grandes quantidades
— centenas ou milhares.
Como um todo, tratou-se de um conjunto de conquistas. Os cidadãos
de Uruk enfrentaram um enorme problema para qualquer economia
moderna — como lidar com uma rede de obrigações e compro-
missos à distância entre pessoas que não se conheciam bem, que