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Departamento de História
EMPREENDEDORISMO CULTURAL
Janeiro, 2021
Índice
Sumário............................................................................................................................. 3
3. Conclusão .....................................................................................................................12
Bibliografia ......................................................................................................................13
Sumário
O presente trabalho tem como objetivo encontrar e descrever possíveis estratégias para o
desenvolvimento de públicos no setor da música clássica, nomeadamente no nicho da música
de câmara. O trabalho é introduzido através de um enquadramento teórico onde serão
esclarecidos conceitos relacionados com o desenvolvimento de públicos no setor cultural e onde
será justificada a importância da diversificação e rejuvenescimento dos públicos associados à
música clássica, tendo em conta o seu contexto atual. Será também feita uma pequena
contextualização do setor musical australiano, onde o caso de estudo está inserido. De seguida,
é apresentado o projeto Contra Concerts através da sua breve contextualização, da apresentação
do seu business model canvas e da caracterização do seu público atual e público-alvo para a
temporada de 2022. Posteriormente, serão apresentadas nove possíveis estratégias para a
manutenção do público existente e para a captação e diversificação de novos públicos.
Finalmente, conclui-se que apesar de muitas das estratégias propostas terem um baixo custo
financeiro, o maior entrave à sua concretização apoia-se na falta de recursos humanos das
organizações culturais. Igualmente, reforça-se a ideia de que qualquer processo de
desenvolvimento de públicos tem que ser pensado a longo prazo e que só desta forma é que é
possível alterar os hábitos dos consumidores de música clássica.
1. Enquadramento Teórico
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duas últimas categorias têm com alvo o público já existente a 1) tem um propósito social e a 2)
extended marketing, pretende despertar o interesse latente de potenciais audiências e persuadi-
los a tornarem-se consumidores, ao mesmo tempo que são minimizados os fatores que os
afastam (Kawashima, 2000, p. 9). No entanto, esta última visão que liga o marketing ao
desenvolvimento de audiências encontra alguma oposição na literatura, pois alguns autores
consideram que o desenvolvimento de públicos deve ser concretizado através da construção de
relações fortes e a longo prazo com cada membro do público e não através de estratégias de
marketing (Rentschler et al., 2002). Existem então dois pontos de vista distintos no que se refere
ao desenvolvimento de públicos, o primeiro considera que potenciais audiências devem ser
atraídas através de educação, marketing ou inovação. Por outro lado, uma outra visão considera
que os valores estéticos prevalecem como mais importantes e o público é simplesmente o meio
que permite a sobrevivência das instituições culturais (Ruiz, 2020, p. 17).
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necessário compreender que eles refletem essencialmente as observações registadas no setor
orquestral (Keen & Williams, 2009), pois no campo da música de câmara o registo de dados é
demasiado inconsistente para ser caracterizado (Sandow, 2010). No entanto, este nicho da
música clássica pode ser particularmente importante no desenvolvimento de públicos, dado o
seu caráter intimista (Goldsworthy, 2015, p. 49). Adicionalmente, o facto de vários músicos de
câmara privilegiarem atualmente salas de concerto alternativas devido à maior independência,
pressão reduzida e rápido planeamento (Robinson, 2013) também facilita a captação de novas
audiências com um perfil demográfico mais jovem (Haferkorn, 2018).
Contra Concerts é um projeto criado em 2021, baseado em Brisbane, Austrália e com curadoria
e direção artística do flautista Jonathan Henderson. A sua área de intervenção artística foca-se
na criação, desenvolvimento e produção de uma temporada de concertos de música de câmara
clássica, apresentados ao longo do ano em Brisbane e na sua cidade vizinha, Toowoomba. Para
cada concerto são convidados diversos músicos nacionais que, no final de uma residência
artística de cinco dias, apresentam o repertório preparado em ambas as cidades. Na sua
temporada de lançamento em 2021, foram apresentados três programas entre Abril e Junho em
cada cidade, num total de seis concertos e uma audiência conjunta de 522 pessoas. Este projeto
foi apresentado em parceria com o ensemble de música clássica australiano, Southern Cross
Soloists (SXS) e parcialmente financiado pelos programas Australian Council for the Arts e
Arts Queensland. Para a sua segunda temporada em 2022, serão apresentados novamente três
programas entre Agosto e Outubro. Uma novidade em curso é o aumento do número de
concertos por programa através de pequenas tournés regionais no estado de Queensland. Tendo
em conta este avanço, considera-se crucial reajustar o Business Model utilizado e analisar as
estratégias de manutenção e diversificação de públicos.
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Figura 1 - Business Model Canvas - Temporada 2022 Contra Concerts
Fonte: OSTERWALDER & PIGNEUR (2010, p. 44)
2.2. Caracterização do Público Atual
O público presente na primeira edição de Contra Concerts pode ser caracterizado através de
três fontes distintas: análise dos diferentes tipos de bilhetes comprados através da plataforma
online EventBrite, análise de fotos tiradas durante os concertos e observação direta não
estruturada. Através da plataforma de compra de bilhetes online é possível retirar as seguintes
conclusões em relação à percentagem das diversas tipologias de bilhetes vendidos: crianças
(2,1%), estudantes (6,7%), adultos (37,7%), sénior (28,1%), subscrições 3 concertos (25,4%).
Apesar destas informações não serem precisas em termos da idade exata do público,
principalmente no que se refere à percentagem de pessoas que compraram uma subscrição para
3 concertos, revelam quais são algumas das características do público que assistiu a estes
concertos em termos da sua faixa etária. Em relação à análise das fotografias, apresentam-se
três exemplos na figura 1 onde é possível verificar que a grande maioria das pessoas têm uma
idade avançada. O último meio de observação foi feito principalmente através dos convívios
sociais entre artistas e público depois dos concertos e na receção do público à entrada dos locais
de concerto. Este, apesar de ter sido uma recolha de informação informal, foi também o mais
rico e que permitiu um leque de dados mais alargado. Compreendeu-se que uma parte
considerável do público está reformado ou em situação de pré-reforma, pertence a um meio
socioeconómico privilegiado e é frequentador assíduo de atividades culturais, em particular de
concertos de música clássica, quer por estar ligado ao setor da cultura, por ter estudado música
no passado, por pertencer a grupos de música amadores ou por ter filhos ou netos que estudam
música atualmente. Todos estes dados confirmam a caracterização do público associado à
fruição de concertos de música clássica já descrito anteriormente e reforçam a necessidade de
estratégias de desenvolvimento de novos públicos para a temporada de 2022.
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2.3. Caracterização do Público-Alvo para 2022
Tal como já foi apresentado no Business Model Canvas, o projeto Contra Concerts pretende
desenvolver o seu público para a temporada de 2022, através da manutenção do seu público de
2021, constituído essencialmente por pessoas séniores ou acima da faixa etária dos 45 anos, e
da diversificação de novos públicos, principalmente através da captação de famílias, estudantes
de música e habitantes locais. A captação de famílias é o grande foco da nova temporada, não
só por ser vantajosa do ponto de vista económico pela compra de vários bilhetes, mas porque
permite igualmente uma subida na percentagem de crianças e jovens nos concertos. Os
estudantes de música contribuem igualmente para a descida da média de idades do público e
para a divulgação, aceitação e credibilização do projeto no setor artístico. Num futuro próximo,
podem também ser uma importante fonte de divulgação de possíveis programas dedicados a
jovens artistas. A integração do público local foi também considerada importante, não só pela
facilidade em termos de acessos, mas também porque podem contribuir para possíveis parcerias
com os negócios locais e por serem um público diversificado em termos de idade, género,
profissões e interesses. Porém, devido ao facto estarem associados a um determinado espaço
geográfico, como ainda não foram escolhidas as salas de concerto para a temporada de 2022,
nenhuma das estratégias incidirá sobre este segmento de público específico.
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Eventos Sociais Privados – Organizar um ou mais eventos de socialização com os principais
patronos do projeto, incluindo: parceiros, músicos, staff e os membros do público mais
investidos no projeto, nomeadamente aqueles que compraram a subscrição para os 3 concertos
em 2021. Este evento poderia ser uma refeição ou um típico barbecue australiano e poderia
contar com pequenos discursos, momentos musicais e a apresentação da temporada antes de ser
lançada ao público. Teria como objetivos: criar uma relação mais familiar com os principais
stakeholders do projeto, promover doações de particulares ou de empresas, oferecer descontos
e ofertas especiais a quem estivesse presente e formar uma comunidade associada ao projeto.
Idealmente até poderia ser organizada por um dos membros do público, não só facilitando todo
a organização logística e financeira, mas também contribuindo para a introdução do projeto a
potenciais pessoas que estivessem presentes na sua casa. Esta ideia já é executada de uma
maneira semelhante pelo parceiro do projeto Southern Cross Soloists.
Voluntariado – Para os subscritores que queiram ter uma maior participação no projeto, mas
que prefiram não se envolver financeiramente, a possibilidade de fazerem parte de uma equipa
de voluntariado pode ser muito benéfica. Para o projeto tem a vantagem de permitir menos
gastos com certas despesas, tais como: pessoal para frente de sala, produção (transporte de
cadeiras, estantes, instrumentos e músicos, catering, etc..) e para os voluntários transmite uma
sensação de gratificação pela ajuda prestada. Como desvantagem, este tipo de iniciativa tem a
necessidade de exigir alguma formação da parte dos voluntários e levanta questões éticas
associadas ao facto de estar a ser utilizado trabalho não pago para funções para as quais existem
profissionais que precisam dele.
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2.4.2. Captação de Público-Alvo
Maior Segmentação nos tipos de Bilhete – Criação de um bilhete de família flexível. Este
bilhete facilitaria a compra de bilhetes por parte de famílias que queiram introduzir a música
clássica aos seus filhos ou netos e seria flexível para incluir: pais/mães solteiros, avós e um
número ilimitado de crianças/jovens mesmo que não sejam filhos, por exemplo, amigos ou
primos. O objetivo deste bilhete seria trazer grupos maiores de potenciais interessados aos
concertos e diminuir a idade média da audiência. Outra possibilidade seria eliminar o bilhete
de estudante e torná-lo num bilhete, por exemplo, de -30 anos, alargando assim o espectro de
pessoas afetadas. Esta nova tipologia poderia cobrir jovens em início de carreira que ainda não
possuem uma grande disponibilidade financeira, mas que gostam de participar em atividades
culturais. O único problema de ambos os bilhetes é a redução do lucro da bilheteira, mas tendo
em conta os números tão baixos apresentados em 2021, dificilmente estes segmentos se irão
tornar na maioria da audiência de um ano para o outro. Adicionalmente, poder-se-ia criar um
bilhete de última hora a um preço fixo mais baixo, destinado a todos os que decidissem só no
dia ir ao concerto, mas ficando sempre dependente do número de lugares vazios. Os bilhetes
para menores de 30 anos foram uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian para os seus
concertos, o bilhete de família foi desenvolvido pela Kids in Museums (2010) e os bilhetes de
última hora são uma prática comum em várias salas de concertos da Europa central.
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estabelecimento de todas as contrapartidas iria consumir demasiado tempo necessário para a
concretização da componente artística.
Mudança de Setting – Um dos fatores dissuasores da vinda de públicos mais diversificados aos
concertos de música clássica é a formalidade associada e a sensação de que é necessário ter
algum conhecimento prévio para se assistir a um concerto deste género (Small, 1998). Uma
forma de combater esta resistência é tentar tornar o ambiente mais informal e convidativo a
novas pessoas potencialmente desconhecedoras do mundo da música clássica. Uma das
soluções poderá ser apresentar concertos comentados em que um apresentador introduz o
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concerto e vai fazendo a mediação este o público e as obras apresentadas ao longo deste. Este
formato pretende criar uma relação mais interativa com o público, deixar os novos visitantes
mais descontraídos e, no geral, contribuir para um ambiente mais informal. Em complemento
desta iniciativa, já foi estabelecido na temporada de 2021 um pequeno catering depois de cada
concerto, para que o público e os artistas possam socializar entre eles.
3. Conclusão
Este trabalho focou-se na definição do conceito de desenvolvimento de públicos no setor da
música clássica e aplicou-o ao caso particular do projeto de música de câmara Contra Concerts.
As nove estratégias apresentadas foram inicialmente divididas em dois grupos: manutenção do
público atual e captação do público-alvo. Destas nove estratégias, podemos identificar quatro
que têm como objetivo formar uma relação mais íntima e familiar com o consumidor: doações,
voluntariado, eventos sociais e mudança de setting; duas que propõem ou uma alteração do
produto artístico inicial ou um alargamento do mesmo: propostas multidisciplinares e
masterclasses; e três relacionadas com o marketing do projeto: oferta de descontos específicos,
mais tipologias de bilhetes e parcerias com instituições. Qualquer uma destas estratégias
apresentadas já foi utilizada com sucesso por outras entidades culturais e, apesar de não
representarem nenhuma inovação no setor artístico, podem ser fundamentais no
desenvolvimento de um projeto recém-criado. O maior desafio à concretização de qualquer um
destes processos será sempre o tempo necessário para o seu planeamento, execução e controlo,
dado a falta de recursos humanos. Uma das grandes vantagens destas nove estratégias, com a
exceção dos projetos multidisciplinares e masterclasses, é o baixo ou nulo investimento
financeiro, o que ajuda à sua concretização. Tal como explicitado no corpo de texto, as parcerias
empresariais não foram contempladas nas estratégias de captação de público-alvo, devido ao
investimento necessário para as estabelecer e porque, apesar de serem benéficas para o projeto,
iriam trazer mais público com as mesmas características do público atual. Em conclusão, e
baseando-me tanto na revisão da literatura especifica como na observação empírica, é
necessário compreender que a implementação de qualquer estratégia de desenvolvimento de
públicos no setor da música clássica é um processo lento e que demora, por vezes, anos até ser
possível a observação de mudanças significativas. Por isso, é fulcral um planeamento a longo
prazo, motivação para um contínuo controlo e adaptação das estratégias e sobretudo coragem
para continuar a tentar manter viva uma tradição que dado o seu valor artístico merece ser
apoiada e posta à disposição e fruição do número mais alargado de pessoas possível.
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