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Resumo
O mercado de música independente no Brasil, elo da chamada indústria do entretenimento,
encontra-se hoje, ao contrário da indústria fonográfica em geral, em franca expansão. A
banda independente, considerada unidade fundamental de toda cadeia produtiva nesse
mercado, é estudada por ser de sua responsabilidade a geração intelectual ou conceitual do
“produto“ a ser processado em todas as outras etapas dessa cadeia: a música.
A partir de revisão da literatura e de entrevistas com artistas e outros profissionais
envolvidos, procurou-se mapear a cadeia de valor de uma banda independente, desde a
criação do conceito musical até a comercialização do produto e o encantamento por parte do
público.
Finalmente, analisando todo o estudo desenvolvido, pôde-se perceber que é possível modelar
por processos o trabalho aparentemente intangível de uma banda independente e que toda
essa cadeia de valor mapeada traz vantagem competitiva. Ficou também claro que o
Engenheiro de Produção encontra, nesse mercado em particular e na indústria do
entretenimento em geral, um grande espaço de inserção e atuação.
Palavras-chave: Engenharia de produção do Entretenimento. 2. Cadeia de valor. 3. Banda de
Rock.
1. Introdução
O século XX, segundo Secco e Pimenta (2005), experimentou a revolução da indústria
automobilística. O carro criou a linha de montagem, mudaram os hábitos e os costumes, a
geografia e a forma de fazer negócios. Segundo especialistas, há vários sinais de que se está
testemunhando o nascimento de uma indústria capaz de rivalizar com a automobilística em
importância e poderio econômico, a Indústria do Entretenimento.
Um levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers em seu estudo intitulado Global
Media Outlook: 2005-2009 (COSTA, 2005), afirma que só na América Latina essa indústria
faturou em 2004 US$ 32 bilhões e projeta-se que em 2009 o volume de negócios atinja a
ordem de US$ 47 bilhões. A expectativa, segundo o estudo, é de que o setor cresça a uma taxa
média anual de 8,2%. Nesse patamar, já é maior que a indústria bélica e equivale à indústria
automobilística e à de telecomunicações. Entre os grandes ramos industriais, perde apenas
para o de saúde e o de petróleo. Nos Estados Unidos, por exemplo, país onde a indústria do
entretenimento é pensada estrategicamente e como vetor de identificação do povo com a sua
nação, os gastos com entretenimento consomem 5,4% do orçamento doméstico, à frente dos
itens vestuário (5,2%) e saúde (5,25%). Desta forma, não podemos deixar de considerar a
indústria do entretenimento sob a visão econômica (VOGEL, 2001).
Nesse contexto, ao se abordar a questão do entretenimento como atividade econômica,
percebe-se que esta indústria encontra-se em franca expansão. Este crescimento, segundo
Kamel (2003) “uma tendência mundial”, também pode ser identificado no Brasil. O fluxo
econômico da cultura brasileira gera, segundo Prestes Filho (2004) valores equivalentes a 1%
do Produto Interno Bruto (PIB). Portanto, um centésimo de toda a riqueza produzida no país
no período de um ano deve-se à realização de atividades culturais, serviços de entretenimento
e lazer, eventos artístico-culturais, eruditos e populares, representativos de expressões sociais,
históricas ou atuais.
No Brasil, a música encontra-se como um dos expoentes dessa indústria. Segundo Barros
(2004) produção musical brasileira possui um valor incontestável, seja no estabelecimento de
um estilo próprio, seja na diversidade dos ritmos, seja na pujança da quantidade produzida.
Assim, é importante reconhecer esta competência de criar produtos musicais de qualidade, ter
dimensão da importância desta competência no novo contexto mundial de competição e
buscar a manutenção de esforços para que este significativo ativo intangível de valor
econômico, simbólico, cultural e político não se perca.
Diante desse cenário, um ponto merecedor de atenção por parte deste estudo é aquele que
abrange os profissionais do setor musical que se enquadram no rótulo de independentes:
artistas, produtores, empresários e todo profissional ligado às atividades que compõem a
cadeia produtiva da música que se lançam ao mercado de maneira autônoma, sem o apoio de
grandes empresas do setor – as ditas majors.
Esse mercado de música independente encontra-se, ao contrário da indústria fonográfica em
geral, em constante crescimento, correspondendo hoje, segundo Jerome Vonk, diretor
executivo da Associação Brasileira de Música Independente – ABMI, a 20% do mercado
major. Para o músico Sérgio Rossoni, “é um mercado grande, que ainda não sofre com a
pirataria, pois destaca artistas que estão despontando” (MELLO, 2006).
No entanto, esse mercado independente apresenta graves deficiências. Analisando de forma
preliminar, pode-se citar como principais pontos fracos a falta de profissionalismo, a falta de
apoio de alguns setores da sociedade, as barreiras impostas pelas majors e o baixo nível de
contato entre as partes componentes deste mercado. Tais deficiências, nesse cenário, podem
ser consideradas endêmicas, estando presentes em todos os níveis da cadeia produtiva da
música independente. Em um diagnóstico mais abrangente, essa falta de profissionalismo
pode ser vista na desarticulação e ausência de visão de longo prazo das pessoas, organizações
e demais atores que se apresentam como os elos da cadeia produtiva da música independente.
Este trabalho centra seu foco em um elemento especial desse mercado: as bandas
independentes. Em uma perspectiva reducionista, pode-se considerar a banda independente
como a unidade fundamental de toda a cadeia, pelo fato de ser sua a responsabilidade da
geração intelectual ou conceitual do “produto” a ser processado em todas as outras etapas do
processo: a música. Também são altamente representativas do todo no que diz respeito à
manifestação das deficiências presentes no ambiente supracitado – sumariamente, falta a elas
uma autopercepção como unidades de negócios, que transformam recursos para gerar
produtos (a música) para um público-alvo específico.
A atividade de uma banda de música é algo pouco explorado em termos de estudos sobre o
seu modo de operação. Trata-se de uma atividade que, no fim de seu processo produtivo, tem
produtos finais que vão desde o pouco palpável (música, imagem, conceitos) até produtos e
serviços bastante concretos (CD, vídeo, show, entrevista). Logo, a definição de uma “fórmula
geral“ para o funcionamento de uma banda parece, em um primeiro momento, algo de difícil
consecução. Entretanto, uma leve mudança do foco da abordagem ao problema da operação
em si para Unidade de Negócio executora destas operações, com a finalidade de atender as
necessidades de seus clientes, permite o mapeamento de questões que devem permear todos
os processos internos de uma banda independente, tais como organização do trabalho, foco
em resultados e orientação para o cliente.
Sendo assim, o objetivo da pesquisa se resumiu à compreensão do processo produtivo de
uma banda independente, sob uma ótica racional e cartesiana, fazendo uso das ferramentas
de Engenharia de Produção para uma posterior modelagem do modus operandi da banda
como unidade de negócio. O escopo desta pesquisa é, desta maneira, a construção da cadeia
de valor de uma banda independente.
2. Música como produto – uma visão de processos
A compreensão da atividade de produção (“geração“ ou “criação“ talvez sejam termos mais
corretos) musical é algo muito difícil de ser obtido através de uma abordagem racional ou
cartesiana. Quando falamos em arte, falamos em inspiração, no subjetivo, no impulsivo, no
intangível e imensurável, no predomínio da emoção e sufocamento da razão. Psicodelia, caos
e uma criatividade desordenada são conceitos muito presentes nesta atividade, e
característicos do imaginário dos artistas.
A teoria revisada, no entanto, nos fornece subsídios para a construção de um ensaio sobre a
atuação de uma banda sob os moldes da Engenharia de Produção – a assunção de uma Banda
como Unidade de Negócio (UN).
Antes, entretanto de uma análise mais apurada do modelo supracitado, é necessária uma
discussão mais macroscópica sobre a atuação de uma banda independente.
2.1 Banda independente: definição do Negócio
Segundo a consultoria Macroplan (2005), o Negócio explicita os produtos e serviços
oferecidos pela organização para atender às necessidades e expectativa de cada um de seus
públicos-alvo. Logo, este busca definir e especificar como a organização interage com o
ambiente, no cumprimento de sua ‘razão de ser’. Assim, a definição do negócio de uma banda
independente torna-se o primeiro passo para a compreensão de seu processo produtivo.
Respeitando-se as características de abrangência (mas com seletividade) e foco no usuário
final dos produtos e/ou serviços da organização, chegou-se à definição da Música como o
negócio de uma banda – a música é o elemento central e fundamental de toda a cadeia de uma
banda, é o grande recurso/resultado a perpassar todas as etapas do processo produtivo de uma
banda independente, tendo agregação de valor à medida que percorre este processo produtivo.
Mesmo com a dificuldade em se enquadrar a música em um único rótulo, seja ele produto ou
serviço, tangível ou intangível, e assim por diante, é possível se estabelecer uma abordagem
qualitativa mas também racional da questão. Assim, chega-se à seguinte descrição para o
negócio da banda:
Como linhas de produtos e serviços, foram definidas três vertentes fundamentais para a
Finalmente, o modelo definido para a cadeia de valor de uma banda independente pode ser
ilustrado pelo seguinte esquema:
Exibições
Internet
Virtual Conquista do
Usuário/
Eventos/ Fanatismo
Sites
imagem Divulgação/
Promoção
Compartilhamento
Pré-produção de arquivos
Rádio
TV
Mídia impressa
Internet
4. Conclusões
Os autores, a partir das observações no Estudo de Caso e da Revisão da Literatura podem
apresentar as seguintes conclusões:
− Existe um grande potencial de crescimento, para a Indústria do Entretenimento no Brasil e,
Referências
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