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E SE GOR TIVER UM ÚNICO PILAR?

VENDO GOR, DE NOVO, FORA DA CAIXINHA. (Parte 1/3)

O que sustenta Gor? O que dá suporte à sua sociedade, cultura, povos, hábitos, tradições e história?

A tempos, nas minhas aulas de Filosofia Goreana, eu defendi a tese da existência de um único
sustentáculo filosófico para Gor e de onde todas as outras conceitualizações derivariam.

Primeiro vamos tentar entender, realmente, o que é o planeta Gor. Gor é um enorme laboratório
sociológico e antropológico dos Reis Sacerdotes. Em algum momento da história do sistema solar,
essa raça alienígena trouxe um planetoide mais ou menos das dimensões da Terra para dentro de sua
órbita e nele começou a colocar determinadas raças, raças essas não apenas humanas. Norman dá a
entender, por exemplo no Livro 1, que o Povo Aranha seria uma dessas experiências abandonadas
pelos Reis Sacerdotes. Posteriormente Gor irá se transformar no campo de batalha entre esses Reis
Sacerdotes e outra raça alienígena poderosíssima, os Kurii. Em jogo nessa guerra estarão não
apenas o planeta Gor, mas a Terra e provavelmente a dominação de todo o sistema solar. Nesse
sentido, a raça humana Goreana é apenas um peão no tabuleiro de interesses desses gigantes
alienígenas. Isso que é Gor e é esse o escopo da série Crônicas da Contra-Terra. Ficção científica.

Acontece que, ao trazer essas raças humanas oriundas de diferentes épocas históricas da Terra para
o planeta Gor, os Reis Sacerdotes – como parte de suas experiências – as submeteram a regras
bastante diferentes das que possuíam na Terra. A principal, fundamental delas é a chamada Ordem
Natural. Essa é a proposta de Norman para a construção da sociedade Goreana. O que aconteceria
com o ser humano se ele não tivesse se afastado das mais básicas leis que regem a natureza. A partir
desse conceito é que se desenrola a construção da sociedade Goreana.

Novamente resumindo o que diz a Ordem Natural. Acho que aqueles que leem todos os meus textos
(eu sei, são poucos) não aguentam mais ler essas palavras. Mas como tenho esperança de sempre
alcançar novos leitores, lá vai. o macho de uma espécie evoluiu a partir de um status dominante
particular, enquanto a fêmea dessa espécie evoluiu com o status oposto, qual seja, para atender a
sobrevivência dessa espécie." Geralmente, esse estado de diferenciação exibe em uma escala de
dominação / submissão. Isso pode ser observado no reino animal, quer se olhe para caninos, felinos,
aves ou mesmo formas de vida marinha. Além disso, Norman inclui as questões de dominação /
submissão para dentro dentro dos sexos. Novamente, isto pode ser comparado com o reino animal
(isto é, uma matilha de lobos tem sempre o seu macho alfa e alfa feminino). Mais ainda, a
escravidão seria o máximo da representação da Ordem Natural, já que para uma minoria da espécie
humana existe necessidade de submeter-se nesse grau, sendo ou não isso admitido nas culturas
atuais da Terra.

Mais ainda, Norman aplica conceitos darwinianos de seleção natural para justificar o elevado
padrão genético, de força e de saúde do humano Goreano. Mas isso é assunto para outro artigo.

Tudo, então, na sociedade Goreana, decorreria deste conceito fundamental. Senão vejamos.

No artigo de ontem eu falei sobre as restrições tecnológicas, sinalizando que ela estaria ligada a
uma provável ameaça ao próprio planeta, caso não existisse. Toda obra literária tem o que se chama
de historicidade. Ela não pode deixar de ser observada dentro do contexto histórico onde ela está
sendo escrita. John Norman escreve o primeiro Livro – Tarnsman de Gor – em 1966, publicando-o
em 1967. Estamos na escalada da Guerra Fria. Os Estados Unidos covardemente haviam dizimado
Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial e em 1949 a União Soviética explodia
sua primeira bomba que, assim como a dos americanos, já vinha sendo desenvolvida durante a
guerra. O Reino Unido detonaria sua primeira bomba em 1952 e a França em 1960. Em 1964 foi a
vez da China que, apenas 3 anos depois, detonou também sua primeira bomba de hidrogênio em
1967. Ou seja, na data da publicação do primeiro Livro das Crônicas, as potências da Terra já
tinham capacidade mais que suficiente para destruí-la. E a coisa só foi piorando ao longo dos anos.
É nesse quadro que Norman escreve. Um quadro onde a corrida armamentista desequilibra
completamente a relação entre nações.

Na sua utopia, Norman espelha essa preocupação. O potencial destrutivo do homem, para ele, é
fruto do seu distanciamento das origens naturais, de uma deturpação da sociedade. Assim, ele
imagina um mundo onde seus habitantes são nivelados tecnologicamente, têm o mesmo
equipamento e recursos disponíveis, exercem a sua criatividade para conseguir armas melhores mas,
sob nenhuma hipótese, alcançam a capacidade de sua própria aniquilação e da aniquilação de seu
ambiente. E então, lá estão os Reis Sacerdotes brincando com seus ratinhos de laboratório – nós,
humanos – e mandando a Chama Azul em quem abandona os padrões pré estabelecidos. E estão lá,
também, os Kurii tentando vez ou outra burlar essa regra e enfiar dentro de Gor o elemento de
desequilíbrio.

Amanhã discutirei o conceito de Sistema de Castas e outras formas de organização social dentro da
Ordem Natural.

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